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CINTED-UFRGS Novas Tecnologias na Educação

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SUJEITOS DO ENSINAR: QUEM ENSINA, A QUEM SE ENSINA,


QUEM É ENSINADO E QUEM APRENDE

Lilian Schwab Gelatti 1 , UFRGS,


[email protected]

Resumo: Partindo do pressuposto que o ensinar consiste em uma prática coletiva na qual se
intenciona que alguém aprenda, este artigo buscou identificar os sujeitos do ensinar – quem
ensina, a quem se ensina, quem é ensinado e quem aprende – no Curso de Licenciatura em
Pedagogia a distância da UFRGS. Com essa finalidade, apresentou a análise de dados e os
resultados de uma pesquisa de pós-graduação de caráter metodológico qualitativo,
respectivos a quatro de suas categorias analíticas. Uma parcela significativa de alunos,
tutores, professores e coordenadores do Curso se identificou como sujeitos que ensinam,
que ensinam a alguém do Curso, que são ensinados e que aprendem no Curso. Resulta que
a afirmação ou a negação da ação de ensinar esteve presente entre as racionalidades que
embasaram propostas e práticas pedagógicas dos sujeitos do Curso.

Palavras-chave: sujeitos, ensinar, aprender, modelo pedagógico, educação a distância.

SUBJECTS OF THE TEACHING: WHO TEACHES, TO WHOM THEY TEACH,


WHO IS TAUGHT AND WHO LEARNS

Abstract: Assuming that the teaching consists of a group practice in which theyintend that
someone learns, this article sought to identify the subjects of the teaching – who teaches, to
whom they teach, who is taught and who learns – at the Graduation Course of Pedagogy by
the distance of the UFRGS. With this purpose, it presented the data analysis and the results
of a postgraduate research of a methodological qualitative nature, relating to four of its
analytical categories. A significant portion of students, tutors, teachers and course
coordinators identified themselves as subjects that teach, that teach someone in the course,
that are taught and that learn in the course. The result is that the affirmation or negation of
the teaching action was present among the rationales that supported pedagogical proposals
and practices of the subjects of the course.

Keywords: subjects, teaching, learning, pedagogical model, distance education.

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1. INTRODUÇÃO

O ensinar é uma prática educacional intencional que implica ações e interações humanas. É,
portanto, uma prática coletiva que envolve alguém que ensina e alguém que é ensinado ou,
ainda, alguém a quem se ensina. Enquanto prática intencional, quem pratica o ensinar
intenciona que alguém aprenda (Gelatti, 2012, p. 106). Tomando como base esse
entendimento de ensinar articulado com o aprender, e se fundamentando em uma pesquisa
de pós-graduação, o presente artigo se preocupa em identificar os sujeitos que praticam o
ensinar e os para quem o ensinar é dirigido no âmbito de um curso de graduação de uma
instituição pública brasileira de ensino superior, o Curso de Licenciatura em Pedagogia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, oferecido na modalidade a distância.
Para o cumprimento desta tarefa, este artigo se divide em sete seções, sendo que a
primeira refere-se a esse texto introdutório e a segunda trata sobre a pesquisa mencionada,
apresentando os principais procedimentos teórico-metodológicos adotados. A terceira seção
investe esforços para identificar a quem se ensina; a quarta, quem é ensinado; a quinta,
quem ensina; a sexta, quem ponderou que aprende no contexto de investigação considerado
nessa pesquisa, sendo que essas seções abarcam a análise dos dados e os resultados da
pesquisa. Na última seção retomam-se sinteticamente os resultados e apresentam-se as
conclusões a respeito do objeto de estudo proposto.

2. QUESTÕES DE PESQUISA

Este artigo baseou-se na análise de quatro categorias da Tese de doutorado intitulada


“Concepções e Práticas de Ensinar na Educação Superior a Distância” 2 (Gelatti, 2012),
defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O Curso de Licenciatura em
Pedagogia a distância (conhecido pela sigla PEAD) da Faculdade de Educação da UFRGS,
realizado no período de agosto de 2006 a julho de 2011, consistiu no contexto de
investigação dessa Tese, a qual se fundou em um estudo de caso caracterizado por uma
abordagem de caráter qualitativo, ainda que tenha apresentado dados quantitativos para
subsidiarem os seus dados qualitativos emergentes. Essas categorias de análise – quem
ensina, quem é ensinado, a quem se ensina e quem aprende no Curso – foram construídas a
partir da proposta teórico-metodológica da Tese, de dados coletados através da aplicação de
um questionário, proposto no LimeSurvey 3 , e da realização de uma entrevista, abrangendo
também registros dos sujeitos partícipes da pesquisa – alunos, tutores, professores e
coordenadores do Curso – no ambiente virtual oficial do Curso (ROODA 4 ).
Foram quatro as questões, de múltipla escolha com espaço para resposta livre e
dissertativa no questionário (enviado a todos os integrantes do Curso) e semiestruturadas na
entrevista (realizada com integrantes do Curso que responderam ao questionário, sendo
selecionados de forma intencional), que possibilitaram dados mais específicos para a
elaboração dessas categorias, as quais se apresentam a seguir:

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a) A quem você ensina no Curso? Essa questão foi respondida tanto por partícipes
que consideraram que o ensinar estava incluído entre as ações que realizaram no
Curso, na função que exerceram, quanto por partícipes que consideraram que foram
ensinados por alguém no Curso e por aqueles que não o consideraram.
b) Você considera que seja ensinado por alguém no Curso? Essa questão foi
respondida tanto por partícipes que consideraram que o ensinar estava incluído entre
as ações que realizaram no Curso e por aqueles que não o consideraram, na função
que exerceram, quanto por partícipes que consideraram que foram ensinados por
alguém no Curso e por aqueles que não o consideraram.
c) Caso você considere que seja ensinado no Curso, quem lhe ensina? Essa questão
foi respondida tanto por partícipes que consideraram que o ensinar estava incluído
entre as ações que realizaram no Curso e por aqueles que não o consideraram, na
função que exerceram, quanto por partícipes que consideraram que foram ensinados
por alguém no Curso.
d) Para você, quem aprende no Curso? Essa questão foi respondida pelos mesmos
partícipes da pesquisa que responderam a relativa ao item “b”.

Em ambos instrumentos de pesquisa, essas questões foram respondidas de forma


individual e em momentos distintos. Os sujeitos partícipes da pesquisa, respectivos ao
sétimo semestre letivo do Curso, foram orientados a responderem a essas questões, como
também as demais da pesquisa, tendo em vista toda a sua trajetória e o trabalho que
desenvolviam e/ou desenvolveram no Curso e, especialmente no momento da entrevista,
procurassem exemplificar as suas respostas considerando situações vivenciadas no Curso.
Foram, ao total, 81 os registros de envio de questionários completos ao LimeSurvey
efetuado por 56 alunos (isto é, 69,14% dos sujeitos respondentes), 13 tutores (16,05%),
10 professores (12,35%), 4 coordenadores (4,94%). Desse total, foram 52 (64,20%) as
respostas de partícipes da pesquisa que consideraram que o ensinar estava incluído entre as
ações que realizaram no Curso e 29 (35,80%) as daqueles que não o consideraram, sendo
que estes últimos foram em sua totalidade alunos do Curso. Participaram da entrevista
13 alunos, 4 tutores, 4 professores e 1 coordenador, totalizando 22 sujeitos. Os dados
coletados foram submetidos à análise de conteúdo (Moraes, 2003a, 2003b, 1999).
Tomou-se como base teórica para a análise dos dados emergentes da pesquisa
relativos às quatro categorias mencionadas problematizações sobre a aprendizagem e o
ensino consideradas por Piaget (1970, p. 71-86; 1974, p. 9-58) e o conjunto da obra
piagetina, bem como as relações entre modelos epistemológicos e modelos pedagógicos
propostas por Becker (2001, p. 19-30), entre outros referenciais teóricos que
fundamentaram a Tese (Gelatti, 2012, p. 294-302). Os modelos epistemológicos empirista,
apriorista e interacionista e, respectivamente, seus correspondentes modelos pedagógicos
diretivo, não-diretivo e relacional, cada qual com um determinado modelo de sujeitos
implicados nos processos de ensino e de aprendizagem, formaram um corpo teórico-
metodológico norteador da pesquisa. Enquanto um dos modos de praticar a Educação,
a Educação a Distância compreende sujeitos que se articulam e estão envolvidos de
variadas e distintas formas com o ensinar e o aprender, consoante os seus respectivos
modelos epistemológicos e pedagógicos, tais como os mencionados. A identificação desses
sujeitos por integrantes do Curso investigado é o objetivo deste artigo.

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3. A QUEM SE ENSINA NO CURSO

O ensinar envolve alguém a quem se ensina. Partindo da premissa de que se alguém ensina,
ensina a alguém, quanto a quem os alunos, professores, tutores e coordenadores
consideraram que ensinam no Curso, eles indicaram, principalmente, em ordem de
relevância, os alunos, os tutores da sede, os professores de interdisciplina 5 e os tutores do
polo, como se apresenta abaixo, na Tabela 1 6 .

Tabela 1 - A quem os partícipes consideraram que ensinam no curso

Questão 1:
Contagem Porcentagem
A quem você ensina no Curso?
1 aos alunos 36 44,44%
2 aos tutores da sede 12 14,81%
3 aos tutores de polo 10 12,35%
4 aos professores de interdisciplina
11 13,58%
(incluindo os do seminário integrador)
5 aos coordenadores de polo 7 8,64%
6 aos coordenadores de interdisciplina 5 6,17%
7 aos coordenadores gerais do Curso 5 6,17%
8 aos gerentes (ou coordenadores) no polo 3 3,70%
9 aos técnicos de suporte da área tecnológica 2 2,47%
10 aos técnico-administrativos
2 2,47%
(incluindo os da secretaria do Curso)
11 Outros 11 13,58%

Analisando os dados de acordo com a função dos integrantes do Curso, pode-se


afirmar que um maior número de alunos, considerando a quem ensinam no Curso, assim
indicou, em ordem de relevância: aos alunos (assim o responderam 12 alunos,
correspondentes a 21,43% dos alunos respondentes), enquanto colegas no Curso. Poucos
alunos disseram que ensinam aos professores de interdisciplina, incluindo os do seminário
integrador 7 (4 alunos: 7,14%), aos tutores da sede (3 alunos: 5,36%), aos tutores de polo
(2 alunos: 3,57%), aos coordenadores de polo (2 alunos: 3,57%), aos coordenadores de
interdisciplina (1 aluno: 1,79%), aos coordenadores gerais do Curso (1 aluno: 1,79%), aos
gerentes ou coordenadores no polo (1 aluno: 1,79%) e aos técnicos de suporte da área
tecnológica (1 aluno: 1,79%). Os alunos não consideraram que ensinam aos técnico-
administrativos, incluindo os da secretaria do Curso.
A respeito da presente questão, ao comentar a sua resposta, um aluno (A61-5)
ponderou que ensina a todos os envolvidos no Curso, embora tenha considerado que não
ensina aos técnico-administrativos. Outro aluno (A77-5) destacou que ensina a si próprio.
Alguns alunos (A102-5, A103-5, A134-5) frisaram que ensinam a seus colegas, assim
como outro aluno (A77-8) salientou: “Não ensino, mas oriento aos colegas quando estes
tem dúvidas”. Por outro lado, um aluno (A48-5) afirmou que não ensina a ninguém do
Curso. Corroborando o depoimento deste aluno (A48-5), outro aluno (A143-2) considerou

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que o ensinar não está incluído entre as suas ações no Curso, assim como uma aluna (A190-
5) afirmou: “não ensino no Curso, sou aluna”, argumentando que por ser aluna no Curso
não pode ensinar. Outro, respondeu que é aluno do Curso (A85-5), como se justificasse que
não lhe cabe a pergunta porque um aluno não ensinaria. Além dos já citados alunos (A48-5,
A85-5, A190-5), cinco alunos (A-187-3, A11-1, A129-1, A154-1 e A162-1) salientaram
que sua função no Curso é a de serem alunos e que, portanto, não ensinam. A necessidade
de reforçarem que são alunos no contexto em que se apresentam as afirmativas e
argumentações evidencia que esses alunos não se identificaram como sujeitos que ensinam
no Curso. Esses depoimentos, considerando o conjunto das contribuições desses sujeitos
à pesquisa, apontam para o questionamento de qual concepção de ensinar e, ainda, modelo
pedagógico, esses sujeitos estão tomando como norteadores de sua prática educacional.
Como visto, pelo menos em uma parte considerável, esses alunos ponderaram que
ser aluno e ensinar sejam elementos incompatíveis. A frequência sobressaliente desse
posicionamento em contribuições de alunos à pesquisa é um tanto chamativa, pois,
considerando também depoimentos desses alunos em entrevistas, é muito provável que eles
estejam concebendo a sua atuação no Curso como sujeitos não ensinantes por acreditarem
que o ensinar seja uma ação exclusiva do docente ou, ainda, própria de ser professor,
pressuposto esse característico de um modelo pedagógico diretivo e de seu correspondente
modelo epistemológico empirista (Becker, 2001, p. 15-19). O fato de alguns alunos
afirmarem que quando ensinam o fazem enquanto são professores e atuantes em suas
instituições educacionais, o que será visto a seguir, valida ainda mais essa argumentação.
Alguns alunos afirmaram que ensinam aos seus alunos em sala de aula (A22-5,
A102-5, A190-5), quando estão atuando como professores em instituições educacionais
durante a realização do estágio supervisionado do Curso. Um aluno (A27-3) observou que a
etapa de realização de seu estágio, no qual atuou como professor, também fez parte de seu
ensinar. Outros dois alunos (T-176-8 e A190-7) responderam que não ensinam no Curso,
mas sim aos seus alunos, quando atuam como professores nas instituições educacionais nas
quais trabalham. Percebe-se, assim, por parte de alguns alunos do Curso, o entendimento de
que “aluno não ensina” e que a ação de ensinar apenas pode ser exercida quando este
sujeito ocupa a função de professor. Outrossim, o ensinar pode estar sendo concebido por
esses alunos apenas em seu sentido amplo, como trabalho, ocupação ou ofício, e não em
seu sentido estrito, como ato de ensinar (Gelatti, 2012, p. 94-95) e, por isso, somente quem
tem a função de ensinar é quem ensina no Curso.
Outras referências em relação à quem os partícipes consideraram que ensinam e
à extensão das ações de ensinar aos alunos dos alunos do Curso, pôde ser visualizada em
registros dos partícipes da pesquisa no ambiente virtual ROODA, principalmente em fóruns
(ferramentas assíncronas) das interdisciplinas do Eixo Articulador 7, tal como nas seguintes
mensagens enviadas por alunos do Curso em um fórum: “[...] Com o PA (Projeto de
Aprendizagem) a aprendizagem está realmente sendo muito gratificante, pois estamos
aprendendo juntos, como alunos e assim poderemos realizar o que aprendemos com nossos
alunos” (A198) e “[...] esta proposta pedagógica pela qual eu particularmente me apaixonei
chegou aos meus alunos junto com a minha empolgação pelas tecnologias [...]” (A102).
Embora em ambientes virtuais do Curso, especialmente em ambientes das interdisciplinas
no ROODA, foi possível visualizar situações nas quais alunos estão ensinando,
particularmente a colegas (isto é, outros alunos do Curso) e a tutores e em fóruns das
interdisciplinas, houve uma certa resistência por parte de alguns alunos em afirmar que

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ensinam no Curso, como se pôde observar em seus depoimentos, principalmente por


conceberem a atividade de ensinar como uma atividade particular do docente.
A partir desses depoimentos, ressalta-se que o Curso PEAD partiu do propósito de
graduar profissionais da educação em serviço, em especial professores não habilitados em
nível superior, os quais em sua maioria atuam em escolas públicas estaduais e municipais.
A proposta metodológica do Curso preocupou-se em articular as interdisciplinas com a
prática pedagógica realizada nas escolas em que os alunos desenvolvem a docência
(Carvalho et al., 2006, p. 21). Dessa forma, faz todo sentido que os alunos, quando
questionados sobre o seu ensinar no Curso, tenham estabelecido uma relação direta da sua
prática no Curso com o seu ensinar nas instituições educacionais nas quais atuam
profissionalmente e/ou durante o estágio supervisionado, pois o próprio Curso apresentou
em sua proposta pedagógica o objetivo de articular essa aproximação entre universidade e
escola. Esse foi um dos dados que emergiu da pesquisa: do ponto de vista dos alunos,
o ensinar no Curso se estende e, ainda, repercute, em seu ensinar na escola.
Todos os tutores afirmaram que ensinam aos alunos no Curso (assim o responderam
13 tutores, correspondentes a 100% dos tutores respondentes). Poucos deles consideraram
que ensinam aos professores de interdisciplina, incluindo os do seminário integrador
(2 tutores: 15,38%), aos tutores da sede (1 tutor: 7,69%), aos tutores de polo (1 tutor:
7,69%), aos coordenadores de polo (1 tutor: 7,69%), aos coordenadores de interdisciplina
(1 tutor: 7,69%), aos coordenadores gerais do Curso (1 tutor: 7,69%). Nenhum deles
afirmou que ensinou aos gerentes ou coordenadores no polo, aos técnicos de suporte da
área tecnológica e aos técnico-administrativos, incluindo os da secretaria do Curso.
Todos os professores também disseram que ensinam aos alunos (assim o
responderam 10 professores, correspondentes a 100% dos professores respondentes).
Alguns professores consideraram que ensinam aos tutores da sede (6 professores: 60%),
aos tutores de polo (5 professores: 50%), aos professores de interdisciplina, incluindo os do
seminário integrador (3 professores: 30%), aos coordenadores de polo (3 professores:
30%). Poucos professores afirmaram que ensinam aos coordenadores de interdisciplina
(2 professores: 20%), aos coordenadores gerais do Curso (2 professores: 20%) e aos
gerentes ou coordenadores no polo (2 professores: 20%). Nenhum professor considerou que
ensinou aos técnicos de suporte da área tecnológica e aos técnico-administrativos, incluindo
os da secretaria do Curso. Um professor, o único que comentou a sua resposta à questão,
afirmou que ensina e aprende a todo o momento com os diferentes sujeitos do Curso (P32-
5), o que é um exemplo do que a maioria dos partícipes da pesquisa consideraram a
respeito, embora em distintos graus de intensidade, com algumas exceções já apresentadas
em depoimentos de alunos, tutores e professores.
Todos os coordenadores também disseram que ensinam aos tutores da sede
(assim o responderam 4 coordenadores, correspondentes a 100% dos coordenadores
respondentes) e aos alunos (3 coordenadores: 75%). Eles também consideraram que
ensinam aos tutores de polo (3 coordenadores: 75%), aos professores de interdisciplina,
incluindo os do seminário integrador (3 coordenadores: 75%) e aos coordenadores de polo
(2 coordenadores: 50%). Poucos coordenadores afirmaram que ensinam aos coordenadores
de interdisciplina (1 coordenador: 25%), aos coordenadores gerais do Curso (1
coordenador: 25%), aos gerentes ou coordenadores no polo (1 coordenador: 25%), aos
técnicos de suporte da área tecnológica (1 coordenador: 25%), aos técnico-administrativos,
incluindo os da secretaria do Curso (1 coordenador: 25%).

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Portanto, todos os grupos de sujeitos por função que exerceram no Curso – a de


alunos, tutores, professores e coordenadores – consideraram que se ensinou a todos esses
grupos de sujeitos e a outros integrantes do Curso, não obstante se tenha ensinado mais
intensamente a uns do que a outros. Tendo presente os depoimentos apresentados por
partícipes da pesquisa, alguns alunos do Curso consideraram os seus alunos – aqueles dos
locais nos quais realizam estágios acadêmicos, nos quais atuaram como professores, em
muitos casos nas próprias instituições educacionais em que trabalhavam – como, de certa
forma, “extensões” do ensinar do Curso. Esses alunos do Curso ponderaram que o seu
ensinar no Curso também os abrange, dimensão esta não considerada por parte de tutores,
professores e coordenadores do Curso em seus depoimentos. O que desponta através dos
depoimentos desses alunos, considerando que o propósito do Curso foi formar professores,
consiste na repercussão das ações de ensinar do Curso PEAD através das quais os seus
alunos aprendem como ensinar e aplicam esse conhecimento em sua prática de ensinar
enquanto atuam como professores. Em vista disso, algumas ações de ensinar do Curso se
estenderam aos alunos dos alunos do Curso.

4. QUEM É ENSINADO NO CURSO

Ensinar implica alguém que é ensinado e intenciona que alguém seja ensinado. No que se
refere a quem alunos, tutores, professores e coordenadores do Curso consideraram que seja
ensinado por alguém no Curso, setenta e dois partícipes da pesquisa disseram que
consideram que sejam ensinados, enquanto quatro responderam que não o consideram,
conforme apresenta a Tabela 2. Desses quatro, três são alunos e um é professor do Curso.

Tabela 2 - Partícipes que consideraram que sejam ensinados no curso

Questão 2: Você considera que seja


Contagem Porcentagem
ensinado por alguém no Curso?
1 Sim 72 88,89%
2 Não 4 4,94%
3 Outros 1 1,23%

Quarenta e nove alunos (correspondentes a 87,50% dos alunos respondentes)


partícipes da pesquisa consideraram que sejam ensinados no Curso; três (correspondentes a
5,36% dos alunos respondentes), que não sejam ensinados. Por suas contribuições à
pesquisa, é possível afirmar que esses três alunos consideraram que não se ensina no Curso
e que, portanto, não podem afirmar que sejam ensinados. No entanto, isso não significa que
considerem que não existam ações educacionais intencionais no Curso. Segundo o que os
seus depoimentos indicam, eles não consideraram que essas ações sejam identificadas ou
nomeadas como “ensinar”, em função de determinadas concepções epistemológico-
educacionais embutidas na palavra. Por um lado, a negação da ação de ensinar no Curso
pode ser decorrente da crença destes alunos de serem “auto-suficientes” em relação aos
processos de ensinar e de aprender, pressuposto esse característico de um modelo
pedagógico não-diretivo, apoiado em um modelo epistemológico apriorista (Becker, 2001,
p. 19-23). Por outro lado, em depoimentos de alunos, como também se percebe em
depoimentos de tutores e até mesmo de professores, o ensinar é muitas vezes relacionado a

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um modelo pedagógico diretivo, fundamentado em um modelo epistemológico empirista e,


por esse motivo, costuma ser compreendido de forma pedagógica negativa e contrária ao
pressuposto de inovação pedagógica. Esta possui, por certo, estreita relação com o
epistemológico (Leite et al., 2011, p. 33). Logo, esses alunos negaram que ensinam por
compreender que o ensinar se opõe a concepções inovadoras de educação, as quais a
maioria desses sujeitos do Curso atribuiu ao modelo pedagógico relacional, o qual tem
como base epistemológica o modelo interacionista (p. 23-28).
Todos os doze tutores (correspondentes a 92,31% dos tutores respondentes)
disseram que são ensinados. Nove professores (correspondentes a 90% professores
respondentes), sendo que dois deles também se identificaram como coordenadores,
afirmaram que são ensinados no Curso, contudo um professor (P166-11) disse que não o é
(correspondente a 10% dos professores respondentes). Este professor afirmou que não é
ensinado no Curso tanto na realização do questionário como em entrevista, ao passo que
outro professor (P32-11) ressaltou que “constantemente” é ensinado no Curso. Todos os
quatro coordenadores consideraram que são ensinados no Curso.
Sendo assim, todos os grupos de sujeitos por função que exerceram no Curso – a de
alunos, tutores, professores e coordenadores – consideraram que todos esses grupos de
sujeitos, como também outros integrantes do Curso, foram ensinados no Curso, apesar de
que tenham sido ensinados mais veementemente por uns do que por outros. Partindo desse
posicionamento, a seção seguinte tratará de quem os partícipes consideraram que lhes
ensina no Curso.

5. QUEM ENSINA NO CURSO

Ensinar implica alguém que ensina ou, em outras palavras, um sujeito que exerce
a ação de ensinar. No que se refere aos integrantes do Curso quem os partícipes da pesquisa
consideraram que lhes ensina no mesmo, um maior número de partícipes disse que quem
lhe ensina são, em ordem de relevância, os professores de interdisciplina, os tutores da
sede, os tutores de polo e os alunos, conforme consta na sequência, na Tabela 3.

Tabela 3 - Quem os partícipes consideraram que lhes ensina no curso

Questão 3: Caso você considere que seja ensinado


Contagem Porcentagem
no Curso, quem lhe ensina?
1 os alunos 47 58,02%
2 os tutores da sede 59 72,84%
3 os tutores de polo 54 66,67%
4 os professores de interdisciplina
66 81,48%
(incluindo os do seminário integrador)
5 os coordenadores de polo 32 39,51%
6 os coordenadores de interdisciplina 38 46,91%
7 os coordenadores gerais do Curso 32 39,51%
8 os gerentes (ou coordenadores) no polo 14 17,28%
9 os técnicos de suporte da área tecnológica 27 33,33%
10 os técnico-administrativos
12 14,81%
(incluindo os da secretaria do Curso)
11 Outros 5 6,17%

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Analisando os dados de acordo com a função dos integrantes do Curso, pode-se


afirmar que os alunos ponderaram que quem lhes ensina no Curso são, em ordem de
relevância: os professores de interdisciplina, incluindo os do seminário integrador (assim o
responderam 47 alunos, correspondentes a 83,93% dos alunos respondentes), os tutores da
sede (42 alunos: 75%), os tutores de polo (37 alunos: 66,07%), os alunos (28 alunos: 50%),
os coordenadores de interdisciplina (13 alunos: 41,07%), os coordenadores de polo (20
alunos: 35,71%), os técnicos de suporte da área tecnológica (15 alunos: 26,79%),
os gerentes ou coordenadores no polo (10 alunos: 17,86%). Poucos alunos (5 alunos:
8,93%) disseram que os técnico-administrativos, incluindo os da secretaria do Curso, lhes
ensinam no Curso. Em seu depoimento, um dos alunos (P32-11.1) acrescentou que quem
lhe ensina são os alunos, os colegas e as equipes diretivas das instituições educacionais dos
seus alunos. Outro aluno (A61-11.1) disse que “todos” lhe ensinam, fazendo referência às
alternativas de resposta à questão.
Os tutores afirmaram que, entre os integrantes do Curso que lhes ensinam, estão os
professores de interdisciplina, incluindo os do seminário integrador (assim o responderam
10 tutores, correspondentes a 76,92% dos tutores respondentes), os alunos (9 tutores:
69,23%), os tutores da sede (8 tutores: 61,54%), os tutores de polo (8 tutores: 61,54%), os
coordenadores de interdisciplina (7 tutores: 53,85%), os coordenadores de polo (6 tutores:
46,15%), os coordenadores geral do Curso (6 tutores: 46,15%), os técnicos de suporte da
área tecnológica (6 tutores: 46,15%). Poucos tutores consideraram que quem lhes ensina
são os gerentes ou coordenadores no polo (1 tutor: 7,69%) e os técnico-administrativos,
incluindo os da secretaria do Curso (2 tutores: 15,38%). Um tutor (T176-11.1) salientou
que “cada participante do curso ensina algo, cada qual com suas dimensões de saber”.
As “dimensões de saber” referidas pelo tutor podem se tratar tanto da área de formação
acadêmica ou de ocupação profissional como dos campos conhecimento de domínio de
cada um deles, os quais não necessariamente se restringem aos conhecimentos legitimados
pelas instituições nas quais se formam ou trabalham (Sacristán, Gómez, 1998, p. 160).
Portanto, além das ações de ensinar dos integrantes do Curso serem definidas pela função
ou funções que eles exerceram no mesmo, segundo afirmaram alguns dos partícipes da
pesquisa, questão essa tratada em seção anterior, de acordo com esse tutor (T176) essas
ações também podem ser definidas por suas “dimensões de saber”.
Os professores disseram que quem lhes ensina são os alunos (assim o responderam
8 professores, correspondentes a 80% dos professores respondentes), os professores de
interdisciplina, incluindo os do seminário integrador (8 professores: 80%), os tutores da
sede (7 professores: 70%), os tutores de polo (7 professores: 70%), os coordenadores de
interdisciplina (7 professores: 70%), os coordenadores gerais do Curso (7 professores:
70%), os coordenadores de polo (5 professores: 50%), os técnicos de suporte da área
tecnológica (4 professores: 40%). Poucos professores consideraram que os técnico-
administrativos, incluindo os da secretaria do Curso (3 professores: 30%), os gerentes ou
coordenadores no polo (3 professores: 30%) lhes ensinam no Curso. Um professor
(P.C133-11.1), que também atua como coordenador do Curso, afirmou que todos lhe
ensinam algo e com todos também aprende algo.
Os coordenadores afirmaram que quem lhes ensina são os alunos (assim o
responderam 4 coordenadores, correspondentes a 100% dos coordenadores respondentes),
os tutores da sede (4 coordenadores: 100%), os tutores de polo (4 coordenadores: 100%), os
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professores de interdisciplina, incluindo os do seminário integrador (3 coordenadores:


75%), os coordenadores de interdisciplina (3 coordenadores: 75%), os coordenadores gerais
do Curso (3 coordenadores: 75%), os técnicos de suporte da área tecnológica (3
coordenadores: 75%), os técnico-administrativos, incluindo os da secretaria do Curso (3
coordenadores: 75%), os coordenadores de polo (2 coordenadores: 50%). Apenas um
coordenador (correspondente a 25% dos coordenadores respondentes) considerou que os
gerentes ou coordenadores no polo lhe ensinam.
Como visto, todos os grupos de sujeitos por função que exerceram no Curso – a de
alunos, tutores, professores e coordenadores – consideraram que foram ensinados no Curso
por todos esses grupos de sujeitos, bem como por outros integrantes do Curso, ainda que o
sejam mais intensamente por uns do que por outros. Alunos disseram que tutores lhes
ensinam quase que em mesmo número dos que disseram que professores lhes ensinam.
As respostas à questão por tutores, coordenadores e professores foi mais uniforme, isto é,
praticamente em mesmo número eles afirmaram que todos os referidos grupos de sujeitos
ensinam no Curso. Tutores afirmaram que professores e coordenadores lhes ensinam quase
que em mesmo número dos que afirmaram que alunos e seus colegas tutores lhes ensinam.
Professores e coordenadores consideraram que alunos e tutores lhes ensinam praticamente
tanto quanto os que afirmaram que seus colegas professores e coordenadores lhes ensinam.
Portanto, está implicada no Curso uma variedade de sujeitos na ação de ensinar, em
contraposição ao entendimento de que seria uma prática exclusiva do professor.

6. QUEM APRENDE NO CURSO

O ensinar, enquanto prática na qual se intenciona que alguém aprenda, envolve um sujeito a
qual a ação de ensinar é dirigida. A respeito de quem aprende no Curso, os alunos,
professores, tutores e coordenadores do Curso consideraram, principalmente, que os que
aprendem são, em ordem de relevância, os alunos, os tutores de polo, os professores de
interdisciplina, os tutores da sede, como pode ser visualizado na sequência, na Tabela 4.

Tabela 4 - Quem os partícipes consideraram que aprende no curso

Questão 4:
Contagem Porcentagem
Para você, quem aprende no Curso?
1 os alunos 68 83,95%
2 os tutores da sede 61 75,31%
3 os tutores de polo 66 81,48%
4 os professores de interdisciplina
65 80,25%
(incluindo os do seminário integrador)
5 os coordenadores de polo 51 62,96%
6 os coordenadores de interdisciplina 53 65,43%
7 os coordenadores gerais do Curso 49 60,49%
8 os gerentes (ou coordenadores) no polo 41 50,62%
9 os técnicos de suporte da área tecnológica 35 43,21%
10 os técnico-administrativos
32 39,51%
(incluindo os da secretaria do Curso)
11 Outros 20 24,69%

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Analisando os dados de acordo com a função dos integrantes do Curso, pode-se


afirmar que os alunos consideraram que quem aprende no Curso são, em ordem de
relevância: os alunos (assim o responderam 46 alunos, correspondentes a 82,14% dos
alunos respondentes), os tutores de polo (44 alunos: 78,57%), os professores de
interdisciplina, incluindo os do seminário integrador (43 alunos: 76,79%), os tutores da
sede (40 alunos: 71,43%), os coordenadores de interdisciplina (33 alunos: 58,93%), os
coordenadores de polo (31 alunos: 55,36%), os coordenadores gerais do Curso (30 alunos:
53,57%), os gerentes ou coordenadores no polo (24 alunos: 42,86%). Os alunos
consideraram, em menor número, que os técnicos de suporte da área tecnológica (20
alunos: 35,71%) e os técnico-administrativos, incluindo os da secretaria do Curso
(18 alunos: 32,14%) aprendem no Curso.
Um aluno (A77-12) afirmou que a todo instante se aprende no Curso, assim como
outro aluno (A104-8) afirmou que acredita que se aprende e se ensina em tempo integral no
Curso. Um aluno (A76-12) observou que aprendem “[...] tanto os que buscam ensinar como
os que buscam o aprender”. Outro aluno (A162-5) ponderou que, enquanto estudante,
aprende mais intensamente no Curso do que em outro espaço educacional. Já um aluno
(A14-12) acrescentou à lista de alternativas apresentadas à questão que também aprende
com “colegas das escolas” e “alunos da escola”. Salienta-se, novamente, que muitos dos
alunos do Curso atuavam como professores em instituições educacionais
concomitantemente com a realização do Curso e que, portanto, alguns deles consideraram
que o seu aprender no Curso, tal como o seu ensinar, se estendeu aos seus alunos.
Um aluno (A154-11.1) ressaltou que se aprende no Curso através da interação entre
professor, aluno, colegas, tutores e o meio. Segundo outros alunos partícipes da pesquisa,
“um aprende e ensina com o outro” (A102-10), sendo que “a aprendizagem ocorre através
da interação com o outro” (A83-10), ou seja, “a interação promove a aprendizagem”
(A135-10). Nesse sentido, ensinar requer especialmente que interações ocorram entre quem
ensina e a quem se ensina. Esses sujeitos, quem ensina e a quem se ensina, podem ser
identificados como polos da interação. É a partir dessas interações que conhecimentos
podem ser construídos. Essas interações ocorrem para que principalmente um dos polos
dessa interação (ou seja, a quem se ensina) possa aprender o objeto a ser conhecido, o que
não significa que outros sujeitos, inclusive quem ensina, não possam aprender por
intermédio dessas interações. Logo, a educação, como processo relacional, implica a
interação constante entre “agentes e actores” (Garcia Aretio et al., 2009, p. 85-86).
Os tutores disseram que quem aprende no Curso são os alunos (assim o
responderam 11 tutores, correspondentes a 84,62% dos tutores respondentes), os tutores da
sede (11 tutores: 84,62%), os tutores de polo (11 tutores: 84,62%), os professores de
interdisciplina, incluindo os do seminário integrador (11 tutores: 84,62%), os
coordenadores de polo (10 tutores: 76,92%), os coordenadores de interdisciplina (9 tutores:
69,23%), os coordenadores gerais do Curso (8 tutores: 61,54%). Em menor número, eles
consideraram que os gerentes ou coordenadores no polo (7 tutores: 53,85%), os técnicos de
suporte da área tecnológica (7 tutores: 53,85%) e os técnico-administrativos, incluindo os
da secretaria do Curso (7 tutores: 53,85%) aprendem no Curso. Um tutor (T116-12) disse
que “todos aprendem com todos”. Entretanto, outro tutor (T147-12) destacou, dentro dessa
questão, que aprende “quem estiver disponível para esse processo”, explicando que “[...] é

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possível estar envolvido, mas não necessariamente disponível para a troca”, pois a
aprendizagem está sujeitada a processos sócio-cognitivos do sujeito (Piaget, Gréco, 1974).

Os professores consideraram em maior número que quem aprende no Curso são:


os alunos (assim o responderam 9 professores, correspondentes a 90% dos professores
respondentes), os tutores de polo (9 professores: 90%), os professores de interdisciplina,
incluindo os do seminário integrador (9 professores: 90%), os coordenadores de
interdisciplina (9 professores: 90%), os coordenadores gerais do Curso (9 professores:
90%), os tutores da sede (8 professores: 80%), os coordenadores de polo (8 professores:
80%), os gerentes ou coordenadores no polo (8 professores: 80%). Em menor número,
consideraram que também aprendem no Curso os técnicos de suporte da área tecnológica
(6 professores: 60%) e os técnico-administrativos, incluindo os da secretaria do Curso
(6 professores: 60%). Um professor (P32-12) acrescentou que também aprendem no Curso
“os alunos dos nossos alunos e a escola deles como um todo”, sendo o único professor e
partícipe da pesquisa, com exceção dos alunos, a se reportar aos alunos dos alunos do
Curso como também aprendentes do Curso.
Para os quatro coordenadores (correspondentes a 100% dos coordenadores
respondentes), todos os grupos de sujeitos por função que exerceram no Curso listados nas
alternativas de resposta à questão aprendem no Curso, com exceção de um coordenador que
não considerou os técnico-administrativos, incluindo os da secretaria do Curso, como
sujeitos que aprendem no Curso. Ademais, um coordenador (C132-12) acrescentou que
alunos(as) de graduação e de pós-graduação da UFRGS estão pesquisando a proposta do
Curso PEAD – como foi o caso da presente pesquisadora, autora deste artigo –, buscando
assim dizer que eles também aprendem no Curso. Um coordenador (P.C133-12), também
professor do Curso, disse que “todos aprendem desde que se impliquem em processos de
aprendizagem”, o que corrobora o posicionamento do recém citado tutor (T147-12) de que
é preciso que a quem se ensina esteja “disponível” para o aprender para que este possa
ocorrer. A disposição para aprender por parte do aprendente é, dessa maneira, um dos
fatores imprescindíveis no ensinar (Pozo, 2002, p. 58).
Portanto, um considerável número de partícipes da pesquisa (T9-12, A19-12, A30-
12, A55-12, A61-12, A76-12, A77-12, T81-12, T116-12, P.C133-12, A145-12, A154-12,
A162-12, T176-12, A177-12, A187-12) salientou que todos os grupos de sujeitos aprendem
no mesmo. Sendo assim, os partícipes da pesquisa consideraram que são muitos os
integrantes do Curso que aprendem no mesmo. Um maior número de alunos afirmou que
eles próprios são os que aprendem no Curso e, em similar número, que também os tutores e
os professores aprendem. Os tutores afirmaram em maior número que os que aprendem no
Curso são os alunos, professores e eles mesmos e, em considerável número, que também os
coordenadores aprendem. Os professores afirmaram em maior número que os que
aprendem no Curso são os alunos, tutores do polo e eles mesmos e, em considerável
número, que também os tutores do polo e os coordenadores aprendem. Todos os
coordenadores, distintamente dos alunos, tutores e professores, conforme a análise
apresentada, ponderaram que todos os grupos de sujeitos por função que exerceram no
Curso – a de alunos, tutores, professores e coordenadores – aprendem no mesmo.
Na medida em que existem diversos sujeitos envolvidos nos processos de ensinar e
de aprender, não apenas houve uma variedade de integrantes do Curso que se identificaram
como sujeitos que ensinam, mas também que consideraram que aprendem no Curso. Ainda

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que os alunos sejam o “público” central para o qual o fazer do Curso está essencialmente
direcionado, consoante a sua proposta pedagógica (Bordas et al., 2005), o que é próprio de
um curso dessa natureza, todos os grupos de sujeitos por função que exerceram no Curso
ponderaram que todos os grupos de sujeitos aprendem e aprendem com todos, com mais ou
menos veemência e regularidade, o que não depende propriamente da função que
exerceram no Curso. Considerando essa coletividade de sujeitos ensinantes e aprendentes,
as múltiplas relações estabelecidas entre eles e as estruturas organizacionais configuradas a
partir dessas relações, tornam-se relevantes a formação pedagógica continuada dos
profissionais implicados (Corrêa, Ribeiro, 2013, p. 321) e o trabalho educativo conjunto
para o fomento e a qualificação dessas relações em prol do ensinar e do aprender.

7. RESULTADOS E CONCLUSÕES

Tendo em vista os resultados que emergiram da pesquisa a partir da análise dos dados da
Tese, mais especificamente os relativos às quatro categorias apresentadas no presente
artigo, resulta que houve uma variação e uma diferenciação significativa no como os
sujeitos do Curso PEAD consideraram a quem ensinam, quem é ensinado, quem ensina e
quem aprende no Curso. Em grande parte, alunos, tutores, professores e coordenadores do
Curso se identificaram como sujeitos que ensinam, que ensinam a alguém do Curso, que
são ensinados e que aprendem no Curso e, portanto, a ação de ensinar não é restrita a um
determinado sujeito. São muitos os sujeitos envolvidos em sua ação, com maior ou menor
intensidade e frequência, podendo o ensinar ser praticado por qualquer sujeito do Curso.
Dessa forma, uma parcela significativa dos partícipes da pesquisa contrapõe-se, em
geral, aos pressupostos de que: I. somente o professor pode ensinar e somente ele é quem
ensina; II. somente o aluno pode aprender e somente ele é quem aprende; III. somente o
aluno é ensinado e somente se ensina ao aluno; IV. o aluno é ensinado somente pelo
professor ou pela equipe docente (como por coordenadores e tutores); V. o professor ou a
equipe docente somente ensina a alunos. Entretanto, também houve uma parcela
significativa dos partícipes da pesquisa que afirmou esses pressupostos, considerando que
os dados oportunizados pelas quatro categorias analíticas discriminadas neste artigo foram
situados perante o conjunto dos dados analisados na Tese (Gelatti, 2012).
A afirmação ou a negação da ação de ensinar foi evidenciada entre as racionalidades
que embasaram propostas e práticas pedagógicas dos sujeitos do Curso. Uma grande parte
dos sujeitos do Curso afirmou que ensinaram e/ou foram ensinados e que, portanto, a ação
de ensinar esteve compreendida entre as ações realizadas no Curso, enquanto outra parte
deles, particularmente de alunos, negou que ensinou no Curso, apoiados em pressupostos
mencionados acima, principalmente por se conceber que somente o professor é quem
ensina. A negação da ação de ensinar esteve em conformidade, em especial, com os
seguintes argumentos, no caso das quatro categorias analisadas: a) por se relacionar e
restringir o ensinar a pressupostos próprios de um determinado modelo pedagógico e
modelo epistemológico e b) por se conceber o ensinar apenas em seu sentido amplo, como
trabalho, ocupação ou ofício, e não em seu sentido estrito, como ato de ensinar.
Para concluir, no que concerne às quatro categorias analisadas, estiveram presentes
pressupostos característicos dos modelos pedagógicos diretivo, não-diretivo e relacional, os
quais se alicerçam, respectivamente, em pressupostos dos modelos epistemológicos
empirista, apriorista e interacionista. Logo, o ensinar não está compreendido em um

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determinado modelo pedagógico e epistemológico, mas pode ser compreendido a partir de


distintos modelos, como os tratados na pesquisa apresentada. Por consequência, a
identificação dos sujeitos do ensinar dependerá de qual modelo pedagógico e
epistemológico está sendo considerado no âmbito das concepções e práticas educacionais.

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NOTAS DE TEXTO

1
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Foi professora do Curso
de Licenciatura em Pedagogia a distância da UFRGS de 2006 a 2008, lecionando a disciplina “Fundamentos
da Alfabetização” e três edições da disciplina “Escola, Projeto Pedagógico e Currículo”.
2
A pesquisa de Tese foi realizada com o apoio da CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior – Brasil. Essa pesquisa foi orientada pelo Prof. Dr. Sérgio Roberto Kieling Franco da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
3
LimeSurvey: é um softwtare de elaboração e aplicação de questionários ou formulários eletrônicos.
4
ROODA, Rede Cooperativa de Aprendizagem: esse ambiente virtual está disponível no site institucional da
UFRGS <https://ead.ufrgs.br/rooda/>.
5
Interdisciplinas: “[...] estão contidas nos eixos articuladores e compreendem a abordagem de um tema
amplo, que contém inúmeras possibilidades de enfoques temáticos e teórico-práticos”, consistindo em grandes
áreas que agregam conhecimentos específicos e enfoques temáticos singulares na sua abordagem e
transversais na Interdisciplina e no eixo (Bordas et al., 2005, p. 23-24).
6
As tabelas de análise expostas ao longo deste artigo são compostas por quatro colunas. A segunda coluna
apresenta as questões que possibilitaram dados mais específicos para a elaboração das quatro categorias
analíticas, seguida de alternativas de resposta correspondentes a cada questão. As duas últimas colunas,
identificadas como “contagem” e “porcentagem”, apresentam, respectivamente, o número de partícipes que
respondeu à questão e a sua porcentagem diante da totalidade de partícipes que a respondeu.
7
Seminário Integrador: é oferecido em cada semestre letivo do Curso, sendo nele desenvolvidas “[...] oficinas
tecnológicas e seminários envolvendo conteúdos e metodologias para integração dos conteúdos trabalhados
em cada eixo”, vislumbrando “[...] o trabalho teórico-prático em sala de aula, sua análise no portfólio
educacional e o desenvolvimento de pesquisa cuja culminância dar-se-á no Trabalho de Conclusão do curso”
(Bordas et al., 2005, p. 23).

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Alegre, 2005.
CARVALHO, Marie Jane Soares; NEVADO, Rosane Aragón; BORDAS, Merion Campos.
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Ensino Fundamental. Faculdade de Educação (FACED). Porto Alegre, 2006.
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