Comunismo - Globalismo
Comunismo - Globalismo
Comunismo - Globalismo
Boa leitura!
ÍNDICE
CAPÍTULO 1
A SIMBIOSE ENTRE O GRANDE CAPITAL E O PROJETO SOCIALISTA
CAPÍTULO 2
A FUSÃO ENTRE EUA E UNIÃO SOVIÉTICA
CAPÍTULO 3
UM MUNDO CONTROLADO PELA ONU
CAPÍTULO 4
A FANTASIA TRIUNFALISTA SOBRE O FIM DO COMUNISMO
CAPÍTULO 5
A PAUTA GLOBALISTA E A DESTRUIÇÃO DA IMAGEM DO INIMIGO
CAPÍTULO 6
GORBACHEV E O SONHO DA UNIFICAÇÃO EUROPEIA
CAPÍTULO 7
COVID-19 E A ASCENSÃO HISTÓRIA DOS GLOBALISTAS
Capítulo 1
A SIMBIOSE ENTRE
O GRANDE CAPITAL E
O PROJETO SOCIALISTA
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“You’ll own nothing. And you’ll be happy”
N
o Brasil de hoje, qualquer sugestão de conexão
entre as grandes fortunas do capitalismo
ocidental e o comunismo decerto faria recair
sobre o autor de tal excentricidade a pecha de
“teórico da conspiração”. A quantidade de literatura
existente sobre essa suposta teoria da conspiração
é, contudo, virtualmente inabarcável. Eu mesmo,
apesar de me dedicar ao tema há bastante tempo,
creio não dominar nem 1% dela. Recorrendo a uma
p rt ss i liogr fi , s r vi r nt m nt
uma série de sete artigos para o jornal Gazeta do
Povo com o título “Globalismo e comunismo”. O
que pretendo fazer aqui é retomar alguns temas
ali abordados, mas incluir tópicos colaterais, que
alargam a perspectiva do fenômeno.
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escolar – e depois, seja por uma questão de
sp ialização profissional ou por alta int r ss ,
nunca mais volta a se dedicar a elas, assimilando
as informações relativas apenas passivamente
(via grande imprensa, por exemplo) – acaba
com um conhecimento precário, se não mesmo
inteiramente fantasioso, do que realmente se passa
no mundo.
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socialismo é de esquerda, então, evidentemente, o
capitalismo só pode ser de direita.
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Além de badalado cartunista da época, Minor era
também militante comunista – alguém, portanto,
com uma visão interna da questão. A charge em
tela retrata Karl Marx chegando a Wall Street,
levando debaixo do braço um livro intitulado
Socialismo, e sendo efusivamente recebido por
figuras important s as finanças a políti a:
John D. Rockefeller, J. P. Morgan, George Perkins
e Theodore Roosevelt. Logo, a sugestão de que
socialistas e capitalistas pudessem ser bem
menos hostis entre si do que aparentam não é
nenhuma excentricidade de teóricos da conspiração
contemporâneos, mas algo relativamente bem
estabelecido, a ponto de sair sob forma de charge,
um modo de comunicação eminentemente
sintético, num dos jornais de maior circulação no
começo do século 20.
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um artigo altamente elogioso ao líder chinês (para
o leitor saber que isso de grandes capitalistas
puxando o saco de ditadores comunistas chineses
não é de hoje). O que mais lhe chamou atenção na
ita ura omunista oi aquilo qu finiu omo um
“senso de harmonia nacional” vigente no gigante
asiático. Encantou-se também com a habilidade
comunista de produzir uma administração
ntraliza a fi i nt . S gun o Ro k ll r, a
revolução incutira na
A SUGESTÃO DE população “um senso
QUE SOCIALISTAS
E CAPITALISTAS moral elevado” e “uma
PUDESSEM SER comunhão de propósitos”.
BEM MENOS HOSTIS
ENTRE SI DO Cabe lembrar ademais
QUE APARENTAM que, já na década de
NÃO É NENHUMA 1950, a fundação de
EXCENTRICIDADE
DE TEÓRICOS DA Rockefeller, juntamente
CONSPIRAÇÃO com a Fundação Ford e
CONTEMPORÂNEOS, a Fundação Carnegie,
MAS ALGO
entre outras, foram
RELATIVAMENTE
BEM ESTABELECIDO” alvo de investigação
por parte do Congresso
americano, investigação a cargo de uma comissão
montada especialmente para destrinchar a ajuda
prestada por essas fundações ao comunismo e o
finan iam nto ag n as marxistas-l ninistas
ntro os Esta os Uni os. O v nto fi ou
conhecido como “Comissão Reece” a partir do
nome do congressista Brazilla Carroll Reece, que a
copresidiu (sobre o tema, recomenda-se a leitura de
18
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Fun açõ s: o s u po r a sua influên ia, R né
Albert Wormser, advogado de Nova York integrante
da comissão).
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Daí que, nesse espectro dogmático e idealizado,
qualquer aliança entre eles soa naturalmente como
impossível.
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classe”, por exemplo, que Trotsky se manteve em
Nova York durante certo período de tempo, pouco
antes de voltar à Rússia para ajudar no processo
revolucionário. Sutton escreve que, apesar de essa
relação entre socialistas e grandes capitalistas ter
sido reiteradamente ocultada ou negada em termos
teóricos, nota-se que, na realidade histórica,
sempre ocorreu em benefício de ambos.
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Capítulo 2
A FUSÃO
ENTRE
EUA E
UNIÃO
SOVIÉTICA
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E
m política, a receita certa para não se entender
nada é adotar uma concepção subjetivista
dos fenômenos em tela. Quando falamos
da cooperação entre capitalistas e socialistas, e
m n ionamos, na on ição finan ia or s a
agenda revolucionária da esquerda global, o nome
de bilionários como David Rockefeller ou George
Soros, somos impreterivelmente fulminados com
a seguinte objeção: “Então você está dizendo que
Rockefeller e Soros são
POUCO IMPORTA comunistas?”
SABER NO QUE
ROCKEFELLER E A pergunta é equívoca,
SOROS REALMENTE xigin o uma r fl xão
ACREDITAM. O QUE
sobre o sentido preciso
BASTA SABER É QUE,
OBJETIVAMENTE, ELES do verbo “ser” nesse
TÊM FINANCIADO contexto. Pois, se a
OS PRINCIPAIS palavra pretende se
MOVIMENTOS E
ORGANIZAÇÕES aplicar às convicções
DE ESQUERDA íntimas de George Soros
RADICAL NO MUNDO – ou àquilo que, em suma,
CONTEMPORÂNEO
poderíamos chamar
de sua ideologia –, a
pergunta não tem relevância alguma, e talvez seja
impossível de responder. Ora, pouco importa saber
no que esses bilionários realmente acreditam, se
são omunistas no s nti o sp ífi o sposar
a doutrina marxista. Provavelmente jamais
saberemos com certeza algo sobre sua visão pessoal
de mundo. O que basta saber é que, objetivamente,
l s têm finan ia o os prin ipais movim ntos
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e organizações de esquerda radical no mundo
contemporâneo. Isso, sim, é fácil de constatar.
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experiência de operar sob diretrizes. As diretrizes
emanam, e emanavam, da Casa Branca. Agora, ainda
operamos sob tais diretrizes (...) Sr. Dodd, estamos
aqui para operar em resposta a diretrizes similares,
a substância das quais é que devemos usar nosso
poder de concessão de doações para alterar a vida nos
Estados Unidos, de modo a possibilitar que o país seja
confortavelmente fundido com a União Soviética”.
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Há vários registros dessas discussões dentro do
governo americano. Em fevereiro de 1961, por
exemplo, na época em que o então presidente
JFK lançou sua campanha pelo desarmamento,
seu secretário de Estado, Dean Rusk – membro
do Council on Foreign Relations (CFR), o famoso
think tank globalista americano –, contratou um
instituto de pesquisa chamado Institute for Defense
An lys s (IDA), fim pr p r r um stu o so r
desarmamento e governo
mundial. Em 1962, o IDA
EM 1953, O
PRESIDENTE DA lançou um memorando
FUNDAÇÃO FORD (Study Memorandum
ADMITIU PARA UM
7) intitulado “Um
INVESTIGADOR DO
CONGRESSO NORTE- mundo efetivamente
AMERICANO A controlado pelas Nações
INTENÇÃO DE UMA
Unidas”, escrito por
FUSÃO DOS EUA COM
A UNIÃO SOVIÉTICA Lin oln Bloomfi l ,
também membro do
CFR e pesquisador do Massachusetts Institute of
Technology (MIT), um homem cujas relações com o
Departamento de Estado eram estreitas.
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– não passa de “teoria da conspiração”:
27
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mundial – e é de governo mundial que estamos falando
aqui – é inescapável.”
28
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“‘Mun o’ signifi qu o sist m é glo l, s m x ção
à sua ordem: a pertença é universal. ‘Controlado
efetivamente’ denota atributos de governo – um
monopólio relativo do uso da força física no centro do
sistema, e, portanto, uma preponderância do poder
político nas mãos de uma organização supranacional
em lugar de unidades nacionais individuais. ‘As Nações
Unidas’ não são necessariamente a organização
que existe agora. Em teoria, um rearranjo radical do
po r no mun o po ri s r o ifi om i nt
revisão da Carta da ONU existente (como no Plano
Clark-Sohn); ou uma nova constituição poderia ser
desenhada. Finalmente, para evitar o eufemismo sem
fim v r orr gi v siv , o r gim ont mpl o s rá
referido ocasionalmente de forma desavergonhada
como um ‘governo mundial’”.
29
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do Departamento de Estado americano. E,
como veremos, o governo americano continuou
promovendo estudos nesse sentido, muitos dos
quais falando abertamente em desarmamento
internacional e fusão com a União Soviética.
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Capítulo 3
UM MUNDO
CONTROLADO
PELA ONU
31
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N
o capítulo anterior, mencionamos o
documento “Um mundo efetivamente
controlado pelas Nações Unidas”, produzido
em 1961 pelo Institute for Defense Analyses (IDA)
a pedido do Departamento de Estado americano.
Dois anos depois, em 1963, um estudo similar
foi encomendado pela Agência Americana de
Desarmamento e Controle de Armas (ACDA) a um
instituto de pesquisa privado chamado The Peace
Research Institute. Autorado por Walter Millis, um
típi o filho a Univ rsi a Yal , ntão ir tor
do estudo sobre desarmamento do Fund for the
Republic (organização criada pela Fundação Ford), o
estudo saiu com o título The Political Control of an
International Policy Force.
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o estudo chamava-se Common Action for the
Control of Conflict: An Approach to the Problem of
International Tension and Arms Control. A íntegra
do documento foi mais tarde reproduzida no livro
The Phoenix Papers; If Not Treason, What?, de
James D. Bales (1966).
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os Estados Unidos e a União Soviética, combinados,
detêm, para propósitos práticos, quase o monopólio
da força no mundo. Se o uso e a direção desse poder
puderem, de alguma maneira, ser sincronizados, sem
dúvida nós alcançaríamos a estabilidade e unidade em
um futuro muito próximo”.
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outros – promov ram om afin o o ortal im nto
das organizações supranacionais, de modo a
criar condições para aquilo que esses barões do
capitalismo nunca hesitaram em chamar de Nova
Ordem Mundial. Mas, por paradoxal que possa soar,
esse fortalecimento foi também um dos objetivos
principais do movimento comunista internacional
desde os seus primórdios.
35
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Apesar de, novamente, alguns jornalistas-
humoristas brasileiros afirmarem não haver
esquerda nos Estados Unidos, sempre foi sólida
a presença do Partido Comunista na América.
Entre os anos 1930 e 1940, tratava-se de um dos
partidos comunistas mais organizados do mundo.
No período, não foram poucos os camaradas
americanos a manifestar apoio entusiasmado
à ONU e às propostas de internacionalização,
integração mundial e interdependência. William
Z. Foster, presidente
O FORTALECIMENTO nacional do Partido
DAS ORGANIZAÇÕES Comunista nos Estados
SUPRANACIONAIS
Unidos, escreveu o
FOI TAMBÉM UM
DOS OBJETIVOS seguinte no livro Toward
PRINCIPAIS DO Soviet America, de 1932:
MOVIMENTO
COMUNISTA “O governo soviético
INTERNACIONAL americano irá juntar-se
DESDE OS SEUS
com os outros governos
PRIMÓRDIOS
soviéticos numa União
Soviética global (...) Não é o cristianismo, mas o
comunismo que trará a paz mundial. Um mundo
omunista s rá um mun o unifi a o organiza o.
O sistema econômico será uma grande organização,
baseada no princípio de planejamento central, ora
em vigência na União Soviética. O governo soviético
americano será uma importante sessão dessa
organização mundial.”
36
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Já em 1942, em plena guerra, o secretário-geral
do Partido Comunista americano, Earl Browder,
escreveu um livro chamado Victory – and After,
no qual conta como os comunistas americanos se
empenharam no processo de idealização da ONU,
que só viria a surgir três anos depois da publicação
da obra. Nas palavras de Browder:
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políticas das Nações Unidas devem ser incentivados
e organizados. Mas é preciso ir além. A oposição ao
projeto deve ser mantida tão impotente a ponto de
não conseguir reunir qualquer apoio significativo no
Senado contra a Carta e os tratados vindouros” (“The
World Assembly at San Francisco”).
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Capítulo 4
A FANTASIA
TRIUNFALISTA
SOBRE O FIM
DO COMUNISMO
39
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S
-s hoj qu lguns os prin ip is rtífi s
da ONU (integrantes do Departamento
de Estado e do Departamento de Tesouro
dos Estados Unidos) foram espiões soviéticos, a
começar pelo secretário-geral da Conferência das
Nações Unidas sobre a Organização Internacional,
que resultou na redação da Carta das Nações
Unidas: ninguém menos que o senhor Alger Hiss.
40
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Sua atividade de espionagem veio à tona a partir de
denúncia de um ex-companheiro de célula partidária,
Whittaker Chambers. A denúncia resultou em
processo, num caso notório e escandaloso. Hiss foi
julgado duas vezes pelo júri popular e condenado, em
janeiro de 1950, a cinco anos de prisão, tendo sido
forçado a deixar a presidência do think tank Carnegie
Endowment for International Peace, função que
havia assumido em 1946, após deixar seu cargo no
Departamento de Estado.
41
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com a queda do Muro de Berlim, é que os ideólogos
o parti o om çaram a sofisti ar o linguajar
adotar a retórica contemporânea das organizações
internacionais – menos marcada ideologicamente,
mais abstrata e universalista. A partir de então, as
formulações clássicas sobre a ditadura do proletariado
(que, em momentos anteriores, já tinham
sido atenuadas ou disfarçadas) começam a ser
abandonadas em favor de discursos genéricos sobre
o bem comum, a segurança de toda a humanidade,
a defesa do clima, a saúde pública etc. E, com efeito,
não há hoje iniciativa globalista – inclusive as mais
autoritárias – que não venha embalada nesse
simbolismo universalista e humanista.
42
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em promover os valores humanos universais” –
continua a velha raposa russa.
43
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Consagrado nos meios liberais e conservadores,
o Mito da Trindade parte de uma premissa meta-
histórica que, curiosamente, é progressista em
essência: a ideia de que a história humana é um
progresso inexorável a caminho da razão e da
civilização; de que todas as divergências políticas
e ideológicas decorrem de um atraso civilizacional
e de que, um dia, com o passar do tempo, serão
simplesmente superadas, mediante o uso racional
das nossas faculdades intelectuais e morais.
44
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conservadores, nem da democracia ocidental, e
muito menos do capitalismo. Foi, em vez disso,
resultado de uma profunda reforma interna, uma
das tantas pelas quais o comunismo passou ao
longo do tempo, sempre se metamorfoseando
e se adaptando a novas circunstâncias. Antes
que queda, deveríamos, talvez, passar a falar em
implosão do comunismo. Os principais líderes
comunistas – a começar pelo próprio Lenin –
tiveram sempre uma concepção pragmática – e
não dogmática – da ação política, e souberam
iludir o inimigo quanto à sua pretensa fraqueza.
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Capítulo 5
A PAUTA
GLOBALISTA E
A DESTRUIÇÃO
DA IMAGEM
DO INIMIGO
46
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E
ncerramos o capítulo anterior questionando
a narrativa triunfalista sobre o fim do
comunismo, que, segundo liberais e
conservadores autoiludidos, teria “caído”, qual
uma fruta podre, diante da superioridade (técnica,
econômica e até moral) do capitalismo. Sugerimos
que, mais do que uma queda, o processo ocorrido
na URSS e no Leste Europeu em fins dos anos 1980
deve ser mais bem compreendido como uma
espécie de implosão controlada, arquitetada por
grandes estrategistas políticos.
47
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colocam. É em função desses critérios que avaliamos
tanto nossos êxitos quanto nossos erros. Aqueles
que esperam que nos afastemos da via socialista se
decepcionarão profundamente. Cada elemento do
programa da perestroika – e o programa em seu
conjunto – se funda inteiramente na ideia de que é
necessário mais socialismo, mais democracia (...)
Estamos nos dirigindo a mais socialismo, e não o
contrário. Nós o declaramos honestamente, sem tentar
enganar nem nosso povo e
MAIS DO QUE UMA nem o resto do mundo. Toda
QUEDA, O PROCESSO esperança que possamos ter
OCORRIDO NA URSS
de construir uma sociedade
E NO LESTE EUROPEU
EM FINS DOS ANOS diferente, não-socialista,
1980 DEVE SER MAIS e passar ao outro campo é
BEM COMPREENDIDO
irrealista e insignificante.
COMO UMA ESPÉCIE
DE IMPLOSÃO Aqueles, no Ocidente, que
CONTROLADA, esperam que abandonemos
ARQUITETADA a via socialista se
POR GRANDES
ESTRATEGISTAS desapontarão”.
POLÍTICOS
Gorbachev tinha uma
compreensão muito
aguda das ilusões liberais. Em 6 de janeiro de 1988,
diante de representantes da ciência e da cultura
reunidos no Comitê Central do Partido Comunista da
URSS, o último líder soviético se defendeu de críticas
ao projeto de “abertura” do regime, projeto que
muitos consideravam mal concebido. “Como assim
mal concebido?” – exaltou-se Gorbachev. “O plano
havia sido muito bem estudado, e isso muito antes de
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1985: 110 estudos e projetos foram então apresentados
ao Comitê Central por diversas grandes cabeças. Tudo
remonta a uma época bem anterior à Plenária de Abril”.
Por “Plenária de Abril”, o líder soviético referia-se à
Plenária do Comitê Central do Partido Comunista
da União Soviética de 1985, na qual se apresentara
ofi i lm nt o proj to P r stroik .
49
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Testemunho precioso desse processo de reforma
interna, pouco conhecido no Ocidente, é o de
Evgeny Novikov, prestigiado intelectual orgânico do
regime, integrante daquele mesmo Departamento
Internacional do Comitê Central do Partido
Comunista. Seu livro Gorbatchev and the Collapse
of the Soviet Communist Party é leitura obrigatória
para quem quer que ainda mantenha a ilusão de
que a força irresistível do capitalismo foi a causa
principal do colapso do comunismo na URSS. Na
obra – coautorada pelo padre católico Patrick
Bascio –, o ex-membro do Politburo soviético
afirma o s guint :
50
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comunista. No mais das vezes, mesmo os mais
prestigiados “sovietólogos” revelavam-se incapazes
de apreender a natureza dialética do pensamento
estratégico comunista, tornando-se presas fáceis
das campanhas de desinformação conduzidas pelos
órgãos soviéticos de espionagem e propaganda.
No livro, concebido e redigido em meados dos anos
1980, Golitsyn faz uma série de previsões acertadas
sobre o que aconteceria nos anos seguintes,
incluindo a pretensa
JÁ NO FIM DOS liberalização do Leste
ANOS 50, UM DOS Europeu, a queda do Muro
PONTOS ESSENCIAIS
B rlim, a r unifi ação
DO PROGRAMA
REFORMISTA da Alemanha, a reforma
DE ALEXANDER da KGB e a dissolução do
SHELEPIN NA KGB
Pacto de Varsóvia.
ERA A PROJEÇÃO
INTERNACIONAL DE Em The Perestroika
UMA IMAGEM DE
Deception, seu segundo
FRAGILIDADE DO
BLOCO SOVIÉTICO livro, o x-ofi ial
inteligência aprofunda
a análise anterior. Como
integrante do pequeno círculo de executores do
projeto reformista, Golitsyn foi testemunha ocular,
r lata omo, no fim os anos 1950, o ntão h
da KGB, Alexander Shelepin, foi mentor de uma
importante mudança de orientação no serviço
secreto soviético. Na época de Stalin, a agência
dedicara-se especialmente à repressão política
interna, com ênfase na espionagem de dissidentes.
Já com Shelepin, criou-se algo como uma “KGB
51
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dentro da KGB”, que, menos dedicada às funções
habituais, convertia-se então em arma política bem
m is sofisti , i à sin orm ção p r
o pú li o xt rno, om o o j tivo influ n i r
os processos de tomada de decisão nos países
ocidentais. Segundo Golitsyn, um dos pontos
essenciais do programa reformista de Shelepin
era a projeção internacional de uma imagem de
fragilidade do bloco soviético. Golitsyn cita Georgy
Arbatov, prestigiado acadêmico soviético, e um dos
idealizadores da Perestroika:
52
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“A imagem do inimigo havia invadido a consciência
de milhões de pessoas em todas as partes do mundo.
Apagar, destruir essa ‘imagem’ é talvez o objetivo
mais importante num contexto de evolução mundial,
no qual se aproximam e se erguem à máxima altura os
autênticos inimigos da humanidade que são a guerra
nuclear, a catástrofe ecológica ou a desintegração do
sistema econômico mundial”.
53
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Capítulo 6
GORBACHEV E
O SONHO DA
UNIFICAÇÃO
EUROPEIA
54
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N
o fim o pítulo nt rior, om nt mos so r
a diplomacia soviética dos anos 1980-90,
focada basicamente na missão de desfazer a
tradicional “imagem do inimigo” que dela formara
o Ocidente. Nesse contexto, foi nessa época
também que, para alavancar o projeto da Perestroika,
Gorbachev começou a reunir-se com lideranças
socialistas de toda a Europa Ocidental, apresentando-
lh s i i um unifi ção urop i , propost qu ,
pari passu, vinha sendo discutida em outros ciclos
políticos e intelectuais no Ocidente.
55
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Gorbachev fez uma visita ao então secretário-
geral do Partido Socialista Operário Espanhol,
Felipe González Márquez – empossado à época
como primeiro-ministro do reino da Espanha (o
terceiro desde a redemocratização). No encontro,
González Márquez explicou ao camarada soviético
su s sofisti s on pçõ s so r o stino o
socialismo contemporâneo.
56
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– e, em alguma medida, pelas quais somos todos
responsáveis – fizeram um fetiche da oposição entre
capitalismo e socialismo (...) Hoje, chego a uma
conclusão assaz estranha. Desde que chegamos ao
poder, tenho lutado com meus camaradas de partido
para fazê-los entender que a economia de mercado
é o melhor instrumento para alcançarmos os nossos
principais objetivos”.
57
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presidente francês François Mitterrand encontrou-
se a portas fechadas com Gorbachev em Moscou.
58
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provavelmente terá de se esforçar muito nessa direção.
Refiro-me ao direito ao trabalho, e assim por diante.”
59
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Capítulo 7
COVID-19 E
A ASCENSÃO
HISTÓRICA DOS
GLOBALISTAS
60
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A
ideia de uma síntese entre capitalismo e
comunismo – da qual falamos no capítulo
anterior – surgira há tempos na mente
de Mikhail Gorbachev. É o que conta Anatoly
Ch rny v, h n l r soviéti o no fim é
de 1980. Num dos seus diários pessoais – doados,
nos anos 2000, para o Arquivo de Segurança
Nacional da George Washington University –
Chernyaev escreve: “Ele [Gorbachev] interpretou a
ideia de coexistência como a adaptação mútua entre
o capitalismo e o socialismo, não apenas como uma
abordagem realista para a política internacional no
nível estatal. Isso é algo novo!”
61
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por “autoridades especializadas” (não eleitas) de
organizações supranacionais como ONU, Unesco,
OCDE e OMS. A ideologia da Comissão havia sido
antecipada por Brzezinski em Between Two Ages:
America’s Role in the Technetronic Era, de 1970,
livro no qual o intelectual globalista expunha a
su filosofi positivist -t l ológi históri ,
francamente contrária à ideia de democracia
representativa, e muito
DAVID ROCKEFELLER E
próxima da epistocracia
ZBIGNIEW BRZEZINSKI
ENTRETINHAM A proposta por alguns
UTOPIA DE UMA NOVA intelectuais globalistas
ORDEM MUNDIAL NA contemporâneos.
QUAL OS ESTADOS-
NAÇÃO ABDICASSEM Ocorrido em Moscou, do
DE SUA SOBERANIA n ontro fiz r m p rt
EM FAVOR DAS
DECISÕES “TÉCNICAS o próprio Rockefeller,
E CIENTÍFICAS” fundador da Comissão, o
TOMADAS POR diplomata americano Henry
“AUTORIDADES
Kissinger, o ex-primeiro-
ESPECIALIZADAS”
(NÃO ELEITAS) DE ministro japonês Yasuhiro
ORGANIZAÇÕES Nakasone e o ex-presidente
SUPRANACIONAIS
francês Valéry Giscard
d’Estaing, que discutiram
com o líder soviético projetos para a integração
europeia. Parte do conteúdo da conversa está descrito
em EUSSR: the Soviet Roots of European Integration,
livro do dissidente soviético Vladimir Bukovsky, aqui já
m n ion o. Gr ç s l , fi mos s n o qu , rt
altura do encontro, Giscard d’Estaing pediu a palavra e
informou o seguinte a Gorbachev:
62
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“Em nossos dias, a Europa ocidental está vivendo a
sua própria perestroika, mudando as suas estruturas.
É difícil saber exatamente o que irá se passar daqui
a cinco, dez ou vinte anos, mas uma nova forma de
Estado federativo irá surgir. É nessa direção que
estamos indo; e a União Soviética deve-se preparar
para se relacionar com um único grande Estado da
Europa Ocidental.”
63
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o índice
e que, para todos os envolvidos, deveria servir como
uma primeira experiência em governo mundial.
Como disse certa vez Pascal Lamy, ex-diretor-geral
da OMC e ex-presidente da Comissão Europeia:
“Dentre tantas tentativas de integração regional, a
UE permanece sendo o laboratório da governança
internacional – o lugar onde a nova fronteira tecnológica
da governança internacional está sendo testada”.
64
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Menem – “Há cerca de 40 anos, Perón falava em
continentalismo, o que nos permitiria partir para o
governo mundial.”
65
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se afastam em certa medida dos conceitos clássicos
do desenvolvimento socialista, tais como geralmente
aceitos (…) [Lenin] possuía o raro talento de sentir, no
momento certo, a necessidade de mudanças profundas,
de um reexame dos valores, de uma revisão das
diretivas teóricas e dos slogans políticos.”
66
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enfraquecidas. E, tanto num quanto no outro,
as lideranças globalistas defendem que o
orçamento militar seja drasticamente reduzido
(não é por acaso que alguém como George
Soros invista tão pesadamente na agenda
desarmamentista e antipolícia).
67
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Klaus Schwab e Thierry Malleret, cujo conteúdo é
fortemente antissoberanista e, em larga medida,
anticapitalista, com críticas voltadas especialmente
aos EUA. “Crises existenciais [como a da Covid-19]
também favorecem a introspecção, e podem suscitar
o potencial para a transformação” – escrevem os
autores. “As fissuras no mundo contemporâneo –
mais notadamente, as divisões sociais, a carência de
justiça social, a ausência de cooperação, o fracasso
na liderança e na governança globais – foram
expostas como nunca antes, e as pessoas sentem que
chegou o tempo de se reinventar. Um novo mundo
emergirá, cujos contornos são difíceis de imaginar e
esboçar (...) O mundo que conhecíamos nos primeiros
meses de 2020 desapareceu por completo, dissolvido
no contexto da pandemia”.
68
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de viagem como Rockefeller, Soros, Schwab e
que tais. Com a pandemia de totalitarismo a que
estamos assistindo em todo o mundo, a “nova
civilização” acalentada pelos globalistas inicia a
sua ascensão histórica. O recrudescimento do
ataque às soberanias nacionais (representado, por
exemplo, pela campanha internacional orquestrada
contra líderes políticos soberanistas), o desprezo
“iluminista” por valores culturais tradicionais tidos
por “obscurantistas”, a coletivização de cada aspecto
da existência humana, a supressão das liberdades
individuais, a obliteração dos fundamentos
religiosos de nossa civilização, o desenvolvimento
– via terrorismo psicológico em ampla escala – de
uma mentalidade global uniforme (o “consenso”, a
“ciência”, o “bem comum”) e as reiteradas propostas
de redação de uma Constituição mundial, tudo isso,
enfim, aponta para um mundo pós-pandemia bem
parecido com aquilo que os soviéticos projetaram
ainda em fins dos anos 1950. Assim, é plausível
especular que, nos anos vindouros, a humanidade
sofra com novas cepas desse oportuno “problema
global”, para o qual, utilizando as organizações
internacionais como plataforma, e os monopolistas
do Ocidente como aliados, os camaradas
contemporâneos – com a China na vanguarda –
pretendem vender a solução.
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