Atenção Integral A Saude Infanto Juvenil

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ATENÇÃO INTEGRAL A SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

– A EXPERIÊNCIA DO TRABALHO INTERDISCIPLINAR NO


AMBULATÓRIO DE PUERICULTURA

Mariana da Silva Saragon


Rivânia Maria Paniguel Cardoso
Francisca Teresa Veneziano Faleiros
Flávia Helena Pereira Padovani
Solange Sebastiana Moraes
Cátia Regina Branco Fonseca

1. Introdução

Puericultura é a ciência cuja principal finalidade é promover o mais completo estado


de saúde física, mental e social da criança, considerando sua dependência e a necessidade de
terceiros para a sua sobrevivência, crescimento e desenvolvimento biopsicossocial
(MARCONDES, 1999).
Para melhor atender a todos esses aspectos, foi instituído um ambulatório
interdisciplinar, no Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP,
com profissionais das áreas: médica, psicológica e social, incluindo aprimorandos do
Programa de Aprimoramento em Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente,
fazendo parte do PAP– Programa de Aprimoramento Profissional da Faculdade de Medicina
de Botucatu, implantado em 1981, em parceria com a Fundação de Desenvolvimento
Administrativo – FUNDAP.
Trata-se de um programa de pós-graduação lato sensu, para profissionais não médicos,
de diversas áreas de atuação em saúde, com o objetivo de capacitá-los para um atendimento
adequado às necessidades de saúde da população. Oferece bolsas de estudo e um programa
teórico- prático, que inclui atendimento nos ambulatórios de Puericultura Especial e de
Adolescentes, participação no Projeto de Inclusão Digital e Social, bem como seminários de
psicologia e saúde pública, com temas pertinentes a essas atividades.
Considerando-se as novas estruturas familiares, com suas respectivas particularidades,
foi implantado em 1991, o Ambulatório de “Puericultura Especial”, no qual são atendidas e
acompanhadas crianças e/ou adolescentes, do município e da região, inseridas em diversas
dinâmicas familiares sendo, na sua maioria, bastante complexas.
2. Objetivo

Apresentar as atividades desenvolvidas pelo Aprimorando(a) de Serviço Social,


dentro PAP em Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente, numa equipe
interdisciplinar, num ambulatório de Puericultura, de um Hospital terciário.

3. Metodologia

A equipe do Ambulatório de Puericultura Especial, tem como responsável direto um


docente do Departamento de Pediatria, sendo composta por 1 residente de 2º ano em
Pediatria, 1 psicóloga docente da área infanto-juvenil e aprimorandos do PAP, de diferentes
áreas, tais como: Serviço Social, Nutrição Clínica em Pediatria e Psicologia Infantil, com a
devida supervisão de seus responsáveis diretos.
Previamente às consultas agendadas semanalmente, os respectivos prontuários são
analisados e discutidos com a equipe, para melhor esclarecimento de cada caso e análise de
possíveis demandas. Neste momento, planejam-se as ações e intervenções necessárias a cada
caso.
No momento da consulta, o paciente e sua família são atendidos pelo médico residente
e pela aprimoranda de serviço social e, em seguida, a equipe se reúne para a checagem do
caso com o docente responsável. Caso haja demanda psicológica e/ou de ordem nutricional
mais específica, estes profissionais também fazem sua avaliação. Ao final do atendimento, a
equipe discute o caso, definindo os procedimentos necessários: orientações gerais e
específicas, encaminhamentos, tipo de acompanhamento mais adequado, visitas domiciliares
e institucionais, bem como os devidos contatos com os serviços médicos ou sociais da rede
pública.

4. Resultado e discussão

Historicamente, segundo Freitas (1997), somente quando as fortes expressões da


questão social, como a marginalidade, a mortalidade infantil por desnutrição e a violência, de
forma mais aparente começaram a incomodar a população, o Estado e a Sociedade Civil
passaram a se preocupar com tal problemática. Anteriormente, o fato de a infância ser
marcada pelo abandono e infanticídios, maioridade precoce, assistência ligada à caridade e
filantropia e os altos índices de mortalidade, impediam uma visão mais ampla de seu real
significado.
A partir da década de 1960, devido à demanda que se apresentava e às exigências
sociais, políticas e econômicas cada vez mais fortes, o Estado passou a intervir e a se
responsabilizar pela assistência à infância e à adolescência, com maior atenção. Somente no
final da década de 80 e durante os anos 90, essa atenção passou a ser garantida em forma de
lei, com a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS).
Deste modo, o artigo 227 da CF refere que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

Embora não extintas, as questões referentes à infância e à adolescência e suas


implicações, começaram a motivar um novo olhar e forma de tratamento, perante a sociedade,
com vistas à proteção integral da criança de do adolescente.
Assim, de acordo com o artigo 7º do ECA:

A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante


a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência
(BRASIL, 1990).

Nesse sentido, o papel central da família no cuidado à criança, passou a ser


incentivado nas políticas públicas atuais, uma vez que exerce papel fundamental no
desenvolvimento e socialização da criança e do adolescente, constituindo-se na primeira
instituição da qual fazem parte. Segundo Souza (1998, p. 75), trata-se de “um organismo com
leis próprias que configuram numa estrutura estável, mas flexível às mudanças” e, dessa
forma, pode sofrer influência de alguns fatores como: o nível sócio-econômico, a cultura, a
religião, a etnia, a pobreza, o desemprego, dentre outros.
As transformações do mundo do trabalho, o rápido desenvolvimento técnico-científico
e a forma como as relações humanas e sociais se constituem na atual conjuntura societária,
são elementos determinantes para a configuração da categoria família, assim como o modo
pelo qual esta família irá influenciar diretamente o desenvolvimento do indivíduo em
formação.
Zavaschi e cols. (1998), consideram como fatores de proteção, capazes de interferir no
desempenho de uma criança: a personalidade, a coesão familiar, o sistema externo de
proteção, o apoio marital, a divisão de responsabilidades e o suporte financeiro. Em
contrapartida, comentam que vários autores apontam a pobreza como fator potencializador de
risco prejudicial ao desenvolvimento da criança. Ressaltam ainda, a história pessoal de cada
indivíduo, sua vivência, as experiências pregressas, condições de trabalho e saúde, histórico
de violência (física, sexual, psicológica), a negligência, o nível de escolaridade, o uso de
drogas, a gravidez precoce e as diferentes composições familiares, como condicionantes nesta
relação entre pobreza e estrutura familiar.
Cabe ressaltar que, neste trabalho, pretende-se apontar a interrelação entre a demanda
da criança e do adolescente e sua condição, nas mais diversas dinâmicas familiares, atrelada
aos aspectos sócio-econômico-culturais da sociedade atual.
A partir do exposto acima, torna-se possível compreender a situação de
vulnerabilidade, que acomete parte da população e sua propensão a problemas relacionados ao
desenvolvimento e saúde da criança, foco deste trabalho, numa visão interdisciplinar.
Atualmente, vivemos um momento de acentuada fragmentação do saber, onde a
especialização e as particularidades de cada área desencadeiam uma atuação cada vez mais
isolada. Assim, várias são as contribuições teóricas, no sentido de ressaltar a importância de
uma equipe composta por profissionais de diversas áreas, com saberes específicos e que
juntos contribuem para a construção do conhecimento em sua totalidade (ELY, 2003).
Especificamente, no contexto da saúde pública, nota-se a necessidade de um trabalho
voltado a um atendimento mais amplo, no sentido de apreender as mais diversas e complexas
manifestações, de natureza médica, social e/ou econômica, que, analisadas de forma isolada,
tendem a não alcançar a realidade como um todo. Esse processo se constitui na prática
interdisciplinar, em que cada profissional, utiliza-se das particularidades de um conhecimento
específico, em consonância com os demais saberes, conseguindo abranger determinadas
situações de forma mais ampla, possibilitando, assim, ações integradas e, consequentemente,
mais efetivas.
O profissional de Serviço Social, pautado no Código de Ética Profissional, tem como
dever, conforme o artigo 10, alínea d “incentivar, sempre que possível, a prática profissional
interdisciplinar” (BRASIL, 1993). Este profissional carrega em sua formação bases
interdisciplinares, indispensáveis para o seu exercício profissional, já que no trato com seu
objeto de trabalho - a questão social e suas manifestações na vida cotidiana, muitas vezes
subjetivas-, utiliza-se dessa prática, na busca pela apreensão da realidade em que o indivíduo
se insere. Dessa forma,

parte-se primeiramente do pressuposto de que o conhecimento não se


concebe de forma acabada, esse é construído de forma dialética, num
movimento de interação das partes com o todo e do todo com as partes,
numa perspectiva de totalidade, buscando o real num rompimento com a
imediaticidade (BARBOZA; SARAGON, 2011 p. 73 apud KOSIK, 1995,
p.32).

Considerando a inserção do(a) assistente social na área da saúde e as necessidades


sociais que desencadearam a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), ressaltam-se,
quatro grandes eixos da atuação do(a) assistente social: atendimento direto aos usuários
(ações socioassistenciais, socioeducativas e articulação com a equipe de saúde), mobilização,
participação e controle social; investigação, planejamento e gestão; assessoria, qualificação e
formação profissional (CFESS, 2010).
Portanto, o trabalho do Serviço Social num ambulatório de Puericultura, fundamenta-
se nestes parâmetros e, em suma, traz como especificidades de sua atuação a democratização
de informações acerca dos direitos sociais; a viabilização do acesso aos serviços e garantia de
direitos; a orientação voltada à saúde e desenvolvimento da criança e do adolescente; o
fortalecimento do paciente e sua família diante do processo saúde/doença, assim como a
adesão ao tratamento e procedimentos necessários. Para tal, utiliza-se de alguns instrumentais
como entrevistas, avaliação socioeconômica, atendimento individual e grupal, orientações,
visitas domiciliares, encaminhamentos, dentre outros, salientando, ainda, a importância da
educação continuada como parte inerente a este trabalho.

5. Considerações finais

Diante do exposto, percebe-se que a prática interdisciplinar contribui diretamente para


uma melhor resolutividade do trabalho desenvolvido neste ambulatório, alcançando seus
objetivos, e forma mais abrangente. Visando um atendimento e acompanhamento
contextualizado às crianças e/ou adolescentes e seus familiares, o trabalho interdisciplinar no
ambulatório de puericultura vem a ser fator determinante para uma atuação capaz de atender a
população usuária deste serviço em sua totalidade.
Vale ressaltar, ainda, a positiva contribuição que as diversas áreas do saber,
propiciam, conjuntamente, aos profissionais e, consequentemente, aos usuários do serviço,
garantindo, também, a disseminação do conhecimento.
Dessa forma, considera-se importante romper com a prática centrada apenas no saber
médico, possibilitando um trabalho em equipe, onde prevaleça uma visão contextualizada do
indivíduo, sem preconceitos e não fragmentada a saberes específicos, para a concretização de
uma assistência mais completa à saúde integral da criança e do adolescente.
Assim, o trabalho realizado neste Ambulatório, visa atender e acompanhar os
pacientes e seus familiares, fornecendo medidas de apoio e fortalecimento, numa visão global
do indivíduo, considerando as mais diversas situações de seu contexto e suas diferentes
complexidades.

REFERÊNCIAS

BARBOZA, M. P.; SARAGON M. S. Saúde Mental e Trabalho: os determinantes sociais e


sua interface com a saúde mental dos trabalhadores de um hospital psiquiátrico. 2011. 114 f.
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