Economia Regional e Urbana
Economia Regional e Urbana
Economia Regional e Urbana
URBANA
AULA 1
Princípios gerais
CONTEXTUALIZANDO
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Nordeste. Esta última concentra os piores indicadores relacionados à educação,
saúde e renda.
Saiba mais
1
Disponível em: <https://www.infoescola.com/geografia/desigualdades-regionais-do-brasil/>.
Acesso em: 25 jul. 2022.
3
Em uma perspectiva global, o Brasil é um país integrado ao movimento
mundial de bens e serviços, compondo o pequeno grupo de países que cresce
a um ritmo significativo, diversificando o destino de suas exportações (reduzindo
a dependência do destino em relação aos EUA), e construindo uma estratégia
de aproximação mais efetiva com a América do Sul e com a África (Carleial,
2011).
E internamente: é possível afirmar que o Brasil apresenta uma curva
ascendente de desenvolvimento em todas as suas regiões? Quando fazemos
menção a uma região desenvolvida, levamos em conta a qualidade de vida dos
residentes que habitam naquele território. Portanto, seria correto afirmar que
todas as regiões do Brasil apresentam um nível uniforme de desenvolvimento?
Infelizmente não. Há regiões mais industrializadas e outras menos,
estados com índices de educação mais expressivos, outros com índices de
analfabetismo gritante; há capitais que apresentam bons indicadores de
qualidade de vida, e outras cujos indicadores são objeto de preocupação; regiões
com maior nível de emprego formal, e regiões com alto índice de desemprego.
Nesse âmbito, Magalhães e Alves (2022, p. 8) salientam que:
4
Em suma, não há um único objeto de análise quando o assunto é
economia regional, pois esse tema abre um leque de especificidades que
precisam ser estudadas em profundidade. Em decorrência disso, temos
diferentes teorias, métodos, conceitos e ferramentas que podem ser aplicados à
economia regional, conforme veremos ao longo de nosso estudo.
6
Conforme demonstra o mapa, o Brasil, por exemplo, é dividido em cinco
regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Cada região é formada
por estados que possuem características comuns entre si e, por isso, foram
classificados na mesma região. Dentro dos estados, estão os municípios.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem
cinco regiões, 26 estados e o Distrito Federal (onde fica Brasília, a capital do
país).
Compreendendo os principais elementos que caracterizam uma região,
vamos agora fazer uma breve distinção entre regionalização e regionalismo. De
acordo com Richard (2014), a regionalização corresponde a um recorte de uma
região, como nível de representação, de administração e de ação em um dado
Estado. Isso equivale a institucionalizar porções do espaço nacional e concentrar
a esse nível a implementação de políticas setoriais. Logo, regionalizar significa
dividir as parcelas do espaço nacional, e dar competências às instituições
regionais.
Saiba mais
2
Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/divisao-
regional/15778-divisoes-regionais-do-brasil.html?=&t=o-que-e>. Acesso em: 25 jul. 2022.
7
suma, a diversidade de características presente em cada região está
intimamente relacionada com sua economia. Por isso, há uma linha tênue entre
os conceitos de região e regionalismo que, por vezes, até se confundem e que
são fundamentais para que possamos compreender a dinâmica de cada
economia regional.
O último censo divulgado pelo IBGE (2010) revela que 85% da população
brasileira vive em áreas urbanas, sendo registrado que, até o final da década de
1930, esse percentual não passava de 15%. O crescimento das cidades diminuiu
drasticamente a população rural. Esse fluxo migratório, que se intensificou no
século XX, foi influenciado pela industrialização, que ganhou força nos anos
1930.
Créditos: FGC/Shutterstock.
8
Magalhães e Alves (2021) observam que, se a região inicialmente mais dinâmica
possuir uma área agriculturável grande e produtiva, como ocorreu no Brasil, as
regiões atrasadas ficarão ainda mais isoladas dos benefícios da região em
desenvolvimento.
Nesse sentido, Cano (1985) analisa como o processo de industrialização
no Brasil ocorre de forma a concentrar a economia na região Sudeste,
principalmente em São Paulo. Na visão do autor, esse processo se inicia de
forma natural, pelo desenvolvimento agrícola que já havia na região, e depois se
reforça pelas políticas públicas que incentivam a atração de capital para essa
região.
Outro elemento que associa industrialização e urbanização é a atração de
trabalhadores que buscavam melhores condições de vida e regularização
trabalhista, pois à medida que crescia o fluxo de mão de obra, aumentava
também a organização sindical e a luta por direitos trabalhistas, realidade ainda
inexistente no meio rural.
Esse marco histórico é denominado por Furtado (1979) de “deslocamento
do centro dinâmico”, que caracteriza essa transição – de uma economia
brasileira agroexportadora, para uma economia brasileira urbano-industrial. Isso
porque a produção rural era voltada, sobretudo, para a exportação. Em meio à
crise do café, passou-se a desenvolver o mercado interno com ênfase na
indústria têxtil, cuja produção aumentou substancialmente nos anos 1930. Entre
1929-1937, a produção industrial no Brasil cresceu cerca de 50% (Furtado,
2001).
Quanto à associação entre urbanização e industrialização, Monteiro Neto,
Silva e Severian (2020) destacam que, entre 1880 e 1970, a ocupação do
território brasileiro foi, em larga medida, comandada pelos desígnios do
desenvolvimento industrial. A indústria ditou rumos e ritmos da urbanização, da
expansão de setores agrícolas, de serviços e comércio (pela expansão das
rendas e diversificação das formas de consumo). Segundo os autores:
Créditos: H_KO/Shutterstock.
10
distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão
social, cultural e territorial. (Brasil, 2004b, p. 11)
Saiba mais
3
Disponível em:
<https://geoftp.ibge.gov.br/organizacao_do_territorio/estrutura_territorial/evolucao_da_divisao_t
erritorial_do_brasil/evolucao_da_divisao_territorial_do_brasil_1872_2010/evolucao_da_divisao
_territorial_do_brasil_publicacao_completa.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2022.
11
A esse debate, Matteo (2011) acrescenta que uma região se forma a partir
de processos sociais, culturais, políticos e econômicos, em um território
geograficamente determinado, ao longo de uma conformação histórica. Logo,
compreender a relação entre território e economia regional é adentrar os
processos históricos que as forjaram, com ênfase nas condições sociopolíticas.
Créditos: gustavomellossa/Shutterstock.
12
Na constituição das cidades brasileiras, o crescimento acelerado e a
construção social desigual do espaço se materializam em diversas expressões:
precariedade habitacional, segregação socioespacial, degradação ambiental e
problemas de infraestrutura, que passaram a retratar e reproduzir um quadro de
injustiças e desigualdades sociais com ênfase na questão urbana (Braga, 2015).
Ainda segundo essa autora, datam do final do século XIX os primeiros registros
de cortiços e ocupação dos morros cariocas com as moradias populares. Mesmo
que as cidades ainda não fossem regidas pelas dinâmicas do capitalismo
industrial avançado, já tinham como marca a diferenciação socioespacial pela
qual a população mais pobre, via de regra, era excluída para as áreas menos
privilegiadas e sem infraestrutura (Braga, 2015).
Nesse contexto, Sunkel (2000) salienta que, em meio ao avanço do
capitalismo e da globalização, o desenvolvimento e o subdesenvolvimento são
duas faces de um mesmo processo, o que gera uma polarização interna entre a
população com alto poder aquisitivo, e a população marginalizada, ou dito de
outro modo, entre centro e periferia. Segundo o autor, essa desintegração interna
favorece o subdesenvolvimento, aumentando a marginalização.
Ao examinar a urbanização no Brasil, evidencia-se que
TROCANDO IDEIAS
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também em nível municipal, associando um elemento da gastronomia com a
economia local (por exemplo, Caxias do Sul: Festa da Uva).
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
14
REFERÊNCIAS
15
MAGALHÃES, J. C.; MIRANDA, R. B. Evolução da desigualdade econômica e
social no território brasileiro entre 1970 e 2000. In: CARVALHO, A. X. Y. et al.
Ensaios de economia regional e urbana, Brasília: IPEA, 2007. p. 135-176.
Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/LivroCompleto_29.p
d>. Acesso em: 25 jul. 2022.
16
RESPOSTA
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ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 2
CONTEXTUALIZANDO
2
de 0,5 ponto percentual na comparação com 2006. Das 27 unidades da
federação, em apenas 3 o setor industrial registrou expansão na produção de
riquezas no período analisado: Pernambuco, Amapá (alta de 3,8 pontos
percentuais) e Mato Grosso do Sul (alta de 3,3 pontos percentuais).
O surgimento de novos polos industriais, como o de Goiana, é resultado
de incentivos fiscais federais e estaduais e da expansão da renda urbana em
cidades das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
Saiba mais
Disponível em:
<https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/economia/polos-industriais-
aceleram-desenvolvimento-no-norte-nordeste-e-centro-oeste/>. Acesso em: 3
jul. 2022.
Créditos: Metamorworks/Shutterstock.
3
Embora os benefícios da aglomeração de produtores fossem conhecidos
desde o final do século XIX, foi somente na década de 1950 que o conceito de
aglomeração passou a ser empregado de forma sistemática na interpretação dos
movimentos de crescimento e desenvolvimento regional (Monasterio;
Cavalcante, 2011).
Em que pese o relevante papel desempenhado pela aglomeração nos
“polos de crescimento” de Perroux (1955), na “causação circular e acumulativa”
de Myrdal (1957), nos “efeitos para trás e para a frente” de Hirschman (1958) e
na “base exportadora” de North (1959), por exemplo, é curioso observar que
esses autores não foram, ao menos do ponto de vista formal, diretamente
influenciados pelo trabalho de Marshall (1890), tendo sido muito mais presentes
e facilmente identificáveis as influências exercidas por Keynes e por
Schumpeter, este último, sobretudo, no caso de Perroux (Monasterio;
Cavalcante, 2011).
O conceito de polo de crescimento originalmente proposto pelo
economista francês François Perroux (1903-1987) tem sido um dos mais
empregados na formulação de políticas de desenvolvimento regional. Partindo
das proposições apresentadas por Schumpeter (1911) a respeito do papel
desempenhado pelas inovações na dinâmica capitalista, Perroux explora as
relações que se estabeleceriam entre indústrias. Nesse contexto, Perroux
argumenta que o crescimento não ocorre de forma homogênea no espaço, mas
se manifesta em pontos ou polos de crescimento, com intensidades variáveis, e
se expande por diversos canais com efeitos variáveis sobre toda a economia
(Monasterio; Cavalcante, 2011).
Conforme demonstram os autores supracitados, Perroux argumenta que
haveria quatro diferentes formas de polarização por meio das quais as indústrias
motrizes induziriam o desenvolvimento regional:
4
• Geográfica: refere-se aos impactos nos sistemas urbanos do
desenvolvimento da cidade onde se localiza a indústria motriz. Esses
impactos levariam à minimização dos custos de transporte e à criação de
economias externas e de aglomeração.
Créditos: Artisticco/Shutterstock.
5
Gunnar Myrdal (1898-1987), ganhador do prêmio Nobel de 1974, também
teceu contribuições para a evolução do pensamento econômico regional. À sua
época, o autor salientou as razões pelas quais as economias regionais tenderiam
a divergir ao longo do tempo. Em tese, sua argumentação baseia-se no relato de
uma trajetória provável de desenvolvimento regional e na ideia de causação
circular e acumulativa. Ou seja, haveria mecanismos que, uma vez iniciados,
seriam mutuamente reforçados pelas forças de mercado e conduziriam as
regiões por caminhos divergentes.
Para ilustrar essa teoria, Monasterio e Cavalcante (2011, p. 69)
demonstram que a aplicação do modelo conceitual de Myrdal pode ser feita ao
se supor um surto de crescimento em uma determinada região por uma razão
súbita:
Após esse evento, seus recursos produtivos seriam “despertados” e ela
passaria a atrair recursos produtivos (trabalho, capital e espírito empreendedor)
de outras regiões. Os negócios ali implantados ampliariam o mercado para novos
empreendimentos que, por sua vez, gerariam mais lucro e mais poupança e, em
consequência, outra rodada de investimentos.
6
No que se refere à teoria de Myrdal, cabe salientar ainda dois conceitos
centrais (Monasterio; Cavalcante, 2011):
Créditos: Fotogrin/Shutterstock.
7
A teoria de Hirschman é bastante significativa para os brasileiros por ter
sido um dos poucos teóricos do desenvolvimento estrangeiro que entrou em
contato com correntes de pensamento tipicamente latino-americanas, como o
Estruturalismo cepalino e a Teoria da Dependência. Ainda que divergindo de sua
perspectiva teórica, Hirschman debateu com os adeptos dessas correntes as
questões relativas à promoção do desenvolvimento e às políticas adequadas
para atingir esse alvo (Bianchi, 2013).
Com atuação em diversos ramos da teoria econômica, as contribuições
de Hirschman para o desenvolvimento regional constam em sua obra The
Strategy of Economic Development (Os estágios do desenvolvimento
econômico), publicada em 1957.
Opostamente a Myrdal, que vê na desigualdade um problema, Hirschman
a considera um requisito do processo de desenvolvimento. Ao invés de uma
trajetória de crescimento contínua, ele destaca a importância dos desequilíbrios.
Logo, na visão de Hirschman o crescimento econômico seria alcançado por meio
de uma sequência de desajustes. Os desequilíbrios seriam a forma de as regiões
periféricas potencializem seus recursos escassos (Monasterio; Cavalcante,
2011).
O desenvolvimento para Hirschman ocorre como uma cadeia de
desequilíbrios durante longo período de tempo. O crescimento inicia-se nos
setores líderes e transfere-se para os seguintes de forma
irregular/desequilibrada. Neste sentido, a intervenção estatal é essencial para
viabilizar os objetivos de crescimento. Partindo dessa percepção, cabe destacar
dois conceitos centrais na teoria de Hirschman (Bianchi, 2013):
9
TEMA 4 – OS DISTRITOS INDUSTRIAIS MARSHALLIANOS
10
Marshall elaborou sua teoria visitando, investigando e observando as
diversas organizações industriais na Inglaterra e na América. Ele visitou várias
fábricas, entrevistando empregados e empregadores, a fim de entender os
pontos fracos e fortes que caracterizaram cada empresa. Em suas pesquisas,
percebeu que na Inglaterra, a forma mais comum de organização industrial foi o
distrito industrial (Santolin; Caten, 2015).
Nessa visão, o vínculo construído entre as empresas em um distrito
industrial traz como resultado fundamental a interação, a cooperação e o
aprendizado. Em conjunto, essa conexão viabiliza um elemento fundamental
para o desenvolvimento: a inovação.
Marshall ressaltou a existência de uma atmosfera industrial, na qual
haveria uma influência mútua dos sistemas econômico e social. Ela seria um
resultado da coexistência, dentro de uma mesma área geográfica, tanto de um
sistema industrial quanto de uma sociedade, crescendo ao redor das firmas
agrupadas e especializadas (Santolin; Caten, 2015).
Saiba mais
Os distritos industriais no Brasil, em especial no Município de Piracicaba,
foram implantados por meio do planejamento da iniciativa pública e privada.
Além das fábricas, os distritos industriais em Piracicaba abrigam
estabelecimentos comerciais e de serviços. Essa forma de organização fabril, a
partir da década de 1970, serviu para a instalação de indústrias que estavam
deixando a Região Metropolitana de São Paulo em busca de vantagens
locacionais no interior do estado. Os referidos distritos continuam sendo um
espaço atrativo, devido a sua excelente localização geográfica, para
investimentos nacionais e estrangeiros. Disponível em:
<https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/ageteo/article/view/11
879>. Acesso em: 3 jul. 2022.
11
Créditos: PK289/Shutterstock.
12
às regiões. Exemplos: Coeficiente de localização (CL), Índice de
Hirschman-Herfindahl, Índice de Gini para localização.
• Medidas de potencial de mercado: Ceteris paribus e intuitivamente, um
potencial de mercado elevado indica o quão atraente para as atividades
econômicas uma região é. A proximidade de mercados é vantajosa para
as empresas uma vez que fornecedores e consumidores estarão mais
acessíveis. Exemplos de mensurações: potencial de mercado, distância
do centro econômico.
Saiba mais
FGV lança primeiro Índice de Desenvolvimento Regional Latino-
americano. O índice é uma ferramenta que mede o desenvolvimento em nível
territorial, a partir de uma perspectiva multidimensional inspirada no enfoque do
desenvolvimento humano e sustentável. Os resultados variam entre 0 e 1 (onde
0 expressa o desenvolvimento mínimo e 1 o máximo). Dessa forma, o IDERE
LATAM considera 25 variáveis por meio de oito dimensões: Educação, Saúde,
Bem-estar e Coesão, Atividade Econômica, Instituições, Segurança, Meio
Ambiente e Gênero. Disponível em: <https://jeonline.com.br/noticia/23716/fgv-
lanca-primeiro-indice-de-desenvolvimento-regional-latino-americano>. Acesso
em: 3 jul. 2022.
TROCANDO IDEIAS
13
Partindo dessa reflexão, você consegue localizar um parque industrial
próximo à região onde você reside?
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
14
período de tempo. O crescimento inicia-se, portanto, nos setores líderes e
transfere-se para os seguintes de forma irregular/desequilibrada.
Por fim, foram trazidas as contribuições de Alfred Marshall sobre as
aglomerações em distritos industriais e como essas permitem que pequenas e
médias empresas consigam competir no mercado e globalizado.
Após essa imersão no arcabouço teórico, finalizamos pontuando alguns
indicadores essenciais de análise regional e espacial.
15
REFERÊNCIAS
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ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 3
CONTEXTUALIZANDO
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TEMA 1 – CONTRIBUIÇÕES NEOSHUMPETERIANAS E O
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Créditos: pieceofmind/Shutterstock.
3
Partindo dessa concepção, a corrente teórica neoschumpeteriana
avançou substancialmente o pensamento econômico sobre desenvolvimento.
Essa teoria, que se desenvolve a partir dos anos 1980, é formada por um
conjunto de contribuições e análises que não necessariamente formam um todo
uniforme (Dathein, 2003).
A análise neoschumpeteriana tem como pressuposto a existência de um
princípio dinâmico que conduz à evolução do sistema econômico, por isso é
também conhecida como teoria evolucionária. Esse princípio é a tecnologia, as
revoluções que ela promove e os impactos referentes a novos padrões
produtivos e de consumo. Assim, os desequilíbrios são intrínsecos ao sistema
econômico, e as inovações promovem assimetrias entre firmas e entre os
setores da atividade econômica (Carleial, 2011).
Desse modo, a autora supracitada salienta que o pensamento
neoschumpetriano observa de modo particular a firma, concedendo grande
importância à história, às rotinas e influências do ambiente e de instituições.
Logo, as firmas são agentes específicos, organizações singulares que usam
diferentes insumos para a sua produção, um dos quais é o conhecimento.
Para os neoschumpeterianos, o conhecimento tecnológico avança de
forma dependente do conhecimento acumulado anteriormente (path-
dependence) e é compatível com rupturas, revoluções e descontinuidades
(mudanças de paradigmas):
4
delineados para agilizar o fluxo de informações necessário para promover os
avanços tecnológicos e inovativos.
Em linhas gerais, a corrente neoschumpeteriana é apropriada para
análises desenvolvimentistas e, além disso, é utilizada como instrumento de
elaboração de políticas econômicas, podendo ser adaptada para casos de
países não desenvolvidos, como o Brasil, o que tem sido feito por muitos autores
internacionais e brasileiros (Dathein, 2003).
Tendo essa compreensão sobre as contribuições da corrente
neoschumpeteriana para o desenvolvimento regional, a seguir, adentra-se a
teoria da base de exportação, desenvolvida por Douglass North.
Saiba mais
No Brasil, a exemplificação da teoria da base de exportação pode ser
realizada citando o caso da produção cafeeira no estado de São Paulo. A
referida atividade conseguiu criar atividades locais vinculadas a sua produção,
como também criou vantagens comparativas a São Paulo, instituindo um
ambiente propício ao desenvolvimento de outras atividades, dentre elas a
indústria. No caso da produção açucareira no Nordeste brasileiro, esse
ambiente de dinamismo não foi observado, haja vista que a cultura do açúcar
não desenvolveu atividades locais vinculadas a sua produção.
6
Continue a leitura em:
<https://www.revista.ueg.br/index.php/economia/article/view/5527/3925#:~:te
xt=A%20teoria%20da%20base%20de,seja%2C%20orientadas%20a%20dem
anda%20interna>. Acesso em: 16 ago. 2022.
Créditos: Tavarius/Shutterstock.
7
O modelo de William Alonso (1933-1999) marca o início dos estudos no
campo da economia urbana. Contudo, Von Thünen (1783-1850) o precedeu,
com a análise do modelo que trata do padrão de ocupação do solo por atividades
agrícolas, propondo os custos de transporte como variável-chave na decisão de
localização ao longo do espaço. O modelo de Von Thünen de localização do uso
do solo fornece a base para os trabalhos elaborados no campo da economia
urbana.
Ainda que em uma perspectiva rural, Thünen deu início à linha de modelos
conhecidos como cidade monocêntrica, que tratam dos padrões de ocupação do
solo exclusivamente urbano pelas famílias moradoras na cidade. Adaptado por
Alonso (1964) para o contexto das cidades, o modelo mantém o cenário de único
centro de empregos (negócios). Os fazendeiros são substituídos por
trabalhadores no percurso da residência para o local de trabalho, e os custos de
transporte são analisados como custos de deslocamento diário. Assim, a
principal hipótese de Von Thünen é mantida, a existência de um único centro de
negócios, bem como a importância dos custos de transporte (Proque, 2014).
Dando sequência, em seu modelo, Alonso (1964) estabeleceu que as
famílias moradoras da cidade escolheriam a localização e o tamanho de suas
residências. Foi introduzido também o conceito de curvas de bid rent, ou seja, a
máxima disposição a pagar pela moradia em determinada localização (Nadalin,
2011).
Para além das contribuições de Alonso, destacam-se ainda os trabalhos
de Muth e de Mills, que complementam a análise desembocando na síntese
conhecida como o modelo de Alonso-Muth-Mills (AMM). Esse modelo de cidade
monocêntrica foi a estrutura dominante da área de economia urbana nos anos
1970 e possibilitou grandes contribuições teóricas na área de economia urbana.
Esses trabalhos inspiraram a nova economia urbana (NEU), campo que tem
como finalidade explicar a distribuição do solo entre as atividades e o motivo de
as cidades terem um ou mais de um centro de negócios (Proque, 2014).
O modelo da cidade monocêntrica trabalha com a ideia de um trade-off
entre acessibilidade aos centros de emprego e a escolha de residência pelas
famílias. Ou seja, as decisões são tomadas com base nos custos de
deslocamento diário da residência para o local de trabalho e o desejo de espaço
habitacional. Essa é uma contribuição importante que ajuda a entender a
questão da formação das estruturas urbanas:
8
As cidades possuem uma região central que proporciona empregos.
Nesta literatura, este centro é chamado Central Business District
(CBD). O CBD é o local com maior densidade de empregos e onde
encontram-se as atividades que tradicionalmente são lócus de
comércio, serviços e funcionalismo público. No ponto mais distante do
CBD, os indivíduos consomem uma maior quantidade de terras.
Entretanto, estes incorrem em ambos os custos com transporte e
tempo despendido maiores. Os indivíduos que moram próximos ao
CBD têm lotes de menor tamanho, mas em compensação, têm maior
acessibilidade ao emprego. (Proque, 2014, p. 63)
Créditos:Rawpixel.com/Shutterstock.
9
tratamento microeconômico do espaço dentro da teoria econômica. O interesse
recente pelo espaço, no centro da teoria econômica, surgiu dos avanços da NGE
(Proque, 2014).
Com base na literatura da Organização Industrial, o modelo
desenvolvido por Dixit-Stiglitz de concorrência monopolista permitiu um
tratamento microeconômico mais adequado e refinado ao mercado. O espaço foi
inserido na análise, de maneira que a NGE pode explicar a formação de
aglomerações da atividade econômica no espaço geográfico (Proque, 2014).
Cabe destacar a influência de três importantes cientistas que sintetizam
as principais questões levantadas na geografia econômica (Thisse, 2011):
10
de produção (agrícola e industrial) e dois tipos de mão de obra (Proque, 2014, p.
60):
11
TEMA 5 – A PERSPECTIVA NEOINSTITUCIONALISTA
Créditos: iQoncept/Shutterstock.
12
Hodgson, Ramstad, Rutherford, Samuels, Mark Tool, Stanfield e outros,
constituiu a corrente neo-institucionalista (Conceição, 2002).
O desenvolvimento econômico depende das instituições, portanto elas
são uma medida do desenvolvimento econômico. Na prática, as instituições
vigentes influenciam o indivíduo e, em seguida, o indivíduo se torna um potencial
agente de mudança institucional – necessária para que o desenvolvimento
aconteça. Logo, o Estado tem um papel central no processo de desenvolvimento,
pois há situações em que o crescimento ou a redistribuição da riqueza é
condição prévia necessária à mudança institucional.
A evolução das instituições e sua influência sobre o desempenho
econômico dependem do aprendizado pelo qual as pessoas passam em seu
contexto e que se propaga pelas instâncias em que atuam no esforço de
melhorar suas condições de vida. O aprendizado reconstitui o indivíduo em
termos de valores e preferências.
Nessa abordagem, Hodgson (2000) atualiza o conceito de instituição
dentro dos novos enfoques econômicos. Segundo esse autor, as instituições são
sistemas duráveis de regras sociais estabelecidas e incorporadas que
estruturam as interações sociais.
Logo, esse conceito de instituição remete à importância do processo
histórico na economia institucionalista, com ênfase na formulação das ideias e
das políticas econômicas. Hábitos, linguagem, dinheiro, sistemas de pesos e
medidas, modos à mesa, firmas (e outras organizações) são todas instituições
na abordagem analítica neoinstitucionalista. Em parte, a durabilidade das
instituições decorre do fato de que elas podem criar expectativas estáveis sobre
o comportamento dos outros. Geralmente as instituições possibilitam o
pensamento, a expectativa e a ação ordenados, criando forma e consistência às
atividades humanas (Hodgson, 2000).
Para análise de economia regional, a abordagem institucionalista se
destaca por permitir sair do abstrato e ir ao concreto, ou seja, conhecer os
elementos que de fato propiciam o desenvolvimento em uma determinada
região, pois, diferente da teoria neoclássica, o institucionalismo não prevê o que
vai acontecer, mas busca uma aproximação com a realidade concreta para
compreender os fenômenos à sua volta. Quais são os hábitos comuns de
pensamento? Como o conhecimento evolui? Quais são as regras sociais
incorporadas que favorecem o desenvolvimento? Como a população responde
13
à implementação de uma política pública? As respostas para esses
questionamentos certamente requerem estudos empíricos, que podem ser
pautados na abordagem neoinstitucionalista.
TROCANDO IDEIAS
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
14
abordamos o modelo urbano de Alonso, Muth e de Mills (AMM). Por fim, foram
trazidas as interpretações da nova geografia econômica e do
neoinstitucionalismo acerca do desenvolvimento.
É importante salientar que uma única teoria por si só não esgota essa
abordagem, que é tão complexa sobre a economia regional e urbana. O mais
importante é compreender o leque de interpretações acerca da temática.
Algumas teorias perpassam conceitos centrais, como o de aglomerações. Outras
podem ser empregadas como métodos, por trazerem instrumentos analíticos
que auxiliam a interpretação de um dado contexto, como o neoinstitucionalismo.
Quanto maior for a aproximação com uma determinada teoria, mais
natural tende a ser a observação da realidade econômica à luz dessa
interpretação.
15
REFERÊNCIAS
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ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 4
CONTEXTUALIZANDO
Saiba mais
Disponível em: <https://www.fecop.seplag.ce.gov.br/2020/11/20/regiao-
nordeste-possui-quase-metade-de-toda-a-pobreza-no-brasil-segundo-ibge/>.
Acesso em: 10 jul. 2022.
2
TEMA 1 – INDUSTRIALIZAÇÃO: DESLOCAMENTO DO CENTRO DINÂMICO
Créditos: yuRomanovich/Shutterstock.
• Restrições às importações;
• Aumento da taxa de câmbio;
• Compras de excedentes ou financiamento de estoques visando a
estimular a atividade interna.
4
rápido: de 1929-37, a produção industrial cresceu em cerca de 50% (Furtado,
1989).
Após compreender a relação entre o processo de industrialização e o
deslocamento do centro dinâmico, a seguir adentra-se à problemática da
concentração industrial no Brasil.
5
paulista nas décadas de 1870 a 1920. Com o crash de 1929, houve uma ruptura
no modelo primário-exportador, e a mudança do centro dinâmico para o mercado
interno, que, puxado pela manufatura, teve forte concentração industrial em São
Paulo.
Mesmo antes da crise de 1929, grande parte da indústria brasileira
(aproximadamente 37%) já se concentrava em São Paulo com estrutura
diversificada. Era nessa região que se encontrava também o mais expressivo
desenvolvimento agrícola. A partir dos anos 1920, associado ao “deslocamento
do centro dinâmico”, a economia de São Paulo tornou-se o centro de decisão
maior da acumulação de capital no país (Cano, 1985).
Em suma, é com o “deslocamento do centro dinâmico” nos anos 1930 que
se intensifica a concentração industrial em São Paulo. Mais especificamente a
partir de 1933 há uma recuperação da economia brasileira alcançando a taxa
anual de crescimento de 11,2%. Já em São Paulo, esse indicador chegou a 14%.
Ou seja, um crescimento acima da média nacional (Cano, 1985).
Seguindo esse ritmo, os anos 1950 também são um período em que se
reforça a concentração industrial, na medida em que se instalam em São Paulo
as chamadas indústrias pesadas. Isso devido à sua maior diversificação
industrial previamente existente, o que levou a encadeamentos produtivos mais
intensos, quando comparados às demais regiões do país (Cano, 1985).
Com a aceleração da industrialização, por meio do Plano de Metas, houve
uma entrada expressiva de empresas estrangeiras em setores modernos,
sobretudo o automobilístico. Com isso, os desequilíbrios regionais tenderam à
acentuação, ao mesmo tempo em que se observava a integração do mercado
nacional com hegemonia paulista (Cano, 1985).
Observando a indústria no Brasil, de forma agregada, Cano (1985, p. 107)
salienta que a partir dos anos 1960 há uma redução no ritmo da concentração
industrial em São Paulo. O Estado “perde posição na maioria dos segmentos
produtivos de bens intermediários e em todos os bens de capital e de consumo
durável, ganhando maior posição nos bens de consumo não duráveis”.
A perda dessa posição está associada ao dinamismo de outras regiões
brasileiras, que passam a se desenvolver com os incentivos das políticas
públicas. Como exemplo, é possível destacar a expansão das refinarias estatais
de petróleo. Nos anos 1970, estendendo-se até 1985, tem início uma
desconcentração produtiva regional virtuosa, tendo em vista que São Paulo teve
6
taxas de crescimento elevadas, porém as taxas das demais regiões do país
foram superiores (Sampaio, 2017).
A economia paulista é a mais afetada pelo processo de reestruturação
produtiva que emerge pós-anos 1970 por três motivos (Sampaio, 2017):
7
TEMA 3 – URBANIZAÇÃO BRASILEIRA
8
Gráfico 1 – População Urbana e Rural (1940-2009)
180.000.000
160.000.000
140.000.000
120.000.000
100.000.000
80.000.000
60.000.000
40.000.000
20.000.000
0
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
2006
2009
População urbana População Rural
9
Na realidade, já no final do século XIX, datam os primeiros registros de
cortiços e ocupações dos morros cariocas com moradias populares. Mesmo que
as cidades ainda não fossem regidas pelas dinâmicas do capitalismo industrial
avançado, já tinham enquanto marca a diferenciação socioespacial, pela qual a
população mais pobre, via de regra, era excluída para as áreas menos
privilegiadas e sem infraestrutura (Braga, 2015).
Na constituição das cidades brasileiras, os problemas do crescimento
acelerado e a construção social desigual do espaço propagaram e
materializaram-se em diversas expressões, sendo pela precariedade
habitacional, segregação socioespacial, degradação ambiental, problemas de
infraestrutura, que passaram a retratar e reproduzir um quadro de injustiças e
desigualdades sociais na questão urbana (Braga, 2015).
Saiba mais
No Brasil, a urbanização ocorrida a partir do século XX foi muito
acelerada. Hoje, temos a quarta maior população urbana do mundo, com mais
de 190 milhões de pessoas, atrás de China, Índia e Estados Unidos. Nesse
período, as pessoas que saíam do campo em direção a grandes centros, como
Rio e São Paulo, ocuparam os entornos das cidades – na maioria dos casos, em
loteamentos privados sem infraestrutura adequada. Quem não podia pagar por
esses lotes acabou se instalando em localidades ainda mais precárias, dando
origem às periferias e favelas. Disponível em: <https://g1.globo.com/especial-
publicitario/em-movimento/noticia/brasil-busca-recuperar-tempo-perdido-em-
planejamento-urbano.ghtml>. Acesso em: 10 jul. 2022.
10
TEMA 4 – ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DAS DISPARIDADES
REGIONAIS DO BRASIL
11
anos 1970, que atingiu um máximo de 65,5%. Em 2015, mesmo com uma queda,
esse dado foi de 54% (Neto; Silva; Severian, 2020).
Para além do PIB, outros indicadores revelam as disparidades regionais
no Brasil, a exemplo do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM),
conforme demonstra o gráfico a seguir:
Distrito Federal
São Paulo
Santa Catarina
Rio de Janeiro
Paraná
Rio Grande do Sul
Minas Gerais
Mato Grosso
Espírito Santo
Goiás
Mato Grosso do Sul
Roraima
Tocantins
Amapá
Ceará
Amazonas
Rio Grande do Norte
Pernambuco
Rondônia
Paraíba
Acre
Bahia
Sergipe
Pará
Piauí
Maranhão
Alagoas
Tal como o IDH, o IDHM varia entre zero e um, de modo que quanto mais
próximo de um, melhor tende a ser o desenvolvimento humano naquele território.
Conforme é possível observar no gráfico acima, com exceção do Distrito Federal,
as unidades da federação que apresentaram as médias mais altas do IDHM
pertencem às regiões Sul e Sudeste: São Paulo (0,826), Santa Catarina (0,808),
Rio de Janeiro (0,796), Paraná (0,792) e Rio Grande do Sul (0,787). Todos esses
Estados ficaram acima da média nacional, que em 2017 foi de 0,778.
12
No outro extremo, temos os Estados do Norte e Nordeste apresentando
baixos índices de desenvolvimento humano: Alagoas (0,683), Maranhão (0,687),
Piauí (0,697), Pará (0,698), Sergipe (0,702) e Bahia (0,714). Todos esses
Estados apresentaram o IDHM inferior à média nacional em 2017.
Para além do IDHM, outro indicador que coloca em evidência a
desigualdade regional é o percentual da população em extrema pobreza,
conforme demonstra o gráfico a seguir:
15,62
14,05
13,27
12,71
12,39
11,58
10,71
10,59
10,54
9,69
9,34
7,98
7,65
6,22
5,12
4,57
4,14
4,4
3,39
3,38
2,94
2,85
2,76
2,65
2,56
2,35
1,54
13
TEMA 5 – NORTE, NORDESTE, CENTRO-OESTE, SUDESTE E SUL:
DESENVOLVIMENTO DESIGUAL
Créditos: SGSpann/Shutterstock.
14
E conforme evidenciamos até aqui, as diferentes regiões brasileiras
apresentam índices muito discrepantes no que se refere ao desenvolvimento
humano. Por ser um indicador amplo, é possível afirmar que esse
desenvolvimento desigual perpassa diversas esferas, tais como saúde,
educação, renda, e claro a qualidade de vida como um todo.
Quando se fala das desigualdades socioeconômicas, então se trata
daquelas produzidas pelo capitalismo e não simplesmente das diferenças
próprias aos vários espaços geográficos. Theis, Strelow e Lasta (2017) reiteram
que para se compreender o desenvolvimento geográfico desigual, basta
observar a ocupação dos variados espaços no território, visto que o capital busca
o que se chama de ajuste espacial:
15
Gráfico 4 – Rendimento Médio da População Ocupada (2010)
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
Nordeste Norte Centro Oeste Sul Sudeste
TROCANDO IDEIAS
16
<https://www.redalyc.org/pdf/4966/496654014005.pdf>. Acesso em: 10 jul.
2022.
NA PRÁTICA
17
FINALIZANDO
18
REFERÊNCIAS
19
GABARITO
20
ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 5
CONTEXTUALIZANDO
2
TEMA 1 – RECONHECIMENTO INSTITUCIONAL DOS PROBLEMAS
REGIONAIS
3
cargo da União, contra os efeitos desse fenômeno, que recaíam, principalmente,
sobre o Nordeste (Brasil, 1934; Portugal; Silva, 2020).
Outros avanços foram conquistados a partir da década de 1940, quando
o Estado intensificou a promoção da ocupação econômica e do povoamento das
Regiões Amazônica e Centro-Oeste; e, a partir dos anos 1950, com a
dinamização econômica do Nordeste. Todas essas regiões eram, até então,
fracamente articuladas, do ponto de vista de suas economias. O intuito disso era
possibilitar a expansão do capitalismo em direção às áreas ditas atrasadas, por
meio da modernização de sua base econômica. Em 1951, com Getúlio Vargas
de volta ao poder, foi criada a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, que
formulou projetos envolvendo infraestrutura, agricultura, Administração Pública.
Em 1952, funda-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), cujo foco principal era atuar na infraestrutura econômica do país,
financiando projetos em setores como estradas de ferro, portos e redes de
energia elétrica (Portugal; Silva, 2020).
Aquele foi um período marcado mundialmente pela ascensão do
keynesianismo, associado ao ideário de intervenção estatal. O Estado, dotado
de autonomia, ganhou centralidade e protagonismo no âmbito do planejamento
público, promovendo investimentos sólidos nas políticas voltadas para o
desenvolvimento socioeconômico dos países. Toda essa conjuntura teórica
influenciou a ação do Estado no que concerne à questão regional brasileira. A
integração nacional – antes concebida como interligação geográfica de porções
espaciais do território nacional –, bem como a ocupação demográfica e
econômica de vazios territoriais, sob um certo discurso civilizatório, passaram a
ter um caráter mais forte de segurança nacional e de integração dos mercados
regionais (Portugal; Silva, 2020).
Em linhas gerais, a partir dos anos 1950, a literatura econômica brasileira
passa a acumular discussões sobre a questão regional porque não era mais
possível pensar no desenvolvimento do Brasil sem pensar no desenvolvimento
das suas diferentes regiões e na sua integração produtiva. Dando continuidade
a esse reconhecimento institucional da problemática regional, a seguir serão
apresentadas as superintendências regionais de desenvolvimento que foram
criadas no Brasil.
4
TEMA 2 – SUPERINTENDÊNCIAS REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO
Crédito: AlexLMX/Shutterstock.
5
• Superintendência de Desenvolvimento da Região Centro-Oeste
(Sudeco), criada em 1967;
• Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), criada em
1959.
7
A PNDR pode ser dividida em duas fases: PNDR I, que vigorou entre 2003
a 2011; e PNDR II, que vigora desde 2012. A partir de 2003 ocorre, com isso, a
consolidação de um esforço de repensar a política regional brasileira, com o
lançamento da PNDR pelo então Ministério da Integração Nacional.
Inicialmente, a PNDR teve dois objetivos principais (Resende et al., 2015):
8
Decreto n. 9.810/2019, representando um instrumento legal que baliza a ação
do governo federal em busca da redução das desigualdades regionais,
econômicas e sociais, por meio da criação de oportunidades de desenvolvimento
que resultem em crescimento econômico, geração de renda e melhoria da
qualidade de vida da população, com base em quatro objetivos prioritários:
Saiba mais
Para conhecer as estratégias de alcance da PNDR, acesse e leia a
matéria completa disponível no seguinte link: <https://www.gov.br/mdr/pt-
br/assuntos/desenvolvimento-regional/pndr> (Política, 2020).
9
promover a articulação das políticas setoriais com vistas a superar as
desigualdades de dimensão regional.
Após se compreender os aspectos centrais da PNDR, a seguir faz-se um
balanço dos avanços das políticas de desenvolvimento regional no Brasil.
10
sua trajetória, não houve a sua consolidação por meio de um marco normativo
com maiores vínculos jurídicos, com força de lei. Ademais, na prática, a questão
regional não entrou na agenda de prioridades do governo federal, e os planos
regionais de desenvolvimento, que deveriam guiar o processo, não foram
instituídos, uma vez que os documentos elaborados não percorreram os
caminhos determinados pelas leis complementares, ou seja, não passaram por
necessária tramitação no Congresso Nacional (Portugal; Silva, 2020).
Em linhas gerais, o Estado seguiu caminhos que marginalizaram as
políticas de desenvolvimento regional. Porém, se visto de forma integral, as
ações governamentais contribuíram para a melhoria de vida nas regiões
brasileiras, enfrentando múltiplas dimensões do problema. Já no que se refere à
industrialização, conforme veremos a seguir, essa não pôde ser o foco do
Estado, dado o ambiente de desindustrialização que se iniciou no Brasil desde
os anos 1980.
Crédito: Photomarine/Shutterstock.
11
interno bruto (PIB) em um determinado espaço econômico, geralmente nacional
(Sampaio, 2017). Apesar do debate sobre o processo de desindustrialização do
país ter se acendido na década de 1980, foi após o período de 2008-2009 que
ele ganhou força. Isso se deve, principalmente, à queda significativa da
participação da indústria de transformação no PIB brasileiro, à redução da
participação do emprego industrial no emprego total, à maior participação das
commodities nas exportações e ao aumento das importações de bens
manufaturados.
Em linhas gerais, a indústria se deteriorou devido à ausência de políticas
industriais e de desenvolvimento. Acrescentam-se, ainda, a isso, os juros
elevados, a falta de investimento, o câmbio valorizado e a abertura comercial.
Nesse âmbito, Cano (2012) elenca quatro fatores responsáveis por desencadear
a desindustrialização precoce no Brasil:
TROCANDO IDEIAS
13
brasil-vai-virar-uma-grande-fazenda-um-pais-em-acelerada-
desindustrializacao.html>. Acesso em 18 ago. 2022 (Oliveira, 2021).
NA PRÁTICA
Fonte: IBGE.
FINALIZANDO
15
REFERÊNCIAS
16
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/201014_livro_
historias_das_politicas_regionais_no_brasil.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2022.
17
RESPOSTAS
18
ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 6
CONTEXTUALIZANDO
2
TEMA 1 – PLANEJAMENTO REGIONAL NO BRASIL
4
TEMA 2 – SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO
Crédito: elenabsl/Shutterstock.
5
subsidiar as discussões de políticas públicas que estimulem as capacidades
inovativas das economias regionais.
O papel que o Estado assume frente à elaboração e implementação de
políticas de inovação é uma das questões essenciais para o enfoque dos
Sistemas de Inovação. Gondin (2017) afirma que a interação e a difusão de
novas tecnologias formam um sistema de inovação, e a conformação desse
sistema evidencia a importante atuação do Estado para o processo inovativo.
Desse modo, Sistema de Inovação é um instrumento de intervenção pelo
qual, governantes podem implementar políticas de Estado a fim de influenciar o
processo inovativo de setores, de regiões ou mesmo de nações. Assim, o
governo exerce papel relevante propiciando estímulos, definindo diretrizes,
gerando infraestrutura, garantindo direitos de propriedade intelectual e de troca
de conhecimento, de forma a melhorar o relacionamento entre os agentes
(Gondin, 2017).
A visão sistêmica da inovação pressupõe um processo de aprendizado
interativo entre distintos atores e a clara percepção de que o contexto regional é
decisivo para a promoção da inovação dos SRI. Estes consistem na interação
de subsistemas de geração e exploração de conhecimentos relacionados não só
aos sistemas global e nacional, como também a outros sistemas regionais para
a comercialização de novos conhecimentos (Garcia et al., 2020).
A inovação também é gerada por meio das redes regionais de inovadores,
dos clusters locais e das instituições de pesquisa. Logo, infere-se que não só as
regiões são vitais para a inovação, como também a concentração de atividades
é vantajosa para o crescimento econômico das regiões, em virtude do fato de
elas serem o local onde a capacidade inovadora é forjada e, ao mesmo tempo,
as atividades econômicas são organizadas e coordenadas (Garcia et al., 2020):
6
O esquema a seguir ilustra as condições econômicas, sociais,
institucionais e culturais regionais que influencia o SRI:
7
TEMA 3 – ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS
8
Saiba mais
Segundo do Ministério da Economia, em 2021 o Brasil já possuía 839
Arranjos Produtivos Locais espalhados em todas as regiões do País, com
alcance em 2.580 municípios. Esses APLs estão distribuídos em 40 setores
produtivos com mais de 3 milhões de empregos gerados.
Continue a leitura em: <https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-
exterior/pt-br/assuntos/competitividade-industrial/arranjos-produtivos-locais-
apl>. Acesso em: 27. jul. 2022.
9
na geração de emprego e renda, tornando-se um atrativo a outras empresas
para que se instalem na região, fomentando assim o desenvolvimento regional
(Simonetti; Kamimura, 2017).
Saiba mais
O Brasil possui o Observatório Brasileiro de APLs (OBAPL) que é
constituído por uma Plataforma informatizada composta por um Banco de Dados
Nacional, um Portal de divulgação de notícias e um Sistema de
Georreferenciamento denominado VISÃO. Acessando o link a seguir é possível
visualizar todos ao APLs existentes no Brasil, bem como seus respectivos
setores e localização. Disponível em:
<https://www.sistema.observatorioapl.gov.br/biblioteca/lista_apl_30-01-2022/>.
Acesso em: 27 jul. 2022.
10
TEMA 4 – POLÍTICA URBANA NO BRASIL
Crédito: jongcreative/Shutterstock.
12
• Lei n. 12.587/2012 da Política Nacional de Mobilidade Urbana - é um
instrumento da política de desenvolvimento urbano que tem por objetivo
integrar os diferentes modos de transportes e a melhora da acessibilidade
e da mobilidade no território do município.
• Lei n. 13.089/2015 do Estatuto das Metrópoles - importante avanço
normativo para induzir melhor governança de territórios que não são
reconhecidos como entes federativos, como o caso das regiões
metropolitanas e demais aglomerados urbanos.
13
TEMA 5 – DESAFIOS PARA SUPERAÇÃO DAS DISPARIDADES REGIONAIS
Crédito: Lightspring/Shutterstock.
14
Ainda temos o gargalo da disparidade cujo marco são as regiões que
comandam a grande parte da produção nacional, por sua estrutura produtiva
mais densa e diversificada. A via da integração pode minimizar essa lacuna.
Em suma, no caso do Brasil, Brandão (2020) destaca que o Estado e o
pacto federativo têm enorme dificuldade para promover uma abordagem
estrutural dos problemas regionais e fazer cumprir o princípio constitucional da
redução das desigualdades regionais, sendo necessário:
TROCANDO IDEIAS
15
município, busque os APLs existentes na região mais próximo ou mesmo no seu
estado.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
16
REFERÊNCIAS
17
br/assuntos/competitividade-industrial/arranjos-produtivos-locais-apl>. Acesso
em: 27 jul. 2022.
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GABARITO
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