Ciência & Saúde Coletiva 1413-8123: Issn: Cecilia@

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Ciência & Saúde Coletiva

ISSN: 1413-8123
[email protected]
Associação Brasileira de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva
Brasil

Fagundes Silveira, Marise; Almeida, Júlio César; Silveira Freire, Rafael; Sant’Ana Haikal, Desirrê; de
Barros Lima Martins, Andrea Eleutério
Propriedades psicométricas do instrumento de avaliação da qualidade de vida: 12-item health survey
(SF-12)
Ciência & Saúde Coletiva, vol. 18, núm. 7, julio, 2013, pp. 1923-1931
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63027990007

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1923

Propriedades psicométricas do instrumento de avaliação

ARTIGO ARTICLE
da qualidade de vida: 12-item health survey (SF-12)

Psychometric properties of the quality of life assessment


instrument: 12-item health survey (SF-12)

Marise Fagundes Silveira 1


Júlio César Almeida 2
Rafael Silveira Freire 3
Desirrê Sant’Ana Haikal 4
Andrea Eleutério de Barros Lima Martins 4

Abstract This article aims to assess the psycho- Resumo O objetivo deste estudo é avaliar as pro-
metric properties of the 12-Item Health Survey priedades psicométricas do 12-ITEM HEALTH
(SF-12). Data from an epidemiological oral health SURVEY (SF-12). Foram utilizados dados de um
survey conducted in 2008/2009 in the munici- inquérito epidemiológico de saúde bucal realiza-
pality of Montes Claros, MG were used, consist- do em 2008/2009 no município de Montes Claros
ing of 2157 individuals of both sexes. The rela- (MG), constituído de 2157 indivíduos de ambos
tional structure of the SF-12 was assessed by Fac- os sexos. A estrutura relacional do SF-12 foi ava-
tor Exploratory Analysis (FEA), the reliability liada pela Análise Fatorial Exploratória (AFE), a
was assessed using Cronbach’s alpha coefficient confiabilidade foi avaliada através do coeficiente
and Pearson’s correlation coefficient was adopted Alfa de Cronbach, o coeficiente de correlação de
in order to assess the correlations between each Pearson foi adotado para avaliar as correlações
questionnaire item and the final scores. The va- entre cada item do questionário e seus escores fi-
lidity of the construct was investigated by com- nais. A validade de constructo foi investigada atra-
paring the physical (PCS) and mental (MCS) vés da comparação dos níveis dos escores dos com-
component scores of the SF-12 among population ponentes físico (PCS) e mental (MCS) do SF-12
subgroups, using the Mann-Whitney and Kruskal- entre subgrupos populacionais, utilizando-se os
Wallis tests. The PCS and MCS domains present- testes Mann-Whitney e Kruskal-Wallis. Os do-
ed averages (standard deviation), respectively, mínios PCS e MCS apresentaram médias, respec-
equal to 49.6 (9.0) and 51.9 (8.6). Cronbach’s al- tivamente, iguais a 49,6(9,0) e 51,9(8,6). O coefi-
pha coefficient (α= 0.836) presented a high de- ciente Alfa de Cronbach (α = 0.836) apresentou
1
Departamento de Ciências
Exatas e Tecnológicas.
Universidade Estadual de gree of reliability. The relational structure was alto grau de confiabilidade. A estrutura relacio-
Montes Claros. Av. Rui explained by two latent factors, which explained nal foi explicada por dois fatores latentes, respon-
Braga s/n, Vila Mauricéia. the 58.36% of the total variance. The psychomet- sáveis por 58,36% da variância total. As proprie-
39401-089 Montes Claros
MG. ric properties of the SF-12 suggest that this is a dades psicométricas do SF-12 sugerem que esse é
[email protected] sensitive tool to assess the different QL levels, is um instrumento sensível para a avaliação de di-
2
Curso de Medicina, reliable, has satisfactory internal consistence and ferentes níveis de QV, é confiável, tem uma con-
Universidade Estadual de
Montes Claros. is fast and easy to use. sistência interna satisfatória e possui uma rápida
3
Faculdades Integradas Key words Psychometric properties, Quality of e fácil aplicação.
Pitágoras de Montes Claros. life, Exploratory factor analysis Palavras-chave Propriedades psicométricas,
4
Departamento de
Odontologia, Universidade Qualidade de vida, Análise fatorial exploratória
Estadual de Montes Claros.
1924
Silveira MF et al.

Introdução Propriedades psicométricas são parâmetros


que denotam a qualidade e o valor científico dos
A qualidade de vida (QV) é um constructo sub- resultados obtidos após a aplicação de um ins-
jetivo e multidimensional que foi trabalhado pelo trumento de avaliação, sendo sua análise de gran-
grupo de Qualidade de Vida da Organização de relevância para uma seleção, especialmente em
Mundial de Saúde como “a percepção do indiví- investigações sobre a qualidade de vida8,9. Dentre
duo sobre a sua posição na vida, no contexto da elas destacam-se a sensibilidade, a confiabilidade
cultura e dos sistemas de valores nos quais ele e a validade. A sensibilidade é a habilidade do
vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, instrumento em captar todo o espectro de mani-
padrões e preocupações”1. Há indícios que esse festações de um fenômeno estudado10. A confia-
termo tenha surgido pela primeira vez na litera- bilidade correlaciona-se à capacidade de se me-
tura médica por volta de 1930. Nas últimas déca- dir fielmente um constructo, sendo os resulta-
das foi observado um aumento do interesse por dos reproduzidos de forma consistente no tem-
sua conceituação devido à mudança dos para- po e no espaço, ou com observadores diferentes,
digmas e práticas na área da saúde2, e inúmeros quando o instrumento for utilizado de maneira
instrumentos foram desenvolvidos com o obje- adequada. Essa propriedade é muitas vezes ava-
tivo de codificar as percepções subjetivas sobre a liada através da análise de consistência interna
qualidade de vida através de dados objetivos, fa- do instrumento, sendo esta pautada na observá-
cilitando sua interpretação durante a pesquisa vel intercorrelação dos itens que avaliam um
em saúde. mesmo constructo, bem como na correlação des-
Nesse contexto, foi criado em 1994 por Ware tes com o escore total obtido8,11. A validade evi-
et al. o questionário 12-Item Short-Form Health dencia a competência de um instrumento em
Survey (SF-12)3, como uma alternativa de mais medir com precisão o fenômeno a ser estudado,
rápida aplicação ao instrumento36-Item Health ou seja, o grau pelo qual o instrumento utilizado
Survey (SF-36)4, previamente desenvolvido por na mensuração é capaz de determinar o verda-
esses mesmos autores. Composto por doze itens deiro valor daquilo que está sendo medido8,9.
derivados do SF-36, o SF-12 avalia oito diferen- Dentre seus diversos tipos, a validade de cons-
tes dimensões de influência sobre a qualidade de tructo refere-se à relação entre os conceitos teó-
vida, considerando a percepção do indivíduo em ricos e a operacionalização de sua medida8,11,12,
relação aos aspectos de sua saúde nas quatro úl- gerando evidências de que uma interpretação
timas semanas. Cada item possui um grupo de proposta dos escores, baseada no referencial teó-
respostas distribuídas em uma escala graduada, rico, está associada ao construto a ser mensura-
tipo Likert, sendo avaliadas as seguintes dimen- do9. É proposto que seu estudo seja realizado a
sões: função física, aspecto físico, dor, saúde ge- partir da aplicação do instrumento a ser valida-
ral, vitalidade, função social, aspecto emocional do em dois ou mais grupos que apresentem dis-
e saúde mental. Através de um algoritmo pró- tinção com relação à variável examinada, sendo
prio do instrumento, dois escores podem ser esperado que haja uma significativa diferença
mensurados: o físico (Physical Component Sum- entre os resultados de ambos os grupos8,9.
mary ou PCS) e o mental (Mental Component As propriedades psicométricas podem variar
Summary ou MCS). Em ambos, a pontuação de maneira considerável para cada população a
varia em uma escala de zero a cem, sendo os qual o instrumento é aplicado, principalmente
maiores escores associados a melhores níveis de nas situações em que os indivíduos em estudo
Qualidade de Vida3,5,6. Segundo os autores, as diferem quanto às características sociodemográ-
questões que avaliam função física, aspecto físi- ficas e ao estado de saúde13,14. Desta maneira tor-
co, dor, saúde geral possuem maiores correla- na-se necessário testar estatisticamente os parâ-
ções com componente físico, enquanto vitalida- metros psicométricos de um instrumento de ava-
de, função social, aspecto emocional e saúde liação da QV, como o SF-12, em grupos popula-
mental estariam mais correlacionados ao com- cionais inseridos em diferentes contextos, corro-
ponente mental. Entretanto, as dimensões saúde borando, deste modo, a aplicabilidade de tal fer-
geral, vitalidade e função social podem exibir for- ramenta para um determinado contingente po-
tes correlações com ambos os escores do questi- pulacional. Assim, este estudo objetivou verificar
onário5,6. No Brasil, o SF-12 teve sua versão tra- as propriedades psicométricas (sensibilidade,
duzida para o português validada em 2004 em confiabilidade e validade) do SF-12 em uma
uma população com doença pulmonar obstru- amostra representativa do município de Montes
tiva crônica7. Claros (MG).
1925

Ciência & Saúde Coletiva, 18(7):1923-1931, 2013


Métodos A versão do SF-12 adotada no SBMOC foi a
validada no Brasil7. Inicialmente foram estima-
O presente trabalho utilizou dados do SF-12 dos os valores médios, desvio-padrão, mediana,
obtidos do Levantamento epidemiológico das mínimo e máximo para o PCS e MCS. A sensibi-
condições de saúde bucal da população de Mon- lidade do instrumento foi avaliada através da
tes Claros (MG) (Projeto SB-MOC), conduzido verificação da taxa de resposta às alternativas de
entre 2008 e 2009 por pesquisadores da Universi- cada um dos itens do SF-12, sendo esta reflexo
dade Estadual de Montes Claros (Unimontes) do potencial uso de todas as possibilidades de
em parceria com a Prefeitura Municipal de Mon- resposta pelos diferentes indivíduos em estudo.
tes Claros, com apoio financeiro da Fundação A presença de efeito piso ou teto nos escores ob-
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Ge- tidos, PCS e MCS, também foi investigada, de-
rais (Fapemig). monstrando a habilidade do questionário em
A amostra probabilística foi composta por acessar todos os níveis de QV da amostra.
2157 indivíduos de ambos os sexos, nas faixas A estrutura relacional do questionário foi
etárias de 15 a 19, 35 a 44 e 65 a 74 anos, preconi- avaliada pela Análise Fatorial Exploratória (AFE),
zadas pela OMS15 para representar adolescentes, com extração dos fatores pelo método das com-
adultos e idosos, respectivamente em inquéritos ponentes principais seguida de uma rotação Va-
epidemiológicos em saúde bucal. O tamanho rimax. Os fatores comuns retidos foram aqueles
amostral foi definido considerando-se a preva- que apresentaram autovalor superior a 1, em
lência estimada em 0,50 do evento estudado (cá- consonância com o Screen plot e a porcentagem
rie dentária, por se tratar de um levantamento de variância retida. Para avaliar a adequação dos
sobre saúde bucal), nível de confiança (95%) e dados à análise fatorial utilizou-se o teste de Kai-
erro amostral (5,5%)16,17. Utilizou-se amostragem ser-Meyer-Olkin (KMO)22,23.
aleatória por conglomerado18, sendo assim, foi A confiabilidade do SF-12 foi avaliada através
necessário considerar o efeito do delineamento de sua consistência interna utilizando-se o coefi-
adotando-se uma correção pelo efeito do dese- ciente Alfa de Cronbach22,23. Foram avaliadas a
nho deff = 2 no cálculo do tamanho amostral, consistência interna para o instrumento como um
pois este método pode produzir alterações na pre- todo e para os dois componentes individualmen-
cisão das estimativas devido às possíveis correla- te, sendo adotado valor mínimo de 0,70 como
ções das unidades amostrais dentro e entre os uma consistência interna satisfatória24. O coefici-
conglomerados19,20. Na prática, o tamanho da ente de correlação de Pearson também foi utiliza-
amostra foi calculado como se a amostragem fos- do, visando-se examinar as correlações entre cada
se aleatória simples e em seguida multiplicada por item do questionário e os escores finais dos com-
dois, o que correspondeu a uma correção no ta- ponentes físico (PCS) e mental (MCS).
manho amostral de 100%. Foi também estabele- A validade de constructo do questionário foi
cido um acréscimo de 20% no tamanho da amos- investigada através da comparação dos escores
tra para compensar as possíveis não respostas e PCS e MCS entre subgrupos populacionais que
perdas17. As unidades amostrais foram selecio- hipoteticamente deveriam apresentar níveis dife-
nadas por amostragem probabilística por con- rentes de qualidade de vida, utilizando-se os tes-
glomerados em dois estágios. No primeiro, por tes Mann-Whitney e Kruskal-Wallis (nível de sig-
amostragem aleatória simples, foram seleciona- nificância α = 0,05). Estes subgrupos foram defi-
dos 52 dos 276 setores censitários urbanos e duas nidos a partir de características sociodemográfi-
das 11 grandes áreas rurais de Montes Claros, de cas (sexo, idade, estado civil, situação trabalhista
acordo com os dados estimados a partir dos re- atual e escolaridade) e variáveis relacionadas à
sultados do censo conduzido no ano 200021. No saúde (consumo de bebida alcoólica, consumo
segundo, também por amostragem aleatória sim- de tabaco, prática de atividades física, autorrela-
ples, foram selecionadas em média seis quadras to de doença e uso de medicamentos).
em cada um dos 52 setores sorteados. Os domicí- Todas as análises foram realizadas com o
lios das quadras selecionadas foram visitados e auxílio do software PASW 18.0® para Windows.
seus residentes foram convidados a participar O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
deste inquérito. Nas duas áreas rurais, os resi- Pesquisa da Universidade Estadual de Montes
dentes dos domicílios situados a uma distância Claros, Minas Gerais, e todos os participantes e/
de até 500 metros de uma instituição de referência ou seus responsáveis assinaram o termo de con-
também foram convidados a participar. sentimento livre e esclarecido.
1926
Silveira MF et al.

Resultados 58,36% da variância total. Assim o primeiro pode


ser designado como “fator físico” enquanto que
Os componentes físico (PCS) e mental (MCS) o segundo por “fator mental”. Os itens da di-
do instrumento apresentaram médias (desvio- mensão aspecto emocional, apesar de estarem
padrão) iguais a 49,6 (9,0) e 51,9 (8,0), respecti- fortemente correlacionados (r > 0,70) ao fator
vamente. As frequências de respostas aos itens dois (mental), apresentaram maiores cargas fa-
do SF-12 evidenciaram que todas as possibilida- toriais com o primeiro fator (físico).
des de respostas foram potencialmente usadas. Os coeficientes de Correlação de Pearson con-
Presença de efeito piso e teto não foram consta- firmam maior correlação entre o PCS e as ques-
tados na mensuração de ambos os escores (Ta- tões que avaliaram saúde geral, capacidade fun-
bela 1). O PCS e o MCS apresentaram distribui- cional, aspecto físico e dor, enquanto que os itens
ção assimétrica com grande concentração de in- de aspecto emocional, saúde mental, aspecto so-
divíduos em torno de suas respectivas médias cial e vitalidade apresentaram maiores correla-
(Figura 1). ções com o MCS. (Tabela 2)
De acordo com a regra adotada de autovalor Quanto à consistência interna, consideran-
superior a um e com o Screen plot, cujo ponto de do-se todos os 12 itens do questionário, foi esti-
inflexão da curva está localizado no segundo fa- mado um coeficiente Alfa de Cronbach igual a
tor (Figura 2), a estrutura relacional investigada 0.836. Para o conjunto de itens que compõem o
neste estudo foi explicada por dois fatores laten- PCS e o MCS observaram-se coeficientes iguais a
tes. A Tabela 2 apresenta a comunalidade de cada 0,812 e 0,730, respectivamente. O valor do teste
item, as cargas fatoriais e os coeficientes de cor- da adequação dos dados à análise fatorial foi
relação em cada um dos fatores, os seus autova- satisfatório e apropriado (KMO = 0,923)25.
lores e a porcentagem explicada por cada fator. Os escores médios do SF-12, segundo carac-
O primeiro fator apresenta cargas fatoriais terísticas sociodemográficas e variáveis relacio-
elevadas com os itens das dimensões capacidade nadas à saúde, apresentaram diferenças signifi-
funcional, aspecto físico, dor e saúde geral e ex- cantes, exceto entre os indivíduos que estavam
plica 47,09% da variância total. O segundo, com ou não exercendo atividades trabalhistas em re-
cargas fatoriais elevadas nos itens de saúde men- lação ao MCS. Foi observado que sexo femini-
tal, aspecto social e vitalidade explicam 11,27% no, menor idade, estado civil casado/ união está-
da variância total. No global, os dois explicam vel, exercer atividade trabalhista, possuir maior

Tabela 1. Itens do SF-12 com suas respectivas frequências de respostas e sumário estatístico dos
componentes físico e mental do questionário.
Frequência das respostas (%)
Item Domínio 1 2 3 4 5 6
1-Atividades médias Capacidade Funcional 5,6 15,0 79,4 - - -
2-Subir escada Capacidade Funcional 4,9 13,5 81,6 - - -
3-Fez menos do que gostaria Aspecto Físico 22,8 77,2 - - -
4-Dificuldades no trabalho Aspecto Físico 21,7 78,3 - - - -
5-Interferência da dor Dor 1,4 8,1 8,2 16,2 66,1 -
6-Saúde em geral Saúde Geral 3,7 22,9 38,3 24,1 11,1 -
7-Energia Vitalidade 1,6 8,9 10,7 19,8 45,4 13,6
8-Atividades sociais Aspecto Social 1,3 2,2 9,1 16,6 70,8 -
9-Fez menos do que gostaria Aspecto Emocional 17,6 82,4 - - - -
10-Menos cuidadoso Aspecto Emocional 15,6 84,4 - - - -
11-Calmo/ tranquilo Saúde Mental 2,4 12,3 12,0 18,2 44,5 10,6
12-Desanimado/deprimido Saúde Mental 0,9 3,4 5,7 10,4 35,9 43,7

Sumário Média Desvio Padrão Mediana Mínimo Máximo % Piso % Teto


PCS 49,6 9,0 53,5 16,19 65,43 0,00 0,00
MCS 51,9 8,6 54,0 7,64 72,08 0,00 0,00
1927

Ciência & Saúde Coletiva, 18(7):1923-1931, 2013


A B
500 500
Número de indivíduos

400 400

Número de indivíduos
300 300

200 200

100 100

0
0
10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00
0,00 20,00 40,00 60,00 80,00
Escore do componente físico (PCS) do SF-12 Escore do componente mental (MCS) do SF-12

Figura 1. A - Distribuição dos escores do componente físico (PCS) do instrumento SF-12; B - Distribuição
dos escores do componente mental (MCS) do instrumento SF-12.

A
B
6
50
Porcentagem de explicação

40
Autovalor

3 30

2 20

1 10

0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Fator Fator

Figura 2. A - Autovalores estimados segundo o número de fatores obtidos através de análise fatorial para o
SF-12; B - Porcentagem de explicação da variabilidade total dos dados para modelo de análise fatorial
obtido para o SF-12, segundo os fatores extraídos.

escolaridade, não fazer uso de bebidas alcóolicas Discussão


e tabaco, praticar atividades físicas com maior
frequência, não fazer uso de medicação contínua Investigações sobre qualidade de vida têm se tor-
e não ser portador de algum problema de saúde nado cada vez mais comuns nas últimas déca-
estão associados a melhores níveis de qualidade das. Este fato vem acompanhado da crescente
de vida (Tabela 3). necessidade de se testar as propriedades psico-
métricas dos instrumentos utilizados, visando
garantir a fidedignidade das informações encon-
tradas nos estudos. Em relação ao SF-12, diver-
sos estudos de validação e avaliação de suas pro-
priedades são encontrados na literatura, tanto
1928
Silveira MF et al.

Tabela 2. Comunalidades, cargas fatoriais, coeficiente de correlação de Pearson, Alfa de Cronbach, autovalores e
porcentagem da variância explicada, após AFE pelo método das componentes principais.

Carga fatorial Correlação* Alfa de


Item Domínio Comunalidade Fator Fator Cronbach
PCS MCS
1 2
1- Atividades médias Capacidade Funcional 0,331 0,833 0,155 0,812 0,280
2- Subir escada Capacidade Funcional 0,718 0,816 0,137 0,777 0,274
0,812
3- Fez menos do que gostaria Aspecto Físico 0,685 0,843 0,162 0,803 0,318
4- Dificuldades no trabalho Aspecto Físico 0,737 0,858 0,191 0,823 0,346
5- Interferência da dor Dor 0,772 0,641 0,242 0,756 0,298
6- Saúde em geral Saúde Geral 0,596 0,511 0,265 0,611 0,312 0,836

7- Energia Vitalidade 0,559 0,202 0,668 0,367 0,558


8- Atividades sociais Aspecto Social 0,469 0,366 0,616 0,398 0,675
0,730
9- Fez menos do que gostaria Aspecto Emocional 0,534 0,620 0,459 0,419 0,706
10- Menos cuidadoso Aspecto Emocional 0486 0,582 0,469 0,382 0,706
11- Calmo e tranquilo Saúde Mental 0,601 0,035 0,730 0,140 0,641
12- Desanimado e deprimido Saúde Mental 0,514 0,221 0,743 0,257 0,762
Autovalor 5,65 1,35
Variância explicada (%) 47,09 11,27

*
Valor-p < 0,001 para todas as correlações

na população geral como em amostras de porta- SF-12 na população da Grécia, e por Gandhi et
dores de algum problema de saúde, sendo tam- al.10 em uma amostra de pacientes portadores de
bém comuns comparações com o SF-36 em en- afecções reumatológicas.
saios transversais e longitudinais6,7,10,11. Estudo Os altos valores estimados para o coeficiente
de validação desenvolvido por Gandek et al.6, com Alfa de Cronbach corroboram a alta consistên-
amostras populacionais de nove países europeus, cia interna, e confiabilidade do SF-12. Estes acha-
verificou que o SF-12 é uma alternativa vantajo- dos indicam que a escala reflete consistentemen-
sa em relação aos SF-36 em trabalhos que envol- te o constructo que está medindo.
vam amostras superiores a 500 indivíduos e que A estrutura fatorial do questionário com duas
objetivem mensurar apenas os componentes fí- variáveis latentes foi observada, fato similar aos
sico e mental da qualidade de vida. No Brasil, achados de Gandhi et al.10 e Kontodimopoulos et
Camelier7, em um estudo com portadores de al.11 Entretanto, ao contrário dos resultados des-
doença pulmonar obstrutiva crônica, constatou ses autores, no presente estudo, a hipótese de cor-
que o SF-12 apresentou reprodutibilidade e vali- relações item-componentes do SF-12 não foi to-
dade semelhantes ao SF36, configurando-se talmente confirmada por meio da análise fatorial.
como instrumento válido para acessar a quali- Duas questões (itens 9 e 10), que avaliam a dimen-
dade de vida de indivíduos com tal afecção. são aspecto emocional, apresentaram maior carga
O predomínio das respostas relacionadas a fatorial com o fator “físico”, apesar de estarem tam-
melhores níveis de qualidade de vida era espera- bém moderadamente associadas ao fator ‘mental’.
do, pois este estudo envolveu uma população Em contrapartida, as análises utilizando Correla-
geral, com teoricamente um maior contingente ção de Pearson confirmam a hipótese adotada de
de pessoas saudáveis. A ausência de efeito piso e correlações existentes entre itens e componentes do
teto nesses parâmetros corroboram a habilidade instrumento, sendo achados similares observados
do instrumento em acessar todo o espectro de no estudo grego11 e no estudo envolvendo pacien-
níveis de qualidade de vida, demonstrando sua tes com afecções reumatológicas10. Estes resulta-
sensibilidade. Resultados similares foram encon- dos demonstram a consistência de construção do
trados por Kontodimopoulos et al.11 em estudo questionário e corroboram a validade de sua apli-
de avaliação das propriedades psicométricas do cação na população em estudo.
1929

Ciência & Saúde Coletiva, 18(7):1923-1931, 2013


Tabela 3. Análise dos componentes físico (PCS) e mental (MCS) do SF-12 para diferentes subgrupos populacionais
de Montes Claros-MG.

PCS MCS
Característica n % Erro Valor Erro Valor
Média Padrão -p Média Padrão -p
Sexo* 0,001 0,001
Feminino 1151 53,4 48,7 0,29 50,6 0,27
Masculino 1006 46,6 50,6 0,27 53,4 0,24
Idade** 0,001 0,001
15 a 19 759 35,2 53,65a 0,17 53,10 a 0,27
35 a 44 841 39,0 49,95b 0,30 51,03b 0,31
65 a 74 557 25,8 43,50c 0,45 51,51b 0,39
Estado civil** 0,001 0,001
Solteiro 1025 47,5 47,89a 0,30 51,65 a 0,28
Casado/união estável 894 41,4 52,85b 0,20 52,64 a 0,26
Viúvo/divorciado 238 11,0 44,65c 0,70 50,03b 0,64
Situação trabalhista atual* 0,030 0,360
Exerce atividade trabalhista 964 44,9 50,07 0,27 52,09 0,27
Não exerce atividade trabalhista 1183 55,1 49,21 0,28 51,73 0,25
Escolaridade* 0,001 0,010
Mais de oito anos de estudo 1151 53,4 51,98 0,21 52,34 0,24
Até oito anos de estudo 1006 46,6 46,85 0,32 51,35 0,28
Consome bebida alcoólica* 0,001 0,001
Não 1438 66,7 50,20 0,23 52,36 0,21
Sim 718 33,3 48,36 0,35 50,99 0,35
Faz uso de tabaco* 0,001 0,001
Não 1710 79,3 50,38 0,21 52,15 0,20
Sim 446 20,7 46,53 0,48 50,84 0,46
Prática de atividade física** 0,001 0,001
Sempre/frequentemente 630 29,2 51,71a 0,30 53,74 a 0,29
Ocasionalmente 425 19,7 49,87a,b 0,42 51,91b 0,41
Raramente/nunca 1099 51,0 48,25b 0,29 50,82b 0,27
Portador de alguma doença (auto-relato)* 0,001 0,001
Não 1090 50,7 53,29 0,16 53,47 0,21
Sim 1061 49,3 45,81 0,32 50,26 0,30
Uso de medicação contínua 0,001 0,001
Não* 1512 70,2 52,08 0,17 53,04 0,19
Sim 643 29,8 43,71 0,43 49,17 0,42
*
Teste Mann-Whitney; ** Teste Kruskal-Wallis (letras iguais correspondem a diferenças não significantes, e letras diferentes correspondem
a diferenças significantes).

A validade de constructo do SF-12 foi eviden- menores níveis de qualidade de vida. Diferenças
ciada por sua capacidade de distinguir os dife- significantes não foram observadas apenas no
rentes níveis de qualidade de vida entre subgru- conjunto de pessoas que exerciam ou não ativi-
pos populacionais estratificados pelas variáveis dades trabalhistas em relação ao MCS. Deve-se
sociodemográficas e pelas relacionadas ao esta- ainda ser ressaltado que a variável acerca da pre-
do de saúde. Foi verificado que sexo feminino, sença de alguma doença foi baseada no autorre-
idade mais avançada, estado civil divorciado ou lato dos indivíduos investigados, podendo justi-
viúvo, menor escolaridade, desemprego, consu- ficar a alta frequência de portadores de alguma
mo de tabaco e bebidas alcoólicas, menor frequ- doença observada na amostra.
ência da prática de atividades físicas, ser porta- Dentre as limitações deste estudo pode-se
dor de alguma doença e fazer uso contínuo de destacar a ausência de comparação dos resulta-
algum medicamento são condições associadas a dos obtidos pelo SF-12 aos de outros instrumen-
1930
Silveira MF et al.

tos de avaliação da qualidade de vida em popu-


lações gerais já validados na literatura, como por
exemplo, o SF36. Deste modo, investigações a
respeito da validade de critério e validade discri-
minante do SF12 foram impossibilitadas. Sendo
assim, sugere-se que tal temática, bem como a
reprodutibilidade dos achados obtidos através
do questionário em estudos longitudinais, seja
abordada em trabalhos futuros.

Conclusão

As propriedades psicométricas do SF-12 foram


evidenciadas, configurando este instrumento
como uma ferramenta em potencial para se ava-
liar o nível de qualidade de vida na população em
geral, particularmente em estudos com amos-
tras amplas e que objetivem avaliar os aspectos
físico e mental deste constructo. Foram demons-
trados níveis satisfatórios de sensibilidade, con-
fiabilidade, validade de constructo e da estrutura
do questionário SF-12.

Colaboradores

MF Silveira trabalhou na pesquisa, metodologia,


concepção e na redação final. JC Almeida e RS
Freire trabalharam nas análises dos dados e re-
dação do artigo. DS Haikal e AEBL Martins tra-
balharam na concepção, pesquisa e metodologia.

Agradecimentos

Agradecemos o fomento da Fundação de Ampa-


ro a Pesquisa Estado de Minas Gerais FAPEMIG,
que forneceu bolsas para as pesquisadoras Mari-
se Fagundes da Silveira, Desirée Sant’Ana Haikal e
Andréa Maria Eleutério de Barros Lima Martins.
1931

Ciência & Saúde Coletiva, 18(7):1923-1931, 2013


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