Curso TJMG Registros Publicos Slide Unidade 2 - 1

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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais - TJMG

Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes – EJEF

- Unidade 2 -
Obrigações Contábeis, Fiscais, Trabalhistas e Administrativas dos
Serviços Notariais e dos Registros Públicos

Professor Ms. Victor Fróis Rodrigues


Tabelião de João Pinheiro/MG
E-mail: [email protected]
1. Tratamento Constitucional e Regime Jurídico

Art. 236 da CR/88 - “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter
privado, por delegação do Poder Público. (grifo)
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos
notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus
atos pelo Poder Judiciário.
§ 2º Lei Federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos
atos praticados pelos serviços notariais e de registro.
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de
provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique sem vaga, sem
abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses” (grifo).
1. Tratamento Constitucional e Regime Jurídico
“I - Trata-se de atividades jurídicas que são próprias do Estado, porém
exercidas por particulares mediante delegação. Exercidas ou traspassadas,
mas não por conduto da concessão ou da permissão, normatizadas pelo caput
do art. 175 da Constituição como instrumentos contratuais de privatização do
exercício dessa atividade material (não jurídica) em que se constituem os
serviços públicos. II - A delegação que lhes timbra a funcionalidade não se
traduz, por nenhuma forma, em cláusulas contratuais. [...]” (STF; ADI
2.415/SP; Relator Ministro Ayres Brito; julgamento em 10/11/2011; DJe de
9/2/2012).

“A intenção do legislador ao dispor sobre a matéria foi desincumbir os Estados


da Federação do exercício das atividades [notarial e dos registros públicos,
transportando-as aos particulares, sem, contudo, extrair a natureza
eminentemente pública dos serviços respectivos” (RODRIGUES, Marcelo
Guimarães. O regime jurídico das atividades notarial e de registros públicos.
Disponível em:
http://genjuridico.com.br/2016/01/18/o-regime-juridico-das-atividades-notarial-e
-de-registros-publicos/).
1.1 Delegação e Exercício do Serviço Público

Art. 175 da CR/88 – “Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou


sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos.” (grifo)

Art. 2º da Lei nº 8.987/1995 - “Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:


I – Poder concedente: a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Município em
cuja competência se encontre o serviço público, precedido ou não da execução
de obra pública, objeto de concessão ou permissão; (grifo)
II – Concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo
poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa
jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu
desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado; (...)” (grifo).
1.1 Delegação e Exercício do Serviço Público

A descentralização administrativa ocorre quando o ente federativo cria uma


pessoa jurídica de direito público ou privado (entidades da administração
indireta) e atribui a elas titularidade e a execução de determinado serviço
público.
São, essencialmente, duas as formas de descentralização:
a) a outorga;
b) a delegação.
A outorga se opera quando o Estado cria uma entidade e a ela transfere, por lei,
a titularidade e a execução de determinado serviço público.
Por sua vez, a delegação se dá quando, por contrato ou ato unilateral, o Estado
transfere a terceiro unicamente a execução do serviço público, para que o
delegatário, em seu nome e por conta e risco, desempenhe as atividades
respectivas (ALEXANDRE, Ricardo; DEUS, João de. Direito Administrativo. 3.
ed. revista, atualizada e ampliada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método,
2017, p. 141).
1.1 Delegação e Exercício do Serviço Público

Todavia, a delegação dos serviços notariais e de registros públicos detém traços


distintivos da modalidade ordinária.
Em primeiro lugar, ela é obrigatória, conforme consignado na redação do art. 236
da Constituição, que determina, de forma cogente, a realização dos certames
públicos em prazos determinados, com fins à outorga da delegação dos serviços
notariais e de registros públicos.
Em segundo lugar, a delegação dos serviços notariais e de registros públicos se
dá através de concurso público, de provas e títulos, e não por meio do
procedimento de licitação (Lei nº 8.666/1993 🡪 PL 4.253/2020).
E, por último, a delegação dos serviços notariais e de registros públicos dar-se-á,
única e exclusivamente, em favor de pessoa física que cumpra com os requisitos
legais (art. 14, Lei nº 8.935/1994), dentre eles a aprovação no concurso público
correspondente (LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos: teoria e
prática. 9. ed. revista, atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm, 2018,
p. 72).
1.2 Natureza Jurídica da Atividade
Os notários e oficiais de registro, não obstante exerçam atividade de caráter
eminentemente público, não se enquadram no conceito administrativo de funcionário
público, uma vez que não ocupam cargo ou emprego. Submetem-se a regime jurídico
próprio, e, dessa forma, são classificados pela doutrina administrativista como particulares
em colaboração com o poder público.
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - PROVIMENTO Nº 055/2001 DO
CORREGEDOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - NOTÁRIOS E
REGISTRADORES - REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS –
INAPLICABILIDADE - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20/98 - EXERCÍCIO DE
ATIVIDADE EM CARÁTER PRIVADO POR DELEGAÇÃO DO PODER PÚBLICO -
INAPLICABILIDADE DA APOSENTADORIA COMPULSÓRIA AOS SETENTA ANOS DE
IDADE. - O art. 40, § 1º, II, da Constituição do Brasil, na redação que lhe foi conferida pela
EC 20/1998, está restrito aos cargos efetivos da União, dos Estados-membros, do Distrito
Federal e dos Municípios – incluídas as autarquias e fundações. Os serviços de registros
públicos, cartorários e notariais são exercidos em caráter privado por delegação do poder
público – serviço público não privativo. Os notários e os registradores exercem
atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo público efetivo, tampouco
ocupam cargo público. Não são servidores públicos, não lhes alcançando a
compulsoriedade imposta pelo mencionado art. 40 da CF/88 – aposentadoria
compulsória aos setenta anos de idade” (STF; ADI 2.602/MG; Relator p/ o Acordão
Ministro Eros Grau; Plenário; Julgamento em 24/11/2005; DJ em 31/3/2006) (grifo).
1.2 Natureza Jurídica da Atividade

“Os particulares em colaboração, também conhecidos como agentes honoríficos,


são aqueles que exercem, transitoriamente, a função pública, mediante
delegação, requisição, nomeação ou outra forma de vínculo, mas não ocupam
cargos ou empregos públicos. Exemplos: jurados, mesários em eleições,
empregados das empresas concessionárias e permissionárias de serviços
públicos, notários e registradores [...]” (OLIVEIRA; Rafael Carvalho Rezende.
Curso de Direito Administrativo. 8. ed. Rio de Janeiro: Método, 2020, p. 1.022).

As distinções impostas pela formatação jurídica própria da atividade notarial e de


registros públicos tornam inaplicáveis a estes profissionais, além da
aposentadoria compulsória acima referida, a garantia de estabilidade (art. 41,
CR/88), o regime de remuneração (art. 37, XI, CR/88), e também o regime de
previdência social dos ocupantes de cargos públicos (art. 40, CR, CR/88).
2. Prerrogativas, Atribuições e Direitos

Coube à Lei nº 8.935/1994 o papel de regulamentar o art. 236 da Constituição,


instituindo o Estatuto Jurídico dos Notários e Oficiais de Registro, onde se
estabelecem, dentre outras matérias, as prerrogativas, atribuições e direitos
desses agentes públicos.
Art. 3º da Lei nº 8.935/1994. “Notário, ou Tabelião, e Oficial de Registro, ou
registrador, são profissionais do Direito, dotados de fé pública, a quem é
delegado o exercício da atividade notarial e de registro.”
2.1 Profissionais do Direito

A qualidade de profissional do Direito garante aos notários e oficiais de registro


a independência e autonomia no cumprimento de suas atribuições. Tal
prerrogativa opera como proteção/garantia ao exercício da convicção jurídica
livre - mas sempre motivada - imparcial e impessoal, nos atos formalizados em
cartório, e dos aconselhamentos prestados aos usuários, tanto quanto da
relação entre os notários e oficiais de registro com o Estado, em especial com o
Poder Judiciário, que exerce a fiscalização da atividade.
De outro lado, importa destacar que a autonomia profissional sempre estará
adstrita aos limites da legalidade. Daí se infere que a independência não é
propriamente um direito, mas um poder-dever, na medida em que confere
legitimação à atuação dos notários e oficiais de registro.
2.2 Fé Pública

O desempenho funcional do titular, por ser provido de fé pública, afirma a


certeza e a verdade presumidas dos assentamentos que pratique e das
certidões que expeça nessa condição.
A fé pública corresponde à especial confiança atribuída por lei ao que o oficial
declare ou faça no exercício da função com presunção de verdade, e afirma a
eficácia do negócio jurídico ajustado com base no declarado ou praticado pelo
registrador e pelo notário (CENEVIVA, Walter. Lei de Registros Públicos
comentada. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 54).
2.3 Emolumentos

Os oficiais de registro terão direito, a título de remuneração, aos emolumentos fixados


nos regimentos de custas (lei em sentido formal) do Distrito Federal, dos Estados e dos
Territórios, pelos atos que praticarem, os quais serão pagos pelo usuário quando do
requerimento de prática ato do notarial ou da apresentação do título a registro
(LOUREIRO FILHO, Lair da Silva; LOUREIRO, Cláudia Regina de Oliveira Magalhães
da Silva. Notas e Registros Públicos. 4. ed., revisada. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 41).
A Lei nº 10.169/2000 estabelece as regras gerais para a fixação dos emolumentos, e a
Lei dos Estados e do Distrito Federal levará em conta a natureza pública e o caráter
social dos serviços notariais.
Em Minas Gerais, a Lei Estadual nº 15.424/2004 dispõe sobre a fixação, a contagem, a
cobrança e o pagamento de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços
notariais e de registro, o recolhimento da Taxa de Fiscalização Judiciária e a
compensação dos atos sujeitos à gratuidade estabelecida em lei federal.
2.4 Discricionariedade na Organização Técnica e Administrativa

Art. 21 da Lei nº 8.935/1994. “O gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços


notariais e de registro é da responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no
que diz respeito às despesas de custeio, investimento e pessoal, cabendo-lhe
estabelecer normas, condições e obrigações relativas à atribuição de funções e de
remuneração de seus prepostos de modo a obter a melhor qualidade na prestação dos
serviços.”

O termo ‘gerenciamento’ indica o controle e a orientação de todo o trabalho da


serventia, definindo as prioridades quanto ao melhor modo de cumprimento de suas
atribuições legais, sem interferências externas. Refere-se o dispositivo em destaque ao
controle das receitas e despesas dos mobiliários, equipamentos, recursos humanos,
rotinas e métodos de trabalho, com o objetivo de produzir o resultado que melhor
propague a publicidade, a autenticidade, a segurança jurídica e a eficácia dos atos
praticados pelos serviços notariais e de registros públicos (CENEVIVA, Walter. Lei dos
Notários e dos Registradores comentada: (Lei nº 8.935/94). 8. ed. revista e atualizada.
São Paulo: Saraiva, 2010, p. 203).
3. Obrigações Contábeis

O gerenciamento administrativo e financeiro do cartório é de responsabilidade


exclusiva do oficial de registro ou tabelião. Tal dever compreende a manutenção
e escrituração do Livro Diário Auxiliar, destinado ao apontamento das receitas e
despesas da serventia, bem como do Livro Caixa, destinado a apurar a base de
cálculo de incidência do Imposto de Renda.

Considerando a necessidade de aprimoramento e consolidação das normas


relativas à escrituração dos livros contábeis obrigatórios mantidos pelos oficiais
de registro e tabeliães, bem como daqueles que a qualquer título (interventores
e interinos) respondam provisória e precariamente pelos serviços extrajudiciais,
a Corregedoria Nacional de Justiça editou o Provimento nº 45, de 13 de maio de
2015, regulamentando a matéria.
3.1 Livro Diário Auxiliar

O Livro Diário Auxiliar observará o modelo usual para a forma contábil e terá suas
folhas divididas em colunas para anotação da data, da discriminação da receita e das
despesas, além do valor respectivo, podendo sua escrituração ser realizada em folhas
soltas.

As receitas serão lançadas separadamente, por especialidade, de forma


individualizada, no dia da prática do ato, ainda que o oficial de registro ou tabelião não
tenha recebido os emolumentos, devendo discriminar-se sucintamente o número do
ato, do livro e folha, ou do protocolo, quando houver.

Para efeitos de lançamento no Livro Diário Auxiliar consideram-se as receitas dos


serviços extrajudiciais, exclusivamente a fração dos emolumentos destinada
diretamente ao oficial de registro e tabelião. Os demais valores, que constituem renda
dos Estados, Distrito Federal, Tribunal de Justiça, outras entidades de Direito
(Ministério Público, Defensoria Pública, Procuradoria Estadual e outras), fundos de
renda mínima e custeio de atos gratuitos não estão compreendidos.
3.1 Livro Diário Auxiliar

As despesas serão lançadas no dia em que se efetivarem e sempre deverão


resultar da prestação do serviço extrajudicial, sejam elas relacionadas a
investimento, custeio ou despesas com pessoal, tais como:
a) locação de bens móveis e imóveis utilizados para a prestação do serviço,
incluídos os destinados à guarda de livros, equipamentos e restante do acervo da
serventia;
b) contratação de obras e serviços para a conservação, ampliação ou melhoria
dos prédios utilizados para a prestação do serviço público;
c) contratação de serviços, os terceirizados inclusive, de limpeza e de segurança;
d) aquisição de móveis, utensílios, eletrodomésticos e equipamentos mantidos
no local da prestação do serviço delegado, incluídos os destinados ao
entretenimento dos usuários que aguardem a prestação dos serviços e os de
manutenção de refeitório; [...] 🡪 Listagem completa no Material de Apoio.
3.1 Livro Diário Auxiliar

Ao final de cada mês serão somadas, em separado, as receitas e as despesas


do serviço extrajudicial, com a indicação da receita total, da despesa total e do
resultado líquido mensal, seja o saldo positivo ou negativo. Também ao final do
exercício será feito balanço anual do serviço extrajudicial.

O Livro Diário Auxiliar deverá, ainda, ser levado à autoridade judiciária


competente – juiz da vara de registros públicos ou juiz diretor do foro – até o
décimo dia útil do mês de fevereiro seguinte ao exercício do Livro
correspondente, para vista que determinará, sendo o caso, as glosas
necessárias para adequação ao estabelecido no Provimento nº 45/2015, do CNJ
3.2 Livro Caixa
O Livro Caixa tem por finalidade auferir, mês a mês, a base de cálculo de
incidência do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) devido pelo oficial de
registro ou tabelião.
Sua disciplina está contida no art. 11, da Lei nº 7.713/1988, nos arts. 6º e 7º, da
Lei nº 8.134/1990, arts. 68, 69, 70 e 118 do Decreto Federal nº 9.560/1980, e
no art. 104 da Instrução Normativa nº 1.500/2014, da Secretária de Receita
Federal do Brasil (RFB).
As receitas sujeitas à escrituração no Livro Caixa são os valores recebidos
pelos oficiais de registro e tabeliães que lhes couberem e que estejam
vinculados às atribuições legais do serviço extrajudicial. Não integram as
receitas escrituráveis no Livro Caixa aqueles valores recebidos pelos oficiais de
registro e tabeliães, mas que não integram sua remuneração, uma vez que
destinados, posteriormente, ao Poder Público, Tribunal de Justiça, e demais
entes públicos e privados (FREITAS, Matheus. Regime Tributário dos Notários
e Registradores. Coord.ª Martha El Debs. 2ª edição revista, ampliada e
atualizada. Salvador: Jus Podivm, 2020, p. 144).
3.2 Livro Caixa

Em distinção à regra de escrituração estabelecida para o Livro Diário Auxiliar, no Livro


Caixa as receitas serão lançadas na data da efetiva percepção dos emolumentos, do
ressarcimento dos atos gratuitos pelos fundos de compensação, ou de conversão do
depósito prévio em receita de emolumentos, e não na data de prática do ato
correspondente.
O art. 11 da Lei nº 7.713/1988 prevê que são despesas passíveis dedução da receita
apurada e, por essa razão, deverão ser discriminadas no Livro Caixa:
a) a remuneração paga a terceiros, desde que com vínculo empregatício, inclusive
encargos trabalhistas e previdenciários;
b) os emolumentos pagos a terceiros;
c) as despesas de custeio necessárias à manutenção dos serviços extrajudiciais.
A escrituração das despesas obedece à mesma lógica, devendo estar relacionada à
prestação do serviço extrajudicial, e será contabilizada na data de sua efetivação, com
descrição de sua natureza, data e valor, seguindo o formato também estabelecido pelo
Provimento nº 45/2015, do CNJ.
4. Obrigações Fiscais

4.1 Fiscalização

Art. 29 da Lei nº 8.935/1994. “São direitos do notário e do registrador: [...]


XI – fiscalizar o recolhimento dos impostos incidentes sobre os atos que devem
praticar;”
Art. 289 da Lei nº 6.015/1973. “No exercício de suas funções, cumpre aos oficiais
de registro fazer rigorosa fiscalização do pagamento dos impostos devidos por
força dos atos que lhes forem apresentados em razão do ofício.”
Art. 134 da Lei nº 5.172/1966. (CTN) “Nos casos de impossibilidade de exigência
do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem
solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que
forem responsáveis: [...]
VI – os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos
sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício;”
4. Obrigações Fiscais
4.1 Fiscalização
Cabe ao tabelião verificar, quando for o caso, se foram recolhidos os tributos devidos para a
prática de determinados atos ou negócios jurídicos, como as transferências de bens imóveis por
atos inter vivos ou mortis causa. No entanto, não pode o notário se arvorar no papel de fiscal do
Estado: não lhe cabe calcular se o montante do imposto recolhido está correto, mas tão somente
verificar se houve o recolhimento por meio da apresentação da guia apropriada e com a devida
autenticação bancária (LOUREIRO, Luiz Guilherme. Manual de Direito Notarial. 2ª edição revista,
atualizada e ampliada. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 307).

“REGISTRO DE IMÓVEIS. DÚVIDA IMOBILIÁRIA. IMPOSTO DE TRANSMISSÃO MORTIS


CAUSA. FISCALIZAÇÃO DO PAGAMENTO PELO REGISTRADOR. DEVER QUE SE LIMITA À
AVERIGUAÇÃO DO RECOLHIMENTO, SEM QUE POSSA INDAGAR ACERCA DO VALOR
DEVIDO. RECURSO PROVIDO. - A dúvida imobiliária não é o procedimento adequado para
discutir o quantum debeatur do tributo relativo à transmissão de bens por sucessão hereditária. O
dever insculpido na norma contida no art. 289 da Lei de Registros Públicos não
compreende a fiscalização do cálculo do imposto, mas apenas o seu recolhimento.
Cumpre à Fazenda Pública, pelo meio próprio, promover a cobrança de eventual diferença que
entenda devida.” (CSM/SP. Apelação Cível nº 22.679-0/9; Relator Desembargador Antônio Carlos
Alves Braga. Data do Julgamento: 11/5/1995; DJ de 23/6/1995) (grifo).
4. Obrigações Fiscais

4.1 Fiscalização
O Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, fixou a Tese de Repercussão
Geral nº 796, pela qual reafirmou sua jurisprudência no seguinte sentido: “O fato
gerador do imposto sobre transmissão inter vivos de bens imóveis (ITBI) somente
ocorre com a efetiva transferência da propriedade imobiliária, que se dá mediante
o registro” (STF; RE 796.376/SC; Relator Ministro Marco Aurélio; DJ de
26/9/2020; Dje de 6/10/2020).
Nota Técnica 01/2021 – Instituto de Registro de Imobiliário do Brasil (IRIB)
“[...] 6 – Desse modo, o IRIB ESCLARECE e RECOMENDA aos registradores
imobiliários do país, respeitada obviamente a sua independência jurídica, que
continuem observando a legislação local em vigor (princípio da legalidade estrita),
especialmente as leis tributárias do município e normas das egrégias
Corregedorias-Gerais da Justiça, até que as mesmas se adequem à tese firmada
pelo STF, se for o caso. [...]”
4.2 Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN)
Art. 1º da Lei Complementar nº 116/2003. “O Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador
a prestação de serviços constantes da lista anexa, ainda que esses não se
constituam como atividade preponderante do prestador “(grifo).
Art. 7º da Lei Complementar nº 116/2003. “A base de cálculo do imposto é o preço do
serviço”.
Art. 8º da Lei Complementar nº 116/2003. “As alíquotas máximas do Imposto sobre
Serviços de Qualquer Natureza são as seguintes:
I – (VETADO);
II – demais serviços, 5% (cinco por cento).
Art. 8º - A Alíquota mínima do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza é de 2%
(dois por cento).
Parágrafo único do art. 89 da Lei Estadual nº 22.796/2017. O Imposto sobre Serviços de
Qualquer Natureza - ISSQN, instituído por legislação municipal da sede da serventia,
compõe o custo dos serviços notariais e de registro, devendo ser acrescido aos
valores fixados nas tabelas constantes do Anexo da Lei nº 15.424/2004” (grifo).
.
4.2 Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN)

A constitucionalidade da Lei Complementar nº 116/2003 foi questionada no


Supremo Tribunal Federal quanto à incidência do imposto sobre os serviços
notariais e de registros públicos, considerando a natureza jurídica dos
emolumentos de espécie tributária da modalidade taxa, o que, supostamente,
atrairia os efeitos da imunidade tributária esculpida no art. 150, VI, da
Constituição.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3.089/DF foi conhecida, mas
julgada improcedente. Superada a matéria da constitucionalidade, surgiu
controvérsia quanto à base de cálculo do imposto.
Alguns municípios realizaram a cobrança com fundamento no art. 7º, da Lei
Complementar nº 116/2003, que estabelece o preço do serviço como base de
cálculo do imposto, enquanto outros municípios se valeram no disposto no art. 9º,
§ 1º, do Decreto Lei nº 406/1968, que estabelece a cobrança do imposto através
de valores fixos, e não sobre o total do faturamento, quando se tratar de
prestação de serviços sob a forma de trabalho pessoal do contribuinte.
4.2 Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN)

O Superior Tribunal de Justiça uniformizou a matéria, firmando entendimento no


sentido de que os notários e oficiais de registro devem pagar o ISSQN
considerando a base de cálculo estabelecida pela Lei Complementar nº
116/2003, quer dizer, sobre o preço do serviço.
“TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
AGRAVO REGIMENTAL. ISS. RECOLHIMENTO PELO SISTEMA
ESTABELECIDO NO ART. 9º, § 1º DO DL Nº 406/68. ATIVIDADE
CARTORÁRIA. NÃO CABIMENTO. ENTENDIMENTO PACÍFICO DO STJ.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REVISÃO. SÚMULA Nº 7/STJ. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. 1. O entendimento consolidado da
Primeira Seção desta Corte Superior é no sentido de que não se aplica aos
serviços de registros públicos, cartorários e notariais, a sistemática de
recolhimento de ISS prevista no art. 9º, § 1º, do Decreto-Lei nº 406/68, pois,
além de manifesta a finalidade lucrativa, não há a prestação do serviço sob a
forma de trabalho pessoal do próprio contribuinte” (STJ; AgRg no AResp
715438/SP; Relator Mininstro Sérgio Kukina; 1ª Turma; DJe de 3/12/2015).
4.3 Declaração de Operação Imobiliária (DOI)

Cabe aos notários e oficiais com atribuições de tabelionato de notas, registro de


imóveis e de títulos e documentos, com relação às operações imobiliárias que
lavrarem, anotarem, matricularem ou registrarem, cumprir a obrigação tributária
acessória de envio da Declaração de Operação Imobiliária (DOI) à Secretária da
Receita Federal (RFB).
A declaração deverá ser apresentada sempre que ocorrer operação imobiliária
de aquisição ou alienação, realizada por pessoa física ou jurídica,
independentemente de seu valor, cujos documentos sejam lavrados, anotados,
averbados, matriculados ou registrados no respectivo cartório, em conformidade
com as disposições constantes da Instrução Normativa nº 1.112, de 2010, da
Receita Federal.
4.4 Contribuição Previdenciária

Os tabeliães e oficiais de registro estão sujeitos ao regime geral da previdência social


na qualidade de segurados obrigatórios, como contribuintes individuais, conforme
estabelece o Regulamento da Previdência Social.
Dessa forma, desde a entrada em exercício na delegação extrajudicial, o tabelião ou
oficial de registro deverá recolher suas contribuições em favor da Previdência Social.
O recolhimento dar-se-á pela alíquota de 20% (vinte por cento), sobre a remuneração
bruta auferida no Livro Caixa, observados os limites mínimo e máximo do salário de
contribuição.
Também é possível que o tabelião ou oficial de registro faça opção pelo plano
simplificado de contribuição da previdência social, em que o cálculo das contribuições
será realizado pela aplicação da alíquota de 11% (onze por cento) sobre o salário
mínimo nacional vigente. Contudo, em contrapartida, feita opção pelo plano
simplificado, não será garantido o direito de aposentadoria por tempo de contribuição,
apenas por idade.
A Portaria SEPRT/ME nº 477/2021 estabeleceu, para a competência de 2021, o salário
contribuição mínimo de R$1.100,00 (mil e cem reais), e máximo de R$ 6.433,57 (seis
mil quatrocentos e trinta e três reais e cinquenta e sete centavos).
5. Obrigações e Responsabilidade Trabalhista

Art. 20 da Lei nº 8.935/1994. “Os notários e os oficiais de registro poderão, para


o desempenho de suas funções, contratar escreventes, dentre eles escolhendo
os substitutos, e os auxiliares como empregados, com remuneração livremente
ajustada e sob o regime da legislação do trabalho.”

Art. 7º da CR/1988. “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de


outros que visem à melhoria de sua condição social: [...];”

Ao oficial de registro ou tabelião não é transmitida automaticamente a


propriedade ou qualquer outro direito ou obrigação, exceto aqueles legais
inerentes ao desempenho da atividade, incluindo o acervo composto pelo Livros
Notariais e Registrais, arquivos, documentos, programas e arquivos eletrônicos,
os quais, na realidade, constituem bens públicos e integram a serventia
enquanto unidade de prestação de serviço público.
5. Obrigações e Responsabilidade Trabalhista

Neste sentido vem reconhecendo a jurisprudência a discricionariedade do novo titular


em recepcionar ou não os anteriores prepostos. Feita a opção pelo aproveitamento, não
há que se falar na figura da sucessão trabalhista (art. 10 e 448 da CLT), em razão da
inexistência de vínculo entre os oficiais de registro ou tabeliães anteriores e os
posteriores. O vínculo da delegação se opera única e exclusivamente entre os
delegatários e o Estado.
“SUCESSÃO: TABELIÃO DE NOTAS. Diante do previsto na Lei nº 8.935/1994, que no
art. 21 dispõe que o “gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e
de registro é da responsabilidade exclusiva do respetivo titular, inclusive no que diz
respeito às despesas de custeio, investimento e pessoal”, não há que falar em
sucessão ou responsabilidade de um tabelião por encargos trabalhistas de
empregados relativos a períodos anteriores, ainda que haja continuidade na
prestação de serviços. Cada tabelião responde pessoalmente pelos débitos relativos aos
períodos de respectiva prestação de serviço” (TRT - 3ª Região; Recurso Ordinário nº
0001518-50.2013.5.02.0014; 6ª Turma; Relatora Desembargadora Regina Maria
Vasconcelos Dubugras; DJ de 21/3/2015) (grifo).
6. Obrigações Técnicas e Administrativas

6.1 Centrais Eletrônicas


Incumbe aos oficiais de registro e tabeliães, periodicamente, alimentar as centrais eletrônicas
correspondentes a cada uma das atribuições dos serviços extrajudiciais, com as informações
e dados pertinentes aos atos praticados.
• O Provimento nº 18, de 2012, da Corregedoria Nacional de Justiça, instituiu a Central
Notarial de Serviços Eletrônicos Compartilhados - CENSEC, desenvolvida, mantida e
operada pelo Colégio Notarial do Brasil (CNB/CF);
• O Provimento nº 46, de 2014, da Corregedoria Nacional de Justiça, instituiu a Central de
Informações de Registro Civil – CRC, organizada pela Associação Nacional dos
Registradores Civis de Pessoas Naturais (ARPEN);
• O Provimento nº 48, de 2016, da Corregedoria Nacional de Justiça, estabeleceu as
diretrizes para operação e funcionamento do Sistema de Registro Eletrônico de Títulos e
Documentos e Civil de Pessoas Jurídicas - SRTDPJ;
• O Provimento nº 87, de 2019, da Corregedoria Nacional de Justiça, estabeleceu as
diretrizes para operação e funcionamento da Central Nacional de Serviços Eletrônicos dos
Tabeliães de Protesto – CENPROT;
• E, enfim, o Provimento nº 89, de 2019, da Corregedoria Nacional de Justiça,
regulamentou o Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis – SREI, que havia sido
estabelecido pelo art. 76 da Lei nº 13.465/2017, com o objetivo de universalização das
atividades de registro público imobiliário.
6. Obrigações Técnicas e Administrativas

6.2 Sistema de Controle de Atividades Financeiras

Considerando as políticas públicas instituídas a partir da vigência da Lei nº


9.613/1998, para a prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do
terrorismo, atividades incluem a avaliação da existência de suspeita nas
operações dos usuários dos serviços extrajudiciais de notas e de registro, com
especial atenção àquelas incomuns ou que, por suas características, no que se
refere a partes envolvidas, valores, forma de realização, finalidade,
complexidade, instrumentos utilizados ou pela falta de fundamento econômico
ou legal, configurarem sérios indícios de crime.
Com efeito, o Provimento nº 88, de 2019, da Corregedoria Nacional de Justiça,
dispôs sobre os procedimentos e os controles a serem adotados pelos notários
e registradores, visando à prevenção dos crimes de lavagem de dinheiro,
previstos na Lei nº 9.613/1998, e do financiamento ao terrorismo, previsto na Lei
nº 13.260/2016.
6. Obrigações Técnicas e Administrativas

6.3 Recolhimento da Taxa de Fiscalização

A Portaria Conjunta nº 03/2005/TJMG/CGJ/SEF-MG disciplina o recolhimento


da Taxa de Fiscalização dos atos praticados pelos serviços notariais e de
registro no Estado de Minas Gerais.
O ato normativo instituiu a Declaração de Apuração e Informação da Taxa de
Fiscalização Judiciária – DAP/TFJ, que é transmitida por meio do Sistema
Integrado de Apoio à Fiscalização dos Serviços Notariais e de Registro –
SISNOR, com a finalidade de viabilizar o controle e a fiscalização dos repasses
devidos pelos serviços extrajudiciais da Taxa de Fiscalização Judiciária.
6. Obrigações Técnicas e Administrativas

6.3 Recolhimento da Taxa de Fiscalização

A apuração e o recolhimento da TFJ serão efetuados pelo notário e pelo


registrador, devendo obedecer, relativamente aos atos praticados em cada
serventia, à seguinte escala:
I – do dia 1º ao dia 7 do mês, o recolhimento será até o dia 14 do mesmo mês;
II – do dia 8 ao dia 14 do mês, o recolhimento será até o dia 21 do mesmo mês;
III – do dia 15 ao dia 21 do mês, o recolhimento será até o dia 28 do mesmo
mês;
IV – do dia 22 ao até o final do mês, o recolhimento será até o dia 7 do mês
subsequente.
A taxa de fiscalização judiciária será recolhida em estabelecimento bancário
através de Guia de Recolhimento de Custas e Taxas Judiciárias – GRCTJ.
Bibliografia Indicada
• ALEXANDRE, Ricardo; DEUS, João de. Direito administrativo. 3. ed. revista, atualizada e ampliada. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.
• CENEVIVA, Walter. Lei dos Notários e dos Registradores comentada: (Lei nº 8.935/94). 8. ed. revista e
atualizada. São Paulo: Saraiva, 2010.
• CENEVIVA, Walter. Lei de Registros Públicos comentada. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
• FREITAS, Matheus. Regime tributário dos notários e registradores. Coord. Martha El Debs. 2. ed. revista,
ampliada e atualizada. Salvador: Jus Podivm, 2020.
• HERANCE FILHO, Antônio. Manual do livro caixa. 2. ed. São Paulo: INR – Informativo Notarial e Registral,
2016.
• LOUREIRO, Luiz Guilherme. Manual de direito notarial. 2. ed. revista, atualizada e ampliada. Salvador:
Jus Podivm, 2017.
• LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros públicos: teoria e prática. 9. ed. revista, atualizada e ampliada.
Salvador: Editora JusPodivm, 2018.
• LOUREIRO FILHO, Lair da Silva; LOUREIRO, Cláudia Regina de Oliveira Magalhães da Silva. Notas e
Registros Públicos. 4. ed. revisada. São Paulo: Saraiva, 2012.
• MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 36. ed. atualizada até a Emenda Constitucional
64, de 4/2/2010. São Paulo: Malheiros, 2010.
• RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo: Saraiva,
2011.
• RODRIGUES, Marcelo Guimarães. Tratado de Registros Públicos e Direito Notarial. 3. ed. atualizada,
revisada e ampliada. Salvador: JusPodivm, 2021.

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