Criação Bíblia Compatível Maternidade

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CRIAÇÃO BÍBLIACOMPATÍVEL

©2023, by Tatiane Joslin

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EDITORA VIDA
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Mattos, Larissa da Mata e Mara Eduarda V. © 1993, 2000, 2011 by International Bible

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Coordenadora de design grá co: Claudia Todos os direitos reservados.

Fatel Lino
Todas as citações bíblicas e de terceiros foram

Projeto grá co: Vanessa S. Marine adaptadas segundo o Acordo Ortográ co da

Diagramação: Vanessa S. Marine e Carla Língua Portuguesa, assinado em 1990, em

Lemos Capa: Paulo Lima vigor desde janeiro de 2009.

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As opiniões expressas nesta obra re etem o

ponto de vista de seus autores e não são

necessariamente equivalentes às da Editora

Vida ou de sua equipe editorial.

Os nomes das pessoas citadas na obra foram

alterados nos casos em que poderia surgir

alguma situação embaraçosa.

Todos os grifos são do autor, exceto os

indicados.

1ª edição: set. 2023

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Joslin, Tatiane

Criação Bíbliacompatível: vivendo uma maternidade bíblica / Tatiane Joslin. — Guarulhos, SP:

Editora Vida, 2023.

Bibliogra a.

ISBN 978-65-5584-445-0

e-ISBN 978-65-5584-456-6

1. Bíblia - Estudos 2. Criação - Ensinamento bíblico 3. Filhos - Vida religiosa 4. Mães e lhos -

Aspectos religiosos - Cristianismo 5. Maternidade - Aspectos religiosos - Cristianismo 6.

Princípios bíblicos 7. Vida espiritual - Cristianismo I. Título.

23-168067

CDD-248.8431

Índice para catálogo sistemático:

1. Mães e lhos : Educação cristã : Cristianismo 248.8431

Aline Graziele Benitez — Bibliotecária — CRB-1/3129


DEDICATÓRIA
SUMÁRIO
Agradecimentos
Depoimentos
Prefácio
Introdução
Bíbliacompatível
Capítulo Um
Flecha pronta não dá em árvore
Capítulo Dois
Por que a Bíblia?
Capítulo Três
O propósito bíblico da maternidade
Capítulo Quatro
O grande alvo
Capítulo Cinco
O potencial de uma compreensão completa
Capítulo Seis
É só uma fase?
Capítulo Sete
Limites
Capítulo Oito
Fundamentos da disciplina
Capítulo Nove
A prática da disciplina
Capítulo Dez
Venenos contra a Criação Bíbliacompatível
Conclusão
A unção de Zadoque e de Benjamim
Paternidade Bíbliacompatível — por Daniel Joslin
Uma palavra para o pai
Referências bibliográficas
AGRADECIMENTOS
Este livro jamais existiria se eu não fosse alcançada
primeiro. Devo toda a minha gratidão a Deus por me
escolher, arrebatar meu coração e transformá-lo a
cada dia. Provar da Graça e do amor de Jesus, livre de
toda culpa e condenação, me dá liberdade para
aplicar o amor de Deus em todas as áreas da minha
vida. Tenho a total convicção de que foi Deus quem
me deu cada palavra deste livro.

Agradeço aos membros da Igreja Renovo, às


discipuladoras e toda a minha equipe da Renovo
Kids, que é tão comprometida e apaixonada. Buscar
revelação do Céu para servi-los é uma grande alegria
e motivação. Sei o quanto torcem e oram por mim e
por minha família. Obrigada!
Agradeço ao meu pai Zildemar e à minha mãe
Sheila, que, além de me apoiarem e orarem por mim,
me conduziram a Jesus ainda na infância e me
educaram com uma Criação Bíbliacompatível.
Agradeço aos meus familiares que me apoiaram
nesse processo de estudo e escrita de maneira tão
direta e especial. Meus irmãos e cunhados, Vinícius,
Sarah e Guilherme, Melina e Pedro, meus sogros,
Antônio e Marly, que tanto amo, minha querida tia
Guiomar, Lucas e tia Maria. Obrigada por tantas e
tantas vezes estarem com as crianças para que eu
pudesse desenvolver este livro e muitos outros
projetos.
Karine, mesmo você não estando mais aqui,
sempre me incentivou a escrever e quantas vezes
esteve com as crianças para que eu pudesse estudar e
me aperfeiçoar. Você sempre torceu por mim e se
alegrou com minhas conquistas. Não poderia deixar
de homenageá-la e registrar a minha gratidão. Eu te
amo para sempre!
Agradeço aos meus pastores, Pr. Hermes Pereira e
Pra. Diana, Pr. Aluízio Silva e Pra. Márcia por me
ensinarem tanto. Quanto alimento fresco recebi por
meio de vocês! É precioso desfrutar dessa unção que
recebemos por estarmos alinhados à Vinha.

Agradeço ao meu avô, Joel Ribeiro de Camargo, de


quem herdei a paixão pela escrita. O senhor é minha
grande inspiração para escrever.

Agradeço a cada amiga que inspira, motiva,


acredita no meu ministério e valoriza o meu
trabalho. Também a cada aluna da Escola
Maternidade com Graça, que tem me levado a
continuar me aperfeiçoando em Deus para equipá-
las e muni-las com o melhor de Deus.
Querida Lu, obrigada por tornar os meus dias mais
fáceis para que eu pudesse escrever.
Evandro e Hariany, obrigada por tanto apoio,
serviço e carinho. Vocês fazem toda a diferença no
meu ministério.
Pati, prima, obrigada por ser presente mesmo
distante. Obrigada por me ajudar com tantos
detalhes. Tios e primos, obrigada por torcerem por
mim, me amarem e me incentivarem sempre.
Paulo, obrigada pelo trabalho impecável que fez
na nossa capa, por toda paciência e sugestões.
Daniel, meu amor. Obrigada pela sua paciência,
encorajamento e amor. Obrigada por cuidar tão bem
de mim e da nossa família, suprindo-nos em tudo que
precisamos. Nós amamos você!
DEPOIMENTOS


Mowana Débora – escritora e pastora da Igreja
Trinity | @mowanadebora


Raquel Terra – autora dos livros e
,
mãe da Rebeca (7 anos) | @raquelterraescritora


Aline Vicente – escritora e mãe da Laura (7 anos) e da Sarah (5
anos) | @aline.mvicente


Wilzy Adorno – pastora do ministério de crianças da Igreja
Batista Atitude | @pra.wilzyadorno


Janaína Xavier – mãe da Clarissa (4 anos)


Melina Marochi – pastora e mãe do Peterson (3 anos) e da Pietra
(10 meses)


Luana Scorsin – gestante do Ben e da Nina


Cassiana M. Tardivo – psicóloga, autora | @mamaeeducadora


Sanimere Rogoski – mãe da Gabrielly (12 anos) e da Millena (10
anos)


Mariane – mãe do Danilo (7 anos) e Aliane (18 anos)


Sarah de Camargo Wenceslau – mamãe do Isaque (9 meses)



Barbara Costa | @filhosedesafiosdoministerio


Cynthia Sá Sposito – mãe da Gia (2 anos) e da Maya (3 anos)


Mey Figueiredo – mãe da Marina (9 anos) e do Pedro (13 anos) |
@blogdamaemoderna


Camila Machuca – psicóloga infanto-juvenil
@camilamachucapsi


Flávia Luz Vaz – psicóloga | @flavialuzvazoficial
Provérbios 14.26
Maternidade Bíblica implica ser conduzida por Deus.
A mãe à maneira de Deus anda por fé, e não por vista.
Não faz o que quer, mas se guia pelos princípios da
Palavra de Deus. Ela busca, renuncia, aprende, é
lapidada, cresce, planta e colhe no seio da sua família
antes de qualquer outra coisa. Porque sua identidade
está firmada na Cruz do Calvário, e não nos conceitos
do mundo.
Muitos estão atrás de fórmulas mágicas para
criarem filhos bem-sucedidos, para terem êxito
nessa missão chamada “mãe”. Se você está à procura
dessa fórmula instantânea, quero informá-la que
este livro fala de outra coisa, é uma proposta
totalmente diferente; nela, você serve para ser
maior, você dá para receber, você desce para subir,
perde para ganhar, aprende para ensinar e ensina
enquanto aprende. Porque, afinal, como a querida
Tati afirma com propriedade: “Maternidade não tem
a ver com posição, mas com propósito”.
Paulo escreveu numa de suas cartas: “Como
prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de
maneira digna da vocação que receberam” (Efésios
4.1). A Tati consegue ensinar, de maneira leve e sem
condenação, cada mãe a viver a vocação sem culpa,
sem medo, mas dependendo do Senhor e sendo
guiada por sua Palavra. Olhando para os filhos da
maneira como a Bíblia ensina e discernindo de forma
prática o comportamento dos filhos, sem entrar
numa “neura” de expectativas elevadas.
Em tempos em que a maternidade é malvista,
temida e vista de maneira natural, Deus levanta
mulheres revestidas de poder e autoridade para
trazer revelação da importância dessa missão tão
grandiosa.
Louvo a Deus por ver como o próprio Senhor tem
promovido a Tati para ensinar incansavelmente que
é possível e necessário, sim, viver uma maternidade
bíblica. Pessoalmente, creio que a Bíblia é o maior
tesouro da humanidade; quanto mais a estudamos e
aplicamos seus princípios maravilhosos, mais a
nossa vida é transformada e automaticamente a vida
dos que estão ao nosso redor também.

Eu convido você a abrir sua visão para a bênção


que lhe está preparada. Há uma decisão que depende
de você e que implica uma vida nova, padrões
elevados, resultados conquistados em oração, em
intimidade com Deus, em renúncia pessoal, em
aprofundamento na Palavra.
Você pode escolher ser mais uma mãe neste
mundo, segundo os valores dele, ou viver para o
louvor do Senhor, vivendo segundo seus princípios e
então experimentar uma vida abundante. O fato de
você ter em suas mãos este livro me diz que você
deseja viver por esses princípios e experimentar essa
vida abundante que Deus prometeu para nós.
É tempo de nos levantarmos de forma digna do
chamado celestial em nossa vida, para que
cumpramos fielmente a vocação neste tempo de
maravilhosas oportunidades. Receba por meio desta
leitura a bênção da autora sobre sua maternidade.

Boa leitura! Minha oração por você hoje é a mesma


de Paulo pela igreja de Éfeso:

Efésios 1.17-19

Diana Cortazio
Pastora da Igreja Videira São Paulo
ão importa o quanto a gente estude, leia e
busque aprender, nunca estaremos
completamente preparadas para viver a
maternidade. E isso por um simples e lindo
motivo: a maternidade não é uma experiência única
e replicável; trata-se de um ser humano único
gerando outro ser humano único; assim é na
educação aplicada entre um ser humano único com o
outro.
No entanto, isso não significa que não há nada que
possa ser aprendido e aperfeiçoado. Isso também não
significa que nunca ninguém poderá nos ajudar.
Educar filhos é a missão mais importante da nossa
vida.

Eu gosto da definição de maternidade de John


Piper: “Maternidade é uma transmissão de vida-
para-vida de uma visão centrada em Deus, tendo
Cristo como tesouro”. Que preciosidade! Nós cristãos
não podemos olhar para a maternidade apenas como
uma função e capacidade de procriar, mas com esse
propósito incrível de transmitir vida!
É lindo, porém também é desafiador, eu sei.
Entretanto, como é bom saber que, de alguma
maneira, podemos nos aprimorar nisso.

Quando eu me tornei mãe, eu já exercia meu


ministério como pastora de crianças na minha igreja
local e eu sabia que estava começando uma grande
aventura. Uma aventura muito desejada, por sinal.
Eu nunca fui aquela menina que sonhava em ser
mãe. Casei-me com 21 anos e o que eu queria era
aproveitar a vida de casada. Contudo, quando decidi
engravidar, deparei-me com a infertilidade. Nesse
tempo, eu descobri que eu desejava ser mãe muito
mais do que eu imaginava. E quando minha filha
nasceu, eu descobri o tanto que eu era apaixonada
por essa missão.
Sempre enxerguei minha filha como um presente,
e não teve um dia sequer da minha vida que eu tenha
questionado se aquilo era para mim. No entanto,
houve dias em que eu chorei. Chorei de cansaço,
chorei frustrada, chorei porque eu não tinha o
controle. Até que um dia eu percebi que por essas
coisas eu poderia chorar, mas por um único motivo
não: eu não poderia chorar por não saber o meu
propósito e meu grande alvo com meus filhos. Eu
precisaria ter segurança quanto ao que eu precisava
fazer, onde e como eu gostaria de conduzi-los.

Hoje temos uma enxurrada de informações sobre


educação de filhos; nunca houve tanto conteúdo
relacionado a isso. Mas também nunca vimos tantas
mães cristãs se esquecendo do quanto a Bíblia é
suficiente para nos instruir, capacitar e nortear
nessa missão tão desafiadora. Comecei a mentorear
mães cristãs justamente porque eu via o quanto isso
era real. Eu me alegro em ver que Deus está
resgatando uma geração de mães que decidem crer
que a Bíblia é poderosa para nos instruir em tudo, até
mesmo na educação dos nossos filhos.
D. L. Moody, o maior evangelista do século 19,
disse que a Bíblia não nos foi dada para aumentar o
nosso conhecimento, mas para mudar a nossa vida.
Essa é uma verdade absolutamente importante. Não
podemos tomar a Bíblia apenas para extrair o que
nos convém, nos inspirar e embasar as nossas ideias.
Precisamos tomá-la como a palavra de Deus liberada
a nós. Ela não é apenas uma fonte de inspiração, ela é
um agente de transformação e vida. Eu ouso crer, e é
essa é a mensagem pela qual tenho dedicado meus
dias, que a Bíblia é poderosa até para transformar o
relacionamento com nossos filhos e a nossa
maternidade. Se o estilo de educação de filhos ao
qual você adere com seu filho é o mesmo que é
aderido por um não cristão, não é um estilo de
educação de filhos que Deus deseja para você.

2 Timóteo 3.16,17 – ARC


“Para toda boa obra”, uau! “Para toda boa obra”
envolve o desafio mais importante da nossa vida.
Como é um alívio saber que a Bíblia nos instrui nisso
também. Neste livro, quero levar você a perceber
que a Bíblia nos instrui de Gênesis a Apocalipse sobre
educação de filhos. Não tenha medo de crer nessa
verdade; não tenha medo de ser insuficiente.
Permanecer na Bíblia é o lugar mais seguro em que
você pode estar. Vemos uma geração que se respalda
em tantas técnicas humanas — disciplina A, teoria B,
método C —, mas esteja segura de algo: o que você faz
precisa apenas ser compatível com o que a Bíblia nos
ensina; é por isso que falaremos sobre uma CRIAÇÃO
BÍBLIACOMPATÍVEL.
Salmos 127.3-5 – ARC
Se você já leu outro livro para mães cristãs,
certamente você já ouviu algo sobre esses versículos.
Se você nasceu em um lar cristão, também cresceu
escutando que filhos são
Essas são três analogias incríveis em um salmo
muito especial. Eu creio que nada está na Bíblia por
acaso. Cada um desses símbolos está cheio de
significado e propósito.

O salmo começa falando sobre a necessidade que


temos de depender do Senhor. E continua, no
capítulo seguinte, dizendo sobre o homem que teme
ao Senhor e anda nos seus caminhos.

Salmos 127.1,2
Salmos 128.1-4 – NAA
A verdade é que não existe coincidência em todos
esses textos juntos; tudo está conectado. O homem
que teme ao Senhor sabe receber os filhos como
herança, mas também sabe depender de Deus no
trabalho que terá pela frente.

HERANÇA
Uma herança não é algo que geramos com o nosso
próprio mérito. O herdeiro recebe a herança mesmo
sem ter lutado por ela. É Deus quem gera a vida dos
nossos filhos.
Parafraseando o texto que já lemos, se o Senhor
não gerar vida no ventre de uma mulher,
. Precisamos
sempre nos lembrar de que foi Deus quem nos fez
mães.

Gênesis 2.7 – ACF


Muitas mulheres tentam todas as técnicas e
procedimentos humanos para engravidar e não
conseguem. O óvulo foi fecundado pelo
espermatozoide, a parede uterina está perfeitamente
preparada, os hormônios estão ajustados, mas a vida
simplesmente não é gerada. Por quê? Porque gerar
vida não é uma obra humana. Os cientistas podem
reproduzir toda a fisiologia envolvida no
desenvolvimento humano, mas nunca conseguiram,
nem conseguirão, gerar a vida. O fôlego de vida é
soprado unicamente pelo nosso Deus criador. Vale
lembrar que ele criou todas as coisas com a sua
Palavra, mas o homem ele fez questão de colocar a
mão na massa! Deus tem prazer em gerar vida!

Salmos 139.13-16 – ARA


Quando seu filho ainda era uma substância
informe, Deus estava levantando você para ser “A
mãe”! Foi ele quem a fez mãe! Ele a colocou nessa
posição, ele a colocou nessa missão! Nunca pense que
o fato de você ser mãe foi um erro ou um grande
acidente.

Agora, pense comigo: mesmo sem ter a mínima


responsabilidade sobre o valor agregado a uma
herança, o herdeiro que a recebe precisa decidir o
que fará com ela. Você, mãe, precisa decidir o que vai
fazer com a herança mais valiosa que Deus lhe deu. É
por isso que a analogia da herança não vem sozinha;
o Senhor nos lembra de que nossos filhos também
são flechas.

Um guerreiro precisa saber aperfeiçoar e


manusear as suas flechas, e esse é um dos nossos
grandes desafios.

FLECHAS
Filhos são como flechas nas mãos do guerreiro. As
flechas de um guerreiro chegam aonde ele não pode
chegar. Ela era a principal arma de guerra contra um
inimigo. Que presente valioso recebemos quando
geramos um filho! Geramos a continuidade do nosso
trabalho, a oportunidade de ir mais longe e um novo
fôlego para lutar por nossos ideais e valores.

Realmente, a flecha é um símbolo muito propício


para definir os filhos.

Mas, quando os filhos começam a deixar de serem


bebês, percebemos algo: as flechas lindinhas e
fofinhas precisam ser lapidadas para atingir o alvo;
não é algo automático. E vemos muitos guerreiros se
desgastando emocionalmente porque não
perceberam que precisavam lapidar a flecha. Temos
a ilusão de que tudo vai ser fácil, intuitivo e
automático, mas nem sempre será assim. Muitas
vezes, teremos pequenos empenhos, mas
necessários, para ensinar sobre coisas muito
profundas. Outras vezes, teremos grandes empenhos
para ensinar coisas muito simples (como precisei
hoje mesmo explicar para meu filho de dois anos que
ele não podia comer a pasta de dente).

É um processo árduo e dinâmico; todos os dias


teremos um novo desafio. Isso, porque nossos filhos
continuam sendo gerados depois que eles nascem. É
por isso que precisamos parar e refletir que uma
flecha pronta não dá em árvore. A madeira bruta
precisa ser cortada da árvore que foi gerada, o pedaço
de pau precisa ser lapidado para seu propósito. Se a
flecha não for bem lapidada e preparada, certamente
causará danos e decepções em vez de atingir o seu
alvo. Aqui preciso mostrar algo que consolida toda
essa ideia. A Bíblia revela um grande chamado aos
pais em Deuteronômio capítulo 6:

Deuteronômio 6.6,7 – ARA


Em Mateus, quando um doutor da lei interrogou
Jesus sobre o mandamento mais importante, ele
falou sobre o grande e primeiro mandamento:

Mateus 22.36-38 – ARA


Que especial! O maior mandamento é justamente
o que Deus ensina seu povo a transmitir aos seus
filhos com insistência. Em casa, no carro, indo para a
escola, antes de dormir ou ao acordar. Isso nos
mostra o quanto Deus se preocupa com as crianças e
com a transmissão de um legado para as próximas
gerações.

Porém, o detalhe curioso e que conecta com o que


estamos falando neste momento é que existe uma
ênfase no estilo do ensino desse mandamento: ele
não deveria ser apenas falado ou citado, entretanto
deveria ser “inculcado” aos filhos. A palavra
“inculcar” no original hebraico é , que no
sentido figurado significa ensinar incisivamente.
Mas adivinha qual é o sentido literal de ?
Significa justamente “afiar uma arma de corte”.
Uau! Encontramos nesse texto a própria ideia de
que, na medida que o mandamento mais importante
for ensinado, os nossos filhos serão afiados. Não é
uma ordem que cumprimos de forma única e
definitiva. É um processo que envolve repetição,
persistência, dedicação e perseverança. Mas ao longo
deste livro, eu quero lhe mostrar o quanto a sua
lapidação pode ser linda e recompensadora. Essa
lapidação tem um potencial muito maior do que
imaginamos. Por isso, a terceira analogia é
igualmente importante: um filho é um galardão.

GALARDÃO
A Bíblia diz que o fruto do ventre é seu galardão. No
original, a palavra fruto é “produto”, ou seja, o que
foi gerado no seu ventre é seu galardão.
Galardão é uma maravilhosa recompensa que o
Senhor promete para os seus filhos. No original, a
palavra é . Sim, foi daí que surgiu a expressão
sacar o dinheiro do banco, e essa palavra expressa
um salário, um pagamento, algo bom que recebemos
como benefício. Um galardão é um benefício.

Vivemos em uma cultura em que a maternidade


está cada dia mais desprezível e dispensável. Hoje
mesmo me deparei com uma reportagem exaltando
as mulheres que decidem “ficar para titias”,
literalmente. A reportagem dizia o quanto essas
mulheres eram inteligentes e focadas, o quanto elas
eram felizes e seguras por serem independentes e
livres. Na mentalidade deste mundo, a maternidade
não é um benefício, mas um malefício. Mulheres que
são mães carregam um fardo, quase que um castigo,
uma ideia totalmente diabólica.
Vejo que, muitas vezes, a frustração das mães se dá
justamente pelo fato de elas terem expectativas
erradas das crianças. Quantas mães se sentem
fracassadas diante de um mau comportamento dos
seus filhos, ou com o acúmulo dos pequenos desafios
que enfrentamos todos os dias? Muitas mães acabam
se desencorajando porque realmente queriam
“parir” uma flecha pronta e lapidada.
Portanto, desejo profundamente encorajar você
hoje: não pense que nesse processo de lapidar seu
filho você estará sozinha. Você é a guerreira que
estará preparando essa flecha para lançá-la, mas
Jesus é um carpinteiro muito experiente e, se você
permitir, estará à frente desse trabalho.
Mude sua mentalidade; não iguale o seu
pensamento ao que o mundo diz. O mundo diz que
você perdeu quando se tornou mãe, o Diabo quer
fazer você acreditar que você perdeu sua vida, sua
liberdade, suas noites de sono, às vezes, até a sua
beleza e saúde. Porém, renove a sua mente
lembrando que você não perdeu quando se tornou
mãe, você ganhou. Você ganhou uma flecha, uma
herança e um galardão!

Na Criação Bíbliacompatível, buscamos olhar os


filhos e a família com o mesmo olhar do Senhor,
sabendo que mesmo que tenhamos um trabalho
árduo, existe muitíssimo valor e grande recompensa
na maternidade.
empre fui fascinada pela Bíblia. Desde
criança, eu ouvia meu pai compartilhando
comigo as histórias e verdades de maneira tão
envolvente e intrigante, que aos 12 anos eu
decidi que leria a Bíblia inteira pela primeira vez, e
assim eu fiz.

Lembro-me dos meus amigos na escola me


perguntando sobre como eu tinha tanta certeza de
que a Bíblia era verdadeira, e me recordo da resposta,
que para mim parecia tão lógica: “Leia, viva o que ela
diz e veja você mesmo”. Sempre tive a Bíblia como
meu principal manual para todas as minhas decisões
em todas as fases da minha vida!
Quando eu me tornei mãe, eu comecei a ler muitos
livros e a estudar muito sobre o comportamento das
crianças, principalmente quando eu me deparei com
a primeira birra da minha filha. Eu estava em uma
viagem na Flórida e confesso que nem esperei
retornar ao Brasil para começar as minhas leituras,
fui logo comprando livros digitais e lendo pelo meu
celular. Eu vou lhe contar sobre esse episódio em
outro capítulo. Se você é mãe de uma criança de dois
anos, com certeza vai se identificar comigo nessa
história.
Eu comprei seis livros sobre educação de filhos de
uma única vez, porque eu sou dessas (risos). Quanto
mais eu pesquisava, mas eu via o quanto esse era um
universo muito explorado, cheio de métodos e
teorias, e confesso que fui me encantando com
muitos ensinos que pareciam fantásticos.
Entretanto, algo incomodava meu coração: tudo
parecia perfeito para minha maternidade, mas nem
tudo era compatível com a direção na qual eu queria
conduzir os meus filhos.
Por falar em compatível, conheci muitos
universos nesse tempo: criação neurocompatível,
criação com apego, disciplina positiva, educação
respeitosa. Porém, quanto mais estudava, mais Deus
sussurrava em meu coração: “A Bíblia tem o que você
precisa”. Eu não quero desprezar todos os ensinos
que a neurociência nos traz (eu mesma neste
momento estudo sobre neurociência, educação e
desenvolvimento infantil em uma renomada
universidade do nosso país). Não quero invalidar o
que os psicólogos têm a dizer, eu apenas decidi crer
que o ensino que a Bíblia nos traz está além; não se
trata de algo natural, mas espiritual.

1 Coríntios 2.13,14 – ACF


Se temos o Espírito, precisamos ter o olhar
espiritual sobre as coisas.
Temos a tendência de setorizar todas as áreas da
nossa vida. Vida familiar, vida profissional, vida
espiritual, vida conjugal, etc. Mas a grande questão é
que não é assim que funcionamos, aliás, nós não
funcionamos, nós vivemos. E o tempo todo estamos
tomando decisões que afetam o mundo espiritual. O
tempo todo estamos vivendo e caminhando para
cumprir o propósito que Deus estabeleceu para nós.
E precisamos discernir as coisas espiritualmente.

Discernindo espiritualmente tudo que estudei


sobre educação de filhos, avaliei e concluí uma coisa:
precisava exercer uma educação de filhos compatível
com o que a Bíblia diz, ou seja, Bíbliacompatível. Não
podia me apropriar de um método incrivelmente
lindo se não tem o mesmo alvo e visão que Deus
comunica em sua Palavra. Não é uma opção trazer
algo para minha vida que seja separado dos
princípios e valores que eu decidi incluir na minha
família.

John Piper

CRENDO QUE ELA É REAL

2 Timóteo 3.16,17 – ARC


A Bíblia nos diz que ela própria é inspirada por Deus,
proveitosa para nos instruir, corrigir e ensinar.
Também nos fala que é perfeita para nos instruir em
TODA BOA OBRA, ou seja, até na criação dos nossos
filhos. Mas quero levar você a um novo nível de fé
em relação à Palavra de Deus, trazendo um estudo
incrivelmente conclusivo sobre isso.

Um cientista matemático chamado Peter Stoner


fez um estudo sobre a veracidade da Bíblia e publicou
em seu livro (A ciência fala). Ele
pesquisou sobre a probabilidade de um homem
comum cumprir as profecias ditas no Antigo
Testamento sobre o Messias. Ele foi fazendo um
estudo matemático das probabilidades. Por exemplo,
existia uma profecia de que o Messias nasceria em
Belém e outra profecia de que ele teria seus pés e
mãos transpassados. Qual seria a probabilidade de
um homem naquela época nascer em Belém? Qual
seria a probabilidade de um homem ter seus pés e
mãos transpassados? E a probabilidade de um
homem nascer em Belém e ter os pés e mãos
transpassados? Foram exatamente esses cálculos que
ele realizou no estudo.

Existem 300 profecias sobre o Messias na Bíblia,


mas Peter avaliou apenas oito delas. Na verdade,
para ser mais conservador possível nas suas
conclusões, Peter estendeu a pesquisa para mais de
600 alunos, estudantes universitários de diferentes
classes (mais de 12 classes universitárias).

Depois de calcular todas as probabilidades, o


matemático concluiu, em comum acordo com toda
sua enorme equipe, que a chance de algum homem
ter vivido até o presente e ter cumprido todas as oito
profecias é de um em 1017. Isto é, um em
100.000.000.000.000.000 (conte 17 zeros; lemos cem
quatrilhões; eu nem sabia como pronunciar isso).

Para ajudar você a compreender o que significa


essa probabilidade, Peter faz uma ilustração
fantástica. Ele nos diz que é como se nós pegássemos
1017 moedas de um dólar e colocássemos sobre o
estado do Texas. Teríamos uma camada de 60
centímetros de espessura cobrindo todo o estado.
Para que você tenha uma dimensão do que seria isso,
seria mais ou menos uma piscina de moedas de 60
centímetros de profundidade em todo o território
inteiro de Minas Gerais e avançando em um
pedacinho do estado do Espírito Santo. Agora
faríamos uma marca em uma única dessas moedas e
misturaríamos bem com todas as demais moedas que
estão sobre o estado. Então, colocaríamos uma venda
em um homem e pediríamos para ele ir aonde ele
quisesse, mas ele teria de pegar a moeda marcada na
sua primeira tentativa.

Qual seria a chance de esse homem pegar um


avião, sobrevoar o estado de Minas Gerais, pular de
paraquedas e pegar exatamente a moeda marcada?
Essa seria a mesma chance de os profetas terem
escrito as profecias e ver oito delas sendo cumpridas
em qualquer época por um homem comum. Mas é
assustadoramente incrível ver que todas elas, não
apenas oito, mas as 300, foram cumpridas em Cristo.
A Bíblia foi escrita por pessoas completamente
diferentes, em épocas diferentes, lugares diferentes,
em três línguas diferentes. Mas, absolutamente,
tudo se conecta. Ela é um livro impossível de ser
idealizado por uma mente humana.

CRENDO QUE ELA É PODEROSA

Hebreus 4.12
Por que não confiar que a Bíblia é poderosa para nos
instruir na educação dos nossos filhos? Precisamos
crer que ela é poderosa para nos instruir, além disso,
ela mesma é a espada mais afiada para lapidar nossos
filhos para que eles sejam uma flecha que atinge o
alvo.
Na educação dos nossos filhos, temos a tendência
de buscar o método A ou B. Na verdade, tudo que nos
parece um bom passo ou um método prático. Mas
apenas a Palavra de Deus será suficiente para
penetrar a ponto de dividir alma e espírito.
Falaremos sobre isso mais tarde.

CRENDO QUE ELA PERMANECE

Isaías 40.8 – ARA


Hoje temos muitas informações interessantes que
podem nos auxiliar na compreensão dos nossos
filhos, e falaremos sobre algumas delas. Entretanto,
não podemos construir toda a lapidação das nossas
flechas baseadas em verdades transitórias. Sim, a
própria neurociência diz que suas verdades são
transitórias, ou seja, algo pode ser completamente
verdade hoje, mas amanhã um novo estudo poderá
aparecer e nos trazer uma nova informação e ponto
de vista.
Neste mundo, não existem verdades absolutas,
mas a Bíblia é absolutamente verdadeira. O nosso
Deus é imutável e a sua Palavra também. Claro que
existem coisas que dependem do contexto, mas os
seus valores e princípios são imutáveis.

Você quer respaldar a educação do seu filho em


verdades transitórias ou na Palavra que dura para
sempre?

Na Criação Bíbliacompatível, colocamos a Bíblia no


centro da nossa abordagem, ensino e decisões, não
apenas a consultamos como um livro com bons
conselhos, mas realmente a tomamos como a
poderosa palavra de Deus liberada sobre nós para
nos equipar em tudo, até na criação de filhos.
oda tarefa desafiadora precisa de um bom
motivo para ser desenvolvida. Toda difícil
missão é sustentada por uma grande
motivação e desejo de conquista.
Eu me lembro do tempo em que eu estudava para
passar no vestibular e ingressar na faculdade. Eu
sonhava em cursar Odontologia na Universidade
Estadual da minha cidade, e esse era um dos cursos
mais concorridos da época. Eu sabia do quanto
precisaria me dedicar e estudar, mas como eu tinha
um alvo claro, foquei naquilo para que eu pudesse
alcançar. Na época, eu deletei meu Orkut (você é
desse tempo?), trancava-me no meu quarto oito
horas por dia, estudava, estudava e estudava.
Lembro-me dos meus pais batendo na porta do meu
quarto e trazendo um lanchinho para eu comer,
dizendo que eu precisava me alimentar. Foi um
tempo desafiador, de muitas renúncias, mas eu
consegui.
Hoje eu não trabalho mais no consultório
odontológico, mas eu sempre me lembro desse
período da minha vida quando vejo uma mãe
esgotada com a maternidade. Eu realmente acredito
que não existe função no mundo com mais empenho
do que ser mãe. Primeiro, porque a maternidade não
é algo que podemos desligar da tomada às dezoito
horas e ligar novamente no outro dia, às oito da
manhã. Não existem férias, feriado, e mesmo no
“vale-night” a cabeça da mamãe continua
funcionando. Segundo, porque na verdade ela não é
uma única função, são múltiplas. Hoje mesmo, eu já
fui nutricionista, cozinheira, motorista, professora e
voltei a ser dentista para atender a uma “emergência
odontológica” da minha filha, que cortou a boca em
um acidente no “pula-pula” no colchão.
Eu sei o quanto é desafiador. Também sei que você
está ansiosa para que eu fale sobre como lidar com o
mau comportamento do seu filho, como resolver o
problema da birra e da teimosia e, se pudesse, pularia
para a página da fórmula mágica para ter filhos
respeitosos e obedientes, mas para que você tenha
força para educar seu filho, você precisa entender o
seu propósito. Certamente, o que nos sustenta e nos
faz cumprir essa missão com alegria e prazer é
quando discernimos o propósito da nossa
maternidade.

Por que somos mães? Qual é a nossa principal


função? O que precisamos fazer? Qual é o nosso alvo?
Ser mãe é apenas procriar? Eu costumo dizer que
existe diferença em se tornar mãe e em continuar
sendo mãe. Existem mulheres que se tornam, mas
não continuam sendo. Hoje cresce uma cultura
maligna que luta pela troca da palavra “pai” e “mãe”
por genitores. Na verdade, isso sempre existiu: pais
que deixam de ser pais e passam apenas a ser
genitores. Entretanto, a cultura é maligna porque
quer normatizar algo completamente fora do padrão
de Deus. Deus não criou a mãe apenas para dar à luz,
e, na Bíblia, existe beleza na maternidade.
Existe uma lei da Hermenêutica (que é a ciência
que estuda a interpretação bíblica) que se chama Lei
da Primeira Menção. É incrível estudar um assunto
na Bíblia usando essa lei. Ela diz que sempre que
queremos saber sobre algum assunto, devemos olhar
para a primeira vez que aquilo foi mencionado na
Bíblia. Ao longo das Escrituras, vemos o quanto o
objeto ou conceito estudado vai carregar o forte
significado e função da primeira vez que ele foi
mencionado.

Vou dar um exemplo para que você entenda


melhor: a primeira vez que a expressão “Palavra” foi
mencionada na Bíblia, foi em Gênesis, quando Deus
criou o mundo. Pela Lei da Primeira Menção, a
função primária das palavras não é comunicação,
mas é a criação! E ao longo da Bíblia, vemos que é
exatamente isso que acontece. Deus nos ensinando
que ele cria os frutos dos nossos lábios. E qual é a
primeira menção de “mãe” na Bíblia? Foi quando
Deus disse para Adão que ele deveria deixar seu pai e
a sua mãe, unir-se com a sua mulher e se tornar uma
só carne com ela. Veja você mesmo:

Gênesis 2.24
Um detalhe que me deixa muito intrigada é que
Adão não tinha mãe. Na verdade, Deus estava dando
um princípio para todos os homens da humanidade,
visto que, naquele momento, Adão era a
humanidade. Deus dá essa direção para ensinar um
princípio: o homem deveria deixar seus pais, unir-se
com sua mulher e se tornar uma só carne com ela. A
primeira menção de “mãe” na Bíblia não coloca o
foco na mãe, mas no filho. O grande propósito da
maternidade é gerar filhos que possam viver o seu
próprio propósito para a glória de Deus. Muitas
vezes, as mães se esquecem disso. Os filhos nos
deixarão, e é ótimo que isso aconteça, é assim que
deve ser. Não podemos viver a nossa maternidade
achando que teremos a vida toda para estar com eles
e educá-los. Também não podemos achar que os
filhos devem ser educados para a nossa satisfação
pessoal. A Bíblia não diz que os filhos são nossos
troféus. A Bíblia diz que eles são flechas, herança e
galardão, você se lembra?
GERAR E NUTRIR
Eu gosto de refletir sobre o propósito de uma mãe
observando a anatomia da mulher. As principais
diferenças da mulher em relação ao homem são
justamente o que a capacita para gerar e nutrir um
filho.
Diferentemente do homem, mulheres têm
ovários, trompas e útero. Além disso, é muito
interessante avaliar o quanto a mulher é mais
habilidosa para transformar matéria bruta em algo
muito mais charmoso e elaborado. Vemos isso
acontecendo na cozinha, quando ela pega os
ingredientes e surge um bolo maravilhoso; também
acontece quando ela transforma um metro de tecido
em um lindo vestidinho. Claro que hoje nem todas as
mulheres cozinham e costuram; também vemos
homens muito habilidosos preparando pratos
incríveis e roupas especiais, mas, no geral, é nítido o
quanto as mulheres têm mais habilidade para criar.
É exatamente o que acontece no nosso útero, em que
recebemos matéria-prima para gerar um ser
humano.
Também vemos na anatomia da mulher os seus
seios e glândulas mamárias. Não sei qual foi a sua
experiência para amamentar seu filho; talvez tenha
sido algo lindo, talvez algo mais desafiador como foi
para mim, ou talvez não tenha sido uma boa
experiência para você, mas é inegável que Deus
projetou a mulher para nutrir seus filhos. Mulheres
foram formatadas para gerar e para nutrir. Creio que
isso também tem um aspecto espiritual. Até porque,
algumas mulheres não geraram no seu ventre, mas
tiveram o grande privilégio de gerar em seu coração
por meio da adoção (e tudo o que meditarmos neste
livro se aplica a elas, que, de fato, também se
tornaram mães). A Bíblia nos diz em 1 Timóteo 2.15
(ARA) que a mulher tem uma missão:

Voltaremos nesse texto depois, mas quero


aproveitar para lançar esta pergunta: que missão é
essa? Às vezes, sabemos o tanto de coisas que uma
mãe precisa fazer, mas se fôssemos nomear nossa
missão, não saberíamos exatamente o que colocar no
papel. Ao olhar para todos os versículos que a Bíblia
nos traz sobre isso, concluí que, espiritualmente
falando, Deus também nos levanta para gerar e
nutrir.
Vemos isso claramente na vida de Joquebede.
Êxodo 1 registra um tempo muito triste, quando o rei
do Egito se sentia ameaçado pelo crescimento dos
israelitas no meio do seu povo. Para tentar conter
isso, ele ordenou que os meninos que nascessem
fossem mortos. Em Êxodo 2, vemos essa mulher,
chamada Joquebede, dando à luz um filho. Ela
tentou esconder seu filho por três meses. Depois,
quando viu que não poderia escondê-lo por mais
tempo, ela preparou um cesto, impermeabilizou e
colocou seu bebê à beira do rio Nilo, esperando que a
filha de faraó o encontrasse durante o seu banho no
rio.
Com certeza, você já identificou essa história.
Joquebede era a mãe de Moisés. E vemos Deus
respaldando o plano dessa mãe com todo cuidado. A
irmã de Moisés ficou acompanhando o cestinho, e
quando o bebê foi encontrado pela filha de faraó, sua
irmã perguntou se ela queria que uma mulher
hebreia fosse chamada para amamentar o menino.
Foi exatamente isso que aconteceu. Joquebede teve o
grande presente de receber seu filho de volta em seus
braços para amamentá-lo e criá-lo.
Você é “Joquebede” na vida do seu filho.
Joquebede deu à luz, você também deu à luz.
Joquebede protegeu seu filho por três meses; talvez
você não tenha percebido, mas você protegeu seu
filho nos três primeiros meses de maneira diferente.

Existe um período que a ciência chama de


“exterogestação”, que é o período dos três primeiros
meses do bebê. Esse período é considerado o “quarto
trimestre” da gestação, agora, fora da barriga, por
isso o nome “exterogestação”, isto é, gestação fora do
útero. Nesse período, existe uma relação muito
próxima entre a mãe e seu bebê, que é
completamente dependente. Não foi por acaso que
Joquebede protegeu seu filho por exatos três meses.
Um dia, Joquebede percebeu que não poderia
colocar seu filho em uma bolha e protegê-lo para
sempre; talvez você também já tenha chegado a essa
conclusão. Mas fique tranquila, eu não quero que
você prepare um cesto impermeabilizado e coloque
seu filho em um rio. Pelo menos, não literalmente.
Porém, existe algo profético nisso que, com certeza,
quero desafiar você a fazer.

Quero falar sobre duas ações. Primeiro, Joquebede


colocou seu filho em um cesto. Um cesto
impermeabilizado pelo mesmo material que a arca
de Noé. O cesto certamente aponta para Cristo,
assim como a arca. Se seu filho estiver em Cristo, não
há o que temer; seu filho não se afogará com as
mentiras deste mundo e chegará a seu destino em
segurança. Mas a segunda coisa é que Joquebede
entregou seu bebê. Ela colocou seu filho na água.
Você gerou, quer proteger, mas também precisa
entregar. Você não precisa entregar de qualquer
maneira, mas colocá-lo no lugar certo. As águas, na
Bíblia, apontam para o maravilhoso agir do Espírito
Santo. Você se lembra da visão de Ezequiel 47? O
profeta via as águas fluindo do templo; quanto mais
ele entrava na água, mais difícil ficava para ele
andar, até que chegou a um ponto onde ele só
conseguia passar a nado.
Quanto mais crescemos em nosso relacionamento
com Jesus, menos teremos controle sobre nossas
decisões, e mais teremos segurança em sermos
conduzidas por Deus. É exatamente nessas águas que
precisamos levar nossos filhos. Mas a história não
terminou aí: o filho voltou para que sua mãe pudesse
amamentá-lo e criá-lo. Ela o gerou e nutriu. Seu
filho, antes de ser seu, precisa ser do Senhor. É
maravilhoso sabermos que ele nos dá o privilégio de
nutri-los e criá-los.
Uma mãe pode ser excelente em todas as suas
facetas e habilidades, mas certamente falhará
drasticamente se não o gerar para o Senhor e nutri-lo
espiritualmente.

NÃO CONFUNDA AS COISAS


Acho importante lembrar você de algo. Existe um
lindo propósito na maternidade, mas o propósito da
sua vida não se resume apenas nisso. Vemos muitas
mães idolatrando seus filhos, ou até mesmo a
própria maternidade. Resumem toda a existência da
sua vida na dedicação aos seus filhos. Quando falo
sobre isso, lembro-me de Habacuque.

Habacuque 3.17,18 – ACF


Ainda que eu não fosse mãe (ou não seja, talvez
ainda seja seu caso), eu me exultarei no Deus da
minha salvação. Quando olhamos para a Bíblia,
vemos que o grande propósito na vida de um ser
humano não é fazer coisas para Deus. Talvez muitos
pensem que o seu maior propósito é o seu ministério,
ser uma esposa de pastor dedicada ou uma mãe
exemplar que marcará a vida dos seus filhos. Tudo
isso é importantíssimo, poderoso e especial.
Contudo, o grande propósito de Deus é que sejamos
cheias da vida dele.
vida

João 10.10 – ARA


Quando a Bíblia fala que Jesus veio para nos dar
vida, fala da vida “ ”, que é a própria vida de Deus.
A vida “zoe” refere-se a sua Glória e a sua presença
constante em nós. Deus não nos criou com um
espírito à toa. Somos um vaso criado para receber o
seu conteúdo, que é o próprio Espírito Santo de Deus
em nós. Gosto do grande exemplo da luva que aquece
a mão em um inverno rigoroso. Não existe nenhum
propósito em uma luva se ela nunca vestir uma mão.
É para isso que ela foi criada. Do mesmo modo, não
existe nenhum propósito em nós se não recebermos
a vida de Deus primeiro.

Portanto, querida mamãe, seu lindo propósito da


maternidade só será cumprido e validado quando o
seu principal propósito for cumprido primeiro.
Sempre deseje ser cheia da Glória de Deus. Isso é
primordial e fará toda a diferença.

Na Criação Bíbliacompatível, sabemos do nosso


propósito como mães e não deixamos que as setas
deste mundo lançadas sobre nossa mente
minimizem o nosso valor, nos distraiam e nos
impeçam de cumprir o que Deus confiou nas nossas
mãos.
ocê já parou para pensar sobre qual é o seu
maior alvo na educação do seu filho? Vejo o
quanto os pais se preocupam em ter filhos
educados, gentis e generosos; às vezes, até
acrescentam nessa lista o desejo de ter filhos
silenciosos, maduros e imóveis (isso mesmo!), algo
completamente incoerente para uma criança.
Querem quase um boneco ou um robô.
É óbvio que todos nós queremos ter filhos gentis e
que saibam se comportar. Ensinar bons modos é
necessário. Além de um superdesafio, é um trabalho
árduo e, às vezes, parece que estamos andando em
círculo. Quantas vezes você já precisou repetir para
seu filho que ele precisa compartilhar seus
brinquedos, dar “bom-dia”, falar “por favor” e
“obrigado”? Se você ainda não fez isso, é porque seu
filho ainda é um bebê, acertei?
Há dias em que minha filha entra no elevador,
encontra o vizinho e diz, sorridente: “Bom dia, como
você está? Eu estou indo para a escola, sabia?”. Já em
outros, ela entra no elevador, encontra o vizinho,
franze a testa, dá as costas para ele e agarra na minha
perna (e a gente fica olhando com aquele sorriso
amarelo). Eu sei, ensinar a gentileza é difícil e
necessário!
Mas o que eu quero fazer você refletir é que nossos
filhos precisam de muito mais do que bons modos.
Educar nossos filhos para Deus é mais do que ensiná-
los a respeitar as pessoas e serem educados. Nossos
filhos precisam nascer de novo!
Existem diferentes interpretações teológicas sobre
o fato de as crianças nascerem pecadoras ou não. Mas
não há nenhuma dúvida de que nascemos com uma
natureza que nos inclina ao pecado. Aprender boas
maneiras não é suficiente para que seu filho seja
conduzido a Cristo e não resolve o problema do
abismo espiritual que há entre ele e Deus.
todos pecaram

Romanos 3.23 – ARC


Para que você tenha uma maior compreensão do
principal alvo da educação do seu filho, quero tomar
emprestadas algumas informações da Psicologia.
Existe uma linha da Psicologia chamada
“behaviorismo”. A expressão se origina do termo em
inglês “behavior”, que significa “comportamento”.
Ela também é conhecida como “Psicologia
Comportamental” e, em resumo, o seu alvo é prever
e controlar o comportamento humano. Para
simplificar ainda mais e eu possa chegar aonde eu
quero, essa linha da Psicologia entende que o
comportamento de uma pessoa pode ser
completamente lapidado, treinado e mudado pelo
ambiente e pelas influências que ela recebe.

John Watson, considerado o pai do behaviorismo,


diz o seguinte:
John Watson
John queria dizer o quanto era perfeitamente
possível calibrarmos qualquer criança para ser o que
quisermos. Realmente, o que ele diz faz sentido. Até
por isso, não é apenas uma teoria, mas algo testado e
comprovado cientificamente. Eu não quero criticar o
que ele concluiu, eu quero fazer você pensar se isso é
a solução que você busca para seu lar.
O estilo de criação de filhos que mais impera no
meio cristão é justamente este: influências externas
podando comportamentos errados e estimulando
boas ações. Parece ser um caminho perfeito e
suficiente, não é? Não se tivermos em mente o nosso
principal e verdadeiro alvo.
Avalie comigo: será que bons modos e boas ações
são tudo de que seu filho precisa? Bons modos e boas
ações são suficientes para que o homem possa
restaurar o seu relacionamento com Deus? Eu ouso
dizer que essa é a maior mentira que o Diabo quer
que nós acreditemos: que somos bons o suficiente
para alcançarmos o Céu. Parece tão lindo e profundo,
mas não é isso que a Bíblia nos diz.

Romanos 3.10
Se concentrarmos todos os nossos esforços e
investirmos os nossos dias apenas criando homens e
mulheres educados, gentis e generosos,
fracassaremos no nosso grande alvo de conduzirmos
nossos filhos para Jesus. Países com alto índice de
moralidade são os mais fechados para o evangelho
por uma simples questão: eles dele.
Verdadeiros homens e mulheres de Deus
certamente serão educados, gentis e com boas
condutas morais, mas isso será resultado de uma
nova natureza e um novo coração. É justamente por
isso que eu comecei o capítulo falando sobre o novo
nascimento.

O NOVO NASCIMENTO
Um dia, Jesus teve uma conversa com um dos líderes
dos judeus que nos esclarece sobre o que estou lhe
dizendo.

João 3.3-7 – ACF


Jesus é claro em dizer que existem dois tipos de
nascimento: o natural e o espiritual. A Bíblia fala
sobre o homem natural, que tem a sua vida humana,
respira e habita nesta Terra, mas que tem seu
espírito morto e desconectado de Deus.
Vemos que “o salário do pecado é a morte”, mas
não vemos uma criança morrer imediatamente
depois que ela comete o seu primeiro ato
pecaminoso. O que acontece é que o pecado gera
morte , faz com que o ser humano não
desfrute mais da vida de Deus.

Este é o ser humano sem Jesus: ele não tem


nenhuma comunhão com o Espírito de Deus porque
ainda não nasceu do Espírito. É por isso que Jesus
nos diz que ele veio para nos trazer vida e vida
. No texto original, essa palavra, “vida”, é
que é a própria vida de Deus colocada em nós.

Não existe outra maneira de sermos


verdadeiramente transformados e transportados das
trevas para luz se não provarmos desse novo
nascimento; mas certamente o desejo pelo novo
nascimento surge quando percebemos o quanto
precisamos dele.

O que temos de entender é que existem coisas que


são próprias de cada natureza. Por exemplo, talvez
até possamos um dia domesticar um porco, ensiná-lo
a latir, balançar o rabinho e dormir na casinha do
quintal, mas quando ele enxergar a lama, vai desejar
estar lá e correr para se lambuzar, porque isso é
próprio da sua espécie e da sua natureza.

Voltando para o behaviorismo, você se lembra do


que o professor John disse? Ele poderia transformar
qualquer criança em qualquer coisa, apenas com
ajustes próprios do ambiente externo, dos estímulos
e da influência. Ele está coberto de razão. Você
também pode, mamãe. A questão é:
De
um ser humano de natureza caída, morto
espiritualmente, desobediente, inconveniente, cruel
e com más condutas para um ser humano de
natureza caída, morto espiritualmente, mas
obediente, polido e moralmente bom?

O nosso maior alvo precisa ser a mudança de


natureza, o novo nascimento, que apenas é possível e
alcançado por meio da poderosa obra da cruz. Ali,
Jesus morreu para que nossa velha natureza
morresse também. A boa notícia é que, depois de três
dias, ele ressuscitou para que também herdássemos
uma nova vida, que até já venceu a morte.
Você se lembra de que falamos que nosso grande
propósito é gerar e nutrir nossos filhos? Eu enfatizei
o fato de que precisamos gerá-los espiritualmente
também. Claro que essa é uma obra exclusiva do
Espírito Santo! Mas você já deve ter percebido que
também foi exatamente assim quando você gerou
seu filho para sua vida natural. Seu papel quando
gerou seu filho foi apenas receber a semente dentro
do seu útero e esperar pelo agir de Deus! Ou você
acordava, olhava a listinha e trabalhava muito,
afinal de contas, era a décima segunda semana e era
hora de terminar a formação da pálpebra? Ou era a
décima quarta semana e você não podia se esquecer
de finalizar o céu da boca do seu filho? Assim como
foi uma obra linda e minuciosa do nosso Criador, o
novo nascimento do seu filho também será. Mas
lembre-se de um detalhe: uma semente também
precisará ser lançada no seu pequeno coração.

UMA MUDANÇA REALMENTE


TRANSFORMADORA
Se você percebesse que seu filho está pálido pela falta
de açúcar no seu sangue, adiantaria maquiá-lo para
que o problema fosse resolvido? Apenas essa
mudança externa não seria suficiente para resgatar a
sua saúde, embora você resolvesse o problema da
palidez.
Lembro-me de uma aula da faculdade em que o
professor de Farmacologia nos mostrava as
diferentes ações dos medicamentos. Em
determinado momento, ele nos fez uma pergunta: se
o seu paciente estivesse batendo a cabeça
compulsivamente na parede, adiantaria você apenas
comprar um capacete para ele? Talvez ele ficasse
mais protegido, mas não resolveríamos o principal
problema. Precisaríamos descobrir uma maneira de
fazer com que o paciente parasse de fazer isso. Uma
mudança realmente transformadora na vida do seu
filho nunca ocorrerá apenas com maquiagem e
capacetes.

Quero ilustrar essa mudança de natureza de uma


maneira que, com certeza, vai marcar seu coração e
afetar seu olhar sobre isso.
A Bíblia diz em Romanos sobre sermos como uma
oliveira brava, cortada e enxertada na oliveira
cultivada:

Romanos 11.17,18
Meu pastor Aluízio Silva parafraseia esse texto de
uma forma que nos esclarece muito bem sobre a obra
de Deus em nós. Ele diz que nós, seres humanos,
somos como uma “pimenteira de pimenta brava” e
insistimos em produzir pimenta (perceba a pimenta
como nossos atos pecaminosos). Podemos arrancar
todas as pimentas desse pé, mas elas insistem em
nascer outra e outra vez. Porém, a Bíblia diz que, na
cruz, nós fomos incluídos em Cristo; ele é a Videira
Verdadeira. Quando cremos em Jesus e o recebemos
como nosso Salvador, somos arrancados da terra em
que estávamos e enxertados nele. Agora, a seiva que
passa na Videira Verdadeira é a seiva que nos
alimenta. Então, passamos a ter apenas o casco da
pimenteira, mas nos tornamos produtores de boas e
doces uvas.

Mamãe, se o seu filho produz pimentas, não


adianta apenas podá-lo, podá-lo e podá-lo. Ele
precisa ser enxertado na Videira Verdadeira.
João 15.4,5

Na Criação Bíbliacompatível, não nos importamos


apenas com bons modos; realmente temos como alvo
principal conduzir nossos filhos até Jesus.
uando falamos que o grande alvo dos nossos
filhos é que eles tenham uma experiência real
de novo nascimento, não excluímos o fato de
que precisamos cuidar de todas as áreas do
seu ser.
Neste capítulo, eu quero lhe mostrar a
importância de você considerar cada aspecto do seu
filho. Mas, primeiro, eu preciso mostrar o quanto a
transformação do seu filho é tão importante para
Deus quanto é importante para você.
Tenho o costume de parar e refletir sobre os
atributos de Deus. Até porque, a Bíblia diz que tal
qual ele é, nós seremos neste mundo (1 João 4.17).
Deus é poderoso, onipresente, onisciente e
suficiente, mas ele mesmo decidiu que algo ele não
teria: a posse absoluta de todo ser humano. O nosso
Deus queria ser escolhido, porque sabia que, no
verdadeiro amor, existe liberdade.

Não foi à toa que ele plantou no Jardim do Éden a


árvore do conhecimento do bem e do mal. Ela não foi
um deslize do Criador ou uma ideia que deu errado.
Na verdade, quando ela foi plantada, o Senhor, na
sua soberania, já sabia que o homem precisaria de
um resgate.

A Bíblia diz, em Apocalipse 13.8, que o Cordeiro foi


morto antes da fundação do mundo. Isso nos revela
que Deus desejava tanto ter filhos, que mesmo
sabendo de tudo o que aconteceria, não desistiu da
sua ideia de criá-los.
Em 2 Crônicas 16.8, vemos que os olhos do Senhor
estão sobre toda a Terra para mostrar a sua força
para aquele cujo coração seja totalmente dele (aliás,
esse é meu versículo favorito). É maravilhoso saber
que quando somos encontrados pelo Senhor com
nosso coração completamente entregue, somos alvos
da sua força e poder. Mas quero focar em um fato
revelado nesse versículo: nem todo coração é
completamente dele. E é por isso que vemos, ao
longo de toda a Bíblia, o desejo profundo do Senhor
de ter filhos, ou seja, de ter criaturas com seu coração
entregue a ele.

Quando Deus formou Adão e Eva, ele lhes deu uma


ordem: sejam férteis, multipliquem-se e encham a
Terra (Gênesis 1.22). Depois, vemos a mesma direção
para Noé: frutifiquem-se, multipliquem-se, povoem
abundantemente a Terra (Gênesis 9.7). No Novo
Testamento, vemos Jesus revelando Deus como Pai e
manifestando mais uma vez o seu desejo: ide e fazei
discípulos de todas as nações (Mateus 28.19). Nesse
momento, a Bíblia já revela o fato de que, ao
recebermos Jesus, nos tornamos filhos de Deus.

João 1.12 – ACF


Ao lhe mostrar toda essa santa obsessão do Senhor
por ter filhos e por aperfeiçoá-los, eu quero fazer
você perceber o quanto Deus tem interesse e cuidado
pelos filhos.
Amamos tanto o fruto do nosso ventre que às
vezes nos parece impossível alguém amá-los tão
profundamente quanto nós. E mesmo que nós
saibamos da grandeza do amor de Deus, parece que
nos desligamos disso quando os desafios vêm.

Quando Deus criou o homem, ele não criou apenas


mais uma peça do “tabuleiro do mundo”, mas
formou sua obra-prima (Efésios 2.10). É por isso que
ele fez tudo conforme a sua própria espécie, mas fez o
homem à sua imagem e semelhança (Gênesis 1.27).
Certamente, o Criador projetou tudo de forma
minuciosa e cuidadosa. Seu filho talvez não tenha
sido desejado por você, ou talvez tenha sido e muito,
mas uma coisa eu posso afirmar: seu filho foi
desejadíssimo por Deus. Ele foi formado segundo a
imagem e semelhança do Senhor, e isso é um fato
muito notório e que precisa ser sempre lembrado por
todas nós.
Entre tantas características que Deus desejou
compartilhar ao formar o homem, existe uma que
chama minha atenção, que nos enriquece e precisa
ser completamente considerada quando nos
relacionamos com as crianças para educá-las: somos
seres triúnos assim como ele é.

CORPO, ALMA E ESPÍRITO


1 Tessalonicenses 5.23 – ACF
Quando se trata de criação de filhos, educação e
disciplina, vemos com uma grande frequência dois
grupos de pessoas. De um lado, vemos aquelas
pessoas que consideram todas as questões do
comportamento das crianças como algo espiritual e
pecaminoso. Do outro lado, vemos todos os aspectos
espirituais sendo desconsiderados e tudo sendo visto
apenas como um capítulo do desenvolvimento da
criança ou uma questão emocional e fisiológica.

Pais cristãos têm a tendência de considerar tudo


como um aspecto de rebeldia e pecado deliberado, e
isso atrapalha, e muito, na abordagem que é tomada
na correção dos seus filhos.
Quero compartilhar sobre a primeira birra da
minha filha e quão traumática e desastrosa foi nossa
reação e a maneira que conduzimos toda a situação,
justamente por essa falta de percepção sobre todos os
aspectos da minha filha.
Estávamos passando alguns dias de férias na
Flórida com nossa filha, que, na época, tinha 1 ano e
11 meses. É claro que ela já tinha tido algumas
birrinhas, mas nada comparado ao que aconteceu
nesse dia.

Era um domingo, e fomos para o culto em uma


igreja pastoreada pelo casal de amigos que nos
hospedava. Chegando lá, Giovana foi para o culto das
crianças em uma salinha com outras crianças e duas
professoras. Foi a primeira vez que ela ficava em um
ambiente sem mim, mas se distraiu bem e
permaneceu ali.

Ao terminar o culto, meu marido foi buscá-la e


voltou com ela no colo. Ela segurava um pacote de
Doritos nas mãos (sim, Doritos, aquele salgadinho de
queijo nada saudável para uma criança menor
de dois anos, ainda mais para comer antes do
almoço). Quando ela chegou até mim, eu peguei o
salgadinho da sua mão e, com muita sabedoria (só
que não), eu entreguei ao meu marido com a seguinte
frase: “Suma com isso!”.

Naquele momento, você não faz ideia da maneira


como essa criança reagiu (ou faz!). Ela começou a
gritar, se debater, deslizou pelos meus braços, de
maneira que eu não conseguisse mantê-la no meu
colo. Ela batia a cabeça no chão com força e virava de
um lado para o outro. Eu e meu marido ficamos
completamente assustados, sentindo-nos incapazes e
despreparados. Eu não sabia o que fazer.

Fomos para fora daquele lugar, e, ali na calçada,


meu marido me disse “eu vou expulsar!”. Não, isso
não é um exagero nem algo que eu inventei para
trazer o acontecimento dentro do contexto. Talvez
agora até pareça engraçado, mas nos sentíamos
desesperados. Quando eu ouvi aquilo, a primeira
coisa foi repreender meu marido: “Credo!
Misericórdia!”. Mas ao mesmo tempo, eu não fazia
mais ideia do que fazer, estava morrendo de
vergonha, e ela agia de maneira assustadora. “Está
bem! Expulsa!” Gente, que cena… nem sei como
descrever! O fato é que a reação dela nos deixou tão
perplexos, que nem sabíamos por onde começar.
Como bons crentes que somos, já repreendemos todo
demônio da birra e todo espírito de vício em
salgadinhos.

Tantas coisas estavam envolvidas, mas nosso


despreparo nos fez apenas avaliar e detectar supostos
problemas espirituais (se seu filho já teve um ataque
de birra desses, você vai saber que nossa conclusão
imatura não foi tão absurda assim!).

A Bíblia nos revela que somos formados por


espírito, alma e corpo. Deus criou o homem do pó da
terra, soprou sobre ele o fôlego de vida, e ele se
tornou alma vivente (Gênesis 2.7). O “pó da terra”
aponta para a formação do nosso , que é nossa
parte física, que se relaciona com o mundo material.
O fôlego de vida aponta para o nosso , que é a
parte no nosso ser que se relaciona com Deus. Mas
também existe a alma, que surge na criação do
homem como resultado da união do corpo com o
espírito: “e se fez alma vivente”. A é a sede da
nossa personalidade, e ela se relaciona tanto com o
espírito quanto com o corpo. Nenhum desses três
aspectos deveria ser desconsiderado ou esquecido no
processo de educação de filhos.

Naquele dia, todas as expressões da minha filha


pareciam espirituais, enquanto na verdade nada
mais eram do que questões relacionadas ao seu corpo
e à sua alma. Ela estava totalmente fora da sua
rotina, cansada e com sono (não queira me ver
cansada e com sono também). Ela estava em outro
fuso horário, com pessoas diferentes, falando uma
língua diferente e por alguns longos minutos ficou
longe da mamãe. Ela também estava com fome e teve
seu alimento arrancado das suas mãos, literalmente.

Entenda-me bem: não estou querendo lhe dizer


que inconvenientes justificam o desrespeito, mas
quero lhe mostrar o quanto as crianças têm
necessidades naturais, que quando não são supridas,
podem desencadear reações desafiadoras (até mesmo
assustadoras), mas que são normais e fisiológicas. É
um grande problema espiritualizar todos os
comportamentos das crianças que não nos agradam.
Crianças não sabem se controlar como
gostaríamos; muitas vezes, não sabem se expressar
de outra forma que não seja através do choro ou
grito. Claro que elas precisam ser ensinadas a
pensarem sobre as suas ações, e falaremos sobre isso
adiante. Porém, é completamente tolice pensar que
todo comportamento que foge do esperado é uma
manifestação de pecado. Muitas e muitas vezes serão
questões emocionais, naturais e fisiológicas.

Entretanto, existe um segundo grupo de pessoas


que contrasta com tudo o que falamos até agora. Elas
ignoram o fato de a criança possuir inclinação ao
pecado. Não podemos desconsiderar os aspectos
espirituais envolvidos na educação de filhos.
Sempre quando eu falo sobre as crianças
precisarem de conversão, algumas pessoas se opõem,
dizendo que é absurdo o fato de pensarmos que uma
criança pode estar perdida espiritualmente. Essas
pessoas usam o argumento de que a Bíblia diz que das
crianças é o Reino. No original grego, vemos que, na
verdade, Mateus 19.14 diz que o Reino é daqueles
as crianças, e não quer dizer que as crianças são
isentas de pecado. Pessoalmente, acredito que isso se
refere ao fato de a criança ser imensamente mais
aberta para crer em Jesus do que um adulto. Se as
crianças não precisassem do Evangelho, o Senhor
não nos alertaria no capítulo anterior que não é da
vontade do Pai que nenhum pequenino pereça.

Mateus 18.14 – ACF


A educação deste mundo nos diz que, se não
interferirmos no curso natural dos pequenos, eles
serão adultos éticos e morais. Insistem na ideia de
que a criança é um anjinho inocente e sem pecado,
mas as influências externas os corrompem. Dizem
que os filhos se tornam maus certamente porque
algo aconteceu e a maldade entrou em seu coração;
muitos até colocam esse peso sobre os ombros dos
pais, dizendo que o filho que age de uma maneira
inapropriada assim o faz porque seu pai, ou a sua
mãe, fez algo errado primeiro.
Em outras palavras, ignoram o fato de sermos
seres carnais, com inclinação ao pecado. Sim, às
vezes a criança terá um mau comportamento por
conta de algo físico ou uma carência emocional. Mas
muitas e muitas vezes seu mau comportamento será
o impulso pelo pecado já embutido na sua natureza.
Como diz John MacArthur, “quando os filhos
simplesmente têm permissão para seguirem o curso
da sua natureza, o resultado inevitavelmente é o
desastre!”.1
Como comecei dizendo, todas as partes do nosso
ser foram cuidadosamente planejadas por Deus, que
nos criou e nos desejou. Existe beleza e propósito em
tudo o que ele formou em nós. Tendo um olhar
completo sobre nossos filhos, seremos coerentes e
prudentes para corrigi-los, ensiná-los e supri-los no
que for preciso.

Na Criação Bíbliacompatível, não focamos apenas


em abolir o pecado, tampouco apenas em olhar para
a criança como um ser inocente, mas tomamos o
cuidado de considerar todos os aspectos dos nossos
filhos e aperfeiçoá-los.

1 MACARTHUR, John. Pais sábios, filhos brilhantes. Rio de Janeiro:


Thomas Nelson, 2014.
1 Coríntios 13.11
Para começar este capítulo, eu quero compartilhar
uma sequência de mensagens que eu recebo com
muita frequência:
“Me ajude, meu filho tem um ano e dois meses e,
quando fica bravo, ele grita e chora.”
“Meu menino de 3 anos não para quieto para
assistir o culto, ele quer levantar o tempo todo.”

“Não sei o que fazer, meu filho tem 2 anos e meio


e, quando eu falo para ele não fazer algo, ele vai lá e
faz!”
“Minha filha de 4 anos quer escolher as roupas
todos os dias, me ajude!”

“Meu filho pequeno, quando não quer mais


comer, bate na colher ou joga a comida!”

Quando eu recebo essas mensagens, eu não me


ofendo, porque me coloquei à disposição para ajudar
as mães e servi-las, mas preciso confessar que muitas
e muitas vezes eu me questiono: o que será que os
pais esperavam das crianças pequenas?
Se o seu filho já passou da primeira infância,
talvez este capítulo não seja mais completamente
aplicável para você, mas não poderia deixá-lo de
fora. Certamente, vou abranger um ensino muito
importante e que de alguma medida será útil para
todas. Agora, se seu filho é pequeno, talvez vá pensar
que eu até estive na sua casa, isso, porque o que eu
tenho para lhe dizer não é uma exceção no mundo
materno, mas é realidade em 100% das famílias.
Já vimos uma chave bíblica muito importante:
devemos ver nossos filhos como um todo: corpo,
alma e espírito. Porém, existe uma segunda chave
que, com certeza, faz toda a diferença no nosso dia a
dia:
Muitas e muitas vezes, vemos os pais esperando
respostas e comportamentos absolutamente
incompatíveis com a idade dos seus filhos. A Bíblia
diz em 1 Coríntios 13.11 que meninos falam como
meninos, pensam como meninos e raciocinam como
meninos. Desgastamos-nos por esperar das crianças
coisas que não são próprias da sua idade. O apóstolo
Paulo nos alerta que um dia é preciso deixar as coisas
de menino, mas gosto de enfatizar o fato de que, às
vezes, ainda não chegou esse momento para o seu
filho.

Uma das maiores causas de frustração em todas as


áreas da nossa vida é a expectativa errada. Muitas
vezes, esperamos que nossos filhos ajam e reajam de
uma maneira incompatível com a sua maturidade,
idade, capacidade de raciocínio e de controle
emocional. Esperar atitudes maduras do seu filho de
três anos é um prato cheio para a frustração.
Algumas mães se apegam ao mantra “é só uma
fase” para tentar lidar melhor com os desafios
comportamentais das crianças. Mas precisamos ter
uma visão total e correta sobre essa afirmação. Na
Criação Bíbliacompatível, sabemos que não podemos
contar apenas com a sorte e com o curso natural
humano, que crianças precisam ser ensinadas,
corrigidas e instruídas. Mas também precisamos
saber que é completamente tolice exigir
determinadas atitudes em certas idades.
Quando a minha filha tinha dois anos e meio, ela
começou a ir para a escola. Em um sábado, eu peguei
um papel, algumas tintas e a deixei pintar. Com um
descuido meu, ela pegou o papel e grudou na parede,
com a parte da tinta molhada carimbando a minha
sala. Imediatamente, eu a repreendi: “Minha filha,
por que você fez isso? Não faça assim!”. E ela me
respondeu: “Mamãe, eu fiz como fazemos na escola,
precisamos colocar a atividade na parede para
secar!”.
Veja, a criaturinha de dois anos e meio não
conjecturou um plano maquiavélico contra mim e
decidiu se rebelar, ela apenas achou bem propício
colocar a sua obra de arte na parede, como aprendeu
na escola.

Crianças fazem criancices. Lembro-me de um


episódio da minha vida quando eu fiz 15 anos. Minha
irmã tinha 8 anos. Eu recebi todos os presentes da
minha festa de debutante e coloquei uma etiqueta
com o nome de quem tinha me presenteado para que
eu pudesse ter aquele sonhado momento de abrir os
meus presentes e perceber calmamente o carinho
por trás de cada lembrança. Quando a festa
terminou, desci do salão de festas ansiosíssima para
o grande momento de descobrir o que eu tinha
recebido de cada convidado. Para a minha surpresa,
quando eu entrei pela porta do apartamento em que
eu morava, todos os meus presentes estavam
abertos. Adivinha? Minha querida e fofíssima irmã
tinha aberto os presentes para me “ajudar”. Além
disso, ela pegou meu importante e sagrado “caderno
para a debutante” e, ao lado de cada recado das
minhas amigas, escreveu com a sua própria letra o
nome do meu irmão gêmeo, que não fazia a mínima
questão de ter uma festa de debutante, muito menos
um caderno de recadinho dos amigos, pelo
contrário, estava entediadíssimo com toda aquela
festa que precisou enfrentar por ter uma irmã gêmea
(sim, você entendeu certo, eu sou gêmea). Em cada
mensagem, ela complementou com o nome do meu
irmão para que ele não ficasse chateado. Se estava
escrito “querida amiga”, ela escreveu “e querido
amigo”. Se estava escrito “Tati”, ela completou “e
Vini”. Você pode imaginar quão nervosa e irritada eu
fiquei quando eu vi tudo aquilo. Eu juro que hoje,
quando abrimos o meu caderno de debutante,
morremos de rir ao ver as anotações adicionais da
minha irmã e relembrar toda a situação, mas eu
fiquei muito, muito, mas muito brava.

Quando ela fez isso, eu disse para minha mãe:


“Como que a Sarah faz uma coisa dessas? Ela é muito
!”. E eu me lembro do quanto a minha mãe me
colocou na real, respondendo: “Sim, foi uma atitude
infantil de uma criança que é infantil, ou você quer
que uma criança infantil sempre seja madura e
responsável?”. É claro que minha mãe a corrigiu e
ensinou; nunca mais ela sequer chegou perto dos
meus presentes antes que eu os desembrulhasse.
Contudo, minha mãe me fez perceber o quanto é
tolerável atitudes infantis das crianças. Minha irmã
fez aquilo porque realmente queria me ajudar; talvez
sua empolgação fosse tanta que mal conseguiu me
esperar. Ela, de fato, estava muito preocupada com
nosso irmão; na sua cabeça, ele poderia se sentir
excluído e rejeitado. Ela foi infantil, mas não foi
pecaminosa ou desrespeitosa.

Crianças não deveriam ser castigadas por


criancices que fazem de maneira inocente. Elas estão
aprendendo e se desenvolvendo. Muitas vezes, elas
são punidas enquanto deveriam ser ensinadas. Por
isso que é tão importante entendermos mais sobre o
que esperar de cada fase das crianças. Dessa maneira,
seremos mais coerentes e pacientes.
A CHAVE DA PACIÊNCIA

Provérbios 14.29 – ARA


Gosto de analisar os textos da Bíblia que falam sobre
o comportamento do homem e fazer o exercício de
pensar nas mamães. Como poderíamos ler o texto de
Provérbios 14.29 na “linguagem das mamães

. Na “Nova Tradução da
Linguagem de Hoje das Mamães”, poderíamos ler
que

A palavra “loucura” no original é a mesma palavra


que caracteriza a mulher do primeiro versículo do
mesmo Capítulo:

Provérbios 14.1
Ou seja, a mãe que não é grande em entendimento
tem uma grande tendência de destruir seu lar. Você
não precisa ser uma em desenvolvimento
infantil, mas você pode orar por sabedoria,
conhecimento, discernimento e graça para saber
lidar com as situações.
Não podemos pensar que todo mau
comportamento é apenas fruto de uma fase que vai
passar, isentando-nos de toda necessidade de ensino,
disciplina e instrução, mas também não podemos
ignorar as fases de desenvolvimento das nossas
crianças. Com certeza, saber mais sobre como as
crianças se desenvolvem e raciocinam pode nos fazer
crescer em paciência e instrução.
Vou emprestar uma informação da neurociência
para que você possa entender o porquê de algo muito
comum.
Com muita frequência, as mães se queixam de dar
instruções aos seus filhos pequenos e eles fazerem
exatamente o contrário. Elas dizem “não coloque o
dedo na tomada”, e eles imediatamente colocam o
dedo na tomada. Provavelmente, você já ouviu a
dica: “Não diga a palavra não! Faça comandos
positivos”. Mas quero lhe explicar tudo isso melhor.

A área do nosso cérebro responsável por fazermos


associação de informações é uma parte anterior
denominada córtex pré-frontal. Sempre que
precisamos assimilar duas coisas, às vezes opostas,
precisamos usá-las. Quando eu peço para você
pensar em uma bola verde enquanto você repete a
palavra “bola preta”, você está usando essa região do
seu cérebro (tente fazer isso agora).
Quando damos um comando negativo para
alguém, na verdade, damos um comando com duas
informações diferentes. Se eu digo “não risque a
parede”, na verdade, estou unindo o comando “não”
mais o comando “risque a parede”.
O problema é que o córtex pré-frontal nunca
começará a ser desenvolvido antes dos dois anos de
idade, ou seja, a criança pequena não tem condições
de integrar as informações e reagir adequadamente
conforme a sua instrução completa. Sabendo disso, é
sábio darmos sempre uma única instrução, como no
caso, “risque esse papel”. Não adiantaria você dar
um tapinha na mão do seu filho no momento que ele
riscar a parede após a sua instrução inadequada.
Você precisa ajustar a sua comunicação.

AS BIRRAS
Quando falamos sobre fases, é oportuno falar sobre
as birras, porque por mais assustadoras que elas
pareçam (lembra da minha filha depois de perder o
pacote de Doritos?), elas fazem parte do
desenvolvimento das crianças.

Quando as crianças se aproximam dos dois anos,


elas começam a desenvolver a sua autonomia e
querem expressar o quanto são capazes de tomar
decisões. É comum elas começarem a ser “do contra”
justamente para mostrar o quanto são capazes de
escolherem. A mãe vai tirá-la da cadeirinha do carro,
e elas querem o papai, mas se fosse o papai, elas
pediriam pela mamãe. Se temos duas opções e
escolhemos uma, ela com certeza rejeita nossa
escolha. Não é à toa que essa fase é chamada de
“ ” ou a . O filho que era
tão tranquilo e bonzinho começa a encrencar com
pequenas coisas. Haja paciência, não é?
Com essa mudança, vêm as crises de birra. Por um
pequeno motivo ou aparentemente sem motivo
algum, a criança tem um ataque imenso, grita, chora
e se debate. O que ocorre é como uma pane cerebral,
quando, devido a algum gatilho, as áreas emocionais
não conseguem ser reguladas pelas áreas
responsáveis, formando uma desconexão cerebral
que é expressa por um caos em que a criança entra;
ela mesma se assusta e não consegue sair.
Esse é um momento em que os pais precisam
oferecer proteção, socorro e segurança, mas o que
acontece é que, muitas vezes, eles se unem ao caos.
Quando minha filha estava tendo sua primeira
birra, nós tentávamos falar sobre a paciência, a
calma, o respeito, mas nada adiantava. Estávamos
tentando ensiná-la a nadar enquanto ela estava se
afogando. Era completamente inútil, ela só precisava
sair da água.

Quando uma criança está tendo um ataque de


birra, não adianta darmos comandos para que ela
pare ou ensinarmos todos os valores que ela precisa
aprender. Precisamos protegê-la, cuidá-la, amá-la e
esperar. Às vezes, podemos usar pequenas
estratégias que podem ajudar seu cérebro a organizar
as coisas, como distraí-la ou fazer perguntas para que
a criança seja estimulada a pensar. Mas muitas vezes,
será preciso aguardar.

Pela falta de compreensão, quantas vezes vemos


crianças pequenas sendo punidas por algo que é
naturalmente esperado e nada tem a ver com falta de
valores, pecado ou desrespeito? Quando elas mais
precisam de ajuda, recebem punição. Depois que elas
se acalmam, é necessário e importante ensinar sobre
as virtudes necessárias. Mas esse é mais um exemplo
do quanto é preciso conhecer as crianças e termos
expectativas reais sobre elas.

Claro que, quando se trata de criação de filhos, eu


nunca conseguiria listar todas as inúmeras situações
que você enfrentará e abordar todas elas. Em muitos
momentos, seu filho reagirá de uma maneira
inesperada, ou até inapropriada, porque terá um
olhar completamente diferente sobre a situação.
Por isso, sempre se lembre de que meninos falam
como meninos, agem como meninos e raciocinam
como meninos e tente se colocar no lugar do seu filho
para compreender as coisas com o seu olhar.
Certamente, seu relacionamento com ele será muito
mais suave e, às vezes, até mesmo mais divertido.

Na Criação Bíbliacompatível, não somos


intolerantes a criancices, mas compreendemos que
as crianças fazem coisas próprias de crianças e
sabemos ensiná-las com sabedoria e amor.
Gênesis 2.16,17 – ACF
Já mencionei há alguns capítulos o fato de Deus ter
criado o homem mesmo sabendo que ele falharia.
Quero relembrar algo que já pincelei, mas agora
quero completar a “pintura”.
O ser humano iniciou a sua história no lugar mais
prazeroso possível. Jardim do Éden significa “jardim
das delícias”, e com certeza o lugar fazia jus ao nome.
A Bíblia o descreve como um jardim cheio de lindas
árvores frutíferas.

Gênesis 2.9 – ACF


Além de todas as belezas da natureza, havia um rio
que se ramificava em rios menores com pedras
preciosas. Você pode imaginar que lugar magnífico?
Deus colocou Adão e Eva ali para desfrutarem do
jardim; eles poderiam comer de todas as árvores
livremente, menos da árvore do conhecimento do
bem e do mal. Se comessem daquele fruto, eles
morreriam.
Lembre-se do que eu disse: essa árvore não foi
colocada ali por um engano do Criador; ela foi
colocada ali por causa do amor de Deus. Deus amou
tanto o homem que jamais o criaria sem liberdade.
Adão e Eva tinham toda a liberdade do mundo,
poderiam fazer o que quisessem, mas existia um
LIMITE. Deus estabeleceu um limite. Não porque
não os amava, mas justamente porque desejava
protegê-los. O que o Diabo quer fazer hoje é
exatamente o que fez na mente de Adão e Eva. Ele
não quer que vejamos todas as belezas que temos
para desfrutar, quer que fiquemos indignados com o
fato de o limite existir.

“Crianças que têm limites se tornam adultos


limitados.” Li essa frase em um jornal que exaltava
um método de educação de filhos no qual os filhos
deveriam ser completamente livres para fazerem o
que quiserem. A reportagem falava sobre uma teoria
que acredita que as crianças precisam ter autonomia
para tomar todas as suas decisões. Uma britânica foi
entrevistada e dizia com muito orgulho que seus
filhos faziam o que queriam, quando queriam.
Segundo ela mesma disse, eles poderiam ditar o que
fazer o dia todo, até mesmo o que comer!
Essa é uma das bandeiras que os métodos e teorias
de educação deste mundo insistem em levantar.
Nunca houve um ataque tão grande contra
princípios explicitamente encontrados na Palavra de
Deus, como obediência, autoridade e honra. O
argumento que é usado é que a criança que recebe
limites torna-se insegura, tímida, paralisada e
incapaz de se posicionar. Também dizem que criança
que obedece torna-se um adulto que se submete a
qualquer coisa e em qualquer situação, mesmo que
seja maléfico para ele. Será?
Pense em um passarinho que acabou de nascer. Ele
está dentro no ninho porque precisa de aconchego,
calor, segurança e proteção. Ele precisa permanecer
ali enquanto recebe o alimento que sua mãe lhe traz,
alimenta-se e se desenvolve, até que suas penas
cresçam e ele se torne forte o suficiente para bater as
suas asas e poder voar. O fato de o passarinho nascer
no ninho não significa que ele desejará estar lá para
sempre; significa que, naquele momento, dentro das
suas condições naturais, ele precisa de cuidados
intensivos e um ambiente propício para que não seja
ferido, devorado ou desfaleça.

Entendo que muitas vezes, equivocadamente, pais


estabelecem regras e limites como pilar principal de
toda a educação dos seus filhos. Acreditam que
educar é apenas condicionar uma criança a não
infringir uma regra. Como já falamos, não nos basta
condicionarmos um menino a fazer isso ou aquilo se
ele não for ensinado sobre valores e princípios
envolvidos nas decisões.

Gosto da frase poética de que mães precisam ser


pouso, e não gaiola. Concordo plenamente. Nossos
filhos precisam saber que nossos conselhos são
sábios, que nosso carinho não tem prazo de validade
e que em nós sempre haverá amor à disposição.
Entretanto, enquanto eles ainda não sabem voar
com segurança, melhor que fiquem debaixo das
nossas asas. Mesmo não sendo o ponto central da
educação de filhos, limites são absolutamente
necessários. Crianças não têm critérios; em muitas e
muitas situações, elas não fazem a mínima ideia de
qual seria a melhor escolha a fazer. É claro que elas
precisam ser ensinadas a lidar com as suas próprias
escolhas e a tomar decisões, mas enquanto elas ainda
não sabem, é cruel deixá-las livres para agirem por si
mesmas.
Uma criança que dorme no berço não se tornará
um adulto que só dorme com grades ao lado da sua
cama. Todavia, ela estará segura para não cair e se
machucar enquanto ainda não tem habilidade
suficiente para se manter sobre o colchão durante
uma noite inteira de sono.

Se você apostasse uma corrida em um terraço sem


paredes de um prédio de vinte andares, você correria
com todas as suas forças, tranquila e cheia de
vontade de vencer? Com certeza não. Você correria
pensando mais no momento certo de parar para não
despencar lá de cima do que focada em alcançar o seu
potencial máximo de velocidade. Um limite, quando
bem aplicado, não sinaliza falta de graça, mas amor e
proteção. Limite não é o antônimo de liberdade; a
escravidão é. Por isso, não podemos pensar que
limite é escravidão. De fato, escravidão não combina
com relacionamento entre pais e filhos. Escravidão
não combina com amor. É perfeitamente possível
você estabelecer limites sem ser autoritária,
carrasca, manipuladora e punitiva. É por isso que
precisamos de sabedoria e amor.

COMUNICANDO LIMITES

Provérbios 31.26
A mulher de Provérbios 31 tem muito a nos ensinar.
Ela fazia o que era preciso ser feito. O versículo 26
nos mostra o modo como ela se relacionava com seus
filhos. Não era na brutalidade e rispidez, mas com
sabedoria e amor.
Existem algumas coisas que precisamos saber
quando se trata de estabelecer limites dentro do seu
lar:

1. Existem limites negociáveis e limites


inegociáveis.

Alguns valores dentro do seu lar precisam ser


absolutos. Em contrapartida, para muitas outras
coisas, podemos ser flexíveis. Se você quiser
estabelecer regras e limites para tudo, você mesma
vai se perder sobre o que estabeleceu. Quando os pais
fazem regras demais, os filhos não as cumprem,
porque ninguém consegue se lembrar de todas elas,
às vezes nem os próprios pais.

Desafio você a pegar um papel e escrever quais são


os valores inegociáveis dentro do seu lar. Se nem
você mesma sabe, não espere que seus filhos saibam
e respeitem isso. Valores inegociáveis vão
estabelecer limites inegociáveis. Por exemplo, um
dos valores inegociáveis na minha família é o
respeito. Se em algum momento meus filhos me
desrespeitarem ou desrespeitarem alguém, eles
saberão que ultrapassaram um limite que nunca
pode ser quebrado. É importante esclarecer aqui que
eles também são ensinados que respeitar não é
sempre concordar ou deixar com que os outros
façam o que quiserem.
Outro limite inegociável é a honra aos pais. Meus
filhos sabem e sempre saberão o quanto a desonra
não será tolerada por nós.
Limites de valores inegociáveis não mudam e
permanecem sempre. Mas esses não são os únicos
limites necessários dentro do lar. Às vezes,
precisamos estabelecer limites pontuais, que não são
vitalícios, mas nem por isso menos importantes.

Existem coisas que podem e devem ser mudadas


com o tempo ou dependendo da situação. Por
exemplo, se você tem um filho de três anos na sua
casa, é importante que ele saiba que não deve pegar
as facas da gaveta da cozinha. Entretanto, isso não
será um problema daqui a quinze anos. Um limite
completamente necessário hoje pode ser
perfeitamente descartável daqui alguns anos. Na
medida que as crianças crescem, o que se espera é
justamente que os limites diminuam.

Outro exemplo: talvez seus filhos saibam que não


devem assistir à TV pela manhã, mas um dia, por
determinado motivo, seu filho quer muito assistir a
um programa que seus amigos comentaram. Não
haverá reprises, e você achou o seu argumento
realmente coerente. Não seja tão dura a ponto de
amar mais os limites do que o relacionamento com
seu filho. Se realmente ele tem um bom motivo para
abrir uma exceção, a programação é especial e aquilo
não atrapalhará em nada os valores inegociáveis
dentro do seu lar, por que não permitir isso naquele
dia? Você não será desqualificada do título de mãe do
ano por causa dessa flexibilidade na rotina do seu
filho.
Ter sabedoria é justamente saber a maneira de
agir em cada situação.

2. Combinados podem ser muito úteis.

Digo para minhas alunas que limites são um


conjunto de regras e combinados. Regras sempre são
inegociáveis para aquele momento. Combinados
mudam de acordo com as situações.

Combinados são estipulados em conjunto com a


criança e faz com que ela seja mais colaborativa para
cumprir. Quando você faz combinados com a
criança, você a prepara para que ela saiba lidar
melhor com as limitações que ela vai encontrar.

Se você combinou com seu filho que ele vai assistir


apenas a um desenho, e depois ele mesmo vai
desligar ou, caso contrário, no outro dia ele não
assistirá a nenhum outro, ele vai reagir muito
melhor para desligar a televisão ao término do
desenho do que se você apenas tomasse o controle da
sua mão.

Se vai ao parquinho e leva duas sacolas de


brinquedos já combinando com seu filho que uma ele
emprestará para seu vizinho caso o encontre ali, será
muito mais fácil de a criança compartilhar seus
brinquedos do que se nada tivesse sido combinado.
Fazer combinados não é ser permissiva. Com
certeza, a mulher de Provérbios 31 fazia muitos e
muitos combinados.

3. Regras e limites devem ser claramente


comunicados ao seu filho.

Você deve ter conhecimento do texto de Efésios 6.4,


que diz para os pais não irritarem seus filhos. Não
tenho dúvidas de que uma das maneiras mais
frequentes que pais irritam os filhos é os
repreendendo por eles quebrarem regras que eles
desconheciam.

Se você já foi punida por fazer algo que não fazia a


mínima ideia de que não podia fazer, você sabe do
que eu estou falando.

Esteja sempre certa de que seus filhos saibam as


regras da sua casa. E faça isso em momentos
oportunos. Não adianta você tentar comunicar
limites quando seu filho está chorando, bravo ou no
meio de uma crise de birra. Também não adianta
fazer isso quando seu filho está no mundo da lua.

4. Limites não são superproteção e manipulação.

Precisamos educar nossos filhos para que eles saibam


viver na nossa ausência, e eu sei o quanto isso pode
ser difícil.

Uma vez eu assisti a um vídeo encantador de dois


irmãos tentando subir na cama elástica. O irmão
mais velho fazia de tudo para subir a irmãzinha, que
não tinha altura suficiente para entrar sozinha. Mas
o “grande” irmão mais velho não era tão grande
assim, o que tornou o vídeo muito bonitinho.
Quando eu terminei de assistir, fiquei pensando
que eu nunca aguentaria ser a mãe que filmou os seus
filhos; eu certamente iria largar o meu celular e
correr para ajudá-los. Os dois poderiam cair e se
machucar. Porém, aquela mãe só registrou a cena de
cumplicidade e generosidade entre seus filhos
porque deu espaço para que eles pudessem agir
assim.
Confesso que aquele vídeo me mudou como mãe.
Fiquei pensando quantas vezes, pela minha
superproteção, eu talvez tenha poupado meus filhos
de brincar e de viver. Precisamos buscar um
equilíbrio para que nossos filhos tenham a liberdade
que precisam para aprender e se desenvolver. Como
a famosa reflexão nos ensina, navios ficarão mais
seguros se permanecerem no porto, mas não foi para
isso que eles foram criados.

Na Criação Bíbliacompatível, confiamos que Deus


está guardando nossos filhos em todo tempo, mas
também sabemos que estabelecer limites é uma
expressão de graça e amor.
Hebreus 12.5,6
Posso quase afirmar que você adquiriu este livro com
muita vontade de abrir neste capítulo e começar
direto por esta página. Se assim você fez, eu quero
encorajá-la a voltar até o primeiro capítulo e ler tudo
aquilo que construímos até agora. Uma Criação
Bíbliacompatível vai muito além da correção do
comportamento das crianças. Não deixei este
capítulo nesta parte do livro por acaso. Mas se você já
percorreu todo o caminho que trilhei, vamos
avançar.
Não existe criação de filhos à luz da Bíblia sem
disciplina. A Bíblia é clara em dizer que o Senhor nos
disciplina devido ao seu amor, e essa deve ser
exatamente a nossa razão. Quem ama seu filho não
abre mão de fazer o que for preciso para aperfeiçoá-
lo e encorajá-lo.
No próximo capítulo, falaremos de questões mais
práticas, porém existem alguns princípios bíblicos
relacionados à disciplina que precisam estar bem
claros antes de falarmos dela própria. Vou chamá-los
de fundamentos da disciplina.

1. Disciplinar os filhos não é uma opção; é uma


responsabilidade dos pais.
Provérbios 13.24 – NAA
Quem ama disciplina desde cedo (mais para frente
voltarei a abordar sobre a vara).
Muitas mães me relatam que se sentem acusadas e
condenadas por precisarem corrigir seus filhos.
Alguns pais quase pedem desculpas por precisarem
fazer isso. Outros buscam inúmeras ferramentas da
disciplina x ou y para nunca executarem uma ação
que possa deixar a criança sentir o desconforto de
uma correção.
Avalie comigo: ninguém gosta de ser corrigido e
confrontado. Mesmo que saibamos que uma
exortação é para o nosso próprio bem, isso nos traz
desconforto. Esse é um sentimento esperado e
normal. Precisamos lidar com o fato de que as
crianças não receberão nossa disciplina com festa,
beijos e abraços imediatos. Mas também precisamos
lidar com o fato de que não fazemos só o que nossos
filhos querem; fazemos o que eles precisam.
Deus não apenas nos aconselha a criar nossos
filhos, mas ordena aos pais que eles os disciplinem. É
uma questão de fé, obediência e sabedoria.

2. Filiação e medo não podem andar juntos.


Romanos 8.15
Por muito tempo, bons pais significavam pais
severos e temíveis, enquanto pais amorosos e
pacientes eram sinônimos de permissividade e
fraqueza. No meio cristão, foi propagada a triste
ideia de que pais precisam educar seus filhos à base
de tapas e dureza. Entretanto, quando olhamos para
a Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, vemos o quanto
esse não era o relacionamento que Deus desejou
construir com seus filhos. Então por que nós
deveríamos agir assim dentro do nosso lar? Esse
texto de Romanos revela o perfil de Pai que nosso
Deus conquistou na cruz. Ele nos adota como filhos e
nos ensina a chamá-lo de “Aba Pai”.
Já estive em Israel por duas vezes e observei o
quanto é comum as crianças chamarem os seus pais
de “Aba”. Essa não é uma expressão arcaica e
distante, mas realmente uma palavra usada para um
relacionamento íntimo e amoroso entre um filho e
seu pai. Poderíamos traduzir como “meu papai
querido”.
Observando esse texto bíblico, vemos que Deus
não nos adota para termos medo e nos sentirmos
escravizados, mas para sermos amados. Filiação e
medo não combinam.
Precisamos nos relacionar com nossos filhos de tal
maneira que eles saibam o quanto são amados. Seu
filho não pode ter medo de você, mas precisa ter a
segurança de poder contar com você sempre que
precisar e em todas as situações.
3. Crianças precisam aprender a obedecer.

Hebreus 5.8
Com certeza, o recorde de queixas que eu recebo é
sobre desobediência. A maioria das mães não sabe
lidar com o fato de que as crianças precisam
aprender a obedecer.
Algumas acham que isso é desnecessário, que
basta que a criança seja colaborativa e saiba respeitar
seus pais como fazem com qualquer outra pessoa.
Essa é uma grande tacada do Diabo para levantar
uma geração de pessoas que não sabem obedecer a
Deus e muito menos entendem sobre o princípio da
autoridade. Se elas não souberem lidar com
comandos e ordens dos seus pais, como esperar que
elas saibam ouvir direções e obedecer ao Senhor? Se
elas nunca forem ensinadas sobre a autoridade dos
pais, como entenderão sobre a autoridade de Deus?
É claro que também é importante que a criança
desenvolva certa autonomia e é indispensável
ensiná-la a tomar decisões. Ainda falaremos mais
sobre isso, mas como já disse, crianças não têm
critérios sobre muitas coisas; é imprudente e tolo
deixá-las decidir como bem entendem.

Além disso, outras mães também não sabem lidar


com o fato de que a obediência precisa ser aprendida.
Crianças não nascem com a habilidade de obedecer,
tampouco aprendem na primeira vez que
ensinamos. A Bíblia diz que Jesus precisou aprender
a obedecer; por que nossos filhos não precisariam,
não é?
Crianças precisam aprender a obedecer (e muitas
outras coisas), e a aprendizagem é consolidada com
muita repetição. É como uma trilha no meio de uma
mata nativa. A primeira vez que alguém desbrava
aquele caminho é muito desafiador, mas à medida
que outras pessoas vão passando por aquele rastro, o
percurso vai ficando cada vez mais fácil, e o
caminho, mais nítido. É por isso que a Bíblia ensina
os filhos sobre a obediência, a perseverarmos no
ensino, a não desistirmos nem nos cansarmos.

Efésios 6.1

Gálatas 6.9 – NAA


O quarto fundamento que eu vou expor talvez seja
uma das verdades mais importantes deste livro. Não
se assuste com o título e leia atentamente até o fim.
Lembre-se de que nosso ensino é completamente
bíblico e o alvo da Criação Bíbliacompatível sempre
será Jesus.

4. A conexão de amor deve estar acima da


obediência.

Essa é uma afirmação que assusta e choca os cristãos.


Temos a tendência de colocar a obediência no maior
patamar das nossas exigências. De maneira
nenhuma quero minimizar a importância da
obediência, por isso falei do quanto ela é importante.
Contudo, quero fazer você pensar se realmente a
obediência é a chave mais preciosa que uma mãe
pode ter. A melhor maneira de fazer você refletir
sobre isso é meditando no seu relacionamento com
Deus. Antes de você ser mãe, você é filha, e sempre
precisa se lembrar disso. Nos próximos parágrafos,
vou levá-la a uma reflexão profunda que, por um
instante, pode parecer que nada tem a ver com a
educação do seu filho, contudo, por favor, continue
atentamente. No momento certo, farei as ligações
necessárias para que você compreenda aonde quero
chegar.
Se você está lendo este livro, é porque crê na
Palavra de Deus. Você sabe que deve obedecer às
direções que o Senhor nos dá e o quanto precisa
sempre fazer o que é certo, santo e puro. Eu também
sei que, assim como eu, você muitas vezes erra o
alvo. A palavra pecado no original grego é ,
que significa . Você sabe o quanto precisa
acertar, mas você erra.
Dentro desse contexto, quero que você me
responda: o que é mais importante no seu
relacionamento com Deus? Você acertar sempre ou
você saber o quanto é amada mesmo quando falha?
Não podemos viver com um medo constante de
errar. Pessoas que têm medo de errar acabam
errando muito mais.
Suponhamos que você esteja andando por cima de
uma viga estreita, mas ela está grudada no chão.
Garanto que você se equilibra tranquilamente
porque não há grandes problemas em sair da rota.
Mas se você precisasse andar sobre essa mesma viga a
50 metros de altura, sem nenhum equipamento de
segurança, você certamente se desequilibraria em
alguns passos.

A Bíblia revela o quanto nós somos amadas mesmo


quando somos falhas. Deus nunca poderia se
relacionar com um homem pecador, mas pela sua
maravilhosa e poderosa graça estabeleceu um plano
para que nós pudéssemos relacionar com ele em paz,
mesmo sabendo que nós ainda pecamos.

Efésios 2.4,5
A graça de Deus se revelou a nós justamente
quando não merecíamos seu amor. Andávamos
seguindo as inclinações da nossa carne, estávamos
inundados pela lama do pecado. Todavia, Deus, que é
rico em misericórdia, fez algo para mudar o nosso
destino. Sem nenhum merecimento, apenas crendo
na obra poderosa de Jesus, temos acesso a Deus.

A Bíblia nos garante que esse plano foi perfeito e


completo a ponto de não depender da nossa
performance, mas puramente daquilo que Jesus já
fez na cruz. Quando eu falho, posso correr para o
Senhor e não preciso me esconder dele.

A maior arma do Diabo para paralisar o crente é


trabalhando na sua mente, fazendo-o acreditar que
quando ele falha, não é mais amado ou querido por
Deus. Muitas pessoas são salvas, porém não
conseguem desfrutar da paz que Jesus nos promete
por causa das acusações do Diabo.

Quando desenvolvi meu curso de criação de filhos


à luz da Bíblia, escolhi o nome
justamente por perceber o quanto podemos aplicar a
graça de Deus na nossa maternidade. E para a glória
de Deus, tenho recebido inúmeros testemunhos de
mães (e pais) que tiveram esse entendimento
espiritual que mudou completamente a visão e o lar
deles.

Em Isaías 54, vemos que Deus jurou algo. Deus por


acaso precisaria jurar algo? Ele não precisa, ele é a
verdade e não tem necessidade de provar nada para
ninguém! Apesar disso, ele assim fez para enfatizar
seu compromisso com o que estava dizendo.

Isaías 54.9
A palavra no original, não fala de
disciplina e correção, mas de reprovação e
condenação. Deus faz questão de jurar que, por meio
da Sua aliança, nunca mais seríamos reprovados. Ele
quis garantir que teríamos paz mesmo quando nós
falhássemos. Hoje, quando olhamos para o arco-íris
no céu, podemos nos lembrar desse juramento e
saber que não existiu apenas uma aliança com Noé,
mas uma nova aliança foi feita na cruz e estamos
incluídos nela.

Em Hebreus, existe uma promessa para nós.

Hebreus 4.16
Quando recebemos Jesus, tornamo-nos filhos de
Deus e podemos nos aproximar do trono dele com
toda confiança. Ou seja, não precisamos nos
aproximar de Deus com medo ou intimidados.
Tampouco precisamos ser 100% perfeitos para
desfrutarmos de um relacionamento com ele. Além
disso, existe algo que me emociona absurdamente.
Em Apocalipse 4.3, vemos que, em volta do trono de
Deus, está um arco-íris. Uau! Deus coloca um
lembrete da sua aliança em torno do seu trono, um
lembrete de que o amor dele sobre nós não depende
da nossa performance. Um sinal visível para termos
segurança e livre acesso ao seu trono.

Com todas essas verdades expostas, volto a lhe


perguntar: o que é mais importante? Você acertar o
tempo todo ou saber o quanto é amada mesmo
quando falha? E quando se trata do seu
relacionamento com seu filho? O que é mais
importante? Ele acertar o tempo todo ou ter a
absoluta certeza de que é amado mesmo quando erra
ou desobedece? Quando você constrói uma conexão
de amor com seu filho, você garante que ele sempre
lutará pela segurança desse relacionamento. Não
importa quantos anos seu filho tenha, o fato de ele
saber o quanto é amado sempre vai pesar em seu
coração durante as suas decisões e escolhas.

Mais importante do que seu filho acertar sempre é


ele saber que pode correr para o seu colo quando
errar. Comecei este tópico falando que a obediência
não é a chave mais preciosa que você terá em suas
mãos, pois certamente não existe chave mais
preciosa que o coração do seu filho conectado ao seu.
Essa chave abrirá portas para todo ensino e
instrução.

Na Criação Bíbliacompatível, sabemos que a


disciplina é um ato de amor e obediência a Deus.
Contudo, também sabemos que o resultado da
disciplina nunca pode ser uma desconexão de amor e
medo, porém a criança precisa ter a certeza de que
está sendo amada, instruída e cuidada.

DESAFIO
Neste momento, em especial, eu proponho um
desafio para você. Faça um “Jantar do Amor”
para seu filho. Prepare seu prato e sobremesa
favoritos, coloque algumas fotos de vocês, recorte
corações e prepare uma surpresa.
Diga para seu filho que você preparou esse
jantar especial para mostrar o quanto ele é
amado. Após o jantar, faça um lava-pés com seu
filho, assim como Jesus fez com seus discípulos
em João 13. Talvez seja um momento de pedir
perdão e de deixar o Espírito Santo reconstruir
todo vínculo que já tenha sido perdido.
Expresse o quanto você o ama mesmo quando
ele falha e que sempre o amará. Aproveite para
dizer que é exatamente assim que Jesus se
relaciona conosco.
Efésios 6.4 – ARA
Toda mãe cristã já se sentiu em crise sobre questões
relacionadas à disciplina. Coloco de castigo? Tiro o
? Deixo no cantinho do pensamento? Uso a
vara? Falo firme? Falo calma? Demonstro que estou
triste? Mostro indiferença? Mostro que me importo?
Quebro o brinquedo no meio? Faço limpar? Mando
pedir desculpas? Mando dar abraço no amiguinho?
Obrigo a compartilhar o brinquedo? Furo a bola?
Lavo a boca com sabão?
Já falamos sobre vários princípios bíblicos
essenciais. Nessa altura, você já precisa estar
convencida de que educar filhos é muito mais do que
uma lista de regras que as crianças podem ou não
cumprir. Mas o que exatamente é a disciplina? A
palavra “disciplina” vem do latim e significa
“instrução, conhecimento e matéria a ser ensinada”.
Ela deriva da palavra que quer dizer
“aquele que aprende”, ou seja, o aluno. Depois, ela
assumiu o significado de manutenção de ordem.
Muitas pessoas leem a palavra como um
sinônimo de agressão física. Precisamos fazer a
dissociação disso e entender o que ela realmente
significa. Por isso, neste capítulo, iremos para o
original bíblico avaliar todas as faces dessa questão
tão importante.
Neste momento, farei uma exposição de uma série
de versículos. Eu sei que o que você queria mesmo
era um método de cinco passos para seu filho não lhe
desobedecer mais ou uma receita com cinco
ingredientes para seu filho ser definitivamente
controlado e educado. Talvez você ficasse muito feliz
com a leitura, mas depois se frustraria comigo,
porque simplesmente isso não existe. Educar filhos
não é uma questão de métodos, receitas e passos
milagrosos, mas de princípios, relacionamento e
construção. Além disso, o meu grande alvo neste
livro não é falar de mim mesma ou lhe apresentar
um novo método miraculoso. Meu objetivo é
desvendar seus olhos espirituais para as verdades da
Palavra de Deus.

De acordo com o Dicionário Bíblico Strong, que


enumera as palavras das Escrituras e traz um
significado mais próximo ao original, vemos
algumas palavras que foram traduzidas como
. Vamos compreendê-las:

PAIDEIA
Essa é a palavra bíblica que mais se relaciona com as
crianças e que mais é usada dentro do contexto da
educação de filhos. É a palavra que está presente nos
seguintes textos:
vossos filhos à ira
disciplina [ ]

Efésios 6.4 – ARA – Acréscimo da autora


disciplina [ ]

Hebreus 12.7 – Acréscimo da autora


Nesse texto de Hebreus, a palavra “disciplinado”
aparece como um verbo de : é a palavra ,
que significa “treinar crianças, instruir, levar
alguém a aprender, corrigir com palavras”.

Portanto, de início já percebemos que disciplinar


uma criança não significa bater nela e conduzi-la na
base de ameaças e bofetadas. Disciplinar não é ser
truculenta e carrasca, mas é realmente nos importar
e guiar as crianças para que elas recebam a
aprendizagem que é necessária.
Contudo, precisamos ser cuidadosas para que não
confundamos as coisas. A palavra também
aparece neste outro texto, revelando que nem
sempre a disciplina é algo momentaneamente
acompanhada de uma explosão de alegria e conforto.
Em alguns momentos, ela não se apresentará como
um motivo de alegria, mas terá bons resultados:
disciplina [ ]

Hebreus 12.11 – Acréscimo da autora


Os métodos de criação deste mundo argumentam
que, diante de uma correção, a criança nunca deve se
sentir triste ou abatida. Quero deixar muito claro
que não estou dizendo sobre humilhações e
constrangimentos. Mas na Criação
Bíbliacompatível, precisamos lidar com o fato de
que, muitas vezes, as crianças se sentirão tristes ao
serem disciplinadas. A questão é que a disciplina
correta e bem aplicada produzirá frutos de justiça e
de paz. É exatamente o que apóstolo Paulo diz:
não produz remorso, mas
sim

2 Coríntios 7.10
Não podemos comparar a tristeza da disciplina
orientada por Deus com a tristeza do mundo, que
leva à morte. Algumas vezes, no processo de ensino e
correção dos nossos filhos, eles se sentirão tristes e
desapontados, porém, de maneira alguma isso
significa que tomamos uma atitude errada ou
prejudicial para a criança. O fato de a minha filha ter
surtado quando perdeu o salgadinho não significa
que eu deveria ter deixado ela comer todo o pacote
antes do almoço; aquilo não faria bem a ela.

Você não pode permitir que seu filho dê um chute


na canela do vizinho só porque ele perdeu o jogo. Por
mais que seu filho fique completamente triste, ele
precisa aprender a lidar com as derrotas. Além disso,
a frustração é essencial para o desenvolvimento da
criança. Elas precisam saber que nem sempre terão o
que desejam ou precisam.

HUPOTAGE
Essa palavra aparece uma única vez.
criando os
disciplina
1 Timóteo 3.4 – ARA
O contexto desse versículo é uma instrução para
bispos e diáconos. A Bíblia diz que um homem de
Deus precisa ser irrepreensível, esposo de uma única
mulher, controlado, sóbrio, modesto, apto para
ensinar, e a lista continua com outras características.
O que quero destacar são duas coisas. Primeiro, “que
governe bem a própria casa, criando os filhos sob
disciplina”. Essa palavra “disciplina” no original é
. Ela significa “ato de sujeitar, obediência e
sujeição”. É a mesma palavra que Paulo usa em 1
Timóteo 2.11, quando diz que a mulher deve se
submeter.
Acrescentamos aqui mais um importante aspecto
da disciplina bíblica: nossos filhos devem se
submeter a nós. A submissão das crianças é
justamente o contrário de deixá-las viver sem
receber comandos. A criação deste mundo ensina
que não devemos dar ordens aos filhos, apenas fazer
pedidos com cordialidade. Porém, esse aspecto sob a
perspectiva bíblica da disciplina nos revela que é
preciso existir ordem e submissão. Muitas vezes, será
apropriado, e até oportuno, fazermos pedidos
(falarei sobre isso na sequência), mas isso não
significa que comandos são maléficos e
desnecessários. Crianças precisam aprender a
dominar as suas vontades, e isso deve ser ensinado e
aperfeiçoado no processo e no treinamento da
submissão.
A segunda coisa que quero destacar é sobre o
respeito. Quando Paulo diz sobre governar bem a sua
casa, ele finaliza dizendo que precisamos fazer isso
com todo o respeito, algo completamente essencial
para a harmonia do lar. Entretanto, quero enfatizar:
o respeito é para todos. Não apenas os pais precisam
ser respeitados, mas os filhos também. Muitas
guerras são travadas dentro do nosso lar por conta da
falta de respeito dos adultos pelas crianças.

Um dia, eu fui almoçar fora e levei o tênis que


calçaria na minha filha para levá-la à escola após o
almoço. Ela quis ir de sandália, e eu permiti, sob a
condição de que depois trocaríamos de calçado.
Quando eu fui colocar o tênis, ela me questionou:
“Mas, mamãe, você não trouxe a palmilha; ele
machuca!”. Volte nessa frase e leia com a entonação
de uma criança bem frustrada e chorosa. Nesse
momento, eu poderia dizer: “Filha, você quis vir de
sandália, não invente moda; enfie esse tênis e vamos
logo, sem reclamar!”. Pronto, começaria a guerra. Eu
percebi o pavio encurtando e me lembrei de que
precisaria manter o meu respeito. Se eu tivesse feito
a mesma coisa com uma amiga, será que eu falaria de
forma grosseira com ela? Será que eu diria: “Já fiz
um favor pra você, não reclama!”? Com certeza não.
Eu respondi: “Filha, me perdoe, realmente está sem
palmilhas. A mamãe errou e as deixou no varal. Você
me perdoa?”. O semblante dela mudou, e ela me
disse imediatamente: “Ah, mamãe, acontece, ainda
bem que você trouxe essas meinhas. Está tudo
certo!”. Isso acontece sempre? Não! Mas a chance de
as coisas se resolverem quando existe respeito de
ambos os lados é imensamente maior.
Talvez, pessoas com pensamentos mais severos,
ao verem a cena, possam pensar que isso é ser mole
demais. Eu penso que é sabedoria. Prefiro edificar
meu lar com respeito e manter a conexão do coração
da minha filha junto ao meu.

MÛCAR
Essa é a palavra que mais aparece na Bíblia para
expressar disciplina. Ela é mencionada exatamente
cinquenta vezes. Também aparece traduzida no
português como “instrução, ensino, repreensão ou
castigo”. É a palavra original nos versículos mais
famosos sobre o assunto:
disciplina [mûcar]

Provérbios 3.11,12 – Acréscimo da autora


disciplina [mûcar]

Provérbios 12.1 – Acréscimo da autora

disciplina [mûcar]
Provérbios 13.24 – ARA – Acréscimo da
autora
disciplina [mûcar],
Provérbios 22.15 – ARA – Acréscimo da
autora
disciplina [mûcar]

Provérbios 23.13 – ARA – Acréscimo da


autora
Na sua essência, a palavra hebraica significa
disciplina, correção e castigo. É essa palavra que está
relacionada à polêmica “vara”. Ela nos revela que,
além de instrução e ensino, a disciplina muitas vezes
envolve correção e, se for preciso, o castigo. Observe
que não falei de punição isolada por causa de um
erro. Algumas pessoas ensinam que crianças
precisam ser punidas quando falham, mesmo que
haja arrependimento genuíno; não é esse o caso.
é exatamente a palavra usada em Isaías 53
quando a Bíblia diz que o “castigo que nos traz a paz
estava sobre ele”. Porém, isso não significa que
nunca mais precisaremos aplicar o na educação
das crianças.
O texto de Provérbios 22.15 nos dá uma chave
muito especial: a estultícia está ligada ao coração da
criança, mas a vara da disciplina a afastará dela.
Realmente, não existe um só texto que nos ensina a
castigar uma criança por conta de um erro do seu
comportamento. Entretanto, vemos a necessidade
de afastar a estultícia do seu coração.
Aqui, veremos duas relações importantes. A
primeira é que, com toda certeza, a disciplina bíblica
abrange significados que vão muito além da vara.
Contudo, a vara na Bíblia está diretamente
relacionada à “disciplina ”. Além das duas
palavras que já vimos, vemos outras três:
(Provérbios 1.23), que significa “repreensão e
argumento”, (Deuteronômio 8.5), que significa
“instrução e admoestação”, e (2 Samuel 7.14),
que significa “reprovação”.
A palavra “disciplina”, quando é usada na
orientação aos pais para o uso da vara, não é a
“disciplina ” nem a “disciplina ”.
Também não está ligada à “disciplina ” nem à
“disciplina Yacar”. E para finalizar, não se relaciona
com a “disciplina Yakach”, pois embora esta última
se pareça com o uso da vara, trata-se de quando ela é
usada por Deus. Apesar de todas essas palavras
traduzidas para o português como “disciplina” se
aplicarem perfeitamente à educação de filhos, não
podemos negar que a orientação bíblica do uso da
vara está relacionada ao aspecto de disciplina .

Encaixando todas essas informações, podemos


concluir que disciplina não se restringe apenas à
vara. Porém, não podemos negar que a vara aparece
relacionada à palavra hebraica que mais expressa a
correção e o castigo.
A palavra no original é , que literalmente
se tratava do “bordão do pastor”, ou seja, do
apetrecho que ele usava para conduzir as ovelhas.
Muitos argumentam que essa palavra apenas é um
símbolo de autoridade e não se trata de uma
aplicação física sobre a criança. Essas pessoas
defendem que, na Bíblia, disciplina é apenas
instrução, correção e ensino.

Historicamente, sabemos que os pastores


cuidavam das ovelhas com muito cuidado, zelo e
amor, mas se fosse necessário, eles usavam o
para trazê-las de volta à rota.
Como acabamos de avaliar, a “vara” se relaciona
diretamente à palavra no original bíblico que mais
relaciona a disciplina com o castigo.
Finalmente, vemos em alguns textos a vara sendo
apresentada adicionalmente à correção verbal, como
é o caso de Provérbios 29.15, ou relacionada a uma
ação física, como em Provérbios 23.13.
A segunda relação importante é que a vara aparece
para corrigir o , e não o errado.
A Bíblia diz que a vara afasta a estultícia do coração
da criança. Aqui, dedicarei um tópico especial e
retornaremos posteriormente com a conclusão da
vara. (Por favor, não pare por aqui, porque senão
terá conclusões erradas.)

ESTULTÍCIA DO CORAÇÃO
Neste ponto, podemos unir todo o ensino da
disciplina com o que já vimos nos capítulos
anteriores. O centro da nossa vida é o nosso coração.
Provérbios 4.23 – ARA
Quando estamos diante de um mal
comportamento dos nossos filhos, sempre
precisamos avaliar o que está em seu coração. Você
se lembra de que não basta arrancarmos os frutos se
não mudarmos a raiz? Isso se aplicará em todos os
comportamentos. A pressa, o cansaço e a distração
muitas vezes nos atrapalham de investigar o coração
dos nossos filhos. Quero fazer você pensar o quanto
perdemos oportunidades de formar o caráter dos
nossos filhos quando deixamos de fazer os ajustes
necessários em seu próprio coração.

É realmente muito difícil lidar com os erros do seu


filho se você não conseguir avaliar e perceber o que
está por trás de cada ação. Contudo, é revolucionário
descobrir isso e tratarmos pontualmente a
motivação que deu origem àquela atitude.
Danny Silk, em seu livro ,
compartilha uma história do autor Steven Covey que
marcou meu coração. Ele conta que certo dia, ao
retornar do trabalho de metrô, estava muito cansado
e tudo o que queria era descansar até chegar em sua
casa. Mas em certa estação surgiu um homem com
quatro filhos. Eles estavam bem agitados, correndo
de um lado a outro, não paravam nenhum segundo e
azucrinavam a todos. Ele lembra que ficou muito
incomodado, principalmente com a passividade
daquele pai, que parecia não se importar e não
tomava nenhuma providência para manter a ordem
do vagão. Steven não se conformou e foi falar com
aquele homem, tamanha era sua indignação.
Quando o pai levantou seus olhos, ele pediu perdão,
dizendo: “Desculpe-me! Estamos voltando do
hospital! A mãe deles acabou de falecer. Eu acho que
eles não estão sabendo lidar com isso!”. Naquele
momento, o autor conta que toda sua revolta se
transformou em compaixão e ele mesmo se propôs a
ajudar com as crianças.
Quando pudermos investigar o coração dos nossos
filhos e descortinarmos as razões por trás dos
comportamentos, certamente saberemos lidar muito
melhor com as situações.
Crianças têm necessidades especiais que, quando
não atendidas, podem ser reveladas por
comportamentos desafiadores. Às vezes, seu filho
está gritando sem limites porque está clamando pela
sua atenção. Às vezes, ele está agindo com violência
ou brutalidade porque quer se sentir notado. Às
vezes, sua filha anda fazendo muitas e muitas
bagunças na tentativa de se sentir útil e se sentir
pertencente. Porém, biblicamente falando, em
alguns momentos será a estultícia reinando em sua
natureza pecaminosa.
A palavra estultícia significa insensatez.
Entretanto, ela não se apresenta na Bíblia apenas
como imaturidade da criança, mas se revela como a
loucura e tolice ligadas ao pecado. Vemos em
Provérbios 24.9 que os desígnios do insensato é o
pecado. Perceba que é pecado no singular; não fala
dos frutos do pecado, mas da natureza do pecador.
Muitas vezes, perceberemos a criança obstinada
em seu pecado, com o coração inclinado para sua
rebeldia e maldade. Como, por exemplo, quando a
criança se coloca com uma postura afrontosa e diz:
“Você não manda em mim!”. Nesse momento, elas
precisam ser conduzidas para que sejam livres de
toda estultícia do seu coração. Não podemos tratar
um “eu empurrei ele mesmo porque eu quis
machucá-lo” do mesmo jeito que trataríamos um
empurrão fruto de um impulso e calor do momento.
Eduque seu filho para que ele seja sempre
conduzido ao arrependimento e perceba o quanto ele
precisa de Jesus. Mas creio que não podemos perder
o governo do nosso lar durante esse processo.
Vemos um grupo de pessoas que idolatra o uso da
vara, coloca a vara no trono da educação do seu filho,
roubando toda a glória da ação do Espírito Santo na
sua transformação. Não penso que o uso da vara é
uma obrigatoriedade para todos os pais.

Entristeço-me em ver cristãos levantando a


bandeira de que não existe educação de filhos sem
punição física. Gostaria de vê-los defendendo a
poderosa obra da cruz tanto quanto defendem o uso
da vara. Além disso, muitos pais fazem o uso da
correção física para extravasar a sua própria raiva e
frustração.
Em contrapartida, não podemos demonizar o uso
da vara. Todos os grandes teólogos que esmiuçaram
o assunto concordam com o fato de que existe o
ensino bíblico e que nada tem a ver com a crueldade
dos pais.

Eu creio que esse é um assunto que Espírito Santo


concluirá em seu coração. Mas finalizo convidando-a
a avaliar dois textos de 1 Coríntios:

1 Coríntios 4.20,21 – ARA


A palavra “poder” no original é , que
significa poder, força e habilidade. É exatamente o
que precisamos para manter o espírito de mansidão.
1 Coríntios 12.31 – ACF
Existem recursos humanos que podem ser usados.
Porém, precisamos crer que existe um caminho mais
excelente, que é o amor , o amor de Deus. Na
cultura do reino de Deus, nada é mais importante do
que um relacionamento de amor.

João 14.15 – ARA


Lembre-se sempre de algo: quando seu filho
menos merece graça, é quando ele mais precisa.

ENSINE SEU FILHO A AMAR A


DISCIPLINA
Vimos que disciplina também envolve instrução,
ensino e conselho. Gostaria de finalizar esse assunto
fazendo você crescer em sabedoria nesse aspecto. Na
verdade, poderia escrever um livro apenas sobre esse
último tema. Mas vou expor ao seu coração o que eu
julgo ser mais importante.
Costumo assimilar a imagem de disciplina com o
fato de pegarmos nas mãos dos nossos filhos e
conduzi-los pelo caminho correto. Perceba que é o
oposto de feri-lo porque ele cometeu um erro.

No primeiro versículo de Provérbios 12, vemos que


quem ama a disciplina ama o conhecimento. Você
crescerá em autoridade no seu lar quando seu filho
entender que é responsável pelas suas próprias
ações, precisar lidar com elas e encontrar em você
um conselho sábio. Um dos nossos objetivos precisa
ser levar as crianças a quererem ouvir o que temos a
dizer e a amarem a nossa instrução.

Quanto mais as crianças crescerem, menor poder


físico nós teremos sobre elas. Em contrapartida, é
esperado que tenhamos mais influência. Se
assumirmos todas as decisões das crianças e as
deixarmos apenas viver dependendo das nossas
ordens ou restrições, não desenvolveremos nelas
crianças a capacidade de lidar com o peso das suas
ações.

Aconselho muitos pais que perderam o coração


dos seus filhos quando eles se tornaram
relativamente independentes e pouco se
importavam com as consequências dos seus atos.

Mas, na prática, como podemos trabalhar esses


aspectos da disciplina nos nossos filhos?

1. Não assuma todas as suas responsabilidades.

Nós mães nunca queremos que nossos filhos sejam


lesados. Por conta disso, sempre damos um jeito de
arrumar “a bagunça” que a criança criou. Se ela
esquece de pedir para comprar a cartolina que
precisava levar na escola, no outro dia você se atrasa
no trabalho, mas leva, porque ela não pode perder a
nota. Se ela não organiza os livros que o seu pai
pediu, você corre para fazer por ela, porque sabe que
ela, vai acabar sendo penalizada. Se ela não quer
vestir a blusa, você leva o casaco e coloca sobre ela no
primeiro ventinho. Claro que somos protetoras e
cuidadoras, porém, inúmeras vezes, será necessário
permitir consequências para que seu filho aprenda a
escutar a sua instrução ou ser aperfeiçoado naquela
área. Você não precisa deixar seu filho congelar nem
pegar um resfriado, mas talvez você possa aguardar
cinco minutos para entregar a sua jaqueta no carro.
2. Cuidado com recompensas e punições.

Não eduque seu filho para que ele aja apenas


pensando em ganhar algo ou com medo do castigo.
Gosto de usar o exemplo do burrinho de carga. Para
que ele ande mais rápido, ele precisa de algumas
chicotadas no seu traseiro. Ele também se motiva a
sair do lugar quando anda em busca da cenourinha
que na verdade está fixada por meio de uma haste a
alguns metros de seus olhos. Na verdade, o burrinho
anda por conta das chicotadas e da cenourinha; não
faz a mínima ideia para onde está indo e por que saiu
do lugar.

Você não quer criar um burrinho, não é? Você não


quer que seu filho aja cordialmente apenas para
ganhar uma estrelinha. E quando a estrelinha não
vier mais? Qual será sua motivação? Também não
quer que ele apenas se mova com medo do castigo.
Recompensas e castigos proporcionais e bem
pensados podem ser válidos, mas não podem guiar a
educação do seu filho.

3. Faça com que ele deseje ouvir sua voz.

Provérbios 1.8,9
No seu dia a dia, tome o cuidado de agir com
maturidade e demonstrar sabedoria e segurança.
Nada como filhos que desejam ouvir o que seus pais
têm a dizer.
Há alguns meses, minha filha encontrou um
pacote de guloseimas. Ela me pediu para comer uma,
e eu deixei. Depois, ela pediu para comer mais uma,
eu disse que era só mais aquela. Alguns minutos
depois, ela apareceu implorando para que eu desse só
mais uma. Ela prometeu que, dessa vez, seria a
última (já viu essa cena?). Na terceira vez, eu disse
que não iria decidir mais por ela. Ela tinha apenas
quatro anos, mas eu percebi que ela já tinha
condições de ser ensinada sobre aquela escolha:
“Filha, não vou decidir mais por você; mamãe já
disse que isso faz mal à sua saúde, não faz bem comer
isso agora. Estou cuidando da sua saúde, agora você
escolhe!”. Ela ficou insistindo que quem deveria
falar se ela poderia ou não comer era eu: “Não,
mamãe, eu não, você me diz, posso? Posso? Posso?
Posso?”. Eu continuei dizendo que ela precisaria
escolher. Claro que se ela pegasse as gomas de
minhoca e “fizesse a festa” eu precisaria intervir,
mas não foi o que aconteceu. Ela não comeu, mas
continuou implorando pelo meu conselho. Eu
finalmente disse: “Então eu vou lhe dizer: você não
deve comer mais, vai lhe fazer mal”. Ela me
agradeceu, guardou o pacote e foi brincar.
Relacione-se com seu filho de maneira que o seu
conselho seja como enfeite para sua cabeça e adorno
para seu pescoço.

4. Transforme castigos em condução das


escolhas.
Existe uma pequena mudança de abordagem que
potencializa muito a maneira como a criança pensa
sobre suas ações e recebe suas consequências.
Em vez de avisá-la sobre o castigo que ela terá,
deixe claro qual será a consequência de cada escolha.
Parece a mesma coisa, porém não é. Os resultados da
diferença de abordagem são gritantes.
Vou lhe dar mais um exemplo. Minha filha ficou
brava por um motivo e jogou todos os lápis do seu
estojo no chão. Educadamente, eu pedi que ela
guardasse os lápis. Ela estava muito brava com
outras coisas e recusou. Em vez de dizer: “Filha, se
você não guardar os lápis eu vou deixar você de
castigo; guarde esses lápis agora!”, eu pensei e expus
a consequência de cada ação e pedi para ela escolher:
“Filha, você escolhe ajudar a mamãe a guardar os
lápis ou você escolhe que eu mesma os guarde no
estojo e leve de presente para a vizinha?”. Perceba
que é diferente de eu dizer: “Se você não guardar, eu
vou dar o estojo para a vizinha!”. Nos dois casos, eu
daria o estojo para a vizinha (e se ela não guardasse,
eu realmente precisaria cumprir com a minha
palavra), mas em uma abordagem seria fruto da
própria escolha dela e na outra seria uma punição.

Em uma situação como essa, quando agimos


meramente por ameaças e ordens, fazemos com que
a criança fique ainda mais brava. A realidade é que
ninguém gosta de ser dominado. Se ela entende seu
comando como uma ordem absoluta, sem escolhas,
ela bloqueará, e a situação ficará ainda pior. Mas
quando a conduzimos para escolher dentro de uma
opção limitada, ela é obrigada a pensar, o que
fisiologicamente é uma ajuda para que seu cérebro
mantenha o equilíbrio das suas emoções. Fazendo
isso, tiramos o cérebro da criança do “modo lutar” e
ativamos o “modo pensar”.

Sei que as situações são inúmeras. Nem sempre


saberemos o que dizer automaticamente.
Precisaremos respirar fundo, avaliar a situação e
pensar. Provérbios 13.16 diz que o sábio pensa antes
de agir. Por isso, devemos orar para crescer em
sabedoria. A Palavra de Deus nos garante que
podemos orar por isso, então ore.

Tiago 1.5

A TRANSFORMAÇÃO MAIS
IMPORTANTE DO CORAÇÃO

Ezequiel 36.26,27
Quero enfatizar que precisamos sempre manter o
foco no nosso maior alvo: conduzir os nossos filhos
para Jesus. A profecia de Ezequiel aponta para uma
transformação genuína do coração. Acho precioso o
fato de Deus registrar em sua Palavra que, quando a
natureza do nosso coração é mudada, o próprio
Espírito nos leva a agir de acordo com a sua vontade.
Vemos isso em mais um texto:

Hebreus 10.16
Mamãe, você sabe como ninguém que melhor do
que obrigar uma “pessoinha” a comer beterraba
seria se você pudesse abrir o cérebro dela e colocar
dentro da “gaveta das vontades” o desejo profundo
de comer beterraba. Fazer com que seu filho acorde
apaixonado pelas deliciosas verduras roxinhas seria
muito mais fácil do que ficar obrigando seu filho a
comê-las com aquela cara de quem está comendo
uma sujeira nojenta.
A Bíblia revela que Deus fez uma nova aliança na
cruz superior às leis que ele havia dado. As leis eram
perfeitas, mas nós não éramos. No entanto, por meio
do sangue de Jesus, não apenas somos obrigados a
fazer o que é certo, mas agora o Espírito Santo tem o
poder de transformar genuinamente os desejos do
nosso coração. Por isso, embora ter filhos bem-
educados não seja o nosso alvo final, nada será tão
poderoso para torná-los respeitosos e moralmente
bons quanto à cruz.
A melhor maneira de ensinar a criança sobre sua
necessidade de salvação é mostrar-lhe o quanto ela
precisa de um Salvador. Costumo dizer que essa é a
grande essência da Maternidade Bíblica. Além do
ensino claro sobre Cristo, fazemos isso
transformando as falhas identificadas em
oportunidades para apontar o Evangelho ao seu
filho.
Uma pessoa nunca deseja se apropriar de um
remédio caro se considerar que não precisa dele.
Muitas pessoas desprezam o Evangelho porque o
conhecem apenas como algo bonito que promete
uma vida com mais conforto e alegria. Sentem-se
felizes com a sua própria vida e não veem a
necessidade de tomar “o estilo de vida” de um cristão
para si. Sim, é dessa maneira que o Evangelho é visto
por muitos. Ah, se essas pessoas percebessem o
quanto precisamos da conquista da cruz!

Um dia, ouvi do meu pastor uma ilustração


apropriadíssima e quero compartilhar com você.
Vemos cristãos apresentando Jesus para as
pessoas como uma mochila revolucionária que é
distribuída pela aeromoça no momento do voo.
“Você precisa vestir essa mochila. Com ela, seu voo
será muito mais tranquilo e feliz!” O passageiro
recebe com gratidão, veste a mochila, porém logo
percebe que a viagem não ficou tão mais feliz e
tranquila assim, pelo contrário, às vezes é muito
desconfortável permanecer com aquela mochila nas
costas. Logo, esse passageiro vai desistir da ideia e se
livrar do seu presente.
Agora, imagine uma segunda situação. A
aeromoça se dirige ao passageiro e diz: “Senhor,
sinto lhe informar, mas nosso avião vai cair, o
combustível está acabando e a cada segundo que
passa, estamos mais perto de espatifar no chão.
Contudo, eu tenho uma mochila com um paraquedas
que pode mudar seu destino. Daqui a alguns
instantes, vamos abrir a porta, e você pode saltar do
avião! Você deseja vestir a mochila com o
paraquedas?”. Eu tenho certeza de que esse
passageiro se agarraria à mochila com todas as suas
forças. Ele pouco se importaria com o desconforto,
afinal de contas, ele sabe que estar vestindo a
mochila é muito mais importante, aliás, é vital.
Seu filho não pode reduzir a poderosa obra da cruz
a algo que apenas torna sua vida mais legal. Ele
precisa saber o quanto ele carece do que Jesus
conquistou. Você não quer conduzir seu filho apenas
para que ele seja uma pessoa religiosa ou que tenha
um bom “estilo de vida crente”. Seu filho precisa
saber que ele está em um avião que está caindo,
entretanto ele tem o paraquedas!
Quando seu filho errar, mesmo você tendo dado
outra direção para ele, mostre-lhe o quanto ele
precisa da ação de Jesus em seu coração. Se depois de
você pedir para o menino não chegar perto da
sobremesa que estava gelando você encontrar
algumas marcas bem típicas de um dedinho que não
conseguiu esperar, chame seu filho e aproveite a
oportunidade. “Filho, mamãe disse para você não
chegar perto da sobremesa. Eu sei que você sabe que
precisa me obedecer, mas você viu como muitas
vezes é difícil obedecer? É por causa do pecado, por
isso que você precisa de Jesus. Algumas vezes, isso
também acontece comigo e com o papai; é por isso
que nós também precisamos. Agora, vamos orar
pedindo perdão e agradecendo a Jesus por ter
morrido na cruz por nossos pecados! Vamos orar
para que Jesus transforme seu coração? Da próxima
vez você vai vencer isso, em nome de Jesus!”

Talvez você esteja pensando: “Mas meu filho só


tem dois anos, ele ainda não vai entender”. Mesmo
que ele não entenda tudo, ele precisa ser ensinado
para aprender. Nunca pense que é cedo demais.

UM CUIDADO ESSENCIAL
Quero terminar abordando um cuidado importante
que une questões práticas da disciplina com a
condução dos nossos filhos ao Evangelho. Quando
vamos disciplinar nossos filhos, nunca devemos
questionar a sua identidade de filho amado de Deus.
Corrigir nossos filhos questionando sua salvação ou
o amor de Deus é imitar a estratégia favorita do
Diabo. Nosso inimigo nunca gosta de nos trazer à
lembrança do quanto somos amados por Deus. Ele
sabe o potencial disso.

Vemos que, quando o Diabo foi tentar Jesus, ele


questionou se ele era mesmo filho de Deus.
Lucas 4.3 – ACF
Como assim, “se tu és”? Jesus tinha acabado de ser
batizado e ouvido uma voz do céu que dizia: “Esse é
meu filho amado, em quem me comprazo”.
Entretanto, o Diabo questiona se é filho e omite a
palavra “amado”! Essa é a maneira do Diabo de nos
paralisar, questionando nossa identidade. Tenha
sempre o cuidado de nunca questionar a identidade
do seu filho por conta de um mau comportamento.
Mostre para ele que aquele comportamento não
combina com sua identidade, mas nunca sugerindo
que a identidade foi alterada. Por exemplo, diante de
uma mentira, não questione seu filho: “De quem
você é filho, hein? Você sabe quem é o pai da
mentira?”, mas reafirme: “Você é filho amado de
Deus, isso não combina com você!”.

Mamãe, cuidado com suas palavras. Além do


poder criativo que suas palavras têm de maneira
sobrenatural, rotular seu filho não apenas é uma
profecia proferida pelos seus lábios, mas uma
semente de dúvida lançada em seu coração. Mesmo
que minha filha em um momento desobedeça, eu
nunca a chamo de desobediente, eu reafirmo sua
identidade: “Filha, isso não foi legal, não combina
com você, você é obediente!”. Desde muito cedo
entendi isso e comecei a me comunicar com ela
assim. Lembro-me que um dia, no calor do
momento, eu a repreendi dizendo: “Como você é
desobediente!”. Ela imediatamente me respondeu:
“Eu não sou desobediente, eu sou obediente”. Eu
pedi perdão e disse a ela que era exatamente isso.

A maneira como damos valor e importância às


pessoas afeta diretamente a maneira como elas se
portam. Não fale apenas o que você vê. Fale do que
você crê. O maior inimigo da nossa visão é a nossa
vista. Temos a visão de ver nossos filhos rendidos a
Jesus. Não se apegue ao que você está vendo com
seus olhos naturais. Não questione seus filhos sobre
o que talvez eles mesmos já duvidem. Seja
instrumento do Céu para combater as sugestões do
Diabo, e não para apoiá-las.

2 Coríntios 5.7

Na Criação Bíbliacompatível, temos sempre em


mente que, embora a disciplina trabalhe com
comportamentos, ela não foca apenas no que é
externo, entretanto trabalha para que o íntimo do
coração da criança seja resgatado pelo Salvador,
resultando em verdadeira transformação,
amadurecimento e clareza de sua identidade.
1 Coríntios 2.14-16 – ACF
Você já deve ter percebido o quanto as coisas deste
mundo têm o poder de atrair os olhares, atenção e
encantar as pessoas. É um enorme erro acharmos
que o nosso inimigo sempre se apresentará de
maneira nitidamente maligna e assustadora.
Quando falamos de disciplina de filhos,
abordamos a realidade de que algumas vezes nossa
correção poderá gerar desconforto nos nossos
próprios filhos. Porém, quero lembrá-la de que isso
também acontecerá conosco muitas e muitas vezes.

Mentoreando milhares de mães, alegro-me


demais e me emociono em ver o quanto a mensagem
pregada tem o poder de transformar lares e
relacionamentos. Entretanto, também percebo o
quanto gero certo desconforto em muitos corações.
Faço questão de abordar esse assunto com você
porque quero que você seja uma mulher de Deus que
saiba discernir o que vem dele e o que não vem.
Já vimos em outro momento que a Bíblia nos fala
sobre o “homem natural”. Agora, quero enfatizar o
fato de que também existe a “mãe natural”, e você
não pode ser uma delas.
A mãe natural enxerga sua maternidade e tudo
relacionado à educação de filhos sem o auxílio do
Espírito Santo. O ensino bíblico, o que nomeei neste
livro como Criação Bíbliacompatível, lhe parece uma
piada ou, o que a Bíblia mesmo diz no texto que
lemos, lhe parece loucura.
Nada disso me assusta. Já recebi inúmeros ataques
de pessoas contra meu ensino (que não é meu, é
bíblico). E por muitas vezes me ajoelhei, jejuei o orei
para que o Senhor tirasse todas as escamas dos meus
olhos e eu tivesse revelação sobre sua Palavra. Nesse
processo, percebi que a “mãe natural” precisa ser o
alvo do meu amor e da mensagem do Evangelho, mas
não da minha instrução e ensino sobre educação de
filhos. Enquanto elas não deixarem de ser “naturais”
e se tornarem “espirituais”, elas jamais receberão
bem o que a Bíblia ensina nos demais aspectos. Quem
tem o poder de nos convencer e nos ensinar é o
próprio Espírito Santo, e como o texto de 1 Coríntios
2 nos diz, elas não podem entender porque são
discernidas espiritualmente.

Charles Spurgeon
Que bela frase desse homem conhecido como “o
príncipe dos pregadores”, um dos maiores
evangelistas do século 19. Algumas vezes, essa
citação me manteve focada. Deus amou o mundo, e
por um aspecto, precisamos amá-lo também. Porém,
isso não significa que amaremos o seu ensino,
percepções e posturas. Não acredito que precisamos
gerar inimizades desnecessárias, mas acredito que
precisamos nos posicionar para que as influências do
mundo não distraiam nossas convicções.

Em contrapartida, a Bíblia nos diz que o homem


espiritual discerne bem todas as coisas. Aplicando
nesse contexto, podemos dizer que a “mãe
espiritual” terá discernimento, não porque ela é
inteligentíssima, nem porque leu o meu livro, mas
porque tem a mente de Cristo, que é o que diz o
versículo 16, que lemos no início deste capítulo.

Romanos 12.2
Se você já recebeu Jesus como seu Senhor e
Salvador, crendo que ele se entregou na cruz pelos
seus pecados, resgatando-nos e nos dando vida, você
tem o Espírito e apenas precisa renovar a sua mente a
cada dia com a Palavra de Deus para que possa
parecer cada vez mais com ele. A Palavra de Deus é
como água que enche um copo sujo: quanto mais
água ele recebe, mais limpo ele vai se tornando, até
que a água que transborda se torna cristalina.

Se esse não é o seu caso e você nunca entregou sua


vida a Jesus, convido-a a ir agora para o fim deste
capítulo e, em voz alta, orar com fé a oração de
entrega que escrevi para você. Quero conduzir
aquelas que chegarem aqui com o desejo de se render
a Jesus. Convido-a a ouvir uma mensagem que você
pode acessar por meio do QR Code anexo à oração.
(Não se esqueça de voltar aqui e retomar a leitura,
ok?)

Agora, quero alertá-la sobre quatro venenos


contra a Criação Bíbliacompatível que podem se
apresentar como grandes apoiadores e amigos.
Ninguém é envenenado por outra pessoa de maneira
consciente, por isso desejo que você seja uma mãe
espiritual que saiba identificá-los. Quero esclarecer
por que precisamos nos manter cuidadosas e focadas
contra eles.

1. HUMANISMO
O humanismo foi um movimento intelectual
iniciado no século 15 com o Renascimento e foi
difundido por todo o mundo, começando na Europa.
Até então, existia uma forte influência da Igreja e do
pensamento religioso sobre a civilização. Esse
movimento se inicia e muda a mentalidade
centralizada em Deus, o que chamamos de
teocentrismo, para uma mentalidade que considera
o homem como o centro de tudo, que é o
antropocentrismo. Foi uma mudança tão grande,
que marcou a transição entre a Idade Média e a Idade
Moderna. Em linhas gerais, o humanismo é a
ideologia que valoriza o ser humano e a condição
humana acima de tudo. Ele luta para expressar o
quanto o homem por si mesmo tem condições de ser
generoso, amigável, bondoso, entre outros
atributos, sem a interferência de Deus ou da religião.

Mamãe, cuidado com metodologias que você vê


por aí. Existem ensinos que estão cada vez mais
populares, com muitas ferramentas atrativas e
interessantes, porém a sua essência é
completamente humanista. Vemos “belos” livros
que pregam uma educação respeitosa focados
completamente no homem. Também vemos um
batalhão de defensores argumentando a favor de
metodologias x e y com unhas e dentes. Existem
ferramentas interessantes e informações científicas
que até podem ser úteis no seu dia a dia. Mas tenha o
cuidado de não colocar o método acima da Bíblia
nem da poderosa obra do Espírito Santo. Não
coloque sua confiança nisso.
2. JUSTIÇA PRÓPRIA
Acredito que esse seja o maior veneno contra o
crente. Como já disse, o Diabo é suficientemente
perspicaz para não paralisar o cristão usando apenas
ferramentas claramente demoníacas. Ele tem se
aproveitado da justiça própria para paralisar muitos
de nós.

Talvez hoje você já tenha se aprofundado em Deus


o suficiente para não deixar pecados mundanos
contaminar mais o seu lar. Palavrões, xingamentos e
brutalidade não são mais um problema para você.
Mas existe algo que tem um potencial gigantesco de
estagnar os crentes e de cegá-los sem que eles
percebam: é justamente quando o homem confia na
força do seu próprio braço.

Posso dizer que a justiça própria é uma espécie de


“humanismo religioso”. Também posso dizer que é
um gigante que precisaremos combater em toda
nossa caminhada cristã. Temos uma tendência
enorme de achar que as coisas acontecem porque
estamos fazendo algo e nos esquecemos de que
devemos sempre depender de Deus.

Vemos o quanto Jesus foi abençoador por onde ele


passou. Ele sempre proferia uma palavra de bênção e
frutificação. Porém, a Bíblia registra um único
momento em que ele proferiu uma palavra
amaldiçoadora.
Mateus 21.19 – ACF
Por que Jesus amaldiçoou a figueira? Por que a
Bíblia registra esse fato no livro de Mateus e repete
em Marcos? Porque a figueira aponta para a justiça
própria.
Quando Adão e Eva pecaram, vemos em Gênesis
que eles perceberam que estavam nus. Eles perderam
o revestimento da Glória de Deus e se sentiram
envergonhados. Para tentar resolver o problema de
sua nudez, eles pegaram algumas folhas e se
cobriram com ela. Adivinhe de qual árvore eles
arrancaram essas folhas?

Gênesis 3.7 – ACF


Costuraram roupas com folhas de figueira. Não
podemos achar que esse detalhe está ali à toa. Já
foram catalogadas mais de 1300 árvores frutíferas no
mundo (eu achei uma afirmação assustadora, não
conseguiria listar mais de cinquenta frutas!). Com
certeza, no Jardim do Éden estavam cada uma delas,
mas Adão e Eva tentaram encobrir o seu pecado
justamente com as folhas de figueira.

A figueira simboliza o esforço humano para tentar


se livrar do pecado. Mas vemos no versículo 21 que
Deus faz roupas da pele de um animal para vestir
Adão e sua mulher. Nunca haverá perdão dos
pecados sem derramamento de sangue, como diz
Hebreus 9.21. Mesmo que a Bíblia não diga, muitos
estudiosos bíblicos concluem que esse animal com
certeza foi um cordeiro. Uau! Algo completamente
profético e que apontava para Jesus.

Talvez você esteja bem atenta para não deixar


ideologias humanistas conduzirem seu lar. Mas
também não caia no erro de pensar que seu filho vai
ser um grande homem de Deus porque você vai fazer
o que for preciso. Sua atitude e postura certamente é
importante, mas esteja sempre com o seu coração
certo de que você é apenas um instrumento de Deus,
e se ele não mover no coração do seu filho, todo seu
esforço será inútil.

3. IRA
Existem muitas pessoas que acham que todo
caminho de paciência e amor é permissividade. Já
abordamos aqui o suficiente para que você entenda a
importância de manter-se conectada
emocionalmente ao seu filho, porém eu não poderia
excluir a ira da lista desses venenos.

Em meus cursos, eu ensino que, em alguns


momentos, precisamos ser firmes, mas em outros,
nossas palavras duras podem ter o potencial de um
combustível lançado contra as chamas. É
exatamente o que a Bíblia nos alerta quando diz que a
resposta branda desvia o furor. Entretanto, sempre
aparecem comentários debochados exaltando a
braveza dos pais na criação dos seus filhos, como se
isso fosse algo respaldado pelo Senhor. Sei que a
Bíblia diz que podemos nos irar sem pecar, mas ela
também nos diz em Tiago 1.20 que a ira do homem
não produz a justiça de Deus. Com certeza, agir
motivado pela ira não é uma boa ideia. Ela poderá
surtir algum efeito, mas tenha a certeza absoluta de
que será apenas externo, e não em seu coração.

4. IMEDIATISMO
O imediatismo na maternidade é o sentimento mais
antagônico que existe. As mães desejam viver o
agora, mas com as conquistas do futuro ou morrendo
de saudades do que já não podem viver. Realmente
precisamos viver intensamente os momentos; o que
você vive agora não vai mais se repetir, porém isso
não significa que tudo precisa acontecer e se resolver
já.

“Não vejo a hora de o meu filho aprender a dormir


sozinho!” “Quando essa criança vai aprender a tomar
banho sem minha ajuda?” “Eu já ensinei e ele não
fez!”

“Eu já não expliquei quais são as regras?”


“Quantas vezes vou precisar falar sobre isso?”

Muitas, muitas e muitas vezes! Por falar em


imediatismo, respire fundo agora e repita três vezes:
educar filhos é um processo!
Tudo
Eclesiastes 3.1,2 – ACF
A infância do seu filho é tempo de plantar o que
você quer colher e de arrancar o que veio de “bônus”
com o pecado de Adão. É a estação mais dinâmica da
sua vida. O fato de você estar na direção certa não
significa que você não vai ter conflitos, que seu filho
vai aprender tudo de primeira e que você não vai
errar. Nossos filhos estão em construção; além disso,
nós também estamos. Por mais que você tenha
clareza sobre o que fazer, existirão coisas próprias e
peculiares de cada criança e existirão dias em que
você estará mais paciente ou mais irritada.

Uma aluna um dia me disse o quanto estava sendo


difícil educar seu segundo filho. Ela fazia a mesma
coisa com o seu primogênito, e ele reagia de maneira
completamente diferente. “Eu falava de uma forma,
e meu filho mais velho me compreendia com
tranquilidade. Hoje, se falo a mesma coisa e da
mesma maneira com o meu caçula, ele chora por
uma hora seguida.” O que a fiz refletir é que
relacionamentos são assim. Ninguém é igual a
ninguém, e todo mundo está aprendendo. Filhos não
são robôs de lotes diferentes.

Muitas alunas também me questionam sobre


comportamentos bem próprios de crianças
pequenas, querendo instrução de como mudá-los.
Querida, não coloque uma caixa cheia de
instrumentos perigosos na frente do seu filho de dois
anos esperando que ele não mexa porque você disse
para ele não mexer. Se é perigoso para ele manipular
aquelas coisas, não complique sua vida, tire aquilo
dali. Sim, seu filho precisa aprender, mas enquanto
não tem condições de aprender, facilite as coisas;
você não precisa provar nada para ninguém. Você
pode ensiná-lo sobre obediência e honra sem
precisar expor seu filho a uma situação como essa.
Mamãe, tenha paciência com seu filho. No
entanto, também tenha paciência com você mesma e
com os processos. Saber respeitar os processos é
oposto ao imediatismo. A educação do seu filho não
acontecerá de uma hora para outra. Lembre-se
sempre de que flecha pronta não dá em árvore! Saiba
esperar! E, mais do que isso, espere no Senhor.

Isaías 40.31

Na Criação Bíbliacompatível, lutamos contra toda


justiça própria e somos completamente dependentes
da obra do Espírito Santo, rejeitando toda ideologia
que coloque o homem no centro ou que desrespeite o
tempo e o modo que Deus estabeleceu.
ORAÇÃO DE ENTREGA
Senhor Jesus, hoje eu reconheço que sou falha e
pecadora. Mas eu creio que Jesus decidiu me
resgatar e se entregou numa cruz pelo perdão dos
meus pecados. Eu creio que Jesus é meu Salvador,
que ele assumiu o meu lugar e morreu, mas
ressuscitou no terceiro dia. Eu convido Jesus para
ser o meu Senhor e entrego minha vida e minha
família a ele. Escreva meu nome no Livro da Vida.
Em nome de Jesus, amém.

1 “Oh, believe me, Christians are not so much in danger when they are
persecuted as when they are admired.” Disponível em: SPURGEON,
Charles. Spurgeon’s Sermons Volume 1: 1855. Michigan: Christian
Classics Ethereal Library, 2010. Disponível em:
https://ccel.org/ccel/spurgeon/sermons01/sermons01. Acesso em: 23
ago. 2023.
nquanto eu escrevia este livro, Deus abriu
meus olhos para dois povos da Bíblia. Senti
fortemente em meu coração que existe uma
unção relacionada a eles totalmente
aplicáveis e úteis para nós mães.
Quando falamos de unção, referimo-nos a um
poder específico de Deus liberado para um propósito.
Ninguém receberá poder de Deus apenas para se
sentir poderoso, mas porque ele deseja nos mover e
capacitar de maneira sobrenatural.

Isaías 61.1 – ACF


“O Senhor me ungiu para…” Nesse texto, vemos
que a unção sempre acompanha um propósito. E
quero levá-la a crer que existe uma unção para sua
maternidade também.
Talvez você ache pretensioso pensar que possa
existir uma unção para algo relativamente comum,
como para educar um filho. Entretanto, avalie
comigo.
O primeiro registro de alguém sendo cheio do
Espírito na Bíblia não foi na unção de um grande
profeta ou pregador; também não foi na unção de um
grande rei, tampouco foi na unção de um grande
guerreiro.
Êxodo 31.2-5 – NAA
O primeiro relato de uma pessoa sendo cheia pelo
Espírito foi de um artesão chamado Bezalel, para que
ele pudesse esculpir utensílios do tabernáculo. O
texto diz que Deus deu espírito de habilidade, de
inteligência e de conhecimento em todo artifício
para que ele pudesse fazer o que era preciso.
Você tem alguma dúvida de que Deus também
quer enchê-la com seu Espírito, com unção de
habilidade, inteligência e conhecimento em toda
obra (que é sinônimo de artifício no texto original),
para que você possa ser usada por ele para lapidar o
coração do seu filho?

UNÇÃO DE BENJAMIM

1 Crônicas 12.2 – ARA


Começamos este livro meditando no fato de que
filhos são flechas, e nós somos as guerreiras. A
Palavra de Deus revela que os da tribo de Benjamim
eram habilidosos para usar o arco tanto com a mão
direita quanto com a mão esquerda. Penso que existe
uma unção de Benjamim para todos os guerreiros
escolhidos pelo Senhor.
Essa unção nos capacita para lidarmos com os
aspectos espirituais e naturais. A mão direita aponta
para a ação sobrenatural de Deus, a mão esquerda,
para nossas habilidades. Sabemos que até aquilo que
parece nosso foi-nos dado pelo Senhor, porém
também vimos a importância de sabermos lidar com
coisas espirituais somadas às naturais. Em nome de
Jesus, eu declaro que a unção de Benjamim será
derramada sobre sua maternidade.

UNÇÃO DE ZADOQUE

Ezequiel 44.23 – ARA


Deus, um dia, dá uma longa visão ao profeta
Ezequiel. Em um momento, ele repreende a nação de
Israel por práticas repugnantes em um período
rebelde.
Ezequiel 47.7,8 demonstra o quanto o Senhor
estava reprovando o fato de os levitas levarem
pessoas não consagradas para o seu santuário. Eles
permitiram que pessoas não apropriadas se
envolvessem com o que era santo. Fizeram uma
mistura intolerável ao Senhor.

No entanto, no versículo 15 vemos que


determinada linhagem dos levitas, os descendentes
de Zadoque, foram fiéis e executaram os seus deveres
sem permitir que outras pessoas se envolvessem
nisso. E é para esse povo que Deus promete que eles
seriam levantados para ensinar a diferença do que é
santo com o que é profano, do imundo e do puro.

Por causa disso, os descendentes de Zadoque


seriam os únicos que poderiam se aproximar da mesa
do Senhor no santuário (Ezequiel 44.16). A mesa
aponta para intimidade e relacionamento.

Mamãe, eu creio em uma unção poderosa para que


você saiba discernir entre o que é santo e o que é
profano. Em nome de Jesus, declaro que essa unção
de Zadoque estará sobre sua vida para que você saiba
discernir o que é apropriado e o que não é para que a
educação dos seus filhos seja bíblica e sem misturas.
Assim, você e sua família desfrutarão do prazer da
intimidade com o Senhor. Além de tudo isso, no
versículo 11 e 12 do capítulo 48, a Bíblia revela que
para os filhos de Zadoque existe uma herança
especial. Existe algo poderoso demais aqui. Zadoque
significa “justo”.

Para os filhos do justo haverá uma herança


especial. Lembre-se de que alguém não é considerado
justo por Deus porque é perfeito, mas porque Jesus é
a sua justiça e pagou toda dívida na cruz. Hoje eu
posso me apropriar de uma herança especial para
minha família não porque sou perfeita ou porque
agora saberia lidar com a situação da birra da minha
filha, mas porque creio que estou em Cristo.
Romanos 4.3 – NAA
Uma Criação Bíbliacompatível busca sabedoria
sobre aspectos naturais e fisiológicos, contudo
também sabe que precisa lidar com aspectos
espirituais. Sabe discernir o que é puro do que é
impuro. Sabe que precisará trabalhar com limites,
da necessidade da disciplina e da importância
incontestável do amor no processo da lapidação pelo
qual seu filho passará. Mas a Criação
Bíbliacompatível também crê em uma unção do alto,
porque sabe que nossa herança não será fruto do
nosso próprio esforço, mas daquilo que Jesus, que é a
nossa justiça, já fez.

Regue todas as suas sementes que forem lançadas


com a oração e creia que Deus faz o que você não
pode fazer. E guarde em seu coração cinco coisas que
falarei de mãe para mãe com muito carinho:

Lembre-se sempre de que, antes de você ser


mãe, você é filha amada. Deus sempre terá
um olhar de cuidado e carinho sobre você, e
não de julgamento, cobrança e condenação.
A sua tarefa como mãe não é um jugo a ser
carregado, é um privilégio a ser desfrutado.
Nada nunca poderá ser comparado a isso.
Você tem em mãos o superpoder de
transmitir paixões; seja cuidadosa com suas
prioridades e escolhas.
Cuidar do seu casamento é tão importante
quanto aplicar tudo o que falamos aqui. Esse é
o relacionamento mais importante da
estrutura da sua família.
É natural se cansar. Quando você estiver
cansada, não pense que está sendo ingrata ou
se desfazendo desse privilégio, apenas
descanse. Há tempo para todas as coisas.

Que Deus possa levantar você como uma mulher


que cuida do ambiente do seu lar, para que a Criação
Bíbliacompatível possa ser aplicada com sabedoria,
discernimento, graça e favor de Deus.
bsolutamente ninguém consegue gerar um
filho sozinho. Seja um homem, seja uma
mulher. Desde o início, Deus estabeleceu que
esse seria um trabalho que precisaria ser feito
em conjunto. Por mais que o desejo da
independência e da autossuficiência cresça a cada
dia, a natureza nunca nos mostrará algo diferente
disso. Para gerar uma vida, precisaremos de um
homem e de uma mulher.
Quando a Bíblia traz instruções relacionadas à
educação de filhos, sempre envolve homem e
mulher, o pai e a mãe, justamente porque esse
trabalho não se limita à reprodução e procriação. A
construção do caráter de uma criança precisa da
figura paterna e materna.
É inegável que a figura materna é muito mais viva
na vida de um filho nos seus primeiros anos. Quem o
carrega por nove meses? É a mãe. Quem o
amamenta? É a mãe. O pai parece uma figura
secundária e dispensável. E é aí que mora o perigo,
porque um pai precisa cumprir uma função notável,
preciosa e necessária que muitos não se dão conta.
Lembro-me de um dia em que minha esposa me
telefonou muito emocionada após pregar em uma
conferência de mulheres em São Luís, no Maranhão.
Como você percebeu neste livro, Deus a comissionou
para ensinar a educação de filhos com muita graça e
sabedoria. Nos últimos anos, ela tem sido
tremendamente usada para ministrar ao coração de
mães, e nesse dia não tinha sido diferente. Mas algo
muito especial aconteceu.
Quando minha esposa desceu do púlpito, uma
senhora, cheia de temor, foi até ela e entregou uma
palavra de conhecimento muito específica: “Deus
está me dizendo que você não usa o seu nome
correto; seu nome não é Tati. Eu não sei qual é seu
verdadeiro nome, mas o significado do seu nome
carrega a mensagem mais importante do seu
ministério”.
Ela desabou em lágrimas quando escutou isso. Ela
nunca gostou de ser chamada pelo seu nome
completo. Em todos os lugares, sempre se
apresentava como Tati (até mesmo em minha
aliança tínhamos gravado apenas “Tati”). Mas seu
nome é “Tatiane”. Ela sempre soube o significado
dele, mas nunca tinha visto de maneira espiritual.
Tatiane significa “a que pertence ao Pai”, e
justamente naquele dia o Espírito Santo a havia
direcionado para enfatizar a sua palavra para mães
dando foco na paternidade de Deus, e essa mensagem
veio para confirmar a importância dessa ênfase em
seu coração. Encontrarmos a paternidade de Deus é
crucial para experimentarmos o verdadeiro
evangelho e desfrutarmos da alegria de Deus em
nossa família.

Mesmo que todo o trabalho de uma mãe seja


admirável, essencial, lindo e único, nada é mais
preciso para revelar o caráter de Deus como o
amor de um pai.
No capítulo 5 deste livro, vimos sobre uma santa
obsessão de Deus para ter filhos. O tema central da
Bíblia é um Deus Santo, que estabeleceu um plano
para colocar a sua santidade nos homens,
transformando-os em seus filhos para que ele
pudesse transbordar o seu amor como Pai.
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus, a saber,
aos que creem no seu nome […].
João 1.12 – ARA
O desejo original de Deus era ter um
relacionamento de proximidade e de desfrute com
seus filhos. Quando o Criador formou Adão e Eva,
não os colocou em uma fábrica ou em uma prisão,
mas os colocou em um jardim, o Jardim do Éden.
“Éden” significa “prazer”. Seu nome revelava o seu
projeto: seria um lugar de alegria e intimidade.

Quando o pecado entrou no mundo, a


humanidade foi separada de sua glória e se
desconectou do seu maior propósito, que era
justamente conter a vida de Deus. E é por isso que, no
Novo Testamento, vemos um espírito de adoção
novamente nos capacitando para podermos chamar
o nosso Deus de Aba Pai.

Por muitos anos, esse grande desejo de Deus de ter


um relacionamento íntimo com seus filhos ficou
oculto. Ninguém o chamava de Pai. Talvez isso soe
estranho para nós, porque nascemos em uma cultura
em que, desde criança, somos ensinados sobre o
“Papai do céu”. Mas nem sempre foi assim.
Quando Jesus ensinou seus discípulos a orarem a
Deus, quebrou todos os paradigmas e formalidades e
iniciou dizendo “Pai nosso”.
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás
nos céus, santificado seja o teu nome […].
Mateus 6.9 – ARA
Você pode imaginar o tamanho espanto das
pessoas ao escutarem isso? “Pai”? Como podemos
chamar um Deus sublime, majestoso e todo-
poderoso de Pai? Era algo completamente
inesperado e desconhecido. Mas justamente Cristo
revela quem Deus é.
Porque não recebestes o espírito de escravidão,
para viverdes, outra vez, atemorizados, mas
recebestes o espírito de adoção, baseados no
qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos
de Deus. Ora, se somos filhos, somos também
herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com
Cristo; se com ele sofremos, também com ele
seremos glorificados.
Romanos 8.15-17 – ARA
Quando entendemos que passamos de “criaturas”
para “filhos”, nossa vida espiritual é mudada. Agora,
sabemos que temos uma nova identidade, posição,
direito e herança. A vida cristã envolve a nossa
adoção por um Deus que, pela sua Graça, decidiu ser
nosso Pai.

Mas por que estamos falando sobre isso em um


livro sobre educação de filhos? Justamente pelo que
já disse no início deste capítulo: nada é mais preciso
para revelar o caráter de Deus como o amor de um
pai.

O diabo nunca poderá alterar a paternidade de


Deus e o seu imenso amor por nós, então sua
maior luta nesta terra é mudar a visão do ser
humano sobre a paternidade.

UMA EXPRESSÃO DIVINA


Nosso Deus é tão perfeito para nos ensinar quanto o
seu professor de matemática da sua adolescência.
Talvez essa frase tenha soado completamente
incoerente para você, afinal de contas, o seu
professor de matemática era horrível, e você nunca
conseguiu entender as “equações polinomiais” e
muito menos “geometria analítica”. Entretanto,
você pode ter lido essa frase com muita empolgação,
lembrando-se do quanto seu professor era incrível,
criativo e sabia ensinar. Eu não sei como foi o seu
professor de matemática, mas uma coisa eu sei: se
por acaso você é um professor de matemática, sentiu
um frio na barriga. Imagine se a Bíblia realmente nos
trouxesse essa comparação. Todo professor de
matemática cristão teria de se empenhar muito para
exercer sua profissão com maestria, afinal, o nosso
Deus é perfeito para ensinar.

Não se preocupe. O Senhor nos ensina com muito


mais habilidade do que qualquer professor de
matemática, e essa comparação é puramente
invenção minha. Contudo, preciso lhe dizer: se você
é um pai, vocês têm muito em comum, e é inevitável
que, em algum momento, você carregue a
responsabilidade dessa comparação.

Ao longo dos anos de pastoreio, deparei-me


inúmeras vezes com pessoas que tinham muita
dificuldade de desfrutar da alegria de ser filho e
herdeiro de Deus, não por um problema em se
entregar para Cristo e recebê-lo como seu Salvador,
mas devido a uma imensa dificuldade em enxergar
Deus como Pai.

É inevitável: o relacionamento que construirmos


com nossos filhos servirá de base para o olhar que
eles terão a respeito de Deus. E é por isso que o maior
ataque do diabo contra as famílias se inicia em uma
paternidade comprometida e corrompida.
Em contrapartida, é por isso que um pai cheio do
Espírito Santo, de sabedoria e que provou da Graça
de Deus se posiciona para ser aperfeiçoado a cada dia
nessa missão que Deus lhe confiou.

VOCÊ NÃO É DEUS


E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do
Senhor, somos transformados, de glória em
glória, na sua própria imagem, como pelo
Senhor, o Espírito.
2 Coríntios 3.18 – ARA
Deus não espera que você seja perfeito. Até aqui, eu
lhe trouxe a responsabilidade e a importância do
nosso papel. Entretanto, meu objetivo com isso não é
que você se sinta incapaz, falho e condenado pelo que
não consegue fazer, mas quero justamente o
contrário: que você perceba a sua nobreza, privilégio
e a necessidade na sua casa e na vida dos seus filhos.
A Graça de Deus nos capacita a desfrutar de um
relacionamento com ele, e é essa mesma Graça que
nos suprirá em tudo o que Deus confiar a nós. Não
somos amados porque merecemos esse amor, mas
porque ele decidiu nos amar, mesmo quando éramos
pecadores. Não somos filhos porque ele precisava ser
adotado como Pai, mas porque ele decidiu nos amar
quando éramos órfãos. Não somos usados por Deus
porque somos o máximo, mas porque Deus nos
concede esse privilégio de sermos cooperadores dele.
E não seremos bons pais porque acertamos sempre,
mas porque conhecemos um Salvador que primeiro
nos resgatou e também resgatará os nossos filhos.

Portanto, não caia no erro de se paralisar olhando


para suas limitações e falhas, sentindo-se
desqualificado ou despreparado. A Bíblia não diz que
você será aperfeiçoado olhando para sua própria
imagem. E é por isso que quero terminar este
capítulo levando você a enxergar a verdadeira
imagem de quem Deus é, porque é segundo a imagem
dele que você será transformado.
Qual a sua imagem a respeito do seu Deus Pai?

O PAI PERFEITO
Antes de ser pai, você sempre foi filho. E é inevitável
que, em algum momento, você tenha conectado o
seu relacionamento com seu pai ao seu
relacionamento com Deus. Não sei como foi a sua
infância ou como é sua convivência com seu pai hoje.
O fato é que quem seu pai foi para você em algum
momento afetou a sua identidade e visão.

Quando eu era criança, senti bem o reflexo de uma


ausência paterna, não devido a um divórcio ou
abandono, mas pela profissão do meu pai. Ele
trabalhava na Marinha Mercante e viajava muito.
Em cada viagem, ficava de três a quatro meses fora.
Era uma época em que não existiam todas as
facilidades de comunicação, e o máximo que
conversávamos era através de telefonemas rápidos
bem esporádicos. Isso durou até meus onze anos.
Embora meu pai sempre tenha sido muito amoroso e
presente enquanto estávamos juntos, eu sentia na
pele o prejuízo da sua ausência. Sempre estava mais
calado, inseguro e intolerante; não precisava de
muito para me tirar do sério. Até hoje, eu guardo em
minha memória dois momentos: o de tristeza
extrema quando era o dia de sua partida e a alegria e
empolgação quando ele retornava. Era nítida a
mudança que eu experimentava com a presença do
meu pai.
Eu tive a graça de conhecer Jesus ainda pequeno e
sempre fui ensinado sobre o amor paterno de Deus. E
mesmo nesse contexto, eu podia me lembrar de que
meu Deus era sempre presente. Mas se esse não fosse
o caso, eu poderia ter associado a imagem do meu Pai
celestial como alguém que às vezes está distante e me
visita de tempos em tempos. Além disso, eu poderia
reproduzir o mesmo padrão dentro da minha
família, achando que já seria mais que suficiente
estar com meus filhos dois ou três dias na semana.

O fato é que, quando temos um encontro pessoal


com Deus Pai, encontramos o modelo ideal para nos
espelhar. Hoje você tem a chance de ter um olhar
correto sobre Deus. Ele não é um pai que está
distante e deixa você inseguro e desestabilizado;
também não é um pai severo e que não suporta suas
falhas; não é um pai que vem visitar você apenas de
vez em quando e muito menos que o abandonou. Ele
é um Pai perfeito.

UM PAI BOM E AMOROSO


Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom,
porque a sua misericórdia dura para sempre.
Salmos 136.1 – ARA
Bondade e misericórdia certamente me
seguirão todos os dias da minha vida; e
habitarei na Casa do Senhor para todo o
sempre.
Salmos 23.6 – ARA
Muitas pessoas cresceram com a imagem
completamente errada sobre Deus. Passaram seus
dias convivendo com o medo do castigo e da punição.
Diante dos erros da sua vida, sentiram-se ameaçados
com o que Deus poderia fazer ou até mesmo se
sentiram inseguros quanto à vontade de Deus. Você
precisa ter isto resolvido em seu coração: o seu Deus
é um Pai bom. Sua vontade é boa, perfeita e
agradável. Seu amor dura para sempre, e ele não se
alegra com o seu mal.
A Bíblia diz que a bondade e a fidelidade nos
acompanharão todos os dias da nossa vida. No
original, essa palavra, “acompanhar”, é a mesma
palavra de “caçar”. Ou seja, a bondade de Deus caça
os seus filhos. Muitos não desfrutam porque não têm
clareza disso e vivem rejeitando o favor de Deus e o
seu amor. Sentem-se inapropriados para desfrutar
disso. Lembre-se: você que já recebeu Jesus como seu
Salvador é filho amado de Deus, portanto você é alvo
da sua bondade e misericórdia.
Quando você aprender a desfrutar disso, será
capaz de refletir essa realidade em sua paternidade.
Ninguém consegue transmitir aquilo que não recebe.
Quanto mais você meditar no quanto Deus é bom e o
ama mesmo quando você falha, mais será munido e
equipado para agir com bondade e amor.

UM PAI QUE NOS PERDOA E NOS


SUPRE
Uma das histórias mais conhecidas no Novo
Testamento é a do filho pródigo, que encontramos
em Lucas 15. Embora o filho leve o título da parábola,
o personagem central é o pai. Um dia, aquele rapaz
pede toda sua herança enquanto o seu pai ainda está
vivo. Ele gasta e desperdiça tudo de forma
irresponsável e egoísta. Quando está sem nenhuma
condição para continuar a sua vida, lembra-se dos
empregados do seu pai e cogita retornar, com a
esperança de ser um dos seus empregados.
Como era esperado que seu pai estivesse? Furioso,
decepcionado e pronto para dar uma boa lição de
moral diante da sua atitude desrespeitosa e imoral.
Mas qual é a cena narrada por Jesus? De um Pai
amoroso, ansioso pela volta do seu filho, desejando a
sua restauração completa. Ele não apenas sorri ao
enxergar seu filho, mas corre ao seu encontro,
abraça-o e o beija.

Esse pai aponta para o nosso Deus. Um Deus


completamente limpo, perfeito e que nunca se
atrasa; que corre ao encontro do seu filho sujo e
pecador, mas que decidiu voltar.
Mas Deus prova o seu próprio amor para
conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,
sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais
agora, sendo justificados pelo seu sangue,
seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós,
quando inimigos, fomos reconciliados com
Deus mediante a morte do seu Filho, muito
mais, estando já reconciliados, seremos salvos
pela sua vida […].
Romanos 5.8-10 – ARA
A Bíblia diz que Deus nos alcançou quando éramos
seus inimigos. Éramos pecadores e distantes quando
ele entregou seu Filho em nosso favor. Tamanha
generosidade e amor é algo que nunca iremos
compreender. Contudo, agora que somos filhos e
vivemos em uma posição muito mais privilegiada,
algumas vezes relutamos em entender que seu
perdão continua disponível para nós.
Deus não deseja amá-lo sempre porque você é
bom, mas porque ele é sempre bom. Tanto é que
decidiu criar um meio de nos perdoar, apesar das
nossas falhas, e assim o fez com Jesus na cruz.

Certa vez, escutei uma história de Alexandre, o


Grande. Conta-se que ele estava às portas de uma
cidade quando um mendigo lhe pediu uma esmola.
Alexandre entregou uma moeda de ouro e espantou
aqueles que estavam ao seu redor. Um dos generais
replicou que, para aquele mendigo, bastava uma
moeda de pequeno valor. E a resposta de Alexandre
foi que ele não tinha dado de acordo com a
necessidade do mendigo, mas de acordo com a sua
própria nobreza.

No final das contas, daremos de acordo com aquilo


que recebemos. Pessoas que tratam os outros com
desrespeito e brutalidade provavelmente receberam
apenas isso e não conseguem agir diferente. Talvez a
sua dificuldade em agir de maneira mais amorosa
com seus filhos tem sido justamente a falta do
carinho e amor que você nunca recebeu. Mas eu
preciso lhe dizer: seu passado não é um decreto
daquilo que você vai construir e gerar. Você pode
decidir crescer em relacionamento com esse Deus e
meditar a cada dia nesse amor. Quando você menos
esperar, estará espalhando nobreza e um carinho
que não veio de você.
UM PAI QUE SE IMPORTA COM
NOSSO CORAÇÃO
Darei a vocês um coração novo e porei um
espírito novo em vocês; tirarei de vocês o
coração de pedra e lhes darei um coração de
carne.
Ezequiel 36.26
Nosso Deus nos adota como estamos, mas deseja nos
aperfeiçoar. Ele remove o nosso coração de pedra
porque sabe do quanto precisamos ser
transformados. Ao longo deste livro, muito foi
falado sobre a instrução dos nossos filhos, a
lapidação do seu coração e a construção do seu
caráter. Como pai, eu sei o quanto nos preocupamos
com o destino dos nossos filhos. Mas também sei o
quanto queremos ser homens honrados e
respeitados. E é uma grande conquista quando
conseguimos unir tudo isso: instruir e educar nossos
filhos, para que eles possam aprender a fazer boas
escolhas e proceder adequadamente, enquanto
mantemos a nossa reputação.
Precisamos estar cientes de que exercer
paternidade não é uma prova na qual necessitamos
da aprovação da sociedade. Falo isso porque, muitas
vezes, tendemos a agir e reagir de certas formas com
medo de sermos permissivos, parecermos fracos e
perdermos o controle do nosso lar.
Nossos pais nos disciplinavam por curto
período, segundo lhes parecia melhor; mas
Deus nos disciplina para o nosso bem, para que
participemos da sua santidade.
Hebreus 12.10
“Mas Deus nos disciplina para o nosso bem.”
Aconselhando muitas famílias, percebo que, na
maioria das vezes, quando se trata de corrigir seu
filho, o pai concentra todas as suas energias em
manter a sua postura de autoridade máxima em vez
de realmente focar em ensinar o que precisa ser
ensinado. É claro que Deus nos comissiona a ter a
maior voz de autoridade dentro da nossa família.
Obviamente, devemos cultivar respeito e honra. Mas
oferecer favor, agir com graça, ajudarmos os nossos
filhos a amadurecer e respeitá-los não compromete a
nossa posição.
Lembro de uma das primeiras vezes em que
precisei corrigir a minha filha na frente de outras
pessoas. O meu alvo, de fato, não foi dizer o que ela
precisava, ajudá-la a lidar com a situação ou fazer o
que era necessário, mas eu usei tudo o que estava ao
meu alcance para parecer um pai responsável, que
exigia respeito e não tolerava desonra. Enquanto a
menininha mais importante da minha vida apenas
precisava da minha ajuda para aprender que jogar o
resto do sorvete no chão não era uma boa ideia.
Quando Deus disciplina seus filhos, ele o faz para
que nós sejamos aperfeiçoados, cresçamos e
possamos avançar um nível na nossa caminhada de
fé. O alvo de sua disciplina nunca é para mostrar o
quanto ele é perfeito. Isso já é um fato que todos nós
cremos. Mesmo assim, o Senhor continua a nos
instruir, ensinar e moldar, porque nós não o somos.
Por mais óbvio e redundante que seja, quando
educamos os nossos filhos, o nosso objetivo deve ser
educá-los. E não apenas fazê-los parar de nos
incomodar com seu choro, ou de nos cansar com seus
pedidos, ou para mostrar o quanto somos
imensamente mais fortes e temíveis.
A honra e a autoridade dos pais precisam ser
valores muito claros e bem estabelecidos no nosso
lar. Deus nos delegou o direito de governar, e não
precisamos nos sentir intimidados quanto a isso.
Recebemos o direito de disciplinar e corrigir. Porém,
sempre com a certeza de que estamos lapidando uma
pedra preciosa que tem muito valor.

UM PAI QUE NOS TRAZ DIREÇÃO E


SEGURANÇA
Confia no Senhor de todo o teu coração e não te
estribes no teu próprio entendimento.
Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele
endireitará as tuas veredas.
Provérbios 3.5,6 – ARA
Ao homem que teme ao Senhor, ele o instruirá
no caminho que deve escolher.
Salmos 25.12 – ARA
Uma das coisas que mais me impressionam como pai
é ver o quanto meus filhos se sentem seguros
comigo. Se eu digo para eles se jogarem em meus
braços, eles simplesmente se jogam.
Mas é interessante que, à medida que as crianças
vão crescendo, elas vão se tornando mais
independentes e mais desconfiadas. Nem sempre seu
filho verá você como um herói. Nem sempre seu
conselho será requisitado.
Quando se trata do nosso relacionamento com
nosso Pai celestial, deveríamos ser sempre assim.
Mas quantas vezes vamos achando que podemos
seguir o rumo que desejamos sem buscar uma
direção?
O fato é que a direção de Deus sempre será o
caminho mais seguro. O melhor lugar sempre será
no centro da sua vontade. E como é precioso
descobrir isso. Como nos traz paz e descanso saber
que ele está cuidando dos detalhes e está resolvendo
o que apenas ele pode resolver.

Precisamos nos relacionar com nossos filhos de


forma que eles sintam essa proteção e segurança. É
totalmente normal e saudável que, à medida que eles
cresçam, confiem mais nas nossas escolhas e
decisões. Mas enquanto ainda não sabem, que eles
possam ter a certeza de que, em nós, haverá um bom
conselho, sabedoria e instrução.
Se você já passou pelo difícil desafio de ter de
escolher um único compromisso entre dois convites
incríveis que recebeu para o mesmo dia e no mesmo
horário, você tem a consciência do quão angustiante
é não saber o que escolher. Crianças que recebem
limites, instruções claras e convivem com regras são
muito mais felizes e seguras. Contudo, vivemos em
uma geração na qual pais perguntam aos filhos o
tempo todo sobre tudo: “Onde iremos comer?”;
“Qual roupa iremos vestir?”; “Qual presente iremos
comprar?”; “Em qual escola iremos estudar?”.
Nossos filhos não deveriam ter o peso de tomar
tantas decisões e de guiar tantas escolhas. Mesmo
que a intenção seja boa, o que é gerado é ansiedade e
insegurança. Acredite em mim, mais do que direito
de escolha, seu filho precisa da sua proteção,
convicção e cuidado.

UM PAI QUE NÃO NOS EXIGE


PERFEIÇÃO
Embora o homem dedique todas as suas forças para
alcançar uma perfeição de caráter e comportamento,
em algum momento ele falhará.
Como o apóstolo Paulo disse:
Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em
minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o
que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o
que faço não é o bem que desejo, mas o mal que
não quero fazer, esse eu continuo fazendo.
Romanos 7.18,19
Muitos entendem perfeitamente que Jesus
morreu pelos nossos pecados, mas não têm
compreensão de que ele também nos capacitou para
viver de forma diferente.
Lembro-me de um exemplo que expressa muito
bem isso. Era como se todos nós fôssemos padarias e
houvesse um mandamento absoluto para não
produzirmos pães. Devido ao nosso temor e o nosso
desejo de agradar a Deus, todos os dias,
queimávamos todas as fornadas para alcançar o
perdão dos nossos pecados. Receberíamos o perdão,
mas continuaríamos com um grande problema,
porque no dia seguinte e no outro, e assim por
diante, teríamos de lidar com o fato de quem éramos:
uma padaria que produzia pães.
Mas compreender todos os aspectos da cruz é
entender que Deus não apenas queima nossos pães,
mas desativa nossa padaria.

Eu espero que você esteja entendendo que não


estamos falando de pães, mas dos nossos pecados e
da nossa condição de pecadores. Quando recebemos
Jesus, nossa natureza é mudada. Como vimos neste
livro, Deus coloca as suas leis em nosso coração, e
nossos desejos, valores e sonhos são transformados.
Deus nunca nos exigiu perfeição, porque sabe que
não daríamos conta, mas resolveu o problema do que
produzíamos e de quem éramos colocando-nos em
Cristo, que é perfeito.
E quero terminar trazendo a sua memória essa
realidade, porque Deus não exige que você seja um
pai perfeito pelas suas próprias forças, mas que você
saiba que a sua Graça nos supre para essa desafiadora
missão. Você não é perfeito, mas tem um Cristo
perfeito. Você está nele, e ele promete aperfeiçoá-lo à
medida que você o contemplar e segui-lo.
Da mesma forma, assim como tanto foi enfatizado
no livro, e volto a fazer, o maior alvo da educação dos
nossos filhos é conduzi-los a Jesus. Apenas em Cristo
eles terão condições de serem provados e aprovados
pelo Senhor. Mas que você possa chegar lá primeiro.
Bíblia Almeida Revista e Atualizada com números
de Strong. Brazilian Bible Society. Copyright © 1959,
1993. Lexicon Hebraico, Aramaico e Grego de Strong.
Copyright da tradução © 2002.
MACARTHUR, John. Pais sábios, filhos
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maternidade. Originalmente publicado no site
“Revive our Hearts”, traduzido por Rebecca
Figueiredo. Mulheres piedosas, maio/2014.
Disponível em:
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SILK, Danny. Loving Our Kids on Purpose.


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Moody Pr. June 28, 1958.

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