Daniele Katiuscia Scatolin Brito
Daniele Katiuscia Scatolin Brito
Daniele Katiuscia Scatolin Brito
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do curso de Psicologia da Anhanguera.
2
Orientadora. Docente do curso de Psicologia da Anhanguera.
Apesar da importância e incidência, a etiologia do TEA permanece
desconhecida. Dito isso, é considerado multifatorial, ou seja, está relacionado a
fatores neurobiológicos e genéticos. Já as anormalidades do desenvolvimento,
também características do autismo, podem ser identificados ainda nos primeiros 3
anos de vida e persistir na idade adulta. Com relação ao diagnóstico de TEA, pode-se
dizer que é de natureza clínica baseado na observação profissional do comportamento
da criança e em entrevistas com os pais/responsáveis bem como a utilização de
instrumentos específicos. Os parâmetros usados para o diagnóstico do autismo são
descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - 5).
Mediante perspectiva epistemológica, o TEA pode ser compreendido por meio
de uma psicopatologia fenomenológica que busca focar a singularidade da
experiência autista, evitando assim a necessidade de enquadrar o sujeito em
categorias prévias. Essa perspectiva não busca entender o autismo em si, mas sim o
sujeito e a forma como ele se torna autista, levantando a questão se isso é uma
patologia ou apenas um modo de ser ou estar dentre outros inúmeros modos.
A análise crítica do saber médico à luz de manuais de saúde mental como CID-
10 (OMS, 2994) e DSM-V torna-se fundamental, pois sustentam outras áreas do
conhecimento como a psicologia e psiquiatria. Sendo assim, surge a seguinte
problemática: como se constitui o modo de ser autista por meio da psicologia
humanista?
Diante disso, o objetivo deste estudo é investigar como se constitui o modo de
ser autista por meio da psicologia humanista. Para tanto, buscou-se alcançar
inicialmente, os seguintes objetivos específicos: identificar as características do TEA
diante do saber médico; descrever o TEA sob perspectiva da fenomenologia; e,
investigar a posição do humanismo mediante a despatologização.
A justificativa para este estudo reside na necessidade de desenvolver uma
leitura teórica e uma prática de intervenção pautada na epistemologia não tradicional,
alcançando assim a liberdade de ser si mesmo e preocupando-se mais com o
prognóstico do que com o próprio diagnóstico. Assim, buscou-se construir
conhecimentos de base fenomenológica abrindo espaço para que esse assunto pouco
debatido se contraponha ao estigma da doença mental e à subjetividade não
diminuída da doença, contrariando, portanto, os preconceitos a priori formados pela
sociedade que, em de forma processual, a visão de mundo atribuída pela instituição
social ao sujeito do diagnóstico pode ser refinada e aberta não só para a compreensão
e aceitação dos mesmos, mas também para tomar livre sua forma.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Metodologia
Freitas (2015) traz à tona uma palestra de Jim Sinclair em que afirma que a
frase “indivíduo com autismo” é equivocada e errônea, sendo o correto “indivíduo
autista”, uma vez que o sujeito não está com autismo, como se pudesse retirá-lo do
seu corpo como um acessório ou curá-lo como se fosse uma doença. Pelo contrário,
é essa característica, o “ser autista”, que o faz único.
Uma consequência desse pensamento, ainda segundo Freitas (2015), é que
pela existência e pelos diferentes “modos de ser” de cada sujeito, isso determina os
diferentes comportamentos e não apenas daqueles considerados doentes. Essa
atitude repercute na área da Psicologia, sem reduzir o indivíduo enquanto um ser
diante do seu sofrimento existencial, a uma dimensão psicológica, orgânica ou social.
Diante disso, não há outra direção senão desconstruir os preconceitos que ocorrem
no cotidiano e transformar a prática da psicologia em uma experiência adequada que
se consegue simplesmente aceitar o que se mostra nos fenômenos que ocorrem no
momento.
Fadda (2013) acrescenta que ao interagir com o autista é necessário ampliar
suas percepções para compreender o que está vivenciando. Nesse sentido, portanto,
estar com o sujeito significa abrir mão dos próprios valores como forma de entrar no
mundo do outro sem a necessidade de uma fórmula pré-determinada. Assim, a
abordagem fenomenológica assume a forma de compreensão empática, permitindo
aos psicólogos vislumbrar como é para as pessoas autistas enquanto seres, tal como
as vivenciam no mundo.
Também é relevante, então, buscar formas singulares de significado nas
experiências autistas, considerando os indivíduos do espectro do autismo, e as
diversas teorias existentes voltadas ao diagnóstico, como a psiquiatria classificatória
e seus critérios diagnósticos. Essa visão é apoiada pelo fato de que cada autista tem
seu modo de ser baseado no que diz a fenomenologia (FADDA; CURY, 2019).
Nessa perspectiva, Marocco (2017) levanta a questão de saber se a
possibilidade de estruturas linguísticas alternativas surge à maneira do autismo. Neste
caso, de acordo com os estudos realizados ou com os depoimentos dos autistas
participantes em seu estudo, o autor observa que a linguagem falada no mundo autista
é a não verbal, ou seja, através do corpo, o que traz para a forma de percepção de
cada assunto ponto singular. Nos termos da fenomenologia de Merleau-Ponty, no
autismo o mundo destaca o corpo de tal forma que supera o sentido de organicidade.
Nesse sentido, a maioria dos sujeitos autistas não utiliza palavras para pensar
ou agir, mas sim imagens, ditas, coerentes com a atitude fenomenológica, insistindo
na dimensão do conhecimento que cada indivíduo vivencia. Dessa forma, cada sujeito
expressa seu modo de estar no mundo apesar dos estereótipos, visando assim a
despatologização, na qual o autista é essencialmente um ser real e não apenas mais
um paciente (FREITAS, 2015).
3 CONCLUSÃO
No decorrer deste trabalho, foi possível explorar a abordagem humanista em
relação a indivíduos que apresentam sinais de Transtorno do Espectro do Autismo
(TEA). Inicialmente, foi fornecido uma compreensão geral do autismo, destacando a
complexidade desse transtorno e a diversidade de experiências que as pessoas no
espectro vivenciam. Foi crucial reconhecer que o autismo não deve ser visto apenas
como uma patologia, mas como um modo único de existência.
Nesse sentido, evidenciou-se que a abordagem humanista, que se baseia em
compreender o sujeito em sua totalidade, oferece uma perspectiva valiosa para lidar
com o TEA. O foco na empatia, na aceitação e na compreensão das experiências
individuais das pessoas autistas é fundamental para promover uma abordagem
humanista eficaz. A fenomenologia desempenha um papel crucial nesse processo,
permitindo que os profissionais se aproximem das vivências autistas sem julgamentos
prévios.
É imperativo que seja superado os estigmas e preconceitos associados ao
autismo, reconhecendo a singularidade de cada pessoa no espectro. A abordagem
humanista enfatiza a importância de valorizar o "ser autista" e não simplesmente tratar
o autismo como uma doença a ser corrigida. Essa perspectiva leva a questionar as
práticas tradicionais de diagnóstico e tratamento, buscando compreender as
necessidades específicas de cada indivíduo autista.
Além disso, a despatologização do autismo é um passo crucial na promoção
da inclusão e na garantia de que as pessoas autistas tenham acesso a uma educação
digna e baseada em suas necessidades de aprendizagem. Isso implica uma mudança
de atitudes e uma aceitação das diferenças, reconhecendo que o autismo não
representa uma condição patológica, mas sim uma forma única de existência.
Cabe destacar que o estudo apresentado enfrentou algumas dificuldades que
podem ser relevantes para orientar pesquisas futuras. Uma das principais limitações
foi a ausência de literatura científica a respeito do assunto. Além disso, é importante
reconhecer que a abordagem humanista adotada em algumas pesquisas pode não
ser a única perspectiva relevante para compreender o autismo. Pesquisas futuras
podem explorar abordagens múltiplas, incluindo outras teorias e disciplinas, a fim de
obter uma compreensão mais abrangente do autismo.
REFERÊNCIAS
APA. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V: Diagnostic and
statistical manual of mental disorders (5th ed.). Washington, DC. 2013.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, Atlas, 2016.
LÔBO, Suely Maria Costa; PITTA, Ana Maria Fernandes. O autismo no caminho da
patologização e medicalização: efeitos da Lei 13.438, de 26 de abril de
2017. Cadernos do CEAS: Revista crítica de humanidades, n. 246, p. 83-91,
2019.
QUIROZ, Fridda Chara et al. Comentario: una breve historia del autismo. Revista de
Psicología, v. 8, n. 2, p. 125-133, 2018.
SOUZA, Rodrigo Dal Ben; JULIANI, João. Psicologia e autismo. Revista Terra &
Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa, v. 29, n. 56, p. 139-152, 2018.