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PSICOLOGIA NOTURNO - 8º PERÍODO

TEORIAS E TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS I


Prof.: MS. PATRICIA VIEIRA DE SOUZA TOIA

Fernanda Daniella de Souza Mendes

RESENHA CRÍTICA

Maceió/2018.1

Resenha Crítica
Bibliografia:

AZEVEDO, Maria Alice S. B. de. Psicoterapia breve: considerações sobre suas


características e potencialidades de aplicação na psicologia clínica comunitária
brasileira. Disponível em :<http://webcache.googleusercontent.com/search?
q=cache:http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abp/article/view/18937 > Acesso
em 14 de setembro de 2018.

Fernanda Daniella de Souza Mendes

O artigo da autora evidencia a psicoterapia breve de orientação psicanalítica,


método esse que, aos poucos, vem-se impondo no cenário do campo da saúde mental,
também faz considerações sobre o seu desenvolvimento histórico, sua conceituação,
seus aspectos técnicos e abrangência. Azevedo continua sua pesquisa se embranhando
pela histocidade da psicoterapia breve, e constata que fora lançada a partir da preocupação
de alguns psicanalistas em encontrar formas de abreviar o sofrimento de seus pacientes, a
psicoterapia breve se desenvolveu e se estendeu a outros tipos de atuação além da clínica, são
tratamentos de natureza psicológica de duração muito inferior à de uma psicanálise
clássica. A autora afirma que existe uma multiplicidade de propostas e de formas de
trabalho, desenvolvidas por diversos autores, que ela mesma abordou em seu artigo.

Ela deixa claro que as psicoterapias breves têm como principal característica, destoante
em relação às outras técnicas, a disposição espaço-temporal. Elas se distanciam da psicanálise
pela passagem ao face-a-face, e afastam-se de outras técnicas psicoterápicas pela limitação da
duração. Essa limitação, quando implícita, é compensada por uma atitude mais ativa do
terapeuta, ao passo que, quando explícita, essa compensação não é necessária. As psicoterapias
ditas breves têm como característica comum utilizarem certas modificações no enquadre e na
técnica. Porém, apesar de todas utilizarem a disposição face-a-face, o manejo do tempo é muito
variável, visto que algumas fixam prazos precisos e outras não fixam nenhum prazo. Há ainda
aquelas intermediárias com prazos bastante flexíveis.

Contudo, sob a perspectiva de Azevedo, não é só o tempo de duração que é


limitado: a psicoterapia breve é uma intervenção terapêutica com objetivos limitados,
que são estabelecidos a partir de uma compreensão diagnóstica do paciente e da
delimitação de um foco. Porém, deve-se considerar que esses objetivos sejam passíveis
de serem atingidos num espaço de tempo limitado através de determinadas estratégias
clínicas. Em “Análise terminável e interminável”, Freud aponta que o “término de uma
análise acontece quando o paciente deixa de sofrer seus sintomas, superando suas
ansiedades e inibições; também quando o analista julga que foi tornado consciente tanto
material reprimido, que foi explicitada tanta coisa inteligível, que foram vencidas tantas
resistências internas que não há necessidade de temer uma repetição do processo
patológico em apreço” . Por que só uma terapia sem prazo definido será capaz de evitar
a repetição de um processo patológico? Fédida afirma que “um tratamento analítico
pode e deve receber um fim quando instaurou no analisando as condições de uma
análise sem fim” . Quem garante que uma psicoterapia breve não poderá instaurar tal
condição?

Mesmo Freud foi cauteloso em relação ao assunto, ao propor, no caso do Homem


dos lobos, um limite de tempo para encerrar sua análise. Apesar de, no início, ter ficado
positivamente surpreso com o resultado, mais tarde ele salienta os riscos da fixação de
um limite de tempo. Embora em “Análise terminável e interminável” ele deixe a
questão em aberto ao afirmar: “empreguei a fixação de um limite de tempo também em
outros casos, e levei ainda em consideração as experiências de outros analistas”. E
continua a afirmar que “tal artifício de chantagem é eficaz desde que se acerte com o
tempo correto para ele. Mas não se pode garantir a realização completa da tarefa”. E, na
seqüência, continua: “não se pode estabelecer qualquer regra geral quanto à ocasião
correta para recorrermos a esse artifício técnico compulsório; a decisão deve ser deixada
ao tato do analista” .

Cabe perguntar o que seria realização completa da tarefa, e se qualquer


psicoterapia, breve ou não, seria capaz de tal feito. Determinar, sem avaliação caso a
caso, que todas as pessoas necessitam de terapias longas e sem prazo para terminar é
cautela ou preconceito? Gilliéron afirma que limitar a duração da terapia tem um valor
interpretativo porque se introduz a noção de realidade temporal, recordando a
problemática da castração. O enquadre do tratamento-padrão favorece a regressão, a
neurose de transferência e a resistência, descritas por Freud. O limite de tempo inibe as
satisfações regressivas, altera o benefício secundário dos sintomas. A compulsão à
repetição se modifica a partir da castração imposta pelo limite de tempo, caminhando do
princípio do prazer para o princípio da realidade. A temporalidade instituída pelo
enquadre torna-se suporte do processo transferencial, sendo que o prazo pré-
estabelecido fornece também um eixo para o trabalho de perlaboração. Não há por que
evitar ativamente a neurose de transferência, uma vez que o limite de tempo se incumbe
de transformá-la.

A força da transferência, a palavra do analista, sua escuta particular, seu lugar de


suposto saber aliado às suas interpretações e à vivência do processo analítico no
encontro singular terapeuta-paciente ultrapassam, em muito, os minutos de cada sessão.
Então, pergunta-se: por que o tempo da realidade e o tempo fora da sessão não valem
também como argumentos a favor da psicoterapia breve? Existiria uma quantidade
necessária ou suficiente de interpretações ou de tempo de convivência para se
considerar um encontro como terapêutico? Ou uma comunicação significativa pode
ocorrer além ou aquém da questão temporal?

Considerando-se que o inconsciente é atemporal, a investigação psicanalítica pode


se dar em qualquer tempo, com prazo definido ou não. Dito de outra forma: uma análise
não se mede pelo tempo cronológico. Uma sessão de psicoterapia breve psicanalítica
não se distingue de uma sessão de análise. A modificação do enquadre, com tempo
limitado e focalização, se incumbirá de modificar a relação terapêutica permitindo que,
indiferente à questão temporal, se dê o encontro e a comunicação significativa. O
número de sessões varia de acordo com o paciente e será decidido, em conjunto, após as
primeiras sessões. O mais comum é a freqüência ser de uma vez por semana. O final da
terapia deve ser anunciado, em geral, com um mês de antecedência, e trabalhado
adequadamente. Quando o terapeuta diz: “o tempo da psicoterapia breve será de sete
meses e no final avaliaremos se continua ou não”, essa terapia provavelmente
continuará e o prazo não terá função alguma. O limite de tempo deve ser respeitado para
que possa influenciar a relação terapêutica . Para evitar confusões diversas, é preferível
que seja marcada uma data para o término e não um número fixo de sessões. Na data
acordada, a terapia termina e um retorno poderá ser marcado para dali a alguns meses;
seis, de preferência. É experiência recorrente que grande parte dos pacientes pensa em
continuar a terapia próximo ao seu término e poucos, menos de 20%, assim o desejam
após seis meses do final. Em todo caso, a separação implica sentimentos intensos pelo
reviver de um processo sutil e complexo em suas origens, a partir de um bebê, ou uma
criança, que precisam encarar o mundo sem estarem ainda preparados para tanto. Há
pacientes que sentirão a separação como abandono; outros, como castração; para outros,
poderá ser fator de desorganização. Não se pode esquecer que a separação também é
complicada para o terapeuta, sendo fator relevante a ser levado em conta no aprendizado
da psicoterapia breve. Cabe lembrar que muitos pacientes encaram o término da terapia
com alívio, como oportunidade de crescimento.

Por fim ela chega a conclusão juntamente com seu embasamento histórico, de que
a psicoterapia é direcionada por condições diferenciais que a caracterizam como breve:
o terapeuta deve desempenhar um papel essencialmente ativo, se utilizando de uma
ampla gama de intervenções; compreendendo a estrutura dinâmica da problemática do
paciente, ele elabora um plano terapêutico, com metas a serem atingidas em
determinado tempo; para alcançar esses objetivos, ele esboça uma estratégia geral
baseada na focalização, que seria manter em mente um foco a ser interpretado e no qual
se baseia todo o tratamento. O paciente é orientado a esse foco através de interpretações
parciais, atenção seletiva e “omissões deliberadas”, que significa deixar passar material
atraente sempre que este se mostre irrelevante ou afastado do foco, a focalização da
terapia breve é sua condição essencial de eficácia. Uma avaliação dinâmica
continuamente atualizada à medida que o tratamento evolui, leva o terapeuta a fazer
reajustes visando conseguir o máximo de rendimento do tratamento. Essa remodelação
periódica da estratégia e das táticas é chamada “princípio da flexibilidade”. Essas
características são os parâmetros específicos da psicoterapia breve. Finalmente, ela
considera a psicoterapia breve como uma conduta terapêutica que se coloca como uma
alternativa no campo da psicoterapia em relação à psicanálise ou à terapia psicanalítica
prolongada, e não como em oposição a elas. Assim, considera o êxito do uso da
psicoterapia breve de orientação psicanalítica em geral, e, mais particularmente, dentro
da psicologia clínica comunitária, como um devido tributo a ser pago à psicanálise, e
não como um ataque a ela, pois que a primeira somente é possível graças à segunda,
visto ser esta última a fonte de todo o conhecimento que tomou possível a existência de
métodos de tratamento mais flexíveis e breves para o atendimento em larga escala.

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