Livro Analise Matematica

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Matemática

F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
Matemática

Análise Matemática
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Análise Matemática
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.

Universidade Estadual do Ceará - Universidade Aberta do Brasil


Cleiton Batista Vasconcelos
Manoel Américo Rocha
Geografia

12

História

Educação
Física

Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Matemática
Análise Matemática

Cleiton Batista Vasconcelos


Manoel Américo Rocha

Geografia
2ª edição
Fortaleza - Ceará 9
12

História
2019

Educação
Física

Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia

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Copyright © 2019. Todos os direitos reservados desta edição à UAB/UECE. Nenhuma parte deste material
poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a
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Projeto Gráfico e Capa Maria Lírida Callou de Araújo e Mendonça (UNIFOR)
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Sumário

Apresentação..................................................................................................................5
Capítulo 1 – Números racionais e números irracionais..........................................7
1. Os números inteiros............................................................................................9
1.1. Construção axiomática3 dos números naturais........................................10
2. Os números racionais.......................................................................................12
2.1. Representação fracionária5 dos números racionais................................12
2.2 Representação decimal dos números racionais.......................................14
3. Os números irracionais.....................................................................................21
3.1. Números reais.............................................................................................23
Capítulo 2 – Conjuntos finitos e conjuntos enumeráveis.....................................27
1. Conjuntos finitos................................................................................................29
1.1. A unicidade do número de elementos de um conjunto finito...................31
1.2. A adição de números naturais....................................................................34
1.3. A multiplicação de números naturais.........................................................38
1.4 Conjuntos infinitos........................................................................................40
1.5. Conjuntos limitados.....................................................................................41
2. Conjuntos enumeráveis....................................................................................42
2.1. A enumerabilidade de Q.............................................................................46
Capítulo 3 – Números reais.........................................................................................51
1. A reta numérica real...........................................................................................53
2. A incompletude de Q.........................................................................................55
3. Os números reais: um corpo ordenado completo...........................................59
3.1. O corpo dos números reais........................................................................59
3.2. R é um corpo ordenado..............................................................................60
Capítulo 4 – O conceito de sequência de números reais......................................65
1. O conceito de sequência de números reais....................................................65
1.1 Alguns exemplos de sequência..................................................................66
2. Convergência de sequências...........................................................................66
Sobre os autores..........................................................................................................69

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Apresentação
Este livro tem por objetivo servir como base de apoio ao estudo da “Análise
Matemática “para os alunos do Curso de Licenciatura em Matemática, na mo-
dalidade à distância.
Assim, ele difere na forma e conteúdo dos livros de Análise Matemática
direcionados aos Cursos de Bacharelado, onde a abrangência do conteúdo e
o rigor das demonstrações devem ser maiores.
Por razões didáticas, o texto contém algumas apresentações de uma
maneira intuitiva e informal, com pouca ou nenhuma demonstração, mas dan-
do ao leitor (aluno) uma visão clara e ao mesmo tempo abrangente dos tópi-
cos que se propõe a apresentar.
Costuma-se dizer que a Análise Matemática é um Curso de Cálculo
mais formal pois ela trata do mesmo conteúdo, mas, devido à maturidade já
adquirida pelo aluno ao longo do curso, é apresentada de forma mais rigorosa.
Este Curso de Análise aqui apresentado, não inclui o estudo das deriva-
das e das integrais, se limitando em quatro capítulos ao estudo dos números,
conjuntos numéricos, sequências numéricas, séries numéricas, limites e con-
tinuidade.

Os autores

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Capítulo 1
Números racionais e
números irracionais

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Análise Matemática 9

Objetivo
l Nesta unidade, mostraremos a existência dos números reais, a partir da cons- 1
Aqui, estamos utilizando
trução de um número com representação decimal infinita1 e não periódica a expressão “infinito”
de forma intuitiva.
para, em seguida, estudarmos as suas principais propriedades. Iniciando nos-
Posteriormente,
so estudo pelos números naturais, inteiros e racionais, faremos uma constru- definiremos mais
ção axiomática dos números naturais, a partir dos axiomas de Peano, dando precisamente o que vem a
uma visão de números ordinais para esses números. Em seguida, definire- ser um conjunto infinito.
mos os números racionais como quociente entre dois inteiros, sendo o divisor
não nulo, apresentando suas representações fracionária e decimal. A partir da
representação decimal dos números racionais, mostraremos a existência dos
números irracionais, construindo, assim o conjunto dos números reais.

1. Os números inteiros
Desde há muito tempo conhecemos os números naturais e os números intei-
ros. Eles estão presentes em várias situações do nosso dia a dia, notadamen-
te, mas não exclusivamente, naquelas relacionadas com ordenação e com
contagem. Quando dizemos que 20 (vinte) times disputam a primeira divisão
do campeonato brasileiro ou que existem 5 (cinco) vogais, estamos utilizando
os números naturais em situações de contagem. Quando dizemos que o time
A foi o 1o (primeiro) colocado ou que a letra u é a 5a (quinta) vogal, estamos
empregando os números naturais em situações de ordenação.
O conjunto dos números naturais é representado pela letra N, seus
elementos são chamados de números naturais e são indicados pelos símbolos
1, 2, 3, 4,... Temos, portanto, que o conjunto dos números naturais é dado por
N = {1, 2, 3, 4,...}.
Em ambos os casos, as reticências indicam que esses números conti-
nuam indefinidamente, ou seja, que o conjunto dos números naturais é infinito.
Na realidade, além de infinito, o conjunto dos números naturais é ili-
mitado2 superiormente, ou seja, dado qualquer número natural n, é sempre
possível encontrar outro número natural maior do que n.
Observemos que, de acordo com a nossa escolha, o 0 (zero) não foi
considerado um número natural. Essa é uma escolha possível e bastante na-

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10 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

2
A noção de conjunto tural na análise, pois faz com que o elemento 1 seja o primeiro número natural,
ilimitado superiormente o 2 seja o segundo, o 3 seja o terceiro, etc., coincidindo com a ideia de que,
é outra expressão que
está sendo utilizada de em uma sequencia, o primeiro termo seja representado por a1; o segundo por
forma intuitiva e que será a2; e assim por diante. Observemos também que, assim procedendo, o con-
mais bem precisada, junto dos números naturais não terá elemento neutro para a adição, uma vez
posteriormente. que, como sabemos esse elemento é o zero.
O conjunto dos números inteiros é representado pela letra Z e possui
como elementos os números que são indicados pelos símbolos 0, +1, -1, +2,
-2, +3, -3,... Assim, podemos escrever:
Z = {...-3, -2, -1, 0, 1, 2, 3...}.
Novamente, as reticencias indicam a infinitude do conjunto dos núme-
3
Axiomatizar um sistema
ou uma teoria é escolher ros inteiros que, além de infinito, é ilimitado tanto inferior, quanto superiormen-
um conjunto bem definido te. Com isso, queremos dizer que, dado um número inteiro n, sempre é possí-
de objetos e relações vel encontrar outros números inteiros n1 e n2, tais que n1 seja menor do que
entre esses objetos, n e n2 seja maior do que n.
que serão chamados
de entes primitivos, e 1.1. Construção axiomática3 dos números naturais
de propriedades que
devem ser aceitas e É possível construir de forma axiomática o conjunto dos números naturais,
“respeitadas” para, a partir conforme veremos a seguir.
deles, determinarmos
e provarmos todos os Para tanto, usaremos a axiomatização de Peano4. Essa axiomatização
demais resultados dessa nos permite estudar os números naturais como números ordinais, isto é, como
teoria. resultantes de uma ordenação, e não como números cardinais, resultantes
de contagem. O estudo dos números naturais do ponto de vista dos números
cardinais, isto é, resultantes de contagem, será feito quando do estudo mais
detalhado dos conjuntos finitos.
Em sua axiomatização, Peano assumiu a existência de um conjunto
4
Giuseppe Peano
(1858 - 1932) foi um
não vazio N, cujos elementos são chamados de números naturais, e de uma
matemático italiano função s: N → N, que associa a cada número natural n o número natural
que nasceu em Cuneo, s(n), chamado de sucessor de n, e que possui as seguintes propriedades:
estudou em Turin e deu
P1: s: N → N é injetora.
grande contribuição à
Matemática, notadamente Isto é, dados os números naturais m e n, com m ≠ n, tem-se s(m) ≠ s(n).
nos campos da análise P2: N – s(N) é um conjunto unitário.
matemática, lógica,
teoria dos conjuntos, Ou seja, existe um único número natural que não é sucessor de nenhum ou-
equações diferenciais e tro. Esse número é chamado de “um” e denotado pelo símbolo 1.
análise vetorial. Em 1889, P3: (Princípio da indução)
publicou seus famosos
axiomas que definiram Se X ⊂ N é tal que 1 ∈ X e, para todo n ∈ X, tem-se que s(n) ∈ X, então
os números naturais em X = N.
termos de conjuntos.
Com esses entes primitivos (conjunto não vazio e função sucessor) e
estes três postulados (P1, P2 e P3) é possível construir toda a teoria dos nú-
meros naturais que conhecemos.

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Análise Matemática 11

O princípio da indução (propriedade P3) muitas vezes é utilizado para


demonstrarmos certos resultados ou propriedades que são válidos para todos
ou quase todos os números naturais. Aqui, a expressão “quase todos” signifi-
ca para todos exceto uma quantidade finita deles.
Uma demonstração em que se utilize o princípio da indução é chamada
de demonstração por indução.
Como exemplo de uma demonstração por indução, vejamos os exem-
plos 1 e 2 que seguem.
Exemplo 1. Vamos mostrar por indução que o sucessor de um número natu-
ral não pode ser igual a esse número. Isto é, vamos mostrar que dado um nú-
mero natural n, tem-se, obrigatoriamente, n ≠ s(n). Para tanto, consideremos
o conjunto X, dado por X = {n ∈ N ; n ≠ s(n)}. Temos que 1 ∈ X, pois 1 ≠ s(n),
para todo natural n, uma vez que 1 ∈ N – s(N). Tomemos agora n pertencente
ao conjunto X e vamos mostrar que s(n) também pertence a X. Uma vez que
n ∈ X, n ≠ s(n) e, como s é injetiva, temos que s(n) ≠ s(s(n)) e, portanto, s(n)
pertence a X. Assim, X é um subconjunto de N, tal que: (i) 1 ∈ X; e (ii) se n ∈ X,
então s(n) ∈ X. Logo, pela propriedade P3, ou seja, pelo princípio de indução,
X = N e, consequentemente, n ≠ s(n), ∀ n ∈ N.
No exemplo 2 a seguir usaremos um resultado relacionado à adição de
números naturais, mesmo tal operação ainda não tendo sido definida. Usare-
mos também que o sucessor de um número natural n é dado por n + 1.
Exemplo 2. Vamos mostrar por indução que a soma dos n primeiros números
naturais ímpares pode ser dada por n2. Seja o conjunto X = {n ∈ N ; 1 + 3 + 5 +
... + (2n-1) = n2}. Observemos inicialmente que considerando o número 1 como
a “soma” do primeiro número ímpar e observando que 12 = 1, temos que 1 ∈ X.
Observe agora que 2 ∈ X, pois a soma dos 2 primeiros números ímpares é 22
, uma vez que 1 + 3 = 4; 3 ∈ X, pois a soma dos 3 primeiros números ímpares
é 1 + 3 + 5 = 9 = 32. Seja agora n ∈ X e vamos mostrar que s(n) ∈ X. Dizer que
n ∈ X significa dizer que 1 + 3 + 5 +...+(2n - 1) = n2. Mostrar que s(n) = n + 1 ∈
X significa mostrar que a vale a igualdade 1 + 3 + 5 + ... + (2n - 1) + [2(n + 1) –1]
= (n + 1)2. Usando o fato de que n ∈ X, o primeiro membro da igualdade fica n2
+ [2(n + 1) –1], ou seja, n2 + 2n + 1, que é igual a (n + 1)2. Assim, X é tal que (i)
1 ∈ X; e (ii) se n ∈ X, então s(n) ∈ X. Logo, pelo princípio da indução, X = N e,
consequente, a soma dos n primeiros números ímpares pode ser dada por n2.
Outra aplicação para o princípio da indução é na definição de certos en-
tes e de operações matemáticas. Quando definimos utilizando o princípio da
indução, dizemos que temos uma definição por indução ou por recorrência.
Os exemplos a seguir nos mostram como utilizar a indução para definir
uma função e a adição de números naturais.
Exemplo 3. Definamos uma função f: N → N por f(1) = 2, f(2) = 4 e f(n) =
2f(n - 1)+f(n - 2), para n ≥ 3. Assim, temos que f(3) = 2f(2) + f(1) = 2 x 4+2 = 10;
f(4) = 2f(3) + f(2) = 2 x 10 + 4 = 24; e assim por diante.

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12 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Exemplo 4. A adição de números naturais pode ser definida por recorrência


ou indução, como segue: Dados os números naturais m e n, e denotando por
s(1) = 2, s(2) = 3, s(3) = 4, s(4) = 5,..., a soma de m com n, nessa ordem, é
definida por: m+1 = s(m);
m + 2 = s(m + 1) = s(s(m)) = s2(m);
m + 3 = s(m + 2) = s(s2(m)) = s3(m);
.
.
.
m + s(n) = s(m + n) = ss(n)(m).

Para refletir
1. Mostre por indução sobre n que a soma dos n primeiros números naturais pares
pode ser dada por n(n+1).
2. Defina por indução a multiplicação de dois números naturais m e n.
3. Mostre por indução o princípio da boa ordenação, que afirma: Todo subconjunto
não vazio de números naturais possui um menor elemento.
4. Defina por indução uma função f: N → N, tal que f(n) = n!.
5. Dados os números naturais a e b, mostre que existe um número natural m, tal que
ma > b.
6. Sejam M um número natural e X ⊂ N, tal que: (i) M ∈ X; (ii) se m ∈ X, então m + 1 ∈
X. Mostre que X contém todos os números naturais maiores do que ou iguais a M.
7. Mostre que se n ∈ N e n ≥ 4, então n! > 2n.
8. Seja a ∈ N. Mostre por indução sobre n que an+1 – 1 = (a – 1)(an + an-1 +...+ a + 1).
9. Seja P(n) a afirmação:
P(n): 1 + 2 + +...+ n = (2n + 1)2/8. Mostre que se P(k) for verdadeira, então P(k+1) tam-
bém é verdadeira.
10. Prove a desigualdade de Bernoulli: (1 + x)n ≥ 1 + nx, para todo x ≥ -1 e para todo n ∈ N.

2. Os números racionais
Além dos números naturais e dos números inteiros, muitas vezes nos depara-
mos com números como: 3/4; 0,25; 1/6; 0,253; etc. Esses números são cha-
mados de números racionais e serão mais bem trabalhados no que segue.

2.1. Representação fracionária5 dos números racionais


Tomando os números que podem ser escritos na forma a/b, em que a e b são
números inteiros, com b ≠ 0, obtemos os números racionais em sua represen-
tação fracionária.
O conjunto dos números racionais é representado pela letra Q e, por-
tanto, temos que
Q = { a/b ; a, b ∈ Z, b ≠ 0 }.

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Análise Matemática 13

Mais precisamente, temos a seguinte definição.


Definição 01. Número racional é todo número que pode ser escrito na
forma a/b, em que a e b são números inteiros, e b é diferente de zero.
Na realidade, cada número racional pode ser pensado como uma clas-
se de equivalência da relação f, definida como segue:
f: a/b f c/d se, e somente se, ad = bc,
5
Estamos utilizando a
em que ad e bc indicam, respectivamente, o produto de a por d e o representação fracionária
produto de b por c. de um número racional
como se fosse o próprio
Essa relação que chamamos de f, em geral, é denotada pelo sinal de
número e faremos isso ao
igualdade, e falamos que as frações a/b e c/d são iguais ou equivalentes e longo de todo nosso texto.
escrevemos a/b = c/d para indicar que as frações a/b e c/d são equivalentes
pela relação f, ou seja, que ad = bc.
Por exemplo,
Exemplo 5. Uma vez que vale a igualdade 3 x 6 = 2 x 9, temos que 3/2 = 9/6;
6/2 = 9/3; 6/9 = 2/3; 9/6 = 3/2; entre outras equivalências.
Exemplo 6. Como 4 x (-1) = (-2) x 2, temos: (-1)/(-2) = 2/4; 4/(-2) = 2/(-1); (-2)/
(-1) = 4/2; entre outras equivalências.

Para refletir
1. Defina relação de equivalência em um conjunto não vazio E.
2 Dê exemplos de relações de equivalência no conjunto Z dos números inteiros.
3. Dados uma relação de equivalência f em um conjunto E, e x ∈ E, defina a classe de
equivalência de x módulo f.
4. Determine as classes de equivalência das relações definidas no exercício 02.
5. Determine frações equivalentes às frações: (a) 2/3; (b) 3/4; (c) 1/5; (d) 1/5 e 2/3, ao
mesmo tempo; (e) 2/3 e 3/4, ao mesmo tempo.
6. Determine condições suficientes para que uma fração seja equivalente às frações:
(a) 3/5; (b) 2/6.
7. Determine uma fração equivalente a 4/5 e tal que: (a) seu numerador seja igual a 12; (b)
seu denominador seja igual a 30; (c) seu numerador seja 12 e seu denominador seja 30.
8. Mostre que existe uma e apenas uma fração equivalente a 3/5 cujo numerador seja 30.
9. Determine uma fração equivalente a 2/9 tal que a soma de seu numerador com seu
denominador seja 110.
10. Sabendo que as frações 19/11 e m/n são equivalentes, determine os valores de m
e de n para os quais 11m + 31n = 550.

Dos exemplos anteriores, podemos induzir que cada número racional


possui um representante que, em sua forma fracionária, pode ser escrito na
forma a/b, em que a e b são números inteiros com b > 0. Com isso, a definição
de número racional pode ser reescrita como segue.
Definição 2. Número racional é todo número que pode ser escrito na forma
a/b, em que a e b são inteiros, com b > 0.

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14 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

a) A infinitude dos números racionais


Sabemos que todo número racional pode ser escrito na forma a/b, em
que a e b são inteiros e b é maior do que zero. Sabemos também que os nú-
meros racionais a/b e c/d são iguais se, e somente se, ad = bc.
a/b = c/d ⇔ ad = bc.
Assim, os números racionais a/2 e c/2 serão iguais se, e somente se, 2a
= 2c ou, equivalentemente, a = c.
a/2 = c/2 ⇔ 2a = 2c ⇔ a = c.
Isto nos garante que os números racionais 1/2; 2/2; 3/2; 4/2; 5/2;… são,
todos, distintos e que o conjunto dos números racionais é infinito. Além de
infinito esse conjunto é ilimitado, tanto superior quanto inferiormente.

b) A inclusão de Z em Q
Dentre os números racionais, um subconjunto merece destaque e es-
pecial atenção. É o subconjunto dos racionais que podem ser representados
na forma a/1, em que a é um número inteiro, quais sejam,
…, -4/1, -3/1, -2/1, -1/1, 0/1, 1/1, 2/1, 3/1,…
Esses números podem ser pensados como uma cópia dos números in-
teiros e, com isso, podemos dizer que Z ⊂ Q, ou seja, que todo número inteiro
é um número racional.
Exemplo 7. O número racional -4/1 corresponde ao inteiro -4; o número ra-
cional 3/1 corresponde ao inteiro 3; e o racional 0/1 corresponde ao inteiro 0.
Exemplo 8. Como -4/1 = -8/2, o racional -8/2 também corresponde ao inteiro -4.
Exemplo 9. O racional ad/d, em que a e d são inteiros, sendo d ≠ 0, correspon-
de ao inteiro a, uma vez que ad/d = a/1, pois vale a igualdade ad x 1 = a x d.

2.2 Representação decimal dos números racionais


Na representação de um número racional na forma de fração, digamos a/b,
são utilizados dois números inteiros. O número a é chamado de numerador
e o número b é chamado de denominador da fração. É possível dividirmos o
numerador pelo denominador de uma fração, obtendo outra representação
para esse número racional.
Exemplo 10. No número racional 3/4, ao dividirmos o numerador pelo deno-
minador, ou seja, ao dividirmos 3 por 4, obtemos o número 0,75, que é uma
representação decimal do número racional representado por 3/4.
Exemplo 11. No número racional 4/2, ao dividirmos 4 por 2, obtemos o núme-
ro inteiro 2, que é a representação decimal do número racional representado

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Análise Matemática 15

por 4/2. Lembremos que vale a igualdade 4/2 = 2/1, uma vez que 4 x 1 = 2 x
2. Assim, 2 é a representação decimal do número racional 2/1, justificando a
inclusão de Z em Q, sugerida anteriormente.
Exemplo 12. No número racional 1/2, ao dividirmos 1 por 2, obtemos o número
0,5, que é a representação decimal do número racional representado por 1/2.
Na representação decimal de um número racional, o número que vem
antes da vírgula é chamado de parte inteira do número racional, e o número
que vem depois da vírgula é chamado de parte fracionária do número racional.
Exemplo 13. A parte inteira do número racional 23,586 é 23 e sua parte fra-
cionária é 586.
Exemplo 14. No número 0,25, a parte inteira é 0 (zero) e a parte fracionária é 25.
Quadro 1
PARTE INTEIRA E PARTE FRACIONÁRIA DO NÚMERO RACIONAL A1A2...AN,A1A2A3...AR.
Parte inteira A1A2...An
Parte fracionária a1a2a3...ar

a) A forma de decimal exata e a forma de dízima periódica


Alguns números racionais se encontram na forma a/b em que b é uma
potência de 10, por exemplo: 7/10, 3/100, 17/1000, etc.; outros, como por
exemplo: 3/5, 5/4, 7/8, são tais que possuem uma fração equivalente na qual
o denominador é uma potência de 10. A fração 3/5 é equivalente a 6/10; 5/4 é
equivalente 125/100; e 7/8 é equivalente a 875/1000.
A forma decimal desses números racionais é fácil de ser encontrada,
como se pode perceber.
Quadro 2
REPRESENTANDO FRAÇÕES DECIMAIS COMO NÚMEROS DECIMAIS
Forma Fracionária Forma Decimal Expoente da Potência de 10 do Denominador Número de Casas Decimais
7/10 0,7 1 1
3/100 0,03 2 2
17/1000 0,017 3 3
25/10 2,5 1 1
3/5 = 6/10 0,6 1 1
5/4 = 125/100 1,25 2 2
7/8 = 875/1000 0,875 3 3
Nos exemplos anteriores, as representações decimais encontradas são
os numeradores das frações com uma vírgula entre seus algarismos, sepa-
rando a parte inteira da parte fracionária (ex.: 2,5 e 1,25), ou estes numera-
dores precedidos de zeros (ex.: 0,7 e 0,03), de tal forma que a quantidade de
algarismos na parte fracionária da representação seja sempre igual ao expo-
ente da potência de 10 do denominador da fração.

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16 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Assim, é possível induzir que a representação decimal de um número


racional cujo denominador (de sua representação fracionária) é uma potência
de 10 (de expoente n, digamos) consiste de:
o número correspondente ao numerador da fração com uma vírgula
entre seus algarismos, de tal forma que a parte fracionária da representação
decimal possua n algarismos; ou
o número correspondente ao numerador precedido de algarismos 0
(zero), de tal forma que a parte fracionária da representação decimal possua
n algarismos.
Exemplo 15. A representação decimal do número racional 1/4 é 0,25. De fato,
1/4 é equivalente à fração 25/100 e 100 = 102. Assim, a representação deci-
mal de 1/4 deverá ter 2 algarismos na parte fracionária. Como o numerador
da fração é 25 que só possui 2 algarismos, a representação decimal de 1/4
deverá ser 0,25 e, neste caso, tivemos que acrescentar 1 algarismo 0.
Exemplo 16. A representação decimal do número racional 6/5 é 1,2. De fato,
6/5 é equivalente à 12/10 e, portanto, sua representação decimal terá 1 (10 =
101) algarismo na parte fracionária. O numerador da fração em questão é 12
e, portanto, a vírgula vai ficar entre o 1 e o 2.
Mas nem todos os números racionais possuem uma representação fra-
cionária na qual o denominador é uma potência de 10. De fato, os únicos
fatores primos que se encontram nas potências de 10 são 2 e 5, uma vez
que, como sabemos, 10 = 2 x 5. Assim, se no denominador da fração aparece
algum outro fator primo que não o 2 ou 5, e este fator não pode ser cancelado
com algum fator do numerador da fração, então esse número racional não vai
possuir uma fração equivalente cujo denominador seja uma potência de 10.
Exemplo 17. O número racional 2/3 não possui fração equivalente cujo de-
nominador seja potência de 10, pois seu denominador possui o fator 3 como
fator primo.
Exemplo 18. O fator 7 que aparece no denominador do número 14/35 pode
ser cancelado com o fator 7 que aparece no seu numerador e, portanto, 14/35
é equivalente a 2/5 que, por sua vez, é equivalente a 4/10.
A representação decimal de números racionais que possuem represen-
tação fracionária cujo denominador é uma potência de 10 é dita um número
decimal exato ou, simplesmente, um decimal exato. Para os demais números
racionais, a representação decimal é infinita e é chamada de dízima periódica.
Em qualquer dos casos, a representação decimal do número racional
pode ser obtida pela divisão do numerador pelo denominador.
Exemplo 19. A representação decimal do número racional 2/3 é 0,666..., em
que as reticências indicam que a divisão não está encerrada e poderia conti-

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Análise Matemática 17

nuar indefinidamente sempre com 6 no quociente. Isso pode ser visto a partir
da divisão do 2 por 3, como segue:
(i) inicialmente, dividimos o 2 por 3 e obtemos 0 (zero) no quociente;
(ii) para continuarmos a divisão, acrescentamos 0 ao dividendo e dividimos 20
por 3, obtendo 6 no quociente e 2 para resto;
(iii) acrescentamos 0 ao dividendo e dividimos outra vez 20 por 3, obtendo 6 no quo-
ciente e 2 para resto;
(iv)acrescentamos 0 ao dividendo e dividimos outra vez 20 por 3, obtendo 6 no quo-
ciente e 2 para resto; e assim por diante.
Exemplo 20. A representação decimal do número racional 5/7 é
0,714285714285... (aqui, as reticências indicam que o número 714285 se
repete no quociente, indefinidamente). Isso pode ser visto ao efetuarmos a
divisão de 5 por 7, como segue:
(i) inicialmente, dividimos o 5 pelo 7 e obtemos 0 no quociente, que é a
parte inteira do número decimal;
(ii) continuamos a divisão, dividindo 50 por 7; obtemos 7 para quociente e
o resto 1;
(iii) continuamos a divisão, dividindo 10 por 7; obtemos 1 para quociente
e o resto 3;
(iv) continuamos..., dividindo 30 por 7; obtemos 4 para quociente e o resto 2;
(v) continuamos..., dividindo 20 por 7; obtemos 2 para quociente e o resto 6;
(vi) continuamos..., dividindo 60 por 7; obtemos 8 para quociente e o resto 4;
(vii) continuamos..., dividindo 40 por 7; obtemos 5 para quociente e o resto 5;
(viii) continuamos..., dividindo 50 por 7; obtemos 7 para quociente e o resto 1.
Observemos que retornamos ao passo (ii), no qual tínhamos que dividir
50 por 7, obtendo 7 para quociente e resto 1. Isso significa que repetiremos os
passos (iii), (iv), (v), (vi) e (vii), recaindo no passo (viii) que é igual ao (ii). Assim,
todos os restos e quocientes obtidos nesses passos irão se repetir, dando
origem a um número decimal infinito e periódico.
No exemplo 20, anterior, o número racional 5/7 deu origem a um número
decimal infinito e periódico, chamado de dízima periódica. Isso ocorreu porque
os restos possíveis de uma divisão por 7 são 0 (neste caso teríamos um número
decimal exato como quociente), 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e, portanto, obrigatoriamente
teremos a repetição dos algarismos no quociente. O número formado pelos al-
garismos que se repetem é chamado de período da dízima periódica.
Observemos que quando formos determinar a representação decimal
do número racional a/b (com b > 0), dividindo o numerador a pelo denomina-
dor b, os únicos restos possíveis para essa divisão são 0 (nesse caso teremos

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18 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

um número decimal exato), 1, 2, 3, 4,..., b-1 e, então, obrigatoriamente tere-


mos um número decimal exato ou uma dízima periódica.
Essas observações nos levam à seguinte proposição.
Proposição 1. A representação decimal de um número racional ou é um nú-
mero decimal exato ou uma dízima periódica.
É importante mencionarmos que a recíproca da proposição 1, que será
enunciada na proposição 2, também é verdadeira e, portanto, os números
racionais ficam caracterizados como aqueles números que possuem repre-
sentação decimal exata ou de dízima periódica.
Proposição 2. Todo número com representação decimal finita ou periódica pode
ser representado na forma a/b, em que a e b são números inteiros, com b > 0.

b) Transformando números decimais em frações


De acordo com a proposição 2, todo número decimal exato e toda dí-
zima periódica podem ser transformados em frações do tipo a/b, com b > 0.
No caso dos números decimais exatos, o numerador da fração será o
número decimal sem a vírgula e o denominador será uma potência de 10, cujo
expoente será a quantidade de algarismos da parte fracionária do número
decimal.
Exemplo 21. A fração decimal que representa o número decimal 0,32 terá
como numerador o número 032, ou, simplesmente, 32 e como denominador o
número 100, uma vez que 100 = 102.
Exemplo 22. A fração decimal que representa o número decimal 3,257 terá
como numerador o número 3257, e como denominador o número 1000, uma
vez que 1000 = 103.
Observamos que para os números decimais dos exemplos 21 e 22
existem outras frações que representam esses números. Basta que tomemos
frações que lhes sejam equivalentes. Assim, o número 0,32 também pode ser
representado pelas frações 320/1000 ou 16/50 ou 8/25. Essa última sendo
chamada de fração irredutível pois não existe um fator comum ao numerador
e ao denominador.
No caso das dízimas periódicas, o processo é um pouco mais bem
elaborado.

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Análise Matemática 19

Por exemplo,
Exemplo 23. A fração que representa a dízima periódica 0,33... é 1/3. Isso
pode ser visto procedendo-se segundo o seguinte algoritmo:
(i) x = 0,333...
(ii) 10x = 3,333...
(iii) (10x – x) = (3,333... – 0,333...)
(iv) 9x = 3
(v) x = 3/9 = 1/3.
Exemplo 24. Outra maneira de vermos essa transformação seria pensarmos
assim:
(i) x = 0,333...
(ii) 10x = 3,333... = 3 + 0,333... = 3 + x
(iii) 9x = 3
(iv) x = 3/9 = 1/3.
Exemplo 25. A fração que representa a dízima periódica 0,353535... é 35/99.
Isso pode ser visto procedendo-se segundo o seguinte algoritmo:
(i) x = 0,353535...
(ii) 10x = 3,535353...
(iii) 100x = 35,353535...
(iv) (100x – x) = (35,353535... – 0,353535...)
(v) 99x = 35
(vi) x = 35/99.
Exemplo 26. Procedendo como no exemplo 24, temos o seguinte:
(i) x = 0,353535...
(ii) 10x = 3,535353...
(iii) 100x = 35,353535... = 35 + x
(iv) 99x = 35
(v) x = 35/99.
Exemplo 27. A dízima periódica 0,566... pode ser representada pela fração
51/90, como podemos ver no que segue:
(i) x = 0,5666...
(ii) 10x = 5,666... = 5 + 0,666...
(iii) 100x = 56,666... = 56 + (10x – 5)
(iv) 100x – 10x = 56 – 5 = 51
(v) 90x = 51
(vi) x = 51/90.

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20 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Os quadros a seguir nos mostram as divisões de 35 por 99 e de 51 por 90.


Quadro 3
Divisão de 35 por 99

Quadro 4
Divisão de 51 por 90

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Análise Matemática 21

Para refletir
1. Determine a forma decimal dos números racionais:
a) 3/4.
b) 34/5.
c) 3/11.
d) 9/7.
2. Represente na forma fracionária os números:
a) 3,25323232... (período 32).
b) 0,176 (decimal exato).
c) 9,103222... (período 2).
3. Determine a soma 2,878787... + 3,9191...

3. Os números irracionais
Vimos que os números racionais possuem representação decimal finita, na
forma de número decimal exato, ou representação decimal infinita, na forma
de dízimas periódicas. Entretanto, é possível construirmos um número com
representação decimal infinita e não periódica.
Exemplo 28. O número com representação decimal, ou simplesmente, o número
decimal 0,12122122212222..., no qual temos, após a vírgula, uma sequência de
algarismos 1 e 2 formada da maneira explicada a seguir, é um número decimal
não exato, que não é uma dízima periódica: (i) inicialmente, temos um algarismo 1
seguido de um algarismo 2; (ii) em seguida, temos um algarismo 1 seguido de dois
algarismos 2; (iii) depois, um algarismo 1 seguido de três algarismos 2; (iv) depois,
um algarismo 1 seguido de quatro algarismos 2; e assim por diante.
Exemplo 29. O número decimal 23,12131415..., no qual após a vírgula temos
em sequência os números 12, 13, 14, 15 e assim por diante, é um número
decimal infinito que não é dízima periódica.
Dentre esses números com representação decimal infinita e não peri-
ódica, um dos mais conhecidos é o número π, cuja representação decimal é
3,141592... As reticências, aqui, indicam que a representação continua indefi-
nidamente, sendo que de uma forma totalmente desordenada.
Quadro 5

REPRESENTAÇÃO DECIMAL DO NÚMERO Π


3,1415926535897932384626433832795028841971693993751058209749445923078164062862089
986280348253421170679
82148086513282306647093844609550582231725359408128481117450284102701938521105559
64462294895493038196
44288109756659334461284756482337867831652712019091456485669234603486104543266482
13393607260249141273
72458700660631558817488152092096282925409171536436789259036001133053054882046652
1384146951941511609...

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22 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Os números cuja representação decimal não é exata e não é uma dízi-


ma periódica são chamados de números irracionais.
2 é um número irracional. Outro número irracional bastante conhecido nos-
so é 2 .Esse símbolo representa a raiz quadrada6 positiva de 2 e pode ser
obtido como a medida da diagonal de um quadrado de lados 1. De fato, de-
notando por d a diagonal do quadrado de lados 1, pelo teorema de Pitágoras,
temos que: d2 = 12 + 12; ou seja, d2 = 2; ou seja d = 2 .
A demonstração da irracionalidade de , por ser mais fácil, será provada
no que segue.
Proposição 3. O número é um número irracional.
Prova
Suponha que 2 seja um número racional. Isto é, suponha que possa-
mos escrever 2 = m/n, em que m e n são números inteiros, com n > 0, e tais
que a fração m/n seja irredutível.
Da igualdade 2 = m/n, segue que (m/n)2 = 2; donde se conclui que m2
= 2n2. Dessa última igualdade, segue que 2 é um divisor de m2 e, consequen-
temente, um divisor de m. Assim, m = 2x e, portanto, 2n2 = (2x)2, o que nos
dá, a igualdade 2n2 = 4x2, ou ainda, n2 = 2x2. De novo, temos que 2 é divisor
de n2 e, consequentemente, de n. Isso contraria o fato de a fração m/n ser
irredutível.
Logo, 2 não é racional.
Provando o resultado
Na demonstração da proposição 3, anterior, usamos o fato de que se p
é um número primo que divide n2, então p divide n. Esse resultado é consequ-
6
Uma raiz quadrada de um ência de um resultado mais geral que será provado no lema seguinte.
número racional positivo
a é qualquer número Lema 4. Se a e b são números inteiros e p é um número primo que é divisor
b, tal que b2 = a. Todo de ab e não é divisor de a, então p é divisor de b.
número racional positivo
a possui duas raízes Prova
quadradas: uma positiva, Como p é primo e não é divisor de a, o máximo divisor comum entre p e
indicada por a , e outra a é 1. Assim, existem inteiros m e n, tais que mp + na = 1. Multiplicando ambos
negativa, indicada por - a
. Assim, por exemplo, o os lados da igualdade por b, obtemos b = bmp + nab. Como p é divisor de bmp
número racional 4 possui e p é divisor de ab (por hipótese), temos que p é divisor de b.
duas raízes quadradas: Provando o resultado
uma positiva, 4 , e
outra negativa, - 4 . Assim, como já era do conhecimento dos gregos antigos da época de
Observemos que = 2 e - = Pitágoras, os números que chamamos de irracionais, realmente, existem.
-2.

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Análise Matemática 23

3.1. Números reais


Vimos que os números racionais, de certa forma, apresentam uma insuficiên-
cia ou deficiência em relação às representações decimais possíveis de serem
construídas com os algarismos de 0 a 9. Nem toda representação decimal
infinita corresponde a um número racional.
Isso sugere a existência de outra categoria de números, que aceitamos
como tais, e chamamos de números irracionais.
Na realidade, chamando tais representações de números, estamos
aceitando a existência de novos números sem qualquer prova deste fato.
A prova de que tais números existem só foi concretizada mediante a
demonstração de que, que é a medida da diagonal de um quadrado de lados
medindo 1 unidade, não é um número racional.
Como isso, postulamos a existência de um conjunto numérico contendo
os números racionais e os irracionais: o conjunto dos números reais.
Assim, podemos dizer que número real é todo número que é racional ou
irracional. São números reais, entre outros:
i) 2 e 3, por serem números naturais;
ii) -2, 0 e 5, por serem números inteiros;
iii) 3/4 e -2/8, por serem números racionais;
iv) 2, 3
4 e π, por serem números irracionais.
Assim, o conjunto dos números reais é a união do conjunto dos nú-
meros racionais com o dos números irracionais. Denotando o conjunto dos
números irracionais por Qc e o conjunto dos números reais por R, temos que
R = Q ∪ Qc.
Embora possa parecer o contrário, mesmo sendo ambos os conjuntos
infinitos, em um sentido que será explicado posteriormente, existem mais nú-
meros irracionais do que números irracionais.

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24 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Atividades de avaliação
1. Mostre que 3 é irracional, de maneira semelhante ao que foi feito no texto
para 2 .
2. Mostre que 2+ 3 é irracional.
3. A soma de dois números racionais é sempre um número racional. Mostre
por meio de exemplos que é possível que a soma de dois números irracio-
nais seja um número racional. Dê exemplos mostrando que a soma de dois
números irracionais pode ser um número irracional.
4. O produto de dois números racionais é sempre um número racional. Mostre
por meio de exemplos que é possível que o produto de dois números irra-
cionais seja um número racional. Dê exemplos mostrando que o produto de
dois números irracionais pode ser um número irracional.
5. Mostre que se p é primo, então p é irracional.
6. Um número natural a é dito um quadrado perfeito se, e somente se, existe
um número natural b, tal que b2 = a. Mostre que se o número natural a não
for quadrado perfeito, então a é irracional.
7. Mostre que a soma de um número racional com um número irracional é
sempre irracional.
8. Mostre que o produto de um número racional por um número irracional é,
sempre, um número irracional.

Referências
ÁVILA, Geraldo Severo de Souza. Análise Matemática para licenciatura.
São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
FERREIRA, Jamil. A construção dos números. Textos Universitários. Rio de
Janeiro: SBM, 2010.
LIMA, Elon Lages. Curso de Análise, v.1. Projeto Euclides. Rio de Janeiro:
SBM/CNPq, 1976.
MUNIZ NETO, Antonio Caminha. Números reais. Tópicos de Matemática
Elementar, v.1. Rio de Janeiro: SBM, 2012.
MUNIZ NETO, Antonio Caminha. Introdução à Análise. Tópicos de Matemá-
tica Elementar, v.3. Rio de Janeiro: SBM, 2012.

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Análise Matemática 25

NIVEN, Ivan. Números: racionais e irracionais. Coleção Fundamentos da


Matemática Elementar. Rio de Janeiro: SBM, 1984.
RIPOLL, Jaime Bruck; RIPOLL, Cydara Cavedon; SILVEIRA, José Francis-
co Porto. Números racionais, reais e complexos. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2006.

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Capítulo 2
Conjuntos finitos e
conjuntos enumeráveis

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Análise Matemática 29

Objetivos
l Estudar os conjuntos finitos e os conjuntos infinitos enumeráveis.

l Definir o número de elementos de um conjunto finito e o equivalente desse


número para os conjuntos enumeráveis: a cardinalidade de um conjunto.
l Ver que o principal exemplo de conjunto enumerável é o conjunto dos núme-
ros naturais e que os conjuntos N, Z e Q, possuem a mesma cardinalidade.

Introdução
No capítulo anterior, estudamos os números naturais dando ênfase ao seu
aspecto ordinal. Nesta unidade associaremos os números naturais com a
quantidade de elementos de um determinado conjunto, abordando, assim,
seu aspecto cardinal.
Iniciaremos nosso estudo com a definição de conjunto finito a partir do
conjunto In, formado por todos os números naturais desde 1 até n. Em se-
guida, apresentaremos o conceito de número de elementos de um conjunto
finito, ou seja, abordaremos o aspecto cardinal dos números naturais a partir
da contagem dos elementos de conjuntos finitos. Por fim, generalizaremos
essa ideia de número de elementos para os conjuntos infinitos enumeráveis,
chegando ao conceito de cardinalidade de um conjunto qualquer, a partir da
noção de equivalência de conjuntos, introduzida por Cantor.

1. Conjuntos finitos
No que foi feito anteriormente, os números naturais foram construídos a partir
dos axiomas de Peano e, valendo-nos dessa axiomatização, notadamente, do
axioma conhecido como princípio da indução finita (PIF), vimos que é possível
definir as operações de adição e de multiplicação com todas as suas proprie-
dades, que assumiremos como conhecidas.
Para cada número natural n, é possível construirmos o conjunto de todos
os números naturais menores do que ou iguais a n, o qual será denotado por In.

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30 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Para cada número natural Assim, para cada número natural n, denotaremos por In o conjunto In = {1, 2,
n, denotaremos por In o 3,..., n}.
conjunto {1, 2, 3,..., n}.
De posse dessa notação, definiremos conjuntos finitos como segue.
De posse dessa notação, definiremos conjuntos finitos como segue. Ini-
cialmente, lembramos que uma função f: A → B é dita injetora, se “dados x,
y ∈ A, com x ≠ y, temos f(x) ≠ f(y)”; e é dita sobrejetora, se “dado y ∈ B, existe
x ∈ A, tal que f(x) = y”.

Definição
Um conjunto X é dito finito, se X é vazio ou se, para algum n ∈ N, existe
Uma função que é injetora uma função f: In → X, que é injetora e sobrejetora.
e sobrejetora é dita uma Se X é vazio, dizemos que X é finito com 0 (zero) elementos, ou que X
função bijetora ou uma
possui (ou tem) zero elementos, ou, ainda, que o número de elementos de
bijeção.
X é zero.
Se, para algum n ∈ N, existe uma bijeção f: In → X, dizemos que X é
finito com n elementos, ou que o número de elementos de X é n, ou que X
possui (ou tem) n elementos.
Observemos que estamos associando ao 0 (zero) e aos números natu-
rais a ideia de quantidade, resultante de uma contagem.
O número de elementos do conjunto X será indicado por n(X). Assim,
escreveremos n(X) = p para significar que o conjunto X possui p elementos ou
que o número de elementos do conjunto X é p, o que dá no mesmo.
Exemplo 1. Se a é o conjunto das vogais, então A é finito com 5 elementos.
O número de elementos
do conjunto X será De fato, a função f: I5 → A, dada por f(1) = a, f(2) = e, f(3) = i, f(4) = o e f(5) =
indicado por n(X). u, é injetora e sobrejetora, ou seja, é uma bijeção de I5 em A.
Exemplo 2. Se B = {N, S, L, O} é o conjunto dos pontos cardeais, norte (N), sul
(S), leste (L) e oeste (O), então a função f: I4 → B, dada por f(1) = N, f(2) =
S, f(3) = L e f(4) = O, é uma bijeção de I4 em B e, portanto, B é finito e possui
4 elementos.
Exemplo 3. Cada conjunto In é finito e possui n elementos, uma vez que a
função f: In → In, dada por f(x) = x, é uma bijeção.
Exemplo 4. O conjunto C, dos dias da semana cujos nomes começam com
a letra b, é finito com 0 (zero) elementos. De fato, como os nomes dos dias
da semana são domingo, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira,
sexta-feira e sábado, o nome de nenhum deles começa com a letra b. Logo, o
conjunto C é vazio, possuindo, portanto, zero elementos.
Uma bijeção f: In → X pode ser vista como uma contagem dos ele-
mentos de X, uma vez que a bijeção escolhida não é o importante, basta que

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Análise Matemática 31

provemos sua existência para que possamos dizer que o conjunto X é finito
com n elementos. Assim, a ordem dada aos elementos de X não interessa. No
caso do exemplo 03 anterior, podemos tomar, por exemplo, a bijeção
g: In → In, dada por g(1) = 2, g(2) = 3, g(3) = 4,..., g(n) = 1, que teria o mesmo efeito.

Para refletir
1. Mostre que se X e Y são conjuntos não vazios e se existe uma bijeção de X em Y,
então X é finito se, e somente se, Y é finito.
2. Defina todas as bijeções de I5 em A, para o caso do conjunto A do exemplo 1.
3. Defina todas as bijeções de I4 em B, no caso em que B é o conjunto do exemplo 2.

1.1. A unicidade do número de elementos de um conjunto finito


É intuitivo que um conjunto com 3 elementos não pode e não terá, nunca, 4
elementos. Em outras palavras, se existir uma bijeção f: I3 → X não poderá
existir uma bijeção g: I4 → X. Em outras palavras, o número de elementos é
uma propriedade bem definida de cada conjunto finito.
Mostraremos esse fato, provando que se f: In → X e g: Im → X são
duas bijeções, então n = m.
Obteremos que n = m, como consequência do resultado mais geral,
apresentado na proposição seguinte.

Proposição 4
Se A ⊂ In e A ≠ ∅ e se f: In → A é uma bijeção, então A = In.

Os números n e m
Prova. Demonstraremos o resultado por indução sobre o número n. devem ser iguais, mas as
bijeções f e g podem ser
Se n = 1, então In = I1 = {1} e, como A ≠ ∅ e A ⊂ In, devemos ter A = I1 = In.
diferentes.
Suponha que o resultado seja válido para n=k, isto é, suponha que se A ≠ ∅, A
⊂ In, e se existe uma bijeção f, f: Ik → A, então A = Ik.
Para n = k + 1, seja A ≠ ∅, A ⊂ Ik, e f: Ik + 1 → A, uma bijeção. Vamos mostrar
que A = Ik + 1.
Sejam a = f(k + 1) e B = A – {a}.
Se a = k + 1, a restrição de f ao conjunto Ik, indicada por : Ik → B e definida
por (x) = f(x), é uma bijeção. Desde que B ≠ ∅ e B ⊂ Ik, por hipótese de indu-
ção, devemos ter a igualdade B = Ik.
Como A = B ∪ {a}, devemos ter A = Ik ∪ {k + 1} = Ik + 1, mostrando o resultado.
Se a ≠ k + 1, seja b ∈ Ik + 1, tal que f(b) = k + 1.
Defina : Ik + 1 → A, por =
Assim, : Ik + 1 → A é uma bijeção tal que f(k + 1) = k + 1, recaindo no caso

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32 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

anterior, em que a = k + 1.
Logo, A = Ik + 1.
Provando o resultado.
Como consequência da proposição anterior, temos o seguinte resultado.

Corolário
Se f: Im → In é uma bijeção, então m = n.
Prova. Observemos inicialmente que se f: Im → In é uma bijeção, então
f-1: In → Im, definida por “f-1(y) = x se, e somente se f(x) = y”, também é
uma bijeção.
Assim, sem perda de generalidade, podemos supor que m ≤ n e, consequen-
temente, Im ⊂ In.
De acordo com a proposição, como Im ≠ ∅, Im ⊂ In e existe uma bijeção
f: Im → In, segue que Im = In e, obviamente, m = n.
Provando o resultado.
Usando esse corolário, podemos concluir que o número de elementos
O número de elementos de um conjunto finito X é definido sem ambiguidade.
de um conjunto finito X é De fato, se X é vazio, e somente nessa situação, o número de elemen-
definido sem ambiguidade. tos de X é zero.
Se X é finito e não vazio, sejam f: In → X e g: Im → X duas bijeções.
Como sabemos g - 1: X → Im também é uma bijeção e, portanto, g -
1of: In → Im é uma bijeção.
Pelo corolário, m = n, provando que não existe ambiguidade no conceito
de número de elementos de um conjunto finito, ou seja, provando a proposi-
ção seguinte.

Proposição 4
Se f: Im → X e f: In → X são duas bijeções, então m = n, ou seja, o
número de elementos de um conjunto foi definido sem ambiguidade.

Para refletir
1. Seja g: X → Y uma bijeção. Mostre que a função g-1: Y → X, dada por “g-1(y)
= x se, e somente se g(x) = y”, também é bijeção.
2. Mostre que se X é um conjunto finito e Y é um subconjunto de X, então não pode
existir uma bijeção f: X → Y. O lema a seguir afirma que todo subconjunto de In
é finito e possui, no máximo, n elementos.

Lema
Seja X ⊂ In para algum n ∈ N. Então X é finito e o número de elementos
de X é menor do que ou igual a n.

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Análise Matemática 33

Prova. Provaremos o resultado por indução sobre n.


Se n = 1, os únicos subconjuntos de I1 são ∅ e I1, que são finitos com 0 e 1
elementos, respectivamente. Provando o resultado.
Suponha que o resultado seja válido para n = k.
Isto é suponha que se X ⊂ Ik, então X é finito e o número de elementos de X
é menor do que ou igual a n.
Para n = k + 1, seja X ⊂ Ik+1.
Se X ⊂ Ik, então, por hipótese de indução, X é finito e o número de elementos
de X é menor do que ou igual a k que, por sua vez, é menor do que ou igual a
k + 1. Provando o resultado.
Se X ⊄ Ik, então k + 1 ∈ X e, nestas condições X - {k + 1} ⊂ Ik.
Por hipótese de indução, A = X - {k + 1} é finito e o número de elementos de A
é menor do que ou igual a k.
Assim, existem p ∈ N, com p ≤ k, e f: Ip → A, uma bijeção.
A partir de f definiremos uma bijeção g: Ip+1 → X, como segue.
Façamos g(x) = f(x), se x ∈ A e g(p + 1) = k + 1.
Assim, g: Ip+→ X é uma bijeção e, portanto, X é finito, com p + 1 elementos, e,
desde que p ≤ k, segue que p + 1 ≤ k + 1.
Portanto, para n = k + 1, todo subconjunto de In é finito com número de ele-
mentos menor do que ou igual a k + 1. Todo subconjunto de um
conjunto finito é finito.
Provando o lema.

Tomando como base o lema anterior, vamos mostrar que todo subcon-
junto de um conjunto finito é finito e seu número de elementos não ultrapassa
o número de elementos do conjunto.
Denotando por Y o conjunto finito e por X um subconjunto de Y, temos
que existem p ∈ N e uma função f: Ip → Y, que é uma bijeção.
Dado X ⊂ Y, tomemos o conjunto f – 1(X), que está contido em Ip.
Pelo lema, f-1(X) é finito e seu número de elementos é menor do que p.
Denotando por q (q ≤ p) o número de elementos de f - 1(x), existe uma
bijeção g: Iq → f – 1(X).
A função fog: Iq → X, definida por fog(x) = f(g(x)), é uma bijeção e,
portanto, X é finito com q elementos, com q ≤ p.
Isso prova a proposição seguinte.

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Proposição 5
Todo subconjunto de um conjunto finito é finito e seu número de ele-
mentos não ultrapassa o número de elementos do conjunto.

Para ilustrar o que foi feito


Tomemos para Y o conjunto {r, s, t, u, v, x, y, z}, que é finito com 8 elementos,
e para X o conjunto {t, u, v, x}, que é um subconjunto de Y. Como Y possui 8
elementos, existe uma bijeção f: I8 → Y. Digamos que f(1) = r, f(2) = s, f(3) =
t, f(4) = n, f(5) = o, f(6) = x, f(7) = y e f(8) = z.
O conjunto f-1(X) é dado por f-1(X) = { 3, 4, 5, 6 }.
Como f - 1(x) tem 4 elementos, a função g: I4 → f - 1(X), dada por g(n) = n +
2, ou seja, g(1) = 3, g(2) = 4, g(3) = 5 e g(4) = 6 é uma bijeção de I4 em f - 1(X).
Assim fog: I4 → X, seria dada por:
fog(1) = f(g(1)) = f(3) = t;
fog(2) = f(g(2)) = f(4) = n;
fog(3) = f(g(3)) = f(5) = v;
fog(4) = f(g(4))= f(6) = x.
Mostrando que fog é uma bijeção de I4 em X e que, consequentemente, X é
finito com 4 elementos.

Para refletir
1. Repita o quadro Para ilustrar o que foi feito para dois outros exemplos de conjunto Y.
2. Exercício. Verifique, por meio de exemplos, que não pode existir uma função inje-
tora f: X → Y de um conjunto infinito X em um conjunto finito Y.
3. Exercício. Verifique, por meio de exemplos, que não pode existir uma função sobreje-
tora f: X → Y de um conjunto finito X em um conjunto infinito Y.

1.2. A adição de números naturais


Os resultados a seguir estão relacionados coma a adição de números na-
turais. Iniciaremos com casos particulares para, em seguida, passarmos ao
caso geral.
Exemplo 5. Sejam A = {a, e, i, o} e B = {1, 2, 3, 4, 5} dois conjuntos disjuntos
com quatro e cinco elementos, respectivamente. O conjunto união de A com
B, ou seja, o conjunto A∪B dado por A∪B = {a, e, i, o, 1, 2, 3, 4, 5} é um con-
junto finito com nove elementos: os quatro de A e os cinco de B.
Exemplo 6. Sejam A = {a, b, c} e B = {d, e, g, h} dois conjuntos disjuntos com
três e quatro elementos, respectivamente. O conjunto A ∪ B, ou seja, o con-
junto união de A com B é dado por A ∪ B = {a, b, c, d, e, g, h} e é um conjunto
finito com sete elementos: os três de A e os quatro de B.

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Análise Matemática 35

Exemplo 7. Sejam A = {1, 2, 3, 4, 5, 6}, B = {7, 8, 9, 10} e C = {11, 12}, conjun- O número de elementos
tos dois a dois disjuntos, isto é, conjuntos tais que quaisquer dois deles não do conjunto união de
dois conjuntos finitos e
possuem elementos em comum. O conjunto união de A com B e com C é disjuntos é a soma dos
dado por A∪B∪C = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12} e possui doze elementos: números de elementos
os seis de A, os quatro de B e os dois de C. desses conjuntos.
Exemplo 8. Sejam A = {4, 5, 6, 7 8} e B = {7, 8, 9, 10} conjuntos com 5 e 4
elementos, respectivamente. O conjunto união de A com B é dado por A ∪ B
= {4, 5, 6, 7, 8, 9, 10} e possui sete elementos. Observemos que ele possui os
cinco elementos de A e os quatro elementos de B, mas não possui nove ele-
mentos, uma vez que A e B possuem os elementos 7 e 8 em comum e, que,
não podem ser contados duas vezes na união.
Esses exemplos nos permitem conjecturar que o número de elementos
do conjunto união de dois ou mais conjuntos finitos, dois a dois disjuntos, é a
soma dos números de elementos dos conjuntos envolvidos nessa união. Essa é
exatamente a ideia de juntar (e contar) associada à adição de números naturais.
Generalizando o que foi feito anteriormente, temos a seguinte proposição.

Proposição
Se X e Y são conjuntos finitos e disjuntos, com m e n elementos, res-
pectivamente, então o conjunto X ∪ Y é finito e possui m + n elementos.
Prova. Para mostramos a proposição, basta que exibamos uma bijeção
h: Im+n → X∪Y.
Como X e Y são finitos com m e n elementos, respectivamente, existem bije-
ções f: Im → X e g: In → Y. Defina h: Im + n → X ∪ Y por: h(x) = f(x), se
1 ≤ x ≤ m; e h(m + x) = g(x), se 1 ≤ x ≤ n.
Vamos mostrar que h: Im+n → X ∪ Y é, realmente, uma bijeção.
Inicialmente, mostraremos que h é sobrejetora.
Seja y ∈ X ∪ Y. Assim, y ∈ X ou y ∈ Y, mas não pertence a ambos.
Se x ∈ X, como f é sobrejetora, existe i ∈ Im, com 1 ≤ i ≤ m, tal que f(i) = x e,
consequentemente, h(i) = f(i).
Se x ∈ Y, como g é sobrejetora, existe i ∈ In, com 1 ≤ i ≤ n, tal que g(i) = x e,
consequentemente, h(m + i) = g(i).
Assim, h é sobrejetora.
Mostraremos, agora, a injetividade de h.
Sejam u, v ∈ Im + n e suponha que h(u) = h(v).
Estudaremos 4 casos:
1 ≤ u, v ≤ m;

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m + 1 ≤ u, v ≤ m + n;
1 ≤ u ≤ m e m + 1 ≤ v ≤ m + n;
1 ≤ v ≤ m e m + 1 ≤ u ≤ m + n.
Caso (i): 1 ≤ u, v ≤ m.

Neste caso, temos que h(u) = f(u) e h(v) = f(v). Como, por hipótese, h(u) =
h(v), temos f(u) = f(v) e, portanto, u = v, pois f é uma bijeção. Mostrando que h
é injetora.
Caso (ii): m + 1 ≤ u, v ≤ m + n.
Neste caso, temos que h(u) = g(u - m) e h(v) = g(v - m). Como estamos supon-
do que h(u) = h(v), temos g(u - m) = g(v - m) e, como g é uma bijeção, u - m =
v - m. Assim, u = v. Mostrando que, também neste caso, h é injetora.
Caso (iii): 1 ≤ u ≤ m e m + 1 ≤ v ≤ m + n.
Neste caso, temos que h(u) = f(u) ∈ X e h(v) = f(v) ∈ Y e, portanto, não pode-
mos ter a igualdade h(u) = h(v). Logo, esse caso não pode acontecer.
Caso (iv): 1 ≤ v ≤ m e m + 1 ≤ u ≤ m + n.
Neste caso, temos que h(v) = f(v) ∈ X e h(u) = g(u) ∈ Y e, portanto, não pode-
mos ter a igualdade h(u) = h(v). Logo, esse caso também não pode acontecer.
Isso mostra que h é injetora.
Como f: Im+n → X ∪ Y é injetora e sobrejetora, f é uma bijeção e, portanto,
X∪Y possui m+n elementos.
Provando o resultado.

Para ilustrar o que foi feito


Tomemos para X o conjunto {t, u, v, x}, que é finito com 4 elementos, e para Y
o conjunto {q, r, s}, que é um conjunto finito com 3 elementos.
Assim, existem bijeções f: I4 → X e g: I3 → Y.
Digamos que f e g sejam tais que f(1) = t, f(2) = u, f(3) = v e f(4) = x; e g(1) = q,
g(2) = r e g(3) = s.
A bijeção h: I4 + 3 → X ∪ Y será dada por:
h(1) = f(1) = t;
h(2) = f(2) = u;
h(3) = f(3) = v;
h(4) = f(4) = x;
h(5) = h(4 + 1) = g(1) = q;
h(6) = h(4 + 2) = g(2) = r; e
h(7) = h(4 + 3) = g(3) = s.

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Análise Matemática 37

Observemos que é impossível à função h ser igual à função f e à função g, ao


mesmo tempo.
O resultado a seguir é uma generalização da proposição anterior para
o caso de três conjuntos.

Corolário
Se X, Y e V são conjuntos finitos, dois a dois disjuntos, com m, n e p ele-
mentos, respectivamente, então o conjunto X∪Y∪V é finito e possui m + n + p
elementos.
Prova. Para mostrarmos o corolário, é só ajustarmos a função h, para o caso
de 3 funções: uma de Im em X; outra de In em Y; e outra de Ip em V.
Provando o resultado.

Para refletir
1. Exercício. Repita o quadro Para ilustrar o que foi feito para dois outros exemplos de
conjuntos X e Y e de bijeções f e g.
2. Exercício. Exemplifique como seria a demonstração do corolário 08, no caso de 3
conjuntos dois a dois disjuntos.
3. Exercício. Exemplifique como seria a demonstração do corolário 08, no caso de 4
conjuntos dois a dois disjuntos.

Por indução, é possível mostrarmos que o corolário 08 também se apli-


ca a qualquer quantidade finita de conjuntos finitos, dois a dois disjuntos.
No exemplo 8, vimos que para os conjuntos A = {4, 5, 6, 7 8} e B = {7,
8, 9, 10} a proposição 05 não se aplica. O número de elementos de A∪B não
é igual à soma entre o número de elementos de A e o número de elementos
de B. Isso ocorre porque os conjuntos A e B não são disjuntos. Eles possuem
dois elementos em comum e, por isso, o número de elementos de A∪B não é
5 + 4, sendo igual a (5 + 4) – 2.
No exemplo, quando fazemos 5 + 4, estamos contando duas vezes os
elementos 7 e 8: uma vez no cinco, quando contamos os elementos de A; e
outra vez no quatro, quando contamos os elementos de B.
Isso pode ser corrigido se transformarmos o conjunto A ∪ B na união de
três conjuntos, dois a dois disjuntos, quais sejam A - B, A ∩ B e B - A.
Observemos que, no exemplo, A - B = {4, 5, 6}, A ∩ B = {7, 8} e B - A = {9, 10}.
Assim, A ∪ B = {4, 5, 6, 7, 8, 9, 10} = (A - B) ∪ (A ∩ B) ∪ (B - A) e, por-
tanto, o número de elementos de A ∪ B, que é 7, pode ser obtido como o re-
sultado da adição 3 + 2 + 2, cujas parcelas são os números de elementos dos
conjuntos (A - B), (A ∩ B) e (B - A), respectivamente.

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38 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Observemos ainda que o número de elementos de A - B é igual à dife-


rença entre o número de elementos de A e o número de elementos de A ∩ B.
Em símbolos, temos
n(A - B) = n(A) – n(A ∩ B).
De maneira semelhante, podemos generalizar esse resultado para con-
juntos quaisquer, conforme afirma a seguinte proposição, cuja demonstração
pode ser feita a partir do corolário 2 anterior, observando que os conjuntos A
- B, B - A e A ∩ B são finitos e dois a dois disjuntos.

Proposição 7
Dados os conjuntos finitos A e B, o número de elementos de A ∪ B é
dado por n(A) + n(B) – n(A ∩ B).
Por indução, é possível mostrar que esse resultado se generaliza para
uma quantidade finita de conjuntos finitos, conforme sugerimos nos exercícios.

1.3. A multiplicação de números naturais


Os resultados a seguir estão relacionados com a multiplicação de números
naturais. Como no caso da adição, também iniciaremos com alguns exemplos
que ilustram a relação entre a multiplicação de números inteiros e o produto
cartesiano de conjuntos. Em seguida, passaremos para o caso geral.
Exemplo 9. Sejam A = {4, 5, 6} e B = {a, b} conjuntos com 3 e 2 elementos,
respectivamente. O produto cartesiano de A por B é A × B = {(4, a), (4, b), (5,
a), (5, b), (6, a), (6, b)}. Observemos que o conjunto A × B possui 6 elementos,
e 6 = 3 × 2 é o produto entre o número de elementos de A, que é 3, e o número
de elementos de B, que é 2.
Exemplo 10. Sejam A = {a, b} e B = {4, 5, 6} conjuntos com 2 e 3 elementos,
respectivamente. O conjunto A × B é dado por A × B = {(a, 4), (a, 5), (a, 6), (b,
4), (b, 5), (b, 6)} e possui 6 elementos.
Exemplo 11. Se A = ∅ e B é um conjunto finito qualquer, então A × B = ∅ e,
também nestas condições, vale o produto n(A × B) = n(A) × n(B).
Os exemplos anteriores sugerem que para conjuntos A e B finitos, o
número de elementos de A × B é igual ao produto entre o número de elemen-
tos de A e o número de elementos de B. Além disso, sugere ainda que vale a
propriedade comutativa da multiplicação de números inteiros.
O que foi feito anteriormente será formalizado no que segue.

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Análise Matemática 39

Proposição 8
Sejam A e B conjuntos finitos e não vazios com m e n elementos, res-
pectivamente. O número de elementos de A × B, o produto cartesiano de A por
B, pode ser obtido pela igualdade n(A × B) = mn.
Prova. A prova desta proposição será feita por indução sobre o número de
elementos do conjunto B.
Assim, iniciaremos com um conjunto A, não vazio, finito com m elementos,
digamos A = {a1, a2, a3, ..., am}, e B = {b1, b2, b3, ..., bn} um conjunto não
vazio, finito, com n elementos.
Para n = 1, seja B = {b1} = {b} um conjunto com 1 elemento.
Cada bijeção f: Im → A define uma bijeção f’: Im → A × B, dada por f’(i) =
(f(i), b), para cada i ∈ Im.
Assim, o conjunto A × B possui m elementos.
E como m = m × 1, vale o resultado.
Suponha que o resultado seja verdadeiro para n = k - 1, isto é, suponha que
se B é um conjunto com k - 1 elementos, então o número de elementos do
conjunto A × B é m × (k - 1).
Para n = k, sejam B = {b1, b2, b3, ..., bk} e C um subconjunto de B com k - 1
elementos. Podemos, sem perda de generalidade e reenumerando os ele-
mentos de B, se for o caso, supor que o conjunto C é dado por C = {b1, b2,
b3, ..., bk - 1}.
Assim, B = C ∪ {bk} e, consequentemente,
A × B = A × ( C ∪ {bk}) = A × C ∪ A × {bk}.
Como os conjuntos A × C e A × {bk} são disjuntos, temos que
n(A × B) = n(A × C) + n(A × {bk}).
Por hipótese de indução, temos que n(A × C) =mx(k - 1); e pelo que foi feito
para n = 1, temos que n(A × {bk}) = m x 1. Daí, segue que vale a igualdade
n(A × B) = n(A × C) + n(A × {bk}) = mx(k - 1) + mx1 = mx(k - 1 + 1) = mxk.
Provando o resultado.

Para refletir
1. Exercício. Faça a demonstração da proposição 9.
2. Exercício. Enuncie e demonstre para o caso de três conjuntos o correspondente da
proposição 9.
3. Exercício. Mostre que a função f’ mencionada na prova da proposição 10 é, real-
mente, uma bijeção.

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40 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

1.4 Conjuntos infinitos


Os conjuntos que não são finitos são ditos conjuntos infinitos. Mais precisa-
mente, temos a seguinte definição.
Definição
Seja X um conjunto. Dizemos que X é infinito se X ≠ ∅ e se não existe
uma bijeção f: Im → X, qualquer que seja m ∈ N.
Exemplo 12: O conjunto N dos números naturais é infinito. De fato, tomemos
uma função f: In → N, para algum n ∈ N, e consideremos o número natural
y = f(1) + f(2) +...+ f(n). Temos que y > f(i), qualquer que seja i = 1, 2, 3, ..., n e,
consequentemente, y ∉ Im(f). Assim f não é uma bijeção e, portanto, N é infinito.
Exemplo 13: Foi mostrado na proposição 04 que todo subconjunto de um
conjunto finito é finito. Assim, como N é um conjunto infinito, qualquer conjunto
que contenha N também será infinito. Logo, o conjunto Z, dos números intei-
ros, e o conjunto Q, dos números racionais, são ambos infinitos.
O resultado a seguir nos permite mostrar, por exemplo, que o conjunto
dos números pares, entre outros subconjuntos de N, é infinito.

Proposição 9
Sejam X um conjunto não vazio e Y um subconjunto próprio de X. Se
existe uma bijeção f: X → Y, então X é infinito.
Prova. Sejam X um conjunto não vazio, Y um subconjunto próprio de X, isto
é, um subconjunto de X, não vazio e diferente de X, e f: X → Y uma bijeção.
Suponha que X é finito.
Pelo que já foi feito anteriormente, Y é finito e o número de elementos de Y é
menor do que o número de elementos de X.
Denotando por m e n o número de elementos de X e de Y, respectivamente,
temos n < m.
Assim, existem bijeções g: In → Y e h: Im → X.
Como f: X → Y é uma bijeção, a função g-1ofoh: Im → In é uma bijeção,
o que é absurdo.
Como a única suposição adicional que fizemos foi “X ser finito”, essa é a hipó-
tese que não é verdadeira, consequentemente, X é infinito.
Provando o resultado.
O que acabamos de provar pode ser traduzido como “não existe bijeção
de um conjunto finito em um seu subconjunto próprio” ou ainda “só pode existir
bijeção de um conjunto X em um seu subconjunto próprio, se X for infinito”.
Com esse resultado, podemos ampliar o nosso “leque” de conjuntos
infinitos.

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Análise Matemática 41

Exemplo 14. O conjunto P, dos números naturais pares, é um conjunto infini-


to. De fato, P é subconjunto próprio de N e a função f: N → P, dada por f(n)
= 2n, é uma bijeção.
Exemplo 15. O conjunto dos números naturais ímpares é um conjunto infinito.
De fato, denotando por I o subconjunto dos números naturais ímpares, temos
que I é subconjunto próprio de N e a função f: N → I, dada por f(n) = 2n - 1,
é uma bijeção.
Exemplo 16. O conjunto 3N, dos números naturais múltiplos de 3, é um con-
junto infinito, pois 3N é subconjunto próprio de N e a função f: N → 3N, dada
por f(n) = 2n - 1, é uma bijeção.

1.5. Conjuntos limitados


Outro conceito bastante importante no estudo dos conjuntos finitos é o de
subconjunto limitado de números naturais.
Intuitivamente, temos a ideia do que venha a ser um conjunto limitado.
Exemplo 17. O conjunto P, dos números naturais pares não é limitado, pois é
sempre possível encontrar um número par maior do que qualquer número dado.
Exemplo 18. O conjunto dos números naturais pares menores do que 18, ou
seja, o conjunto A = {2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16} é limitado; limitado, por exemplo,
pelo número 20. Todos os números do conjunto A são menores do que 20,
estando entre 1 e 20.
Exemplo 19. O conjunto B, dos divisores naturais de 10, é um conjunto limita-
do. De fato, B = {1, 2, 5, 10} é limitado pelo número 10.
Intuitivamente, ainda, podemos concluir que todo conjunto limitado
deve ser, obrigatoriamente, finito; enquanto, qualquer conjunto não limitado
deve ser, necessariamente, infinito. Os conjuntos que não são limitados são
ditos ilimitados.
Mais precisamente, temos as seguintes definições.

Definição
Um conjunto X ⊂ N é dito limitado, se X é não vazio e se existe c ∈ N,
tal que x ≤ c, para todo x ∈ X.
O número natural c, na definição anterior, é chamado de cota superior
ou limite superior para o conjunto X.
É importante observarmos que se c é uma cota superior ou limite su-
perior para X, então qualquer número maior do que c também será uma cota
superior para X.

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42 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

O resultado a seguir, que será apresentado sem demonstração, carac-


teriza definitivamente os subconjuntos finitos de N.

Proposição 10
Seja X um subconjunto não vazio de N. As três afirmações a seguir são
equivalentes:
(i) X é finito;
(ii) X é limitado;
(iii) X possui maior elemento.
Uma demonstração completa da equivalência entre os itens dessa proposição
pode ser feita utilizando o Princípio da Boa Ordenação (PBO) que é equiva-
lente ao Princípio da Indução Finita (PIF) e pode ser enunciado como segue.

Proposição 11
Princípio da Boa Ordenação (PBO). Todo subconjunto não vazio de núme-
ros naturais possui menor elemento. Ou, simbolicamente, se X ⊂ N e X ≠ ∅,
então ∃ x0 ∈ X, tal que x0 ≤ x, ∀ x ∈ X.
Entretanto, partes da demonstração podem ser feitas de forma até sim-
ples, utilizando o que já conhecemos. Por exemplo, para mostrarmos que se
X é finito não vazio, então X é limitado, basta que escrevamos os elementos
de X como x1, x2, ..., xn e observarmos que x1 + x2 + x3 + ... + xn é uma cota
superior de X, uma vez que é maior do xi, para todo i = 1, 2, ..., n. Consequen-
temente, X é limitado.
Para mostrarmos que se X possui maior elemento, então X é finito, bas-
ta observarmos que denotando por p o maior elemento de X, temos que X ⊂ Ip e,
consequentemente, X é finito por ser subconjunto de um conjunto finito.

2. Conjuntos enumeráveis
Diferentemente do que podemos pensar, podemos estender a ideia de núme-
ro de elementos para os conjuntos infinitos. Esta extensão dá origem ao con-
ceito de cardinalidade de um conjunto que, no caso dos conjuntos infinitos,
coincide com o número de elementos do conjunto.
Esta ideia nos permite perceber que existem vários tipos de infinito, fato
este sistematizado pelo matemático alemão George Cantor que mostrou que
existem vários tipos de infinito, dentre os quais o mais elementar ou “menor” é
o infinito dos números naturais.
Iniciaremos este estudo a definição de equivalência de conjuntos.

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Análise Matemática 43

Definição
Dizemos que os conjuntos X e Y são equivalentes se são ambos vazios
ou se existe f: X → Y uma bijeção.
Lembremos que já foi mostrado, para o caso de conjuntos finitos não
vazios, que somente existe uma bijeção de X em Y se X e Y possuírem a
mesma quantidade de elementos. Assim, no caso de conjuntos finitos não
vazios, dizemos que X e Y são equivalentes se ambos possuírem a mesma
quantidade de elementos.

Definição
Dizemos que os conjuntos X e Y possuem a mesma cardinalidade, se
são equivalentes.
Vamos agora estudar os conjuntos que são equivalentes ao conjunto
dos números naturais. Esses conjuntos são chamados de conjuntos enume-
ráveis e a eles está associada a menor categoria de infinito, de acordo com a
classificação de Cantor.
Mais precisamente temos a definição seguinte.

Definição
Dizemos que o conjunto X é enumerável se X é finito ou se existe uma
bijeção f: N → X.

Exemplo 20. O conjunto dos números naturais é enumerável, pois a função f:


N → N, dada por f(x) = x, para todo x, x ∈ N, é uma bijeção.
Exemplo 21. O conjunto P, dos números naturais pares, é enumerável, pois a
função f: N → P, dada por f(x) = 2x, para todo x, x ∈ N, é uma bijeção.
Exemplo 22. O conjunto Z, dos números inteiros, é enumerável. A função
f: N → Z, dada por f(x) = n, se x = 2n, e f(x) = - n + 1, se x = 2n – 1, é uma
bijeção.

Para refletir
1. Exercício. Mostre que a função f: N → Z, dada por f(x) = n, se x=2n, e f(x)=-n+1, se x
= 2n – 1, é uma bijeção.
2. Exercício. Mostre que o conjunto dos números ímpares é enumerável.
3. Exercício. Mostre que o conjunto dos múltiplos de 2 e 3 ao mesmo tempo é um
conjunto enumerável.

Vimos que a união de dois conjuntos finitos é ainda um conjunto não


finito. E o que ocorre quando fazemos a união de dois conjuntos enumeráveis.

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44 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Será que obteremos um conjunto enumerável? A resposta é sim e sua de-


monstração será feita posteriormente. Por enquanto, nos contentaremos com
a proposição seguinte.

Proposição 12
Sejam X e Y conjuntos enumeráveis. O conjunto união X∪Y é um con-
junto enumerável.
Como consequência dessa proposição, temos que a união de 3 conjun-
tos enumeráveis é, ainda, um conjunto enumerável. Na realidade, podemos
mostrar por indução que a união de qualquer quantidade finita de conjuntos
enumeráveis é ainda um conjunto enumerável.
Outro resultado importante sobre os conjuntos enumeráveis afirma que
todo subconjunto de um conjunto enumerável é enumerável. Esse resultado
pode ser obtido como consequência da seguinte proposição.

Proposição 13
Todo subconjunto X do conjunto dos números naturais é enumerável.
Em símbolos, se X ⊂ N, então X é enumerável.

Prova
Seja X ⊂ N, um subconjunto do conjunto dos números naturais.
Se X é finito, então X é enumerável.
Se X não é finito, vamos definir uma função f: N → X, como segue.
Pelo Princípio da Boa Ordenação (PBO), X possui menor elemento, digamos
x1. Façamos f(1) = x1.
Seja X2 = X – {x1}.
Novamente, usando o PBO, tomamos x2, o menor elemento de X2 e fazemos
f(2) = x2.
Supondo escolhidos f(1) = x1 < f(2) = x2 < ... < f(n) = xn, podemos fazer f(n +
1) = xn+1, em que xn+1 é o menor elemento de Xn+1, em que Xn+1 = X – {x1,
x2, x3, ... , xn}.
Tal elemento existe, uma vez que X é infinito e, portanto, Xn+1 é diferente do
vazio e, pelo PBO, possui menor elemento.
Provando o resultado.

Para ilustrar o que foi feito


Ilustraremos o que foi feito na demonstração da proposição anterior, para o
subconjunto X de N, dado por
X = {51, 57, 71, 77, 91, 97, 111, 117, 131, 137,...}.

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Análise Matemática 45

Observemos inicialmente como é feita a construção de X, ou seja, como é fei-


ta a escolha dos elementos de X: o algarismo das unidades ou é 1 ou é 7; e os
números que são elementos de X contém uma quantidade ímpar de dezenas,
a partir do 5 (inclusive). Assim, 211 ∈ X, pois o algarismo das unidades é 1 e o
número possui 21 dezenas.
Vamos definir uma função f: N → X, como na demonstração da proposição.
O menor elemento de X é 51. Assim, definimos f(1) = 51.
Tomamos agora o conjunto X2 = X – {51}.
O menor elemento de X2 é 57 e, portanto, devemos fazer f(2) = 57.
Passamos, então, ao conjunto X3 = X – {51, 57}.
O menor elemento de X3 é 71, e fazemos, então, f(3) = 71.
E assim por diante.
Para determinarmos f(31), por exemplo, procedemos como segue:
desde que 31 é ímpar, o algarismo das unidades de f(31) é 1;
além disso, f(31) possui 31 + 4 = 35 dezenas;
assim, f(31) = 351;
f(32) = 357.
Se quisermos determinar a lei de formação de f, para sabermos a imagem de
qualquer natural dado, podemos pensar da seguinte forma:
(i) cada número ímpar e seu sucessor são tais que suas imagens possuem a
mesma quantidade de dezenas;
(ii) o algarismo das unidades da imagem de um número ímpar será, sempre, 1;
(iii) o algarismo das unidades da imagem de um número par será, sempre, 7;
(iv) o número de dezenas da imagem de um número ímpar n será n + 4;
(v) o número de dezenas da imagem de um número par n será n -1 + 4;
Como dissemos, como consequência dessa proposição, temos o se-
guinte corolário.

Corolário
Todo subconjunto de um conjunto enumerável é enumerável.
Outro resultado bastante interessante sobre os conjuntos enumeráveis
e que apresentaremos sem demonstração é a proposição seguinte.

Proposição 14
Todo conjunto infinito X possui um subconjunto infinito enumerável.

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46 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Para refletir
1. Tome alguns subconjuntos enumeráveis de N para exemplificar concretamente o
corolário anterior.
2. Mostre que se f: X → Y é injetiva e Y é enumerável, então X é enumerável.
3. Mostre que se f: X → Y é sobrejetora e X é enumerável, então Y é enumerável.

2.1. A enumerabilidade de Q
Para quem já se surpreendeu com o fato de Z e N possuírem a mesma car-
dinalidade, ou seja, a “mesma quantidade de elementos”, finalizaremos esta
Unidade mostrando um resultado mais surpreendente ainda: a enumerabili-
dade do conjunto dos números racionais. Ou seja, mostraremos que Q, Z e
N possuem a mesma cardinalidade, o mesmo “número de elementos”. Serão
apresentadas duas demonstrações: uma direta e outra como consequência
de um resultado mais geral e mais surpreendente ainda.
Inicialmente, vamos observar que é possível uma distribuição dos nú-
meros racionais não negativos, escritos na forma de fração, de acordo com
a soma entre seu numerador e seu denominador, como no quadro a seguir.
Quadro 5

DISTRIBUIÇÃO DOS NÚMEROS RACIONAIS


Soma Frações
1 0/1
2 0/2 1/1
3 0/3 ½ 2/1
4 0/4 1/3 2/2 3/1
5 0/5 ¼ 2/3 3/2 4/1
6 0/6 1/5 2/4 3/3 4/2 5/1
7 0/7 1/6 2/5 3/4 4/3 5/2 6/1
8 0/8 1/7 2/6 3/5 4/4 5/3 6/2 7/1
9 0/9 1/8 2/7 3/6 4/5 5/4 6/3 7/2 8/1
.
. ...
.
Podemos, aproveitando os elementos das linhas e colunas do quadro
e denotando por Q’ o conjunto de todos os elementos do quadro, definir uma
função f: N → Q’ como segue: definimos f(1) como o primeiro elemento da
primeira linha; f(2), como o primeiro elemento da segunda linha; f(3), como o
segundo elemento da segunda linha; e assim por diante, linha por linha, até
esgotar todos os elementos de cada linha, de acordo com a ordem que ocu-
pam na linha. Observe que, f é uma bijeção de N em Q” e, portanto, Q’ é um
conjunto enumerável.

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Análise Matemática 47

Considerando as classes de equivalência das frações de Q’, podemos


perceber que o conjunto Q+, dos racionais não negativos, é subconjunto de Q’
e, como tal, é um conjunto enumerável.
De maneira semelhante, mostramos que Q- é enumerável e, desde que
Q = Q+∪Q- e a união de conjuntos enumeráveis é enumerável, temos que o
conjunto Q, dos números racionais, é enumerável.
Outra demonstração de que o conjunto dos números racionais é enu-
merável pode ser obtida, como se segue.
Inicialmente, observamos que X = {2n3m ; n, m ∈ N} é um conjunto enu-
merável, uma vez que X ⊂ N, N é enumerável, e todo subconjunto de N é
enumerável, conforme foi provado anteriormente.
Sabendo que X é enumerável, podemos provar que N X N, o produto
cartesiano de N por N, é enumerável. De fato, temos o seguinte lema.

Lema
O conjunto N X N é um conjunto enumerável.
Prova
Seja f: N X N → X, dada por f(n,m) = 2n3m.
Temos que f é injetora, devido à unicidade da decomposição em fatores pri-
mos, e f é sobrejetora, pois dado y ∈ X, temos que y = 2a3b, para certos nú-
meros naturais a e b. Assim, temos que f(a,b) = 2a3b = y.
Logo, f é uma bijeção e N X N é enumerável.
Provando o resultado.

Usaremos o lema anterior para provar a seguinte proposição.

Proposição 15
Se A e B são conjuntos enumeráveis, então A X B, o produto cartesiano
de A por B, é enumerável.

Prova
De acordo com o lema anterior, o conjunto N X N é enumerável e, portanto,
basta exibirmos uma bijeção f: N X N → A X B.
Como A e B são enumeráveis, existem bijeções g: N → A e h: N → B.
Definamos f: N X N → A X B, como segue: dado (m,n) ∈ NXN, f(m,n) = (g(m),
h(n)).
A função f é, obviamente, uma bijeção.

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48 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Logo A X B é enumerável.
Provando o resultado.
Para refletir
1. Mostre que é bijeção a função f: N X N → A X B, dada por f(m,n) = (g(m), h(n)), em
que g: N → A e h: N → B são bijeções.

Como consequência dessa proposição, podemos obter que o conjunto


Q é enumerável, uma vez que é subconjunto de Z X Z que, de acordo com a
proposição, é enumerável.

Síntese do Capítulo
Neste capítulo, você aprendeu os seguintes resultados:
• Os conjuntos podem ser classificados em conjuntos finitos e conjuntos infinitos.
• Conjuntos finitos são aqueles que possuem uma quantidade finita de ele-
mentos.
• Os elementos de um conjunto finito não vazio podem ser contados a partir
dos conjuntos In = {1, 2, 3,..., n}.
• Se existe uma bijeção de In em um conjunto X, dizemos que X é finito, com
n elementos.
• O número de elementos é uma propriedade bem definida dos conjuntos finitos.
• Todo subconjunto de um conjunto finito é finito e o número de elementos
de cada subconjunto é menor do que ou igual ao número de elementos do
conjunto que o contém.
• O número de elementos do conjunto união de dois conjuntos finitos e não va-
zios é menor do que ou igual à soma entre os números de elementos de cada
conjunto, valendo a igualdade se, e somente se, os conjuntos forem disjuntos.
• O número de elementos do produto cartesiano de dois conjuntos finitos e não
vazios é igual ao produto entre os números de elementos de cada conjunto.
• Os conjuntos N, Z e Q são infinitos.
• Um conjunto, subconjunto de N, é limitado quando existe um número real
maior do que ou igual a todo elemento do conjunto.
• Todo conjunto limitado é finito e vice-versa, o que caracteriza os conjuntos finitos.
• Todo subconjunto não vazio de N possui um menor elemento. Este resulta-
do é conhecido como o Princípio da Boa Ordenação (PBO).
• O Princípio da Boa Ordenação é equivalente ao Princípio da Indução Finita (PIF).
• Dois conjuntos são ditos equivalentes se ambos são vazios ou se é possí-
vel definir uma bijeção entre eles.

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Análise Matemática 49

• Dois conjuntos equivalentes são ditos possuírem a mesma cardinalidade.


• Dois conjuntos finitos são equivalentes se, e somente se, possuem a mes-
ma quantidade de elementos.
• Os conjuntos equivalentes ao conjunto N, dos números naturais, são ditos
enumeráveis.
• O conjunto união de dois conjuntos enumeráveis é, ainda, enumerável.
• O produto cartesiano de dois conjuntos enumeráveis é enumerável.
• Os conjuntos N, Z e Q são enumeráveis.

Atividades de avaliação
1. Verifique, por meio de exemplos, que se X e Y são conjuntos finitos e se
f: X → Y é uma função injetora, então o número de elementos de X deve
ser menor do que ou igual ao número de elementos de Y.
2. Mostre que não pode existir uma função injetora f: X → Y de um conjunto
infinito X em um conjunto finito Y.
3. Sejam X e Y conjuntos finitos e f: X → Y uma função. Mostre que se f
é uma função injetora, então o número de elementos de X não pode ser
maior do que o número de elementos de Y.
4. Verifique, por meio de exemplos, que se X e Y são conjuntos finitos e f: X
→ Y é uma função sobrejetora, então o número de elementos de Y não
pode ser maior do que o número de elementos de X.
5. Mostre que não pode existir uma função sobrejetora f: X → Y de um con-
junto finito X em um conjunto infinito Y.
6. Mostre que se X e Y são conjuntos finitos e f: X → Y é uma função so-
brejetora, então o número de elementos de Y não pode ser maior do que o
número de elementos de X.
7. Sejam N o conjunto dos números naturais e P o conjunto dos números
pares. Mostre que a função f: N → P, dada por f(n) = 2n, é uma bijeção.
Compare o resultado com o exercício 05, ao longo do texto.

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50 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Leituras, filmes e sites


Recomendamos a leitura das notas históricas do livro de Geraldo Ávila, Análi-
se Matemática para licenciatura (São Paulo: Edgard Blücher, 2005).

Referências
ÁVILA, Geraldo Severo de Souza. Análise Matemática para licenciatura.
São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
FERREIRA, Jamil. A construção dos números. Textos Universitários. Rio de
Janeiro: SBM, 2010.
LIMA, Elon Lages. Curso de Análise, v.1. Projeto Euclides. Rio de Janeiro:
SBM/CNPq, 1976.
MUNIZ NETO, Antonio Caminha. Números reais. Tópicos de Matemática
Elementar, v.1. Rio de Janeiro: SBM, 2012.
MUNIZ NETO, Antonio Caminha. Introdução à Análise. Tópicos de Matemá-
tica Elementar, v.3. Rio de Janeiro: SBM, 2012.
NIVEN, Ivan. Números: racionais e irracionais. Coleção Fundamentos da
Matemática Elementar. Rio de Janeiro: SBM, 1984.
RIPOLL, Jaime Bruck; RIPOLL, Cydara Cavedon; SILVEIRA, José Francis-
co Porto. Números racionais, reais e complexos. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2006

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Capítulo 3
Números reais

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Análise Matemática 53

Objetivos
l Apresentar o conjunto dos números reais como um corpo ordenado comple-
to, o que faz com que cada ponto de uma reta, a reta numérica real, possa
ser associado a um número real e vice-versa.
l As operações de adição e de multiplicação no conjunto dos números reais
serão definidas como extensão das operações de mesmo nome no conjunto
dos números racionais.

Introdução
No capítulo anterior, vimos a existência de números que possuem represen-
tação decimal infinita, mas não periódica, e chamamos esses números de
números irracionais. Vimos que um desses números está associado à medida
da diagonal de um quadrado cujos lados medem uma unidade de comprimen-
to. De fato, pelo teorema de Pitágoras, denotando por d essa diagonal, temos
que d2 = 12 + 12 = 2.
Assim, d = 2 e foi mostrado no capítulo anterior que esse número não
é racional. Nesta Unidade, ampliaremos o conjunto dos números racionais,
a partir de sua união com os irracionais, obtendo um novo campo numérico,
chamado de campo dos números reais. Aceitaremos que o conjunto dos nú-
meros reais é um corpo ordenado completo e mostraremos algumas de suas
principais propriedades.

1. A reta numérica real


É possível representarmos os números racionais como pontos de uma reta,
como veremos no que segue.
Inicialmente, traçamos uma reta r e escolhemos dois de seus pontos.
Associando a esses pontos os números inteiros 0 e 1, obtemos nosso seg-
mento unitário que chamaremos de u e que será nossa unidade de medida.

Fig.1

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54 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Tomando o segmento u como unidade de medida, podemos marcar os


números naturais 2, 3, 4, e assim por diante; e os números inteiros -1, -2, -3,
e assim por diante.
Devemos observar que
a escolha do 1, tomado
mais à direita do que o 0 é
totalmente arbitrária.
Fig.2
A partir de subdivisões do segmento unitário, podemos marcar números
racionais como 2/3, 3/2, -1/4, -3/4, -5/3, etc.

Fig.3
Seguindo essa mesma ideia de subdivisão da unidade, podemos repre-
sentar na reta r todos os números racionais.
O leitor menos atento poderia ser levado a acreditar que essa associa-
ção esgota todos os pontos da reta, mas isso não é verdade.
Apesar de denso na reta, no sentido que dado qualquer ponto P da reta
é possível encontrar um número racional tão próximo de P, quanto queiramos,
após associarmos a cada número racional um ponto distinto da reta, ainda
sobrarão pontos da reta que não correspondem a nenhum número. Como
exemplo, podemos observar a marcação do número na reta numérica, que
O conjunto Q, dos
números racionais, é se encontra na figura a seguir.
denso na reta.

Fig.4
Como vimos na Unidade anterior, o número é irracional e, assim, exis-
tem pontos na reta que não estão associados a números racionais.

Essa é uma deficiência dos números racionais, que está associada ao


fato de os números racionais não serem um corpo completo, e será suplanta-
da pelo conjunto dos números reais.

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Análise Matemática 55

Para refletir
Marque na reta numérica os números irracionais 3 e 5.

2. A incompletude de Q
Mostraremos aqui a principal consequência da incompletude de Q, ou melhor,
o que significa essa incompletude. Para tanto, nos utilizaremos dos fatos que
enunciaremos a seguir.
Vimos, na unidade anterior, a definição de conjunto limitado para o caso
de subconjuntos dos números naturais. Vamos agora estender este conceito
para subconjuntos dos números racionais. Temos, inicialmente, as definições
de limitado superiormente e de limitado inferiormente.
Cota superior. Dado A um subconjunto não vazio de Q, dizemos que y ∈ Q é
uma cota superior de A se, e somente se, a ≤ y, qualquer que seja o elemento
a de A.
Exemplo 1. Se A = {a ∈ Q ; 0 ≤ a ≤ 1}, então 1 é cota superior de A. Além disso,
todo número racional y maior do que ou igual a 1 é, também, cota superior de A.
Exemplo 2. Se B = {b ∈ Q ; b < 5}, então 5 e qualquer número maior do que
5 é cota superior de B. Além disso, nenhum outro número além desses será
A propriedade
cota superior de B.
arquimediana de Q
Exemplo 3. O conjunto N, dos números naturais, não possui cota superior afirma que dado um
em Q. Isso significa que, dado qualquer número racional y, é sempre possível número racional é sempre
possível encontrar um
encontrar um número natural ny maior do que y. Essa é a propriedade arqui-
número natural maior do
mediana de Q e dizemos, por isso, que o corpo Q é um corpo arquimediano. que o racional dado.
O número ny encontrado pode variar com y.
Exemplo 4. O conjunto C = {2n ; n ∈ N} não possui cota superior em Q. De
fato, qualquer cota superior de C, se existir, será um número positivo. Mas, se
y é um número racional positivo, então, para n > , teremos que 2n > y e, por-
tanto, y não será cota superior de C.
De maneira semelhante, temos o conceito de cota inferior, como vere-
mos a seguir.
Cota inferior. Dado A um subconjunto não vazio de Q, dizemos que y ∈ Q é uma
cota inferior de A se, e somente se, y ≤ a, qualquer que seja o elemento a de A.
Exemplo 5. Se A = {a ∈ Q ; 0 ≤ a ≤ 1}, então 0 é cota inferior de A. Além
disso, todo número racional y, menor do que ou igual a 0 também é cota infe-
rior de A.
Exemplo 6. Se B = {b ∈ Q ; b > 5}, então 5 e qualquer número menor do que 5
é cota inferior de B. Além disso, nenhum outro número além desses será cota
inferior de B.

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56 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Exemplo 7. O conjunto N, dos números naturais, possui cota inferior em Q. O


número 1 é cota inferior de N.
Exemplo 8. Se A é um subconjunto finito e não vazio de Q, então o menor
elemento de A é uma cota inferior de A.
Observemos inicialmente que se y é cota superior de A, então qualquer
número racional maior do que ou igual a y é, também, cota superior de A. As-
sim, se A possui cota superior, então possui infinitas cotas superiores. Valendo
resultado semelhante para as cotas inferiores. Ou seja, se y é cota inferior de A,
então qualquer número racional menor do que ou igual a y é, também, cota infe-
rior de A. Assim, se A possui cota inferior, então possui infinitas cotas inferiores.
O fato de existirem subconjuntos de Q que não possuem cota superior
ou cota inferior nos permite classificar todos os subconjuntos não vazios de
Q em conjuntos limitados superiormente ou ilimitados (não limitados) supe-
riormente e limitados inferiormente ou ilimitados (não limitados) inferiormente.
Mais precisamente, temos as seguintes definições.
Definição
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Dizemos que A é limitado superiormente, se A possui
cota superior. Caso contrário, se A não é limitado superiormente, dizemos que
A é ilimitado superiormente.
Definição
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Dizemos que A é limitado inferiormente, se A possui
cota inferior. Caso contrário, se A não é limitado inferiormente, dizemos que A
é ilimitado inferiormente.
Não podemos confundir conjunto limitado superiormente ou limitado in-
feriormente com conjunto finito. No exemplo logo a seguir, temos um conjunto
infinito, mas que é limitado tanto superior quanto inferiormente.
Exemplo 9. O conjunto D = {1, 1/2, 1/4, 1/8, 1/16, ..., (1/2)n, ...} é infinito, mas
é limitado superiormente. O número 1 e, consequentemente, qualquer núme-
ro maior do que ou igual a 1 é cota superior de D. Além disso, o número 0, e
todos os números racionais menores do que 0, é cota inferior de D.
Exemplo 10. O conjunto E = {(-2)n ; n ∈ N} não é limitado superiormente nem
inferiormente.
Um conjunto que é limitado superior e inferiormente é dito um conjunto limitado.
Exemplo 11. O conjunto do exemplo 09 é limitado.
Exemplo 12. O conjunto dos divisores inteiros de 1260 é um conjunto limita-
do, uma vez que possui maior e menor elemento.
Como podemos perceber do que foi feito anteriormente, existem alguns
subconjuntos de Q que são limitados superiormente e inferiormente; outros
são limitados somente inferiormente ou somente superiormente; e outros não
são limitados nem superiormente nem inferiormente. Os subconjuntos de Q

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Análise Matemática 57

que são limitados inferior e superiormente são ditos conjuntos limitados. Mais
precisamente, temos a seguinte definição.
Definição. Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Dizemos que A é limitado, se A é limitado supe-
riormente e inferiormente.
Exemplo 13. O conjunto {(-1/2)n ; n ∈ N} é limitado. Denotando por x um ele-
mento do conjunto, temos que -1/2 ≤ x ≤ 1/2.
Exemplo 14. O conjunto X = {x ∈ Q ; x > 0, 4 ≤ x2 ≤ 9} é limitado. Se x é um
elemento de X, isto é, se x ∈ X, então 2 ≤ x ≤ 3, pois, caso contrário, (1) se x <
2, temos x2 < 4; (2) se x > 3, temos x2 > 9.
Exemplo 15. O conjunto X = {x ∈ Q ; x > 0, 2 ≤ x2 ≤ 5} é limitado. Se x é um
elemento de X, isto é, se x ∈ X, então 1 ≤ x ≤ 3, pois, caso contrário, (1) se x <
1, temos x2 < 1; (2) se x > 3, temos x2 > 9.
Observe que, no exemplo 14, a cota inferior que apresentamos foi a
maior possível, dentro do conjunto dos números racionais; enquanto no exem-
plo 15, os números 1,3 ou 1,31 ou 1,4 ou 1,4142 ou 1,41421, todos, são cotas
inferiores e, ainda, é possível encontrar outras cotas inferiores maiores do que
essas. Assim, limitados ao conjunto Q dos números racionais, podemos falar
na maior das cotas inferiores para o conjunto do exemplo 14, mas não pode-
mos falar na maior das cotas inferiores para o conjunto do exemplo 15.
O comentário anterior nos leva às seguintes definições.
Definição
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Dizemos que y ∈ Q é supremo de A se, e somente
se, y é cota superior de A e y é menor do que ou igual a qualquer outra cota
superior de A.
Definição
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Dizemos que y ∈ Q é ínfimo de A se, e somente se, y é
cota inferior de A e y é maior do que ou igual a qualquer outra cota inferior de A.
Observamos que, de acordo com a definição e com o que foi feito an-
teriormente, o ínfimo e o supremo de um conjunto podem ou não existirem.
Mas, se existirem, eles são únicos e serão denotados por infA e supA, respec-
tivamente.
Proposição 16
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Se existe o supremo de A, então ele é único.
Prova
Sejam x e y supremos de A. Por definição de supremo, x e y são cotas supe-
riores de A.
Por ser supremo, x é menor do que ou igual a qualquer outra cota superior de
A. Assim, x ≤ y.

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58 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

De maneira semelhante, por ser supremo, y é menor do que ou igual a qual-


quer outra cota superior de A. Assim, y ≤ x.
De x ≤ y e y ≤ x, segue que x = y.
Provando o resultado.

Proposição 17
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Se existe o ínfimo de A, então ele é único.
Prova
Sejam x e y ínfimos de A. Por definição de ínfimo, x e y são cotas inferiores
de A.
Por ser ínfimo, x é maior do que ou igual a qualquer outra cota inferior de A.
Assim, x ≥ y.
De maneira semelhante, por ser ínfimo, y é maior do que ou igual a qualquer
outra cota inferior de A. Assim, y ≥ x.
De x ≥ y e y ≥ x, segue que x = y.
Provando o resultado.
Exemplo 16. Se A = {x ∈ Q ; 0 ≤ x ≤ 4}, então supA = 4 e infA = 0. Observemos
que, neste caso, temos que infA ∈ A e supA ∈ A.
Exemplo 17. Se B = {x ∈ Q ; 5 < x}, então infB = 5 e B não possui supremo.
Neste caso, temos que infB ∉ B.
Exemplo 18. Se C = {x ∈ Q ; 5 ≤ x < 9}, então infC = 5 e supC = 9. Neste caso,
temos que infC ∈ C e supC ∉ C.
Vamos tomar como base o conjunto C = {x ∈ Q ; 5 ≤ x < 9} e mostrar
que, realmente, infC = 5 e supC = 9.
Observemos, inicialmente, que 5 é cota inferior de C, pois, se x ∈ C,
então 5 ≤ x; e que 9 é cota superior de C, pois, x ∈ C, então x < 9 ≤ 9.
Por outro lado, seja y ∈ Q e suponha que y é cota inferior de C.
Como 5 ∈ C, devemos ter y ≤ 5 e, portanto, infC =5.
Seja, agora, y ∈ Q e suponha que y é cota superior de C.
Assim, devemos ter x ≤ y, qualquer que seja o elemento x de C.
y+ 9
Suponha que seja y < 9 e considere o número .
2
Esse é um número racional, pois é o quociente entre dois números ra-
cionais, maior do que y (e, portanto, maior do que 5) e menor do que 9. Portan-
to, y + 9 ∈ C, contrariando o fato de y ser cota superior de C.
2
Logo, supC = 9, provando o que queríamos.

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Análise Matemática 59

Para refletir
1. Mostre que: se x e y são números racionais, com x < y, então é um número racional,
maior do que x e menor do que y.
2. Mostre que: se A = {x ∈ Q ; 0 ≤ x ≤ 4}, então supA = 4 e infA = 0.
3. Mostre que: se B = {x ∈ Q ; 5 < x}, então infB = 5.

3. Os números reais: um corpo ordenado completo


Aceitaremos como postulado que o conjunto R dos números reais é um corpo
ordenado completo, ou seja, aceitaremos que R é um corpo ordenado que
possui a seguinte propriedade:
Postulado de Dedekind. Todo subconjunto de R, limitado inferiormente, pos-
sui ínfimo.

3.1. O corpo dos números reais


Dizer que R é um corpo significa dizer que em R estão definidas duas ope-
rações: adição e multiplicação, que possuem as propriedades enumeradas a
seguir.
Propriedades da adição. A adição em R é uma operação binária que
associa a cada par ordenado (a, b) de elementos de R o número real a + b,
chamado de soma de a com b, e possui as seguintes propriedades:
A1: Associativa
Dados a, b e c, números reais, temos que a + (b + c) = (a + b) + c.
A2: Comutativa
Dados a e b, números reais, temos que a + b = b + a.
A3: Elemento neutro
Existe, em R, um número real 0 (zero) tal que 0 + a = a + 0 = a, qualquer
que seja o número real a.
A4: Elemento simétrico
Para cada número real a, existe um número real –a, chamado de simé-
trico de a, tal que a + (-a) = (-a) + a = 0.
Além dessas propriedades, assumiremos o postulado que segue.
Postulado da adição. A adição de números reais quando restrita ao conjunto
dos números racionais, coincide com a adição de Q.
Propriedades da multiplicação. A multiplicação é uma operação binária em
R, que associa a cada par ordenado (a, b) de elementos de R, o elemento a ×
b de R, chamado de produto de a por b, e possui as seguintes propriedades:
M1: Associativa

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60 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Dados a, b e c, números reais, temos que a × (b × c) = (a × b) × c.


A2: Comutativa
Dados a e b, números reais, temos que a × b = b × a.
A3: Elemento neutro
Existe, em R, um número real 1 (um) tal que 1 × a = a × 0 = a, qualquer
que seja o número real a.
A4: Elemento inverso (ou simétrico multiplicativo)
Para cada número real a, com a ≠ 0, existe um número real 1/a ou a-1,
chamado de inverso de a, tal que a × (1/a) = (1/a) × a = 1.
Além dessas propriedades, assumiremos o postulado que segue.
Postulado da multiplicação. A multiplicação de números reais quando res-
trita ao conjunto dos números racionais, coincide com a multiplicação de Q.
Assumindo os postulados listados anteriormente, é possível mostramos
os resultados a seguir.
Proposição XX.

3.2. R é um corpo ordenado


Dizer que R é um corpo ordenado significa dizer que em R é possível desta-
car um subconjunto R+ – cujos elementos são chamados de números reais
positivos – tal que:
Axioma 1. A soma e o produto de dois números reais positivos é, ainda, um
número real positivo.
Em símbolos: ∀ x, y ∈ R, x+y ∈ R e xy ∈ R.
Axioma 2. Um número real qualquer ou é igual a zero, ou é positivo, ou o seu
simétrico é positivo.
Em símbolos: ∀ x ∈ R, x = 0 ou x ∈ R ou –x ∈ R.
Os elementos do conjunto R-, definido por R- = {-x; x ∈ R+}, são chama-
dos de números reais negativos.
Portanto, de acordo com o axioma O2, se x ∈ R, então x = 0, ou x ∈ R+,
ou x ∈ R- e, consequentemente, R = R-∪{0}∪R+.
Como primeira consequência dos axiomas O1 e O2 e do fato de R ser
um corpo, temos os seguintes resultados.

Proposição 18
O quadrado de qualquer número real não nulo é um número real positivo. Ou
em símbolos, ∀ x ∈ R, x2 ∈ R+.

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Análise Matemática 61

Prova.
Seja x ∈ R e suponha x ≠ 0.
Se x ∈ R+, então, pelo axioma O1, temos que x2 = x.x ∈ R+.
Se –x ∈ R+, então, pelo axioma O1, temos que x2 = (-x)(-x) ∈ R+.
Provando o resultado.

Outra consequência imediata dos axiomas de ordem é a proposição


seguinte.

Proposição 19
O número real -1 não é o quadrado de nenhum número real.
Prova.
Como 1 = 1.1 = 12, temos que 1 é positivo.
Assim, pelo axioma O2, devemos ter que -1 ∉ R+, ou seja, -1 é negativo.
Pela proposição anterior, não podemos ter -1 = x2, para nenhum x ∈ R.
Provando o resultado.

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Capítulo 4
O conceito de sequência de
números reais

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Análise Matemática 65

Objetivo
l Estudar um dos conceitos mais importantes da Matemática: o conceito de
limite que, apesar de sua importância e de já estar presente nos estudos de
Zenão, por volta de 330 a.C., somente passou a ser definido de forma rigo-
rosa e precisa pelos matemáticos do século XIX. Como veremos, o conceito
de limite está associado com a ideia intuitiva de “estar tão próximo quanto se
queira”, ou seja, a distância para um número dado tende a zero.
Esse conceito será apresentado a partir da ideia de convergência de
sequências de números reais e, para tanto, começaremos definindo o que
vem a ser uma sequência de números reais.

1. O conceito de sequência de números reais


Nosso primeiro contato com as sequências numéricas se dá já no ensino fun-
damental quando somos levados a descobrir leis de formação que nos permi-
tam determinar os termos seguintes de sequências cujos primeiros termos se
encontram explicitados. Posteriormente, tomamos contato com as progres-
sões, aritméticas ou geométricas, finitas ou infinitas. Intuitivamente, uma sequ-
ência de números reais é uma lista infinita e ordenada de números reais. Mais
precisamente, temos a seguinte definição.

Definição 1
Uma sequência de números reais ou, simplesmente, uma sequência é
uma função x: N → R que, a cada número natural n, associa o número real
x(n), indicado por xn e chamado de n-ésimo termo da sequência.
A sequência x: N → R será indicada por (x1, x2, x3,..., xn,...) ou, abre-
viadamente, por (xn)n∈N ou, ainda, por (xn).
Exemplo 1. A sequência x: N → R, em que x(n) = xn = (1/2)n é indicada por
(1/2, 1/4, 1/8, 1/16,...).
Exemplo 2. A sequência indicada por (0, 1, 0, 1,...) corresponde à função x: N
→ R, dada por x(n) = 0, se n é ímpar; e x(n) = 1, se n é par.

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66 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Exemplo 3. A sequência x: N → R, em que x(n) = 1/n é indicada por (1,


1/2, 1/3, 1/4,...)
nr
Exemplo 4. A sequência (sen
2 )n∈N é indicada por (1,0,-1,0,1,0,-1,0,...).
É importante observarmos que uma sequência de números reais é
A lei de formação da uma listagem infinita e ordenada de números reais que não pode ser con-
função x pode ser outra,
fundida com o conjunto imagem da função x: N → R. O conjunto imagem
diferente dessa.
ou conjunto de valores da sequência pode ser um conjunto finito, como no
caso das sequências dos exemplos 2 e 4 ou um conjunto infinito, como
nos exemplos 1 e 3.
É possível que o conjunto de valores de uma sequência seja um conjun-
to unitário. Temos, portanto, a seguinte definição.
Definição 2. Dizemos que a sequência (xn)n∈N é uma sequência constante
se, e somente se, xn = xm, quaisquer que sejam os números naturais m e n.
Exemplo 5. A sequência (xn)n∈N, indicada por (0, 0, 0, ...) é uma sequência
constante.
Exemplo 6. A sequência (xn)n∈N, em que xn = cos2(nπ), ∀ n∈N, é uma se-
quência constante e igual a 1.
Sequências limitadas e sequências ilimitadas. Observemos que as sequ-
ências dos seis exemplos apresentados até agora são tais que seus valores
formam um conjunto limitado, mesmo quando infinitos. De fato, todos os valo-
res da sequência do exemplo 1 pertencem ao intervalo [0,1].

1.1 Alguns exemplos de sequência


Exemplo 1. A sequência (2, 3, 5, 7, 11, ...) é a sequência dos números pri-
mos. Como bem sabemos não existe uma fórmula que nos permita determi-
nar o termo geral dessa sequência, embora todos os seus termos estejam
bem definidos.
Exemplo 2. Os termos da sequência (xn)n∈N, em que xn é o resto da divisão de
n por 4, são (1, 2, 3, 0, 1, 2, 3, 0, ...).
Exemplo 3. A sequência (0, 1/2, 2/3, 3/4, 4/5, ...) é a sequência cujo termo
geral pode ser obtido em função de n por xn = 1 – 1/n, n∈ N.

2. Convergência de sequências
Algumas sequências merecem especial destaque pelo comportamento dos
valores dos seus termos xn, a medida que tomamos n cada vez maiores. Va-
mos observar o comportamento de algumas sequências, com relação a esse
aspecto.

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Análise Matemática 67

Exemplo 1. A sequência (xn)n∈N, em que xn = 1, para todo n. Essa é a sequên-


cia (1, 1, 1, 1, ...) e corresponde à função constante e igual a 1. Neste caso,
temos que x1 = 1, x10 = 1, x100 = 1, x1000 = 1 etc. Como se percebe, a medida que
n vai crescendo, o valor de xn não se altera, permanecendo sempre igual a 1.
Exemplo 2. A sequência (xn)n∈N, em que xn = (-1)n, para todo n. Temos que (xn)
é a sequência (-1, 1, -1, 1,...). Observemos que xn = -1, sempre que n for ímpar;
enquanto, xn = 1, para n par. Isso pode ser visto se lembrarmos que os núme-
ros ímpares podem ser escrito na forma 2k+1, para k = 1, 2, 3,..., e, assim, x2k
= (-1)2k = [(-1)2]k = (1)k = 1; enquanto os números pares podem ser escritos na
forma 2k, para k = 1, 2, 3,..., e, assim, x2k+1 = (-1)2k+1 = (-1)2k(-1)1 = [(-1)2]k(-1) =
1k(-1) = -1. Portanto, a medida que os valores de n crescem, os valores xn da
sequência ficam oscilando entre -1 e 1.
Exemplo 3. A sequência (xn)n∈N, com xn = (1/2)n, para todo n. Temos que (xn)
é a sequência (1/2, 1/4, 1/8, …). Notemos que, a medida que n cresce, o valor
de xn é sempre positivo, mas vai se aproximando de zero sem, no entanto,
nunca ser zero. Os quadros a seguir nos permite induzir tal afirmação.
Quadro: 6
ALGUNS TERMOS DA SEQUÊNCIA (XN), COM XN = (1/2)
N

n 2
n
xn n 2n xn
1 2 0,5 7 128 0,0078125
2 4 0,25 8 256 0,00390625
3 8 0,125 9 512 0,001953125
4 16 0,0625 10 1024 0,000976563
5 32 0,03125 20 1048576 0,000000953674
6 64 0,015625 30 1073741824 0,000000000931323
Dos exemplos anteriores, podemos tirar algumas conclusões, como as
que apresentamos a seguir.
Na sequência (xn)n∈N, com xn = (1/2)n, para todo n, temos que para n su-
ficientemente grande, o valor de xn é sempre positivo e vai se tornando cada
vez mais próximo de zero sem, no entanto, nunca ser zero. Por exemplo, para
n = 10, a diferença entre x10 e 0 é menor do que 1/1000; para n = 20, a dife-
rença entre x20 e 0 é menor do que 1/1000000. Assim, embora nenhum dos
termos da sequência seja zero, a diferença entre xn e 0, para n suficientemen-
te grande, é tão pequena quanto quisermos.
Dizemos, por isso, que a sequência (xn) converge para 0. Simbolica-
mente, escrevemos nlim" xn3 = 0, que se lê: “o limite de xis ene quando n tende ao

infinito é igual a zero”, para indicar que a partir de certa ordem os valores dos
termos da sequência (xn) estão tão próximos de 0 quanto se deseje, ou seja,
que a diferença entre o valor do termo da sequência e zero é menor do que
qualquer quantidade positiva previamente determinada.

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68 VASCONCELOS, C. B.; ROCHA, M. A.

Na sequência (yn) = (1), para n suficientemente grande, ou seja, a partir


de certa ordem, os valores dos termos da sequência são todos iguais a 1.
Na realidade, todos os termos da sequência em questão são iguais a 1. Ob-
servemos que para a sequência na qual os dez primeiros termos são 0 e os
demais são 1, ou seja, para a sequência (0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,1,1,1,...), também
podemos afirmar que para n suficientemente grande, os valores dos termos
da sequência são todos iguais a 1. Na realidade, essa igualdade já vale a partir
do décimo primeiro termo. Também poderíamos fazer essa mesma afirmação
— para n suficientemente grande, os valores dos termos da sequência são to-
dos iguais a 1 — para uma sequência em que os 100 primeiros termos fossem
diferentes de 1 e, daí em diante, todos os demais termos fossem iguais a 1.
Neste caso, também dizemos que a sequência (yn) converge para 1 e,
simbolicamente, escrevemos nlim" xn
3 = 1, que se lê: “o limite de ipsilon ene quan-

do n tende ao infinito é igual a um”, para indicar que a partir de certa ordem
os valores dos termos da sequência (yn) estão tão próximos de 1 quanto se
deseje, ou seja, que a diferença entre o valor do termo da sequência e um é
menor do que qualquer quantidade positiva previamente determinada.

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Análise Matemática 69

Sobre os autores
Cleiton Batista Vasconcelos: possui graduação em Bacharelado em Ma-
temática pela Universidade Federal do Ceará (1980) e mestrado em Mate-
mática pela Universidade Federal do Ceará (1983). Atualmente é professor
adjunto da Universidade Estadual do Ceará. Tem experiência na área de Edu-
cação, com ênfase em Ensino de Matemática. Trabalha com Avaliação de
Livros Didáticos e Laboratório de Matemática.

Manoel Américo Rocha: é Mestre, título obtido na Universidade Federal do


Ceará em 1980, Bacharel em Matemática pela UFC em 1972. Especializa-
ção em Metodologia de Ensino Superior Área de conhecimento Matemática
pela UFC em 1975. Larga experiência em docência superior na UFC, UECE,
UNIFOR, UVA, UNICE E FANOR. Especialidade: Cálculo Diferencial integral.
Matemática Financeira.

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Matemática

F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
Matemática

Análise Matemática
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Análise Matemática
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.

Universidade Estadual do Ceará - Universidade Aberta do Brasil


Cleiton Batista Vasconcelos
Manoel Américo Rocha
Geografia

12

História

Educação
Física

Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia

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