Texto 05 - Poema Desencanto e Motivo

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Poema 1: Poema 1:

Desencanto Desencanto
Eu faço versos como quem chora Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto... De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto. Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia Meu verso é sangue. Volúpia
ardente... ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão... Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente, Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração. Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústica rouca, E nestes versos de angústica rouca,
Assim dos lábios a vida corre, Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca. Deixando um acre sabor na boca.
— Eu faço versos como quem morre. — Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira Manuel Bandeira

Poema 2: Poema 2:

Motivo Motivo

Eu canto porque o instante existe Eu canto porque o instante existe


e a minha vida está completa. e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta. sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento. não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias Atravesso noites e dias
no vento. no vento.
Se desmorono ou se edifico, Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço, se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico — não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo. ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo. Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada. Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo: E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada. — mais nada.

Cecília Meireles Cecília Meireles

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