Economia Regional e Urbana

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ECONOMIA REGIONAL E

URBANA
AULA 1

Profª Rossandra Maciel de Bitencourt


CONVERSA INICIAL

Princípios gerais

Você já ouviu falar em desenvolvimento regional, ou em economia


regional e urbana?
É muito provável que sim. Pois esses temas estão presentes em nosso
dia a dia. Talvez não nesses termos, mas diariamente o noticiário falam sobre o
comportamento de indicadores regionais, evidenciando o quanto a economia
local se faz importante na vida de todos.
A fim de compreendermos melhor esses conceitos, inicialmente faremos
uma breve apresentação sobre a relevância da economia regional e urbana.
Como a macroeconomia, a microeconomia e as economias internacional
regional e urbana, também se traduzem em um importante campo de estudo da
ciência econômica.
Na sequência, estudaremos os conceitos de região, regionalização e
regionalismo. Embora esses termos estejam interligados, cada um possui uma
conotação específica. Em seguida, avançaremos sobre a relação existente entre
urbanização e desenvolvimento socioeconômico, e na relação entre território e
economia regional. Por fim, adentraremos uma problemática central, cujo fio
condutor irá perpassar boa parte desse estudo: a dicotomia existente entre
centros urbanos e periferias.

CONTEXTUALIZANDO

A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica o Brasil entre os dez


países mais desiguais do mundo no que diz respeito às condições
socioeconômicas. Ao mesmo tempo em que o país possui cidades e regiões
bastante desenvolvidas, como é o caso das regiões Sul e Sudeste, há outras
com índices de desenvolvimento bem menores, como as regiões Norte e
Nordeste.
Essas desigualdades vão muito além da renda das pessoas, e passa por
questões de acesso a saúde, saneamento básico, transporte e infraestrutura. O
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que leva em conta a qualidade de
vida da população, demonstra que, no Brasil, a Região Sudeste conta com a as
melhores condições de vida, seguida pelas Regiões Centro-Oeste, Sul, Norte e

2
Nordeste. Esta última concentra os piores indicadores relacionados à educação,
saúde e renda.

Saiba mais

Para mais informações, leia o artigo “Desigualdades regionais do Brasil” 1.

TEMA 1 – ECONOMIA REGIONAL E URBANA: QUAL SUA RELEVÂNCIA?

Figura 1 – Economia regional e global

Créditos: Dmitry Demidovich/Shutterstock.

Você sabia que há uma profunda relação entre a dinâmica local e os


processos econômicos? É por isso que o termo economia regional ganha cada
vez mais centralidade na esfera econômica.
Logo, enquanto a macroeconomia estuda as variáveis de uma
determinada nação em nível agregado, e a microeconomia estuda o
comportamento individual de consumidores e firmas, a economia regional coloca
em evidência as disparidades e o desenvolvimento entre diferentes regiões. A
economia internacional estuda a globalização e as relações entre diferentes
países, e a economia regional, por sua vez, aprofunda-se sobre as
características locais, fragilidades e potencialidades econômicas de uma
determinada região, e nas desigualdades socioeconômicas entre diferentes
regiões.

1
Disponível em: <https://www.infoescola.com/geografia/desigualdades-regionais-do-brasil/>.
Acesso em: 25 jul. 2022.
3
Em uma perspectiva global, o Brasil é um país integrado ao movimento
mundial de bens e serviços, compondo o pequeno grupo de países que cresce
a um ritmo significativo, diversificando o destino de suas exportações (reduzindo
a dependência do destino em relação aos EUA), e construindo uma estratégia
de aproximação mais efetiva com a América do Sul e com a África (Carleial,
2011).
E internamente: é possível afirmar que o Brasil apresenta uma curva
ascendente de desenvolvimento em todas as suas regiões? Quando fazemos
menção a uma região desenvolvida, levamos em conta a qualidade de vida dos
residentes que habitam naquele território. Portanto, seria correto afirmar que
todas as regiões do Brasil apresentam um nível uniforme de desenvolvimento?
Infelizmente não. Há regiões mais industrializadas e outras menos,
estados com índices de educação mais expressivos, outros com índices de
analfabetismo gritante; há capitais que apresentam bons indicadores de
qualidade de vida, e outras cujos indicadores são objeto de preocupação; regiões
com maior nível de emprego formal, e regiões com alto índice de desemprego.
Nesse âmbito, Magalhães e Alves (2022, p. 8) salientam que:

O Brasil se destaca por altos níveis de desigualdades regionais e


interpessoais de renda e de qualidade de vida. Com renda per capita
próxima à média mundial, sua grande população o posiciona entre as
maiores economias do mundo, mas essa renda se distribui
desigualmente em seu imenso território. Regiões ricas e dinâmicas
coexistem com regiões pobres e estagnadas, independentemente do
recorte territorial de análise: entre macrorregiões, microrregiões,
estados, municípios e dentro de suas cidades.

E qual é a causa de tamanha disparidade? Na prática, não há uma


resposta única. Compreender a dinâmica regional exige mais do que uma visão
objetiva da realidade, pois pressupõe a análise das transformações
socioespaciais vigentes, aliada ao entendimento dos processos históricos que
interferem na construção do espaço geográfico.
No âmbito das regiões metropolitanas brasileiras, por exemplo, é possível
notar que a associação entre urbanização e industrialização desenhou um
cenário de crescimento populacional sem precedentes. Nesse sentido,
compreender a relação entre os aspectos socioeconômicos com a urbanização
como processo, nos permite comparar os vários cenários existentes em um país
de grandes proporções como o Brasil, e então planejar o desenvolvimento com
ênfase em uma realidade concreta (Carmo; Camargo, 2020).

4
Em suma, não há um único objeto de análise quando o assunto é
economia regional, pois esse tema abre um leque de especificidades que
precisam ser estudadas em profundidade. Em decorrência disso, temos
diferentes teorias, métodos, conceitos e ferramentas que podem ser aplicados à
economia regional, conforme veremos ao longo de nosso estudo.

TEMA 2 – REGIÃO E REGIONALISMO

Figura 2 – Regiões do Brasil

Créditos: Tereza Ferreira/Shutterstock.

Com o avanço da globalização, a questão regional retoma sua


importância, especialmente em meio à proliferação de regionalismos,
identidades regionais e de novas-velhas desigualdades em termos globais, pois,
apesar do propagado discurso da globalização homogeneizadora, o que vemos
é uma permanente reconstrução da heterogeneidade e da fragmentação via
novas desigualdades e recriação da diferença em todos os cantos do planeta.
Em uma perspectiva histórica, o desenvolvimento do conceito de região
ganhou força especialmente após a Segunda Guerra Mundial. Ainda que já
5
houvesse estudos sobre as cidades – e, sobretudo, sobre as metrópoles –, no
processo de regionalização, a incorporação definitiva das redes urbanas para o
entendimento da formação das regiões é feita pelo trabalho da geografia
francesa da década de 1960. Segundo Contel (2015), o intuito desse movimento
de pesquisa era estabelecer uma forma mais crítica de entendimento do
fenômeno regional, a fim de ampliar a capacidade de intervenção da geografia
na ação estatal, por meio do planejamento urbano e regional.
Atualmente, é possível afirmar que uma região se constitui em uma
unidade definível no espaço, caracterizada por uma relativa homogeneidade
interna com relação a determinados critérios. Barros (2005) destaca que os
elementos internos que dão identidade à região não são estáticos. Além de ser
uma porção do espaço organizada por um padrão, a região quase sempre se
insere em um conjunto mais vasto, que envolve: critérios econômicos relativos à
produção, circulação ou consumo; critérios culturais, como idioma, modos de
vida e padrões de comportamento nas pessoas que o habitam; critérios
geológicos, cuja divisão se refere aos tipos de minerais e solos que predominam
em uma área ou outra; ou, ainda, critérios climáticos (Barros, 2005).
Ou seja, o conceito de região é muito amplo, por isso temos diferentes
teorias que tecem interpretações acerca do tema. Buscando a origem do
conceito, Contel (2015) retoma os estudos de Bernard, na França, quando este
se debruçou sobre o assunto nos anos 1960, elencando os seguintes fatores
para compreender a formação de uma região:

• Fatores naturais: como relevo, clima, fertilidade dos solos;


• Fatores históricos: incluindo elementos que dizem respeito às
representações coletivas e identidades, como “sistemas de valores”,
“reações coletivas”, entre outros fenômenos que configuram um certo
“regionalismo”;
• Polarização: visto que uma região se desenvolve a partir de um centro
urbano principal;
• Comunicações: que envolve os equipamentos de transporte (sobretudo
as redes ferroviária e rodoviária) como condição fundamental para a
formação regional;
• Administração: diz respeito às funções administrativas e ao controle das
decisões políticas para manutenção e coerência interna das regiões

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Conforme demonstra o mapa, o Brasil, por exemplo, é dividido em cinco
regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Cada região é formada
por estados que possuem características comuns entre si e, por isso, foram
classificados na mesma região. Dentro dos estados, estão os municípios.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem
cinco regiões, 26 estados e o Distrito Federal (onde fica Brasília, a capital do
país).
Compreendendo os principais elementos que caracterizam uma região,
vamos agora fazer uma breve distinção entre regionalização e regionalismo. De
acordo com Richard (2014), a regionalização corresponde a um recorte de uma
região, como nível de representação, de administração e de ação em um dado
Estado. Isso equivale a institucionalizar porções do espaço nacional e concentrar
a esse nível a implementação de políticas setoriais. Logo, regionalizar significa
dividir as parcelas do espaço nacional, e dar competências às instituições
regionais.

Saiba mais

A Divisão Regional do Brasil consiste no agrupamento de estados e


municípios em regiões, com a finalidade de atualizar o conhecimento regional do
país e viabilizar a definição de uma base territorial para fins de levantamento e
divulgação de dados estatísticos. Ademais, visa contribuir com uma perspectiva
para a compreensão da organização do território nacional e assistir o Governo
Federal, bem como estados e municípios, na implantação e gestão de políticas
públicas e investimentos. A Divisão Regional do Brasil faz parte da missão
institucional do IBGE desde os primórdios do Instituto. Para mais informações,
leia o artigo Divisão Regional do Brasil, publicado pelo IBGE 2.

O regionalismo designa, por um lado, a valorização e a defesa das


particularidades sociais e culturais e a identidade das regiões no seio de um
Estado. Por outro lado, ele pode ter um elemento político, ao enfatizar a vontade
de conceder uma certa autonomia política ou econômica às instituições ditas
locais (Richard, 2014).
Marcos do regionalismo brasileiro podem ser vistos na gastronomia, na
linguagem, nos hábitos, na cultura, na arte, na literatura, no consumo etc. Em

2
Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/divisao-
regional/15778-divisoes-regionais-do-brasil.html?=&t=o-que-e>. Acesso em: 25 jul. 2022.
7
suma, a diversidade de características presente em cada região está
intimamente relacionada com sua economia. Por isso, há uma linha tênue entre
os conceitos de região e regionalismo que, por vezes, até se confundem e que
são fundamentais para que possamos compreender a dinâmica de cada
economia regional.

TEMA 3 – PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO


ECONÔMICO

O último censo divulgado pelo IBGE (2010) revela que 85% da população
brasileira vive em áreas urbanas, sendo registrado que, até o final da década de
1930, esse percentual não passava de 15%. O crescimento das cidades diminuiu
drasticamente a população rural. Esse fluxo migratório, que se intensificou no
século XX, foi influenciado pela industrialização, que ganhou força nos anos
1930.

Figura 3 – Urbanização e desenvolvimento econômico

Créditos: FGC/Shutterstock.

Esse fluxo migratório se deu especialmente com trabalhadores que iam


em busca das cidades por maiores salários. Com isso, o decorrente fluxo de
capital humano mais produtivo para a região mais dinâmica elevou ainda mais o
diferencial de produtividade entre as regiões do país. Ademais, a inexistência de
ligações inter-regionais de transporte nos estágios iniciais do desenvolvimento
também concentrou a riqueza na região que hoje chamamos de Sudeste.

8
Magalhães e Alves (2021) observam que, se a região inicialmente mais dinâmica
possuir uma área agriculturável grande e produtiva, como ocorreu no Brasil, as
regiões atrasadas ficarão ainda mais isoladas dos benefícios da região em
desenvolvimento.
Nesse sentido, Cano (1985) analisa como o processo de industrialização
no Brasil ocorre de forma a concentrar a economia na região Sudeste,
principalmente em São Paulo. Na visão do autor, esse processo se inicia de
forma natural, pelo desenvolvimento agrícola que já havia na região, e depois se
reforça pelas políticas públicas que incentivam a atração de capital para essa
região.
Outro elemento que associa industrialização e urbanização é a atração de
trabalhadores que buscavam melhores condições de vida e regularização
trabalhista, pois à medida que crescia o fluxo de mão de obra, aumentava
também a organização sindical e a luta por direitos trabalhistas, realidade ainda
inexistente no meio rural.
Esse marco histórico é denominado por Furtado (1979) de “deslocamento
do centro dinâmico”, que caracteriza essa transição – de uma economia
brasileira agroexportadora, para uma economia brasileira urbano-industrial. Isso
porque a produção rural era voltada, sobretudo, para a exportação. Em meio à
crise do café, passou-se a desenvolver o mercado interno com ênfase na
indústria têxtil, cuja produção aumentou substancialmente nos anos 1930. Entre
1929-1937, a produção industrial no Brasil cresceu cerca de 50% (Furtado,
2001).
Quanto à associação entre urbanização e industrialização, Monteiro Neto,
Silva e Severian (2020) destacam que, entre 1880 e 1970, a ocupação do
território brasileiro foi, em larga medida, comandada pelos desígnios do
desenvolvimento industrial. A indústria ditou rumos e ritmos da urbanização, da
expansão de setores agrícolas, de serviços e comércio (pela expansão das
rendas e diversificação das formas de consumo). Segundo os autores:

O acelerado crescimento das atividades produtivas na região Sudeste


– com o epicentro em São Paulo – levou, do ponto de vista do país
como um todo, a um nível bastante elevado de desigualdade regional
da atividade econômica. Com isso, o produto interno bruto (PIB) da
região Sudeste atingiu um máximo de 65,5% do total nacional em 1970
e 54,0% em 2015. (Monteiro Neto; Silva; Severian, 2020, p. 117)

Em suma, a indústria atraiu a mão de obra, intensificando a urbanização;


do mesmo modo, sem urbanização, não haveria trabalhadores para o
9
desenvolvimento industrial. Estaria tudo bem com essa dinâmica se não fossem
as desigualdades sociais que emergiram nesse processo. Sob uma perspectiva
de crescimento industrial, tivemos muitos avanços. Entretanto, quando
avaliamos o desenvolvimento socioeconômico nos centros urbanos, bem como
a dicotomia existente entre centro e periferia, vemos que há muito ainda o que
avançar.

TEMA 4 – TERRITÓRIO E ECONOMIA REGIONAL

Figura 4 – Economia regional

Créditos: H_KO/Shutterstock.

Quando falamos sobre economia regional, é preciso reconhecer que o


território não é apenas um suporte físico às atividades econômicas, mas também
fruto das relações sociais que o compõem. Nesse âmbito, Matteo (2011, p. 79)
salienta que:

O território, assim, deixa de ser um elemento externo à atividade


econômica, devendo ser analisado de forma integrada ao conjunto das
relações sociais que nele se materializam. Incorpora-se, dessa forma,
o território como elemento fundamental do processo produtivo,
enquanto simultaneamente é a materialização das consequências
deste mesmo processo produtivo.

No Brasil, um conceito de território foi propagado em 2004 pelo Programa


Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (Pronat), da
Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (SDT/MDA), com a seguinte definição:

um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo,


compreendendo a cidade e o campo, caracterizado por critérios
multidimensionais – tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a
cultura, a política e as instituições – e uma população com grupos
sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e
externamente por meio de processos específicos, onde se pode

10
distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão
social, cultural e territorial. (Brasil, 2004b, p. 11)

Esse conceito de território implica em reconhecer que sua composição em


seus elementos básicos – população, economia, ambiente, sociedade, cultura,
política e instituições – está diretamente associada ao desenvolvimento regional.
Analisar como essas características se desenham em um determinado território,
permite identificar permanências e transformações nas dinâmicas econômicas,
sociopolíticas e populacionais, a fim de que se possa estruturar novas agendas
para a formulação de políticas públicas.

Saiba mais

Com a publicação do documento Evolução da divisão territorial do Brasil


1872-2010 3, o IBGE disponibilizou informações fundamentais da geografia e da
história brasileiras contada por meio dos mapas políticos que cobrem o longo
período de 1872 – ano do primeiro recenseamento que cobriu todo o país –, a
2010, quando se realizou o último Censo Demográfico.
As alterações nas fronteiras estaduais e municipais são o testemunho das
muitas mudanças ocorridas no pacto federativo da república brasileira, que
repercutiram na definição de como seu território foi sendo subdividido entre suas
esferas político-administrativas, reconfigurando, continuamente, o mapa político
do Brasil.

O Brasil, infelizmente, destaca-se como um dos países com maior


desigualdade social, econômica e regional. Essas desigualdades revelam-se por
inúmeros indicadores, como renda, escolaridade, acesso aos serviços de saúde,
habitação, saneamento, transporte, comunicação, entre outros. Nesse sentido,
segundo Magalhães e Miranda (2007), teorias recentes de crescimento
econômico têm ressaltado que variáveis geográficas afetam significativamente a
produtividade marginal do capital e do trabalho. Entendemos por variáveis
geográficas clima, infraestrutura local, acesso aos serviços de utilidade pública,
conhecimento sobre a realidade física local, existência de tecnologias
apropriadas ao território e instituições políticas e jurídicas (Magalhães; Miranda,
2007).

3
Disponível em:
<https://geoftp.ibge.gov.br/organizacao_do_territorio/estrutura_territorial/evolucao_da_divisao_t
erritorial_do_brasil/evolucao_da_divisao_territorial_do_brasil_1872_2010/evolucao_da_divisao
_territorial_do_brasil_publicacao_completa.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2022.
11
A esse debate, Matteo (2011) acrescenta que uma região se forma a partir
de processos sociais, culturais, políticos e econômicos, em um território
geograficamente determinado, ao longo de uma conformação histórica. Logo,
compreender a relação entre território e economia regional é adentrar os
processos históricos que as forjaram, com ênfase nas condições sociopolíticas.

TEMA 5 – CENTROS URBANOS E PERIFERIAS

Ao longo do século XX, o sistema econômico alcançou elevado grau de


integração comercial e produtiva, dotando-se de uma rede que se distribuiu
desigual e seletivamente por todo o país (Brandão, 2020). Com alta
concentração espacial, esse sistema mostrou-se virtuoso na expansão de
algumas economias regionais.
Contudo, no Brasil, a urbanização se deu sem nenhum planejamento. Não
havia, na época, políticas públicas, moradia digna, tampouco um saneamento
básico adequado. Infelizmente, em muitos lugares, sobretudo onde há grandes
indústrias, no outro extremo, existe o que chamamos de periferia.

Figura 5 – Centro urbano

Créditos: gustavomellossa/Shutterstock.

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Na constituição das cidades brasileiras, o crescimento acelerado e a
construção social desigual do espaço se materializam em diversas expressões:
precariedade habitacional, segregação socioespacial, degradação ambiental e
problemas de infraestrutura, que passaram a retratar e reproduzir um quadro de
injustiças e desigualdades sociais com ênfase na questão urbana (Braga, 2015).
Ainda segundo essa autora, datam do final do século XIX os primeiros registros
de cortiços e ocupação dos morros cariocas com as moradias populares. Mesmo
que as cidades ainda não fossem regidas pelas dinâmicas do capitalismo
industrial avançado, já tinham como marca a diferenciação socioespacial pela
qual a população mais pobre, via de regra, era excluída para as áreas menos
privilegiadas e sem infraestrutura (Braga, 2015).
Nesse contexto, Sunkel (2000) salienta que, em meio ao avanço do
capitalismo e da globalização, o desenvolvimento e o subdesenvolvimento são
duas faces de um mesmo processo, o que gera uma polarização interna entre a
população com alto poder aquisitivo, e a população marginalizada, ou dito de
outro modo, entre centro e periferia. Segundo o autor, essa desintegração interna
favorece o subdesenvolvimento, aumentando a marginalização.
Ao examinar a urbanização no Brasil, evidencia-se que

Esse processo não se deu de forma equânime, pois é evidente a


distinção entre os bairros, tanto no que se refere ao perfil da população
moradora, como nas diferenças urbanísticas, de infraestrutura, de
conservação dos espaços e equipamentos públicos, enfim, o modelo
de urbanização no Brasil é produzido em cima das desigualdades.
(Braga, 2015, p. 58)

Em suma, Braga (2015) coloca em evidência a necessidade de


reconhecermos essa disparidade: a dicotomia centro/periferia, pois o território,
as pessoas que nele vivem e suas reproduções sociais, remetem ao papel do
Estado como intermediário e regulador dessas relações. Logo, a política urbana,
e as ações do Estado, nessa dimensão, devem estar voltadas para a redução
dessa desigualdade.

TROCANDO IDEIAS

Conforme estudamos, podemos ver marcos do regionalismo brasileiro na


gastronomia, na linguagem, nos hábitos, na cultura, na arte, na literatura, no
consumo etc. Com base nesta etapa, escolha um estado brasileiro para sinalizar
os seus principais marcos regionalistas. Essa caracterização pode ser feita

13
também em nível municipal, associando um elemento da gastronomia com a
economia local (por exemplo, Caxias do Sul: Festa da Uva).

NA PRÁTICA

Sunkel (2000) salienta que, em meio ao avanço do capitalismo e da


globalização, o desenvolvimento e o subdesenvolvimento são duas faces de um
mesmo processo, o que gera uma polarização interna entre a população com
alto poder aquisitivo e a população marginalizada, ou seja, entre centro e
periferia. Com base nessa afirmação, descreva exemplos de desintegração
interna que marcam as regiões brasileiras.

FINALIZANDO

Nesta etapa, foi possível ampliar a compreensão sobre a economia


regional e urbana. Não menos importante que a macro ou microeconomia, a
economia regional e urbana também se traduz em um importante campo de
estudo da ciência econômica.
Estudamos ainda as principais diferenças entre os conceitos de região,
regionalização e regionalismo, conhecendo a conotação específica de cada um.
Avançamos também na relação existente entre urbanização e desenvolvimento
socioeconômico, e na relação entre território e economia regional.
Por fim, foi possível evidenciarmos a dicotomia existente entre centros
urbanos e periferias, revelando marcos do processo de desintegração nacional
e desigualdade social.

14
REFERÊNCIAS

BARROS, J. D. História, região e espacialidade. Revista de História Regional,


v. 10, n. 1, p. 95-129, 2005. Disponível em:
<https://www.revistas.uepg.br/index.php/rhr/article/view/2211/1691>. Acesso
em: 25 jul. 2022.

BRAGA. A. L. C. Governança democrática no Conselho Municipal da Cidade


de Curitiba: presença e voz dos atores sociais. 197 p. Dissertação (Mestrado
em Políticas Públicas) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2015.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Programa Nacional de


Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais: referência para o apoio
ao desenvolvimento territorial. Brasília: SDT, 2004.

CANO, W. Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil:


1930-1970. São Paulo: Global, 1985.

CARLEIAL, L. A contribuição neoschumpeteriana e o desenvolvimento regional.


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Brasília, 2011. p. 113-140.

CARMO, R. L.; CAMARGO, K. Dinâmica demográfica brasileira recente:


padrões regionais de diferenciação. v. 2. p. 26-116. In: IPEA. Desenvolvimento
regional no Brasil: políticas, estratégias e perspectivas. Rio de Janeiro: IPEA,
2020. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/200622_livro_desen
volvimento.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2022.

CONTEL, F. B. Os conceitos de região e regionalização: aspectos de sua


evolução e possíveis usos para a regionalização da saúde. Saúde e Sociedade,
v. 24, n. 2, 2015. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/sausoc/a/MmbHMHtdhxFchLZ9RCL63XK/?lang=pt>.
Acesso em: 25 jul. 2022.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 30. ed. São Paulo: Companhia


Editora Nacional, 2001.

HOBSBAWM, E. J. Os trabalhadores pobres. In.: HOBSBAWM, E. J. Era das


revoluções. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

15
MAGALHÃES, J. C.; MIRANDA, R. B. Evolução da desigualdade econômica e
social no território brasileiro entre 1970 e 2000. In: CARVALHO, A. X. Y. et al.
Ensaios de economia regional e urbana, Brasília: IPEA, 2007. p. 135-176.
Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/LivroCompleto_29.p
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MAGALHÃES, J. C.; ALVES, P. J. H. Crescimento econômico nacional e


desigualdades regionais no Brasil. Boletim regional, urbano e ambiental, Rio
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regional e urbana: teorias e métodos com ênfase no Brasil. Brasília: IPEA, 2011.
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MONTEIRO NETO, A.; SILVA, R. de O.; SEVERIAN, D. Perfil e dinâmica das


desigualdades regionais do Brasil em territórios industriais relevantes.
IPEA, 2020. Disponível em:
<http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/10206/1/PerfilDin%C3%A2miDei
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as coisas. Revista franco brasileira de geografia, n. 20, 2014. Disponível em:
<https://doi.org/10.4000/confins.8939>. Acesso em: 25 jul. 2022.

SUNKEL, O. Desenvolvimento, subdesenvolvimento, dependência,


marginalização e desigualdades espaciais: por um enfoque totalizante. In:
IBIELSCHOWSKY, R. (Org.). Cinquenta anos de CEPAL. Rio de Janeiro:
Record, 2000. Disponível em:
<https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/1623/111_pt.pdf>. Acesso
em: 25 jul. 2022.

16
RESPOSTA

Grandes centros e polos industriais, em geral, trazem como herança a


precariedade das condições de moradia urbana e uma grande população que
fica à margem, como:
• Favela de Heliópolis – a 8 km do centro de São Paulo;
• Rocinha – maior favela do Brasil, localizada na Zona Sul do Rio de
Janeiro;
• Vila Capanema – Curitiba.

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ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 2

Profª Rossandra Maciel de Bitencourt


CONVERSA INICIAL

O objetivo aqui será desvelar algumas teorias e autores centrais que


debruçaram sobre essa temática que é tão relevante.
Primeiramente, você verá as contribuições de Perroux sobre a Teoria do
Desenvolvimento Regional. Os estudos desse autor estão diretamente
associados aos conceitos de aglomerações e polos de crescimento.
Na sequência, são trazidas as contribuições de Gunnar Myrdal para a
evolução do pensamento econômico regional. À sua época, o autor salientou as
razões pelas quais as economias regionais tenderiam a divergir ao longo do
tempo.
A seguir, adentramos à teoria de Hirschman, autor com vasta contribuição
para os brasileiros, por ter sido um dos poucos teóricos do desenvolvimento
estrangeiros que entrou em contato com correntes de pensamento tipicamente
latino-americanas.
No âmbito teórico, por fim, são trazidas as contribuições de Alfred Marshall
sobre as aglomerações em distritos industriais e como essas permitem que
pequenas e médias empresas consigam competir no mercado e globalizado.
Para encerrar, são apresentados alguns indicadores essenciais de análise
regional e espacial.
Bons estudos!

CONTEXTUALIZANDO

Instalado na BR-101, entre Recife e João Pessoa, o Polo Automotivo da


Jeep localizado no município de Goiana (PE) emprega mais de 13000 pessoas.
O complexo reúne a fábrica do Grupo FCA (Fiat Chrysler Automobiles), que
opera em 3 turnos e produz 1000 veículos por dia, e 16 empresas que fornecem
peças para a produção da picape Fiat Toro e dos SUVs Jeep Renegade e
Compass.
A instalação do polo, em abril de 2015, aqueceu a indústria de
Pernambuco, um dos poucos Estados em que o setor registrou expansão na
participação da geração de riquezas entre 2006 e 2016.
De acordo com dados da plataforma Perfil da Indústria nos Estados, a
indústria foi responsável por 19,7% do PIB de Pernambuco em 2016, uma alta

2
de 0,5 ponto percentual na comparação com 2006. Das 27 unidades da
federação, em apenas 3 o setor industrial registrou expansão na produção de
riquezas no período analisado: Pernambuco, Amapá (alta de 3,8 pontos
percentuais) e Mato Grosso do Sul (alta de 3,3 pontos percentuais).
O surgimento de novos polos industriais, como o de Goiana, é resultado
de incentivos fiscais federais e estaduais e da expansão da renda urbana em
cidades das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

Saiba mais
Disponível em:
<https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/economia/polos-industriais-
aceleram-desenvolvimento-no-norte-nordeste-e-centro-oeste/>. Acesso em: 3
jul. 2022.

TEMA 1 – DESENVOLVIMENTO REGIONAL SEGUNDO PERROUX

Créditos: Metamorworks/Shutterstock.

A partir da década de 1950, começaram a ser elaboradas teorias de


desenvolvimento regional que enfatizavam algum tipo de mecanismo dinâmico
resultante de externalidades associadas à aglomeração industrial. É nesse
contexto que emergem as contribuições de Perroux sobre a Teoria do
Desenvolvimento Regional.

3
Embora os benefícios da aglomeração de produtores fossem conhecidos
desde o final do século XIX, foi somente na década de 1950 que o conceito de
aglomeração passou a ser empregado de forma sistemática na interpretação dos
movimentos de crescimento e desenvolvimento regional (Monasterio;
Cavalcante, 2011).
Em que pese o relevante papel desempenhado pela aglomeração nos
“polos de crescimento” de Perroux (1955), na “causação circular e acumulativa”
de Myrdal (1957), nos “efeitos para trás e para a frente” de Hirschman (1958) e
na “base exportadora” de North (1959), por exemplo, é curioso observar que
esses autores não foram, ao menos do ponto de vista formal, diretamente
influenciados pelo trabalho de Marshall (1890), tendo sido muito mais presentes
e facilmente identificáveis as influências exercidas por Keynes e por
Schumpeter, este último, sobretudo, no caso de Perroux (Monasterio;
Cavalcante, 2011).
O conceito de polo de crescimento originalmente proposto pelo
economista francês François Perroux (1903-1987) tem sido um dos mais
empregados na formulação de políticas de desenvolvimento regional. Partindo
das proposições apresentadas por Schumpeter (1911) a respeito do papel
desempenhado pelas inovações na dinâmica capitalista, Perroux explora as
relações que se estabeleceriam entre indústrias. Nesse contexto, Perroux
argumenta que o crescimento não ocorre de forma homogênea no espaço, mas
se manifesta em pontos ou polos de crescimento, com intensidades variáveis, e
se expande por diversos canais com efeitos variáveis sobre toda a economia
(Monasterio; Cavalcante, 2011).
Conforme demonstram os autores supracitados, Perroux argumenta que
haveria quatro diferentes formas de polarização por meio das quais as indústrias
motrizes induziriam o desenvolvimento regional:

• Técnica: refere-se aos efeitos de encadeamento entre a indústria motriz e


outras empresas;
• Econômica: diz respeito à geração de emprego e renda decorrente da
implantação da indústria motriz.
• Psicológica: associa-se aos investimentos decorrentes do clima de
otimismo gerado pelo sucesso da indústria motriz.

4
• Geográfica: refere-se aos impactos nos sistemas urbanos do
desenvolvimento da cidade onde se localiza a indústria motriz. Esses
impactos levariam à minimização dos custos de transporte e à criação de
economias externas e de aglomeração.

Nesse âmbito, Perroux se destaca na literatura sobre desenvolvimento


regional por demonstrar que um polo industrial complexo seria capaz de
modificar seu meio geográfico ou mesmo a estrutura inteira da economia
nacional em que estiver situado. Isso porque o surgimento e encadeamento de
novas necessidades coletivas acarretam efeitos de intensificação das atividades
econômicas.
As constatações de Perroux acerca do potencial das indústrias motrizes
e dos polos de crescimento influenciaram, direta e indiretamente, a retomada de
uma grande parte das políticas de desenvolvimento local implementadas em
países desenvolvidos e em desenvolvimento a partir da década de 1950.
Após compreendermos a contribuição de Perroux para a teoria do
Desenvolvimento Regional e Urbano, a seguir vamos adentrar à causação
circular e acumulativa de Myrdal.

TEMA 2 – DESENVOLVIMENTO REGIONAL SEGUNDO MYRDAL

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5
Gunnar Myrdal (1898-1987), ganhador do prêmio Nobel de 1974, também
teceu contribuições para a evolução do pensamento econômico regional. À sua
época, o autor salientou as razões pelas quais as economias regionais tenderiam
a divergir ao longo do tempo. Em tese, sua argumentação baseia-se no relato de
uma trajetória provável de desenvolvimento regional e na ideia de causação
circular e acumulativa. Ou seja, haveria mecanismos que, uma vez iniciados,
seriam mutuamente reforçados pelas forças de mercado e conduziriam as
regiões por caminhos divergentes.
Para ilustrar essa teoria, Monasterio e Cavalcante (2011, p. 69)
demonstram que a aplicação do modelo conceitual de Myrdal pode ser feita ao
se supor um surto de crescimento em uma determinada região por uma razão
súbita:
Após esse evento, seus recursos produtivos seriam “despertados” e ela
passaria a atrair recursos produtivos (trabalho, capital e espírito empreendedor)
de outras regiões. Os negócios ali implantados ampliariam o mercado para novos
empreendimentos que, por sua vez, gerariam mais lucro e mais poupança e, em
consequência, outra rodada de investimentos.

Esse processo tende a promover também um fenômeno migratório, de


modo que a migração seletiva pode reforçar essa tendência, uma vez
que os imigrantes seriam os mais empreendedores e capazes, ao
passo que as regiões perdedoras tenderiam a reter os trabalhadores
menos produtivos. Também em relação ao capital, o sistema bancário
seria mutuamente reforçado, uma vez que a movimentação financeira
tende a fluir das regiões estagnadas para as regiões dinâmicas,
ampliando a desigualdade regional. (Monasterio; Cavalcante, 2011)

Um processo de causação circular também é válido para explicar o


contrário, como por exemplo, a perda de uma indústria em determinada região.
Os efeitos imediatos desta perda são o desemprego e a diminuição da renda e
da demanda locais. Estes por sua vez provocam uma queda da renda e da
demanda nas demais atividades da região, o que já configura um processo de
causação circular cumulativa em um ciclo vicioso. Se não ocorrerem mudanças
exógenas nesta localidade a mesma se tornará cada vez menos atrativa, de tal
forma que seus fatores de produção, capital e trabalho, migrarão em busca de
novas oportunidades, provocando uma nova diminuição da renda e da demanda
locais (Lima; Simões, 2009).

6
No que se refere à teoria de Myrdal, cabe salientar ainda dois conceitos
centrais (Monasterio; Cavalcante, 2011):

• Efeitos de retroação (backwash effects): que se constituem nos resultados


perversos que o desenvolvimento de uma região gera sobre as demais.
• Efeitos de difusão (spread effects): que levariam ao transbordamento do
impulso de desenvolvimento para as regiões atrasadas. Essas forças
contrabalançariam, em parte, os efeitos de retroação, mas não seriam,
por si só, capazes de garantir um desenvolvimento regional mais
equilibrado.

Nesse sentido, somente as intervenções do setor público


deliberadamente voltadas para a redução das desigualdades regionais em suas
jurisdições poderiam reverter a tendência de divergência. Logo, Myrdal destaca
a importância de Estados Nacionais integrados e da sociedade organizada, visto
que intervenções públicas podem contrabalançar/neutralizar a lei de
funcionamento do sistema de causação circular cumulativa, minimizando as
disparidades entre as regiões (Lima; Simões, 2009).
Dando sequência à compreensão sobre as teorias da economia regional
e urbana, a seguir veremos que, assim como Myrdal, o economista alemão
radicado nos Estados Unidos Albert Hirschman (1915-) faz parte dos grandes
teóricos da economia do desenvolvimento do pós-guerra.

TEMA 3 – HIRSCHMAN E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL

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7
A teoria de Hirschman é bastante significativa para os brasileiros por ter
sido um dos poucos teóricos do desenvolvimento estrangeiro que entrou em
contato com correntes de pensamento tipicamente latino-americanas, como o
Estruturalismo cepalino e a Teoria da Dependência. Ainda que divergindo de sua
perspectiva teórica, Hirschman debateu com os adeptos dessas correntes as
questões relativas à promoção do desenvolvimento e às políticas adequadas
para atingir esse alvo (Bianchi, 2013).
Com atuação em diversos ramos da teoria econômica, as contribuições
de Hirschman para o desenvolvimento regional constam em sua obra The
Strategy of Economic Development (Os estágios do desenvolvimento
econômico), publicada em 1957.
Opostamente a Myrdal, que vê na desigualdade um problema, Hirschman
a considera um requisito do processo de desenvolvimento. Ao invés de uma
trajetória de crescimento contínua, ele destaca a importância dos desequilíbrios.
Logo, na visão de Hirschman o crescimento econômico seria alcançado por meio
de uma sequência de desajustes. Os desequilíbrios seriam a forma de as regiões
periféricas potencializem seus recursos escassos (Monasterio; Cavalcante,
2011).
O desenvolvimento para Hirschman ocorre como uma cadeia de
desequilíbrios durante longo período de tempo. O crescimento inicia-se nos
setores líderes e transfere-se para os seguintes de forma
irregular/desequilibrada. Neste sentido, a intervenção estatal é essencial para
viabilizar os objetivos de crescimento. Partindo dessa percepção, cabe destacar
dois conceitos centrais na teoria de Hirschman (Bianchi, 2013):

• Encadeamentos para trás (backward linkages): que enviariam estímulos


para setores produtores dos insumos requeridos pela atividade, fossem
eles de natureza industrial ou não.
• Encadeamentos para a frente (forward linkages): induziriam o
estabelecimento de novas atividades capazes de utilizar o produto da
atividade proposta. Assim, a expansão da indústria A geraria a economias
externas, criando uma demanda não atendida que poderia ser apropriada
por B, ao mesmo tempo em que a subsequente expansão de B
promoveria economias externas que poderiam ser internalizadas por A
(ou por C), e assim por diante.
8
A teoria de Hirschman foca na dinâmica essencial do progresso de
desenvolvimento econômico, considerando que este não ocorre
simultaneamente em toda parte e que tende a se concentrar espacialmente em
torno do ponto onde se inicia. Logo, o planejamento do desenvolvimento deve
consistir no estabelecimento de estratégias sequenciais (Lima; Simões, 2009).
Bianchi (2013) observa que a originalidade da abordagem de Hirschman
está em sua contraposição à perspectiva até então predominante na literatura.
Os países de industrialização tardia não precisavam trilhar todos os passos dos
países já industrializados, nem era desejável que o fizessem. Seu caminho para
o desenvolvimento deveria consistir numa sequência de desequilíbrios. Com a
oferta de bens intermediários e de capital vindos do exterior, esses países
estariam capacitados a mover-se livremente dos últimos para os primeiros
estágios de produção industrial.
Para Hirschman a questão crucial para o desenvolvimento é dada pela
capacidade de investir, que depende dos setores mais modernos da economia
e do empreendedorismo local. Logo, esse autor destaca a importância de
concentrar os investimentos em projetos chaves, já que o próprio processo de
desenvolvimento é desequilibrado, favorecendo áreas mais dinâmicas. O
investimento público deve desempenhar um papel de indução, privilegiando
áreas potencialmente mais promissoras.
Partindo desse pressuposto, Hirschman salienta que o Governo deve
prover a infraestrutura social necessária para impulsionar a atividade produtiva
(serviços públicos, infraestrutura logística, legislação etc.) e elaborar uma
estratégia de desenvolvimento, induzida e indutora, com a determinação das
áreas prioritárias para o desenvolvimento (Lima; Simões, 2009).

9
TEMA 4 – OS DISTRITOS INDUSTRIAIS MARSHALLIANOS

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É difícil obter um registro definitivo a respeito do primeiro autor que teria


explicitado a questão da aglomeração de atividades como um fator de
localização de novas atividades e, portanto, de crescimento e desenvolvimento.
Em que pese essa dificuldade, a maioria dos autores tende a mencionar as ideias
de Alfred Marshall (1842-1924) como tendo sido o precursor nesse aspecto.
(Monasterio; Cavalcante, 2011).
Em síntese, as aglomerações em distritos industriais permitem que
pequenas e médias empresas consigam competir no mercado e globalizado.
Para Marshall, os benefícios, ou externalidades, provenientes da aglomeração
de empresas resultariam (Monasterio; Cavalcante, 2011):

• Da possibilidade oferecida por um grande mercado local de viabilizar a


existência de fornecedores de insumos com eficiência de escala;
• Das vantagens decorrentes de uma oferta abundante de mão de obra;
• Da troca de informações que ocorre quando empresas do mesmo setor
se situam próximas umas das outras.

10
Marshall elaborou sua teoria visitando, investigando e observando as
diversas organizações industriais na Inglaterra e na América. Ele visitou várias
fábricas, entrevistando empregados e empregadores, a fim de entender os
pontos fracos e fortes que caracterizaram cada empresa. Em suas pesquisas,
percebeu que na Inglaterra, a forma mais comum de organização industrial foi o
distrito industrial (Santolin; Caten, 2015).
Nessa visão, o vínculo construído entre as empresas em um distrito
industrial traz como resultado fundamental a interação, a cooperação e o
aprendizado. Em conjunto, essa conexão viabiliza um elemento fundamental
para o desenvolvimento: a inovação.
Marshall ressaltou a existência de uma atmosfera industrial, na qual
haveria uma influência mútua dos sistemas econômico e social. Ela seria um
resultado da coexistência, dentro de uma mesma área geográfica, tanto de um
sistema industrial quanto de uma sociedade, crescendo ao redor das firmas
agrupadas e especializadas (Santolin; Caten, 2015).

Saiba mais
Os distritos industriais no Brasil, em especial no Município de Piracicaba,
foram implantados por meio do planejamento da iniciativa pública e privada.
Além das fábricas, os distritos industriais em Piracicaba abrigam
estabelecimentos comerciais e de serviços. Essa forma de organização fabril, a
partir da década de 1970, serviu para a instalação de indústrias que estavam
deixando a Região Metropolitana de São Paulo em busca de vantagens
locacionais no interior do estado. Os referidos distritos continuam sendo um
espaço atrativo, devido a sua excelente localização geográfica, para
investimentos nacionais e estrangeiros. Disponível em:
<https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/ageteo/article/view/11
879>. Acesso em: 3 jul. 2022.

TEMA 5 – INDICADORES DE ANÁLISE REGIONAL E ESPACIAL

Após conhecer as principais contribuições teóricas acerca da economia


regional e urbana, agora veremos alguns indicadores essenciais que nos
auxiliam na mensuração de variáveis como desigualdade, especialização,
concentração e poder de mercado.

11
Créditos: PK289/Shutterstock.

Em linhas gerais, os indicadores sintetizam informações relevantes e são


fundamentais para análises mais profundas da realidade. Contudo, nenhum
indicador regional por si só, dá conta de captar todos os fenômenos associados
à atividade econômica em dado espaço.
A fim de elencar alguns indicadores pontuais de análise regional e
espacial, Monasterio (2011) propõe os referidos segmentos:

• Indicadores de desigualdade regional: o objetivo desses indicadores é ter


uma medida do grau de desigualdade regional, usualmente no tocante às
suas rendas per capita. Exemplos: Índice de Williamson e Índice de Theil;
• Indicadores de especialização regional: voltam-se para medir o quão
especializadas, ou seja, o quão distintas as regiões são de algum critério
de referência. Como exemplos, temos o quociente locacional, coeficiente
de especialização, índice de dessemelhança de Krugman.
• Indicadores de localização setorial: medem o quão concentrados
regionalmente estão os setores. Em geral, os indicadores de localização
podem ser adaptados a partir dos de especialização. A diferença é que os
indicadores de localização se referem aos setores econômicos e não mais

12
às regiões. Exemplos: Coeficiente de localização (CL), Índice de
Hirschman-Herfindahl, Índice de Gini para localização.
• Medidas de potencial de mercado: Ceteris paribus e intuitivamente, um
potencial de mercado elevado indica o quão atraente para as atividades
econômicas uma região é. A proximidade de mercados é vantajosa para
as empresas uma vez que fornecedores e consumidores estarão mais
acessíveis. Exemplos de mensurações: potencial de mercado, distância
do centro econômico.

Vale ressaltar que em uma análise mais profunda de determinado recorte


geográfico, os segmentos mencionados acima devem ser complementados com
outros indicadores socioeconômicos de desenvolvimento, tais como: Índice de
Gini, Índice de Desenvolvimento Humano, dentre outros.

Saiba mais
FGV lança primeiro Índice de Desenvolvimento Regional Latino-
americano. O índice é uma ferramenta que mede o desenvolvimento em nível
territorial, a partir de uma perspectiva multidimensional inspirada no enfoque do
desenvolvimento humano e sustentável. Os resultados variam entre 0 e 1 (onde
0 expressa o desenvolvimento mínimo e 1 o máximo). Dessa forma, o IDERE
LATAM considera 25 variáveis por meio de oito dimensões: Educação, Saúde,
Bem-estar e Coesão, Atividade Econômica, Instituições, Segurança, Meio
Ambiente e Gênero. Disponível em: <https://jeonline.com.br/noticia/23716/fgv-
lanca-primeiro-indice-de-desenvolvimento-regional-latino-americano>. Acesso
em: 3 jul. 2022.

TROCANDO IDEIAS

Você sabia que o Brasil é o décimo maior parque industrial do mundo?


Segundo a ONU, em 2009 a Índia superou o Brasil, ocupando a nona posição.
Lá no topo, as três primeiras opções são ocupadas respectivamente pelos
Estados Unidos, China e Japão. A China supera pela primeira vez na história o
Japão para se tornar o segundo maior produtor de bens manufaturados do
mundo. Continue a leitura disponível em: <https://bcend.com.br/conheca-os-
maiores-centros-industriais-brasil/>. Acesso em: 15 ago. 2022.

13
Partindo dessa reflexão, você consegue localizar um parque industrial
próximo à região onde você reside?

NA PRÁTICA

Marshall ressaltou a existência de uma atmosfera industrial, na qual


haveria uma influência mútua dos sistemas econômico e social. Nessa visão, o
vínculo construído entre as empresas em um distrito industrial traz como
resultado fundamental a interação, a cooperação e o aprendizado. Em conjunto,
essa conexão viabiliza um elemento fundamental para o desenvolvimento: a
inovação.
Partindo dessa afirmação, descreva três exemplos de centros industriais
existentes no Brasil.
Resposta:

1. No Estado de São Paulo, precisamente na Grande São Paulo existe um


centro polindustrial, formado por 39 municípios, entre eles o de São Paulo,
constituindo o maior parque industrial da América Latina.
2. A maior concentração do Estado do Rio de Janeiro está no Grande Rio,
um grande centro polindustrial, com destaque para o setor naval e o
turismo.
3. No Estado de Santa Catarina, destaca-se o centro mecânico de Joinville,
o polo ceramista de Criciúma, e indústria de embutidos de Chapecó, e o
setor têxtil de Blumenau.

FINALIZANDO

O objetivo inicial desse conteúdo centrou-se em conhecer as principais


teorias que se debruçaram sobre a temática da economia regional e regional.
Vimos as contribuições de Perroux e sua ênfase dada aos conceitos de
aglomerações e polos de crescimento. Na sequência, foram trazidas as
contribuições de Gunnar Myrdal, teórico que se preocupou em estudar as razões
pelas quais as economias regionais divergiam ao longo do tempo.
Adentramos também à teoria de Hirschman. Para esse autor o
desenvolvimento ocorre como uma cadeia de desequilíbrios durante longo

14
período de tempo. O crescimento inicia-se, portanto, nos setores líderes e
transfere-se para os seguintes de forma irregular/desequilibrada.
Por fim, foram trazidas as contribuições de Alfred Marshall sobre as
aglomerações em distritos industriais e como essas permitem que pequenas e
médias empresas consigam competir no mercado e globalizado.
Após essa imersão no arcabouço teórico, finalizamos pontuando alguns
indicadores essenciais de análise regional e espacial.

15
REFERÊNCIAS

BIANCHI. A. M. As muitas travessias de Albert Hirschman. Revista Economia


Ensaios, Uberlândia (MG), v. 27, n. 2, p. 7-16, jan./jun. 2013. Disponível em:
<https://seer.ufu.br/index.php/revistaeconomiaensaios/issue/view/1109>.
Acesso em: 3 jul. 2022.

LIMA, A. C. da Cruz; SIMÕES, R. F. Teorias do desenvolvimento regional e


suas implicações de política econômica no pós-guerra: o caso do Brasil.
Texto para discussão 358 - Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2009. Disponível
em: <http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/td/TD%20358.pdf>. Acesso em: 3
jul. 2022.

MONASTERIO, L. Indicadores de análise regional e espacial. In: Economia


Regional e Urbana: teorias e métodos com ênfase no Brasil. IPEA: Brasília,
2011. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id
=11066>. Acesso em: 3 jul. 2022.

_____. CAVALCANTE, L. R. Fundamentos do pensamento econômico e


regional. In: Economia Regional e Urbana: teorias e métodos com ênfase no
Brasil. IPEA: Brasília, 2011. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id
=11066>. Acesso em: 3 jul. 2022.

SANTOLIN, R. B.; CATEN, C. S. Modelos de distritos industriais sob a ótica da


sustentabilidade: uma revisão bibliográfica. Iberoamerican Journal of
Industrial Engineering, Florianópolis, v. 7, n. 14, p. 129-150, 2015. Disponível
em:
<http://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/IJIE/article/view/3768/pdf_108>.
Acesso em: 3 jul. 2022.

16
ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 3

Profª Rossandra Oliveira Maciel de Bitencourt


CONVERSA INICIAL

O objetivo desta etapa é dar continuidade às interpretações acerca das


teorias sobre o desenvolvimento regional e urbano.
Inicialmente são trazidas as contribuições neoschumpeterianas sobre o
desenvolvimento regional. Na sequência, avança-se para a compreensão da
teoria de base de exportação desenvolvida por Douglass North. No terceiro
tópico aborda-se o modelo urbano de Alonso, Muth e de Mills (AMM).
Por fim, são trazidas as interpretações da nova geografia econômica e do
neoinstitucionalismo acerca do desenvolvimento.
Bons estudos!

CONTEXTUALIZANDO

Um estudo realizado por Ronivaldo Steingraber e Flávio de Oliveira


Gonçalves, publicado em 2015 na Revista Economia e Sociedade Brasileira,
aborda a influência da aglomeração e da concentração da indústria sobre a
produtividade total dos fatores das empresas industriais brasileiras.
Na pesquisa, os autores demonstram que a aglomeração e a
concentração, juntamente com as competências internas da empresa, explicam
as diferenças de produtividade entre as empresas. Os resultados também
mostram que alguns setores são mais sensíveis a aglomeração e a concentração
setoriais sobre a produtividade e a dinâmica de inovação da empresa.
Continue a leitura em:
<https://www.scielo.br/j/neco/a/nVvRwHds8JjB668jTNXgKKn/?lang=pt>.
Acesso em: 16 ago. 2022.

2
TEMA 1 – CONTRIBUIÇÕES NEOSHUMPETERIANAS E O
DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Créditos: pieceofmind/Shutterstock.

Para compreender as contribuições neoschumpeterianas ao debate do


desenvolvimento regional, primeiro precisamos pontuar alguns conceitos-chaves
presentes na obra de Joseph Alois Schumpeter (1883-1950), que se destacou
em 1911 com a publicação intitulada Teoria do Desenvolvimento Econômico,
publicada pela primeira vez em 1911.
Em sua teoria, Schumpeter (1982) afirma que a incerteza é intrínseca ao
capitalismo e que o desenvolvimento econômico é um processo de destruição
criadora, por isso é descontínuo. Nesse sentido, Schumpeter demonstra que as
mudanças econômicas são fecundas e que o desenvolvimento ocorre quando,
na realidade, há ausência de equilíbrio, ou seja, é a perturbação do equilíbrio
que altera e desloca o estado de equilíbrio previamente existente. Logo, nessa
teoria o desenvolvimento corresponde a um processo intencional de mudança
das condições preexistentes.
Para Schumpeter, o desenvolvimento é um processo de transformação,
de uma mutação que revoluciona a estrutura econômica endogenamente
destruindo o antigo e criando elementos novos. Em suma, as mudanças
revolucionárias, as inovações técnicas produtivas e o aperfeiçoamento dos
processos mecanizados são fenômenos fundamentais do desenvolvimento
econômico.

3
Partindo dessa concepção, a corrente teórica neoschumpeteriana
avançou substancialmente o pensamento econômico sobre desenvolvimento.
Essa teoria, que se desenvolve a partir dos anos 1980, é formada por um
conjunto de contribuições e análises que não necessariamente formam um todo
uniforme (Dathein, 2003).
A análise neoschumpeteriana tem como pressuposto a existência de um
princípio dinâmico que conduz à evolução do sistema econômico, por isso é
também conhecida como teoria evolucionária. Esse princípio é a tecnologia, as
revoluções que ela promove e os impactos referentes a novos padrões
produtivos e de consumo. Assim, os desequilíbrios são intrínsecos ao sistema
econômico, e as inovações promovem assimetrias entre firmas e entre os
setores da atividade econômica (Carleial, 2011).
Desse modo, a autora supracitada salienta que o pensamento
neoschumpetriano observa de modo particular a firma, concedendo grande
importância à história, às rotinas e influências do ambiente e de instituições.
Logo, as firmas são agentes específicos, organizações singulares que usam
diferentes insumos para a sua produção, um dos quais é o conhecimento.
Para os neoschumpeterianos, o conhecimento tecnológico avança de
forma dependente do conhecimento acumulado anteriormente (path-
dependence) e é compatível com rupturas, revoluções e descontinuidades
(mudanças de paradigmas):

As fases de expansão do sistema estão associadas às grandes


revoluções tecnológicas e ao êxito de sua difusão, o que depende da
capacidade institucional de perceber a transformação e promover as
mudanças necessárias para que o sistema econômico e a sociedade
aproveitem todas as suas vantagens. (Carleial, 2011, p. 119)

Cabe salientar que há muitos fatores externos à firma que influenciam a


introdução de inovações, tais como: a ação e a natureza do Estado, a situação
da área científica em cada país, as capacitações tecnológicas disponíveis, as
qualificações, as condições ocupacionais, o financiamento das inovações e as
tendências macroeconômicas (Carleial, 2011).
Nessa perspectiva, é das contribuições neoschumpeterianas que emerge
o sistema nacional de inovação. Carleial (2011) ressalta que esse deve resultar
de redes de firmas, agências governamentais, universidades, laboratórios de
pesquisa, sistema de financiamento (bancos), sindicatos, centros de
treinamento, os quais devem associar-se, interagir com base em objetivos

4
delineados para agilizar o fluxo de informações necessário para promover os
avanços tecnológicos e inovativos.
Em linhas gerais, a corrente neoschumpeteriana é apropriada para
análises desenvolvimentistas e, além disso, é utilizada como instrumento de
elaboração de políticas econômicas, podendo ser adaptada para casos de
países não desenvolvidos, como o Brasil, o que tem sido feito por muitos autores
internacionais e brasileiros (Dathein, 2003).
Tendo essa compreensão sobre as contribuições da corrente
neoschumpeteriana para o desenvolvimento regional, a seguir, adentra-se a
teoria da base de exportação, desenvolvida por Douglass North.

TEMA 2 – A TEORIA DA BASE DE EXPORTAÇÃO

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O desenvolvimento regional possui inúmeros determinantes. Dentre eles,


cabe salientar a relevância das exportações para o bom desempenho de uma
determinada região. Nesse âmbito, a teoria da base de exportação foi a primeira
a destacar as exportações como fator-chave para o crescimento de uma
determinada região. Apesar de poder ser encontrada na obra de outros autores
que o precederam, a teoria da base exportadora está associada ao trabalho do
historiador econômico e ganhador do Prêmio Nobel Douglass North.
Ao desenvolver essa teoria, North:

Contesta a visão de que o desenvolvimento regional teria ocorrido em


etapas sucessivas que se iniciariam em um mundo formado por regiões
5
agrícolas autossuficientes e marcado por altíssimos custos de
transporte, passariam por um momento caracterizado pela
especialização o comércio entre as regiões em decorrência da redução
dos custos de transporte, e alcançariam, com os retornos decrescentes
no setor primário e o aumento da população, a industrialização e a
especialização dessas atividades secundárias. North argumenta que
essa sequência de desenvolvimento regional talvez se aplique ao caso
da Europa, mas não se aplicaria a outras experiências, como a das
Américas. (Monasterio; Cavalcante, 2011, p. 71)

Partindo da presente crítica, a teoria da base de exportação destaca as


exportações como fator primordial para o crescimento de uma determinada
região, tendo em vista o efeito multiplicador exercido pelas exportações sobre as
atividades locais, ou seja, orientadas à demanda interna. De acordo com a teoria
da base de exportação, as atividades econômicas de uma região podem ser
dispostas em dois tipos (Ferreira; Medeiros, 2016):

• Atividades básicas: voltadas ao atendimento da demanda externa à


região, denominada na teoria de base de exportação.
• Atividades não básicas: são aquelas que fornecem produtos e serviços
aos residentes, ou seja, atividades voltadas ao mercado interno.

Nesse âmbito, North descreve o desenvolvimento regional a partir do


surgimento de uma atividade de exportação baseada em fatores locacionais
específicos. As atividades ligadas a esse setor são chamadas de base
exportadora, cujos efeitos sobre a economia local são também indiretos. De
acordo com essa teoria, a atividade de exportação incentiva o surgimento de
polos de distribuição e cidades, nas quais começam a se desenvolver atividades
de processamento industrial e serviços associados ao produto de exportação
(Monasterio; Cavalcante, 2011).

Saiba mais
No Brasil, a exemplificação da teoria da base de exportação pode ser
realizada citando o caso da produção cafeeira no estado de São Paulo. A
referida atividade conseguiu criar atividades locais vinculadas a sua produção,
como também criou vantagens comparativas a São Paulo, instituindo um
ambiente propício ao desenvolvimento de outras atividades, dentre elas a
indústria. No caso da produção açucareira no Nordeste brasileiro, esse
ambiente de dinamismo não foi observado, haja vista que a cultura do açúcar
não desenvolveu atividades locais vinculadas a sua produção.

6
Continue a leitura em:
<https://www.revista.ueg.br/index.php/economia/article/view/5527/3925#:~:te
xt=A%20teoria%20da%20base%20de,seja%2C%20orientadas%20a%20dem
anda%20interna>. Acesso em: 16 ago. 2022.

Todavia, Monasterio e Cavalcante (2011) ressaltam que existem algumas


críticas ao pensamento de North, argumentando que a teoria da base não chega
a ser uma teoria de desenvolvimento. Isso porque estimativas exageradas
acerca do efeito das exportações tendem a subestimar que, por serem
economias abertas, as regiões importam os insumos do restante do país (ou
mesmo do mundo). Ademais, a crença exclusiva na teoria da base faz com que
as importações regionais sejam vistas com maus olhos. Essa visão simplista
esquece o papel que as importações regionais têm para o bem-estar de seus
moradores ou para a competitividade de suas firmas (Monasterio; Cavalcante,
2011).
Após conhecer com mais profundidade as contribuições de Douglas North
acerca da teoria da base de exportação, na sequência veremos a interpretação
do modelo urbano sob o olhar de Alonso.

TEMA 3 – O MODELO URBANO DE ALONSO E EXTENSÕES

Créditos: Tavarius/Shutterstock.
7
O modelo de William Alonso (1933-1999) marca o início dos estudos no
campo da economia urbana. Contudo, Von Thünen (1783-1850) o precedeu,
com a análise do modelo que trata do padrão de ocupação do solo por atividades
agrícolas, propondo os custos de transporte como variável-chave na decisão de
localização ao longo do espaço. O modelo de Von Thünen de localização do uso
do solo fornece a base para os trabalhos elaborados no campo da economia
urbana.
Ainda que em uma perspectiva rural, Thünen deu início à linha de modelos
conhecidos como cidade monocêntrica, que tratam dos padrões de ocupação do
solo exclusivamente urbano pelas famílias moradoras na cidade. Adaptado por
Alonso (1964) para o contexto das cidades, o modelo mantém o cenário de único
centro de empregos (negócios). Os fazendeiros são substituídos por
trabalhadores no percurso da residência para o local de trabalho, e os custos de
transporte são analisados como custos de deslocamento diário. Assim, a
principal hipótese de Von Thünen é mantida, a existência de um único centro de
negócios, bem como a importância dos custos de transporte (Proque, 2014).
Dando sequência, em seu modelo, Alonso (1964) estabeleceu que as
famílias moradoras da cidade escolheriam a localização e o tamanho de suas
residências. Foi introduzido também o conceito de curvas de bid rent, ou seja, a
máxima disposição a pagar pela moradia em determinada localização (Nadalin,
2011).
Para além das contribuições de Alonso, destacam-se ainda os trabalhos
de Muth e de Mills, que complementam a análise desembocando na síntese
conhecida como o modelo de Alonso-Muth-Mills (AMM). Esse modelo de cidade
monocêntrica foi a estrutura dominante da área de economia urbana nos anos
1970 e possibilitou grandes contribuições teóricas na área de economia urbana.
Esses trabalhos inspiraram a nova economia urbana (NEU), campo que tem
como finalidade explicar a distribuição do solo entre as atividades e o motivo de
as cidades terem um ou mais de um centro de negócios (Proque, 2014).
O modelo da cidade monocêntrica trabalha com a ideia de um trade-off
entre acessibilidade aos centros de emprego e a escolha de residência pelas
famílias. Ou seja, as decisões são tomadas com base nos custos de
deslocamento diário da residência para o local de trabalho e o desejo de espaço
habitacional. Essa é uma contribuição importante que ajuda a entender a
questão da formação das estruturas urbanas:

8
As cidades possuem uma região central que proporciona empregos.
Nesta literatura, este centro é chamado Central Business District
(CBD). O CBD é o local com maior densidade de empregos e onde
encontram-se as atividades que tradicionalmente são lócus de
comércio, serviços e funcionalismo público. No ponto mais distante do
CBD, os indivíduos consomem uma maior quantidade de terras.
Entretanto, estes incorrem em ambos os custos com transporte e
tempo despendido maiores. Os indivíduos que moram próximos ao
CBD têm lotes de menor tamanho, mas em compensação, têm maior
acessibilidade ao emprego. (Proque, 2014, p. 63)

Apesar das contribuições trazidas para a nova economia urbana, Nadalin


destaca que esse modelo da cidade monocêntrica deixa a desejar por não tratar
o uso do solo para negócios ou produção, pois o centro de negócios ocupa o
ponto central da cidade, sem dimensões.
Tendo essa compreensão do modelo de Alonso, Muth e Mills, a seguir
adentra-se nas contribuições da nova geografia econômica para o campo da
economia regional e urbana.

TEMA 4 – A NOVA GEOGRAFIA ECONÔMICA

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Você já ouviu falar na nova geografia econômica (NGE)?


Na prática, a NGE busca explicar por que determinadas atividades
econômicas optam por se estabelecer em alguns lugares em detrimento de
outros. Os fundamentos da ciência regional serviram de inspiração para um

9
tratamento microeconômico do espaço dentro da teoria econômica. O interesse
recente pelo espaço, no centro da teoria econômica, surgiu dos avanços da NGE
(Proque, 2014).
Com base na literatura da Organização Industrial, o modelo
desenvolvido por Dixit-Stiglitz de concorrência monopolista permitiu um
tratamento microeconômico mais adequado e refinado ao mercado. O espaço foi
inserido na análise, de maneira que a NGE pode explicar a formação de
aglomerações da atividade econômica no espaço geográfico (Proque, 2014).
Cabe destacar a influência de três importantes cientistas que sintetizam
as principais questões levantadas na geografia econômica (Thisse, 2011):

• Johann Heinrich von Thünen: é o fundador da teoria do uso do solo, e o


seu trabalho serviu de pilar para o desenvolvimento da moderna economia
urbana.
• Harold Hotelling: focou na natureza da competição no espaço e na
maneira pela qual as empresas escolhem sua localização em um
ambiente estratégico.
• Paul Krugman: destacou a sustentação microeconômica das
aglomerações econômicas espaciais e os desequilíbrios regionais nos
níveis nacional e internacional. Para isso, construiu um modelo completo
de equilíbrio geral, capaz de explicar por que, como e quando a atividade
econômica pode ser concentrada em poucos locais.

A literatura-padrão da NGE está baseada no modelo centro-periferia (CP)


proposto por Krugman. O modelo expõe como um país pode transformar-se
endogenamente diferenciado em um centro industrializado e uma periferia
agrícola. Esse modelo exibe como as aglomerações espaciais surgem da
interação entre retornos crescentes à escala e custos de transporte:

Se os custos de transporte forem baixos o suficiente, o setor industrial


tende a concentrar-se em uma região que se torna o centro. A outra
região, a periferia da economia, fornece somente bens agrícolas. Em
oposição, quando os custos de transporte forem altos, existe um
padrão regional simétrico. O surgimento do padrão CP teve como base
os custos de transporte, as variedades de produtos e a produtividade
do setor industrial. (Proque, 2014, p. 60)

Desse modo, a NGE permitiu a existência de um tratamento teórico mais


adequado das interações no espaço, com base em fundamentos da economia
urbana. O modelo parte de uma economia formada por duas regiões, dois tipos

10
de produção (agrícola e industrial) e dois tipos de mão de obra (Proque, 2014, p.
60):

• A produção agrícola de um bem homogêneo é caracterizada por


retornos constantes de escala e competição perfeita, sob o uso de
uma mão de obra imóvel no espaço.
• A produção industrial fornece um bem diferenciado assumindo
retornos crescentes de escala, competição imperfeita, sob o uso de
mão de obra espacialmente móvel.

Os rendimentos de ambas as regiões dependerão da distribuição dos


trabalhadores. Quando uma das regiões tem uma força de trabalho maior, existe
a tendência de os trabalhadores migrarem para essa região. Desse modo, os
trabalhadores deslocam-se para regiões onde os salários reais são maiores
(Thisse, 2011).
A grande contribuição da NGE foi explicar o surgimento e o crescimento
das cidades com base nas forças de aglomerações. Esse conceito diz respeito
a situações muito distintas no mundo real:

Num extremo do espectro está a divisão Norte-Sul. No outro, a


aglomeração surge quando restaurantes, cinemas ou lojas que
vendem produtos similares se agrupam dentro do mesmo bairro, ou até
na mesma rua. O que distingue os vários tipos de aglomeração é a
escala espacial, ou a unidade de referência espacial escolhida na
condução da pesquisa, da mesma forma que existem tipos diferentes
de agregação de agentes econômicos. (Thisse, 2011, p. 17)

Em suma, a história da geografia econômica unificou diferentes


segmentos do conhecimento, como o demonstram os diferentes nomes dados
ao campo científico (economia regional e urbana, teoria locacional e economia
espacial), no qual o foco se desloca da competição perfeita para competição
imperfeita e falhas de mercado (Thisse, 2011).
Vistas as principais contribuições da NGE para a economia regional e
urbana, a seguir veremos com mais detalhes a perspectiva neoinstitucionalista.

11
TEMA 5 – A PERSPECTIVA NEOINSTITUCIONALISTA

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O ideário conceitual e metodológico do pensamento institucionalista está


mais próximo da perspectiva heterodoxa do que da teoria neoclássica, visto que
os princípios institucionalistas originaram-se da oposição aos fundamentos de
equilíbrio e racionalidade substantiva. Qualquer abordagem analítica
institucionalista deve incluir path dependency, ou seja, reconhecer o caráter
diferenciado do processo de desenvolvimento econômico considerando que o
ambiente envolve disputas, antagonismos, conflitos e incertezas (Conceição,
2002).
A abordagem neoinstitucionalista resgata no final dos anos 1960 a
importância de conceitos centrais ao Antigo Institucionalismo Norte-americano
(com origem em Veblen) e se alimenta das contribuições trazidas pela tradição
evolucionária. Tal revigoramento se dá, principalmente, por meio da Association
for Evolutionary Economics (AFFE), responsável pelo Journal of Economic
Issues, que, sob a influência de autores como Galbraith e Gruchy, seguidos de

12
Hodgson, Ramstad, Rutherford, Samuels, Mark Tool, Stanfield e outros,
constituiu a corrente neo-institucionalista (Conceição, 2002).
O desenvolvimento econômico depende das instituições, portanto elas
são uma medida do desenvolvimento econômico. Na prática, as instituições
vigentes influenciam o indivíduo e, em seguida, o indivíduo se torna um potencial
agente de mudança institucional – necessária para que o desenvolvimento
aconteça. Logo, o Estado tem um papel central no processo de desenvolvimento,
pois há situações em que o crescimento ou a redistribuição da riqueza é
condição prévia necessária à mudança institucional.
A evolução das instituições e sua influência sobre o desempenho
econômico dependem do aprendizado pelo qual as pessoas passam em seu
contexto e que se propaga pelas instâncias em que atuam no esforço de
melhorar suas condições de vida. O aprendizado reconstitui o indivíduo em
termos de valores e preferências.
Nessa abordagem, Hodgson (2000) atualiza o conceito de instituição
dentro dos novos enfoques econômicos. Segundo esse autor, as instituições são
sistemas duráveis de regras sociais estabelecidas e incorporadas que
estruturam as interações sociais.
Logo, esse conceito de instituição remete à importância do processo
histórico na economia institucionalista, com ênfase na formulação das ideias e
das políticas econômicas. Hábitos, linguagem, dinheiro, sistemas de pesos e
medidas, modos à mesa, firmas (e outras organizações) são todas instituições
na abordagem analítica neoinstitucionalista. Em parte, a durabilidade das
instituições decorre do fato de que elas podem criar expectativas estáveis sobre
o comportamento dos outros. Geralmente as instituições possibilitam o
pensamento, a expectativa e a ação ordenados, criando forma e consistência às
atividades humanas (Hodgson, 2000).
Para análise de economia regional, a abordagem institucionalista se
destaca por permitir sair do abstrato e ir ao concreto, ou seja, conhecer os
elementos que de fato propiciam o desenvolvimento em uma determinada
região, pois, diferente da teoria neoclássica, o institucionalismo não prevê o que
vai acontecer, mas busca uma aproximação com a realidade concreta para
compreender os fenômenos à sua volta. Quais são os hábitos comuns de
pensamento? Como o conhecimento evolui? Quais são as regras sociais
incorporadas que favorecem o desenvolvimento? Como a população responde

13
à implementação de uma política pública? As respostas para esses
questionamentos certamente requerem estudos empíricos, que podem ser
pautados na abordagem neoinstitucionalista.

TROCANDO IDEIAS

O conceito para desenvolvimento econômico não possui um consenso


universal. No entanto, sabe-se que as instituições são parte do desenvolvimento,
assim como os indivíduos. Um estudo realizado por Zulian, Marin e Feistel (2014)
destaca o papel das instituições no comportamento individual com base na visão
de Douglass North e de Geoffrey M. Hodgson. Continue a leitura em:
<https://revistas.ufpr.br/ret/article/download/35203/25127>.
Convidamos você a acessar esse artigo e responder às seguintes
perguntas: Qual é a influência das instituições no comportamento dos
indivíduos? É possível relacionar as instituições e os indivíduos com o
desenvolvimento econômico?

NA PRÁTICA

O desenvolvimento econômico depende das instituições, portanto estas


são uma medida do desenvolvimento econômico. Na prática, as instituições
vigentes influenciam o indivíduo e, em seguida, o indivíduo se torna um potencial
agente de mudança institucional – necessária para que o desenvolvimento
aconteça.
Com base nessa afirmação, elenque cinco exemplos de instituições que
influenciam as interações sociais.
Resposta: cultura, crença religiosa, ideologia, hábitos, rotina dentre
outros.

FINALIZANDO

Chegamos ao final desta etapa! O objetivo foi aprofundar o conhecimento


sobre as interpretações acerca das teorias que perpassam o desenvolvimento
regional e urbano.
Inicialmente foram trazidas as contribuições neoschumpeterianas sobre o
desenvolvimento regional. Na sequência, avançamos para a compreensão da
teoria de base de exportação desenvolvida por Douglass North. No terceiro tema,

14
abordamos o modelo urbano de Alonso, Muth e de Mills (AMM). Por fim, foram
trazidas as interpretações da nova geografia econômica e do
neoinstitucionalismo acerca do desenvolvimento.
É importante salientar que uma única teoria por si só não esgota essa
abordagem, que é tão complexa sobre a economia regional e urbana. O mais
importante é compreender o leque de interpretações acerca da temática.
Algumas teorias perpassam conceitos centrais, como o de aglomerações. Outras
podem ser empregadas como métodos, por trazerem instrumentos analíticos
que auxiliam a interpretação de um dado contexto, como o neoinstitucionalismo.
Quanto maior for a aproximação com uma determinada teoria, mais
natural tende a ser a observação da realidade econômica à luz dessa
interpretação.

15
REFERÊNCIAS

CARLEIAL, L. A contribuição neoschumpeteriana e o desenvolvimento regional.


In: CRUZ, B. de O. et al. (Orgs.). Economia Regional e Urbana: teorias e
métodos com ênfase no Brasil. Brasília: IPEA, 2011. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id
=11066>. Acesso em: 8 jul. 2022.

CONCEIÇÃO, O. A. C. O conceito de instituição nas modernas abordagens


institucionalistas. Revista Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 6, n.
2, p. 119-146, jul./dez. 2002

DATHEIN, R. (Org.). Teoria neoschumpeteriana e desenvolvimento econômico.


In: Desenvolvimentismo: o conceito, as bases teóricas e as políticas. Porto
Alegre: Ed. da UFRGS, 2003. Disponível em:
<https://books.scielo.org/id/8m95t/pdf/dathein-9788538603825-06.pdf>. Acesso
em: 8 jul. 2022.

FERREIRA, F. D. da S.; MEDEIROS, E. H. O. Teoria da base de exportação:


uma avaliação da base de exportação da região sul do Brasil. Revista de
Economia, Anápolis, v. 12, n. 2, p. 237-251, jul./dez. 2016. Disponível em:
<https://www.revista.ueg.br/index.php/economia/article/view/5527/3925#:~:text
=A%20teoria%20da%20base%20de,seja%2C%20orientadas%20a%20demand
a%20interna>. Acesso em: 8 jul. 2022.

HODGSON, G. M. The Hidden Persuaders: institutions and choice in economic


theory. In: Seminário A situação atual da microeconomia: uma perspectiva
metodológica. Programa de Doutorado em Desenvolvimento Econômico,
UFPR, Curitiba, 16-17 out. 2000. Anais...

MONASTERIO, L.; CAVALCANTE, L. R. Fundamentos do pensamento


econômico e regional. In: CRUZ, B. de O. Economia Regional e Urbana: teorias
e métodos com ênfase no Brasil. IPEA: Brasília, 2011. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id
=11066>. Acesso em: 8 jul. 2022.

PROQUE. A. L. O efeito da distribuição espacial do uso da terra e das


políticas de transporte sobre a eficiência energética em áreas urbanas. 162
f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Faculdade de Economia da
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.
16
SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma
investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo:
Abril Cultural, 1982.

THISSE, J.-F. Geografia econômica. In: CRUZ, B. de O. Economia regional e


urbana: teorias e métodos com ênfase no Brasil. IPEA: Brasília, 2011. Disponível
em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id
=11066>. Acesso em: 8 jul. 2022.

17
ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 4

Profª Rossandra Maciel de Bitencourt


CONVERSA INICIAL

O objetivo dessa etapa é adentrar a algumas especificidades regionais


brasileiras com ênfase no desenvolvimento desigual.
Essa compreensão inicia com o processo de industrialização no Brasil –
sobretudo nos anos 1930 –, que tem como marco o deslocamento do centro
dinâmico. Na sequência, avança-se para a problemática da concentração
industrial e sua relação com a urbanização brasileira.
Por fim, coloca-se em evidência alguns aspectos econômicos e sociais
das disparidades regionais do Brasil a fim de compreender as dimensões
pontuais do desenvolvimento geográfico desigual.
Bons estudos!

CONTEXTUALIZANDO

A concentração de pessoas que vivem em situação de pobreza no


Nordeste é a maior entre as cinco regiões brasileiras, conforme atesta pesquisa
publicada pelo IBGE (2020). O levantamento estatístico “Perfil das despesas no
Brasil: Indicadores selecionados” aponta que a Região Nordeste concentra um
valor proporcional a 47,9% da concentração da pobreza no Brasil. Em seguida,
também com índice alto, vem a Região Norte, com 26,1%. O Sudeste é a terceira
região, com 17,8%. Por fim, Centro-Oeste (2,5%) e Sul (5,7%) apresentam as
menores taxas percentuais do país, com pouca concentração de pobreza, em
relação às demais regiões.

Saiba mais
Disponível em: <https://www.fecop.seplag.ce.gov.br/2020/11/20/regiao-
nordeste-possui-quase-metade-de-toda-a-pobreza-no-brasil-segundo-ibge/>.
Acesso em: 10 jul. 2022.

2
TEMA 1 – INDUSTRIALIZAÇÃO: DESLOCAMENTO DO CENTRO DINÂMICO

Créditos: yuRomanovich/Shutterstock.

O conceito que veremos aqui – deslocamento do centro dinâmico – deriva


da obra Formação econômica do Brasil, de Celso Furtado, com sua primeira
edição em 1959. Alinhado ao pensamento cepalino, Furtado acreditava que até
1930 existia no Brasil uma economia primária exportadora “voltada para fora”.
Este era o centro dinâmico que se desloca a partir de 1930: do rural-agrário para
o urbano-industrial.
O modelo econômico agroexportador era marcado pela predominância do
setor agrícola de subsistência (com ênfase no café e produtos primários) e por
uma reduzida atividade industrial que se restringia à produção de bens de
consumo interno (tecido, móveis etc.), insuficiente para dar à atividade interna
um dinamismo próprio.
Outra característica central do modelo agroexportador era o caráter de
dependência, haja vista a demanda externa pelos produtos primários brasileiros.
Ou seja, o foco da produção era a exportação. As exportações eram
praticamente o único componente autônomo do crescimento da renda. O setor
exportador representava o centro dinâmico de toda a economia brasileira.
Na leitura de Furtado, a inserção do Brasil no processo de
desenvolvimento caracteriza-se pela condição de periferia: pertencendo a um
conjunto de países acoplados ao desenvolvimento de países centrais. Ou seja,
não estamos fora na engrenagem, mas somos parte desse processo de
desenvolvimento na condição de fornecedor de produtos primários.
Em contrapartida, no modelo agroexportador havia também uma
dependência externa no que se refere às importações. Diferentemente das
3
economias desenvolvidas – que importavam basicamente alimentos e matérias-
primas –, as importações brasileiras cobriam faixas inteiras de bens de consumo
terminados. Ou seja, o país não produzia bens de consumo duráveis, todo esse
consumo se dava via importação. Associado à dependência externa, o modelo
agroexportador também era marcado por uma extrema desigualdade social e
alta concentração de renda.
Talvez você esteja se perguntando: quais são os elementos que
provocaram a mudança do deslocamento do centro dinâmico nos anos 1930?
Esse cenário começa a se modificar em 1929, quando a quebra da Bolsa
de Nova York traz como consequências perturbações externas que geram
tensões na balança de pagamentos, haja vista a queda da livre atividade
econômica dos EUA, o colapso das exportações, a queda dos preços dos
produtos primários brasileiros e o baixo fluxo de financiamento externo (Furtado,
1989).
Em resposta a esse cenário de crise econômica, os Estados adotaram
medidas para evitar um desequilíbrio mais profundo (Furtado, 1989):

• Restrições às importações;
• Aumento da taxa de câmbio;
• Compras de excedentes ou financiamento de estoques visando a
estimular a atividade interna.

Foi esse movimento que alterou as variáveis dinâmicas da economia. A


importância das exportações como principal determinante do crescimento foi
substituída pela variável endógena investimento. Isso porque se fez necessária
uma diversificação da estrutura produtiva via importação de equipamentos e
bens intermediários:

É evidente, portanto, que a economia não somente havia encontrado


estímulo dentro dela mesma para anular os efeitos depressivos vindos
de fora e continuar crescendo, mas também havia conseguido fabricar
parte dos materiais necessários à manutenção e expansão de sua
capacidade produtiva. (Furtado, 1989, p. 199)

Em suma, o novo modelo voltado “para dentro” iniciou com a expansão


da produção interna industrial por meio do aproveitamento mais intenso da
capacidade já instalada no país. Na etapa seguinte, instalou-se no país a
indústria de bens de capital. Em meio a essa transição, a recuperação veio

4
rápido: de 1929-37, a produção industrial cresceu em cerca de 50% (Furtado,
1989).
Após compreender a relação entre o processo de industrialização e o
deslocamento do centro dinâmico, a seguir adentra-se à problemática da
concentração industrial no Brasil.

TEMA 2 – A CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL NO BRASIL

Créditos: Thiago Leite/Shutterstock.

A industrialização brasileira pode ser compreendida como um processo


de longo prazo, em que é conjugado um aumento do grau de industrialização,
com incorporação de setores modernos e integração de cadeias produtivas sob
hegemonia paulista no período de 1930 até meados dos anos 1980 (Sampaio,
2017).
Em linhas gerais, o processo de industrialização no Brasil ocorre de forma
a concentrar a economia na Região Sudeste, principalmente em São Paulo. Na
visão de Wilson Cano (1985), esse processo se inicia de forma natural, pelo
desenvolvimento agrícola que já havia na região, e depois se reforça por meio
das políticas públicas que incentivam a atração de capital para esse Estado.
Logo, Sampaio (2017) reitera que a industrialização brasileira teve suas
raízes no processo de acumulação do complexo cafeeiro capitalista do oeste

5
paulista nas décadas de 1870 a 1920. Com o crash de 1929, houve uma ruptura
no modelo primário-exportador, e a mudança do centro dinâmico para o mercado
interno, que, puxado pela manufatura, teve forte concentração industrial em São
Paulo.
Mesmo antes da crise de 1929, grande parte da indústria brasileira
(aproximadamente 37%) já se concentrava em São Paulo com estrutura
diversificada. Era nessa região que se encontrava também o mais expressivo
desenvolvimento agrícola. A partir dos anos 1920, associado ao “deslocamento
do centro dinâmico”, a economia de São Paulo tornou-se o centro de decisão
maior da acumulação de capital no país (Cano, 1985).
Em suma, é com o “deslocamento do centro dinâmico” nos anos 1930 que
se intensifica a concentração industrial em São Paulo. Mais especificamente a
partir de 1933 há uma recuperação da economia brasileira alcançando a taxa
anual de crescimento de 11,2%. Já em São Paulo, esse indicador chegou a 14%.
Ou seja, um crescimento acima da média nacional (Cano, 1985).
Seguindo esse ritmo, os anos 1950 também são um período em que se
reforça a concentração industrial, na medida em que se instalam em São Paulo
as chamadas indústrias pesadas. Isso devido à sua maior diversificação
industrial previamente existente, o que levou a encadeamentos produtivos mais
intensos, quando comparados às demais regiões do país (Cano, 1985).
Com a aceleração da industrialização, por meio do Plano de Metas, houve
uma entrada expressiva de empresas estrangeiras em setores modernos,
sobretudo o automobilístico. Com isso, os desequilíbrios regionais tenderam à
acentuação, ao mesmo tempo em que se observava a integração do mercado
nacional com hegemonia paulista (Cano, 1985).
Observando a indústria no Brasil, de forma agregada, Cano (1985, p. 107)
salienta que a partir dos anos 1960 há uma redução no ritmo da concentração
industrial em São Paulo. O Estado “perde posição na maioria dos segmentos
produtivos de bens intermediários e em todos os bens de capital e de consumo
durável, ganhando maior posição nos bens de consumo não duráveis”.
A perda dessa posição está associada ao dinamismo de outras regiões
brasileiras, que passam a se desenvolver com os incentivos das políticas
públicas. Como exemplo, é possível destacar a expansão das refinarias estatais
de petróleo. Nos anos 1970, estendendo-se até 1985, tem início uma
desconcentração produtiva regional virtuosa, tendo em vista que São Paulo teve
6
taxas de crescimento elevadas, porém as taxas das demais regiões do país
foram superiores (Sampaio, 2017).
A economia paulista é a mais afetada pelo processo de reestruturação
produtiva que emerge pós-anos 1970 por três motivos (Sampaio, 2017):

• por ter o maior parque industrial do país;


• por concentrar maior parcela das indústrias de maior intensidade
tecnológica, justamente aquelas mais afetadas pela abertura comercial e
financeira;
• e porque liderou o processo de integração do mercado nacional, sob sua
hegemonia.

Em oposição à intensa industrialização, a desindustrialização pode ser


compreendida como a perda da diversificação produtiva, quebra de elos de
cadeias produtivas e diminuição do papel da locomotiva paulista em determinado
tempo histórico (pós-1980). A desindustrialização é nacional, porém com efeitos
regionais diferenciados, dada a própria natureza da industrialização brasileira:
desigual, heterogênea, dependente e periférica (Sampaio, 2017).
Após compreender o processo de concentração industrial no Brasil, mais
precisamente em São Paulo, a seguir adentra-se à relação entre industrialização
e urbanização brasileira.

7
TEMA 3 – URBANIZAÇÃO BRASILEIRA

Créditos: Boris Stroujko/Shutterstock.

O censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística mostra que 85% da população brasileira vive em áreas urbanas,
sendo registrado que até o final da década de 1930 esse percentual não passava
de 15%, conforme corrobora os dados trazidos no gráfico a seguir.

8
Gráfico 1 – População Urbana e Rural (1940-2009)

180.000.000

160.000.000

140.000.000

120.000.000

100.000.000

80.000.000

60.000.000

40.000.000

20.000.000

0
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
2006
2009
População urbana População Rural

Fonte: Elaborado com base em Ipea.

Conforme demonstra o gráfico acima, quando se fala em urbanização


brasileira, remete-se a um cenário que se intensifica especialmente aos anos
1960, quando a população urbana brasileira supera a população rural. Em 1940,
o Brasil contava com 12,8 milhões de habitantes em área urbana. Em 2009, esse
dado sobe para 160 milhões.
O cenário marcado pelo crescimento das cidades teve como impulso
determinante a industrialização, a busca por “melhores condições de vida” nos
grandes centros e as péssimas condições da vida rural. O fluxo migratório era
composto por massas vindas do campo e que viam a cidade como um destino
irresistível, pois buscavam inclusão nos direitos sociais inexistentes no campo.
Isso não teria sido um problema se todas as pessoas que adentraram às
cidades tivessem igualdade de direitos e de oportunidades. Efeitos decorrentes
da industrialização, do adensamento dos mercados e da intensificação da
participação dos diversos setores nacionais na economia global impulsionaram
o aumento das desigualdades internas e da fragmentação regional, com
impactos que se expandem para além da atividade econômica (Ipea, 2009).

9
Na realidade, já no final do século XIX, datam os primeiros registros de
cortiços e ocupações dos morros cariocas com moradias populares. Mesmo que
as cidades ainda não fossem regidas pelas dinâmicas do capitalismo industrial
avançado, já tinham enquanto marca a diferenciação socioespacial, pela qual a
população mais pobre, via de regra, era excluída para as áreas menos
privilegiadas e sem infraestrutura (Braga, 2015).
Na constituição das cidades brasileiras, os problemas do crescimento
acelerado e a construção social desigual do espaço propagaram e
materializaram-se em diversas expressões, sendo pela precariedade
habitacional, segregação socioespacial, degradação ambiental, problemas de
infraestrutura, que passaram a retratar e reproduzir um quadro de injustiças e
desigualdades sociais na questão urbana (Braga, 2015).

Saiba mais
No Brasil, a urbanização ocorrida a partir do século XX foi muito
acelerada. Hoje, temos a quarta maior população urbana do mundo, com mais
de 190 milhões de pessoas, atrás de China, Índia e Estados Unidos. Nesse
período, as pessoas que saíam do campo em direção a grandes centros, como
Rio e São Paulo, ocuparam os entornos das cidades – na maioria dos casos, em
loteamentos privados sem infraestrutura adequada. Quem não podia pagar por
esses lotes acabou se instalando em localidades ainda mais precárias, dando
origem às periferias e favelas. Disponível em: <https://g1.globo.com/especial-
publicitario/em-movimento/noticia/brasil-busca-recuperar-tempo-perdido-em-
planejamento-urbano.ghtml>. Acesso em: 10 jul. 2022.

Em suma, a urbanização não é um problema em si que se justifica com a


extensa migração do campo para a cidade. O problema emerge quando o
crescimento econômico – advindo do avanço da industrialização – não se
materializa em um planejamento para dar o suporte necessário aos “novos
trabalhadores”. As desigualdades sociais que se intensificam nesse processo
trouxeram tamanhas consequências que a política pública urbana
posteriormente implementada não deu conta de mitigar.
Após compreender a relação entre industrialização e urbanização, e as
consequências da falta de planejamento urbano, a seguir adentram-se aos
aspectos econômicos e sociais das disparidades regionais do Brasil.

10
TEMA 4 – ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DAS DISPARIDADES
REGIONAIS DO BRASIL

Créditos: Pedro Vilas Boas/Shutterstock.

Conforme vimos até aqui, ao longo de quase um século, entre 1880 e


1970, a ocupação do território brasileiro foi, em larga medida, comandada pelos
desígnios do desenvolvimento industrial. Logo, as transformações na indústria
apresentam efeitos de extrema relevância para o debate sobre as disparidades
regionais no país.
A indústria ditou rumos e ritmos da urbanização, da expansão de setores
agrícolas, de serviços e comércio. O acelerado crescimento das atividades
produtivas na Região Sudeste – com epicentro em São Paulo – levou, do ponto
de vista do país como um todo, a um nível bastante elevado de desigualdade
regional da atividade econômica – a exemplo do PIB da Região Sudeste nos

11
anos 1970, que atingiu um máximo de 65,5%. Em 2015, mesmo com uma queda,
esse dado foi de 54% (Neto; Silva; Severian, 2020).
Para além do PIB, outros indicadores revelam as disparidades regionais
no Brasil, a exemplo do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM),
conforme demonstra o gráfico a seguir:

Gráfico 2 – IDHM 2017

Distrito Federal
São Paulo
Santa Catarina
Rio de Janeiro
Paraná
Rio Grande do Sul
Minas Gerais
Mato Grosso
Espírito Santo
Goiás
Mato Grosso do Sul
Roraima
Tocantins
Amapá
Ceará
Amazonas
Rio Grande do Norte
Pernambuco
Rondônia
Paraíba
Acre
Bahia
Sergipe
Pará
Piauí
Maranhão
Alagoas

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

Fonte: Elaborado com base em Atlas Brasil.

Tal como o IDH, o IDHM varia entre zero e um, de modo que quanto mais
próximo de um, melhor tende a ser o desenvolvimento humano naquele território.
Conforme é possível observar no gráfico acima, com exceção do Distrito Federal,
as unidades da federação que apresentaram as médias mais altas do IDHM
pertencem às regiões Sul e Sudeste: São Paulo (0,826), Santa Catarina (0,808),
Rio de Janeiro (0,796), Paraná (0,792) e Rio Grande do Sul (0,787). Todos esses
Estados ficaram acima da média nacional, que em 2017 foi de 0,778.

12
No outro extremo, temos os Estados do Norte e Nordeste apresentando
baixos índices de desenvolvimento humano: Alagoas (0,683), Maranhão (0,687),
Piauí (0,697), Pará (0,698), Sergipe (0,702) e Bahia (0,714). Todos esses
Estados apresentaram o IDHM inferior à média nacional em 2017.
Para além do IDHM, outro indicador que coloca em evidência a
desigualdade regional é o percentual da população em extrema pobreza,
conforme demonstra o gráfico a seguir:

Gráfico 3 – Percentual da população extremamente pobre (2017)

15,62
14,05
13,27
12,71
12,39
11,58
10,71
10,59
10,54
9,69
9,34
7,98
7,65
6,22
5,12
4,57
4,14
4,4
3,39
3,38
2,94
2,85
2,76
2,65
2,56
2,35
1,54

Fonte: Elaborado com base em Atlas Brasil.

A desigualdade social que se materializa também na desigualdade de


renda corrobora o cenário visto até aqui de disparidade regional. Novamente, as
unidades da federação que apresentam os melhores indicadores pertencem às
regiões Sul e Sudeste. No outro extremo, os Estados que apresentam
percentuais mais expressivos de pobreza estão nas regiões Norte e Nordeste.
Em Santa Catarina, no ano de 2017, 1,54% da população se encontrava em
condições de extrema pobreza. Em contrapartida, no Maranhão, para o mesmo
ano, esse dado foi de 15,62%.
Após compreender alguns aspectos econômicos e sociais das
disparidades regionais no Brasil, a seguir, este conteúdo tem continuidade com
ênfase no desenvolvimento desigual.

13
TEMA 5 – NORTE, NORDESTE, CENTRO-OESTE, SUDESTE E SUL:
DESENVOLVIMENTO DESIGUAL

Créditos: SGSpann/Shutterstock.

Talvez você esteja se perguntando: no que consiste esse


desenvolvimento desigual? Se o Brasil é uma nação em desenvolvimento,
quando há crescimento nacional do PIB, não deveria esse benefício contemplar
a todos? Por que algumas regiões apresentam melhores indicadores de
desenvolvimento, ao passo que em outras esse gargalo é tão gritante?
Para compreender o desenvolvimento desigual, é preciso relembrar a
diferença que quando falamos em desenvolvimento, “o importante não é apenas
a magnitude da expansão da produção representada pela evolução do PIB, mas
também a natureza e a qualidade desse crescimento” (Gremaud; Vasconcelos;
Júnior, 2008, p. 58).

14
E conforme evidenciamos até aqui, as diferentes regiões brasileiras
apresentam índices muito discrepantes no que se refere ao desenvolvimento
humano. Por ser um indicador amplo, é possível afirmar que esse
desenvolvimento desigual perpassa diversas esferas, tais como saúde,
educação, renda, e claro a qualidade de vida como um todo.
Quando se fala das desigualdades socioeconômicas, então se trata
daquelas produzidas pelo capitalismo e não simplesmente das diferenças
próprias aos vários espaços geográficos. Theis, Strelow e Lasta (2017) reiteram
que para se compreender o desenvolvimento geográfico desigual, basta
observar a ocupação dos variados espaços no território, visto que o capital busca
o que se chama de ajuste espacial:

Ignoram-se espaços e regiões não promissores, preferindo-se aqueles


mais atrativos, que contêm um conjunto de fatores que propiciam altas
taxas de lucro (exército industrial de reserva, facilidades de transportes
e escoamento da produção, matéria prima barata e abundante, apoio
do Estado, entre tantos outros). Esse processo desemboca na
formação de regiões perdedoras e regiões ganhadoras. Dito de outra
forma: enquanto algumas regiões crescem a altas taxas (porque
concentram investimentos, universidades, ciência e tecnologia,
indicadores sociais elevados e demais facilidades), outras
experimentam estagnação (recebem poucos investimentos,
concentram pobreza etc.). Essas diferenças vêm crescendo no
território, produzindo uma paisagem que não encontra melhor nome do
que desenvolvimento geográfico desigual. (Theis; Strelow, Lasta,
2017, p. 144)

Outro dado que ilustra esse desenvolvimento geográfico desigual é o


rendimento médio da população ocupada. O gráfico a seguir revela esse
indicador em valores correntes (R$) no ano de 2010:

15
Gráfico 4 – Rendimento Médio da População Ocupada (2010)

1600

1400

1200

1000

800

600

400

200

0
Nordeste Norte Centro Oeste Sul Sudeste

Fonte: Elaborado com base em Atlas Brasil.

Observando o gráfico, é possível perceber que em 2010 o rendimento


médio da população ocupada no Nordeste ficava próximo de R$ 800,00 ao passo
que na Região Sudeste o rendimento médio era de R$ 1.400,00. Ou seja, um
trabalhador que exerce 8h por dia de trabalho na Região Sudeste ganha em
média 75% a mais do que um trabalhador com a mesma jornada diária residente
no Nordeste.
É claro que aqui estamos fazendo uma média, pois na Região Sudeste
também há extrema pobreza, assim como no Nordeste há pessoas com alto
poder aquisitivo. De todo modo, observando esses dados, não há como negar a
distribuição espacialmente desigual do PIB, muito menos que a acumulação de
capital tende a privilegiar determinadas regiões.

TROCANDO IDEIAS

Estamos chegando ao final desta etapa, e a fim de aprofundar ainda mais


sua compreensão sobre as disparidades que perpassam o desenvolvimento
regional, convido você a ler a pesquisa realizada por Theis, Strelow e Lasta
(2017), na qual os autores buscam responder a seguinte questão: é possível
outro modelo de desenvolvimento? Disponível em:

16
<https://www.redalyc.org/pdf/4966/496654014005.pdf>. Acesso em: 10 jul.
2022.

NA PRÁTICA

Analise o gráfico a seguir que demonstra o PIB a preços correntes das


grandes regiões brasileiras no período de 2000 a 2012 (em mil reais).

Fonte: IBGE, 2015.

Com base na problemática que se evidenciou ao longo desta etapa sobre


o desenvolvimento desigual, responda as seguintes perguntas:

1) O PIB a preços correntes apresentou crescimento no período analisado?


2) Em algum momento foi possível observar redução da desigualdade
regional?

A resposta está na seção Gabarito, após as referências.

17
FINALIZANDO

O objetivo desta etapa aqui foi adentrar em algumas especificidades


regionais brasileiras com ênfase no desenvolvimento desigual. Inicialmente,
vimos como o processo de industrialização e o deslocamento do centro dinâmico
– do agroexportador para o urbano industrial – intensificou a urbanização e a
concentração industrial no Brasil.
Na sequência, foi possível compreender alguns aspectos econômicos e
sociais das disparidades regionais do Brasil e as dimensões pontuais do
desenvolvimento geográfico desigual.
Talvez você esteja se questionando: é possível reverter esse quadro de
desigualdade regional? Essa não é uma resposta simples. Mas, ao longo do
estudo, veremos alguns esforços feitos até então no âmbito da política pública
para minimizar o desenvolvimento desigual.

18
REFERÊNCIAS

BRAGA, A. C. Governança democrática no Conselho Municipal da Cidade


de Curitiba: presença e voz dos atores sociais. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Sociais Aplicadas, Programa
de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Curitiba, 2015.

CANO, W. Desequilíbrios Regionais e concentração industrial no Brasil:


1930-1970. São Paulo: Global, 1985.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 23. ed., São Paulo: Nacional,


1989.

GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JÚNIOR, R. Economia


Brasileira Contemporânea. Atlas, 2011.

IPEA. Brasil em desenvolvimento: estado, planejamento e políticas públicas.


Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2009. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/Livro_BrasilDesenvEN_Vol04.pd
f>. Acesso em: 10 jul. 2022.

NETO, A. M.; SILVA, R. de O.; SEVERIAN, D. Perfil e dinâmica das


desigualdades regionais do Brasil em territórios industriais relevantes. Ipea,
2020. Disponível em:
<http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/10206/1/PerfilDin%C3%A2miDei
gualRegionais.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2022.

SAMPAIO, D. P. Desindustrialização e desenvolvimento regional no Brasil


(1985-2015). Ipea, 2017. Disponível em:
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9056/1/Desindustrializa%C3%A7
%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2022.

THEIS, I. M.; STRELOW, D. R.; LASTA, T. T. Ct&I e desenvolvimento desigual


no Brasil: é possível outro “modelo de desenvolvimento”? Revista Tecnologia e
Sociedade, Curitiba, v. 13, n. 27, p. 43-61, jan./abr. 2017. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/pdf/4966/496654014005.pdf>. Acesso em: 10 jul.
2022.

19
GABARITO

Resposta: É possível constatar o crescimento do PIB a preços correntes


entre 2000 a 2012, tal como a concentração geográfica dessas riquezas. Ou
seja, o crescimento apresentado não se materializou na redução da
desigualdade regional. Os Estados da Região Sudeste detinham mais da metade
da produção nacional, tanto em 2000 (58%) quanto em 2012 (55%).

20
ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 5

Profª Rossandra Oliveira Maciel de Bitencourt


CONVERSA INICIAL

O objetivo desta etapa é adentrar na importância das políticas de


desenvolvimento regional no Brasil, com ênfase no papel desempenhado pelo
Estado na luta pela redução das desigualdades regionais. Para isso,
inicialmente, observa-se, em uma trajetória histórica, o reconhecimento
institucional dos problemas regionais no Brasil. Na sequência, é apresentado
como se dá o funcionamento das superintendências regionais de
desenvolvimento e o contexto no qual foram criadas. Não menos relevante,
também, é a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), cujos
avanços e desafios serão aqui pontuados. E, por fim, analisa-se brevemente o
processo de desindustrialização em curso no Brasil e as suas consequências
para o desenvolvimento regional. Bons estudos!

CONTEXTUALIZANDO

O acirramento do processo de desindustrialização no país é um


sintoma presente. Em setembro [de 2021], a norte-americana Ford
fechou a fábrica da Troller em Horizonte, região metropolitana de
Fortaleza (CE), deixando 446 trabalhadores desempregados. Essa
medida finalizou a saída da empresa do Brasil, anunciada no começo
daquele ano. Com a transferência de sua produção para a Argentina,
foram fechadas também suas unidades em Camaçari (BA) e Taubaté
(SP), com a demissão de 5.000 pessoas. E a Ford não foi a única. Nos
últimos dois anos, as montadoras alemãs Mercedes-Benz e Audi, as
farmacêuticas Roche (Suíça) e Eli Lily (EUA) e a empresa de
eletroeletrônicos japonesa Sony também anunciaram sua saída do
Brasil.
[...]
Dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi)
mostram que o setor manufatureiro atingiu mínimas históricas na
pandemia. A indústria de transformação (que envolve tecnologia para
transformar matéria prima em produto final) caiu de uma participação
de 11,79% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 para 11,30% do
PIB em preços correntes em 2020, o menor patamar desde 1947,
quando se dá início a série histórica das contas nacionais calculada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (Oliveira,
2021)

Continue a leitura do texto anteriormente citado em:


<https://brasil.elpais.com/economia/2021-12-07/o-brasil-vai-virar-uma-grande-
fazenda-um-pais-em-acelerada-desindustrializacao.html>. Acesso em: 18 ago.
2022 (Oliveira, 2021).

2
TEMA 1 – RECONHECIMENTO INSTITUCIONAL DOS PROBLEMAS
REGIONAIS

Crédito: Minko Peev/Shutterstock.

As disparidades regionais no Brasil não nasceram com a industrialização:


elas existem mesmo antes da Proclamação da República. Contudo, será
enfatizada, aqui, a preocupação que emerge especialmente a partir dos anos
1930, tendo em vista as mudanças importantes que aconteceram nos aspectos
políticos e econômicos brasileiros:

No aspecto político, houve uma ruptura na sequência de presidentes


diretamente apoiados pelos estados de São Paulo e Minas Gerais, a
política informal do “café com leite” no âmbito federativo, o poder, antes
pulverizado pelas oligarquias regionais, se tornou cada vez mais
centralizado na figura do presidente e do governo federal; no âmbito
econômico, as incipientes indústrias surgidas da renda gerada pelo
café em São Paulo, vendo a sua demanda aumentada pelo
estrangulamento da oferta externa de produtos, aumentaram sua
produção, num processo de substituição de importações que levaria o
país a um novo ciclo econômico, de significativa atuação do Estado na
economia. (Portugal; Silva, 2020, p. 30)

Em meio a esse cenário, um importante reconhecimento institucional de


um intenso problema regional se deu por meio da Constituição Federal de 1934,
que passa a compreender o combate ao problema das secas como uma
prioridade ao propor, no seu art. 177, a formação de um plano permanente, a

3
cargo da União, contra os efeitos desse fenômeno, que recaíam, principalmente,
sobre o Nordeste (Brasil, 1934; Portugal; Silva, 2020).
Outros avanços foram conquistados a partir da década de 1940, quando
o Estado intensificou a promoção da ocupação econômica e do povoamento das
Regiões Amazônica e Centro-Oeste; e, a partir dos anos 1950, com a
dinamização econômica do Nordeste. Todas essas regiões eram, até então,
fracamente articuladas, do ponto de vista de suas economias. O intuito disso era
possibilitar a expansão do capitalismo em direção às áreas ditas atrasadas, por
meio da modernização de sua base econômica. Em 1951, com Getúlio Vargas
de volta ao poder, foi criada a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, que
formulou projetos envolvendo infraestrutura, agricultura, Administração Pública.
Em 1952, funda-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), cujo foco principal era atuar na infraestrutura econômica do país,
financiando projetos em setores como estradas de ferro, portos e redes de
energia elétrica (Portugal; Silva, 2020).
Aquele foi um período marcado mundialmente pela ascensão do
keynesianismo, associado ao ideário de intervenção estatal. O Estado, dotado
de autonomia, ganhou centralidade e protagonismo no âmbito do planejamento
público, promovendo investimentos sólidos nas políticas voltadas para o
desenvolvimento socioeconômico dos países. Toda essa conjuntura teórica
influenciou a ação do Estado no que concerne à questão regional brasileira. A
integração nacional – antes concebida como interligação geográfica de porções
espaciais do território nacional –, bem como a ocupação demográfica e
econômica de vazios territoriais, sob um certo discurso civilizatório, passaram a
ter um caráter mais forte de segurança nacional e de integração dos mercados
regionais (Portugal; Silva, 2020).
Em linhas gerais, a partir dos anos 1950, a literatura econômica brasileira
passa a acumular discussões sobre a questão regional porque não era mais
possível pensar no desenvolvimento do Brasil sem pensar no desenvolvimento
das suas diferentes regiões e na sua integração produtiva. Dando continuidade
a esse reconhecimento institucional da problemática regional, a seguir serão
apresentadas as superintendências regionais de desenvolvimento que foram
criadas no Brasil.

4
TEMA 2 – SUPERINTENDÊNCIAS REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO

Crédito: AlexLMX/Shutterstock.

Mais precisamente a partir dos anos 1930, com o deslocamento do centro


dinâmico do país, foram se formando as diferentes dinâmicas regionais no Brasil,
cuja base industrial se encontrava em São Paulo. Houve desde esse tempo a
intensificação da articulação comercial entre as regiões, isso resultando numa
integração produtiva, mesmo com profundas disparidades regionais. A proposta
do Estado na busca de solução para os desequilíbrios regionais passou então
pela criação das autarquias de desenvolvimento regional (Goularti Filho;
Messias; Almeida, 2012).
Mais precisamente na segunda metade dos anos de 1960, um movimento
nacional de fortalecimento de órgãos de desenvolvimento regional se
materializou em fundação de autarquias que se tornaram grandes instrumentos
estatais para promover o desenvolvimento, com a criação das seguintes
superintendências:

• Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), criada em


1968;
• Superintendência do Desenvolvimento da Região Sul (Sudesul), criada
em 1967;

5
• Superintendência de Desenvolvimento da Região Centro-Oeste
(Sudeco), criada em 1967;
• Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), criada em
1959.

Da mesma forma que a grande importância do Sudeste para o


crescimento econômico do país acabou concentrando os investimentos estatais
realizados após 1950, o baixo grau de desenvolvimento das Regiões Norte e
Nordeste atraiu a distribuição dos recursos entre as autarquias para o
desenvolvimento de políticas regionais, canalizados em grande parte para a
Sudene, conforme demonstra a Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Participação das autarquias nas receitas totais no período 1970-1989


(em %)

Fonte: Goularti Filho; Messias; Almeida, 2012.


6
É compreensível que a Sudene tenha recebido a maior parte dos recursos
destinados às autarquias de desenvolvimento regional, já que a intenção era
diminuir as disparidades entre as regiões. A média da participação das receitas
da Sudene no somatório das receitas totais das quatro autarquias, no período
1970-1989, é de 72% (Goularti Filho; Messias; Almeida, 2012).
Segundo Goularti Filho, Messias e Almeida (2012), as superintendências
de desenvolvimento regional foram criadas inicialmente como uma forma de
diminuir as disparidades regionais. Ao longo de suas trajetórias, outros objetivos
podem ser claramente observados, como garantir a soberania nacional e
proteger as fronteiras do país, por meio da ocupação de cada área
superintendida, e explorar os recursos naturais dessas áreas. Em 1989 se iniciou
o processo de extinção da Sudesul e da Sudeco, o que ocorreu efetivamente em
1990. A Sudam e a Sudene vieram a ser extintas em 2001. Desse modo, as
políticas de desenvolvimento local assim substituíram as de desenvolvimento
regional, na ingênua esperança de que a capacidade endógena de cada
localidade fosse suficiente para promover o desenvolvimento harmônico de todo
o Brasil (Goularti Filho; Messias; Almeida, 2012).
Após compreender a relevância das superintendências para o
desenvolvimento socioeconômico e a redução da desigualdade regional, a
seguir adentra-se na importância da PNDR.

TEMA 3 – A POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL


(PNDR)

Fonte: Política, 2020.

7
A PNDR pode ser dividida em duas fases: PNDR I, que vigorou entre 2003
a 2011; e PNDR II, que vigora desde 2012. A partir de 2003 ocorre, com isso, a
consolidação de um esforço de repensar a política regional brasileira, com o
lançamento da PNDR pelo então Ministério da Integração Nacional.
Inicialmente, a PNDR teve dois objetivos principais (Resende et al., 2015):

1. reduzir as desigualdades regionais;


2. ativar as potencialidades de desenvolvimento das regiões brasileiras,
atuando nos territórios que interessam menos aos agentes do mercado,
valorizando as diversidades locais.

O arranjo de articulação institucional para implementação da PNDR, em


2003, propôs três escalas de coordenação: em nível federal, macrorregional e
sub-regional. Dois outros pontos importantes da proposta da PNDR eram
(Resende et al., 2015):

• a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), que


permitiria à política contar com uma maior fonte de recursos, capaz de
financiar territórios para além das macrorregiões tradicionalmente
apoiadas, bem como dispor de recursos não reembolsáveis, para apoiar
ações estratégicas;
• a criação da Câmara de Políticas de Integração Nacional e
Desenvolvimento Regional, que teve um papel crucial de coordenação e
de articulação das políticas setoriais nos territórios menos desenvolvidos.

Em 2012, a Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional (CNDR)


definiu os princípios e as diretrizes para a PNDR II (Resende et al., 2015), a
saber:

• sustentar uma trajetória de reversão das desigualdades regionais,


valorizando os recursos endógenos e as especificidades culturais, sociais,
econômicas e ambientais;
• criar condições de acesso mais justo e equilibrado aos bens e aos
serviços públicos no território brasileiro, reduzindo as desigualdades de
oportunidades, vinculadas ao local de nascimento e de moradia dos
indivíduos.

Em sua segunda fase, a PNDR modernizou a sua percepção sobre o


desafio do desenvolvimento regional do país. A PNDR foi atualizada pelo

8
Decreto n. 9.810/2019, representando um instrumento legal que baliza a ação
do governo federal em busca da redução das desigualdades regionais,
econômicas e sociais, por meio da criação de oportunidades de desenvolvimento
que resultem em crescimento econômico, geração de renda e melhoria da
qualidade de vida da população, com base em quatro objetivos prioritários:

I - Promover a convergência dos níveis de desenvolvimento e de


qualidade de vida inter e intrarregiões brasileiras e a equidade no
acesso a oportunidades de desenvolvimento em regiões que
apresentem baixos indicadores socioeconômicos;
II - Consolidar uma rede policêntrica de cidades, em apoio à
desconcentração e à interiorização do desenvolvimento regional e do
País, considerando as especificidades de cada região;
III - Estimular ganhos de produtividade e aumentos da competitividade
regional, sobretudo em regiões que apresentem declínio populacional
e elevadas taxas de emigração;
IV - Fomentar agregação de valor e diversificação econômica em
cadeias produtivas estratégicas para o desenvolvimento regional,
observando critérios como geração de renda e sustentabilidade,
sobretudo em regiões com forte especialização na produção de
commodities agrícolas ou minerais.
[...]
As intervenções pretendidas pela Política, em consonância com os
objetivos prioritários acima descritos, têm como eixos setoriais de
intervenção:
I - desenvolvimento produtivo;
II - ciência, tecnologia e inovação;
III - educação e qualificação profissional;
IV - infraestruturas econômica e urbana;
V - desenvolvimento social e acesso a serviços públicos essenciais;
VI - fortalecimento das capacidades governativas dos entes
subnacionais (Política, 2020).

Assim sendo, na PNDR se considera que

O Desenvolvimento Regional não pode ser compreendido de forma


unidimensional. É preciso reconhecer as desigualdades regionais em
múltiplas escalas de intervenção, e orientar políticas e programas que
promovam o desenvolvimento territorial por meio de instrumentos
adequados ao trabalho multiescalar, de modo a facilitar a cooperação
federativa e a coordenação horizontal do governo federal para sua
efetiva implementação. (Política, 2020)

Saiba mais
Para conhecer as estratégias de alcance da PNDR, acesse e leia a
matéria completa disponível no seguinte link: <https://www.gov.br/mdr/pt-
br/assuntos/desenvolvimento-regional/pndr> (Política, 2020).

Em suma, a PNDR admitiu que vários aspectos deveriam ser


enfrentados, sendo a melhoria do nível de renda das populações uma condição
necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento – daí a intenção de se

9
promover a articulação das políticas setoriais com vistas a superar as
desigualdades de dimensão regional.
Após se compreender os aspectos centrais da PNDR, a seguir faz-se um
balanço dos avanços das políticas de desenvolvimento regional no Brasil.

TEMA 4 – BALANÇO DOS AVANÇOS DAS POLÍTICAS DE


DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Ao longo da trajetória de preocupação com a redução das desigualdades


regionais, o próprio conceito de política regional foi se modificando. O Estado
começa a ser visto de forma mais ampla, nas suas ações para o
desenvolvimento socioeconômico: ele é um ofertante de serviços públicos, é um
regulador da iniciativa privada e, no aspecto federativo, regula e coopera com as
ações de estados e municípios (Portugal; Silva, 2020).
Mesmo no que tange à economia, o emprego deixa de ser a única variável
social do desenvolvimento citado no discurso econômico. O acesso ao crédito,
a pavimentação de ruas e rodovias e a segurança jurídica, serviços comumente
identificados como meios para o crescimento produtivo, também podem ser
vistos como fins para a garantia de direitos:

Asfaltar vias pode levar dignidade, ser um caminho para o acesso ao


saneamento básico e não apenas uma conexão entre produtor e
consumidor. Conceder microcrédito pode levar à redução da pobreza
extrema e à melhoria de indicadores sociais, mesmo que isso não
signifique crescimento do produto interno bruto (PIB), um indicador de
riqueza. E segurança jurídica resguarda o direito não somente da
propriedade privada para o livre comércio, mas também para
reequilibrar relações desiguais territoriais ou de poder. Da mesma
maneira, o acesso a serviços públicos básicos passa a contar com a
questão da qualidade de tais serviços e como melhorar a distribuição
de poder e de riquezas entre os diferentes grupos sociais, o que
interfere nos níveis de igualdade socioeconômica. (Portugal; Silva,
2020, p. 100)

Especialmente com a PNDR, é possível notar que a ênfase mudou para


uma natureza multidimensional, ou seja, para a concepção de que várias
dimensões afetam a qualidade de vida e diferenciam as regiões, em uma
abordagem que inclui tanto os fatores ligados à inclusão social e à
sustentabilidade ambiental como aqueles associados à competitividade e à
produtividade econômica (Portugal; Silva, 2020).
Contudo, apesar de todos os avanços vistos no âmbito teórico, muitas
políticas falham em seus objetivos, a exemplo da PNDR, visto que, ao longo de

10
sua trajetória, não houve a sua consolidação por meio de um marco normativo
com maiores vínculos jurídicos, com força de lei. Ademais, na prática, a questão
regional não entrou na agenda de prioridades do governo federal, e os planos
regionais de desenvolvimento, que deveriam guiar o processo, não foram
instituídos, uma vez que os documentos elaborados não percorreram os
caminhos determinados pelas leis complementares, ou seja, não passaram por
necessária tramitação no Congresso Nacional (Portugal; Silva, 2020).
Em linhas gerais, o Estado seguiu caminhos que marginalizaram as
políticas de desenvolvimento regional. Porém, se visto de forma integral, as
ações governamentais contribuíram para a melhoria de vida nas regiões
brasileiras, enfrentando múltiplas dimensões do problema. Já no que se refere à
industrialização, conforme veremos a seguir, essa não pôde ser o foco do
Estado, dado o ambiente de desindustrialização que se iniciou no Brasil desde
os anos 1980.

TEMA 5 – DESINDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Crédito: Photomarine/Shutterstock.

A temática da desindustrialização no Brasil constitui uma controvérsia


desde o final do século XX. Ela pode ser entendida, resumidamente, como a
redução, no longo prazo, do peso da indústria de transformação no produto

11
interno bruto (PIB) em um determinado espaço econômico, geralmente nacional
(Sampaio, 2017). Apesar do debate sobre o processo de desindustrialização do
país ter se acendido na década de 1980, foi após o período de 2008-2009 que
ele ganhou força. Isso se deve, principalmente, à queda significativa da
participação da indústria de transformação no PIB brasileiro, à redução da
participação do emprego industrial no emprego total, à maior participação das
commodities nas exportações e ao aumento das importações de bens
manufaturados.
Em linhas gerais, a indústria se deteriorou devido à ausência de políticas
industriais e de desenvolvimento. Acrescentam-se, ainda, a isso, os juros
elevados, a falta de investimento, o câmbio valorizado e a abertura comercial.
Nesse âmbito, Cano (2012) elenca quatro fatores responsáveis por desencadear
a desindustrialização precoce no Brasil:

1. política cambial instaurada a partir do Plano Real, com câmbio


excessivamente valorizado, diminuindo a competitividade internacional da
indústria nacional;
2. abertura comercial desregrada a partir de 1989, que, juntamente com o
câmbio valorizado, reduziu o grau de proteção da indústria nacional
perante a concorrência internacional;
3. taxa de juros elevada, inibindo o investimento e deixando a indústria
vulnerável;
4. investimento direto estrangeiro.

Apesar de a balança comercial brasileira apresentar estabilidade nas duas


primeiras décadas do século XXI, o saldo positivo não implica reconhecer que
estamos em uma linha ascendente de industrialização, progresso técnico e
desenvolvimento. Em linhas gerais, as exportações que incluem produtos
primários se expandem em um ritmo elevado, representando o dobro das
exportações industriais. No âmbito das importações, a dependência externa se
acentua, visto que ainda importamos prioritariamente produtos de médio-alta e
de alta tecnologia (Bitencourt; Gondin, 2019).
Conforme demonstra a Tabela 2 a seguir, nos anos 1970, estendendo-se
até 1985, tem início uma desconcentração produtiva regional, tendo em vista que
São Paulo teve taxas de crescimento elevadas, porém as taxas das demais
regiões do país foram superiores. Ao final daquela década, o país detinha uma
estrutura industrial diversificada, nacionalmente integrada no padrão tecnológico
12
da Segunda Revolução Industrial. A partir de 1985, as taxas de crescimento
foram reduzidas.

Tabela 2 – Brasil: participação relativa no PIB e no valor de transformação


industrial (VTI) regional (%)

Fonte: Sampaio, 2017, p. 377-378.

Talvez você esteja se perguntando: qual a relação entre


desindustrialização e aumento das desigualdades regionais? Sampaio (2017)
demonstra que a desindustrialização precoce no Brasil teve impactos regionais
relevantes, aumentando os desafios para as políticas de desenvolvimento
regional, especialmente no contexto de crise que envolve a geração de
condições para a retomada do Estado como agente coordenador do
desenvolvimento, da redução das desigualdades e da articulação de cadeias
produtivas e regionais.

TROCANDO IDEIAS

Para aprofundar sua compreensão sobre as consequências da


desindustrialização, convidamos você a ler a reportagem publicada pelo jornal
El País, problematizando o acelerado processo de desindustrialização pelo qual
passa o Brasil, disponível em: <https://brasil.elpais.com/economia/2021-12-07/o-

13
brasil-vai-virar-uma-grande-fazenda-um-pais-em-acelerada-
desindustrializacao.html>. Acesso em 18 ago. 2022 (Oliveira, 2021).

NA PRÁTICA

Analise o Gráfico 1 a seguir, que demonstra o número de postos de


trabalho da indústria entre 2010-2019, no Brasil.

Gráfico 1 – Número de postos de trabalho na indústria nacional

Fonte: IBGE.

Com base na análise do Gráfico 1, descreva as consequências possíveis


da redução no número de postos de trabalho na indústria para as economias
regionais no país.

FINALIZANDO

Chegamos ao final desta etapa. O objetivo foi entender com mais


especificidade as políticas de desenvolvimento regional no Brasil, com ênfase no
papel desempenhado pelo Estado na luta pela redução das desigualdades
regionais. Inicialmente, observou-se, em uma trajetória histórica, o
reconhecimento institucional dos problemas regionais no Brasil. Na sequência,
14
foram apresentadas as superintendências regionais de desenvolvimento e o
contexto no qual foram criadas a Sudam, a Sudesul, a Sudeco e a Sudene.
Também vimos com mais detalhes a PNDR, em suas fases I e II. Apesar
dos avanços vistos no âmbito teórico, a PNDR ainda falha em boa parte de seus
objetivos. E, por fim, foi possível compreender a relação entre o processo de
desindustrialização no Brasil e as suas consequências para o desenvolvimento
regional, aumentando o desafio do Estado a esse respeito, bem como das
políticas regionais de desenvolvimento.

15
REFERÊNCIAS

BITENCOURT, R. O. M. de; GONDIN, P. R. Internacionalização,


desindustrialização precoce e subdesenvolvimento recente sob a ótica de
Furtado. Revista Catarinense de Economia, v. 3, n. 2, 2019. Disponível em:
<https://www.apec.pro.br/rce/index.php/rce/article/view/71/54>. Acesso em: 11
jul. 2022.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho


de 1934. Diário Oficial, Rio de Janeiro, 16 jul. 1934. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm>. Acesso
em: 11 jul. 2022.

CANO, W. A desindustrialização no Brasil. Economia e Sociedade, Campinas,


v. 21, n. 4, p. 831-851, 2012. Disponível em:
<https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8642273/974
8>. Acesso em: 11 jul. 2022.

GOULARTI FILHO, A.; MESSIAS, T. A; ALMEIDA, A. Estado e desenvolvimento


regional: uma análise comparativa da trajetória financeira das superintendências
regionais de desenvolvimento no Brasil 1970-1989. In: ENCONTRO DE
ECONOMIA CATARINENSE, 6., 2012, Joinville. Anais... Joinville: Apec, 2012.

RESENDE, G. M. et al. Brasil: dez anos da Política Nacional de Desenvolvimento


Regional (PNDR). Boletim Regional, Urbano e Ambiental, v. 11, jan./jun. 2015.

OLIVEIRA, R. “Vamos virar uma grande fazenda”: Brasil vive acelerada


desindustrialização. El País, 7 dez. 2021. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/economia/2021-12-07/o-brasil-vai-virar-uma-grande-
fazenda-um-pais-em-acelerada-desindustrializacao.html>. Acesso em: 11 jul.
2022.

POLÍTICA Nacional de Desenvolvimento Regional. Ministério do


Desenvolvimento Regional, 6 fev. 2020. Disponível em:
<https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/desenvolvimento-regional/pndr>.
Acesso em: 11 jul. 2022.

PORTUGAL, R.; SILVA, S. A. da. História das políticas regionais no Brasil.


2002. Brasília: Ipea, 2020. Disponível em:

16
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/201014_livro_
historias_das_politicas_regionais_no_brasil.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2022.

SAMPAIO, D. P. Desindustrialização e desenvolvimento regional no Brasil


(1985-2015). In: MONTEIRO NETO, A.; CASTRO, C. N. de; BRANDÃO, C. A.
(Org.). Desenvolvimento regional no Brasil: políticas, estratégias e
perspectivas. Rio de Janeiro: Ipea, 2017. p. 369-396. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/20170213_livr
o_desenvolvimentoregional.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2022.

17
RESPOSTAS

A redução do número de postos de trabalho na indústria, que se intensifica


após 2013, acompanha o movimento de desindustrialização precoce observado
no país. O aumento do desemprego associado à desarticulação produtiva
fragiliza ainda mais as economias regionais, aumentando as desigualdades
econômicas e sociais, pois as regiões que possuem uma articulação produtiva
mais sólida e indústrias consolidadas demandam mão de obra e também pagam
salários melhores, ao passo que as regiões com menor concentração no setor
industrial tendem a ter maior informalidade na contratação de mão de obra, além
de praticarem menores salários.

18
ECONOMIA REGIONAL E
URBANA
AULA 6

Profª Rossandra Maciel de Bitencourt


CONVERSA INICIAL

O objetivo desta etapa é aprofundar sua compreensão sobre os


elementos que perpassam o planejamento regional no Brasil.
Ao longo desse conteúdo você verá a relevância dos Sistemas Regionais
de Inovação bem como dos Arranjos Produtivos Locais para fomentar o
desenvolvimento regional.
Na sequência é apresentada a trajetória da política urbana no Brasil com
ênfase nos avanços e principais desafios. E por fim, serão pontuadas
importantes lacunas no caminho para a superação das disparidades regionais
no Brasil.
Bons estudos!

CONTEXTUALIZANDO

O desenvolvimento local ou desenvolvimento territorial pode ser um


caminho para enfrentar as desigualdades econômicas e sociais de nosso tempo.
“Quando falo em desenvolvimento de território, não é pensar no
desenvolvimento de um país ou de um estado como um todo. É pensar no local,
no município ou até mesmo em regiões, bairros, partes de um município”,
esclarece Massuquetti (2018). Esse é um caminho para levar em conta as
particularidades de cada lugar, respeitando seus potenciais e limites que vão
desde culturais a econômicos e políticos.
Continue a leitura em: <https://www.ihu.unisinos.br/publicacoes/78-
noticias/578636-desenvolvimento-a-partir-do-local-e-um-caminho-para-
enfrentar-as-desigualdades>. Acesso em: 27 jul. 2022.

2
TEMA 1 – PLANEJAMENTO REGIONAL NO BRASIL

Crédito: Sergii Gnatiuk/Shutterstock.

Conforme vimos em conteúdos anteriores, o próprio conceito de política


regional se modificou com o passar dos anos. E em meio a essa trajetória, o
planejamento regional passou a incorporar novas preocupações levando em
conta a importância da integração associada às diversas dinâmicas setoriais que
perpassam cada território.
As regiões numa dada economia nacional, em cenário de baixa
integração, tornam-se ilhas de crescimento sem inter-relações de apoio dinâmico
(Neto; Brandão; Castro, 2017). Os processos de integração de mercados
nacionais se enfraquecem quando elos entre setores e entre regiões se quebram
ou se reduzem. Logo, o planejamento regional deve estar voltado para a
realidade de cada região, não como espaços isolados, mas sim na busca pelos
benefícios que a integração pode trazer.
A diversidade de trajetórias de desenvolvimento tem sido reconhecida
como bem-vinda e necessária para a maximização do aproveitamento de
oportunidades de ativos econômicos, culturais, sociais e ambientais revelados
no território nacional. Atuam sobre a diversidade de desenvolvimento políticas
públicas – setoriais, sociais, de infraestrutura etc. – e seus impactos
diferenciados nas realidades territoriais observadas (Neto; Brandão; Castro,
2017).
3
Como elementos de articulação entre a integração assumem posição
central as diversas formas e intenções da intervenção do Estado nacional. No
Brasil, esta última é conduzida por meio de princípios do federalismo. A tônica
da atuação do Estado foi tomando forma preponderante das políticas sociais e
de infraestrutura para impulsionar dinâmicas econômicas e sociais diversificadas
no território (Neto; Brandão; Castro, 2017).
Contudo, os autores acima observam que a política regional que deveria
ter papel mais relevante nas estratégias de fortalecimento do mercado nacional
e, portanto, na sua integração, continua a ter papel de menor relevância e/ou
apenas coadjuvante relativamente às políticas nacionais.
Também Portugal e Silva (2020) acrescentam que o apoio estatal ao
crescimento da produção é insuficiente para criar melhoria na qualidade de vida
das pessoas nas diferentes regiões. Logo, o desfio do planejamento regional
está primeiramente em reequipar o Estado com recursos humanos que sejam
capazes de levar a cabo a execução de planos de longo prazo, em que a regiões
brasileiras sejam personagem principal (Mendes; Metteo, 2011).
No que se refere ao planejamento regional, Gondin (2017) acrescenta que
o Estado deve atuar levando em consideração as especificidades institucionais
locais. Deve desenvolver políticas para apoiar o aumento da capacidade
tecnológica das empresas, incluindo, além do apoio ao financiamento das
atividades de investigação e desenvolvimento, esquemas de incentivo à
inovação e apoios na forma de serviço público.
Tendo em vista o panorama geral no planejamento regional no Brasil, bem
como o papel do Estado nesse processo, a seguir adentramos em uma via de
extrema relevância nesse debate que diz respeito ao Sistema Regional de
Inovação.

4
TEMA 2 – SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO

Crédito: elenabsl/Shutterstock.

Você já parou para analisar o papel da inovação na promoção do


desenvolvimento econômico regional? Certamente a inovação se constitui em
um componente fundamental na medida em que é capaz de revigorar e de
reforçar a competitividade dos produtores locais, com efeitos positivos sobre as
economias regionais. Cada vez mais – sobretudo com as crises econômicas
recorrentes, a globalização e os desafios do desenvolvimento sustentável – o
crescimento e o desenvolvimento das economias regionais dependem
crescentemente da capacidade dos agentes locais em gerar novas soluções nos
domínios econômicos e sociais (Garcia et. Al, 2020).
É a partir dessa visão e em meio a esse contexto que a abordagem dos
Sistemas Regionais de Inovação (SRI) surgiu no início dos anos de 1990. A
noção de SRI está fundamentada na literatura que confere papel fundamental
para a inovação na promoção do desenvolvimento econômico:

A abordagem dos SRI reconhece que o espaço econômico e a


proximidade geográfica entre os agentes exercem efeitos importantes
no fomento a processos de geração e disseminação de novos
conhecimentos. Uma prova disso é a distribuição desigual da inovação
entre as regiões em diversos países. (Garcia et al., 2020, p. 9)

Segundo os autores acima, após os anos 1990 a abordagem dos SRI se


tornou uma ferramenta poderosa e amplamente utilizada não só para
compreender a desigual distribuição da inovação no espaço, como também para

5
subsidiar as discussões de políticas públicas que estimulem as capacidades
inovativas das economias regionais.
O papel que o Estado assume frente à elaboração e implementação de
políticas de inovação é uma das questões essenciais para o enfoque dos
Sistemas de Inovação. Gondin (2017) afirma que a interação e a difusão de
novas tecnologias formam um sistema de inovação, e a conformação desse
sistema evidencia a importante atuação do Estado para o processo inovativo.
Desse modo, Sistema de Inovação é um instrumento de intervenção pelo
qual, governantes podem implementar políticas de Estado a fim de influenciar o
processo inovativo de setores, de regiões ou mesmo de nações. Assim, o
governo exerce papel relevante propiciando estímulos, definindo diretrizes,
gerando infraestrutura, garantindo direitos de propriedade intelectual e de troca
de conhecimento, de forma a melhorar o relacionamento entre os agentes
(Gondin, 2017).
A visão sistêmica da inovação pressupõe um processo de aprendizado
interativo entre distintos atores e a clara percepção de que o contexto regional é
decisivo para a promoção da inovação dos SRI. Estes consistem na interação
de subsistemas de geração e exploração de conhecimentos relacionados não só
aos sistemas global e nacional, como também a outros sistemas regionais para
a comercialização de novos conhecimentos (Garcia et al., 2020).
A inovação também é gerada por meio das redes regionais de inovadores,
dos clusters locais e das instituições de pesquisa. Logo, infere-se que não só as
regiões são vitais para a inovação, como também a concentração de atividades
é vantajosa para o crescimento econômico das regiões, em virtude do fato de
elas serem o local onde a capacidade inovadora é forjada e, ao mesmo tempo,
as atividades econômicas são organizadas e coordenadas (Garcia et al., 2020):

O reconhecimento de que a proximidade geográfica é fator


fundamental para a produção e a transmissão efetivas de
conhecimento reforça os atributos da região como o lócus por
excelência da coordenação econômica. Além disso, a formação de
redes e a interação entre os atores, percebidas como aspectos centrais
da inovação, têm uma grande propensão de ocorrer regionalmente.
Este caráter sistêmico da inovação em âmbito regional é ressaltado
ainda mais com a cultura regional, ou seja, um conjunto de valores,
normas, rotinas, atitudes e expectativas, que molda a maneira como as
empresas interagem umas com as outras na economia regional.
(Garcia et al., 2020, p.5)

6
O esquema a seguir ilustra as condições econômicas, sociais,
institucionais e culturais regionais que influencia o SRI:

Fonte: Garcia et al., 2020.

Conforme analisam os autores acima, esse conjunto de instituições


realizam atividades de apoio e se dedicam à geração e à disseminação de novos
conhecimentos junto às empresas locais . Além disso, é importante destacar o
papel das políticas locais, que podem se configurar como importantes
catalisadores dos processos de desenvolvimento local de capacitações e de
aprendizado interativo.
Tendo em vista a relevância do SRI para o desenvolvimento regional, a
seguir iremos compreender o papel dos arranjos produtivos locais nesse
processo.

7
TEMA 3 – ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS

Crédito: Party people studio/Shutterstock.

Seguindo a mesma interpretação do arcabouço teórico que revela os


benefícios do Sistema Regional de Inovação, os Arranjos Produtivos Locais
também são vistos como potenciais instrumentos para o desenvolvimento
regional.
O termo Arranjos Produtivos Locais (APL) é a expressão que vem
substituindo na literatura o termo em inglês cluster. Ambos significam uma
concentração local ou regional de atividades econômicas industriais, agrícolas
ou extrativas, formando cadeias produtivas em determinado setor. Conforme o
Ministério da Economia salienta (2021), APLs constituem-se em aglomerações
de empresas e empreendimentos, localizados em um mesmo território, que
apresentam especialização produtiva, algum tipo de governança e mantêm
vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com
outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições
de crédito, ensino e pesquisa.

8
Saiba mais
Segundo do Ministério da Economia, em 2021 o Brasil já possuía 839
Arranjos Produtivos Locais espalhados em todas as regiões do País, com
alcance em 2.580 municípios. Esses APLs estão distribuídos em 40 setores
produtivos com mais de 3 milhões de empregos gerados.
Continue a leitura em: <https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-
exterior/pt-br/assuntos/competitividade-industrial/arranjos-produtivos-locais-
apl>. Acesso em: 27. jul. 2022.

De acordo com a Emater (2021), os APL’s buscam como parceiros


centrais não apenas os órgãos públicos municipais, estaduais e federais, mas
também os órgãos de pesquisas e empresas privadas, pois o desenvolvimento
de qualquer cadeia produtiva está fundamentado na organização de seus
membros, no planejamento de suas atividades, na cooperação de seus atores e
parceiros, na busca e adoção de inovações tecnológicas e no protagonismo dos
participantes que atuam em sinergia.
Tal como as cooperativas, os APLs também se pautam na cooperação
como princípio básico. Contudo, a diferença é que o APL não se constitui sob a
forma de pessoa jurídica determinado por um contrato, mas sim uma
aglomeração que envolve empresas de um mesmo território. De acordo com o
SEBRAE (2017), as principais dimensões de um APL se constituem em:

• Dimensão territorial: pois atores do APL estão localizados em certa área


onde ocorre interação;
• Diversidade das atividades e dos atores: envolvendo empresários,
sindicatos, governo, instituições de ensino, instituições de pesquisa e
desenvolvimento, ONGs, instituições financeiras e de apoio;
• O conhecimento tácito: adquirido e repassado por meio da interação;
• As inovações e aprendizados interativos que surgem com base na
interação dos atores;
• A governança: liderança do APL, geralmente exercida por empresários ou
pelo seu conjunto representativo – sindicatos, associações.

Em suma, os APLs proporcionam às empresas participantes subsídios


para enfrentar o mercado acirrado, superar os desafios, as dificuldades de
acesso ao crédito e até mesmo as barreiras impostas pelo excesso de
burocracia. Um grupo de empresas fortalecidas gera uma externalidade positiva

9
na geração de emprego e renda, tornando-se um atrativo a outras empresas
para que se instalem na região, fomentando assim o desenvolvimento regional
(Simonetti; Kamimura, 2017).

Saiba mais
O Brasil possui o Observatório Brasileiro de APLs (OBAPL) que é
constituído por uma Plataforma informatizada composta por um Banco de Dados
Nacional, um Portal de divulgação de notícias e um Sistema de
Georreferenciamento denominado VISÃO. Acessando o link a seguir é possível
visualizar todos ao APLs existentes no Brasil, bem como seus respectivos
setores e localização. Disponível em:
<https://www.sistema.observatorioapl.gov.br/biblioteca/lista_apl_30-01-2022/>.
Acesso em: 27 jul. 2022.

Após compreender a relevância dos APLs para o desenvolvimento


regional, a seguir iremos avançar para os aspectos centrais da Política Urbana
no Brasil.

10
TEMA 4 – POLÍTICA URBANA NO BRASIL

Crédito: jongcreative/Shutterstock.

Conforme vimos ao longo desse estudo, a acelerada urbanização no


Brasil, especialmente após 1930, não foi acompanhada de políticas públicas
adequadas para regular o crescimento das cidades, que experimentaram um
processo de expansão urbana periférica. Em consequência, a dinâmica
econômica prevaleceu sobre o ordenamento urbano e levou à formação de áreas
metropolitanas nas quais problemas socioambientais emergiram, demandando
respostas do poder público (Santos, 2020).
Esse cenário repercutiu no aumento da demanda por moradia,
emprego, serviços de saúde, educação, saneamento básico, lazer dentre
outras necessidades básica. Dadas as limitações econômicas e a incapacidade
das gestões municipais em lidar com essas questões, observa-se um
agravamento dos problemas sociais e ambientais, com consequências diretas
na qualidade de vida da população. Diante disso, as políticas urbanas passaram
a ser implementadas pelo Estado brasileiro no intuito de orientar o
desenvolvimento urbano do país (Costa; Oliveira; Júnior, 2013).
Desse modo, as políticas públicas urbanas se materializam na forma pela
qual o Estado se estrutura para ordenar o espaço urbano. Desde a década de
1930, a migração rural-urbana desafia o poder público no sentido de aumentar a
provisão de acesso aos meios de consumo coletivo, como a infraestrutura
11
urbana e social. Essa provisão dependeu da competição por alocação de verbas
no orçamento com os demais gastos públicos, ganhando maior prioridade
apenas quando os efeitos negativos da falta de desenvolvimento urbano se
tornaram graves, o que, inclusive, suscitou diversos movimentos sociais voltados
à temática urbana, a partir da década de 1960, momento em que a população
urbana ultrapassou a rural (Santos, 2020).
Um avanço de grande relevância que marca a Política Urbana no Brasil é
o texto da Constituição Federal de 1988 quando a questão urbana deixou de ser
entendida como modernização do espaço dentro do processo de industrialização
e passou a se identificar com o direito à cidade. Após a CF/1988 é possível
identificar no Brasil os seguintes avanços normativos (Santos, 2020):

• Lei n. 10.257/2001 do Estatuto da Cidade - define que a política urbana


tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e da propriedade urbana mediante a garantia do direito às cidades
sustentáveis, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura
urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer. Essa
Lei prevê ainda a gestão democrática da cidade, a cooperação entre os
governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no
processo de urbanização, em atendimento ao interesse social.
• Lei n. 11.107/2005 dos Consórcios Públicos - regulamentou a contratação
de consórcios públicos, os quais passaram a ter personalidade jurídica,
sendo objeto de contrato, o que torna mais difícil que uma das partes o
abandone.
• Lei n. 11.124/2005 do Sistema Nacional de Habitação e Interesse Social
(SNHIS) - inaugurou uma nova política habitacional ao reconhecer que
apenas regular o mercado imobiliário não seria suficiente para ampliar a
cobertura da população com acesso ao direito social à moradia. Era
necessário subsidiar parte da produção da moradia voltada à população
de baixa renda. Para executar a política local de habitação de interesse
social foi criado o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) pela Lei n.
11.977/2009.
• Lei n. 11.445/2007 do Saneamento Ambiental e Resíduos Sólidos -
estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e resíduos
sólidos.

12
• Lei n. 12.587/2012 da Política Nacional de Mobilidade Urbana - é um
instrumento da política de desenvolvimento urbano que tem por objetivo
integrar os diferentes modos de transportes e a melhora da acessibilidade
e da mobilidade no território do município.
• Lei n. 13.089/2015 do Estatuto das Metrópoles - importante avanço
normativo para induzir melhor governança de territórios que não são
reconhecidos como entes federativos, como o caso das regiões
metropolitanas e demais aglomerados urbanos.

Frente aos avanços apresentados na política urbana, a expectativa era de


que os brasileiros estivessem vivendo em cidades mais bem ordenadas e com
melhor oferta de infraestrutura urbanística e social. Contudo, Santos (2020)
destaca que não é esse o cenário atual, pois segue em vigor o processo de
urbanização periférico que nos tem caracterizado desde o século passado, com
ampla desigualdade social.
Esse cenário reforça a necessidade de atuação do Estado no âmbito da
política urbana, bem como dos Conselhos de Direitos à Cidade, a fim de que se
concretize o que a legislação prevê para que então possa-se caminhar para a
busca de novas conquistas institucionais.
Após compreender a trajetória da política urbana no Brasil, a seguir,
discutimos alguns desafios pontuais para superar as disparidades regionais no
Brasil.

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TEMA 5 – DESAFIOS PARA SUPERAÇÃO DAS DISPARIDADES REGIONAIS

Crédito: Lightspring/Shutterstock.

Conforme vimos ao longo desse estudo as disparidades regionais no


Brasil possuem diversas vias. Logo não há apenas um caminho a percorrer para
minimizar as desigualdades, mas vários caminhos precisam ser traçados.
Um esforço essencial que se deve alimentar é a busca pela integração do
mercado nacional associado ao fomento da dinâmica das transformações
produtivas nos diversos territórios desse país. O Brasil recentemente passou por
transformações socioeconômicas com importantes impactos territoriais e suas
análises regionais ainda têm alguma dificuldade em captar plenamente a
dinâmica e, sobretudo, a direção destas transformações (Brandão, 2020).

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Ainda temos o gargalo da disparidade cujo marco são as regiões que
comandam a grande parte da produção nacional, por sua estrutura produtiva
mais densa e diversificada. A via da integração pode minimizar essa lacuna.
Em suma, no caso do Brasil, Brandão (2020) destaca que o Estado e o
pacto federativo têm enorme dificuldade para promover uma abordagem
estrutural dos problemas regionais e fazer cumprir o princípio constitucional da
redução das desigualdades regionais, sendo necessário:

• Desenvolver capacitação governativa para que as ações públicas se


tornem uma rotina introjetada nos aparelhos estatais;
• Prospectar e levar a cabo os empreendimentos estruturantes, com
capacidade de constituir ou reforçar eixos de sustentação para outro
padrão de crescimento com maior inclusão social e regional.
• Avançar em estratégias mais coordenadas e com perspectiva de longo
prazo, ao mesmo tempo com ações mais aderentes às especificidades
locais/regionais.

Associado aos direcionamentos acima, Brandão (2020) reitera que os


desafios do desenvolvimento industrial, de comércio exterior e de tecnologia e
inovação, ou seja, de competitividade autêntica no Brasil, são enormes e devem
dialogar permanentemente com a dimensão territorial dos processos
socioeconômicos.
Os meios para reduzir as barreiras espaciais e as distinções regionais
envolvem a produção de diferenciações geográficas que criam barreiras
espaciais a serem superadas. E aqui então cabe um destaque fundamental
para o papel do Estado nesse processo. Um Estado pouco comprometido com
as disparidades que se alargam entre as diferentes regiões, certamente é um
desafio considerável para que se minimizem as desigualdades.

TROCANDO IDEIAS

Estamos chegando ao final dessa etapa, e conforme vimos, segundo o


Ministério da Economia, em 2021 o Brasil já possuía 839 Arranjos Produtivos
Locais espalhados em todas as regiões do País, com alcance em 2.580
municípios. Frente a essa afirmação te convido a pesquisar qual APL existe mais
próximo do seu local de trabalho ou residência. Se não houver algum no seu

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município, busque os APLs existentes na região mais próximo ou mesmo no seu
estado.

NA PRÁTICA

Com base no conteúdo visto, descreva a diferença entre Sistema


Regional de Inovação e Arranjos Produtivos Locais.

FINALIZANDO

O objetivo aqui foi aprofundar sua compreensão sobre os elementos que


perpassam o planejamento regional no Brasil.
Vimos a relevância dos Sistemas Regionais de Inovação bem como dos
Arranjos Produtivos Locais para fomentar o desenvolvimento regional.
Na sequência foi apresentada a trajetória da política urbana no Brasil com
ênfase nos avanços e principais desafios. E, por fim, foram pontuadas as lacunas
que marcam o caminho para a superação das disparidades regionais no Brasil.

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REFERÊNCIAS

BRANDÃO, C. As ausências e os elos faltantes das análises regionais no Brasil


e a proposição de uma agenda de pesquisas de longo prazo. In:
Desenvolvimento regional no Brasil: políticas, estratégias e perspectivas.
Reio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2020. Disponível
em:<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/200619_LV_206
962_Cap.6.pdf> Acesso em: 27 jul. 2022.

COSTA, J.; OLIVEIRA, D.; JÚNIOR, N. O estado brasileiro e a política urbana:


apontamentos acerca do Estatuto da Cidade e o Plano Diretor. Sociedade e
Território – Natal. Vol. 32, N. 1, p. 174–194Jan./Jun. de 2020. Disponível em
<https://periodicos.ufrn.br/sociedadeeterritorio/article/view/18735/13040>.
Acesso em: 27 jul. 2022.

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<https://www.emater.go.gov.br/wp/arranjo-produtivo-local-apl/>. Acesso em: 27
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GARCIA, R. et al. Sistemas Regionais de Inovação: fundamentos conceituais,


aplicações empíricas, agenda de pesquisa e implicações de políticas. Texto
para Discussão. Unicamp. Instituto de Economia, Campinas, n. 394, ago. 2020.
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GONDIN, R. O processo interativo no setor de tecnologia da informação e


comunicação (TIC) em busca da inovação: uma comparação entre os polos de
Coimbra e de Curitiba. Tese, 2017. Políticas Públicas, Universidade Federal do
Paraná. Disponível em:
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MENDES, C.; MATTEO, M. Formação e Evolução do Planejamento Regional no


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Brasil. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2011.

MINISTÉRIO DA ECONOMIA. APL. 2021. Disponível em:


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17
br/assuntos/competitividade-industrial/arranjos-produtivos-locais-apl>. Acesso
em: 27 jul. 2022.

NETO. D; BRANDÃO, C.; CASTRO, C. Desenvolvimento regional brasileiro:


dilemas e perspectivas neste início de século XXI. In: Desenvolvimento
Regional no Brasil: políticas, estratégias e perspectivas. Rio de Janeiro:
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2017. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/20170213_livr
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PORTUGAL, R. SILVA, S. História das Políticas Regionais no Brasil. 2002.


Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 2020. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/201014_livro_
historias_das_politicas_regionais_no_brasil.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2022.

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periférica. Geo UERJ, Rio de Janeiro, n. 36, 2020.

SEBRAE. Arranjo produtivo local: Série Empreendimentos Coletivos. 2017.


Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/bis/arranjo-
produtivo-local-serie-empreendimentos-
coletivos,5980ce6326c0a410VgnVCM1000003b74010aRCRD>. Acesso em: 27
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SIMONETTI, E.; KAMIMURA, P. As políticas públicas direcionadas ao


desenvolvimento de arranjos produtivos locais. In: Arranjos Produtivos Locais
e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada,
2017. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/171010_livro_
arranjos_produtivos.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2022.

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GABARITO

Sistema de Inovação é um instrumento de intervenção por meio do qual,


governantes podem implementar políticas de Estado a fim de influenciar o
processo inovativo de setores, de regiões ou mesmo de nações. Já um Arranjo
Produtivo Local (APL) se constitui em uma concentração local ou regional de
atividades econômicas industriais, agrícolas ou extrativas, formando cadeias
produtivas em determinado setor.

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