Hipot - Funcionalidade Na Perspectiva Das Redes de Apoio No Puerpério
Hipot - Funcionalidade Na Perspectiva Das Redes de Apoio No Puerpério
Hipot - Funcionalidade Na Perspectiva Das Redes de Apoio No Puerpério
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Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva. Universidade Federal de São Paulo. Campus Baixada Santista. Rua Silva Jardim, 136. Térreo Vila Mathias. Santos,
SP, Brasil. CEP: 11.015-020. E-mail: [email protected]
2-4
Departamento de Ciências do Movimento Humano (DCMH). Universidade Federal de São Paulo. Santos, SP, Brasil.
Resumo
Objetivos: investigar como o suporte social pela família nuclear, família estendida e extrafamiliar
influenciam nos índices de funcionalidade das puérperas do Estado de São Paulo.
Métodos: a coleta de dados ocorreu via formulário online, divulgado em grupos de maternidade
em redes sociais. Foi utilizado um questionário estruturado para a identificação do perfil da puérpera
e de sua rede de apoio, bem como o Whodas 2.0 para avaliação da funcionalidade.
Resultados: o suporte do marido/companheiro (p=0,012), outros familiares (p=0,001), amigos/
vizinhos (p=0,003) representaram melhor funcionalidade da puérpera, enquanto o apoio virtual
(p=0,043) estava relacionado a piores índices nos domínios contemplados pelo Whodas 2.0. Em
relação aos profissionais da saúde, o resultado não foi significativo (p=0,721), indicando frequência
baixa deste tipo de apoio (12%).
Conclusão: a presença de apoio atuou positivamente na funcionalidade da mulher no puerpério.
Palavras-chave Período pós-parto, Apoio social, Promoção da saúde, Determinantes sociais da
saúde, Classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative http://dx.doi.org/10.1590/1806-9304202200030013
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, 22 (3): 675-681 jul-set., 2022 675
Alves AB et al.
676 Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, 22 (3): 675-681 jul-set., 2022
Funcionalidade na perspectiva das redes de apoio no puerpério
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Alves AB et al.
Tabela 2
Comparação da funcionalidade em relação à rede de apoio.
Redes de apoio
Referência Domínios Whodas 2.0 p
Sim Não
Nº de participantes 191 18
Comunicação e Compreensão 25 (17-38) 33 (21-48) 0,378
Mobilidade 15 (05-30) 33 (15-35) 0,019
Marido/ Companheiro Autocuidado 13 (0-31) 31 (22-38) 0,014
Relações Interpessoais 20 (10-35) 25 (20-58) 0,204
Atividade de Vida 47 (25-63) 56 (44-31) 0,064
Participação Social 25 (16-38) 31 (31-52) 0,044
Escore total 27 (16-36) 35 (28-48) 0,012
Nº de participantes 58 151
Comunicação e Compreensão 25 (17-38) 33 (19-40) 0,474
Mobilidade 15 (05-30) 20 (10-30) 0,171
Autocuidado 13 (0-31) 19 (06-31) 0,165
Pais
Relações Interpessoais 20 (10-35) 25 (10-40) 0,296
Atividade de Vida 44 (22-60) 50 (33-69) 0,061
Participação Social 28 (16-38) 28 (17-42) 0,256
Escore total 27 (16-36) 27 (20-43) 0,180
N° de participantes 123 86
Comunicação e Compreensão 33 (21-38) 25 (13-38) 0,028
Mobilidade 18 (05-30) 15 (05-30) 0,693
Autocuidado 19 (06-30) 13 (0-31) 0,276
Apoio virtual
Relações Interpessoais 28 (15-40) 20 (05-35) 0,035
Atividade de Vida 50 (35-66) 41 (19-63) 0,045
Participação Social 30 (19-38) 25 (13-38) 0,289
Escore total 29 (23-36) 22 (15-36) 0,043
N° de participantes 116 93
Comunicação e Compreensão 25 (17-38) 29 (17-38) 0,090
Mobilidade 10 (05-30) 20 (06-30) 0,002
Autocuidado 13 (06-31) 13 (02-31) 0,103
Amigos/ Vizinhos
Relações Interpessoais 20 (10-30) 30 (11-40) 0,001
Atividade de Vida 44 (25-59) 50 (29-72) 0,038
Participação Social 25 (16-38) 28 (16-43) 0,073
Escore total 27 (15-34) 29 (19-39) 0,003
N° de participantes 50 159
Comunicação e Compreensão 25 (17-38) 29 (17-38) 0,376
Mobilidade 15 (10-30) 15 (05-30) 0,873
Autocuidado 19 (06-31) 13 (0-31) 0,528
Alguém contratado
Relações Interpessoais 25 (10-35) 20 (10-40) 0,917
Atividade de Vida 47 (31-64) 47 (24-63) 0,933
Participação Social 28 (19-34) 28 (16-41) 0,950
Escore total 28 (19-33) 27 (16-36) 0,760
N° de participantes 25 184
Comunicação e Compreensão 21 (17-38) 29 (17-38) 0,814
Mobilidade 25 (05-35) 15 (05-29) 0,779
Autocuidado 19 (0-31) 13 (05-29) 0,968
Serviços de saúde
Relações Interpessoais 15 (10-35) 20 (10-40) 0,558
Atividade de Vida 56 (44-66) 44 (25-63) 0,413
Participação Social 28 (19-44) 25 (16-38) 0,140
Escore total 31 (27-34) 26 (17-37) 0,721
Os dados referentes ao escore do Whodas 2.0 para cada domínio são expressos em mediana (intervalo interquartil). Teste de Mann-Whitney U. Nível de significância de
p<0,05.
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Funcionalidade na perspectiva das redes de apoio no puerpério
Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, 22 (3): 675-681 jul-set., 2022 679
Alves AB et al.
os riscos de saúde desde a primeira semana do pós-parto, da Escala de Avaliação de Incapacidades da Organização
a partir da escuta qualificada, da criação de vínculo Mundial de Saúde (WHODAS 2.0) para o Português.
paciente e profissional e pela detecção das barreiras e dos Rev Assoc Med Bras. 2013; 59 (3): 234-40.
facilitadores de promoção em saúde, é possível intervir e
2. Silveira C, Parpinelli MA, Pacagnella RC, Andreucci
evitar agravos da funcionalidade da mulher.11,17
CB, Ferreira EC, Angelini CR, et al. A cohort study of
Compreender a dinâmica das redes de apoio no
functioning and disability among women after severe
puerpério contribui para o desenvolvimento de um olhar
maternal morbidity. Int J Gynecol Obstetr. 2016 Jul; 134
ampliado e humanizado sobre as condições de saúde da
(1): 87-92.
mulher e da efetividade da rede de atenção em saúde.8,11 A
implementação da ação em saúde promove o aleitamento 3. Benítez NS. La experiencia de lamaternidad en mujeres
materno e maior segurança para os cuidados com o bebê, feministas. Nómadas. 2016; 44: 255-67.
além de sensibilizar os indivíduos em torno da mulher 4. Hernandez BP. Alteraciones en el vínculo materno infantil:
sobre suas atuais condições de saúde.12 Possibilita, ainda, prevalencia, factores de riesgo, criterios diagnósticos y
a desconstrução da visão biomédica estruturada dentro estrategias de evaluación. Rev Univ Ind Santander Salud.
dos serviços de saúde e exercida sobre a Rede Materno- 2016; 48 (2): 164-76.
Infantil.
O apoio é capaz de empoderar a mulher às questões 5. Castro SS, Castaneda L, Araújo ES, Buchalla CM. Aferição
da maternidade, principalmente na amamentação de funcionalidade em inquéritos de saúde no Brasil:
materna exclusiva. 12 Ademais, a seguridade favorece discussão sobre instrumentos baseados na Classificação
a criação de vínculo entre o binômio mãe-bebê, por Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
consequência, diminui a insegurança nos cuidados com (CIF). Rev Bras Epidemiol. 2016; 19 (3): 679-87.
o bebê e propicia melhor desenvolvimento infantil. 13 6. Brasil ACO. Promoção de Saúde e a Funcionalidade
Estratégias facilitadoras durante todo o ciclo gravídico- Humana. Rev Bras Prom Saúde. 2013; 26 (1): 1-4.
puerperal devem ser construídas em conjunto à uma
7 . Marin A, Piccinini CA. Famílias uniparentais: a mãe solteira
equipe multiprofissional, tendo a família a ser constituída
na literatura. Psico. 2009 [acesso em 2020 jul 27]; 40
como protagonista dessa ação. 9 É preciso que as
(4): 422-9. Disponível em: https://revistaseletronicas.
práticas acolhedoras sejam estimuladas, estabelecendo a
pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/2683
humanização nos serviços de saúde e até mesmo dentro
do suporte social ao redor de uma mulher-mãe.17 8. Rapoport A, Piccinini CA. Apoio social e experiência da
A partir dos resultados apresentados concluímos maternidade. J Hum Growth Dev. 2006; 16 (1): 85-96.
que a rede de apoio presencial favorece uma melhor
9. Jordão RRR, Cavalcanti BMC, Marques DCR, Perrelli
funcionalidade no período puerperal. Porém, são
JGA, Mangueira SO, Guimarães FJ, et al. Acurácia
necessários mais estudos com outros perfis de mulheres,
das características definidoras do diagnóstico de
principalmente das que se encontra em vulnerabilidade
enfermagem Desempenho do Papel Ineficaz. Rev Eletr
social, tendo como base, coletas que também incluam as
Enf. 2017 [acesso em 2020 jul 27]; 19: 1-10.
puérperas sem acesso à Internet.
10. Cremonese L, Wilhelm LA, Prates LA, Paula CC,
Contribuição dos autores Sehnem GD, Ressel LB. Social support from the
perspective of postpartum adolescents. Esc Anna Nery.
Alves AB ficou responsável pela elaboração do projeto de 2017; 21 (4): e20170088.
pesquisa, pela coleta dos dados, tabulação das variáveis,
11. Li Y, Long Z, Cao D, Cao F. Social support and
interpretação e análise dos dados, escrita e revisão do
depression across the perinatal period: a longitudinal
artigo. Pereira TRC e Aveiro MC ficaram responsáveis
study. J Clin Nurs. 2017 Sep; 26 (17-18): 2776-83.
pela análise dos dados e revisão da escrita final. Cockell
FF foi orientadora e supervisora do projeto, contribuindo 12. Rêgo RMV, Souza AMA, Rocha TNA, Alves MDS.
no delineamento do estudo, revisão da escrita e análise Paternidade e amamentação: mediação da enfermeira.
dos dados. Todos os autores aprovaram a versão final do Acta Paulista Enferm. 2016; 29 (4): 374-80.
artigo e declaram não haver conflito de interesse. 13. Senturk V, Hanlon C, Medhin G, Dewey M, Araya M,
Alem A, et al. Impact of perinatal somatic and common
Referências mental disorder symptoms on functioning in Ethiopian
women: The P-MaMiE population-based cohort study.
1. Silveira C, Parpinelli MA, Pacagnella RC, Camargo RS, J Affect Disord. 2012 Feb; 136 (3): 340-9.
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14. Kaufmann R, Buckner MM, Ledbetter AM. Having Fun 16. Sacramento I. A saúde numa sociedade de verdades. Rev
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