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Português com Lógica

ESTRUTURAÇÃO
ARGUMENTATIVA
PROFESSORA ADRIANA FIGUEIREDO

Acompanhe com
a Gramática
Comentada

Para Concursos Públicos


Português com Lógica 1

ESTRUTURAÇÃO
ARGUMENTATIVA

Estruturação Argumentativa
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Ao argumentarmos, expomos o assunto de modo pessoal (nosso ponto de vista ou tese),


podendo também utilizar outros pontos de vista a respeito do mesmo tema (ideia principal).
Assim, no intuito de defendermos nossa tese, oferecemos argumentos que a apoiem. Para
isso, estruturamos nossas ideias em uma sequência lógica, progressiva e correta.

Um plano de dissertação deve conter três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.

1. Introdução
Inicialmente se faz a introdução, que determinará o desenrolar do desenvolvimento. É neste
momento em que se apresenta o tema a ser discutido, a ideia-núcleo ou ideia principal, a
tese.

2. Desenvolvimento
Na segunda fase do texto argumentativo, faz-se a análise crítica dos argumentos usados
de apoio para sua tese. Cada argumento é exposto em um parágrafo próprio. Dois a três
parágrafos é o padrão do desenvolvimento de um texto argumentativo. Ao argumento que
normalmente inicia o parágrafo de desenvolvimento dá-se o nome de tópico frasal.
Inicia-se, portanto, cada parágrafo do desenvolvimento com o que denominamos de tópico
frasal – que se constitui na ideia que irá direcionar o parágrafo, sendo, portanto, sua base.
A seguir, desenvolve-se a discussão iniciada pelo tópico frasal, na qual são utilizados
diversos recursos que servirão de apoio para o argumento defendido – exemplos,
comparações, narrativas, descrições, opiniões próprias – de forma coerente e organizada.

3. Conclusão
O parágrafo final é reservado à conclusão, na qual o autor retoma a ideia-núcleo,
reescrevendo-a e acrescentado-lhe, em geral, um juízo crítico, de forma a enriquecer os
argumentos defendidos. É o momento em que o autor opina, critica e, muitas vezes, oferece
soluções concretas ao problema discutido ao longo da argumentação.

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QUALIDADE DE VIDA
Estudo de uma tipologia textual – Educação/UFRJ

É de conhecimento geral que a qualidade de vida nas regiões rurais é, em alguns


aspectos, superior à da zona urbana, porque no campo inexiste a agitação das grandes
metrópoles, há maiores possibilidades de se obterem alimentos adequados e, além do
mais, as pessoas dispõem de maior tempo para estabelecer relações humanas mais
profundas e duradouras.
Ninguém desconhece que o ritmo de trabalho de uma metrópole é intenso. O espírito
de concorrência, a busca de se obter uma melhor qualificação profissional, enfim, a
conquista de novos espaços lança o ambiente urbano em meio a um turbilhão de
constantes solicitações. Esse ritmo excessivamente intenso torna a vida bastante agitada,
ao contrário do que se poderia dizer sobre os moradores da zona rural.
Por outro lado, nas áreas campestres há maior qualidade de alimentos saudáveis.
Em contrapartida, o homem da cidade costuma receber gêneros alimentícios colhidos antes
do tempo de maturação, para garantir maior durabilidade durante o período de transporte
e comercialização.
Ainda convém lembrar a maneira como as pessoas se relacionam nas zonas rurais.
Ela difere da convivência habitual estabelecida pelos habitantes metropolitanos. Os
moradores das grandes cidades, pelos fatos já expostos, de pouco tempo dispõem para
alimentar relações humanas mais profundas.
Por isso tudo, entendemos que a zona rural proporciona a seus habitantes maiores
possibilidades de viver com tranquilidade. Só nos resta esperar que as dificuldades que
afligem os habitantes metropolitanos não venham a se agravar com o passar do tempo.

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O PARÁGRAFO ARGUMENTATIVO

Dinheiro é um facilitador das transações, mas não é a única forma de relação comercial. O
mundo moderno não pode menosprezar a sabedoria de nossos antepassados, que
sobreviveram séculos fazendo trocas. Um bom exemplo de alinhamento entre estratégias
empresariais e apoio governamental, que resultou em uma equação, é o caso da Odebrecht
em Angola: esta construtora constrói a hidrelétrica de que o país africano necessita, e o
governo angolano paga com petróleo, produto abundante naquele país.

Segundo Othon M. Garcia, “o parágrafo é uma unidade de composição constituída por um


ou mais de um período, em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear, a que
se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente
decorrente dela”. O parágrafo seria, portanto, uma espécie de minitexto em que se poderia
destacar – exatamente como se faz no texto argumentativo padrão – ao menos dois
momentos: introdução (apresentação do argumento) e desenvolvimento (fundamentação
do argumento), sendo a conclusão, portanto, facultativa.

Conhecer o parágrafo padrão seria fundamental ao leitor, já que diante de um texto curto –
de apenas um parágrafo – poder-se-ia analisá-lo como um texto argumentativo padrão. E
na hipótese de o aluno estar diante de um texto composto de mais de um parágrafo, analisar
cada um separadamente lhe garantiria o método necessário para a intelecção do que está
escrito.

O TÓPICO FRASAL

Inicialmente, vale lembrar que tópico frasal é a ideia ou argumento central do parágrafo,
apresentada de forma genérica. É a ideia-chave, a síntese do pensamento, a essência do
parágrafo. Tudo que se afirma no parágrafo girará, portanto, em torno da fundamentação
do tópico frasal.

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Método Dedutivo de Raciocínio


No texto padrão, o tópico frasal inicia o parágrafo e na sequência vem a sua
fundamentação. Esse é o método dedutivo de raciocínio, em que o autor parte da
generalização para o seu detalhamento (GERAL ESPECÍFICO).

Ex.: Dinheiro é um facilitador das transações, mas não é a única forma de relação
comercial. O mundo moderno não pode menosprezar a sabedoria de nossos antepassados,
que sobreviveram séculos fazendo trocas. Um bom exemplo de alinhamento entre
estratégias empresariais e apoio governamental, que resultou em uma equação, é o caso
da Odebrecht em Angola: esta construtora constrói a hidrelétrica de que o país africano
necessita, e o governo angolano paga com petróleo, produto abundante naquele país.

Método Indutivo de Raciocínio


Pode também o parágrafo apresentar seu argumento principal no meio ou no fim da
argumentação. Aqui, o autor parte das definições, exemplos, comparações, dados
estatísticos, para, na sequência, apresentar o tópico frasal. São parágrafos menos comuns,
pautados no método indutivo de raciocínio (ESPECÍFICO GERAL).

Ex.: Pesquisa da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação),


realizada em 2003, mostrou que 51,1% dos professores em atividade estavam na faixa dos
40 aos 59 anos, e 38,4% tinham entre 25 e 39 anos. Só 2,9% se encontravam na categoria
entre 19 e 24 anos. A pergunta inescapável é: quem vai substituir os atuais mestres à
medida que eles forem se aposentando?

A ESTRUTURAÇÃO DO PARÁGRAFO ARGUMENTATIVO

De modo geral, o parágrafo de dissertação deve ser uma unidade completa de informação,
sendo, portanto, constituído de:
1. uma ideia-núcleo (ou tópico frasal) – em geral apresentada no início do parágrafo;
2. desenvolvimento dessa ideia, que é então devidamente especificada, fundamentada,
justificada logo a seguir;

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3. conclusão, a qual se caracteriza por ser facultativa, representada, em geral, pela


retomada do tópico frasal ou a apresentação da ideia-núcleo do parágrafo seguinte.

Pois bem. Observemos como se transformou a vida humana. Em 99% desses 500 mil anos,
alterou-se relativamente pouco. O homem aprendeu a fazer algumas ferramentas e armas
com paus e pedras, a pintar na parede das cavernas e a plantar e colher. A partir de um
grito primordial, conseguiu ainda desenvolver a fala, graças à qual pôde conversar, exprimir
sentimentos e melhor compartilhar experiências com os membros do grupo. De qualquer
modo, foi ainda bem pouco para quase cinco centenas de milhares de anos.

APRENDENDO A RESUMIR PARÁGRAFOS

Como expandir o parágrafo


Desenvolver o parágrafo significa expandir sua ideia-núcleo, de modo a torná-lo claro e
bem fundamentado. Tal fundamentação pode ocorrer por diversos critérios, lembrando que,
em um único parágrafo, o autor pode utilizar mais de um artifício na busca da maneira mais
convincente de se expressar.

1. Enumeração ou descrição de detalhes


Neste caso, a ideia-núcleo é especificada por meio de detalhes, pormenores. Estabelece-
se, portanto, uma explanação da ideia-núcleo, que é então desenvolvida, de modo a
aprofundar a discussão iniciada pelo tópico frasal.

Ex.: Quem caminha pelos mais de 70 quilômetros de praia da Ilha Comprida, no litoral sul
de São Paulo, pode perceber uma paisagem peculiar (tópico frasal). Em meio às dunas
da restinga, onde deveria existir apenas vegetação rasteira, grandes pinheiros brotam por
toda parte. A sombra das árvores é um bem-vindo refresco para os moradores da região,
mas a verdade ecológica é que elas não deveriam estar ali – assim como os pombos não
deveriam estar nas praças das cidades, nem as tilápias nas águas dos rios, nem o mosquito
da dengue picando pessoas dentro de casa ou as moscas varejeiras rondando raspas de
frutas nas feiras.

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2. Estabelecimento de comparação (paralelo e contraste)


É o estabelecimento de um contraste (que enfoca as diferenças) ou um paralelo (que
destaca as semelhanças) entre ideias, seres, fatos etc.

Ex.: Mas os saberes científicos têm uma característica inescapável: os enunciados que
produzem são necessariamente provisórios, estão sempre sujeitos à superação e à
renovação (tópico frasal). Outros exercícios do espírito humano, como a cogitação
filosófica, a inspiração poética ou a exaltação mística poderão talvez aspirar a pronunciar
verdades últimas; as ciências só podem pretender formular verdades transitórias, sempre
inacabadas.

3. Apresentação de causas e/ou consequências


Aqui, ou o tópico frasal é a causa e seu desenvolvimento expõe suas consequências, ou
será ele a consequência e o restante do parágrafo desenvolverá suas causas.

Ex.: A educação é uma função tão natural e universal da comunidade humana que, pela
própria evidência, (tópico frasal) leva muito tempo a atingir a plena consciência daqueles
que a recebem e praticam, sendo, por isso, relativamente tardio o seu primeiro vestígio na
tradição literária (consequências).

4. Apresentação de explicação ou esclarecimento


Neste caso, elucida-se o tópico frasal, quando este apresenta certa obscuridade, uma
necessidade de maior clareza.

Ex.: As discussões sobre a liberdade assentam necessariamente e em princípio na negação


de suas próprias bases possibilitadoras (tópico frasal). Quero dizer que o único
pressuposto histórico viável para que se possa instaurar a inteireza do entendimento da
questão está na ausência de liberdade.

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5. Utilização de exemplos
Os exemplos caracterizam-se como uma maneira bem elucidativa de concretizar o que há
de abstrato no tópico frasal. Seguindo esse critério, o parágrafo se desenvolve por meio da
ilustração da ideia-núcleo, constituindo-se em uma das formas mais simples de se
demonstrar aquilo que se afirma.

Ex.: Dependendo das circunstâncias, as espécies invasoras podem ser meras “imigrantes”
inofensivas ou invasoras altamente nocivas (tópico frasal). Dentro do sistema produtivo,
por exemplo, o búfalo e o pinus são apenas espécies exóticas. Quando escapam para a
natureza, entretanto, muitas vezes tornam-se organismos nocivos aos ecossistemas
“naturais”.

6. Divisão ou explanação das ideias em cadeia


Nesse tipo de fundamentação de tópico frasal, o autor divide sua ideia inicialmente
apresentada em duas ou mais partes, e, na sequência, as explana, cada uma a seu
momento. Essa explanação em cadeia pode durar o parágrafo inteiro ou pode avançar ao
longo do texto, dependendo da dimensão da discussão.

Ex.: As cidades em processo rápido de crescimento no Brasil indicam pelo menos três
modalidades de crescimento dos organismos urbanos (tópico frasal): um crescimento
horizontal por partilha de espaços de antigas chácaras ou glebas congeladas para
especulação, de dinâmica similar a uma mancha de óleo em expansão; um crescimento
vertical, à custa de edifícios de muitos andares, aproveitando as facilidades aparentes dos
espaços centrais e subcentrais das cidades de porte médio, acumulando funções
residenciais em uma área de permanência duvidosa para tais funções; e, por fim,
mecanismo de maior gravidade, a partilha de glebas situadas em posições descontínuas,
a quilômetros de distância da área central, inicialmente semi-isoladas no meio de sítios e
fazendas, os quais, por sua vez, são espaços potenciais para loteamentos ulteriores e
instalações de unidades industriais, com eliminação quase total das funções agrárias que
responderam pelo crescimento e a riqueza iniciais da própria cidade.

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EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

Os trechos a seguir foram retirados de textos concursos públicos. Constitui cada qual uma
única linha de raciocínio que apresenta as frases organizadas em torno de um tópico frasal,
voltadas para um único fim: desenvolver ou retomar a ideia-núcleo, aumentando-lhe a
compreensão.
Desta forma, destaque suas ideias-núcleo, indicando o seu desenvolvimento e, caso haja,
sua conclusão. Analise também a(s) forma(s) como foram desenvolvidos os tópicos frasais
ao longo dos parágrafos.

1. Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem
esse modo de vida, mas porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza
humana. Assim, por exemplo, se dependesse apenas da vontade, seria possível uma
pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado grande quantidade
de alimentos. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de companhia,
sofrendo a tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar ideias,
necessitar e dar afeto.

2. No início deste período, o homem inventou a escrita, graças à qual os conhecimentos


venceram o tempo e o espaço. Venceram o tempo, pois, as experiências acumuladas
puderam, sob a forma escrita, ser transmitidas com precisão às gerações seguintes.
Venceram o espaço, pois os conhecimentos passaram a ser transportados de um lugar
para o outro em papiros, papéis e demais materiais desenvolvidos para a fixação da escrita.
Com o registro e com a circulação da informação, o homem se beneficiou de um crescente
repertório de experiências, as quais lhe permitiram inventar mais, e mais facilmente.

3. Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas. Em


função disso, acabam tornando-se dependentes dos psicotrópicos dos quais se utilizam e,
na maioria das vezes, transformam-se em pessoas inúteis para si mesmas e para a
comunidade.

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4. Liderança é um aspecto da personalidade, uma característica que alguns indivíduos têm


e outros não. Por definição, bons líderes são pessoas diferentes da média. Eles têm mais
determinação do que outros. Sua presença é tão marcante que ficam na memória das
pessoas. Por isso, liderança não é para qualquer um, é um dom.

5. Há muitos tipos de líder, e gosto de destacar três. A primeira categoria é dos líderes que
marcam diferença por serem grande estrategistas, objetivos e com visão de futuro. O
legado deles é o método. O segundo tipo tem forte poder intelectual, mergulha com
intensidade nas questões teóricas, disseca e diagnostica problemas como ninguém. São
líderes que deixam ideias originais, com marca própria. E um terceiro tipo chamo de líderes
inspiradores. Eles entendem as demandas do povo, suas paixões, conseguem entender
emocionalmente as pessoas. Os maiores líderes da história têm força porque reúnem
método, intelecto e habilidade de tocar nos sentimentos de seus liderados.

6. O homem hoje em dia desenvolveu para tudo que costumava fazer com o próprio corpo,
extensões ou prolongamentos desse mesmo corpo. A evolução de suas armas começa
pelos dentes e punhos e termina com a bomba atômica. Indumentária e casas são
extensões dos mecanismos biológicos de controle da temperatura do corpo. A mobília
substitui o acocorar-se e sentar-se no chão. Instrumentos mecânicos, lentes, televisão,
telefones e livros que levam a voz através do tempo e do espaço constituem exemplos de
extensões materiais. Dinheiro é meio de estender os benefícios e de armazenar trabalho.
Nosso sistema de transporte faz agora o que costumávamos fazer com os pés e as costas.
De fato, podemos tratar de todas as coisas materiais feitas pelo homem como extensões
ou prolongamentos do que ele fazia com o corpo ou com alguma parte especializada do
corpo.

7. Inúmeras hordas “primitivas” se encontram, ainda hoje, nesse “grau zero” – se assim
podemos dizer – quanto ao conhecimento dos números. É, por exemplo, o caso dos zulus
e dos pigmeus, da África, dos aranda e dos kamilarai, da Austrália, dos aborígenes das
Ilhas Murray e dos botocudos, do Brasil. “Um”, “dois” e... “muitos” constituem as únicas
grandezas numéricas desses indígenas que ainda vivem na Idade da Pedra.

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8. Vários fatores criaram o espaço social necessário para transformar certo número de
pessoas associadas a certas práticas sociais em leitores: o individualismo da sociedade
burguesa, a visão de mundo antropocêntrica estimulada pela Renascença e difundida pela
filosofia humanista, o progresso tecnológico que facultou o desenvolvimento da imprensa,
a expansão da escola e do pensamento pedagógico apoiado na alfabetização, o
fortalecimento de instituições culturais como as universidades, as bibliotecas e as
academias de escritores.

9. Talvez não haja algum fenômeno social que assalte de forma tão brusca os direitos
humanos como a pobreza o faz, por desgastar ou anular os direitos econômicos e sociais,
como: direito à alimentação, à água potável, à saúde, à educação, à habitação, à segurança
pessoal, à justiça e à dignidade. Embora todos esses direitos sejam interligados e
interdependentes, observa-se que, para as pessoas que vivem na pobreza, talvez eles não
passem de um sonho muito distante de se tornar realidade.

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QUESTÕES DE CONCURSO

1. FCC – TRF 4ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA – 2019


[Valores da propaganda]
Na sociedade moderna, a mesma voz que prega sobre as coisas superiores da vida, tais
como a arte, a amizade ou a religião, exorta o ouvinte a escolher uma determinada marca
de sabão. Os panfletos sobre como melhorar a linguagem, como compreender a música,
como ajudar-se etc. são escritos no mesmo estilo de propaganda que exalta as vantagens
de um laxativo. Na verdade, um redator hábil pode ter escrito qualquer um deles.
Na altamente desenvolvida divisão de trabalho, a expressão tornou-se um instrumento
utilizado pelos técnicos a serviço do mercado. Um romance é escrito tendo-se em mente
as suas possibilidades de filmagem, uma sinfonia ou poema são compostos com um olho
no seu valor de propaganda. Outrora pensava-se que cada expressão, palavra, grito ou
gesto tivesse um significado intrínseco; hoje é apenas um incidente em busca de
visibilidade.
(Adaptado de: HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Trad. Sebastião Uchoa Leite. Rio
de Janeiro: Editorial Labor do Brasil, 1976, p. 112)

No centro da argumentação desenvolvida no texto, está suposto que


(A) é o aprendizado de técnicas de propaganda que melhor serve à compreensão das artes.
(B) para a linguagem da propaganda é indiferente o produto que se disponha a vender.
(C) na venda de um produto de excelência a propaganda torna-se dispensável.
(D) a eventual ineficácia de um produto é compensada pela eficácia da propaganda.
(E) o trabalho dos publicitários modernos deve tudo ao que as grandes artes lhe legaram.

2. FCC – TRF 4ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA – 2019


[Pai e filho]
No romance Paradiso o grande escritor cubano José Lezama Lima diz que um ser
humano só começa a envelhecer depois da morte do pai. Freud atribui a essa morte um
dos grandes traumas de um filho.

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A amizade e a cumplicidade quase sempre prevalecem sobre as discussões, discórdias


e outras asperezas de uma relação às vezes complicada, mas sempre profunda. Às vezes
você lamenta não ter conversado mais com o seu pai, não ter convivido mais tempo com
ele. Mas há também pais terríveis, opressores e tirânicos.
Exemplo desse caso está na literatura, na Carta ao pai, de Franz Kafka. É esse um dos
exemplos notáveis do pai castrador, que interfere nas relações amorosas e na profissão do
filho. Um pai que não se conforma com um grão de felicidade do jovem Franz. A Carta é o
inventário de uma vida infernal. É difícil saber até que ponto o pai de Kafka na Carta é
totalmente verdadeiro. Pode se tratar de uma construção ficcional ou um pai figurado, mais
ou menos próximo do verdadeiro. Mas isso atenua o sofrimento do narrador? O leitor
acredita na figuração desse pai. Em cada página, o que prevalece é uma alternância de
sofrimento e humilhação, imposta por um homem prepotente e autoritário.
(Adaptado de: HATOUM, Milton. Um solitário à espreita. São Paulo: Companhia das
Letras, 2013, p. 204-205)

Se bem observados na sequência do texto, os três parágrafos constituem


(A) uma progressão lógica para a tese defendida por Freud, segundo a qual a morte de um
pai é um grande trauma para o filho.
(B) a defesa da tese geral do escritor José Lezama Lima, a partir da qual se considera a
existência opressiva de pais tirânicos.
(C) uma trajetória que parte da constatação e da afirmação do valor de um pai para culminar
num caso de paternidade cruel e prepotente.
(D) o desenvolvimento de um raciocínio que apresenta uma tese no primeiro parágrafo,
contradita-a no segundo e a retoma no terceiro.
(E) diferentes posições que, ao enfocarem o fenômeno da paternidade, não estabelecem
relação entre si.

3. FCC - AFAP - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO DE FOMENTO – 2019


Mais da metade da população mundial usa internet
Cerca de 3,9 bilhões de pessoas usam a internet em todo o mundo atualmente, o que
representa mais da metade da população mundial - informou a ONU na sexta-feira (7 de
dezembro de 2018).

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A agência da ONU para informação e comunicação, a UIT, indicou que, até o final de
2018, 51,2% da população mundial estará usando a internet. “Até o final de 2018, teremos
ultrapassado a marca de 50% do uso da internet”, afirmou o diretor da UIT, Houlin Zhou,
em um comunicado. “Esse é um passo importante para uma sociedade global da
informação mais inclusiva”, disse ele.
Segundo a UIT, os países mais ricos do planeta registraram um crescimento sólido no
uso da internet, que passou de 51,3% de suas populações, em 2005, para atuais 80,9%.
(Texto adaptado. Disponível em: https://exame.abril.com.br)
No contexto geral do texto, as informações do 3° parágrafo revelam
a) a distribuição desigual do acesso à internet entre a população mundial.
b) a expansão homogênea da internet pela população mundial, segundo a UIT.
c) o uso exagerado e insalubre da internet pelos habitantes dos países mais ricos.
d) a universalização do acesso à internet em países desenvolvidos em 2005.
e) os resultados dos esforços da ONU para garantir acesso irrestrito à internet.

4. FCC - AFAP - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO DE FOMENTO – 2019


Jurar ou planejar
Num de seus contos provocadores, Machado de Assis põe em cena um casal de
apaixonados que faz um juramento de amor, por conta de uma longa separação que devem
cumprir. A jura é quebrada pela moça, que se apaixona por outro, e o narrador faz ver que
ela está “muito próxima da Natureza”, ou seja, que ela atende aos movimentos mais
naturais da vida.
Jurar é desafiar o tempo, o destino, o futuro; é afirmar que nada pode ser maior que nosso
desejo de agir conforme juramos. Um juramento expõe a beleza da vontade humana, como
afirmação nossa, mas sua quebra mostra também nossos limites.
Dirão os mais racionalistas: não jure, planeje. Diante do futuro, levante hipóteses de
trabalho e as analise, não tome nenhuma como definitiva. Mas o homem insiste em sonhar
para além do que é planejável, e o que dá certo nos bons planejamentos acaba tornando-
o ainda mais convicto de que sua vontade é tudo, sendo mesmo capaz de jurar por isso.
(Joaquim de Assis Villares, inédito).

Ao se analisar mais de perto a estruturação funcional do texto, pode-se afirmar que o

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a) 1º parágrafo tem como objetivo adiantar-se à tese conclusiva do autor, que é a de mostrar
que um planejamento é mais decisivo do que as forças da Natureza.
b) 2º parágrafo analisa mais intimamente o que se inclui no ato de jurar e o que ele significa,
de fato, como uma específica pretensão humana.
c) 3º parágrafo expõe as razões pelas quais todo juramento acaba correspondendo a uma
espécie de planejamento, que se inclui no ato de jurar.
d) 1º e o 2º parágrafos são contraditórios entre si, ao formularem teses divergentes sobre
a função e a força da Natureza no destino dos homens.
e) 2º e o 3º parágrafos são acordes ao mostrar que os limites humanos, uma vez admitidos
num planejamento nosso, são superados pela mesma vontade de quem jura.

5. FCC - AFAP - ANALISTA DE FOMENTO - ADVOGADO – 2019


[Vocação de professor]

Escritor nas horas vagas, sou professor por vocação e destino. “A quem os deuses
odeiam, fazem-no pedagogo”, diz o antigo provérbio; assim, pois, dando minhas aulas há
tantos anos, talvez esteja expiando algum crime que ignoro, cometido porventura nalguma
existência anterior. Apesar disso, não tenho maiores queixas de um ofício que, mantendo-
me sempre no meio dos moços, me dá a ilusão de envelhecer menos rapidamente do que
aqueles que passam a vida inteira entre adultos solenes e estereotipados.
Outra vantagem da minha profissão principal é fornecer material copioso para a
profissão acessória. Se fosse ficcionista, que mina não teria à mão no mundo da
adolescência, mina ainda insuficientemente explorada e cheia de tesouros! Mas, como não
sou ficcionista, utilizo-me desse cabedal apenas para observação e reflexão; às vezes o
aproveito nalgum monólogo inócuo, como este.
(Adaptado de: RÓNAI, Paulo. Como aprendi o Português e outras aventuras. Rio de
Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, p. 109)

Na condição de professor por vocação e destino, o autor se vê como


A um velho pedagogo odiado pelos deuses, que está se redimindo dos defeitos que
demonstrou na condução de sua carreira profissional.

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B alguém que está envelhecendo na benfazeja companhia de jovens cujo universo, além
de tudo, poderia propiciar-lhe farta matéria para a arte da ficção.
C um escritor a quem o destino brindou com o talento da boa pedagogia, fazendo justiça a
quem os deuses prezam pelo exercício dessa qualidade.
D um profissional dividido, uma vez que a pedagogia e a arte literária constituem um campo
de disputas inconciliáveis entre ficção e ensino.
E alguém a quem foi reservado tanto o privilégio da criação literária como o gosto pela
avaliação crítica dos resultados dessa criação.

6. FCC - AFAP - ANALISTA DE FOMENTO - ADVOGADO – 2019


[Beleza e propaganda]

A crescente padronização do ideal de beleza feminina foi um dos efeitos imprevistos da


popularização da fotografia, das revistas de grande circulação e do cinema a partir do início
do século XX. Não é à toa que esse movimento coincide com a decolagem e vertiginosa
ascensão da indústria da beleza (hoje um mercado com receita global acima de 200 bilhões
de dólares). Como vender “a esperança dentro de um pote?"
As estratégias variam ao infinito, porém a mais diabólica e (possivelmente) eficaz dentre
todas - verdadeira premissa oculta do marketing da beleza - foi explicitada com brutal
franqueza, em 1953, pelo então presidente da megavarejista de cosméticos americana
Allied Stores: “O nosso negócio é fazer as mulheres infelizes com o que têm".
O atiçar cirúrgico da insegurança estética e a exploração metódica das hesitações
femininas no universo da beleza abrem as portas ao infinito. Os números e lucros do setor
reluzem, mas quem estimará a soma de todo o mal-estar causado pelo massacre diuturno
de um padrão ideal de beleza?
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das
Letras, 2013, p. 104-105)

O autor do texto se posiciona claramente contra


A os efeitos nocivos da propaganda, quando se vale de recursos das artes tradicionais para
vender produtos de grande significação social.

Estruturação Argumentativa
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B as teses idealistas acerca do que seja o belo, que propagam modelos estéticos ligados a
um passado clássico que hoje não guardam qualquer sentido.
C a exploração comercial de produtos ligados à estética feminina, como os cosméticos, que
ele julga perverter o padrão ideal de beleza.
D a disseminação de padrões de beleza inatingíveis que atendem a um ávido interesse
econômico e acarretam infelizes obsessões às mulheres.
E a reprodução de modelos de beleza que levam as mulheres a encontrar em si mesmas
uma fonte de prazer sem qualquer relevância social.

7. VUNESP - UNICAMP - PROFISSIONAL PARA ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS –


2019
Hostil mundo novo
Você já passou por isso. Nas últimas semanas, tenho sido torturado por computadores
que ligam e desligam sozinhos, mouses travados, “reiniciações” lentas e outras deliciosas
avarias. Ligo para o técnico e ele me instrui a ligar e desligar este ou aquele botão da torre,
“usar o aplicativo” ou ficar de quatro, meter-me debaixo da mesa e desplugar tudo da
parede, esperar cinco minutos e plugar de novo. Naturalmente, não dá certo.
Nem pode dar. Em jovem, sobrevivi aos zeros em matemática, física, estatística e outras
ciências do diabo, e me concentrei apenas no que me interessava: português, história e
línguas. Desde então, passei a vida profissional a bordo de um único veículo – a palavra.
Com ela, tenho me virado em jornais, revistas, editoras de livros, rádios, TVs, auditórios,
salas de aula e outros cenários onde a palavra seja chamada a dirimir dúvidas ou dinamitar
certezas.
De repente, várias eras geológicas depois, em idade de não querer aprender mais nada, a
tecnologia exige que eu me torne engenheiro eletrônico.

Cada vez mais funções dispensam o papel, a ida pessoal ao banco ou a conversa
“presencial”. Para reinstalar a internet no computador, tenho de ligar um cabo enfiado na
televisão. Desbloquear um cartão de crédito exige saber extrair uma raiz quadrada. A vida
agora é online e cabe no bolso, mas, diante daquele inferno de teclas, plugues e botões
sem sentido, pode-se perder tudo se digitar algo errado.
A tecnologia tornou o mundo hostil para os que não conseguem acompanhá-la. É
verdade que ela não pode parar por causa de meia dúzia de macróbios incapazes de se
atualizar. Acontece que, nós, os macróbios, não somos meia dúzia. Somos milhões e,

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 18

graças à ciência e a nós mesmos, estamos ameaçados de viver até os cem anos. Pois, se
for para chegar lá, que seja para continuar usando algo mais nobre do que apenas os
polegares.
(Ruy Castro. Folha de S. Paulo. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/ 2018/10/ hostil-mundo-novo.shtml.
Publicado em 28.10.2018)

A afirmação do autor, no último parágrafo, de que se reconhece como um macróbio é


motivada pelo fato de ele
a) ter se dedicado apenas em seus interesses pessoais, como português, história e línguas.
b) ter sobrevivido às disciplinas escolares de matemática, física, estatística e outras
ciências.
c) ter optado pela vida profissional permeada por palavras, ocupando salas de aulas,
auditórios, TVs, rádios e editoras de livros.
d) não ter conseguido se tornar um engenheiro eletrônico para aprender como lidar com a
tecnologia no dia a dia.
e) ter dificuldade para relacionar-se com as novas tecnologias e com os seus dispositivos
eletrônicos complexos.

8. VUNESP - SEDUC-SP - OFICIAL ADMINISTRATIVO – 2019


A legião on-line
Um dos temas de “O Romance Luminoso”, a obra póstuma e incrivelmente
contemporânea de Mario Levrero, é o uso da internet como antidepressivo. Sem alcançar
a tal experiência luminosa que lhe permitiria escrever um romance iniciado há 15 anos, o
autor passa os dias em frente ao computador curtindo o fracasso. Baixa e elabora
programas, joga paciência, busca sites ao acaso. Nas raras vezes em que desgruda da
tela, recorre a outro vício: a televisão.
É um transtorno cada vez mais comum. Todo mundo conhece alguém que está sempre
conectado; acorda e já olha o celular, o qual dormiu ao lado dele na cama; checa os
aplicativos de cinco em cinco minutos; quando não está on-line, sente ansiedade, mau
humor, angústia, tristeza. Os viciados em smartphones são uma legião.

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 19

Publicado em 2005, o livro de Levrero destaca-se não só pela atualidade mas também
pelo caráter profético. A páginas tantas, o autor anota: “O mundo do computador já foi
invadido pelos abjetos*, e quanto mais barato fica mais cresce a abjeção. Não porque os
pobres sejam necessariamente abjetos, e sim porque as pessoas mais vivas usarão as
maravilhas tecnológicas para embrutecer mais ainda os pobres”.
E conclui: “A internet tem mostrado, cada vez mais claramente, para que nasceu, e, com
vistas a esse objetivo, será controlada por comerciantes e estadistas”. Isso nos leva,
naturalmente, a pensar na relação das redes sociais com a empresa de dados políticos
ligada à campanha presidencial de Donald Trump. Ou, em outro caso, sendo obrigadas a
excluir contas por suspeita de fraude.
Esse cenário de disseminação de informações questionáveis – com o fim de manipular
condutas –, mas que em geral têm aceitação, aprofunda mais ainda a abjeção
diagnosticada por Levrero.
Que tal passar mais tempo off-line?
(Alvaro Costa e Silva. Folha de S.Paulo, 11.08.2018. Adaptado)
*Abjeto: de abjeção → ato, estado ou condição que revela alto grau de torpeza, degradação.

Segundo as informações dos dois primeiros parágrafos do texto,


a) o hábito de estar sempre conectado à internet tem levado muitos usuários de
smartphones a comportarem-se como dependentes de seu conteúdo.
b) o acesso à internet tem contribuído decisivamente para minimizar problemas como
angústia e ansiedade, transtornos comuns na atualidade.
c) a constatação de que são dependentes dos smartphones tem levado muitas pessoas a
buscar opções para se afastarem desses aparelhos.
d) a despeito da crítica que se fazia à televisão, ela tem se mostrado benéfica ao diminuir
a ansiedade provocada pelo uso da internet.
e) apesar do grande alcance da internet, ela ainda se mostra menos danosa à saúde da
população do que o hábito de assistir televisão.

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 20

9. VUNESP - TJ-SP - ENFERMEIRO JUDICIÁRIO – 2019


Tempo incerto
Os homens têm complicado tanto o mecanismo da vida que já ninguém tem certeza
de nada: para se fazer alguma coisa é preciso aliar a um impulso de aventura grandes
sombras de dúvida. Não se acredita mais na existência de gente honesta; e os bons têm
medo de exercitarem sua bondade, para não serem tratados de hipócritas ou de ingênuos.
Vivemos um momento em que a virtude é ridícula e os mais vis sentimentos se
mascaram de grandiosidade, simpatia, benevolência. A observação do presente leva-nos
até a descer dos exemplos do passado: os varões ilustres de outras eras terão sido
realmente ilustres? Ou a História nos está contando as coisas ao contrário, pagando com
dinheiros dos testemunhos a opinião dos escribas?
Se prestarmos atenção ao que nos dizem sobre as coisas que nós mesmos
presenciamos – ou temos que aceitar a mentira como a arte mais desenvolvida do nosso
tempo, ou desconfiamos do nosso próprio testemunho, e acabamos no hospício!
Pois assim, é, meus senhores! Prestai atenção às coisas que vos contam, em família,
na rua, nos cafés, em várias letras de forma, e dizei-me se não estão incertos os tempos e
se não devemos todos andar de pulga atrás da orelha!
Agora, pensam os patrões, os empregados, os amigos e inimigos de uns e de outros
e todo o resto da massa humana. E não só pensam, como também pensam que pensam!
E além de pensarem que pensam, pensam que têm razão! E cada um é o detentor exclusivo
da razão!
Pois de tal abundância de razão é que se faz a loucura. E a vocação das pessoas,
hoje em dia, não é para o diálogo com ou sem palavras, mas para balas de diversos
calibres. Perto disso, a carestia da vida é um ramo de flores. O que anda mesmo caro é
alma. E o Demônio passeia pelo mundo, glorioso e imune.
(Cecília Meireles, Tempo incerto. Em: Escolha o seu Sonho. Adaptado)

Em suas considerações, o narrador pondera que


a) a ideia geral é de que todos sabem opinar, discutindo e avaliando com acuidade a opinião
alheia.

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 21

b) a acriticidade com que todos se comunicam tem oportunizado, sensatamente, a busca


pela razão.
c) o modo como as pessoas se relacionam nos dias de hoje tem promovido o diálogo com
civilidade.
d) o momento atual se marca por uma inversão de valores, o que gera confusão e
incertezas.
e) a confusão do mundo atual tem sido deixada de lado, priorizando-se a humanização das
pessoas.

10. VUNESP - UFABC - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – 2019


Millennials são iguais aos pais, porém mais pobres, conclui Fed
A turma nascida entre 1981 e 1997 não tem tantas particularidades assim na análise
dos gastos com automóveis, alimentação e moradia. Aos olhos da opinião pública
americana, os jovens da geração Millennial são assassinos em série — responsabilizados
pela morte lenta do queijo processado, do cartão de crédito, do táxi, do peru de Ação de
Graças e até do divórcio. Poucos setores saíram ilesos da matança cultural promovida pela
juventude americana.
Agora surgiram argumentos em sua defesa. Um novo estudo do banco central dos EUA
(Federal Reserve) afirma que a turma nascida entre 1981 e 1997 — famosa por adorar
aplicativos — não é tão diferente dos pais. Essa geração é apenas mais pobre nesta mesma
etapa da vida, já que muitos de seus integrantes chegaram à idade adulta durante a crise
financeira.
“Encontramos pouca evidência de que lares de millennials têm gostos e preferências de
consumo inferiores aos de gerações passadas, quando se leva em conta idade, renda e
uma maior variedade de características demográficas”, escreveram os autores Christopher
Kurz, Geng Li e Daniel J. Vine. As conclusões deles se baseiam em uma análise de gastos,
renda, endividamento, patrimônio líquido e fatores demográficos de várias gerações.
A impressão de que os millennials não têm tantas particularidades assim também se
revela na análise granular dos gastos deles com automóveis, alimentação e moradia. “São
principalmente as diferenças de idade média e então as diferenças de renda média que
explicam grande parte da diferença de consumo entre os millennials e outros grupos”,
segundo o estudo.

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 22

(Jeremy Herron e Luke Kawa. Exame. 01.12.2018.https://exame.abril.com. br. Adaptado)

Os vocábulos que, combinados no contexto, chamam atenção para o fato de que o


conteúdo central divulgado pelo texto contraria uma ideia amplamente difundida estão
destacados em negrito no trecho:
a) A turma nascida entre 1981 e 1997 não tem tantas particularidades assim na análise
dos gastos… (1° parágrafo)
b) … muitos de seus integrantes chegaram à idade adulta durante a crise financeira. (2°
parágrafo)
c) “Encontramos pouca evidência de que lares de millennials têm gostos e preferências
de consumo inferiores… (3° parágrafo)
d) As conclusões deles se baseiam em uma análise de gastos, renda, endividamento,
patrimônio líquido e fatores demográficos de várias gerações. (3° parágrafo)
e) “São principalmente as diferenças de idade média e então as diferenças de renda
média… (4° parágrafo)

11. FGV - DPE-RJ - TÉCNICO SUPERIOR JURÍDICO – 2019


“Um paradoxo é uma provocação à lógica. Considere, por exemplo, a afirmação: ‘Eu estou
mentindo’. Se ela for falsa, isso quer dizer que eu não estou mentindo, o que contradiz a
afirmação feita. Mas, se ela for verdadeira, então a afirmação será falsa – ao dizer que
estava mentindo, eu disse a verdade e, logo, não estava mentindo. A afirmação é
verdadeira se for falsa e falsa se for verdadeira!”
(Eduardo Giannetti, O paradoxo do brasileiro)

Considerando o título do artigo de onde foi retirado esse trecho introdutório, a introdução
acima pode ser caracterizada como:
a) uma informação de caráter histórico;
b) uma definição inicial de termos;
c) uma alusão à situação atual;
d) uma classificação tipológica;
e) uma argumentação filosófica

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 23

12. FGV - DPE-RJ - TÉCNICO SUPERIOR JURÍDICO – 2019


“Hoje, em todo o mundo, cerca de 550 milhões de pessoas estão conectadas à Internet –
quase 9 milhões delas no Brasil. Quando a rede de computadores começou a popularizar-
se, dez anos atrás, os apocalípticos de plantão, sempre eles, logo alardearam que os
efeitos colaterais mais nefastos desse fenômeno seriam o isolamento e a alienação. Que
as pessoas deixariam de relacionar-se, que se tornariam ainda mais sedentárias, que
teriam o seu cotidiano moldado por uma espécie de irrealidade digital, que emburreceriam,
e por aí vai”. (Veja, 03/03/2004, p. 85)

Argumentativamente, o texto:
a) condena indiretamente a Internet, mostrando ironicamente argumentos contra ela;
b) parte de uma afirmação inicial indiscutível para, em seguida, explicitar alguns de seus
termos;
c) mostra que algumas críticas apressadas se tornam ridículas com o passar do tempo;
d) procura historicamente justificar algumas críticas contra a Internet;
e) critica as pessoas que, usando a Internet, se afastam do convívio social.

13. FGV - DPE-RJ - TÉCNICO MÉDIO DE DEFENSORIA PÚBLICA – 2019


Inadimplência reduzida. Alguns dos entrevistados da classe C têm prestações atrasadas,
em proporção maior que os da classe D, também entrevistados, o que mostra que os
segmentos de renda menores representam riscos menores do que anos atrás. Isso ocorre
porque o modelo de análise de crédito das instituições financeiras está mais eficaz.
(Conexão, julho 2008)

O argumento básico desse texto se apoia no(na):


a) exemplo que passa de um fato particular para um caráter geral;
b) narrativa de um fato emblemático;
c) autoridade da empresa responsável pela entrevista;
d) credibilidade da revista que publica a reportagem;
e) atualidade dos dados apresentados.

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 24

14. FUNDEP – PREFEITURA DE LAGOA SANTA - ANALISTA DE SISTEMAS – 2019


A marcha do obscurantismo contra o pensamento crítico - Por João Batista da Silveira
Chamou a atenção nos últimos dias e ganhou repercussão nas redes sociais uma Ideia
Legislativa sob consulta no Portal e-Cidadania, do Senado Federal, que propõe a extinção
dos cursos de Humanas nas universidades públicas. Como argumento, o autor da proposta
alega se tratarem de “cursos baratos que facilmente poderão ser realizados em
universidades privadas”, podendo ser realizados “presencialmente e à distância em
qualquer outra instituição paga”, e que não é adequado “usar dinheiro público e espaço
direcionado a esses cursos quando o país precisa de mais médicos e cientistas”.
A reação foi imediata. Rapidamente, uma outra Ideia Legislativa, contrária, foi submetida à
consulta no site do Senado, defendendo a permanência das humanidades nas instituições
de ensino superior públicas e a necessidade de “acesso igualitário à educação em todos
os níveis de ensino”. Se a primeira “ideia” contava, na manhã de 13 de abril, com pouco
mais de 6.400 apoios, a segunda ultrapassou largamente os 20 mil necessários (eram
quase 46 mil apoios até a mesma manhã) para ser transformada em Sugestão Legislativa
e ser debatida pelos senadores.
A proporção mostra que há um enfrentamento forte à tentativa de solapar a formação
crítica. No entanto, a simples existência de 6 mil pessoas — ainda que pareça pouco —
dispostas, até a sexta-feira 13, a apoiar a extinção dos cursos de Filosofia, História,
Geografia, Sociologia, Artes e Artes Cênicas nas universidades públicas é sintomática e
reflete um obscurantismo que, se pela obviedade, tem mais dificuldade de prosperar numa
consulta desse tipo, em outras vertentes já se impõe de forma sorrateira e perigosa.
É o que acontece, por exemplo, com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o
Ensino Médio, apresentada pelo Ministério da Educação no último dia 3 de abril.
Corroborando o que já havia sido aprovado na Reforma do Ensino Médio, o texto da BNCC
dilui as disciplinas de Filosofia, Sociologia, História e Geografia — sim, as mesmas cujos
cursos superiores são atacados pela Ideia Legislativa que propõe seu fim — na ampla área
de ciências humanas e sociais aplicadas que se constitui como um dos itinerários
formativos (os outros são linguagens, matemática, ciências da natureza e formação técnica
e profissional) que, segundo a proposta do MEC, “deverão ser organizados por meio da

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 25

oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a


possibilidade dos sistemas de ensino”.
Em teoria, a intenção é que, ao passo que as áreas de linguagens e matemáticas sejam
obrigatórias durante todo o Ensino Médio, as outras sejam distribuídas ao longo dos três
anos a critério das redes de ensino, permitindo que o estudante escolha seu percurso. O
texto da BNCC considera que os itinerários, previstos na lei da Reforma do Ensino Médio,
são estratégicos para a flexibilização da organização curricular desse nível da educação
básica, permitindo que o próprio estudante faça sua opção.
A realidade, porém, é outra. Como se não bastasse o fato de que essa estrutura representa
um retrocesso em relação à Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 e à concepção de
uma educação propedêutica, que leve a um nível mais profundo de aprendizagem, a própria
condição enunciada na BNCC – “conforme relevância para o contexto local e a
possibilidade dos sistemas de ensino” – abre brechas para que as disciplinas da grande
área de ciências humanas e sociais aplicadas sejam cada vez menos ofertadas, sob
justificativa previsível e equivalente àquela usada na Ideia Legislativa contra os cursos de
humanas: a de que a “relevância para o contexto local” é a formação técnica ou ligada às
ciências exatas e da natureza, privilegiadas na impossibilidade financeira dos sistemas de
ensino de ofertarem todos os itinerários.
Com isso, pode-se alijar cada vez mais Filosofia, Sociologia, História e Geografia das salas
de aula, com o claro objetivo de embotar a formação de pensamento crítico.
Disponível em:<http://www.cartaeducacao.com.br/artigo/a-marcha-do-obscurantismo-
contra-o-pensamento-critico/> . Acesso em: 25 jan. 2019.

Em determinada parte do texto, é utilizada uma estratégia de contra-argumentação. Isso se



A no primeiro parágrafo, no qual o autor afirma que há uma petição que defende retirar a
oferta de cursos de ciências humanas das universidades públicas.
B no quarto parágrafo, no qual o autor descreve a mudança em relação às disciplinas das
ciências humanas proposta pela BNCC.
C nos quinto e sexto parágrafos, nos quais o autor contrapõe as propostas da BNCC para
as ciências humanas ao que pode acontecer na realidade dos estudantes.

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 26

D nos sexto e sétimo parágrafos, nos quais o autor contrapõe as possíveis consequências
das mudanças propostas pela BNCC ao fim do pensamento crítico.

15. FUNDEP – PREFEITURA DE LAGOA SANTA - TÉCNICO EM INFORMÁTICA – 2019


A ilusão das redes sociais
É indiscutível o importante papel que as redes sociais desempenham hoje nos rumos de
nossa vida política e privada. São indiscutíveis também os avanços que introduziram nas
comunicações, favorecendo o reencontro e a aproximação entre as pessoas e, se forem
redes profissionais, facilitando a visibilidade e a circulação de pessoas e produtos no
mercado de trabalho.
A velocidade com que elas veiculam notícias, a extensão territorial alcançada e a imensa
quantidade de pessoas que atingem simultaneamente não eram presumíveis cerca de uma
década atrás, nem mesmo pelos seus criadores. Temos sido testemunhas, e também alvo,
do seu poder de convocação e mobilização, assim como da sua eficiência em estabelecer
interesses comuns rapidamente, a ponto de atuarem como disparadoras das várias
manifestações e movimentos populares em todo o mundo atual.
Portanto, não podemos sequer supor que elas tragam somente meras mudanças de
costumes, porque seu peso, associado ao desenvolvimento da informática, é semelhante
à introdução da imprensa, da máquina a vapor ou da industrialização na dinâmica do nosso
mundo. As redes sociais provocam mudanças de fundo no modo como as nossas relações
ocorrem, intervindo significativamente no nosso comportamento social e político. Isso
merece a nossa atenção, pois acredito que uma característica das redes sociais é, por mais
contraditório que pareça, a implantação do isolamento como padrão para as relações
humanas.
Ao participar das redes sociais acreditamos ter muitos amigos à nossa volta, sermos
populares, estarmos ligados a todos os acontecimentos e participando efetivamente de
tudo. Isso é uma verdade, mas também uma ilusão, porque essas conexões são superficiais
e instáveis. Os contatos se formam e se desfazem com imensa rapidez; os vínculos
estabelecidos são voláteis e atrelados a interesses momentâneos.
Além disso, as relações cultivadas nas redes sociais se baseiam na virtualidade, portanto,
no distanciamento físico entre as pessoas. Isso nos permite, com facilidade, entrar em

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 27

contato com as pessoas e afastá-las quando bem quisermos. Tal virtualidade garante
comunicação sem intimidade.
[...]
Quando Hannah Arendt, pensadora contemporânea da política, analisou os totalitarismos
do século passado, apontou para o projeto desses sistemas de tornarem os homens
supérfluos. Para tanto, entre outros expedientes, mantinham as pessoas isoladas umas das
outras.
Separavam-nas de seus familiares, de suas comunidades, inclusive das pessoas com quem
coabitavam nos galpões dos campos de concentração, instaurando entre elas a suspeita e
o medo de delações. Isolavam classes sociais promovendo contendas e animosidades
entre elas. Isolavam as pessoas do seu próprio eu, exaurindo-as com trabalho e mantendo-
as doentes e famintas. O isolamento torna os indivíduos manipuláveis e controláveis, como
coisas. Os sistemas totalitários sabem muito bem que, isolados, os homens perdem a
capacidade de se expor e de agir.
Na nossa atualidade o isolamento tem um perfil diferente, porque é mais voltado para a
intensificação do individualismo, cujos interesses afastam-se a cada vez mais das questões
sociais. As recentes manifestações populares embora devam sua ocorrência às redes
sociais, mantêm o caráter do individualismo e do isolamento, pois os participantes não
criam vínculos entre si. Expressam suas opiniões, caminham juntos, mas é só isso.
Arendt tem por pressuposto de suas análises a condição humana da pluralidade, ou seja,
o fato de vivermos entre homens e jamais chegarmos a ser nem um ser humano nem
mesmo os indivíduos que somos longe da companhia dos outros. Os outros, tanto quanto
o ambiente em que vivemos, nos constituem, daí que, se o distanciamento interpessoal for
se estabelecendo como nova condição de existência, nossa própria humanidade poderá
sofrer o impacto de uma mutação. [...]
Disponível em: <http://www.cartaeducacao.com.br/artigo/a-ilusao-das-redes-sociais/>.
Acesso em: 10 jan. 2019.

Leia o trecho a seguir.


“[...] acredito que uma característica das redes sociais é, por mais contraditório que pareça,
a implantação do isolamento como padrão para as relações humanas.”
A ideia expressa nesse trecho está contida em todos os trechos a seguir, exceto em:

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 28

A “Os contatos se formam e se desfazem com imensa rapidez; os vínculos estabelecidos


são voláteis e atrelados a interesses momentâneos.”
B “As recentes manifestações populares embora devam sua ocorrência às redes sociais,
mantêm o caráter do individualismo e do isolamento, pois os participantes não criam
vínculos entre si.”
C “Além disso, as relações cultivadas nas redes sociais se baseiam na virtualidade,
portanto, no distanciamento físico entre as pessoas. Isso nos permite, com facilidade, entrar
em contato com as pessoas e afastá-las quando bem quisermos.”
D “Ao participar das redes sociais acreditamos ter muitos amigos à nossa volta, sermos
populares, estarmos ligados a todos os acontecimentos e participando efetivamente de
tudo.

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 29

GABARITO

1.B

2.C

3.A

4.B

5.B

6.D

7.E

8.A

9.D

10.A

11.B

12.C

13.A

14.C

15.D

Estruturação Argumentativa
Português com Lógica 30

Capítulo 24
(5ª edição)

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Professora Adriana Figueiredo

Professora Adriana Figueiredo

professoraadrianafigueiredo

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