SOC AP2 Teoria Sociológica Émile Durkheim

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ÉMILE DURKHEIM – FATO

SOCIAL, SOLIDARIEDADE E
ANOMIA
Anteriormente, aprendemos sobre as origens da
Sociologia e vimos como ela está relacionada com o
surgimento da perspectiva positivista. Foi um longo
caminho até a Sociologia se consolidar como ciência e
alguns pensadores tiveram um papel fundamental. Como
descobriremos ao longo do nosso curso, são três os
“pilares sociológicos”: Émile Durkheim, Karl Marx e Max
Weber, Marx e Durkheim. Os pilares
Weber. Hoje vamos falar sobre um deles: Durkheim. da Sociologia.

Filósofo, filho de rabino e francês, Durkheim foi um homem do seu


tempo. Nascido em 1858, cresceu em meio às transformações
do século XIX: o aprofundamento do capitalismo, o progresso da
ciência e a multiplicação de democracias pelo mundo ocidental.

A Europa, mais especificamente a França, passava por grandes


transformações. Um grande debate entre os legisladores levou
à aprovação do divórcio na França em 1884. Para termos uma
ideia, o divórcio só foi aprovado no Brasil em 1977! Na mesma
época, a França também estabeleceu que a escola devia ser
laica, ou seja sem influência religiosa, gratuita e obrigatória dos
Emile Durkheim. 6 aos 13 anos.

Outras mudanças impactantes estavam relacionadas com a questão do trabalho. O


avanço do capitalismo e da industrialização traziam questões sociais significativas.
Os conflitos entre o capital e o trabalho, ou, em outras palavras, entre empresários e
trabalhadores era evidente.

Todo esse contexto teve uma grande influência sobre o pensamento de Durkheim.
Afinal, o século XIX foi um século decisivo para estabelecer as bases do mundo que
conhecemos hoje, no século XXI! Alguns pensadores da época estavam atentos a essas
mudanças, buscando refletir sobre elas.

Entre as diversas obras produzidas por Durkheim, as principais são “Da divisão do
trabalho social”, “As regras do método sociológico” e “O suicídio”. Durkheim acreditava
que a Sociologia era uma ciência e se preocupava muito com a sua consolidação como
área de produção de conhecimento científico. Ele entendia que, para que a Sociologia
fosse respeitada como ciência, ela deveria ter um método próprio.

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As obras de Auguste Comte e as ideias positivistas influenciaram Émile Durkheim, que
Émile Durkheim – Fato Social, Solidariedade e Anomia

teve como preocupação desenvolver uma teoria e um método de análise específico


para pensar a sociedade.

Durkheim passou então a olhar para a vida em sociedade em busca de regras que
pudessem ajudar a entender as relações entre os indivíduos. Ele chegou à conclusão
de que sociedades mais especializadas poderiam assegurar uma certa coesão social.
Ou seja, para esse filósofo, ao olharmos a sociedade capitalista, vemos indivíduos
muito diferentes com funções sociais variadas. O mesmo acontece até hoje, vemos
vendedores, motoristas, professores, advogados, jornalistas, engenheiros, cantores,
funcionários administrativos, apicultores etc.

Durkheim, então, parte da hipótese de que a divisão do trabalho é uma característica


de todas as sociedades. Quanto maior é essa divisão, ou seja, quanto mais os indivíduos
se especializam nas suas áreas profissionais, mais diferentes eles se tornam. Essa
especialização ocorreria de forma mais acentuada em sociedades capitalistas.

O interessante, segundo Durkheim, é que, por se tornarem mais heterogêneos, ou


seja, diferentes, os indivíduos teriam maior interdependência funcional entre eles.
Isso quer dizer que as pessoas dependem mais umas das outras por não conseguirem
desempenhar outras funções, devido ao grande nível de especialização. Esse processo
tenderia a gerar maior coesão social.

Mulher trabalha em escritório. Apicultor trabalha na produção de mel.

“A divisão do trabalho é, para Durkheim, o elemento social que impulsiona o


desenvolvimento das sociedades. As funções sociais são fundamentais para sua análise
e, por isso, a Sociologia desse autor foi considerada “funcionalista”. Esse foi um dos
aspectos que influenciou os antropólogos [...]. Entretanto, para refletir sobre a divisão do
trabalho, Durkheim desenvolveu outros conceitos importantes, entre eles, o conceito de
fato social, essencial para definir o que é próprio ou não do campo sociológico.”

Fonte: MACHADO, Igor José de Renó; AMORIM, Henrique; BARROS, Celso Rocha de. Sociologia Hoje.
São Paulo: Editora Ática, 2016, p. 138.

De forma a se aproximar do modelo científico, Émile Durkheim afirma que o fato social
se aproxima de um elemento físico ou biológico e que a sociedade atuaria sobre os
indivíduos de forma determinante, definindo a sua forma de ser.

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Uma característica importante para que um fato seja reconhecido como um fato social

Émile Durkheim – Fato Social, Solidariedade e Anomia


é a sua capacidade de exercer coerção social sobre as pessoas, estabelecendo mesmo
as suas vontades individuais. Além disso, deve apresentar generalidade, isto é, deve
ser encontrado em toda uma sociedade, e ser externo, o que quer dizer que ele deve
existir independentemente da vontade dos indivíduos.

Vamos aos exemplos! Os fatos sociais podem ser a divisão do trabalho, crenças religiosas,
a música etc. A tirinha da Mafalda, do saudoso Quino, traz um exemplo de fato social. A
coerção exterior sobre o personagem que não gosta de Beatles fica evidente. Como, segundo
a tirinha, a maioria das pessoas gostam de Beatles, uma pessoa que não gosta o grupo sofre
uma pressão social. Essa pressão externa impõe uma espécie de padrão social a ser seguido.

A definição de fato social é central para a teoria de Durkheim, pois, segundo ele, a
Sociologia é a ciência que estuda os fatos sociais. Em outras palavras, o que não
for fato social não é objeto de estudo da Sociologia e deve ser analisado por outras
ciências.

Em “Da divisão do trabalho social”, Durkheim aprofunda os seus estudos sobre os tipos
de sociedade, o nível de evolução e sua relação com a solidariedade. Nesse trabalho, ele
compara sociedades diferentes com o objetivo de identificar seus níveis de evolução.

Durkheim “estabeleceu as bases de uma sociologia macrossocial, ou seja, uma teoria


social com capacidade de comparar sociedades diferentes, utilizando categorias que
sejam comuns a elas, buscando construir categorias capazes de identificar o nível de
evolução das sociedades com base no critério de complexidade. Os critérios de divisão
do trabalho social e o tamanho da população seriam definidores do tipo de solidariedade
e, consequentemente, do seu nível de complexidade.”

Fonte: LODWIG, Glauco; DOURADO, Ivan Penteado; SOUZA, Vinicius Rauber e. Sociologia para não sociólogos: os
clássicos da sociologia: Durkheim, Weber e Marx. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2016.

Para Émile Durkheim, existiriam dois níveis diferentes de sociedades: as sociedades


simples e as sociedades complexas. Cada uma delas apresentaria um tipo de
solidariedade. A sociedade simples, também chamada por ele de primitiva, seria
formada por uma tribo sem contato com outras sociedades e por poucas famílias. Nesse
tipo de sociedade, haveria um grau elevado de consciência coletiva, e a solidariedade

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seria cooperativa. A consciência coletiva seria tão elevada que a individualidade seria
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praticamente nula entre seus membros. Operaria uma espécie de solidariedade


mecânica.

As sociedades complexas, por sua vez, podem ser exemplificadas pelas grandes cidades.
Esse tipo de cidade tem uma enorme quantidade de pessoas que ali moram e produzem
rotinas as mais variadas. O profundo grau de especialização e diversificação das atividades
produtivas tenderia a produzir outro tipo de solidariedade: a solidariedade orgânica.

Ao contrário das sociedades simples, as sociedades complexas tendem a reforçar a


esfera própria de ação de cada pessoa, assim como a sua personalidade. Esse é o caso das
sociedades capitalistas. Nessas sociedades, os indivíduos não costumam compartilhar
largamente os mesmos valores e crenças, e a consciência individual é mais acentuada.
Ao mesmo tempo, devido à divisão do trabalho e ao nível de especialização, haveria,
como já dito, maior coesão social. Não por crenças e valores compartilhados, mas por
códigos e regras de conduta, como, por exemplo, aqueles que se originam das leis.

As pessoas que não respeitam esses códigos e regras de conduta teriam comportamentos
considerados anômicos, segundo Durkheim. Ao desobedecer às leis sociais, esse
indivíduo ou grupo poderia desequilibrar uma determinada sociedade, causando
mudanças sociais que seriam identificadas como anomias.

“O conceito de anomia pode ser entendido como um tipo de doença social, algo que
deveria ser erradicado e minimizado, pois destoaria da ordem social vigente. Sociedades
que vivem momentos de guerra e conflito social são consideradas por Durkheim como
sociedades anômicas, ou seja, sociedades que estão vivendo um desequilíbrio no
organismo social e colocando em risco sua existência. Caberia à sociologia explicar as
causas dessa anomia e, logicamente, apontar soluções.”

Fonte: LODWIG, Glauco; DOURADO, Ivan Penteado; SOUZA, Vinicius Rauber e. Sociologia para não
sociólogos: os clássicos da sociologia: Durkheim, Weber e Marx. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo
Fundo, 2016. p. 29-30.

Um exemplo de anomia é o comportamento criminoso. Ao cometer um crime, o indivíduo


viola as leis. O equilíbrio social depende de que as pessoas respeitem as normas e os
costumes sociais. A anomia, assim, representaria uma ruptura desse equilíbrio. Para
Durkheim, o comportamento criminoso deve ser entendido como produto de um estímulo
social. Assim sendo, se o indivíduo agiu dessa forma foi porque o organismo social
apresentou falhas em sua organização, tendo ele apenas reproduzido aquilo que aprendeu.

Tendo em mente esse pensamento, não bastaria responsabilizar e punir aquele que cometeu
um crime. Para que se restabeleça o equilíbrio social, a sociedade e as suas instituições
devem buscar as falhas do sistema de forma a impedir que novos criminosos surjam, já que
o comportamento do indivíduo deve ser entendido como um mero produto social.

Uma outra contribuição de destaque desse pensador foi a sua reflexão sobre o suicídio.
Até o século XIX, o suicídio era considerado um assunto exclusivamente médico.

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Depois de uma pesquisa profunda, Durkheim chega à conclusão de que, entre os

Émile Durkheim – Fato Social, Solidariedade e Anomia


quatro principais motivos que levavam um indivíduo a suicidar-se, os três primeiros
eram motivos sociais.

Exemplo de anomia (ausência ou desintegração das normas sociais)

A partir desse resultado, Durkheim define o suicídio como um fato social que contém três
tipos sociais:

f (a) O suicídio egoísta: é aquele que ocorre por falta de pertencimento social. Ao
não estar socialmente integrada, essa pessoa acaba por ser isolada, o que a levaria a
cometer suicídio. Como exemplo, podemos pensar o caso de um idoso abandonado,
uma pessoa sem amigos etc.

f (b) O suicídio altruísta: acontece nos casos de indivíduos extremamente


vinculados a um grupo social específico. A pressão social é grande e não há espaço
para a construção de uma individualidade. É o grupo ao qual pertence que define os
valores daquele sujeito. Esse tipo de suicídio costuma ocorrer em seitas religiosas e
demais grupos radicais por motivos de fé e honra, entre outros.

f (c) O suicídio anômico: costuma acontecer quando os limites sociais se tornam


pouco claros ou inexistentes. Não há mais nitidez sobre o que é permitido ou não.
Podemos ver exemplos desse tipo de suicídio em contextos de guerra e catástrofes
naturais.
Fonte: LODWIG, Glauco; DOURADO, Ivan Penteado; SOUZA, Vinicius Rauber e. Sociologia
para não sociólogos: os clássicos da sociologia: Durkheim, Weber e Marx. Passo Fundo: Ed.
Universidade de Passo Fundo, 2016.

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