Livro Analise Matematica
Livro Analise Matematica
Livro Analise Matematica
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
Matemática
Análise Matemática
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Análise Matemática
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.
12
História
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Matemática
Análise Matemática
Geografia
2ª edição
Fortaleza - Ceará 9
12
História
2019
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Editora Filiada à
Apresentação..................................................................................................................5
Capítulo 1 – Números racionais e números irracionais..........................................7
1. Os números inteiros............................................................................................9
1.1. Construção axiomática3 dos números naturais........................................10
2. Os números racionais.......................................................................................12
2.1. Representação fracionária5 dos números racionais................................12
2.2 Representação decimal dos números racionais.......................................14
3. Os números irracionais.....................................................................................21
3.1. Números reais.............................................................................................23
Capítulo 2 – Conjuntos finitos e conjuntos enumeráveis.....................................27
1. Conjuntos finitos................................................................................................29
1.1. A unicidade do número de elementos de um conjunto finito...................31
1.2. A adição de números naturais....................................................................34
1.3. A multiplicação de números naturais.........................................................38
1.4 Conjuntos infinitos........................................................................................40
1.5. Conjuntos limitados.....................................................................................41
2. Conjuntos enumeráveis....................................................................................42
2.1. A enumerabilidade de Q.............................................................................46
Capítulo 3 – Números reais.........................................................................................51
1. A reta numérica real...........................................................................................53
2. A incompletude de Q.........................................................................................55
3. Os números reais: um corpo ordenado completo...........................................59
3.1. O corpo dos números reais........................................................................59
3.2. R é um corpo ordenado..............................................................................60
Capítulo 4 – O conceito de sequência de números reais......................................65
1. O conceito de sequência de números reais....................................................65
1.1 Alguns exemplos de sequência..................................................................66
2. Convergência de sequências...........................................................................66
Sobre os autores..........................................................................................................69
Os autores
Objetivo
l Nesta unidade, mostraremos a existência dos números reais, a partir da cons- 1
Aqui, estamos utilizando
trução de um número com representação decimal infinita1 e não periódica a expressão “infinito”
de forma intuitiva.
para, em seguida, estudarmos as suas principais propriedades. Iniciando nos-
Posteriormente,
so estudo pelos números naturais, inteiros e racionais, faremos uma constru- definiremos mais
ção axiomática dos números naturais, a partir dos axiomas de Peano, dando precisamente o que vem a
uma visão de números ordinais para esses números. Em seguida, definire- ser um conjunto infinito.
mos os números racionais como quociente entre dois inteiros, sendo o divisor
não nulo, apresentando suas representações fracionária e decimal. A partir da
representação decimal dos números racionais, mostraremos a existência dos
números irracionais, construindo, assim o conjunto dos números reais.
1. Os números inteiros
Desde há muito tempo conhecemos os números naturais e os números intei-
ros. Eles estão presentes em várias situações do nosso dia a dia, notadamen-
te, mas não exclusivamente, naquelas relacionadas com ordenação e com
contagem. Quando dizemos que 20 (vinte) times disputam a primeira divisão
do campeonato brasileiro ou que existem 5 (cinco) vogais, estamos utilizando
os números naturais em situações de contagem. Quando dizemos que o time
A foi o 1o (primeiro) colocado ou que a letra u é a 5a (quinta) vogal, estamos
empregando os números naturais em situações de ordenação.
O conjunto dos números naturais é representado pela letra N, seus
elementos são chamados de números naturais e são indicados pelos símbolos
1, 2, 3, 4,... Temos, portanto, que o conjunto dos números naturais é dado por
N = {1, 2, 3, 4,...}.
Em ambos os casos, as reticências indicam que esses números conti-
nuam indefinidamente, ou seja, que o conjunto dos números naturais é infinito.
Na realidade, além de infinito, o conjunto dos números naturais é ili-
mitado2 superiormente, ou seja, dado qualquer número natural n, é sempre
possível encontrar outro número natural maior do que n.
Observemos que, de acordo com a nossa escolha, o 0 (zero) não foi
considerado um número natural. Essa é uma escolha possível e bastante na-
2
A noção de conjunto tural na análise, pois faz com que o elemento 1 seja o primeiro número natural,
ilimitado superiormente o 2 seja o segundo, o 3 seja o terceiro, etc., coincidindo com a ideia de que,
é outra expressão que
está sendo utilizada de em uma sequencia, o primeiro termo seja representado por a1; o segundo por
forma intuitiva e que será a2; e assim por diante. Observemos também que, assim procedendo, o con-
mais bem precisada, junto dos números naturais não terá elemento neutro para a adição, uma vez
posteriormente. que, como sabemos esse elemento é o zero.
O conjunto dos números inteiros é representado pela letra Z e possui
como elementos os números que são indicados pelos símbolos 0, +1, -1, +2,
-2, +3, -3,... Assim, podemos escrever:
Z = {...-3, -2, -1, 0, 1, 2, 3...}.
Novamente, as reticencias indicam a infinitude do conjunto dos núme-
3
Axiomatizar um sistema
ou uma teoria é escolher ros inteiros que, além de infinito, é ilimitado tanto inferior, quanto superiormen-
um conjunto bem definido te. Com isso, queremos dizer que, dado um número inteiro n, sempre é possí-
de objetos e relações vel encontrar outros números inteiros n1 e n2, tais que n1 seja menor do que
entre esses objetos, n e n2 seja maior do que n.
que serão chamados
de entes primitivos, e 1.1. Construção axiomática3 dos números naturais
de propriedades que
devem ser aceitas e É possível construir de forma axiomática o conjunto dos números naturais,
“respeitadas” para, a partir conforme veremos a seguir.
deles, determinarmos
e provarmos todos os Para tanto, usaremos a axiomatização de Peano4. Essa axiomatização
demais resultados dessa nos permite estudar os números naturais como números ordinais, isto é, como
teoria. resultantes de uma ordenação, e não como números cardinais, resultantes
de contagem. O estudo dos números naturais do ponto de vista dos números
cardinais, isto é, resultantes de contagem, será feito quando do estudo mais
detalhado dos conjuntos finitos.
Em sua axiomatização, Peano assumiu a existência de um conjunto
4
Giuseppe Peano
(1858 - 1932) foi um
não vazio N, cujos elementos são chamados de números naturais, e de uma
matemático italiano função s: N → N, que associa a cada número natural n o número natural
que nasceu em Cuneo, s(n), chamado de sucessor de n, e que possui as seguintes propriedades:
estudou em Turin e deu
P1: s: N → N é injetora.
grande contribuição à
Matemática, notadamente Isto é, dados os números naturais m e n, com m ≠ n, tem-se s(m) ≠ s(n).
nos campos da análise P2: N – s(N) é um conjunto unitário.
matemática, lógica,
teoria dos conjuntos, Ou seja, existe um único número natural que não é sucessor de nenhum ou-
equações diferenciais e tro. Esse número é chamado de “um” e denotado pelo símbolo 1.
análise vetorial. Em 1889, P3: (Princípio da indução)
publicou seus famosos
axiomas que definiram Se X ⊂ N é tal que 1 ∈ X e, para todo n ∈ X, tem-se que s(n) ∈ X, então
os números naturais em X = N.
termos de conjuntos.
Com esses entes primitivos (conjunto não vazio e função sucessor) e
estes três postulados (P1, P2 e P3) é possível construir toda a teoria dos nú-
meros naturais que conhecemos.
Para refletir
1. Mostre por indução sobre n que a soma dos n primeiros números naturais pares
pode ser dada por n(n+1).
2. Defina por indução a multiplicação de dois números naturais m e n.
3. Mostre por indução o princípio da boa ordenação, que afirma: Todo subconjunto
não vazio de números naturais possui um menor elemento.
4. Defina por indução uma função f: N → N, tal que f(n) = n!.
5. Dados os números naturais a e b, mostre que existe um número natural m, tal que
ma > b.
6. Sejam M um número natural e X ⊂ N, tal que: (i) M ∈ X; (ii) se m ∈ X, então m + 1 ∈
X. Mostre que X contém todos os números naturais maiores do que ou iguais a M.
7. Mostre que se n ∈ N e n ≥ 4, então n! > 2n.
8. Seja a ∈ N. Mostre por indução sobre n que an+1 – 1 = (a – 1)(an + an-1 +...+ a + 1).
9. Seja P(n) a afirmação:
P(n): 1 + 2 + +...+ n = (2n + 1)2/8. Mostre que se P(k) for verdadeira, então P(k+1) tam-
bém é verdadeira.
10. Prove a desigualdade de Bernoulli: (1 + x)n ≥ 1 + nx, para todo x ≥ -1 e para todo n ∈ N.
2. Os números racionais
Além dos números naturais e dos números inteiros, muitas vezes nos depara-
mos com números como: 3/4; 0,25; 1/6; 0,253; etc. Esses números são cha-
mados de números racionais e serão mais bem trabalhados no que segue.
Para refletir
1. Defina relação de equivalência em um conjunto não vazio E.
2 Dê exemplos de relações de equivalência no conjunto Z dos números inteiros.
3. Dados uma relação de equivalência f em um conjunto E, e x ∈ E, defina a classe de
equivalência de x módulo f.
4. Determine as classes de equivalência das relações definidas no exercício 02.
5. Determine frações equivalentes às frações: (a) 2/3; (b) 3/4; (c) 1/5; (d) 1/5 e 2/3, ao
mesmo tempo; (e) 2/3 e 3/4, ao mesmo tempo.
6. Determine condições suficientes para que uma fração seja equivalente às frações:
(a) 3/5; (b) 2/6.
7. Determine uma fração equivalente a 4/5 e tal que: (a) seu numerador seja igual a 12; (b)
seu denominador seja igual a 30; (c) seu numerador seja 12 e seu denominador seja 30.
8. Mostre que existe uma e apenas uma fração equivalente a 3/5 cujo numerador seja 30.
9. Determine uma fração equivalente a 2/9 tal que a soma de seu numerador com seu
denominador seja 110.
10. Sabendo que as frações 19/11 e m/n são equivalentes, determine os valores de m
e de n para os quais 11m + 31n = 550.
b) A inclusão de Z em Q
Dentre os números racionais, um subconjunto merece destaque e es-
pecial atenção. É o subconjunto dos racionais que podem ser representados
na forma a/1, em que a é um número inteiro, quais sejam,
…, -4/1, -3/1, -2/1, -1/1, 0/1, 1/1, 2/1, 3/1,…
Esses números podem ser pensados como uma cópia dos números in-
teiros e, com isso, podemos dizer que Z ⊂ Q, ou seja, que todo número inteiro
é um número racional.
Exemplo 7. O número racional -4/1 corresponde ao inteiro -4; o número ra-
cional 3/1 corresponde ao inteiro 3; e o racional 0/1 corresponde ao inteiro 0.
Exemplo 8. Como -4/1 = -8/2, o racional -8/2 também corresponde ao inteiro -4.
Exemplo 9. O racional ad/d, em que a e d são inteiros, sendo d ≠ 0, correspon-
de ao inteiro a, uma vez que ad/d = a/1, pois vale a igualdade ad x 1 = a x d.
por 4/2. Lembremos que vale a igualdade 4/2 = 2/1, uma vez que 4 x 1 = 2 x
2. Assim, 2 é a representação decimal do número racional 2/1, justificando a
inclusão de Z em Q, sugerida anteriormente.
Exemplo 12. No número racional 1/2, ao dividirmos 1 por 2, obtemos o número
0,5, que é a representação decimal do número racional representado por 1/2.
Na representação decimal de um número racional, o número que vem
antes da vírgula é chamado de parte inteira do número racional, e o número
que vem depois da vírgula é chamado de parte fracionária do número racional.
Exemplo 13. A parte inteira do número racional 23,586 é 23 e sua parte fra-
cionária é 586.
Exemplo 14. No número 0,25, a parte inteira é 0 (zero) e a parte fracionária é 25.
Quadro 1
PARTE INTEIRA E PARTE FRACIONÁRIA DO NÚMERO RACIONAL A1A2...AN,A1A2A3...AR.
Parte inteira A1A2...An
Parte fracionária a1a2a3...ar
nuar indefinidamente sempre com 6 no quociente. Isso pode ser visto a partir
da divisão do 2 por 3, como segue:
(i) inicialmente, dividimos o 2 por 3 e obtemos 0 (zero) no quociente;
(ii) para continuarmos a divisão, acrescentamos 0 ao dividendo e dividimos 20
por 3, obtendo 6 no quociente e 2 para resto;
(iii) acrescentamos 0 ao dividendo e dividimos outra vez 20 por 3, obtendo 6 no quo-
ciente e 2 para resto;
(iv)acrescentamos 0 ao dividendo e dividimos outra vez 20 por 3, obtendo 6 no quo-
ciente e 2 para resto; e assim por diante.
Exemplo 20. A representação decimal do número racional 5/7 é
0,714285714285... (aqui, as reticências indicam que o número 714285 se
repete no quociente, indefinidamente). Isso pode ser visto ao efetuarmos a
divisão de 5 por 7, como segue:
(i) inicialmente, dividimos o 5 pelo 7 e obtemos 0 no quociente, que é a
parte inteira do número decimal;
(ii) continuamos a divisão, dividindo 50 por 7; obtemos 7 para quociente e
o resto 1;
(iii) continuamos a divisão, dividindo 10 por 7; obtemos 1 para quociente
e o resto 3;
(iv) continuamos..., dividindo 30 por 7; obtemos 4 para quociente e o resto 2;
(v) continuamos..., dividindo 20 por 7; obtemos 2 para quociente e o resto 6;
(vi) continuamos..., dividindo 60 por 7; obtemos 8 para quociente e o resto 4;
(vii) continuamos..., dividindo 40 por 7; obtemos 5 para quociente e o resto 5;
(viii) continuamos..., dividindo 50 por 7; obtemos 7 para quociente e o resto 1.
Observemos que retornamos ao passo (ii), no qual tínhamos que dividir
50 por 7, obtendo 7 para quociente e resto 1. Isso significa que repetiremos os
passos (iii), (iv), (v), (vi) e (vii), recaindo no passo (viii) que é igual ao (ii). Assim,
todos os restos e quocientes obtidos nesses passos irão se repetir, dando
origem a um número decimal infinito e periódico.
No exemplo 20, anterior, o número racional 5/7 deu origem a um número
decimal infinito e periódico, chamado de dízima periódica. Isso ocorreu porque
os restos possíveis de uma divisão por 7 são 0 (neste caso teríamos um número
decimal exato como quociente), 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e, portanto, obrigatoriamente
teremos a repetição dos algarismos no quociente. O número formado pelos al-
garismos que se repetem é chamado de período da dízima periódica.
Observemos que quando formos determinar a representação decimal
do número racional a/b (com b > 0), dividindo o numerador a pelo denomina-
dor b, os únicos restos possíveis para essa divisão são 0 (nesse caso teremos
Por exemplo,
Exemplo 23. A fração que representa a dízima periódica 0,33... é 1/3. Isso
pode ser visto procedendo-se segundo o seguinte algoritmo:
(i) x = 0,333...
(ii) 10x = 3,333...
(iii) (10x – x) = (3,333... – 0,333...)
(iv) 9x = 3
(v) x = 3/9 = 1/3.
Exemplo 24. Outra maneira de vermos essa transformação seria pensarmos
assim:
(i) x = 0,333...
(ii) 10x = 3,333... = 3 + 0,333... = 3 + x
(iii) 9x = 3
(iv) x = 3/9 = 1/3.
Exemplo 25. A fração que representa a dízima periódica 0,353535... é 35/99.
Isso pode ser visto procedendo-se segundo o seguinte algoritmo:
(i) x = 0,353535...
(ii) 10x = 3,535353...
(iii) 100x = 35,353535...
(iv) (100x – x) = (35,353535... – 0,353535...)
(v) 99x = 35
(vi) x = 35/99.
Exemplo 26. Procedendo como no exemplo 24, temos o seguinte:
(i) x = 0,353535...
(ii) 10x = 3,535353...
(iii) 100x = 35,353535... = 35 + x
(iv) 99x = 35
(v) x = 35/99.
Exemplo 27. A dízima periódica 0,566... pode ser representada pela fração
51/90, como podemos ver no que segue:
(i) x = 0,5666...
(ii) 10x = 5,666... = 5 + 0,666...
(iii) 100x = 56,666... = 56 + (10x – 5)
(iv) 100x – 10x = 56 – 5 = 51
(v) 90x = 51
(vi) x = 51/90.
Quadro 4
Divisão de 51 por 90
Para refletir
1. Determine a forma decimal dos números racionais:
a) 3/4.
b) 34/5.
c) 3/11.
d) 9/7.
2. Represente na forma fracionária os números:
a) 3,25323232... (período 32).
b) 0,176 (decimal exato).
c) 9,103222... (período 2).
3. Determine a soma 2,878787... + 3,9191...
3. Os números irracionais
Vimos que os números racionais possuem representação decimal finita, na
forma de número decimal exato, ou representação decimal infinita, na forma
de dízimas periódicas. Entretanto, é possível construirmos um número com
representação decimal infinita e não periódica.
Exemplo 28. O número com representação decimal, ou simplesmente, o número
decimal 0,12122122212222..., no qual temos, após a vírgula, uma sequência de
algarismos 1 e 2 formada da maneira explicada a seguir, é um número decimal
não exato, que não é uma dízima periódica: (i) inicialmente, temos um algarismo 1
seguido de um algarismo 2; (ii) em seguida, temos um algarismo 1 seguido de dois
algarismos 2; (iii) depois, um algarismo 1 seguido de três algarismos 2; (iv) depois,
um algarismo 1 seguido de quatro algarismos 2; e assim por diante.
Exemplo 29. O número decimal 23,12131415..., no qual após a vírgula temos
em sequência os números 12, 13, 14, 15 e assim por diante, é um número
decimal infinito que não é dízima periódica.
Dentre esses números com representação decimal infinita e não peri-
ódica, um dos mais conhecidos é o número π, cuja representação decimal é
3,141592... As reticências, aqui, indicam que a representação continua indefi-
nidamente, sendo que de uma forma totalmente desordenada.
Quadro 5
Atividades de avaliação
1. Mostre que 3 é irracional, de maneira semelhante ao que foi feito no texto
para 2 .
2. Mostre que 2+ 3 é irracional.
3. A soma de dois números racionais é sempre um número racional. Mostre
por meio de exemplos que é possível que a soma de dois números irracio-
nais seja um número racional. Dê exemplos mostrando que a soma de dois
números irracionais pode ser um número irracional.
4. O produto de dois números racionais é sempre um número racional. Mostre
por meio de exemplos que é possível que o produto de dois números irra-
cionais seja um número racional. Dê exemplos mostrando que o produto de
dois números irracionais pode ser um número irracional.
5. Mostre que se p é primo, então p é irracional.
6. Um número natural a é dito um quadrado perfeito se, e somente se, existe
um número natural b, tal que b2 = a. Mostre que se o número natural a não
for quadrado perfeito, então a é irracional.
7. Mostre que a soma de um número racional com um número irracional é
sempre irracional.
8. Mostre que o produto de um número racional por um número irracional é,
sempre, um número irracional.
Referências
ÁVILA, Geraldo Severo de Souza. Análise Matemática para licenciatura.
São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
FERREIRA, Jamil. A construção dos números. Textos Universitários. Rio de
Janeiro: SBM, 2010.
LIMA, Elon Lages. Curso de Análise, v.1. Projeto Euclides. Rio de Janeiro:
SBM/CNPq, 1976.
MUNIZ NETO, Antonio Caminha. Números reais. Tópicos de Matemática
Elementar, v.1. Rio de Janeiro: SBM, 2012.
MUNIZ NETO, Antonio Caminha. Introdução à Análise. Tópicos de Matemá-
tica Elementar, v.3. Rio de Janeiro: SBM, 2012.
Objetivos
l Estudar os conjuntos finitos e os conjuntos infinitos enumeráveis.
Introdução
No capítulo anterior, estudamos os números naturais dando ênfase ao seu
aspecto ordinal. Nesta unidade associaremos os números naturais com a
quantidade de elementos de um determinado conjunto, abordando, assim,
seu aspecto cardinal.
Iniciaremos nosso estudo com a definição de conjunto finito a partir do
conjunto In, formado por todos os números naturais desde 1 até n. Em se-
guida, apresentaremos o conceito de número de elementos de um conjunto
finito, ou seja, abordaremos o aspecto cardinal dos números naturais a partir
da contagem dos elementos de conjuntos finitos. Por fim, generalizaremos
essa ideia de número de elementos para os conjuntos infinitos enumeráveis,
chegando ao conceito de cardinalidade de um conjunto qualquer, a partir da
noção de equivalência de conjuntos, introduzida por Cantor.
1. Conjuntos finitos
No que foi feito anteriormente, os números naturais foram construídos a partir
dos axiomas de Peano e, valendo-nos dessa axiomatização, notadamente, do
axioma conhecido como princípio da indução finita (PIF), vimos que é possível
definir as operações de adição e de multiplicação com todas as suas proprie-
dades, que assumiremos como conhecidas.
Para cada número natural n, é possível construirmos o conjunto de todos
os números naturais menores do que ou iguais a n, o qual será denotado por In.
Para cada número natural Assim, para cada número natural n, denotaremos por In o conjunto In = {1, 2,
n, denotaremos por In o 3,..., n}.
conjunto {1, 2, 3,..., n}.
De posse dessa notação, definiremos conjuntos finitos como segue.
De posse dessa notação, definiremos conjuntos finitos como segue. Ini-
cialmente, lembramos que uma função f: A → B é dita injetora, se “dados x,
y ∈ A, com x ≠ y, temos f(x) ≠ f(y)”; e é dita sobrejetora, se “dado y ∈ B, existe
x ∈ A, tal que f(x) = y”.
Definição
Um conjunto X é dito finito, se X é vazio ou se, para algum n ∈ N, existe
Uma função que é injetora uma função f: In → X, que é injetora e sobrejetora.
e sobrejetora é dita uma Se X é vazio, dizemos que X é finito com 0 (zero) elementos, ou que X
função bijetora ou uma
possui (ou tem) zero elementos, ou, ainda, que o número de elementos de
bijeção.
X é zero.
Se, para algum n ∈ N, existe uma bijeção f: In → X, dizemos que X é
finito com n elementos, ou que o número de elementos de X é n, ou que X
possui (ou tem) n elementos.
Observemos que estamos associando ao 0 (zero) e aos números natu-
rais a ideia de quantidade, resultante de uma contagem.
O número de elementos do conjunto X será indicado por n(X). Assim,
escreveremos n(X) = p para significar que o conjunto X possui p elementos ou
que o número de elementos do conjunto X é p, o que dá no mesmo.
Exemplo 1. Se a é o conjunto das vogais, então A é finito com 5 elementos.
O número de elementos
do conjunto X será De fato, a função f: I5 → A, dada por f(1) = a, f(2) = e, f(3) = i, f(4) = o e f(5) =
indicado por n(X). u, é injetora e sobrejetora, ou seja, é uma bijeção de I5 em A.
Exemplo 2. Se B = {N, S, L, O} é o conjunto dos pontos cardeais, norte (N), sul
(S), leste (L) e oeste (O), então a função f: I4 → B, dada por f(1) = N, f(2) =
S, f(3) = L e f(4) = O, é uma bijeção de I4 em B e, portanto, B é finito e possui
4 elementos.
Exemplo 3. Cada conjunto In é finito e possui n elementos, uma vez que a
função f: In → In, dada por f(x) = x, é uma bijeção.
Exemplo 4. O conjunto C, dos dias da semana cujos nomes começam com
a letra b, é finito com 0 (zero) elementos. De fato, como os nomes dos dias
da semana são domingo, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira,
sexta-feira e sábado, o nome de nenhum deles começa com a letra b. Logo, o
conjunto C é vazio, possuindo, portanto, zero elementos.
Uma bijeção f: In → X pode ser vista como uma contagem dos ele-
mentos de X, uma vez que a bijeção escolhida não é o importante, basta que
provemos sua existência para que possamos dizer que o conjunto X é finito
com n elementos. Assim, a ordem dada aos elementos de X não interessa. No
caso do exemplo 03 anterior, podemos tomar, por exemplo, a bijeção
g: In → In, dada por g(1) = 2, g(2) = 3, g(3) = 4,..., g(n) = 1, que teria o mesmo efeito.
Para refletir
1. Mostre que se X e Y são conjuntos não vazios e se existe uma bijeção de X em Y,
então X é finito se, e somente se, Y é finito.
2. Defina todas as bijeções de I5 em A, para o caso do conjunto A do exemplo 1.
3. Defina todas as bijeções de I4 em B, no caso em que B é o conjunto do exemplo 2.
Proposição 4
Se A ⊂ In e A ≠ ∅ e se f: In → A é uma bijeção, então A = In.
Os números n e m
Prova. Demonstraremos o resultado por indução sobre o número n. devem ser iguais, mas as
bijeções f e g podem ser
Se n = 1, então In = I1 = {1} e, como A ≠ ∅ e A ⊂ In, devemos ter A = I1 = In.
diferentes.
Suponha que o resultado seja válido para n=k, isto é, suponha que se A ≠ ∅, A
⊂ In, e se existe uma bijeção f, f: Ik → A, então A = Ik.
Para n = k + 1, seja A ≠ ∅, A ⊂ Ik, e f: Ik + 1 → A, uma bijeção. Vamos mostrar
que A = Ik + 1.
Sejam a = f(k + 1) e B = A – {a}.
Se a = k + 1, a restrição de f ao conjunto Ik, indicada por : Ik → B e definida
por (x) = f(x), é uma bijeção. Desde que B ≠ ∅ e B ⊂ Ik, por hipótese de indu-
ção, devemos ter a igualdade B = Ik.
Como A = B ∪ {a}, devemos ter A = Ik ∪ {k + 1} = Ik + 1, mostrando o resultado.
Se a ≠ k + 1, seja b ∈ Ik + 1, tal que f(b) = k + 1.
Defina : Ik + 1 → A, por =
Assim, : Ik + 1 → A é uma bijeção tal que f(k + 1) = k + 1, recaindo no caso
anterior, em que a = k + 1.
Logo, A = Ik + 1.
Provando o resultado.
Como consequência da proposição anterior, temos o seguinte resultado.
Corolário
Se f: Im → In é uma bijeção, então m = n.
Prova. Observemos inicialmente que se f: Im → In é uma bijeção, então
f-1: In → Im, definida por “f-1(y) = x se, e somente se f(x) = y”, também é
uma bijeção.
Assim, sem perda de generalidade, podemos supor que m ≤ n e, consequen-
temente, Im ⊂ In.
De acordo com a proposição, como Im ≠ ∅, Im ⊂ In e existe uma bijeção
f: Im → In, segue que Im = In e, obviamente, m = n.
Provando o resultado.
Usando esse corolário, podemos concluir que o número de elementos
O número de elementos de um conjunto finito X é definido sem ambiguidade.
de um conjunto finito X é De fato, se X é vazio, e somente nessa situação, o número de elemen-
definido sem ambiguidade. tos de X é zero.
Se X é finito e não vazio, sejam f: In → X e g: Im → X duas bijeções.
Como sabemos g - 1: X → Im também é uma bijeção e, portanto, g -
1of: In → Im é uma bijeção.
Pelo corolário, m = n, provando que não existe ambiguidade no conceito
de número de elementos de um conjunto finito, ou seja, provando a proposi-
ção seguinte.
Proposição 4
Se f: Im → X e f: In → X são duas bijeções, então m = n, ou seja, o
número de elementos de um conjunto foi definido sem ambiguidade.
Para refletir
1. Seja g: X → Y uma bijeção. Mostre que a função g-1: Y → X, dada por “g-1(y)
= x se, e somente se g(x) = y”, também é bijeção.
2. Mostre que se X é um conjunto finito e Y é um subconjunto de X, então não pode
existir uma bijeção f: X → Y. O lema a seguir afirma que todo subconjunto de In
é finito e possui, no máximo, n elementos.
Lema
Seja X ⊂ In para algum n ∈ N. Então X é finito e o número de elementos
de X é menor do que ou igual a n.
Tomando como base o lema anterior, vamos mostrar que todo subcon-
junto de um conjunto finito é finito e seu número de elementos não ultrapassa
o número de elementos do conjunto.
Denotando por Y o conjunto finito e por X um subconjunto de Y, temos
que existem p ∈ N e uma função f: Ip → Y, que é uma bijeção.
Dado X ⊂ Y, tomemos o conjunto f – 1(X), que está contido em Ip.
Pelo lema, f-1(X) é finito e seu número de elementos é menor do que p.
Denotando por q (q ≤ p) o número de elementos de f - 1(x), existe uma
bijeção g: Iq → f – 1(X).
A função fog: Iq → X, definida por fog(x) = f(g(x)), é uma bijeção e,
portanto, X é finito com q elementos, com q ≤ p.
Isso prova a proposição seguinte.
Proposição 5
Todo subconjunto de um conjunto finito é finito e seu número de ele-
mentos não ultrapassa o número de elementos do conjunto.
Para refletir
1. Repita o quadro Para ilustrar o que foi feito para dois outros exemplos de conjunto Y.
2. Exercício. Verifique, por meio de exemplos, que não pode existir uma função inje-
tora f: X → Y de um conjunto infinito X em um conjunto finito Y.
3. Exercício. Verifique, por meio de exemplos, que não pode existir uma função sobreje-
tora f: X → Y de um conjunto finito X em um conjunto infinito Y.
Exemplo 7. Sejam A = {1, 2, 3, 4, 5, 6}, B = {7, 8, 9, 10} e C = {11, 12}, conjun- O número de elementos
tos dois a dois disjuntos, isto é, conjuntos tais que quaisquer dois deles não do conjunto união de
dois conjuntos finitos e
possuem elementos em comum. O conjunto união de A com B e com C é disjuntos é a soma dos
dado por A∪B∪C = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12} e possui doze elementos: números de elementos
os seis de A, os quatro de B e os dois de C. desses conjuntos.
Exemplo 8. Sejam A = {4, 5, 6, 7 8} e B = {7, 8, 9, 10} conjuntos com 5 e 4
elementos, respectivamente. O conjunto união de A com B é dado por A ∪ B
= {4, 5, 6, 7, 8, 9, 10} e possui sete elementos. Observemos que ele possui os
cinco elementos de A e os quatro elementos de B, mas não possui nove ele-
mentos, uma vez que A e B possuem os elementos 7 e 8 em comum e, que,
não podem ser contados duas vezes na união.
Esses exemplos nos permitem conjecturar que o número de elementos
do conjunto união de dois ou mais conjuntos finitos, dois a dois disjuntos, é a
soma dos números de elementos dos conjuntos envolvidos nessa união. Essa é
exatamente a ideia de juntar (e contar) associada à adição de números naturais.
Generalizando o que foi feito anteriormente, temos a seguinte proposição.
Proposição
Se X e Y são conjuntos finitos e disjuntos, com m e n elementos, res-
pectivamente, então o conjunto X ∪ Y é finito e possui m + n elementos.
Prova. Para mostramos a proposição, basta que exibamos uma bijeção
h: Im+n → X∪Y.
Como X e Y são finitos com m e n elementos, respectivamente, existem bije-
ções f: Im → X e g: In → Y. Defina h: Im + n → X ∪ Y por: h(x) = f(x), se
1 ≤ x ≤ m; e h(m + x) = g(x), se 1 ≤ x ≤ n.
Vamos mostrar que h: Im+n → X ∪ Y é, realmente, uma bijeção.
Inicialmente, mostraremos que h é sobrejetora.
Seja y ∈ X ∪ Y. Assim, y ∈ X ou y ∈ Y, mas não pertence a ambos.
Se x ∈ X, como f é sobrejetora, existe i ∈ Im, com 1 ≤ i ≤ m, tal que f(i) = x e,
consequentemente, h(i) = f(i).
Se x ∈ Y, como g é sobrejetora, existe i ∈ In, com 1 ≤ i ≤ n, tal que g(i) = x e,
consequentemente, h(m + i) = g(i).
Assim, h é sobrejetora.
Mostraremos, agora, a injetividade de h.
Sejam u, v ∈ Im + n e suponha que h(u) = h(v).
Estudaremos 4 casos:
1 ≤ u, v ≤ m;
m + 1 ≤ u, v ≤ m + n;
1 ≤ u ≤ m e m + 1 ≤ v ≤ m + n;
1 ≤ v ≤ m e m + 1 ≤ u ≤ m + n.
Caso (i): 1 ≤ u, v ≤ m.
Neste caso, temos que h(u) = f(u) e h(v) = f(v). Como, por hipótese, h(u) =
h(v), temos f(u) = f(v) e, portanto, u = v, pois f é uma bijeção. Mostrando que h
é injetora.
Caso (ii): m + 1 ≤ u, v ≤ m + n.
Neste caso, temos que h(u) = g(u - m) e h(v) = g(v - m). Como estamos supon-
do que h(u) = h(v), temos g(u - m) = g(v - m) e, como g é uma bijeção, u - m =
v - m. Assim, u = v. Mostrando que, também neste caso, h é injetora.
Caso (iii): 1 ≤ u ≤ m e m + 1 ≤ v ≤ m + n.
Neste caso, temos que h(u) = f(u) ∈ X e h(v) = f(v) ∈ Y e, portanto, não pode-
mos ter a igualdade h(u) = h(v). Logo, esse caso não pode acontecer.
Caso (iv): 1 ≤ v ≤ m e m + 1 ≤ u ≤ m + n.
Neste caso, temos que h(v) = f(v) ∈ X e h(u) = g(u) ∈ Y e, portanto, não pode-
mos ter a igualdade h(u) = h(v). Logo, esse caso também não pode acontecer.
Isso mostra que h é injetora.
Como f: Im+n → X ∪ Y é injetora e sobrejetora, f é uma bijeção e, portanto,
X∪Y possui m+n elementos.
Provando o resultado.
Corolário
Se X, Y e V são conjuntos finitos, dois a dois disjuntos, com m, n e p ele-
mentos, respectivamente, então o conjunto X∪Y∪V é finito e possui m + n + p
elementos.
Prova. Para mostrarmos o corolário, é só ajustarmos a função h, para o caso
de 3 funções: uma de Im em X; outra de In em Y; e outra de Ip em V.
Provando o resultado.
Para refletir
1. Exercício. Repita o quadro Para ilustrar o que foi feito para dois outros exemplos de
conjuntos X e Y e de bijeções f e g.
2. Exercício. Exemplifique como seria a demonstração do corolário 08, no caso de 3
conjuntos dois a dois disjuntos.
3. Exercício. Exemplifique como seria a demonstração do corolário 08, no caso de 4
conjuntos dois a dois disjuntos.
Proposição 7
Dados os conjuntos finitos A e B, o número de elementos de A ∪ B é
dado por n(A) + n(B) – n(A ∩ B).
Por indução, é possível mostrar que esse resultado se generaliza para
uma quantidade finita de conjuntos finitos, conforme sugerimos nos exercícios.
Proposição 8
Sejam A e B conjuntos finitos e não vazios com m e n elementos, res-
pectivamente. O número de elementos de A × B, o produto cartesiano de A por
B, pode ser obtido pela igualdade n(A × B) = mn.
Prova. A prova desta proposição será feita por indução sobre o número de
elementos do conjunto B.
Assim, iniciaremos com um conjunto A, não vazio, finito com m elementos,
digamos A = {a1, a2, a3, ..., am}, e B = {b1, b2, b3, ..., bn} um conjunto não
vazio, finito, com n elementos.
Para n = 1, seja B = {b1} = {b} um conjunto com 1 elemento.
Cada bijeção f: Im → A define uma bijeção f’: Im → A × B, dada por f’(i) =
(f(i), b), para cada i ∈ Im.
Assim, o conjunto A × B possui m elementos.
E como m = m × 1, vale o resultado.
Suponha que o resultado seja verdadeiro para n = k - 1, isto é, suponha que
se B é um conjunto com k - 1 elementos, então o número de elementos do
conjunto A × B é m × (k - 1).
Para n = k, sejam B = {b1, b2, b3, ..., bk} e C um subconjunto de B com k - 1
elementos. Podemos, sem perda de generalidade e reenumerando os ele-
mentos de B, se for o caso, supor que o conjunto C é dado por C = {b1, b2,
b3, ..., bk - 1}.
Assim, B = C ∪ {bk} e, consequentemente,
A × B = A × ( C ∪ {bk}) = A × C ∪ A × {bk}.
Como os conjuntos A × C e A × {bk} são disjuntos, temos que
n(A × B) = n(A × C) + n(A × {bk}).
Por hipótese de indução, temos que n(A × C) =mx(k - 1); e pelo que foi feito
para n = 1, temos que n(A × {bk}) = m x 1. Daí, segue que vale a igualdade
n(A × B) = n(A × C) + n(A × {bk}) = mx(k - 1) + mx1 = mx(k - 1 + 1) = mxk.
Provando o resultado.
Para refletir
1. Exercício. Faça a demonstração da proposição 9.
2. Exercício. Enuncie e demonstre para o caso de três conjuntos o correspondente da
proposição 9.
3. Exercício. Mostre que a função f’ mencionada na prova da proposição 10 é, real-
mente, uma bijeção.
Proposição 9
Sejam X um conjunto não vazio e Y um subconjunto próprio de X. Se
existe uma bijeção f: X → Y, então X é infinito.
Prova. Sejam X um conjunto não vazio, Y um subconjunto próprio de X, isto
é, um subconjunto de X, não vazio e diferente de X, e f: X → Y uma bijeção.
Suponha que X é finito.
Pelo que já foi feito anteriormente, Y é finito e o número de elementos de Y é
menor do que o número de elementos de X.
Denotando por m e n o número de elementos de X e de Y, respectivamente,
temos n < m.
Assim, existem bijeções g: In → Y e h: Im → X.
Como f: X → Y é uma bijeção, a função g-1ofoh: Im → In é uma bijeção,
o que é absurdo.
Como a única suposição adicional que fizemos foi “X ser finito”, essa é a hipó-
tese que não é verdadeira, consequentemente, X é infinito.
Provando o resultado.
O que acabamos de provar pode ser traduzido como “não existe bijeção
de um conjunto finito em um seu subconjunto próprio” ou ainda “só pode existir
bijeção de um conjunto X em um seu subconjunto próprio, se X for infinito”.
Com esse resultado, podemos ampliar o nosso “leque” de conjuntos
infinitos.
Definição
Um conjunto X ⊂ N é dito limitado, se X é não vazio e se existe c ∈ N,
tal que x ≤ c, para todo x ∈ X.
O número natural c, na definição anterior, é chamado de cota superior
ou limite superior para o conjunto X.
É importante observarmos que se c é uma cota superior ou limite su-
perior para X, então qualquer número maior do que c também será uma cota
superior para X.
Proposição 10
Seja X um subconjunto não vazio de N. As três afirmações a seguir são
equivalentes:
(i) X é finito;
(ii) X é limitado;
(iii) X possui maior elemento.
Uma demonstração completa da equivalência entre os itens dessa proposição
pode ser feita utilizando o Princípio da Boa Ordenação (PBO) que é equiva-
lente ao Princípio da Indução Finita (PIF) e pode ser enunciado como segue.
Proposição 11
Princípio da Boa Ordenação (PBO). Todo subconjunto não vazio de núme-
ros naturais possui menor elemento. Ou, simbolicamente, se X ⊂ N e X ≠ ∅,
então ∃ x0 ∈ X, tal que x0 ≤ x, ∀ x ∈ X.
Entretanto, partes da demonstração podem ser feitas de forma até sim-
ples, utilizando o que já conhecemos. Por exemplo, para mostrarmos que se
X é finito não vazio, então X é limitado, basta que escrevamos os elementos
de X como x1, x2, ..., xn e observarmos que x1 + x2 + x3 + ... + xn é uma cota
superior de X, uma vez que é maior do xi, para todo i = 1, 2, ..., n. Consequen-
temente, X é limitado.
Para mostrarmos que se X possui maior elemento, então X é finito, bas-
ta observarmos que denotando por p o maior elemento de X, temos que X ⊂ Ip e,
consequentemente, X é finito por ser subconjunto de um conjunto finito.
2. Conjuntos enumeráveis
Diferentemente do que podemos pensar, podemos estender a ideia de núme-
ro de elementos para os conjuntos infinitos. Esta extensão dá origem ao con-
ceito de cardinalidade de um conjunto que, no caso dos conjuntos infinitos,
coincide com o número de elementos do conjunto.
Esta ideia nos permite perceber que existem vários tipos de infinito, fato
este sistematizado pelo matemático alemão George Cantor que mostrou que
existem vários tipos de infinito, dentre os quais o mais elementar ou “menor” é
o infinito dos números naturais.
Iniciaremos este estudo a definição de equivalência de conjuntos.
Definição
Dizemos que os conjuntos X e Y são equivalentes se são ambos vazios
ou se existe f: X → Y uma bijeção.
Lembremos que já foi mostrado, para o caso de conjuntos finitos não
vazios, que somente existe uma bijeção de X em Y se X e Y possuírem a
mesma quantidade de elementos. Assim, no caso de conjuntos finitos não
vazios, dizemos que X e Y são equivalentes se ambos possuírem a mesma
quantidade de elementos.
Definição
Dizemos que os conjuntos X e Y possuem a mesma cardinalidade, se
são equivalentes.
Vamos agora estudar os conjuntos que são equivalentes ao conjunto
dos números naturais. Esses conjuntos são chamados de conjuntos enume-
ráveis e a eles está associada a menor categoria de infinito, de acordo com a
classificação de Cantor.
Mais precisamente temos a definição seguinte.
Definição
Dizemos que o conjunto X é enumerável se X é finito ou se existe uma
bijeção f: N → X.
Para refletir
1. Exercício. Mostre que a função f: N → Z, dada por f(x) = n, se x=2n, e f(x)=-n+1, se x
= 2n – 1, é uma bijeção.
2. Exercício. Mostre que o conjunto dos números ímpares é enumerável.
3. Exercício. Mostre que o conjunto dos múltiplos de 2 e 3 ao mesmo tempo é um
conjunto enumerável.
Proposição 12
Sejam X e Y conjuntos enumeráveis. O conjunto união X∪Y é um con-
junto enumerável.
Como consequência dessa proposição, temos que a união de 3 conjun-
tos enumeráveis é, ainda, um conjunto enumerável. Na realidade, podemos
mostrar por indução que a união de qualquer quantidade finita de conjuntos
enumeráveis é ainda um conjunto enumerável.
Outro resultado importante sobre os conjuntos enumeráveis afirma que
todo subconjunto de um conjunto enumerável é enumerável. Esse resultado
pode ser obtido como consequência da seguinte proposição.
Proposição 13
Todo subconjunto X do conjunto dos números naturais é enumerável.
Em símbolos, se X ⊂ N, então X é enumerável.
Prova
Seja X ⊂ N, um subconjunto do conjunto dos números naturais.
Se X é finito, então X é enumerável.
Se X não é finito, vamos definir uma função f: N → X, como segue.
Pelo Princípio da Boa Ordenação (PBO), X possui menor elemento, digamos
x1. Façamos f(1) = x1.
Seja X2 = X – {x1}.
Novamente, usando o PBO, tomamos x2, o menor elemento de X2 e fazemos
f(2) = x2.
Supondo escolhidos f(1) = x1 < f(2) = x2 < ... < f(n) = xn, podemos fazer f(n +
1) = xn+1, em que xn+1 é o menor elemento de Xn+1, em que Xn+1 = X – {x1,
x2, x3, ... , xn}.
Tal elemento existe, uma vez que X é infinito e, portanto, Xn+1 é diferente do
vazio e, pelo PBO, possui menor elemento.
Provando o resultado.
Corolário
Todo subconjunto de um conjunto enumerável é enumerável.
Outro resultado bastante interessante sobre os conjuntos enumeráveis
e que apresentaremos sem demonstração é a proposição seguinte.
Proposição 14
Todo conjunto infinito X possui um subconjunto infinito enumerável.
Para refletir
1. Tome alguns subconjuntos enumeráveis de N para exemplificar concretamente o
corolário anterior.
2. Mostre que se f: X → Y é injetiva e Y é enumerável, então X é enumerável.
3. Mostre que se f: X → Y é sobrejetora e X é enumerável, então Y é enumerável.
2.1. A enumerabilidade de Q
Para quem já se surpreendeu com o fato de Z e N possuírem a mesma car-
dinalidade, ou seja, a “mesma quantidade de elementos”, finalizaremos esta
Unidade mostrando um resultado mais surpreendente ainda: a enumerabili-
dade do conjunto dos números racionais. Ou seja, mostraremos que Q, Z e
N possuem a mesma cardinalidade, o mesmo “número de elementos”. Serão
apresentadas duas demonstrações: uma direta e outra como consequência
de um resultado mais geral e mais surpreendente ainda.
Inicialmente, vamos observar que é possível uma distribuição dos nú-
meros racionais não negativos, escritos na forma de fração, de acordo com
a soma entre seu numerador e seu denominador, como no quadro a seguir.
Quadro 5
Lema
O conjunto N X N é um conjunto enumerável.
Prova
Seja f: N X N → X, dada por f(n,m) = 2n3m.
Temos que f é injetora, devido à unicidade da decomposição em fatores pri-
mos, e f é sobrejetora, pois dado y ∈ X, temos que y = 2a3b, para certos nú-
meros naturais a e b. Assim, temos que f(a,b) = 2a3b = y.
Logo, f é uma bijeção e N X N é enumerável.
Provando o resultado.
Proposição 15
Se A e B são conjuntos enumeráveis, então A X B, o produto cartesiano
de A por B, é enumerável.
Prova
De acordo com o lema anterior, o conjunto N X N é enumerável e, portanto,
basta exibirmos uma bijeção f: N X N → A X B.
Como A e B são enumeráveis, existem bijeções g: N → A e h: N → B.
Definamos f: N X N → A X B, como segue: dado (m,n) ∈ NXN, f(m,n) = (g(m),
h(n)).
A função f é, obviamente, uma bijeção.
Logo A X B é enumerável.
Provando o resultado.
Para refletir
1. Mostre que é bijeção a função f: N X N → A X B, dada por f(m,n) = (g(m), h(n)), em
que g: N → A e h: N → B são bijeções.
Síntese do Capítulo
Neste capítulo, você aprendeu os seguintes resultados:
• Os conjuntos podem ser classificados em conjuntos finitos e conjuntos infinitos.
• Conjuntos finitos são aqueles que possuem uma quantidade finita de ele-
mentos.
• Os elementos de um conjunto finito não vazio podem ser contados a partir
dos conjuntos In = {1, 2, 3,..., n}.
• Se existe uma bijeção de In em um conjunto X, dizemos que X é finito, com
n elementos.
• O número de elementos é uma propriedade bem definida dos conjuntos finitos.
• Todo subconjunto de um conjunto finito é finito e o número de elementos
de cada subconjunto é menor do que ou igual ao número de elementos do
conjunto que o contém.
• O número de elementos do conjunto união de dois conjuntos finitos e não va-
zios é menor do que ou igual à soma entre os números de elementos de cada
conjunto, valendo a igualdade se, e somente se, os conjuntos forem disjuntos.
• O número de elementos do produto cartesiano de dois conjuntos finitos e não
vazios é igual ao produto entre os números de elementos de cada conjunto.
• Os conjuntos N, Z e Q são infinitos.
• Um conjunto, subconjunto de N, é limitado quando existe um número real
maior do que ou igual a todo elemento do conjunto.
• Todo conjunto limitado é finito e vice-versa, o que caracteriza os conjuntos finitos.
• Todo subconjunto não vazio de N possui um menor elemento. Este resulta-
do é conhecido como o Princípio da Boa Ordenação (PBO).
• O Princípio da Boa Ordenação é equivalente ao Princípio da Indução Finita (PIF).
• Dois conjuntos são ditos equivalentes se ambos são vazios ou se é possí-
vel definir uma bijeção entre eles.
Atividades de avaliação
1. Verifique, por meio de exemplos, que se X e Y são conjuntos finitos e se
f: X → Y é uma função injetora, então o número de elementos de X deve
ser menor do que ou igual ao número de elementos de Y.
2. Mostre que não pode existir uma função injetora f: X → Y de um conjunto
infinito X em um conjunto finito Y.
3. Sejam X e Y conjuntos finitos e f: X → Y uma função. Mostre que se f
é uma função injetora, então o número de elementos de X não pode ser
maior do que o número de elementos de Y.
4. Verifique, por meio de exemplos, que se X e Y são conjuntos finitos e f: X
→ Y é uma função sobrejetora, então o número de elementos de Y não
pode ser maior do que o número de elementos de X.
5. Mostre que não pode existir uma função sobrejetora f: X → Y de um con-
junto finito X em um conjunto infinito Y.
6. Mostre que se X e Y são conjuntos finitos e f: X → Y é uma função so-
brejetora, então o número de elementos de Y não pode ser maior do que o
número de elementos de X.
7. Sejam N o conjunto dos números naturais e P o conjunto dos números
pares. Mostre que a função f: N → P, dada por f(n) = 2n, é uma bijeção.
Compare o resultado com o exercício 05, ao longo do texto.
Referências
ÁVILA, Geraldo Severo de Souza. Análise Matemática para licenciatura.
São Paulo: Edgard Blücher, 2005.
FERREIRA, Jamil. A construção dos números. Textos Universitários. Rio de
Janeiro: SBM, 2010.
LIMA, Elon Lages. Curso de Análise, v.1. Projeto Euclides. Rio de Janeiro:
SBM/CNPq, 1976.
MUNIZ NETO, Antonio Caminha. Números reais. Tópicos de Matemática
Elementar, v.1. Rio de Janeiro: SBM, 2012.
MUNIZ NETO, Antonio Caminha. Introdução à Análise. Tópicos de Matemá-
tica Elementar, v.3. Rio de Janeiro: SBM, 2012.
NIVEN, Ivan. Números: racionais e irracionais. Coleção Fundamentos da
Matemática Elementar. Rio de Janeiro: SBM, 1984.
RIPOLL, Jaime Bruck; RIPOLL, Cydara Cavedon; SILVEIRA, José Francis-
co Porto. Números racionais, reais e complexos. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2006
Objetivos
l Apresentar o conjunto dos números reais como um corpo ordenado comple-
to, o que faz com que cada ponto de uma reta, a reta numérica real, possa
ser associado a um número real e vice-versa.
l As operações de adição e de multiplicação no conjunto dos números reais
serão definidas como extensão das operações de mesmo nome no conjunto
dos números racionais.
Introdução
No capítulo anterior, vimos a existência de números que possuem represen-
tação decimal infinita, mas não periódica, e chamamos esses números de
números irracionais. Vimos que um desses números está associado à medida
da diagonal de um quadrado cujos lados medem uma unidade de comprimen-
to. De fato, pelo teorema de Pitágoras, denotando por d essa diagonal, temos
que d2 = 12 + 12 = 2.
Assim, d = 2 e foi mostrado no capítulo anterior que esse número não
é racional. Nesta Unidade, ampliaremos o conjunto dos números racionais,
a partir de sua união com os irracionais, obtendo um novo campo numérico,
chamado de campo dos números reais. Aceitaremos que o conjunto dos nú-
meros reais é um corpo ordenado completo e mostraremos algumas de suas
principais propriedades.
Fig.1
Fig.3
Seguindo essa mesma ideia de subdivisão da unidade, podemos repre-
sentar na reta r todos os números racionais.
O leitor menos atento poderia ser levado a acreditar que essa associa-
ção esgota todos os pontos da reta, mas isso não é verdade.
Apesar de denso na reta, no sentido que dado qualquer ponto P da reta
é possível encontrar um número racional tão próximo de P, quanto queiramos,
após associarmos a cada número racional um ponto distinto da reta, ainda
sobrarão pontos da reta que não correspondem a nenhum número. Como
exemplo, podemos observar a marcação do número na reta numérica, que
O conjunto Q, dos
números racionais, é se encontra na figura a seguir.
denso na reta.
Fig.4
Como vimos na Unidade anterior, o número é irracional e, assim, exis-
tem pontos na reta que não estão associados a números racionais.
Para refletir
Marque na reta numérica os números irracionais 3 e 5.
2. A incompletude de Q
Mostraremos aqui a principal consequência da incompletude de Q, ou melhor,
o que significa essa incompletude. Para tanto, nos utilizaremos dos fatos que
enunciaremos a seguir.
Vimos, na unidade anterior, a definição de conjunto limitado para o caso
de subconjuntos dos números naturais. Vamos agora estender este conceito
para subconjuntos dos números racionais. Temos, inicialmente, as definições
de limitado superiormente e de limitado inferiormente.
Cota superior. Dado A um subconjunto não vazio de Q, dizemos que y ∈ Q é
uma cota superior de A se, e somente se, a ≤ y, qualquer que seja o elemento
a de A.
Exemplo 1. Se A = {a ∈ Q ; 0 ≤ a ≤ 1}, então 1 é cota superior de A. Além disso,
todo número racional y maior do que ou igual a 1 é, também, cota superior de A.
Exemplo 2. Se B = {b ∈ Q ; b < 5}, então 5 e qualquer número maior do que
5 é cota superior de B. Além disso, nenhum outro número além desses será
A propriedade
cota superior de B.
arquimediana de Q
Exemplo 3. O conjunto N, dos números naturais, não possui cota superior afirma que dado um
em Q. Isso significa que, dado qualquer número racional y, é sempre possível número racional é sempre
possível encontrar um
encontrar um número natural ny maior do que y. Essa é a propriedade arqui-
número natural maior do
mediana de Q e dizemos, por isso, que o corpo Q é um corpo arquimediano. que o racional dado.
O número ny encontrado pode variar com y.
Exemplo 4. O conjunto C = {2n ; n ∈ N} não possui cota superior em Q. De
fato, qualquer cota superior de C, se existir, será um número positivo. Mas, se
y é um número racional positivo, então, para n > , teremos que 2n > y e, por-
tanto, y não será cota superior de C.
De maneira semelhante, temos o conceito de cota inferior, como vere-
mos a seguir.
Cota inferior. Dado A um subconjunto não vazio de Q, dizemos que y ∈ Q é uma
cota inferior de A se, e somente se, y ≤ a, qualquer que seja o elemento a de A.
Exemplo 5. Se A = {a ∈ Q ; 0 ≤ a ≤ 1}, então 0 é cota inferior de A. Além
disso, todo número racional y, menor do que ou igual a 0 também é cota infe-
rior de A.
Exemplo 6. Se B = {b ∈ Q ; b > 5}, então 5 e qualquer número menor do que 5
é cota inferior de B. Além disso, nenhum outro número além desses será cota
inferior de B.
que são limitados inferior e superiormente são ditos conjuntos limitados. Mais
precisamente, temos a seguinte definição.
Definição. Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Dizemos que A é limitado, se A é limitado supe-
riormente e inferiormente.
Exemplo 13. O conjunto {(-1/2)n ; n ∈ N} é limitado. Denotando por x um ele-
mento do conjunto, temos que -1/2 ≤ x ≤ 1/2.
Exemplo 14. O conjunto X = {x ∈ Q ; x > 0, 4 ≤ x2 ≤ 9} é limitado. Se x é um
elemento de X, isto é, se x ∈ X, então 2 ≤ x ≤ 3, pois, caso contrário, (1) se x <
2, temos x2 < 4; (2) se x > 3, temos x2 > 9.
Exemplo 15. O conjunto X = {x ∈ Q ; x > 0, 2 ≤ x2 ≤ 5} é limitado. Se x é um
elemento de X, isto é, se x ∈ X, então 1 ≤ x ≤ 3, pois, caso contrário, (1) se x <
1, temos x2 < 1; (2) se x > 3, temos x2 > 9.
Observe que, no exemplo 14, a cota inferior que apresentamos foi a
maior possível, dentro do conjunto dos números racionais; enquanto no exem-
plo 15, os números 1,3 ou 1,31 ou 1,4 ou 1,4142 ou 1,41421, todos, são cotas
inferiores e, ainda, é possível encontrar outras cotas inferiores maiores do que
essas. Assim, limitados ao conjunto Q dos números racionais, podemos falar
na maior das cotas inferiores para o conjunto do exemplo 14, mas não pode-
mos falar na maior das cotas inferiores para o conjunto do exemplo 15.
O comentário anterior nos leva às seguintes definições.
Definição
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Dizemos que y ∈ Q é supremo de A se, e somente
se, y é cota superior de A e y é menor do que ou igual a qualquer outra cota
superior de A.
Definição
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Dizemos que y ∈ Q é ínfimo de A se, e somente se, y é
cota inferior de A e y é maior do que ou igual a qualquer outra cota inferior de A.
Observamos que, de acordo com a definição e com o que foi feito an-
teriormente, o ínfimo e o supremo de um conjunto podem ou não existirem.
Mas, se existirem, eles são únicos e serão denotados por infA e supA, respec-
tivamente.
Proposição 16
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Se existe o supremo de A, então ele é único.
Prova
Sejam x e y supremos de A. Por definição de supremo, x e y são cotas supe-
riores de A.
Por ser supremo, x é menor do que ou igual a qualquer outra cota superior de
A. Assim, x ≤ y.
Proposição 17
Seja A ⊂ Q, A ≠ ∅. Se existe o ínfimo de A, então ele é único.
Prova
Sejam x e y ínfimos de A. Por definição de ínfimo, x e y são cotas inferiores
de A.
Por ser ínfimo, x é maior do que ou igual a qualquer outra cota inferior de A.
Assim, x ≥ y.
De maneira semelhante, por ser ínfimo, y é maior do que ou igual a qualquer
outra cota inferior de A. Assim, y ≥ x.
De x ≥ y e y ≥ x, segue que x = y.
Provando o resultado.
Exemplo 16. Se A = {x ∈ Q ; 0 ≤ x ≤ 4}, então supA = 4 e infA = 0. Observemos
que, neste caso, temos que infA ∈ A e supA ∈ A.
Exemplo 17. Se B = {x ∈ Q ; 5 < x}, então infB = 5 e B não possui supremo.
Neste caso, temos que infB ∉ B.
Exemplo 18. Se C = {x ∈ Q ; 5 ≤ x < 9}, então infC = 5 e supC = 9. Neste caso,
temos que infC ∈ C e supC ∉ C.
Vamos tomar como base o conjunto C = {x ∈ Q ; 5 ≤ x < 9} e mostrar
que, realmente, infC = 5 e supC = 9.
Observemos, inicialmente, que 5 é cota inferior de C, pois, se x ∈ C,
então 5 ≤ x; e que 9 é cota superior de C, pois, x ∈ C, então x < 9 ≤ 9.
Por outro lado, seja y ∈ Q e suponha que y é cota inferior de C.
Como 5 ∈ C, devemos ter y ≤ 5 e, portanto, infC =5.
Seja, agora, y ∈ Q e suponha que y é cota superior de C.
Assim, devemos ter x ≤ y, qualquer que seja o elemento x de C.
y+ 9
Suponha que seja y < 9 e considere o número .
2
Esse é um número racional, pois é o quociente entre dois números ra-
cionais, maior do que y (e, portanto, maior do que 5) e menor do que 9. Portan-
to, y + 9 ∈ C, contrariando o fato de y ser cota superior de C.
2
Logo, supC = 9, provando o que queríamos.
Para refletir
1. Mostre que: se x e y são números racionais, com x < y, então é um número racional,
maior do que x e menor do que y.
2. Mostre que: se A = {x ∈ Q ; 0 ≤ x ≤ 4}, então supA = 4 e infA = 0.
3. Mostre que: se B = {x ∈ Q ; 5 < x}, então infB = 5.
Proposição 18
O quadrado de qualquer número real não nulo é um número real positivo. Ou
em símbolos, ∀ x ∈ R, x2 ∈ R+.
Prova.
Seja x ∈ R e suponha x ≠ 0.
Se x ∈ R+, então, pelo axioma O1, temos que x2 = x.x ∈ R+.
Se –x ∈ R+, então, pelo axioma O1, temos que x2 = (-x)(-x) ∈ R+.
Provando o resultado.
Proposição 19
O número real -1 não é o quadrado de nenhum número real.
Prova.
Como 1 = 1.1 = 12, temos que 1 é positivo.
Assim, pelo axioma O2, devemos ter que -1 ∉ R+, ou seja, -1 é negativo.
Pela proposição anterior, não podemos ter -1 = x2, para nenhum x ∈ R.
Provando o resultado.
Objetivo
l Estudar um dos conceitos mais importantes da Matemática: o conceito de
limite que, apesar de sua importância e de já estar presente nos estudos de
Zenão, por volta de 330 a.C., somente passou a ser definido de forma rigo-
rosa e precisa pelos matemáticos do século XIX. Como veremos, o conceito
de limite está associado com a ideia intuitiva de “estar tão próximo quanto se
queira”, ou seja, a distância para um número dado tende a zero.
Esse conceito será apresentado a partir da ideia de convergência de
sequências de números reais e, para tanto, começaremos definindo o que
vem a ser uma sequência de números reais.
Definição 1
Uma sequência de números reais ou, simplesmente, uma sequência é
uma função x: N → R que, a cada número natural n, associa o número real
x(n), indicado por xn e chamado de n-ésimo termo da sequência.
A sequência x: N → R será indicada por (x1, x2, x3,..., xn,...) ou, abre-
viadamente, por (xn)n∈N ou, ainda, por (xn).
Exemplo 1. A sequência x: N → R, em que x(n) = xn = (1/2)n é indicada por
(1/2, 1/4, 1/8, 1/16,...).
Exemplo 2. A sequência indicada por (0, 1, 0, 1,...) corresponde à função x: N
→ R, dada por x(n) = 0, se n é ímpar; e x(n) = 1, se n é par.
2. Convergência de sequências
Algumas sequências merecem especial destaque pelo comportamento dos
valores dos seus termos xn, a medida que tomamos n cada vez maiores. Va-
mos observar o comportamento de algumas sequências, com relação a esse
aspecto.
n 2
n
xn n 2n xn
1 2 0,5 7 128 0,0078125
2 4 0,25 8 256 0,00390625
3 8 0,125 9 512 0,001953125
4 16 0,0625 10 1024 0,000976563
5 32 0,03125 20 1048576 0,000000953674
6 64 0,015625 30 1073741824 0,000000000931323
Dos exemplos anteriores, podemos tirar algumas conclusões, como as
que apresentamos a seguir.
Na sequência (xn)n∈N, com xn = (1/2)n, para todo n, temos que para n su-
ficientemente grande, o valor de xn é sempre positivo e vai se tornando cada
vez mais próximo de zero sem, no entanto, nunca ser zero. Por exemplo, para
n = 10, a diferença entre x10 e 0 é menor do que 1/1000; para n = 20, a dife-
rença entre x20 e 0 é menor do que 1/1000000. Assim, embora nenhum dos
termos da sequência seja zero, a diferença entre xn e 0, para n suficientemen-
te grande, é tão pequena quanto quisermos.
Dizemos, por isso, que a sequência (xn) converge para 0. Simbolica-
mente, escrevemos nlim" xn3 = 0, que se lê: “o limite de xis ene quando n tende ao
infinito é igual a zero”, para indicar que a partir de certa ordem os valores dos
termos da sequência (xn) estão tão próximos de 0 quanto se deseje, ou seja,
que a diferença entre o valor do termo da sequência e zero é menor do que
qualquer quantidade positiva previamente determinada.
do n tende ao infinito é igual a um”, para indicar que a partir de certa ordem
os valores dos termos da sequência (yn) estão tão próximos de 1 quanto se
deseje, ou seja, que a diferença entre o valor do termo da sequência e um é
menor do que qualquer quantidade positiva previamente determinada.
Sobre os autores
Cleiton Batista Vasconcelos: possui graduação em Bacharelado em Ma-
temática pela Universidade Federal do Ceará (1980) e mestrado em Mate-
mática pela Universidade Federal do Ceará (1983). Atualmente é professor
adjunto da Universidade Estadual do Ceará. Tem experiência na área de Edu-
cação, com ênfase em Ensino de Matemática. Trabalha com Avaliação de
Livros Didáticos e Laboratório de Matemática.
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
Matemática
Análise Matemática
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Análise Matemática
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.
12
História
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia