GESTÃO EDUCACIONAL Olhares Emergentes
GESTÃO EDUCACIONAL Olhares Emergentes
GESTÃO EDUCACIONAL Olhares Emergentes
Volume 3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG
Reitor
JOÃO CARLOS BRAHM COUSIN
Vice-Reitor
ERNESTO CASARES PINTO
Pró-Reitora de Extensão e Cultura
RITA PATTA RACHE
Pró-Reitor de Planejamento e Administração
MOZART TAVARES MARTINS FILHO
Pró-Reitor de Infraestrutura
GUILHERME LERCH LUNARDI
Pró-Reitora de Graduação
CLEUZA MARIA SOBRAL DIAS
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis
DARLENE TORRADA PEREIRA
Pró-Reitor de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas
CLAUDIO PAZ DE LIMA
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
DANILO GIROLDO
Secretária de Educação a Distância
IVETE MARTINS PINTO
EDITORA DA FURG
Coordenador
JOÃO RAIMUNDO BALANSIN
Divisão de Editoração
LUIZ FERNANDO C. DA SILVA
Gestão Educacional:
olhares emergentes
Rio Grande
2011
Suzane da Rocha Veira – Organizadora
Cleusa Maria Moraes Pereira – Acessora Pedagógica
Formatação e diagramação
Aline Thomé Frediani
Jeferson Pereira Feijó
Luciano da Silva Baldez
Marcelo Lopes de Barros
Narusci dos Santos Bastos
Priscila Alfonso
Zélia Seibt do Couto
Revisão
Deise Bastos da Costa
Ingrid Cunha Ferreira
Raquel Laurino Almeida
Rita de Lima Nóbrega
Pablo Silva Paranhos
Vanessa Fonseca Barbosa
CDU 371
Boa Leitura!
Gionara Tauchen
1. PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS DAS POLÍTICAS
EDUCACIONAIS
1
Everton Martins
1
Mestre em Educação. Professor da Universidade Federal do Rio Grande –
FURG.
seletividade do que deve ou não ser transmitido, de qual conhecimento
é valido.
Todavia, as políticas educacionais, dentro das Políticas Públicas,
atuam sobre a Educação, mas não têm o domínio sobre ela. Ao
contrário, é a Educação que pode atuar e interferir na política
educacional. A política educacional é um dos instrumentos para se
projetar a formação dos tipos de pessoas de que uma sociedade
necessita.
A Educação, neste cenário, ajuda a pensar tipos de homens e de
mulheres, enquanto a política educacional ajuda a constituir esses tipos
de sujeitos. Por tal motivo, a referida política tem uma relação ambígua
com o imaginário e com a ideologia dos grupos sociais.
Nos diferentes contextos históricos e nas diversas sociedades,
encontramos projetos distintos de organização social e, por isso,
perspectivas e tendências diferentes, no que diz respeito às próprias
políticas educacionais.
Se pensarmos em projeto de sociedade e o interligarmos aos
processos educativos, perceberemos que a sociedade atual tem uma
premissa própria, se compararmos com outros períodos e sociedades.
Os gregos foram os primeiros a colocar a Educação como um problema
que deveria ser tratado por toda a sociedade e que necessitaria de
intervenção estatal. Na Grécia antiga, a busca pela felicidade era bem
definida no ideal de Paidéia – o homem deveria tornar-se “bom” e “belo”.
Nessa perspectiva, o objetivo fundamental da Educação era a
formação aristocrática do homem individual como modelo ideal de “bom”
e “belo”, em busca da plenitude. Sendo assim, desde cedo, preparava-
se a criança para a vida adulta. Paidéia, para os gregos, designava o
resultado do processo educativo que se prolongaria por toda vida, muito
além dos anos escolares. Por essa razão, a educação grega aponta
para uma verdadeira malha social em construção, da qual somos
herdeiros.
O conceito que, originalmente, exprime o ideal grego de educação
é a virtude. Tendo em vista, mais que honra e glória, pretende-se, então,
alcançar a excelência física e moral. “Estamos diante de ‘uma
pedagogia do exemplo’ da qual Aquiles encarna a areté (o modelo ideal
mais complexo de formação) ligada à excelência e ao valor” (CAMBI,
1999, p.77). Dessa forma, a Educação começou a ser pensada como
assunto pertinente ao âmbito coletivo e não mais social, que deveria ser
tratado no âmbito político.
Para tanto, devemos refletir sobre a etimologia da palavra
“política”, que deriva do termo polis (politikós) e se refere a tudo que
diga respeito à cidade, ao urbano, ao civil e ao público. Atualmente, o
conceito de política está atrelado ao Estado ou à sociedade política,
enquanto planejador(a) e legislador(a).
A política estuda as atividades humanas relacionadas às tarefas
do Estado. O poder deste proíbe, ordena, planeja, legisla e intervém,
através de um grupo social definido, para um grupo social que deverá
obedecer, mas que, em determinadas fases políticas da história,
pretende escrever seu próprio destino.
No que tange à organização política brasileira contemporânea, o
Estado se organiza, no que diz respeito a sua forma de governo, em
uma república. O termo “república” deriva do latim “res publica” e
significa “coisa de todos”, em que o governo é temporário e não vitalício,
como em uma monarquia, e, como forma de Estado, caracteriza-se
como federado. Entretanto, muito mais importante do que a organização
política nacional, é percebermos os movimentos que influenciam as
ações estatais nacionais e, nesse contexto, as próprias Políticas
Públicas.
Ao levarmos em conta o sistema econômico atual, o capitalismo,
com suas características e peculiaridades, percebemos que tal sistema
provoca tensões, pois, em alguns momentos, os interesses deste
acabam suplantando os interesses da maioria da população e do próprio
Estado, além dos interesses gerais da Nação.
Durante toda a história nacional, as Políticas Públicas sociais
foram marcadas por lutas, pressões e conflitos, no contexto da
organização do sistema econômico capitalista. Como forma de amenizar
esses conflitos, o governo nacional, em diversos momentos, também
elabora o gerenciamento da política, momento em que usa medidas
paliativas e se orgulha de chamá-las de governança, sem que atinja o
cerne da questão.
Nessa tendência de organização social, as próprias Políticas
Públicas, bem como as políticas educacionais, devido ao atual Estado
neoliberal, fazem com que o Estado credite “ao mercado a capacidade
de regulação do capital e do trabalho” (AZEVEDO, 1997, p.12) e
considere “as Políticas Públicas as principais responsáveis pela crise
que perpassa as sociedades” (Idem).
Segundo Azevedo (1997), as raízes da corrente neoliberal se
encontram na teoria do Estado formulada a partir do século XVII, a qual
expressa o ideário do liberalismo clássico então emergente.
O pensamento liberal surgiu em uma época de profundas modificações
político-econômicas, ocorridas na Europa, durante os séculos XVII e
XVIII. Tais alterações se consolidaram com os acontecimentos ocorridos
na França em 1789, o que trouxe uma série de
reflexões teóricas a respeito do papel do Estado.
A tese central da economia política liberal é a questão da
participação mínima do Estado nas atividades econômicas do país.
Adam Smith, economista político, um dos mais influentes do liberalismo,
na obra “A Riqueza das Nações” (2008), considera que a concorrência,
por si só, é capaz de garantir o bem-estar da sociedade e a perfeita
harmonia entre o público e o privado. Em outras palavras, a economia é
autorregulatória e o Estado não deve intervir nessa liberdade.
Nos escritos de Adam Smith, percebemos que um exemplo
latente da ausência do Estado é a questão das responsabilidades com a
educação. Smith diz que as instituições educacionais podem captar
recursos para cobrir seus próprios gastos. Além disso, o autor não
aponta o Estado como garantidor da educação gratuita pública.
Dessa forma, levando-se em conta o discurso neoliberal, tal
preleção dá embasamento para a reformulação das leis, sendo que
estas ficam deficientes para alcançar as classes desfavorecidas da
população. Isso porque não privilegiam certos aspectos das políticas
educacionais, como a valorização do profissional da área, a distribuição
de recursos para a melhoria da estrutura do ambiente escolar, além da
formação inicial e continuada de professores.
Nessa perspectiva, as Políticas Públicas estabelecem uma
complexa burocracia que “serve mais para bloquear o surgimento de
experiências novas e alternativas relativas à prática pedagógica do que
propriamente para estimular seu surgimento” (MARTINS, 1993, p. 23).
Ao considerar que tanto o liberalismo quanto o neoliberalismo
extrapolam os domínios da economia e estabelecem o princípio do livre
mercado nas relações sociais, constituindo-se como modos de vida ao
mesmo tempo em que mantém suas diferenças conceituais e práticas,
podemos concebê-los como essa forma de racionalização das práticas
de governamento dos sujeitos (FOUCAULT, 1997).
Desse modo, concordamos com Ester Buffa (1996) quando afirma
que a educação moderna vai configurando-se nos confrontos sociais e
políticos, ora como um dos instrumentos de conquista da liberdade, da
participação e da cidadania, ora como um dos mecanismos para
controlar e dosar os graus de liberdade. Portanto, o princípio de que a
educação é dever do Estado não implica no imobilismo da população e
de cada indivíduo: a educação é, também, dever de todos – pais, alunos
e comunidade.
Assim como afirma Gadotti (2000), com essa mobilização da
população em defesa do ensino público, é possível pressionar ainda
mais o Estado para que cumpra o seu dever de garantir a educação
pública, gratuita e de bom nível para toda a população: uma população
acostumada a receber um bom serviço se mobilizará para continuar a
tê-lo.
Levando-se em consideração as análises anteriores, podemos
considerar que as políticas educacionais são interpeladas por questões
socioeconômicas que interagem entre si. O embate público e privado
indica a configuração jurídica, política e ideológica assumida pelo
Estado. Segundo Dourado (2006), sobre
2
Mestre em Educação. Professor da Universidade Federal do Rio Grande –
FURG.
3
Quando se trata de dinheiro público, as despesas comumente são postas
como gastos quando não se obtém de forma direta um benefício para a
sociedade como um todo, isto é, quando os valores são aplicados em
manutenção da máquina pública em favorecimento de uma minoria na busca
pela manutenção do status quo. Quando tratamos em investimento, pensamos
em um retorno futuro que irá ser maior do que o valor investido anteriormente,
entretanto, o investimento requer tempo e continuidade, o que não se observa
em boa parte da história nacional, no que diz respeito à área educacional.
Essas porcentagens são sobre a receita resultante de impostos,
proveniente de transferências entre os entes federados, o que resulta na
manutenção e no desenvolvimento do ensino. Todavia, presenciamos
que, em diversos exercícios financeiros, tal mínimo de investimento não
é cumprido.
Outro fator que deve ser levado em consideração são os
subterfúgios legais criados com o objetivo de diminuir o investimento em
educação, alegando-se a necessidade de investimento em outras áreas
e em outras despesas correntes, como o pagamento dos juros e a
amortização da dívida pública. Entre os subterfúgios criados,
percebemos dois principais.
O primeiro diz respeito ao próprio texto constitucional, pois este
estabelece que a porcentagem de aplicação seja sobre os impostos
arrecadados. Todavia, os impostos correspondem, hoje, praticamente, à
metade da carga tributária, sendo que boa parte da carga tributária é
proveniente de outras formas de arrecadação.
Em segundo plano, observamos a Desvinculação das Receitas da
União (DRU), artifício este que acaba por diminuir, consideravelmente,
as receitas destinadas à educação. Este último artifício foi derrubado por
uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), o que acabou
contribuindo para um acrescimento de cerca de R$ 9 bilhões no
investimento em educação para o ano de 2011.
Atualmente, são estabelecidos, anualmente, valores mínimos
correspondentes ao investimento em educação para cada estudante
matriculado, em cada um dos níveis e modalidades de ensino. Para
4
2011, o Fundeb é de R$ 1.722,05, por aluno/ano, um valor considerado
por muitos especialistas como insuficiente. Contudo, se considerarmos
os investimentos globais, em 2011, o orçamento da educação gira em
torno de R$ 94,48 bilhões.
Diversos especialistas apontam que o valor gasto com a
Educação no Brasil é irrisório, tendo em vista o Orçamento Geral da
União, uma vez que mais de 35% do orçamento é destinado ao
pagamento da dívida e mais de 25% para a Previdência Social,
enquanto que, apenas, algo em torno de 3% é destinado à Educação,
conforme pode ser percebido no gráfico abaixo, que leva em conta o
orçamento de 2009.
4
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação, o qual abordaremos
especificamente no transcorrer.
Retomando a Constituição Federal de 1988, ainda, em seu artigo
212, estabelece-se que “A distribuição dos recursos públicos assegurará
prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no
que se refere à universalização, garantia de padrão de qualidade e
equidade, nos termos do plano nacional de educação”, redação esta
dada pela Emenda Constitucional nº 59 de 2009. Desta forma,
ressaltamos a primazia do investimento na Educação Básica (Educação
Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio).
Um ponto controverso que envolve a redação do texto
constitucional diz respeito à possibilidade da destinação de recursos
públicos a escolas particulares, desde que estas sejam comunitárias,
confessionais ou filantrópicas. Tal redação colocou em discussão o
próprio conceito de filantropia, uma vez que estabelecimentos de
ensino, muitas vezes, recorrem a esta denominação com os objetivos de
isenção de impostos e da possibilidade de financiamento público, mas
acabam por distorcer o próprio conceito, não atendendo às reais
necessidades da sociedade, mas sim se focando nos interesses de um
grupo social.
A possibilidade da destinação de recursos públicos é garantida
pelo artigo 213 da constituição Federal de 1988, artigo este que
estabelece, também, as condições para tal.
Os recursos públicos serão destinados às
escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas
comunitárias, confessionais ou filantrópicas,
definidas em lei, que:
I - comprovem finalidade não-lucrativa e
apliquem seus excedentes financeiros em
educação;
II - assegurem a destinação de seu
patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica
ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de
encerramento de suas atividades.
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo
poderão ser destinados a bolsas de estudo para o
ensino fundamental e médio, na forma da lei, para
os que demonstrarem insuficiência de recursos,
quando houver falta de vagas e cursos regulares da
rede pública na localidade da residência do
educando, ficando o Poder Público obrigado a
investir prioritariamente na expansão de sua rede
na localidade.
§ 2º - As atividades universitárias de
pesquisa e extensão poderão receber apoio
financeiro do Poder Público (BRASIL, 1988).
2.1. Salário-educação
5
O censo escolar é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com colaboração de órgãos regionais de
ensino.
Receita/ 2007 2008 2009 2010/2
Ano 020
FPE 16,66% 18,33% 20%
FPM 16,66% 18,33% 20%
ICMS 16,66% 18,33% 20%
IPIexp 16,66% 18,33% 20%
Desoneração 16,66% 18,33% 20%
Exportações
ITCMD 6,66% 13,33% 20%
IPVA 6,66% 13,33% 20%
ITR – 6,66% 13,33% 20%
Cota Municipal
Complemento R$ R$ R$ 10% da
União 2 bilhões 3 bilhões 5 bilhões contribuição
de estados e
municípios
6
Mestre em Educação. Professor da Universidade Federal do Rio Grande –
FURG.
7
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências da
Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
redemocratização, o qual culminou com a promulgação da Constituição
Federal de 1988, estabelecendo um novo pacto social.
Ao saber que a acessibilidade da educação escolar é uma
premissa, existe a necessidade de se avaliar que tipo de educação se
objetiva oferecer para a população e, mais do que isso, que tipo de
cidadão pretende-se formar. Diferentemente do Regime Militar, em que
o bom cidadão era aquele que reconhecia os símbolos pátrios, nos dias
atuais, objetiva-se a formação de sujeitos críticos e autônomos.
Como gerenciadora superior de qualquer política pública no
sistema jurídico nacional, tem-se a Constituição promulgada em 1988, a
qual insere como princípios norteadores a formação de cidadãos plenos
na sociedade brasileira e a garantia de acesso aos direitos civis,
políticos e sociais a todos que habitam o território nacional. Em relação
à área educacional, a Carta Magna reserva um espaço específico para o
tema. O capítulo III, secção I, aborda, especificamente, a Educação,
ressaltando que:
8
Pós-Doutor em Direitos Humanos, Professor da Universidade de Santa Cruz
do Sul – UNISC.
9
Mestre em Educação e professor da Universidade Federal do Rio Grande –
FURG.
10
Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
fenômeno como resultado de um processo histórico, há uma tendência à
simplificação, que discorre sobre os direitos do cidadão. Para
Dimenstein (2002), cidadania:
A escola, ao lado da
família, do Estado e da sociedade, é
uma das esferas onde são
desenvolvidos os processos
educativos. Além disso, tem papel
fundamental na formação para o
trabalho e exercício da cidadania,
conforme exposto na Lei n° 9.394/96.
Tais princípios são objeto de
inúmeras discussões, suscitando
propostas de reestruturação do
sistema educacional em seus
aspectos macro e microestruturais. A complexidade do funcionamento
dos sistemas educacionais é crescente, tal fato é evidenciado pela
diversidade de funções e das necessidades de atendimento às
especificidades das instituições, das comunidades, dos alunos e dos
professores.
Neste contexto, estruturas administrativas altamente
burocratizadas não dão conta de atender e captar as demandas locais e
globais, tornando-se inoperantes. Faz-se necessária a descentralização
administrativa e financeira, a autonomia e participação, o que possibilita
maior capacidade de adaptação às condições locais e ao enfrentamento
dos problemas cotidianos.
Deste cenário, emergem os estudos e as discussões sobre a
gestão da educação que precisa superar as práticas arraigadas pelo
enfoque limitado da administração.
11
Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
garantir o avanço dos processos socioeducacionais
dos estabelecimentos de ensino, orientados para a
promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos, de
modo a torná-los capazes de enfrentar
adequadamente os desafios da sociedade
globalizada e da economia centrada no
conhecimento (LUCK, 2000, p. 8).
AUTONOMIA
Orçamentos
Normas e orientações Liberdade de ensino e Elaborar planos,
Rubricas
escolares aprendizagem programas, projetos
Planos de contas
Matrícula
Identidade
Transferências
Função da escola
Admissão de professores Estilo de gestão
Organização curricular
Concessão de graus
Relações internas e
externas
A autonomia pressupõe um processo de mediação entre os
sujeitos e, em função disso, requer a participação dos segmentos da
unidade escolar. Por isso, a criação de ambientes participativos e de
descentralização das atividades educacionais, tais como os Conselhos
Escolares, Conselhos de Pais e Mestres e Grêmios Estudantis, entre
outros exemplos, constituem-se como uma condição básica da gestão
democrática.
6. CONSELHOS ESCOLARES NA GESTÃO ESCOLAR
DEMOCRÁTICA: DILEMAS E DESAFIOS
12
Alessandra Nery Obelar
13
Arlete Melo Campos Ribeiro
14
Gionara Tauchen
15
Marcela Teles Baldino
Todas as escolas
do sistema público de
ensino, desde a Carta
Constitucional de 1998,
têm como base a gestão
democrática, visando
assegurar os princípios e
fins da educação
nacional: “o preparo para
o exercício da cidadania”
e a “qualificação para o
trabalho” (BRASIL,
1996).
A gestão
democrática abrange as dimensões pedagógica, administrativa, jurídica
e financeira da escola (FERREIRA, 2000; LUCE; MEDEIROS, 2006),
diretamente envolvidas no enfrentamento das questões de exclusão, de
reprovação, nos Índices de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) e, em última instância, na qualidade do ensino escolar.
A elevação da qualidade da educação pública passa, portanto,
pelo investimento na qualidade dos processos de gestão, pois esta é um
meio de atuação, que tem como objetivo fundamental a aprendizagem
12
Graduada em Pedagogia (FURG), especialista em Psicopedagogia Clínica
(UCPEL).
13
Acadêmica do curso de Pedagogia (FURG). Bolsista de Iniciação Científica
(CAPES/INEP).
14
Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande - FURG
15
Acadêmica do curso de Pedagogia (FURG). Bolsista de Iniciação Científica
(CAPES/INEP).
efetiva e significativa dos alunos, as quais se evidenciam nas
capacidades de analisar informações e proposições diversas; expressar
ideias com clareza, tanto oralmente, como por escrito; empregar a
aritmética e a estatística para resolver problemas, dentre muitas outras
competências necessárias à prática de cidadania.
O processo de gestão escolar deve estar voltado para garantir a
aprendizagem dos alunos que não aprendem apenas na sala de aula,
mas na escola como um todo: pela maneira como é organizada; pelas
ações que promove; pelo modo com que as pessoas se relacionam
internamente e com a comunidade; pelas estratégias de
acompanhamento da qualidade; pelos processos de diagnóstico e ações
propositivas (VEIGA, 2000); pelos processos de formação continuada
dos docentes; pela construção de alternativas didático-metodológicas;
dentre outros aspectos.
Estas orientações também foram reforçadas pelo Plano Nacional
de Educação (PNE), Lei n° 10.172/01, que, ao estabe lecer os objetivos
e prioridades que devem orientar as políticas públicas da educação
nacional, destaca a democratização da gestão do ensino público e das
demais orientações previstas na Lei n° 9.394/96. N esta perspectiva, o
Conselho Escolar tem papel decisivo na democratização da educação,
pois constitui um órgão colegiado, composto por representantes das
comunidades escolar e local, com atribuições deliberativas no âmbito da
escola – político-pedagógicas, administrativas e financeiras.
O Conselho Escolar constitui um espaço de participação e
decisão, de discussão e encaminhamento das demandas educacionais,
possibilitando a participação da comunidade escolar no contexto da
gestão democrática. Contudo, cabe-nos questionar: os processos que
ocorrem no interior da estrutura participativa da gestão democrática
asseguram a representação e a participação dos diversos segmentos?
Qual o nível de participação do Conselho Escolar nas deliberações
pedagógicas, administrativas e financeiras das escolas?
Tal Conselho tem se constituído como um dos mais importantes
meios de democratização na gestão escolar e, como o próprio nome
sugere, é por meio de vários atores da comunidade escolar que esse se
constituiu. A importância dos conselhos ganhou respaldo na Portaria
Ministerial n° 2.896/2004, que instituiu o Programa Nacional de
Fortalecimento dos Conselhos Escolares com as seguintes atribuições:
A gestão educacional
ganhou força no atual
contexto educacional,
acompanhada por mudanças
nos paradigmas nesta área:
imposição das formas de
gestão (autoritarismo),
espontaneísmo (falta de
direção) e gestão
democrática, dentre outras.
Atualmente, a gestão escolar
democrática é caracterizada
pelo reconhecimento da
necessidade de
descentralização, autonomia
e participação dos envolvidos
nos processos educativos,
desde a sala de aula até a
gestão dos sistemas
educacionais. Portanto, constitui uma organização complexa que
envolve múltiplos atores, funções e atribuições, conforme sintetizamos:
16
Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande - FURG
Gestão
Escolar
Democrática
Fundamentos
e
Concepções
Estrutura
Financeira
Instâncias
Projeto Pedagógica
Colegiadas
Pedagógico Administrativa
Conselho CPM
Autonomia Descentralização Participação Grêmios
Escolar APM
17
Acadêmica do curso de Pedagogia (FURG). Bolsista de Iniciação Científica
(CAPES/INEP).
18
Acadêmico do curso de Pedagogia (FURG). Bolsista de Iniciação Científica
(CNPq).
19
Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande.
educacional, do professor e também do próprio
aluno, à revelia, inclusive, do que esteja registrado,
formalmente, em documentos. Assim, analisar o
cotidiano, o projeto político pedagógico, é analisar,
também, as relações de poder que se efetivam no
interior dessa escola (p. 31).
20
Graduada em Pedagogia (FURG) e Especialista em Psicopedagogia Clínica
(UCPEL).
Nesta perspectiva, para a nossa discussão nesse capítulo,
elencaremos: a inclusão, o currículo, a formação dos professores, a
organização do tempo e do espaço, a sala de recursos e a avaliação.
Tais pontos destacados precisam estar muito bem firmes e
entrelaçados, para que a inclusão das pessoas com deficiência se
efetive de uma forma concreta e não da forma que inclui, excluindo.
Ao pensarmos na inclusão das pessoas com deficiência,
devemos, em um primeiro momento, conceituar a palavra inclusão,
para, a partir daí, podermos falar sobre as várias questões que
permeiam a mesma na educação escolar. Alguns autores como
Mantoan (2005), Santos (2003), Sassaki (2006), em seus escritos, vêm
nos mostrando que a inclusão das pessoas com deficiência teve seu
início com o processo de integração nas escolas.
Nesse contexto, professores que trabalhavam em classes
especiais atendiam crianças com deficiências, portanto, estes
educandos não eram colocados dentro das salas de aulas comuns com
os ditos alunos “normais”. Assim, segundo Santos (2003):
MODALIDADES
DA
AVALIAÇÃO
Finalidades
Características
Reconstruir
auto-
conceitos
Identificar Aprendizagem Informativa Terminal e
Habilidades Preventiva
individualizar corretiva global
atitudes reguladora
Quando pensamos,
lemos, ou simplesmente
ouvimos pessoas conversando
sobre as questões
educacionais, uma palavra é
recorrente: mudança. Desse
modo, afirmar que as coisas na
escola não vão bem e precisam
ser modificadas é praticamente
um consenso. Em virtude
dessa constatação de
mudança, a avaliação
institucional costuma ser um
meio de identificar o que está bem e o que é necessário qualificar ou
modificar nesse espaço.
Muitas pessoas acreditam que apenas os alunos devem passar
por algum tipo de avaliação. Todavia, para fomentar mudanças na
escola básica, é necessário que todos e tudo o que faça parte do
processo seja avaliado. Essa avaliação, para produzir resultados em
benefício das pessoas e das instituições, não pode ser concebida como
uma avaliação quantitativa e classificatória, mas sim como uma
avaliação formativa, de regulação e acompanhamento do processo de
ensino e de aprendizagem.
A dificuldade de se promover a avaliação pode ocorrer pelo fato
de uma parcela considerável de educadores concebe o ato de avaliar
como uma forma de medir, cujas funções são classificar, punir, colocar
os erros em evidência, dentre outras. O educador que tem essa
concepção de avaliação tem medo de ser avaliado e até de ser
avaliador.
21
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências da
FURG.
Sendo assim, a avaliação desperta certo desconforto nos sujeitos
que serão avaliados. Logo, em virtude dessa concepção de avaliação
que perpassa entre as pessoas, principalmente com as envolvidas
diretamente nos assuntos educacionais, a avaliação tanto em nível
micro de sala de aula como as avaliações institucionais maiores, em
nível macro, podem não ser tão eficientes como poderiam ser.
Quando surge a ideia de mudança na escola, expectativas são
geradas nos envolvidos, e estes anseiam por mudanças rápidas e em
grande proporção. No entanto, as mudanças podem não ocorrer de
forma tão impactante como se gostaria, embora sejam possíveis de
acontecer, e o primeiro passo para tal intuito é realizar uma avaliação.
Esta deve ter como objetivo detectar o que está dando certo na escola e
o que se deve mudar.
Quando se planeja realizar uma avaliação institucional,
primeiramente, parte-se para realizar uma avaliação inicial, com uma
função diagnóstica, esta pode auxiliar no planejamento e na orientação
das estratégias de desenvolvimento.
Para Melchior (2004), através da avaliação diagnóstica
institucional, é possível identificar as condições tanto físicas como
matériais e humanas; conhecer o projeto institucional, suas metas e
seus objetivos; identificar as estratégias previstas assim como o
andamento das mesmas. Após toda essa avaliação inicial ter sido
realizada, parte-se para uma avaliação final do processo, a qual
desempenha uma função somativa, que busca expressar a culminância
do processo.
Constata-se que a avaliação institucional tem que estar
acontecendo o tempo inteiro na escola – de forma contínua, e tal
avaliação deve exercer uma função formativa, que tenha finalidade de
auxiliar nas interferências e correções ao longo do processo. Mas quem
deve fazer ou propor a avaliação? Melchior (2004, p.62) faz justamente
esta pergunta: de quem é a iniciativa de fazer a avaliação? Então, para
respondê-la, o autor elenca uma série de iniciativas como as de:
agentes externos à instituição; componentes da instituição; iniciativa da
própria instituição com auxílio de avaliadores externos.
Em outras palavras, o autor responde à questão, evidenciando
que não há apenas um cargo ou uma pessoa que tem de ter a iniciativa
da avaliação, mas sim que pode ser feita pelos mais diversos indivíduos
envolvidos direta ou indiretamente no processo.
Tendo em vista as várias iniciativas por parte do governo federal
de avaliação externa das instituições, cabe, a partir de agora, elencar
algumas dessas e buscar entender o motivo da sua proposição. Assim,
como formas de avaliações externas executadas pelo governo federal
surgem:
- Provinha Brasil, a qual, segundo o MEC, consiste em:
22
“O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado em 2007
para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador é
calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do Inep e em
e municipais de Educação promovam ações voltadas a ampliação da
qualidade dos processos de ensino e aprendizagem, reduzam as taxas
de reprovação e exclusão e que direcionem recursos técnicos e
financeiros para áreas identificadas como prioritárias.
Os dados desses processos de avaliação são publicados para
toda a sociedade que pode acompanhar as políticas públicas das
diferentes esferas de governo.
- O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado para
ser utilizado como forma de seleção unificada nos processos seletivos
das universidades públicas federais do país. Segundo o MEC, a
proposta tem como principais objetivos “democratizar as oportunidades
de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a
mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do
ensino médio”.
- Como outra forma de avaliação, menciona-se o Censo Escolar,
o qual consiste em levantamento de dados estatístico-educacionais de
âmbito nacional. O censo é realizado anualmente pelo Inep em
colaboração com as secretarias de Educação e participação de todas as
escolas públicas e privadas do país. Trata-se do principal instrumento
de coleta de informações sobre a educação básica, nas diferentes
modalidades: ensino regular, educação especial e educação de jovens e
adultos (EJA).
O Censo Escolar coleta dados referentes aos estabelecimentos,
às matrículas, às funções docentes, ao movimento e ao rendimento
escolar. Essas informações permitem traçar um panorama nacional da
educação básica, servindo de referência para a formulação de políticas
públicas, e programas.
Com o descrito sobre essas avaliações, podemos ver que a
função de diagnosticar aparece bem presente nessas avaliações, com
exceção do Enem, o qual tem como principal objetivo o ingresso ao
ensino superior. Porém, fica claro que o Enem tem um propósito muito
taxas de aprovação. Assim, para que o Ideb de uma escola ou rede cresça, é
preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula. Para
que pais e responsáveis acompanhem o desempenho da escola de seus filhos,
basta verificar o Ideb da instituição, que é apresentado numa escala de zero a
dez. Da mesma forma, gestores acompanham o trabalho das secretarias
municipais e estaduais pela melhoria da educação. O índice é medido a cada
dois anos e o objetivo é que o país, a partir do alcance das metas municipais e
estaduais, tenha nota 6 em 2022 – correspondente à qualidade do ensino em
países desenvolvidos” (www.mec.gov.br).
importante no que se refere à mudança que consiste na reestruturação
dos currículos do Ensino Médio. Já a Provinha Brasil pretende apontar
qual o nível de alfabetização dos alunos para, assim, o professor
visualizar em quais momentos precisa intensificar seu trabalho.
A Prova Brasil, por sua vez, busca avaliar a qualidade do ensino
no país, além da prova aplicada, traz questionários socioeconômicos
para obter, dessa forma, uma visão de outros fatores (fora a prova) que
podem estar interferindo nos resultados. Esta prova busca um
diagnóstico da situação educacional de cada escola para, então, o
governo direcionar a aplicação de recursos visando à melhora das
realidades escolares.
Com essas avaliações, podemos ver que existem muitos fatores
imbricados e que elas apresentam um problema: são avaliações
impostas por alguém (no caso, o governo federal – na figura do MEC).
Isso significa que elas não surgem das escolas, mas sim são obrigadas
a realizarem tais avaliações. Portanto, o modo como essas avaliações
mencionadas serão conduzidas em cada instituição é que colocará em
xeque o que os números resultantes significam.
Uma possível solução para esses embates mencionados no texto
pode estar no fato de as próprias escolas proporem suas formas de
avaliação e interpretarem os dados resultantes destas.
Referências
LUCA, Tânia Regina de. Direitos sociais no Brasil. In: PINSKY, Jaime;
PINSKY, Carla (orgs.). História da cidadania. 2ª ed. São Paulo:
Contexto, 2003.