Carcinoma Do Colo Uterino
Carcinoma Do Colo Uterino
Carcinoma Do Colo Uterino
UTERINO
Dra. Andrea F. Neves
Médica especialista Gineco-Obstetra
[email protected]
■ Ambos são causados por uma infecção persistente por tipos oncogénicos do Papiloma
Vírus Humano (HPV) que provoca alterações funcionais nas células da zona de
transformação, tornando-as pontecialmente cancerigenas (lesões pré-neoplásicas).
■ É uma doença de desenvolvimento lento, e um dos únicos cancros potencialmente
preveníveis se realizado o rastreamento adequado, precoce e organizado.
2. EPIDEMIOLOGIA
■ É o terceiro cancro ginecológico mais comum em mulheres no mundo, com cerca de
600.000 novos casos/ano, e possivelmente o 4º cancro mais comum e mais fatal nas
mulheres (dentre todos) - estima-se a cada 2 minutos morra uma mulher com de cancro
do colo do útero no mundo, totalizando cerca de 340.000 mortes/ano pela doença
(INCA/ GLOBOCAN 2020)
Colo uterino:
Inc: 604 127
Mortalidade: 341 831
2. EPIDEMIOLOGIA
■ 85 a 90% dos casos ocorrem em países subdesenvolvidos, onde este ocupa o segundo ou
até o primeiro lugar na mulher (OMS,2012). Nestes locais, além da alta prevalência, a taxa
de mortalidade permanece elevada devido ao diagnóstico tardio associado a sistemas de
saúde deficientes, com outras prioridades concorrentes e défice de recursos e de
provedores qualificados e suficientes.
■ Estima-se que a mortalidade pode reduzir em cerca de 80% com o rastreamento adequado,
regular e organizado, pois a sua localização é de fácil acesso, os fatores de risco bem
conhecidos e o estágio pré-invasor prolongado e tratável.
■ No entanto, o que se observa ainda é que cerca de 54% das pacientes com cancro de colo
uterino em países de alta prevalência fazem rastreamento inadequado, e até 42% nunca
realizaram um exame preventivo antes dos sintomas (OPAS,2013; Berek &Novak)).
2.1- Epidemiologia MOZ
■ Moçambique está dentro dos países com as taxas de incidência mais altas do mundo –e
embora os dados ainda não reflitam por completo a realidade – estima-se que até
60/100.000 mulheres/ano fiquem doentes. Durante o ano de 2018 foram registados cerca
de 4.300 novos casos e cerca 3.400 mortes pela doença.
■ É o tipo de cancro mais prevalente na mulher moçambicana entre os 15 e os 45 anos, e
63% das pacientes diagnosticadas morre dentro do período de um ano.
■ O rastreio em massa iniciou apenas em 2009 em algumas unidades sanitárias mas vem se
estendendo. Actualmente cerca de 1.267 (76.5%) de toda a rede primária de saúde realiza
o rastreio, mas apenas 233 (18.4%) tem a capacidade para tratar as lesões detectadas
com crioterapia (MISAU,2020)
3. ANATOMIA
■ O colo uterino é a porção mais distal do útero, de consistência fibro-elástica, cilíndrico,
medindo cerca de 3-4cm de comprimento e 2,5cm de diâmetro (variável com a idade).A
sua porção inferior pode ser visualizada através da vagina, permitindo fácil acesso ao
mesmo.
*Faixa etária
disponibilizada para
calendário vacinal,
porém já aceite até
aos 25 anos, ou mais
se comprovada a
ausência dos
sorotipos de HPV
contidos na vacina
4. FISIOPATOLOGIA
■ Embora a infecção seja condição necessária, isoladamente não é suficiente para o
desenvolvimento da doença. Além do subtipo, carga viral e do grau de imunidade
individual, alguns outros fatores podem contribuir para a progressão da doença:
■ Para cada 1 milhão de mulheres infectadas, 10% (cerca de 100,000) irão desenvolver
alterações no seu tecido cervical. Estas alterações são mais frequentes entre os 30 a 49
anos (ou mais cedo se inicio precoce da actividade sexual)
■ Sem tratamento, cerca de 8% dessas mulheres irão desenvolver uma forma não invasiva de
cancro, limitado às camadas superficiais do epitélio (carcinoma in situ [CIS]) e até 1.6% irão
desenvolver cancro invasivo.
■ A progressão para o carcinoma a partir das lesões intra-epiteliais geralmente ocorre durante
um período de 10 a 20 anos , mas há descrição de progressão mais rápida (2-5anos)
2 -5 anos
4. FISIOPATOLOGIA
■ Como observado, o potencial de progressão das lesões intraepiteliais está associado ao seu
grau histológico. Esta classificação já sofreu diversas modificações ao longo do tempo, mas
atualmente a mais usada é a de Bethesda (2001), também adoptada pela OMS atualmente:
Bethesda 2001/
ASGUS
ASC-H
5. RASTREAMENTO
■ Melhor método de prevenção secundário do cancro invasor (após a infecção por HPV),
especialmente se associado ao tratamento das lesões pré-invasoras detectadas.
■ MÉTODO: O método ideal deve ser o mais sensível e com relação custo-benefício aceitável à
comunidade onde é aplicado, de forma a atingir pelo menos 80% da população-alvo.
– Sempre que disponível, a melhor estratégia atualmente recomendada é o teste de HPV, seguido
de tratamento imediato se positivo, sem necessidade de citologia.
– Países de baixa renda tem como primeira escolha a inspecção visual com ácido acético (VIA) e
tratamento imediato, pelo melhor custo-benefício e maior acessibilidade (Método “Ver e tratar” –
Recomendação Programa nacional do cancro, MZ)
5. RASTREAMENTO
■ A citologia (PapTeste) foi por muito tempo o método tradicional de rastreio, e ainda é utilizada
onde se encontra disponível. Sua sensibilidade é ligeiramente menor (30-80%) em
comparação à VIA, mas com maior especificidade (85%). Se resultado alterado, requer
confirmação histológica.
■ A COLPOSCOPIA consiste no uso de iluminação específica e ampliação de imagem como
complemento à VIA, mas não é por si só um método de rastreamento.
■ Independente do método usado, um rastreio positivo deve ser seguido de alguma
forma de tratamento – Ablativa ou Excisional:
– Métodos ablativos: Crioterapia; Termoablação
– Métodos excisionais: Conização a frio ou elétrica (LEEP)
5. RASTREAMENTO
■ Idade recomendada para início do rastreio (OMS) = 30 anos.
– Em Moçambique pelo estimado início sexual mais precoce, a idade atualmente preconizada é
dos 25 aos 54 anos ou em qualquer altura se sintomas sugestivos. Deve-se priorizar as mulheres
entre os 30 e 49 anos, mais do que realizar múltiplos testes numa mesma mulher.
– Pacientes HIV + devem iniciar rastreio após início da vida sexual
■ Intervalo entre rastreios = 3 anos se rastreio negativo com VIA (Moçambique); 5 anos se
rastreio realizado com teste de HPV.
■ Pacientes com HIV seguem os mesmos intervalos, excepto se rastreio positivo*.
■ Pós-menopausa – em mulheres sexualmente ativas o rastreio deve ser continuado pelo
menos até aos 65 anos, onde poderá ser interrompido se dois exames negativos
consecutivos nos últimos 5 anos.
6. CANCRO INVASIVO
■ O cancro invasivo é o espectro mais avançado de displasia cervival, em que ocorre
rompimento da camada basal do epitélio e consequente invasã0 do estroma e estruturas
adjacentes.
■ Como já referido, 2 tipos mais frequentes conforme o epitélio acometido:
•Epidermóides → 85 a 90%
•Adenocarcinoma → 10 a 15%
•Adenoescamoso
Toque VAGINAL: Útil para avaliação da consistência do colo, mobilidade e grau de invasão.
Essencial para estadiamento.
Toque RETAL: essencial para avaliar a infiltração dos paramétrios e parede pélvica.
6.3 Estadiamento
■ O cancro cervical é uma doença de estadiamento CLÍNICO. O Sistema de estadiamento da
FIGO é o padrão usado para todas as formas histológicas existentes no momento e é
periodicamente revisto (FIGO, 2018)
■ Sempre que houver dúvida deve-se usar o estadio menor. Depois da avaliação clínica e
uma vez iniciado o tratamento este NÃO DEVE MUDAR em função de achados
subsequentes (ex.cirúrgicos) uma vez que isto pode levar a uma ideia errada do resultado
do tratamento.
▪ Opções cirúrgicas:
• Cone clássico / Traquelectomia – doença microinvasora (Ia1), onde o risco de
metástase linfonodal é menor do que 1%. Risco de doença residual de cerca de 4%
sendo por vezes necessário tratamento adicional conforme as margens.
• Histerectomia simples (tipo 1 ou 2) – ideal para lesões até máximo 2cm de diâmetro
e sem evidência de invasão linfonodal
• Histerectomia radical com linfadenectomia (tipo 3 Wherteim-Meigs) – estádios Ib a
IIa- removidos ligamentos cardinal e uterossacro, parte da vagina e paramétrio.
■ Principais complicações:
– AGUDAS – Sangramento; Fístulas ureterovaginais ou vesicovaginais (1-2%); embolia pulmonar
(1%); Obstrução intestinal; Infecções (25 a 50%) - especialmente pulmonar; urinária ou de
local operatório
– CRÔNICAS – Hipotonia vesical (reversível); lesão de nervos
7.2 – Radioterapia:
■ Nos estádios iniciais (I a IIa), especialmente se contraindicação cirúrgica, está indicada
braquiterapia intracavitária isolada ou associada a radioterapia externa (acima de Ia2).
■ Se realizado estadiamento adequado, a associação entre Radio+Quimioterapia é
preferencial à radioterapia adjuvante ou neoadjuvante, (reduz a morbilidade). Porém, se a
opção tiver sido cirúrgica, a radioterapia adjuvante está indicada sempre que: linfonodos
positivos; margens cirúrgicas positivas; paramétrios infiltrados ou tumores » 4cm
“Estratégia Global para Acelerar a Eliminação do Câncer de Colo do Útero, como um Problema de Saúde
Pública”, OMS 2019:
■ 1) 90% das meninas recebam a vacina contra o papilomavírus humano (HPV) até os 15 anos de idade;
■ 2) 70% das mulheres entre 35 a 45 anos de idade realizem rastreamento com teste efetivo;
■ 3) 90% das mulheres identificadas com lesões precursoras ou câncer invasivo recebam tratamento.
BIBLIOGRAFIA
■ Berek, Jonathan S. Berek & Novak's Gynecology, 15th Edition. Copyright ©2007 Lippincott Williams &
Wilkins
■ Instituto Nacional de Câncer (Brasil), Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e
Colposcopia (ABPTGIC) e Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
(Febrasgo). Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. INCA, 2011.
■ Rastreio, diagnóstico e tratamento do cancer de colo de utero. Sao Paulo: Federacao Brasileira das
Associacoes de Ginecologia eObstetricia (FEBRASGO), 2017.
■ Mozambique: Cervical Cancer and Human Papillomavirus Infection May 2017 – fACT sheet, ISG
Barcelona institute for global health
■ Programa nacional de cancro de colo uterino e mama – diretrizas 2020. MISAU
■ Neerja Bhatla, Daisuke Aoki, Daya Nand Sharma, Rengaswamy Sankaranarayanan. FIGO cancer
report – cancer of the cérvix uterine.
■ WORLD HEALTH ORGANIZATION - International Agency for Research on Cancer. Globocan.