Trechos Pioneiros Vol2

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Os pioneiros

da habitação
social
FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP Projeto desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa
Pioneiros da Habitação Social no Brasil
Presidente do Conselho Curador SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO
Coordenação Nabil Bonduki
Mário Sérgio Vasconcelos Administração Regional no Estado de São Paulo
Coordenação Adjunta Ana Paula Koury
Diretor-Presidente Presidente do Conselho Regional Pesquisadores
Abram Szajman Flávia Brito do Nascimento, Maria Luiza de Freitas,
José Castilho Marques Neto
Nilce Aravecchia Botas, Sálua Kairuz Manoel Poleto
Diretor Regional
Editor-Executivo Danilo Santos de Miranda Volume 2 – Inventário da produção
Jézio Hernani Bomfim Gutierre pública no Brasil
Conselho Editorial
Concepção e Coordenação Editorial Nabil Bonduki
Superintendente Administrativo e Financeiro Ivan Giannini
Textos e legendas Nabil Bonduki e Ana Paula Koury
William de Souza Agostinho Joel Naimayer Padula
Coordenação da pesquisa Nabil Bonduki e Ana Paula Koury
Luiz Deoclécio Massaro Galina
Assessores Editoriais Assistentes de pesquisa e de edição
Sérgio José Battistelli Amália Santos, Inês Bonduki, Juliana Tieni,
João Luís Ceccantini
Rodrigo Minoro e Tatiana Zamoner
Maria Candida Soares Del Masso Edições Sesc São Paulo Pesquisa e Levantamentos de Campo
Gerente Marcos Lepiscopo Nabil Bonduki e Ana Paula Koury (coordenação), Alexandra de
Conselho Editorial Acadêmico Souza Frasson, Alexsandro de Almeida Pereira, Amália Cristóvão
Gerente adjunta Isabel M. M. Alexandre
Áureo Busetto dos Santos, Ana Maria Boschi da Silva, Ana Marta Branquinho

Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza Coordenação editorial Clívia Ramiro, Cristianne Lameirinha e Silva, Ana Paula Cássago, Camila Opipari Capitanini, Carlos

Produção editorial Rafael Fernandes Cação Frederico Lago Burnett, Carolina M. Chaves, Eduardo Henrique
Elisabete Maniglia
de Souza, Elaine Pereira da Silva, Felipe de Araujo Contier, Felipe
Henrique Nunes de Oliveira Coordenação gráfica Katia Verissimo Drago, Fernanda Accioly, Fernando Domingues Caetano, Flávia
João Francisco Galera Monico Coordenação de comunicação Bruna Zarnoviec Daniel Brito do Nascimento, Francisco Sales Trajano Filho, Fúlvio Teixeira,
George Alexandre Ferreira Dantas, Glaucio Henrique Chaves,
José Leonardo do Nascimento Colaborador desta edição Marta Colabone
Inês Bonduki, Julia Wartchow, Juliana Costa Mota, Kelly Yamashita,
Lourenço Chacon Jurado Filho Liah Beatriz Aidukaits, Luciana Dornellas, Maira de Carvalho,
Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan Manoela C. Souza, Maria Beatriz Camargo Capello, Maria Cláudia
de Oliveira, Maria Luiza de Freitas, Maristela Siolari, Marluce Wall
Paula da Cruz Landim Edições Sesc São Paulo
de Carvalho Venâncio, Mauricio Ribeiro da Silva, Nilce Aravecchia
Rogério Rosenfeld Rua Cantagalo, 74 - 13º/14º andar
Botas, Paola Moreno Bernardi, Pablo Iglesias, Patricia Lustosa,
03319-000 São Paulo SP Brasil
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Editores-Assistentes Tel. 55 11 2227-6500 Padovani, Paulo Silva, Rafael M. Esposel, Raquel Schenkman,
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sescsp.org.br Rodrigo Minoro, Sálua Kairuz Manoel Poleto, Silvia Siscar, Tatiana
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Colaboração nos levantamentos de campo
Alfredo Brito e Ana Luiza Nobre (Rio de Janeiro); Ângela Ferreira
CIP – Brasil. Catalogação na publicação
© 2012 Editora Unesp e Dulce Bentes (Natal); Carlos Frederico Lago Burnett (São Luís);
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Praça da Sé, 108 v.2
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Os pioneiros da habitação social no Brasil: volume 02 /
Tel.: (0xx11) 3242-7171 Nabil Bonduki, Ana Paula Koury. – 1. ed. – São Paulo: Ana Paula Koury (coordenação); Douglas Uemura Olim Marote e
Editora Unesp: Edições Sesc São Paulo, 2014. Natália Held (edição final); Acácia Furuya, André Ramos, Bruna
Fax: (0xx11) 3242-7172
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Arquitetura e Estado – Brasil. 4. Planejamento urbano – Brasil – Projeto gráfico e editoração eletrônica Homem de Melo e Troia Design
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Tratamento de imagens Antônio Carlos Kehl
CDD: 720.981 Revisão do texto Neusa Caccese de Mattos e Claudionor de Mattos
14-11357 CDU: 72(81)(091) Preparação do Texto Camilla Bazzoni
Os pioneiros
da habitação
social Volume 2
Inventário da produção
pública no Brasil entre
1930 e 1964
Nabil Bonduki
Ana Paula Koury
Esta publicação é o reflexo de mais de duas décadas de mi­ Através do Petrobras Cultural, buscamos abordar a cultu­
nuciosa pesquisa sobre a política pública brasileira para ra brasileira em suas mais diversas manifestações, articu­
a habitação entre 1930 e 1964. Sob o olhar da Arquitetura lados com as políticas públicas para o setor e focados na
e do Urbanismo e através de documentação textual e fo­ afirmação da identidade brasileira, além de contribuir para
tográfica, Os pioneiros da habitação social traz a trajetória e a permanente construção da memória cultural. Ao patroci­
as inovações tecnológicas das implantações de conjuntos nar este projeto, a Petrobras reafir­ma o objetivo de incen­
habitacionais de várias regiões do país. É de extrema im­ tivar o trabalho de resgate e organização do acervo mate­
portância para o resgate e para o registro do patrimônio ar­ rial e imaterial da nossa cultura, com a intenção firme de
quitetônico e urbanístico de tais construções, assim como ampliar a oportunidade de acesso público a esses acervos.
consolida a contribuição histórica para o desenvolvimento
destas áreas no Brasil. Auxiliar na organização e dispo­
nibilização de material tão relevante é compatível com o
que almejamos ao selecionar um projeto. É motivo de or­
gulho saber que os resultados do trabalho agora estarão
disponíveis para estudantes, pesquisadores e qualquer in­
teressado no registro deste período da ocupação urbana
no século XX.

Patrocínio Apoio
Na história da arquitetura e urbanismo brasileira, a habitação social
sempre foi tratada como um objeto de segunda categoria diante dos
edifícios monumentais e das residências da elite. O registro e a aná-
lise da moradia dos trabalhadores nunca tiveram o destaque neces-
sário, perdendo-se a memória sobre o espaço ocupado pelos mais
pobres. Esta publicação procura suprir essa lacuna. Desenvolvida na
USP entre 1997 e 2013 –, inicialmente na Escola de Engenharia de
São Carlos e, após 2005, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo –,
a pesquisa que originou esta obra identificou, levantou e sistematizou
a produção de habitação social realizada pelo poder público em todo
o país na era Vargas.

Organizado em três volumes, o livro foi concebido para tratar esse


tema com a mesma qualidade que tem sido dada à “alta arquitetura”.
No primeiro volume, analisa-se a ação dos principais órgãos promo-
tores, no âmbito de um inédito estudo sobre a história da ação estatal
na questão habitacional no Brasil, do início do século XX até os dias
atuais. Nesse segundo volume, apresenta-se o inventário de toda a
produção, com fichas descritivas por empreendimento e farta ilustra-
ção. No terceiro volume, os principais empreendimentos foram anali-
sados, incluindo modelos tridimensionais dos projetos originais e um
ensaio fotográfico realizado pelo fotógrafo Bob Wolfenson.

A publicação não se viabilizaria sem o apoio da USP, da Fapesp, da


Fundação para o Incremento da Pesquisa e Aperfeiçoamento Indus-
trial e de várias empresas, que através da Lei de Incentivo à Cultu-
ra patrocinaram o projeto, selecionado em edital público promovido
pela Petrobras voltado para a área de “Patrimônio e Documentação”.
O acolhimento que a proposta obteve da Editora da Unesp e das Edi-
ções SESC foi fundamental para sua concretização.

A todos os que contribuíram com este trabalho, em especial, os pes-


quisadores do nosso Grupo de Pesquisa, por onde passaram dezenas
de estudantes de graduação e pós-graduação ao longo de dezesseis
anos, nossa gratidão pelo esforço realizado. Não se avançará no en-
frentamento do problema habitacional brasileiro, com a qualidade
que tem faltado, sem a memória e a reflexão sobre o que já se produ-
ziu. Este livro joga mais uma pedrinha no árduo caminho para garan-
tir o direito à habitação digna para todos.

Prof. Dr. Nabil Bonduki


Coordenador do Grupo de Pesquisa Pioneiros da Habitação Social no Brasil
VI

Sumário

1 12 104
Apresentação IAPI IAPC
VII

176 234 264


IAPB IPASE IAPTEC
IAPM
IAPE
VIII

294 318 352


CAP FCP Órgãos
CAPFESP regionais
IAPFESP
IX

410 488
Áreas Referências bibliográficas
residenciais das Créditos de imagens
cidades novas Índice de projetos
Índice onomástico
X
Apresentação

O Volume 2 do livro Os pioneiros da habitação social é inte- desenvolvida pelas principais instituições promotoras, que
gralmente dedicado à apresentação do inventário dos con- apresentam trajetórias específicas que merecem ser ob-
juntos residenciais produzidos pelo poder público entre servadas de modo sequencial.
1930 e 1964. Nele está reunida, pela primeira vez, a gran-
Como foi mostrado no Volume 1, os principais órgãos cria-
de maioria dos projetos concebidos em todo o país pelos
ram setores ou departamentos de arquitetura e engenharia
órgãos públicos que atuaram nesse período promovendo
que formularam concepções próprias de como enfrentar
habitação para os trabalhadores assalariados urbanos.
a questão da habitação, considerando aspectos como, en-
A concretização do inventário envolveu trabalhos de di- tre outros, as estratégias de aquisição de terrenos e de
ferentes naturezas, incluindo identificação, localização, localização dos empreendimentos, a criação de famílias
levantamentos bibliográfico, documental e de campo, do- tipológicas de blocos e unidades unifamiliares, o desenvol-
cumentação e ensaio fotográfico, sistematização das infor- vimento de processos construtivos próprios. A observação
mações, redesenho de projetos e redação de fichas e textos detalhada dos empreendimentos revela o grau de matu-
descritivos de 322 empreendimentos, projetados em todo o ridade alcançado no país em relação ao tema da habitação,
país. Sua realização foi uma tarefa de grande dimensão, um além dos principais dilemas e perspectivas encontrados
verdadeiro desafio investigativo e de síntese, realizado por pelos profissionais encarregados de elaborar e implemen-
inúmeros pesquisadores, ao longo de duas décadas, em 77 tar os projetos.
cidades situadas em 24 unidades da federação.
O inventário está organizado em nove capítulos, dos quais
Os empreendimentos inventariados foram reunidos em cinco são dedicados integralmente a um único órgão. Os ca-
nove capítulos, agrupados por órgãos ou conjunto de órgãos pítulos 1, 2 e 3 reúnem, respectivamente, a produção dos
promotores. Em vez de agrupá-los por estados, regiões ou seguintes Institutos de Aposentadoria e Pensões: dos In-
períodos, optou-se por essa forma de organização para fa- dustriários (IAPI), com 51 empreendimentos; dos Comer-
cilitar o entendimento da concepção de projeto habitacional ciários (IAPC), com 57 empreendimentos, e dos Bancários
Apresentação 2

(IAPB), com 48 empreendimentos. O capítulo 4 reúne a pro- O capítulo 9 reúne as áreas residenciais planejadas das
dução do Instituto de Previdência e Assistência dos Ser- cidades novas promovidas pelo governo federal ou por
vidores do Estado (IPASE), com 26 empreendimentos, e o empresas estatais: Volta Redonda, Cidade dos Motores,
capítulo 7 reúne a produção da Fundação da Casa Popular Ipatinga e Brasília. Na Nova Capital, são apresentadas as
(FCP), com 29 empreendimentos. realizações pioneiras, implantadas até 1964.

Os demais capítulos correspondem a um agrupamento de Todos os capítulos contêm uma breve introdução, que apre-
órgãos cuja produção foi menos expressiva do ponto de vis- senta de modo sintético as características do órgão promo-
ta quantitativo e que apresentam algum tipo de identidade. tor e de sua produção habitacional, seguida da documenta-
O capítulo 5 reúne a produção do Instituto de Aposentado- ção de cada um dos empreendimentos, que foram ordenados
ria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas cronologicamente, sem muita rigidez, de modo a aproximar
(IAPETC), do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Ma- as tipologias semelhantes e a enfatizar as diretrizes de pro-
rítimos (IAPM) e do Instituto de Aposentadoria e Pensões jeto habitacional implementadas por cada instituição.
da Estiva (IAPE), num total de 27 empreendimentos. O capí- O inventário visa, sobretudo, apresentar a produção habita-
tulo 6 reúne a produção da Caixa de Aposentadoria e Pen- cional promovida pelos órgãos públicos no período estuda-
sões dos Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos do, descrevendo e documentando as obras realizadas, em
(CAPFESP), do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos sua grande maioria desconhecidas. O objetivo é, sobretudo,
Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos (IAPFESP) mostrar os projetos, levando em conta que a análise deta-
e das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAP) de diferen- lhada dos principais órgãos e de sua produção foi realizada
tes empresas públicas, somando 25 empreendimentos. no primeiro volume, onde pode ser encontrada uma refle-
O capítulo 8 reúne empreendimentos realizados por órgãos xão crítica sobre o contexto institucional e político em que
regionais pertencentes a estados e municípios que, no perío- os empreendimentos foram produzidos. Ressalta-se que o
do, atuaram na área da habitação, com destaque para os esta- registro e a documentação dessas obras estavam dispersos,
dos de Pernambuco e Rio de Janeiro. Em Pernambuco, atua- diluídos ou eram totalmente inexistentes. Apesar dessa di-
ram os seguintes órgãos: Fundação A Casa Operária, Liga ficuldade, os textos descritivos foram redigidos de maneira
Social Contra o Mocambo, Serviço Social Contra o Mocambo, a oferecer ao leitor um quadro básico do contexto em que os
Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do Pernam- projetos foram realizados.
buco (IPSEP) e Caixa de Acidentes dos Servidores do Estado. Todos os empreendimentos incluídos no inventário contêm,
Já no Rio de Janeiro, atuaram o Departamento de Habitação no mínimo, uma ficha descritiva, com informações básicas,
Popular da Prefeitura do Distrito Federal (DHP), Serviço de como órgão promotor, data, local, número de unidades, tipo-
Vilas e Parques Proletários, da Prefeitura do Distrito Federal, logia habitacional utilizada e equipamentos previstos. Além
Associação Lar Proletário, Fundação Leão XIII, Serviço Social dessa ficha, buscou-se garantir ainda um texto explicativo do
dos Morros e Favelas do Rio de Janeiro da Prefeitura do Dis- empreendimento, documentação gráfica redesenhada do seu
trito Federal e Cruzada São Sebastião. Em outros estados, projeto, fotos da época e recentes. Em decorrência da dificul-
atuaram o Instituto de Previdência do Estado de São Paulo dade de obtenção de dados e registros iconográficos e, tam-
(IPESP), o Serviço Estadual de Construção de Casas Popula- bém, da falta de espaço na publicação (que ficou 60% maior
res (do Governo do Estado do Amazonas) e o Governo do Es- do que o previsto originalmente), os empreendimentos foram
tado do Sergipe, num total de 34 empreendimentos. hierarquizados de acordo com sua importância do ponto de
3
vista arquitetônico, urbanístico, construtivo e histórico, as- Estado, previdência social e habitação (Farah, 1983). Entre
sim como em função da disponibilidade das informações, de 1989 e 1991, foram realizados os primeiros levantamentos
modo a dar destaque para os mais importantes e mais bem arquitetônicos em alguns dos mais importantes conjun-
documentados. Essa hierarquia e a preocupação em garan- tos residenciais localizados em São Paulo, realizado com o
tir maior cobertura regional orientaram a prioridade dos le- apoio de estudantes de graduação do Curso de Arquitetura
vantamentos de campo, de modo que o espaço dedicado para e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos.
cada obra varia significativamente ao longo do inventário. Ao
O material processado e analisado nessa primeira etapa da
final da ficha ou do texto explicativo de cada empreendimento,
pesquisa, sistematizado de forma acabada no livro Origens
são apresentadas as fontes das informações e dos desenhos,
da habitação social no Brasil (Bonduki, 1998), revelou os pri-
assim como os autores das fotografias incluídas no registro.
mórdios da intervenção do Estado na questão da habitação
e estabeleceu a relação entre a arquitetura moderna e os
Etapas da pesquisa projetos habitacionais.
O inventário apresentado é resultado de 25 anos de estudo, As duas etapas subsequentes da pesquisa são tributárias
pesquisas e levantamentos de campo, desde as primeiras desse estudo, que abriu um amplo campo de investigação e
observações e registros, que tiveram início em meados da agregou um conjunto de estudantes de graduação e de pós-
década de 1980, quando essa produção era inteiramente -graduação, que passaram a integrar, com suas pesquisas
desconhecida, até sua finalização, ocorrida em fevereiro de de iniciação científica, mestrado e doutorado, um grupo que
2012. De uma maneira geral, a pesquisa – que incluiu a iden- teve papel fundamental na concretização deste inventário.
tificação dos empreendimentos, levantamento bibliográfico
A segunda etapa do levantamento foi desenvolvida entre
e documental em arquivo, observação in loco, levantamento
1997 e 2001 com o apoio da Fapesp, como uma das partes do
arquitetônico, registro fotográfico, entrevistas, redesenho
projeto temático Habitação econômica e arquitetura moderna
das peças gráficas originais e sistematização dos dados e
no Brasil (Sampaio; Bonduki, 1996; 2001), desenvolvido, sob
informações obtidas – foi desenvolvida em três etapas.
a coordenação dos professores Maria Ruth Sampaio e Nabil
A primeira, realizada entre 1987 e 1995, corresponde ao Bonduki, por uma equipe de pesquisadores da Faculdade
período de elaboração da tese de doutorado Origens da ha- de Arquitetura e Urbanismo e da Escola de Engenharia de
bitação social no Brasil: o caso de São Paulo (Bonduki, 1994), São Carlos, ambas da Universidade de São Paulo.
momento em que foi identificado o precioso ciclo de pro-
Nessa etapa, foi feito um extenso levantamento dos con-
jetos de habitação social implementado pelos institutos de
juntos habitacionais realizados pelos institutos de aposen-
aposentadoria e pensões entre 1930 e 1964.
tadoria e pensões e demais órgãos promotores que atua-
Nessa fase, foram realizados uma ampla pesquisa biblio- ram no período, concentrado nos estados de São Paulo e Rio
gráfica e levantamentos de campo exploratórios nas prin- de Janeiro, no âmbito de uma investigação mais ampla que
cipais capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto visava estabelecer uma interlocução com as outras abor-
Alegre, Salvador e Belo Horizonte), identificando alguns dos dagens tratadas no projeto temático, desenvolvidas pelos
conjuntos residenciais mais relevantes do ponto de vista da demais pesquisadores, como a produção privada da habita-
sua arquitetura. Esse primeiro levantamento teve por base ção econômica, as áreas residenciais das cidades novas, o
a inédita listagem de empreendimentos elaborada pela desenvolvimento tecnológico e as inovações, em termos de
professora Marta Farah, em sua dissertação de mestrado legislação, relacionadas com a questão habitacional.
Apresentação 4

O relatório final dessa etapa da pesquisa (Bonduki, 2002) A sistematização do material levantado possibilita uma
constitui o embrião do inventário apresentado neste volu- completa análise da produção habitacional do período, não
me. O levantamento sistemático da produção, ainda que inteiramente apresentada neste livro, superando visões
incompleto, e sua sistematização preliminar permitiram parciais que predominavam até então, permitindo compa-
aprofundar o conhecimento sobre as diretrizes formuladas rações e diferenciações regionais e garantindo a compreen-
pelos órgãos promotores, identificar a atuação dos prin- são, de modo integral, da política empreendida por cada ór-
cipais profissionais que realizaram os projetos e analisar gão promotor.
de maneira mais global o caráter inovador dos empreendi-
Resultado, como se vê, de um longo esforço investigativo,
mentos. Esse relatório foi a referência básica que permitiu
o inventário, embora bastante completo, está longe de es-
a obtenção de apoios para preparar sua publicação (que to-
gotar o assunto, pois apresenta lacunas tanto nas fontes
mou o nome de Os pioneiros da habitação social), a partir do
documentais como no levantamento de campo. Espera-se
patrocínio obtido pelo concurso promovido pela Petrobras, que a organização e a publicação deste material estimulem
dirigido para a preservação e documentação do patrimônio novas investigações e análises, necessárias para um me-
cultural brasileiro. lhor conhecimento e compreensão do tema.
Como consequência, a terceira etapa da pesquisa, que ocorreu
entre 2005 e 2012, foi centrada na concepção e elaboração do
Metodologia do levantamento
livro. Verificou-se que o material até então obtido era insufi-
ciente para a realização de um inventário completo a nível na- das informações
cional, requerendo uma ampliação da pesquisa para todas as A identificação, levantamento, sistematização e apresen-
unidades da federação, maior esforço de organização, sistema- tação da produção habitacional realizada pelo poder públi-
tização e tratamento analítico. Com esse objetivo, foi elabora- co entre 1930 e 1964 não foram tarefa simples. A partir da
do um novo projeto de pesquisa, que recebeu apoio da Fapesp consolidação de uma listagem preliminar de empreendi-
(Bonduki, 2005) e que teve como escopo principal completar mentos, foi definido um procedimento que previa pesquisa
o levantamento, dando-lhe uma abrangência efetivamente na- bibliográfica, sobretudo em periódicos e revistas, e levan-
cional. Assim, todos os órgãos promotores e praticamente to- tamento documental nos arquivos originais dos órgãos pro-
das as unidades da federação onde foram realizados empreen- motores, objetivando reunir os elementos necessários para
dimentos foram cobertos, garantindo, ainda, uma organização a avaliação dos conjuntos identificados, tais como a icono-
adequada para as informações e iconografia levantadas. grafia da época e os documentos técnicos dos projetos. Os
levantamentos deveriam ser complementados com visitas
A investigação foi centrada no entendimento dos projetos
técnicas de campo e registros fotográficos recentes.
e das intervenções promovidas pelos órgãos promotores,
sem se aprofundar no estudo das modificações realizadas No entanto, foram grandes as dificuldades encontradas para
nos empreendimentos, por iniciativa dos moradores, nesse a obtenção do material original. Não existem arquivos orga-
mais de meio século transcorrido entre a sua ocupação e a nizados que reúnam os documentos relativos aos empreen-
atualidade. A descrição apresentada no inventário apenas dimentos projetados e construídos no período. A maioria
aponta as alterações ocorridas nos conjuntos, sem se apro- dos 28 órgãos promotores estudados foi extinta entre 1964
fundar no detalhamento dessa questão, que pode e deve e 1966 e seus arquivos foram transferidos para outras insti-
ser objeto de novos estudos e pesquisas. tuições que, em geral, não os conservaram adequadamente.
5
Apenas uma pequena parte da documentação dos 322 em- arquivos da Fundação da Casa Popular (FCP), órgão incor-
preendimentos inventariados foi publicada nas revistas de porado, em 1964, ao Serviço Federal de Habitação e Urba-
arquitetura e engenharia e, de uma maneira geral, salvo ex- nismo (Serfhau), que, por sua vez, foi extinto na década de
ceções como o Conjunto Residencial Pedregulho, não mere- 1970, simplesmente desapareceram. Segundo informações
ceu destaque em livros, inventários e guias de arquitetura, não oficiais, o material referente ao primeiro órgão federal
órgãos de imprensa e outros meios de divulgação. específico de habitação, que estaria precariamente guarda-
do numa pequena casa no subúrbio do Rio de Janeiro, teria
Os antigos arquivos dos institutos de aposentadoria e pen-
sido incinerado como “material velho imprestável” por fun-
sões (IAPI, IAPC, IAPB, IPASE, IAPETC, IAPM, IAPFESP e Cai-
cionários que “não sabiam para o quê aquilo poderia servir”.
xas) foram reunidos de maneira indistinta no Instituto Nacio-
nal de Seguridade Social (INSS), a maior parte em arquivos De uma maneira geral, os arquivos dos órgãos regionais
mortos, permanecendo em condições muito precárias de inexistem, com exceção do Instituto de Previdência do Es-
conservação e anexo. Como as carteiras prediais e a ativida- tado de São Paulo (IPESP). A pequena produção do Depar-
de de promover, produzir e financiar habitação foram bani- tamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Fe-
das da nova instituição previdenciária, esse material perdeu deral (Rio de Janeiro), cujo arquivo está disperso e muito
a importância no novo órgão, sobretudo após a venda das mal-conservado, é a única que mereceu publicação ade-
unidades habitacionais para os seus moradores. Muitos do- quada inicialmente na Revista Municipal de Engenharia da
cumentos originais desapareceram ou se dispersaram, como Prefeitura do Distrito Federal e, em seguida, em periódicos
ocorreu também com a sua vasta documentação fotográfica. e livros, o que permite acesso aos projetos originais.

De qualquer forma, embora incompletos e repletos de la- Diante da ausência de arquivos centralizados, a obtenção
cunas, além de difícil acesso, os arquivos do INSS no Rio da iconografia de época requereu uma pesquisa ampla em
de Janeiro (Central e Irajá), em Brasília e em algumas ou- arquivos não especializados, dispersos nas diferentes ci-
tras cidades foram importantes fontes para a obtenção dos dades onde os empreendimentos foram implantados. Isso
desenhos originais de alguns empreendimentos. As anti- exigiu um enorme esforço, nem sempre bem-sucedido, vis-
gas revistas do IAPI (Revista dos Industriários e Inapiários), to que foram raras as obras que mereceram documentação
do IAPB (Revista dos Bancários) e do IAPC (Revista do IAPC) adequada na sua época. Garimpando em diferentes fontes,
também contribuíram para um melhor conhecimento dos até mesmo nas fotografias pessoais de antigos moradores,
empreendimentos desses órgãos, mas raramente incluíam foi possível reunir iconografia da época de um número sig-
a documentação técnica dos projetos. O “livro azul” do nificativo dos empreendimentos inventariados.
IAPI (Pedro, 1950) foi uma fonte indispensável para o co-
Em face da insuficiência das fontes documentais e de publi-
nhecimento dos empreendimentos desse órgão, trazendo
cações, os levantamentos em campo ganharam grande im-
informações básicas, incluindo uma descrição básica dos
portância, e muitos conjuntos somente puderam ser conhe-
principais conjuntos residenciais concebidos pelo órgão até
cidos por meio de visitas in loco, registradas em relatórios de
o início dos anos 1950, mas as demais instituições não tive-
campo. A pesquisa incluiu, essencialmente, levantamentos
ram publicações semelhantes.
arquitetônicos (métrico), registros fotográficos e depoimen-
Com exceção da documentação referente às áreas resi- tos de moradores. Complementadas pela observação de
denciais de Brasília, que está bem organizada no Arquivo fotos aéreas, essas informações tornaram-se um importan-
Público do Distrito Federal, a situação é muito crítica. Os te instrumento de estudo e registro dos empreendimentos.
Apresentação 6

Além da elaboração ou conferência de plantas e desenhos, conjuntos são lugares tranquilos, com uma vida comunitá-
as visitas permitiram observar e descrever as característi- ria consolidada, e ainda habitados por alguns dos primei-
cas principais dos conjuntos, constatando as alterações rea- ros moradores ou por seus descendentes, que colabora-
lizadas e o seu estado atual, assim como sua inserção nos ram com a pesquisa na construção de uma memória oral
bairros em que se localizam. Entrevistas com moradores do local.
antigos tornaram-se a única maneira de conhecer detalhes
Os relatos de moradores, apesar de sua subjetividade, tor-
da história da maior parte dos empreendimentos. naram-se essenciais para a construção da história desses
Nos casos em que o material obtido na primeira visita de lugares, tendo em vista que poucas das 77 cidades visitadas
campo era insuficiente para a compreensão, descrição e realizaram algum procedimento de registro do processo de
apresentação do empreendimento, foi realizado novo es- formação de seus bairros populares. Raros empreendi-
forço de pesquisa, buscando obter informações adicionais. mentos foram tombados por órgãos de preservação, casos
Assim, alguns conjuntos foram visitados diversas vezes, de Pedregulho (DHP – Rio de Janeiro), Passo d’Areia (IAPI –
seja pela necessidade de complementação de informações, Porto Alegre) e Cidade Industriária (IAPI – Belo Horizonte),
seja pelo interesse em melhor entender sua concepção e embora não estejam efetivamente preservados e reabili-
detalhes construtivos. Frequentemente, as fotografias rea- tados. Esses conjuntos tornaram-se referências urbanas
lizadas no âmbito do levantamento de campo não tiveram a importantes e são os que mais se destacam na memória
qualidade requerida para a publicação, o que também tor- dos moradores das cidades onde se inserem. Por isso, ao
nou necessária uma nova visita do pesquisador ou do fotó- contrário da grande maioria, são de fácil localização.
grafo. Esse processo exigiu grande persistência da equipe, Mais do que nos edifícios destinados a outras finalidades,
em especial do seu coordenador, prolongando ainda mais a conjuntos habitacionais são objeto de muitas interferên-
duração da pesquisa. cias, o que provocou uma descaracterização significativa
Mesmo com todo esse esforço, o inventário ainda apresenta na maior parte dos empreendimentos. Essas alterações se
lacunas que requerem investigações mais aprofundadas e acentuaram a partir de 1964, quando as unidades habita-
que poderão se beneficiar do presente trabalho, visto que cionais foram vendidas para os moradores e os conjuntos
a identificação, localização e sistematização das informa- multifamiliares passaram a ser geridos por condomínios
ções básicas de cada empreendimento já constituem um privados, sem nenhum controle público.
excelente ponto de partida para novos pesquisadores. Não Por essa razão, não foi simples identificar em campo a con-
foram poucas as situações em que foi muito difícil identifi- cepção original, assim como as alterações realizadas du-
car e localizar conjuntos residenciais que se diluíram nos rante mais de meio século, principalmente em conjuntos
bairros onde foram implantados, que tiveram suas unida- residenciais que guardam poucos elementos da proposta
des profundamente alteradas ou que se situam em regiões inicial, como Olaria (IAPC – Rio de Janeiro), implantado no
de difícil acesso, sem falar dos riscos de visitar e registrar início da década de 1940.
locais onde a presença do poder público, que os criou, foi
Além das alterações nas edificações e nos espaços públi-
substituída pelo crime organizado.
cos, outro fator que dificultou o entendimento das propostas
Embora alguns empreendimentos e o entorno da maioria foi o fato de muitos empreendimentos terem sido apenas
tenham se transformado em regiões perigosas, sobretudo parcialmente implantados ou em desacordo com o projeto
em metrópoles como o Rio de Janeiro, grande parte dos original. Por isso, nos casos em que existia uma documen-
7
tação gráfica do projeto, um dos objetivos da visita in loco foi tornou conhecido se difundiu amplamente, inclusive em re-
verificar a correspondência entre o proposto e o realizado, vistas e publicações, este foi adotado, como, por exemplo,
seja nos aspectos quantitativos e factuais, como o número no caso do Conjunto Residencial Pedregulho, cuja deno-
das unidades ou a implantação dos equipamentos, seja nos minação oficial, Conjunto Residencial Prefeito Mendes de
qualitativos, como o conceito do projeto. Morais, é quase desconhecida. Não havendo a identificação
oficial, foi adotado o nome pelo qual o empreendimento é
reconhecido e identificado pelos seus moradores. Muitos
Sistematização das informações conjuntos residenciais possuem mais de um nome; nesse
e elaboração dos perfis dos caso, escolheu-se o mais representativo, mencionando-se
empreendimentos o segundo no texto descritivo.

De acordo com as diretrizes estabelecidas para a estrutura- Em relação à localização, optou-se por atualizar a unida-
ção do inventário, cada empreendimento pesquisado deveria de da federação. Assim, por exemplo, um empreendimento
ser descrito num perfil que sistematizasse suas informações situado no município de Corumbá, que ficava, na época de
básicas, características do projeto, inserção no contexto ur- sua implantação, no Estado do Mato Grosso (MT), é mencio-
bano e na produção do órgão promotor e iconografia. nado como estando no Estado de Mato Grosso do Sul (MS),
sua localização atual. Já o antigo Distrito Federal é identi-
Como a importância e a disponibilidade da documentação
ficado como Rio de Janeiro (RJ), enquanto Brasília aparece
de cada empreendimento eram muito diferenciadas, esta-
como Distrito Federal (DF). Eventualmente, nos textos des-
beleceu-se uma hierarquia de apresentação, destinando
critivos foram feitas menções às alterações da divisão ad-
seis páginas para os conjuntos mais importantes e/ou mais
ministrativa do país, usando-se, por exemplo, expressões
bem documentados, reduzidas, gradativamente, conforme
como “Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal” ou “antigo
sua relevância, para quatro, duas, uma, meia e até um ter-
Estado da Guanabara”.
ço de página. Nesse espaço, as informações foram orga-
nizadas nos seguintes tópicos: nome do empreendimento,
Ficha de identificação
ficha de identificação, texto descritivo, documentação do
Independentemente do tamanho que o empreendimen-
projeto redesenhado, imagens de época e recentes, fontes
to ocupa no inventário, a informação básica de todos os
e créditos das ilustrações. As referências das fotografias
conjuntos está sistematizada em uma ficha padronizada,
estão no fim do volume. A seguir, serão apresentados os
com os seguintes campos obrigatórios: “órgão promotor”;
procedimentos adotados para a elaboração de cada um
“localização”; “data”; “autor do projeto”; “unidades cons-
desses tópicos.
truídas”; “tipos”; “equipamentos”. Quando a informação
Nome do empreendimento referente a um desses campos não foi obtida, adotou-se a
indicação “sem informação”. Os campos “área da gleba ou
O título de cada ficha é o nome do empreendimento, segui-
do terreno” e “empresa construtora” só aparecem na ficha
do da cidade e da sigla da unidade da federação em que ele
quando se obteve a informação.
se localiza. Como regra geral, foi utilizada, para denominar
o conjunto, sua nomenclatura oficial, ou seja, como ele foi Alguns esclarecimentos são necessários sobre o preenchi-
chamado nas publicações oficiais dos órgãos promotores. mento dessa ficha. No campo “localização”, identifica-se
Nos casos em que o nome pelo qual o empreendimento se uma das vias que cortam ou contornam o empreendimen-
Apresentação 8

to, em geral a rua ou avenida mais conhecida, seguida, na com circulação vertical compartilhada, ou o edifício, defi-
maioria dos casos, do bairro. Quando não houve mudança nido como edificação plurifamiliar com circulação vertical
no traçado das vias, optou-se por atualizar a denominação compartilhada com elevador e mais alto do que comprido,
do logradouro, de modo a facilitar sua localização. Já nas foram indicados o número de pavimentos, contados a partir
situações em que ocorreu alteração no traçado das vias, do térreo (primeiro pavimento), e a existência de usos não
optou-se por manter os nomes originais, mencionando, residenciais no interior da edificação, como comércio e/ou
quando possível, os nomes atuais na implantação. serviços no térreo, sobreloja ou cobertura.

No campo “autor do projeto”, encontrou-se grande dificul- No caso de unidades unifamiliares, os tipos foram classifi-
dade para identificar o profissional responsável, pois mui- cados segundo os seguintes critérios de agregação: casas
tos projetos foram desenvolvidos de maneira coletiva nos isoladas (unidades térreas com recuos laterais); casas ge-
setores ou divisões de engenharia dos órgãos promotores. minadas (unidades térreas agrupadas duas a duas); casas
Nos poucos casos em que os projetos foram encomendados em fileira (unidades térreas agrupadas em sequência); so-
a profissionais externos ao órgão promotor, a autoria está brados isolados (unidades de dois pavimentos com recuos
claramente definida e foi identificada. laterais); sobrados geminados (unidades de dois pavimen-
A maioria dos projetos, entretanto, não tem autoria perso- tos agrupadas duas a duas); sobrados em fileira (unidades
nalizada, tendo sido concebida sob a responsabilidade da de dois pavimentos agrupadas em sequência); unidades so-
equipe de engenharia dos órgãos promotores, que foi cre- brepostas (unidades agregadas verticalmente com acessos
ditada como autora. Nas situações em que o projeto foi ela- independentes).
borado no setor de engenharia do órgão promotor, mas o Na ficha, os tipos foram identificados por extenso e, em
profissional responsável foi identificado em publicações ou seguida, foi adotado um código para identificação sucinta
documentos oficiais, este aparece na ficha como o autor do das demais informações: B (bloco); E (edifício); CI (casas
projeto, destacando-se que ele pertencia à equipe do setor isoladas); CG (casas geminadas); CF (casas em fileiras); SI
de engenharia do órgão, casos de Ferreira (IAPI), Hellmeis- (sobrado isolado); SG (sobrado geminado); SF (sobrado em
ter (IAPC), Reidy e Bolonha (DHP). Alguns desses profis- fileira); US (unidade sobreposta). Quando o empreendimen-
sionais, como Ferreira, funcionário do IAPI durante quase to tem mais de uma variação de planta dentro do mesmo
trinta anos, criaram famílias tipológicas que foram sendo tipo, são utilizados números sequenciais, como B1, B2, B3
utilizadas e/ou adaptadas pelo setor de engenharia do ór- ou CG1, CG2, CG3 etc.
gão em inúmeros empreendimentos, em diferentes regiões
Cada variação dos tipos utilizados nos empreendimentos foi
do país.
qualificada, apresentando-se a área e os compartimentos
No campo “número de unidades”, foi apresentado o núme- das unidades habitacionais, conforme os códigos indicados
ro de unidades efetivamente construídas; quando o plano no item “Definições e códigos adotados na apresentação
original previa um número diferente do efetivamente cons- dos tipos e projetos”. Essa descrição foi detalhada na ficha,
truído, essa situação foi indicada entre parêntesis. com exceção dos empreendimentos onde o número de va-
riações excedia sua dimensão, caso em que foi apresentada
No campo “tipo”, foi estabelecida uma classificação basea-
na implantação do conjunto.
da na agregação das unidades na implantação do conjunto,
de modo a enfatizar a organização urbana. Quando o tipo No campo “equipamentos”, foram identificados todas as
adotado foi o bloco, definido como edificação plurifamiliar edificações, áreas livres e espaços de uso não residencial
9
previstos no empreendimento, como escolas, creches, am- num mesmo período, pelo mesmo grupo de pesquisadores,
bulatórios, áreas comerciais, áreas verdes, praças, clubes, numa mesma cidade.
centro de recreação etc. Em muitos casos estão presentes
Logo em seguida, é identificada a autoria das fotografias
e foram incluídos na ficha as delegacias ou postos dos ins-
utilizadas. Estão incluídos tanto as fotografias da época,
titutos de aposentadoria e pensões que eram muito utili-
com crédito dos arquivos que cederam os originais e os pe-
zados pelos moradores. Nesse campo foi indicado, ainda,
riódicos de época, como os pesquisadores e fotógrafos que
se os equipamentos foram efetivamente construídos ou
realizaram o levantamento iconográfico especificamente
apenas projetados. Outro cuidado foi diferenciar os con-
para a pesquisa. Em alguns casos, em levantamentos reali-
juntos sem equipamentos daqueles sem informação sobre
zados em equipe, não foi possível identificar pessoalmente
sua existência.
o autor, atribuindo-se o crédito da autoria das fotos ao con-
Texto descritivo junto de pesquisadores presente em campo.

Para todos os empreendimentos, com exceção dos que Também foram identificadas as fontes que serviram de
ocupam apenas um terço de página, foi elaborado um tex- base para os redesenhos dos projetos. Essas fontes podem
to descritivo cuja dimensão varia de acordo com o espaço ter sido a documentação gráfica original dos projetos, co-
programado. Esses textos apresentam o histórico e con- letada nos arquivos pesquisados, os periódicos que publi-
texto do conjunto, concepção e descrição sintética do pro- caram projetos ou os levantamentos de campo realizados
jeto, além de uma breve análise. A intenção foi garantir, pela equipe.
no reduzido espaço previsto, uma compreensão clara das
características da intervenção, relacionando-a com os de- Processamento da documentação
mais empreendimentos do órgão promotor e articulando gráfica dos projetos
uma leitura das peças gráficas e da iconografia apresenta- Todos os projetos foram inteiramente redesenhados, se-
das no perfil do conjunto. guindo fielmente a proposta original, tendo por base as
informações gráficas obtidas nos levantamentos documen-
Identificação das fontes, créditos dos tal, bibliográfico, arquitetônico e fotográfico, incluindo, ain-
pesquisadores e das fotografias da, fotos aéreas. Nos casos, não muito frequentes, em que
Ao final do texto descritivo são apresentadas as fontes uti- os croquis ou desenho original do autor apresentassem um
lizadas para a obtenção das informações necessárias para interesse gráfico superior ao da representação técnica, foi
a elaboração do perfil do empreendimento. Além de tex- apresentada também uma reprodução do original.
tos, artigos, livros e documentos utilizados, estão identi-
ficados também os Relatórios de Levantamento de Cam- Sempre que possível, foi incluída uma implantação do
po (LC), realizados pelos pesquisadores que visitaram os empreendimento com o traçado viário e localização dos
empreendimentos, instrumentos que forneceram a base tipos adotados e dos equipamentos previstos ou construí-
empírica para a elaboração da respectiva ficha, texto des- dos, de preferência nas escalas 1:2000 ou 1:5000, embora,
critivo e desenhos. Ao final deste volume, estão listados excepcionalmente, tenha sido necessário adotar ou-
todos os 72 Relatórios de Levantamentos de Campo rea- tras escalas. Foram incluídas, ainda, nas escalas 1:500
lizados, permitindo identificar a data e os pesquisadores ou 1:250, plantas das unidades, dos pavimentos-tipo
que visitaram cada empreendimento. Cada relatório cor- dos blocos ou edifícios, elevações e detalhes construtivos
responde a uma ou a várias visitas de campo realizadas significativos. No caso de existirem equipamentos sociais,
Apresentação 10

buscou-se mostrar também alguma peça gráfica dos seus


projetos. Em razão da escassez de espaço na publicação,
nem todos os elementos gráficos processados pela pesqui-
sa puderam ser incluídos na publicação.

Os desenhos foram padronizados de acordo com os crité-


rios de representação estabelecidos no projeto gráfico do
inventário. As legendas foram uniformizadas e atualizadas,
mantendo-se alguns estrangeirismos, como a forma play-
ground, utilizada pelos profissionais.

A uniformização dos desenhos e das escalas facilitou a


análise comparativa entre os vários projetos, melhorando
a compreensão do empreendimento, pois exigiu a análise
da implantação e da inserção no entorno, identificando ele-
mentos como a área do terreno, número e disposição das
unidades, arruamentos, equipamentos coletivos e áreas ver-
des. Além da análise dos tipos empregados, foram obser-
vadas a organização do programa e da unidade, bem como
as soluções construtivas.
11
Definições e códigos adotados na
apresentação dos tipos e projetos

Tipos habitacionais Compartimentos da unidade habitacional


Casa [C] Sala [S]
unidade unifamiliar térrea
Cozinha [C]
Sobrado [S]
unidade unifamiliar com dois pavimentos Quarto [Q]

Unidade sobreposta [US] Banheiro [B]


unidade articulada verticalmente com circulação independente Área de serviço (não foi usado terraço) [AS]
Bloco [B] Tanque externo [T]
conjunto plurifamiliar com circulação vertical compartilhada, mais
comprido do que alto e na maioria dos casos sem elevador Varanda [V] (em casa)

Edifício [E] Terraço [V] (em apartamento, indicado V na descrição da legenda)


conjunto plurifamiliar com circulação vertical compartilhada, Quarto de empregada [QE]
mais alto do que comprido e na maioria dos casos com elevador
Banheiro de empregada [BE]
Articulação horizontal dos tipos casa, Garagem [G]
sobrado e unidade sobreposta
Quarto de costura [QC]
Isolado(a) [I]
Quarto-sala [QS] (no caso de quitinete)
Geminado(a) [G]
Gabinete [GA] (escritório)
Fileira [F]
Copa [CO]
Articulação horizontal do modelo gerador Hall [H] (distribuição de fluxo externa à unidade)
em blocos e edifícios Vestíbulo [VE] (distribuição de fluxo interna à unidade)
No caso de blocos ou edifícios, a articulação de um mesmo módulo Despensa ou depósito [D]
gerador em diferentes números (2, 3, 4 etc.) é descrita por letras
(a, b, c). Por exemplo, B1a, B1b, B1c etc.). Quintal [QI]
Passagem [P]
Articulação vertical dos pavimentos
Refeitório [R] (comum a várias unidades)
Número de pavimentos (contado a partir do térreo)
Saleta [SA] (anexo à sala)
Número de andares (contado a partir do primeiro)
Térreo ou primeiro pavimento
Cobertura
Observação: tanto a varanda como o terraço podem ser entalados
Pavimento-tipo (repetição do primeiro pavimento nas – incluídos no volume da unidade – ou protuberantes – anexos ao
demais posições verticais) volume.

Ocupação dos pavimentos


Térreo livre (com pilotis) ou ocupado (com área comercial ou
residências)
Cobertura
ocupação parcial da última laje do edifício com salão de festas,
jardim, casa de zelador etc.
12

IAPI
13
CONJUNTO RESIDENCIAL OPERÁRIO DE REALENGO VILA GUIOMAR CONJUNTO RESIDENCIAL DE HONÓRIO

GURGEL CONJUNTO RESIDENCIAL DO PASSO D’AREIA CONJUNTO RESIDENCIAL DE NOVO HAMBURGO

CONJUNTO RESIDENCIAL DA VÁRZEA DO CARMO CONJUNTO RESIDENCIAL DA MOOCA CONJUNTO RESIDENCIAL

DE SALVADOR CONJUNTO RESIDENCIAL DE SÃO BRÁS BAIRRO INDUSTRIÁRIO CONJUNTO RESIDENCIAL DE

AREAL CONJUNTO RESIDENCIAL DA PENHA CONJUNTO RESIDENCIAL DE BANGU CONJUNTO RESIDENCIAL DE

MOÇA BONITA CONJUNTO RESIDENCIAL DE TERRA NOVA CONJUNTO RESIDENCIAL DE DEL CASTILHO CONJUNTO

RESIDENCIAL PRESIDENTE JOSÉ RAIMUNDO CONJUNTO DOS SETE PRÉDIOS CONJUNTO RESIDENCIAL DE VILA

TERESA CONJUNTO RESIDENCIAL DE CABUÇU VILA JORGE RUDGE VILA AQUIDABÃ CONJUNTO RESIDENCIAL

DO QUITUNGO CONJUNTO RESIDENCIAL DE SANTOS CONJUNTO RESIDENCIAL JAPURÁ EDIFÍCIO ANCHIETA

EDIFÍCIO INCONFIDÊNCIA EDIFÍCIO GETÚLIO VARGAS EDIFÍCIO FLORENÇA VILA TEIXEIRA VILA MARIA GENOVEVA

CONJUNTO RESIDENCIAL DE TAUBATÉ CONJUNTO RESIDENCIAL MONTE CASTELO CONJUNTO RESIDENCIAL

EUVALDO LODI VILA DOS INDUSTRIÁRIOS JARDIM PIRATININGA CONJUNTO RESIDENCIAL DE AREIAS CONJUNTO

RESIDENCIAL DO SACO DOS LIMÕES CONJUNTO RESIDENCIAL DE VITÓRIA CONJUNTO RESIDENCIAL DE GOIÂNIA

CONJUNTO RESIDENCIAL DE CASCADURA CONJUNTO RESIDENCIAL DE COQUEIRINHO CONJUNTO RESIDENCIAL

DE ITATIBA CIDADE INDUSTRIAL CONJUNTO RESIDENCIAL DE DIAMANTINA CONJUNTO RESIDENCIAL DE

ITABIRITO CONJUNTO RESIDENCIAL JUSCELINO KUBITSCHEK VILA MACARAÍPE CONJUNTO RESIDENCIAL DA

PEDREIRA GUACURI CONJUNTO RESIDENCIAL DE GUARATINGUETÁ CONJUNTO RESIDENCIAL DE VILA MARIANA


14
Instituto de Aposentaria e Pensões dos Industriários - IAPI 15
1936-1966

O IAPI, órgão de seguridade social dos trabalhadores da in- miliares sem pilotis, solução que predominou no então Distrito
dústria, fundado em 1936, foi o maior dos institutos de previ- Federal (Rio de Janeiro), onde foram edificadas cerca de 40%
dência, alcançando, em 1950, quase 1,5 milhão de associados, das unidades produzidas. As demais foram edificadas em 29
sendo a maioria operários de baixa renda. Com a unificação municípios, situados em quatorze unidades da federação.
da previdência promovida pelo regime militar pelo Decreto- Nas cidades médias, sobretudo do interior de São Paulo e Mi-
-Lei no 72/1966, o IAPI, como os demais institutos, foi inte- nas Gerais, optou-se por sobrados em fileiras, enquanto as
grado ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Em casas geminadas e isoladas foram utilizadas nas pequenas
consequência, as unidades habitacionais de sua propriedade cidades. Nos grandes conjuntos, com mais de mil unidades,
foram vendidas aos moradores. como Realengo (Rio de Janeiro), Vila Guiomar (Santo André)
O IAPI foi o órgão que projetou e edificou o maior número de e Passo d’Areia (Porto Alegre), foram utilizadas soluções mis-
moradias no período. No Plano A (construção de conjuntos tas, com blocos e casas.
para locação a associados), foram projetadas 36 mil unidades A maioria das unidades habitacionais é de pequena dimensão,
em 66 empreendimentos, dos quais nove ficaram incomple- com dois ou três quartos e cozinha mínima. Em compensação,
tos, tendo sido construídas cerca de 24 mil unidades. foi prevista uma ampla gama de equipamentos coletivos, nem
O Setor de Engenharia, dirigido pelo arquiteto Carlos Frederi- sempre implantados. No entanto, o IAPI também produziu em-
co Ferreira durante toda a existência do Instituto, desenvolveu preendimentos para a camada mais privilegiada dos industriá-
uma política de projetos habitacionais bem-estruturada, ela- rios, com unidades de grande dimensão e padrão sofisticado,
borando uma grande variedade de tipos: casas térreas isola- como os edifícios Anchieta (São Paulo) e Inconfidência (Recife).
das, geminadas, sobrepostas e em fileira, sobrados e blocos A ação do IAPI pode ser dividida em etapas. Na primeira
de dois, três e quatro pavimentos. No Conjunto Residencial de (1938-1945), sob a presidência de Plínio Cantanhede, vários
Realengo, que abre este inventário e que foi o primeiro pro- projetos foram elaborados por arquitetos contratados, como
movido pelo órgão, projetado entre 1938 e 1940, esses tipos os irmãos Roberto, Attilio Corrêa Lima, Paulo Antunes Ribei-
foram implantados de maneira experimental e, posterior- ro e Eduardo Kneese de Mello, gerando uma rica experiência
mente, foram utilizados, com variações, em todo o país. projetual que complementou o rigor tipológico desenvolvido
O IAPI buscou aplicar os princípios formulados pelo CIAM na por Ferreira. Entre 1946 e 1950, sob a presidência de Alim
década de 1920, baseados na seriação, estandardização e ra- Pedro, a ênfase foi a execução, com a construção da maioria
cionalização, objetivando compatibilizar qualidade e adequa- dos conjuntos residenciais; o IAPI tornou-se o maior promotor
da inserção urbana com economia. Predominou a concepção imobiliário do país. A partir dos anos 1950, diante do diminuto
de habitação como um serviço público; as moradias eram alu- retorno dos investimentos realizados, ameaçando o equilíbrio
gadas pelo órgão, que se responsabilizava pela implantação atuarial, a produção do IAPI foi reduzida, embora ele tenha se
e gestão de equipamentos e espaços coletivos, como escolas, destacado na implantação da área habitacional de Brasília.
postos de atendimento médico, áreas comerciais, cinemas, gi- Mesmo sendo uma autarquia voltada prioritariamente para a
násios e áreas verdes, de recreação e lazer. seguridade social, o IAPI foi o mais importante órgão de pro-
O IAPI criou critérios para definir os tipos e a densidade a serem dução habitacional do período no país.
utilizados nos seus conjuntos. Nos grandes centros urbanos, Fontes: FERREIRA (1940), IAPI (1940), PEDRO (1950), Revista dos Industriários, BONDUKI (1998),
ARAVECCHIA (1999), DEP1
deveriam ser construídos, preferencialmente, blocos multifa- Uma análise completa da produção do IAPI está no Volume 1, p.164.
Conjunto Residencial Operário de Realengo, Rio de Janeiro, RJ 16

ÓRGÃO PROMOTOR Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários –


IAPI
LOCALIZAÇÃO Estrada da Água Branca, Realengo
DATA 1938
AUTOR DO PROJETO Carlos Frederico Ferreira (Setor de Engenharia do IAPI)
UNIDADES CONSTRUÍDAS 2.345
TIPO Blocos de dois a quatro pavimentos, casas geminadas,
casas isoladas e em fileiras, sobrados em fileira, casas
sobrepostas em fileiras
EQUIPAMENTOS Posto de saúde, ginásio, campo de futebol, capela
mortuária, igreja, escola, clube, horto florestal, comércio
e creche

Primeiro empreendimento habitacional de grandes di-


mensões construído no país e medalha de ouro no IV Congresso Pan-Ame-
ricano de Arquitetos (1940), o Conjunto Residencial Operário de Realengo,
com 2.345 unidades, foi idealizado e construído entre 1938 e 1943, como
marco fundador das atividades do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Industriários (IAPI) na área da habitação.

Projetado pelo arquiteto Carlos Frederico Ferreira, chefe do Setor de Enge-


nharia do IAPI, o conjunto localiza-se junto à estação de trem de Realengo,
flexíveis. Esses painéis apresentaram grande durabilidade e até hoje exis- Vista aérea do conjunto,
subúrbio do Rio de Janeiro. Vasto campo de experimentação projetual, sua em foto da década de
tem exemplares originais em perfeito estado.
concepção estabeleceu uma linhagem de tipos – unidades unifamiliares e 1940, mostrando a
blocos de apartamentos –, que foram utilizados, conforme as necessidades, Outro destaque é o bloco principal (B1), com sua fachada frontal formada diversidade das soluções
em distintas localidades. A preocupação com a inovação tecnológica, seriação utilizadas. O Realengo foi
por balcões intercalados, criando um rico jogo de volumes, fortemente in-
concebido como um
e barateamento do produto final manifesta-se de forma inédita nesse em- fluenciado pelo edifício para residência estudantil da Bauhaus, em Dessau, canteiro de
preendimento magno do IAPI, um projeto racional que visava à qualidade, de Walter Gropius (1926). Galerias lineares no fundo do edifício possibili- experimentação dos
economia e reprodutividade. tam o acesso aos apartamentos, células habitacionais mínimas de 38 m², vários tipos
desenvolvidos pelo Setor
incluindo quarto, sala, cozinha e banheiro. No térreo, foram instaladas áreas
O empreendimento colocou em prática a concepção definida pelo governo Var- de Engenharia do IAPI,
comerciais e de serviços do IAPI, criando uma forte referência urbana, re- coordenado pelo
gas para a construção de núcleos habitacionais para os trabalhadores, com in-
forçada pela implantação, numa segunda etapa, de dois blocos de quatro arquiteto Carlos
fraestrutura completa (redes de água, luz e esgoto, galerias de águas pluviais,
pavimentos (B2) do lado oposto da avenida. Frederico Ferreira.
pavimentação e estação de tratamento de esgoto) e vários serviços de caráter
coletivo, efetivamente implantados, como áreas comerciais, escola primária O Bloco Tipo B4 é formado por módulos geradores compostos de uma coluna
para 1.500 alunos, creche para cem crianças, ambulatório médico, gabinete de circulação vertical e duas unidades em cada um dos seus dois pavimentos.
dentário, quadras para a prática de esportes, templo católico e horto florestal, A coluna de escada é fechada por cobogós, que constituem o principal ele-
concretizando a proposta de uma unidade de vizinhança onde o trabalhador mento de composição dos blocos. Esse tipo de bloco foi utilizado em outros
pudesse encontrar tudo aquilo de que necessitasse além do trabalho. conjuntos do IAPI, como Honório Gurgel (Rio de Janeiro) e São Brás (Belém).

Embora o conjunto tenha sido implantado sobre um arruamento preexis- Os sobrados em fileira diferenciam-se das soluções tradicionais. Organi-
tente, o parcelamento foi substituído por uma configuração mais moderna, zados em grupos de oito a dez unidades, têm térreo livre, onde se situam
eliminando parcialmente a divisão em lotes. Os edifícios foram implantados apenas área de serviço e garagem. Uma escada dá acesso ao piso superior,
no espaço público e as casas geminadas, embora unifamiliares, não foram onde se localizam as demais dependências: sala, cozinha, banheiro e dois
cercadas, possibilitando uma continuidade entre o quintal e o espaço públi- quartos. Esse tipo era considerado pelo arquiteto como um modelo vantajo-
co. Com a venda das unidades aos moradores, após a extinção do IAPI em so, pois, segundo ele, “apresentava as mesmas qualidades de construções
1964, os lotes foram cercados. em pilotis”, em razão dos espaços livres do térreo.

Modernizar o processo construtivo, objetivando a produção massiva e a econo- A grande maioria das unidades, no entanto, é constituída por casas gemina-
mia, foi uma das intenções do projeto. Nele foi utilizada, pela primeira vez no das duas a duas que, salvo o inovador processo construtivo, são tradicionais
Brasil, uma máquina para fabricar blocos de concreto. A alvenaria de blocos de quanto ao agenciamento espacial.
concreto permitiu a aplicação da pintura sem reboco, com grande economia.
Fontes: INSS-RJ/IRA, PEDRO (1950), BONDUKI (1994), ANTUNES (1997), Revista Municipal
Outra inovação foram os painéis pré-fabricados de madeira nas paredes in- de Engenharia 2 (1940) e 4 (1954), Architectural Forum 5 (1947), AA 10 (1947), Goodwin (1943)
Desenhos: PEDRO (1950), INSS-RJ
ternas, o que dispensava fundações e tornava as divisões da habitação mais
17

CI1 SF1 1 Horto


2 Escola
CI2 B1 4 pavimentos
3 Creche
CI3 B2 4 pavimentos
4 Praça
CI4 B3 3 pavimentos
5 Igreja
CG1 (51,42 m2) B4.1 2 pavimentos 6 Clube
CG1 (50,30 m2) B4.2 2 pavimentos 7 Depósito
CG2 B5 2 pavimentos 8 Garagem
CF1 9 Almoxarifado
10 Fábrica de blocos
Caixa d’água Escala 1:10.000 0 100 200

Acima Vista de casas geminadas, com a caixa


d’água em primeiro plano. Esta fotografia, da
época da inauguração do conjunto, permite
observar sua localização suburbana, a mais
de 25 quilômetros da Estação Central do Brasil.

Ao lado Vista geral da área verde do conjunto, com


o bloco ao fundo, em foto da década de 1940.
O projeto da caixa d’água, concebida originalmente
para o Realengo e que aparece no centro desse
espaço, foi reproduzido em inúmeros outros
empreendimentos do IAPI.

Ao lado, à direita Vista da rua principal do conjunto,


ladeada pelos blocos de quatro pavimentos
(B1 e B2) e pela área comercial no térreo do
edifício principal do Realengo. O espaço funciona
como um centro de caráter local.

Ao lado Vista da escola, elevada pela utilização


de pilotis, com uma marquise em primeiro plano.
A qualidade arquitetônica dos equipamentos
sociais elaborados pelo Setor de Engenharia do
IAPI revela a enorme capacidade projetual do
arquiteto Carlos Frederico Ferreira.
Conjunto Residencial Operário de Realengo, Rio de Janeiro, RJ 18

Ao lado Fotos reproduzidas no famoso livro Brazil


Buildings, editado pelo Museu de Arte Moderna de
New York, em 1943, que divulgou para o mundo a
surpreendente arquitetura moderna brasileira. O
Realengo estava em fase final de construção, mas já
foi possível mostrar o expressivo jogo de volumes na
fachada principal do bloco e as elegantes linhas
horizontais da fachada dos fundos.

Abaixo, à esquerda Fachada frontal do bloco


principal, em foto atual. A grande maioria das
varandas foi fechada, descaracterizando o projeto
original. Abaixo, fachada posterior do bloco,
marcada pelas varandas de circulação horizontal,
que está mais bem preservada.

Tipo B1
2o e 4o pavimentos

Tipo B1 1 Cozinha 4 Banheiro


3o pavimento 2 Quarto 5 Varanda Escala 1:500 0 5 10
3 Sala
19

Acima Foto recente do Tipo B2, em frente à rua principal, com áreas comerciais no térreo.

Acima, à direita Vista do Bloco Tipo B3, com três pavimentos, em fase final de acabamento da obra.
Esse tipo apresenta uma varanda que se projeta para fora do corpo principal do bloco, com a sua
face lateral fechada com cobogós, assim como a coluna de escada, localizada entre as varandas.

Ao lado Vista do mesmo Tipo B3, em foto recente, com inúmeras alterações como o cercamento da
área pública, o fechamento das varandas e a construção de acréscimos no térreo.

Abaixo, à direita Vista do Tipo B4.2, de dois pavimentos, em foto do período inicial de sua ocupação.
Esse tipo, que se caracteriza pela horizontalidade, assemelhando-se a uma sequência de sobrados
em fileiras, foi utilizado em vários outros empreendimentos do IAPI, como em Belém do Pará. A área
de circulação que dá acesso ao segundo pavimento é fechada por um pano de cobogós quadrados,
que vai até o chão, interrompido apenas pela porta de entrada.

Abaixo Vista de um Bloco Tipo 4.2, através dos cobogós do prédio localizado do outro lado da rua.

Tipo B4.2
Pavimento superior

Tipo B4.2 1 Cozinha 4 Banheiro


Pavimento térreo 2 Quarto 5 Área de serviço
3 Sala Escala 1:500 0 5 10
Conjunto Residencial Operário de Realengo, Rio de Janeiro, RJ 20

Tipo SF1
Tipo B5 Pavimento superior
Pavimento superior

1 Cozinha
2 Quarto
3 Sala
4 Banheiro
5 Área de serviço
6 Garagem
Tipo SF1
Pavimento térreo
Tipo B5
Pavimento térreo

Escala 1:250 0 1 5

Acima O Bloco Tipo B5 é um tipo de dois pavimentos, que se


caracteriza por ter acesso individual para as unidades do
pavimento térreo e um lance de escada para os dois
apartamentos do piso superior. O bloco é apresentado em três
momentos: na década de 1940, com o projeto íntegro e com o
espaço público bem tratado; na década de 1970, com um puxado
e o abandono do tratamento do espaço público; e atualmente,
com vários acréscimos e a impermeabilização da área livre. O
processo é exemplar da progressiva deterioração da qualidade
arquitetônica e urbanística dos conjuntos residenciais do período.

Ao lado Este tipo especial de sobrado em fileira (SF1), proposto


com entusiasmo por Ferreira, embora fosse uma unidade
unifamiliar, “apresentava as mesmas qualidades de
construções em pilotis”. É original e não foi utilizado em outros
empreendimentos do órgão, talvez porque seu custo em relação
à área útil fosse elevado. Todas as dependências estão no
pavimento superior, enquanto o térreo é ocupado apenas pela
área de serviço.
21

No alto Casas em fileira (CF1) abertas para a área verde,


e em imagem da década de 1970, já com alterações
significativas, como a construção de muro que isolou
as casas do espaço público.

No centro Casas geminadas em dois momentos: foto da


época, em que as casas ainda não tinham sido muradas e
abriam-se diretamente para o espaço público, e foto atual.

Ao lado Em número muito reduzido, foram implantados


três tipos diferentes de casas isoladas, que apresentam
uma área muito superior às demais, indicando ser
destinadas a industriários mais bem remunerados.

À esquerda Em primeiro plano, vista aérea das casas


geminadas, com bloco principal (B1) ao fundo. Esta
fotografia, da época da inauguração do Realengo, permite
vislumbrar o impacto da construção de um bloco moderno
na paisagem suburbana do Rio de Janeiro.
Vila Guiomar, Santo André, SP 22

ÓRGÃO PROMOTOR Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários –


IAPI
LOCALIZAÇÃO Rua Catequese
DATA 1942
AUTOR DO PROJETO Carlos Frederico Ferreira (Setor de Engenharia do IAPI)
UNIDADES CONSTRUÍDAS 1.411
TIPO Casas isoladas, casas geminadas, um bloco de quatro
pavimentos e blocos de quatro pavimentos sobre pilotis
CI1 – 3Q/S/V/C/B/AS – 68 m²
CG1 – 2Q/S/V/C/B/AS – 57 m²
B1/A1 – 2Q/2S/V/C/B/AS – 62 m²
B2/A2 – 2Q/S/C/B/AS – 42 m²
EQUIPAMENTOS Escola, ginásio, igreja e áreas verdes

A Vila Guiomar, projeto de Carlos Frederico Ferreira, é


um dos melhores exemplos de soluções mistas – blocos e casas – no âmbito
da produção do IAPI. Trata-se de um grande conjunto, localizado em Santo
André, que na década de 1940 já se constituía num importante centro indus-
trial no subúrbio de São Paulo. O projeto original previa cerca de três mil
unidades, mas ficou apenas na primeira etapa com 1.411 unidades constru-
ídas, sendo 978 apartamentos, em dois tipos básicos de blocos, e 433 casas,
entre isoladas e geminadas.

Esse projeto revela que Ferreira sofreu uma forte influência da concepção Vista aérea do conjunto em foto dos anos 1950, em
que se veem os blocos em primeiro plano e o traçado
urbanística de cidades-jardins, que aparece mesclada com propostas ra-
orgânico do sistema no trecho das casas.
cionalistas, como a implantação dos blocos sobre pilotis. Essas duas con-
cepções aparecem combinadas com coerência no projeto urbanístico. Numa
gleba de declividade acentuada, foi projetado um sistema viário sinuoso,
com amplas áreas verdes que permeiam toda a área urbanizada. Ruas cur- O telhado, por sua vez, assinala a não aceitação do teto-jardim, adotado ape-
vas acompanham a topografia do terreno, desenho que prevalece no setor nas em projetos de edifícios altos, provavelmente em decorrência do custo
destinado às casas. Nesse trecho, a influência da cidade-jardim é mais nítida. da impermeabilização.
As casas foram implantadas com um recuo frontal, destinado a um jardim.
No fundo, os quintais voltam-se para praças internas públicas, como a pro- O outro tipo de bloco é mais pesado, com uma torre de escada na extremida-
posta original de Barry Park para o Jardim América em São Paulo. Mas, ao de, também fechada com elementos vazados, que leva a um corredor de aces-
contrário deste, as áreas verdes internas são abertas e ligadas ao sistema so às unidades na parte posterior do edifício. Esse elemento de circulação,
viário geral do conjunto. que fica em balanço e se repete em todos os pavimentos, funciona como uma
espécie de varanda coletiva, já que, neste tipo, os apartamentos não contam
Os blocos estão implantados em dois setores, claramente demarcados, de com um espaço individual de transição entre a área fechada e a livre.
ambos os lados da área destinada às casas. Levantados sobre pilotis e dis-
postos numa grande área livre arborizada, colocou-se em prática a concep- Além da grande profusão de áreas verdes, o conjunto conta com equipamen-
ção corbusiana da habitação junto a um parque. São 61 blocos de quatro tos coletivos de destaque: a escola primária e o ginásio, também projetos de
pavimentos em dois tipos básicos: com corredor de acesso aos apartamen- Ferreira. São obras de grande interesse arquitetônico. A estrutura do giná-
tos (B2) ou com uma coluna de escada a cada duas unidades (B1). Neste sio, um rendilhado de madeira, é uma obra-prima que merece observação
segundo tipo, as colunas de escadas destacam-se do bloco, formando uma cuidadosa.
saliência em forma de dente, fechada com elementos vazados e compondo Além de inúmeras modificações nas esquadrias, os blocos da Vila Guiomar
um módulo a cada dois apartamentos, que se repete sistematicamente por sofreram uma alteração na sua concepção arquitetônica, com o fechamen-
tantas vezes quanto for o comprimento do prédio. to dos pilotis para a implantação de garagens individuais. As reformas nas
O projeto desse bloco dialoga com a produção da arquitetura moderna bra- casas foram generalizadas e elas hoje estão quase irreconhecíveis. No en-
sileira, antecipando algumas alternativas posteriormente utilizadas. A fa- tanto, o ambiente acolhedor formado, sobretudo, pelas amplas áreas verdes
chada livre, possibilitada pela estrutura de concreto armado, com os pilares que contornam os blocos mantém ainda o conjunto como um espaço urbano
recuados, permite a criação de um pano horizontal contínuo de aberturas extremamente agradável, que se destaca na paisagem árida do ABC paulista.
na parte frontal, conferindo leveza ao bloco, acentuada pela varanda enta- Fontes: PMSA, BMCSA, JDSA, BONDUKI (1998), PEDRO (1950), KARLSEN (1967), Acrópole 147 (1950), Revista
dos Industriários 8 (1949), Arquitetura e Engenharia jul./set. (1950) Desenhos: PEDRO (1950), INSS-SP,
lada. A coluna de escada e o telhado inclinado evitam que se transforme
MINDLIN (2000)
num paralelepípedo perfeito, como ocorre no conjunto da Várzea do Carmo.
23

Vistas gerais do conjunto.


Acima Áreas verdes junto
aos blocos Tipo B1.
Ao lado, blocos Tipo B2 e B1,
respectivamente, com térreo
livre com pilotis garantindo a
continuidade do espaço
público. A caixa d’água,
projetada por Ferreira,
tornou-se um modelo
utilizado com frequência em
outros conjuntos do IAPI.

Ao lado Vista que mostra a


combinação de concepções
urbanísticas que o arquiteto
utilizou em Santo André: ruas
curvas criam a paisagem
pitoresca do setor das casas
unifamiliares, enquanto os
blocos são organizados de
maneira mais cartesiana.
Vila Guiomar, Santo André, SP 24

Tipo B1/A1
1 Cozinha
2 Quarto
3 Sala
Tipo B1 4 Banheiro
Pavimento-tipo 5 Área de serviço
6 Varanda

Escala 1:250
0 1 5

Tipo B1
Pavimento térreo
Escala 1:500 0 5 10

Acima, à direita Detalhe da unidade: em Vila Guiomar, colocou-se


em prática o conceito moderno de habitar num parque. A varanda
funciona como transição entre a unidade habitacional e o espaço
público, resolvida com a utilização de um guarda-corpo translúcido,
com treliça de madeira.

Ao lado Neste bloco, ao combinar soluções como fachada livre,


elevação do edifício sobre pilotis, varanda entalada, generoso
afastamento entre os blocos e grande profusão de áreas verdes,
Ferreira conseguiu uma leveza rara em conjuntos habitacionais.

Ao lado Imagem recente


6 de unidade original que
4 Tipo CI1 conserva a caixilharia de
2
1 Cozinha madeira, a treliça
1
2 Quarto da varanda e o quintal
3 Sala sem muro.
4 Banheiro
2 3 5 Varanda
6 Área de serviço

2 5
Escala 1:250
0 1 5
25

No alto Vistas frontal e posterior do


1 Cozinha
Bloco Tipo B2 que, embora também
2 Quarto
seja elevado do solo por pilotis, não
3 Sala
tem a mesma leveza do outro tipo.
4 Banheiro
Os corredores de circulação, mesmo
5 Área de serviço
em balanço, dão um aspecto pesado
ao bloco.
Tipo B2 Tipo B2 Abaixo, à esquerda Setor das unidades
Escala 1:500 0 5 10
Pavimento-tipo Pavimento térreo unifamiliares, com casas geminadas
implantadas em ruas curvas.

Tipo CG1
1 Cozinha
2 Quarto
3 Sala
4 Banheiro
5 Área de serviço
6 Varanda

Escala 1:250 0 1 5
Vila Guiomar, Santo André, SP 26

CI1

CG1 1 Escola
2 Ginásio
B1
Caixa d’água
B2

Escala 1:5.000 0 50 100


27

Acima e ao lado Vistas da escola composta


de três volumes ligados por marquise, que
indica a entrada do edifício e organiza a
circulação entre os volumes. O térreo com
pilotis serve como recreio coberto.

Abaixo Vistas externa e interna do


ginásio, com a cobertura cilíndrica
em estrutura lamelar de madeira.
Conjunto Residencial de Honório Gurgel, Rio de Janeiro, RJ 28

ÓRGÃO PROMOTOR Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários –


IAPI Ao lado Vista da praça triangular com as
varandas do bloco em “L” no primeiro
LOCALIZAÇÃO Rua Serinhaém, Barros Filho plano e um bloco de dois pavimentos ao
DATA 1947 fundo. A imagem, do final dos anos 1940,
mostra o cuidado do IAPI com as áreas
AUTOR DO PROJETO Arq. Eduardo Pereira de Carvalho e eng. Adolpho Constant
públicas dos conjuntos residenciais.
Burnay (Setor de Engenharia do IAPI)
Abaixo Fachada do bloco em “L”, o
UNIDADES CONSTRUÍDAS 156
principal do conjunto, onde se destacam
TIPO Casas geminadas e blocos de dois e três pavimentos a torre de escada com a inscrição da
CG1 – 3Q/S/V/C/B/AS – 57 m² sigla do órgão promotor e a marquise
CG2 – 3Q/S/V/C/B/AS – 55 m² que protege as lojas no térreo.
B1/A1 – 2Q/S/V/C/B/AS – 54 m²
B2, B3/A2 – 3Q/S/C/B/AS – 49 e 51 m²
B2/A3 – 3Q/S/C/B/AS/D – 53 m² (térreo)

EQUIPAMENTOS Praça e área comercial no térreo


ÁREA DA GLEBA 40.882 m²
ÁREA CONSTRUÍDA 21.157,38 m²

A riqueza das soluções arquitetônicas e urbanísticas


propiciadas por este pequeno conjunto é exemplo da capacidade do IAPI
para desenvolver projetos de qualidade a partir da combinação de tipolo-
gias. Em Honório Gurgel, o arquiteto Eduardo Pereira de Carvalho criou um
ambiente urbano excepcional combinando um original bloco em “L” de três
pavimentos e térreo comercial com tipologias já utilizadas pelo órgão em
Realengo: blocos de dois pavimentos e casas geminadas.

O grande destaque do projeto é o bloco em “L”. Solução pouco usual, esse


edifício, além de caracterizar o conjunto, acabou por se tornar uma espécie
de símbolo da produção habitacional do IAPI, graças à inscrição da sigla
do Instituto no alto da torre de escadas, elemento de referência formal do
conjunto, que é o vértice de articulação da circulação vertical e horizontal
do bloco. A torre, marco urbano inconfundível, recria uma espécie de esqui-
na, rara em blocos residenciais no Brasil. A escada, em concreto armado,
expõe a estrutura e dá acesso aos corredores das duas alas do edifício, os
quais, superando soluções óbvias, alternam-se, um na face interna do bloco
e o outro na parte externa.

A fachada frontal caracteriza-se pela presença da área comercial no térreo,


sequência de lojas protegidas por uma marquise que confere horizontalidade
ao bloco e cria um ambiente urbano configurado por uma praça situada entre
o conjunto e a estrada de ferro. A solução possibilitou uma boa interface
entre o conjunto residencial e a cidade, mostrando como blocos habitacionais Acima Vista em voo
modernos bem resolvidos podem gerar espaços urbanos de qualidade. de pássaro de 1950,
CG1 com o conjunto
Na parte interna do conjunto, outra praça, de formato triangular, funcio- recém-inaugurado.
CG2
na como articuladora do bloco em “L” com os blocos de dois pavimentos,
edifícios-lâminas que, numa longa fileira, fecham a praça pelos outros dois B1
lados. Esses blocos baixos, que se parecem com uma fila de sobrados, são
B2
semelhantes aos utilizados no Realengo, com unidades sobrepostas e uma
escada central que dá acesso aos dois apartamentos do segundo pavimento. B3

Casas geminadas completam o conjunto fechado na extremidade oposta à


praça por um último bloco de dois pavimentos.
Escala 1:5.000 0 50 100
Fontes: INSS-RJ/IRA, PEDRO (1950), Revista dos Industriários 28 (1952) e 29 (1952)
Desenhos: PEDRO (1950), INSS-RJ, LC29
29

Acima, à esquerda As casas


geminadas duas a duas, com uma
varanda na fachada frontal, repetem
Tipo B1 uma solução utilizada pelo IAPI em
Pavimento-tipo inúmeros conjuntos.
1 Cozinha
Acima, à direita O bloco em “L” se
2 Quarto
diferencia pela circulação com uma
3 Sala
escada única na esquina e corredores
4 Banheiro
nas faces interna e externa. Na foto
5 Área de serviço
atual, vê-se a praça configurada pela
6 Varanda
fachada principal do bloco, que se
mantém como um espaço urbano
diferenciado.

Abaixo O Tipo B3 repete a tipologia


utilizada no Realengo, mas sem os
Tipo CG1
cobogós, com escadas dando acesso
1 Cozinha
a dois apartamentos do pavimento
2 Quarto
superior. Embora sejam concebidas
3 Sala
como um bloco multifamiliar, as
4 Banheiro
unidades do térreo abrem-se
5 Área de serviço
Escala 1:250 0 1 5 Escala 1:500 0 5 10 diretamente para a rua e sua
6 Varanda
volumetria assemelha-se à de
sobrados em fileira.

Tipo B3 1 Cozinha
Pavimento térreo 2 Quarto
3 Sala Escala 1:500
4 Banheiro 0 5 10
5 Área de serviço
Conjunto Residencial do Passo d’Areia, Porto Alegre, RS 30

ÓRGÃO PROMOTOR Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários –


IAPI
LOCALIZAÇÃO Avenida Assis Brasil, Passo d’Areia
Ao lado Uma das inaugurações
DATA 1941 do conjunto, realizada durante
AUTOR DO PROJETO Eng. Edmundo Gardolinski; plano urbanístico original: o segundo governo de Getúlio
eng. Otacílio Saboya; plano urbanístico final: eng. Marcos Vargas. Faixa ressalta a
Kruter (Setor de Engenharia do IAPI) dimensão do empreendimento,
que foi o maior do período.
UNIDADES CONSTRUÍDAS 2.496 (1.691 no projeto original) O número de unidades
TIPO Casas isoladas, casas geminadas, sobrados isolados e construídas foi inferior ao
blocos de dois, três e quatro pavimentos anunciado.

EQUIPAMENTOS Centro cívico-esportivo, grupo escolar, centro de saúde, Abaixo Vistas aéreas do
biblioteca, clube, igreja, feira, cinco núcleos comerciais, empreendimento, em que se
sede do IAPI e áreas verdes; projetado: cinema evidencia a setorização do
conjunto.
ÁREA DA GLEBA 676.000 m²

-esportivo estão a feira, o clube, o núcleo comercial, a biblioteca e a escola,


A Vila Passo d’Areia foi um dos maiores e mais impor-
enquanto o centro de saúde e a sede do IAPI ficaram em uma das entradas do
tantes conjuntos residenciais implantados no período, mostrando que empre-
conjunto. A igreja foi situada numa das áreas altas do terreno. O cinema é o
endimentos de habitação social de grande porte podem ser um elemento de
único equipamento projetado que não foi construído.
ordenação e qualificação da expansão das cidades. O projeto, articulado com
o Plano Diretor de Porto Alegre de 1941, foi bem inserido no contexto urbano e A vegetação foi difundida, criando um bairro verde com forte arborização de
ambiental, com grande diversidade tipológica e qualidade urbanística. praças, ruas e lotes. Sobre essa base orgânica foram implantadas diversas
tipologias habitacionais: casas isoladas e geminadas, blocos de apartamentos
O plano original é de autoria do engenheiro carioca Otacílio Saboya, base para
residenciais de dois, três e quatro pavimentos e blocos mistos, projetados por
o projeto definitivo, realizado pelo engenheiro gaúcho Marcos Kruter. Influen-
Gardolinski. Foram estudadas várias alternativas – opções para terrenos em
ciada pela concepção da cidade-jardim, a “Vila do IAPI”, como é chamada,
aclive e em declive, variações na varanda e na ornamentação etc. –, gerando
não é uma mera aplicação desse modelo, incorporando elementos de outras
pelo menos treze opções de casas e catorze de blocos, com uma heterogenei-
referências, além de responder às exigências econômicas do IAPI. O resultado
dade que é rara em conjuntos habitacionais.
tem feição própria, que se reflete numa elaboração técnica sofisticada, não
restrita a apenas um modelo. O resultado esplendoroso é consequência da diversidade tipológica combi-
nada com um traçado orgânico, que valorizou o meio físico acidentado, em
A proposta de Kruter somava 1.691 unidades, mas vários blocos foram acres-
um ambiente bem urbanizado e arborizado. Esses aspectos fazem da Vila do
centados posteriormente, alcançando-se 2.496 unidades. A intervenção mos-
IAPI uma referência indispensável para se enfrentar com qualidade a questão
tra que o órgão contemplou iniciativas locais e a diversidade regional. O en-
urbana e habitacional no Brasil.
genheiro Edmundo Gardolinski, do departamento local do IAPI, foi o principal
responsável pela viabilização integral do empreendimento, que acompanhou Fontes: PEDRO (1950), NUNES (1991), FAYET (1994), BONDUKI (1998), Revista dos Industriários 3 (1948) e
13 (1950), Revista do Clube de Engenharia 194 (1952), Revista Municipal de Engenharia 1 (1943)
cotidianamente. Desenhos: PEDRO (1950), FAYET (1994)

Em 1941, quando o conjunto foi proposto, Passo d’Areia era um bairro afastado
do centro, eixo de expansão industrial, conectado à cidade por vias largas. O
plano previu a criação de duas avenidas estruturadoras, que cortam a área
formando um “Y”. A qualidade urbanística decorre de um precioso traçado viá-
rio, que é adequado à topografia, busca reduzir o movimento de terra e criar
“efeitos belos” (Kruter, 1944). Outra preocupação é com o pedestre: as calça-
das são largas e confortáveis; escadarias foram previstas para reduzir distân-
cias e facilitar a circulação a pé. Os desníveis foram resolvidos com pequenos
muros de arrimo de pedra, que enriquecem o espaço público. O centro cívico-
-esportivo, concebido de forma monumental, é outro elemento estruturador
do plano. Sua implantação, aproveitando o anfiteatro natural do terreno, obe-
dece rigorosamente ao meio físico.

Os equipamentos públicos e os blocos multifamiliares foram implantados jun-


to ao eixo viário principal e ao centro cívico-esportivo. Os núcleos comerciais
foram localizados em diferentes setores do conjunto e um deles marca, com
monumentalidade, uma das entradas da vila. No entorno do centro cívico-
31

1 Centro cívico-esportivo 6 Área destinada à feira CI1


2 Escola 7 Biblioteca
CI2
3 Igreja 8 Estação de tratamento de esgotos
4 Posto da Previdêncis Social 9 Posto de saúde (atual delegacia) CI3
5 Sede do IAPI (atual Associação 10 Edificação não identificada em CG1
dos Moradores do IAPI) terreno de propriedade do IAPI
CG2
S1
B1
B2

B3
B4

B5
B6
B7
B8

R IOS B9 misto
S INDUSTRIÁ
AVENIDA DO

B10 misto

B11 misto

AV
EN
IDA
B12 misto

PL
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IO
D
ÍN
O
N
A
LI
SI
A
R
B
A
ID
N
VE
A

Escala 1:5.000 0 50 100

À esquerda Vista aérea de uma parte do conjunto, com


o centro cívico-esportivo ocupando lugar de destaque e
rodeado de grande variedade de tipos habitacionais.

Ao lado O aumento do número de blocos, decorrente da


necessidade de melhorar o aproveitamento da gleba,
gerou uma implantação pouco ordenada, com edifícios
orientados em diferentes direções, distante da
organização racional que caracteriza a maior parte dos
planos urbanísticos do IAPI.
502

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