STJ - ANPP - Procedência Parcial

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 2016905 - SP (2022/0236066-5)

RELATOR : MINISTRO MESSOD AZULAY NETO


AGRAVANTE : CARISA REGINA CAMPOS DE SOUZA
ADVOGADOS : ALBERTO ZACHARIAS TORON - SP065371
MICHEL KUSMINSKY HERSCU - SP332696
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

EMENTA

PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP). ART. 28-A
DO CPP. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA PRETENSÃO PUNITIVA.
ALTERAÇÃO DO QUADRO FÁTICO JURÍDICO. NOVO PATAMAR DE
APENAMENTO. CABIMENTO DO ANPP. RECONSIDERAÇÃO DA
DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO.
I - É cabível o acordo de não persecução penal na procedência parcial da
pretensão punitiva.
II - No caso em tela, o e. Tribunal a quo, ao julgar o recurso de apelação
interposto pela Defesa, deu-lhe parcial provimento, a fim de reconhecer a
continuidade delitiva entre os crimes de falsidade ideológica (CP, art. 299),
tornando, assim, objetivamente viável a realização do acordo de não persecução
penal, em razão do novo patamar de apenamento – pena mínima cominada inferior
a 4 (quatro) anos. Houve, portanto, uma relevante alteração do quadro fático
jurídico, tornando-se potencialmente cabível o ANPP.
III - Assim, nos casos em que houver a modificação do quadro fático jurídico,
como no caso em questão, e ainda em situações em que houver a desclassificação
do delito - seja por emendatio ou mutatio libelli -, uma vez preenchidos os
requisitos legais exigidos para o ANPP, torna-se cabível o instituto negocial.
Agravo regimental provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo no
julgamento, por unanimidade, dar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros João Batista Moreira (Desembargador convocado do TRF1),
Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik votaram com o Sr.
Ministro Relator.

Brasília, 07 de março de 2023.

Ministro Messod Azulay Neto


Relator
Superior Tribunal de Justiça S.T.J
Fl.__________

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2022/0236066-5 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 2.016.905 / SP
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00007844220188260326 20210000932155 7844220188260326


EM MESA JULGADO: 28/02/2023

Relator
Exmo. Sr. Ministro MESSOD AZULAY NETO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ELIZETA MARIA DE PAIVA RAMOS
Secretário
Bel. MARCELO FREITAS DIAS
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CARISA REGINA CAMPOS DE SOUZA
ADVOGADOS : ALBERTO ZACHARIAS TORON - SP065371
MICHEL KUSMINSKY HERSCU - SP332696
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a Fé Pública - Falsidade ideológica

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : CARISA REGINA CAMPOS DE SOUZA
ADVOGADOS : ALBERTO ZACHARIAS TORON - SP065371
MICHEL KUSMINSKY HERSCU - SP332696
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTOU ORALMENTE: DR. MICHEL KUSMINSKY HERSCU (P/AGRAVANTE)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após sustentação oral, pediu vista regimental o Sr. Ministro Relator."
Aguardam os Srs. Ministros João Batista Moreira (Desembargador convocado do
TRF1), Reynaldo Soares da Fonseca e Joel Ilan Paciornik.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ribeiro Dantas.

C54252455109845840=560@ 2022/0236066-5 - REsp 2016905 Petição : 2022/0114741-3 (AgRg)


Superior Tribunal de Justiça S.T.J
Fl.__________

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2022/0236066-5 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 2.016.905 / SP
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00007844220188260326 20210000932155 7844220188260326


EM MESA JULGADO: 07/03/2023

Relator
Exmo. Sr. Ministro MESSOD AZULAY NETO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. LUCIANO MARIZ MAIA
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CARISA REGINA CAMPOS DE SOUZA
ADVOGADOS : ALBERTO ZACHARIAS TORON - SP065371
MICHEL KUSMINSKY HERSCU - SP332696
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a Fé Pública - Falsidade ideológica

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : CARISA REGINA CAMPOS DE SOUZA
ADVOGADOS : ALBERTO ZACHARIAS TORON - SP065371
MICHEL KUSMINSKY HERSCU - SP332696
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
" Prosseguindo no julgamento, a Turma, por unanimidade, deu provimento ao
agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros João Batista Moreira (Desembargador convocado do TRF1),
Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik votaram com o Sr.
Ministro Relator.

C54252455109845840=560@ 2022/0236066-5 - REsp 2016905 Petição : 2022/0114741-3 (AgRg)


AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 2016905 - SP (2022/0236066-5)

RELATOR : MINISTRO MESSOD AZULAY NETO


AGRAVANTE : CARISA REGINA CAMPOS DE SOUZA
ADVOGADOS : ALBERTO ZACHARIAS TORON - SP065371
MICHEL KUSMINSKY HERSCU - SP332696
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

EMENTA

PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL (ANPP). ART. 28-A DO CPP.
PROCEDÊNCIA PARCIAL DA PRETENSÃO PUNITIVA.
ALTERAÇÃO DO QUADRO FÁTICO JURÍDICO. NOVO
PATAMAR DE APENAMENTO. CABIMENTO DO
ANPP. RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO
AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO.
I - É cabível o acordo de não persecução penal na
procedência parcial da pretensão punitiva.
II - No caso em tela, o e. Tribunal a quo, ao julgar o
recurso de apelação interposto pela Defesa, deu-lhe parcial
provimento, a fim de reconhecer a continuidade delitiva
entre os crimes de falsidade ideológica (CP, art. 299),
tornando, assim, objetivamente viável a realização do acordo
de não persecução penal, em razão do novo patamar de
apenamento – pena mínima cominada inferior a 4 (quatro)
anos. Houve, portanto, uma relevante alteração do quadro
fático jurídico, tornando-se potencialmente cabível o ANPP.
III - Assim, nos casos em que houver a modificação do
quadro fático jurídico, como no caso em questão, e ainda em
situações em que houver a desclassificação do delito - seja
por emendatio ou mutatio libelli -, uma vez preenchidos os
requisitos legais exigidos para o ANPP, torna-se cabível o
instituto negocial.
Agravo regimental provido.
RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental no recurso especial interposto por CARISA


REGINA CAMPOS DE SOUZA, contra decisão monocrática (fls. 654-665), na qual foi
negado provimento ao recurso especial.

Depreende-se dos autos que a agravante foi condenada como incursa nas
sanções dos arts. 299, parágrafo único, c/c 327, § 1°, e 69, por sete vezes, todos do
CP, à pena de 9 (nove) anos, 6 (seis) meses e 10 (dez) dias de reclusão, em regime
inicial fechado, e a 84 (oitenta e quatro) dias-multa.

A defesa interpôs apelação. O eg. Tribunal de origem, por unanimidade, deu


parcial provimento ao recurso, para reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes
de falsidade ideológica, afastando-se o concurso material, redimensionando a pena para
1 (um) ano, 9 (nove) meses e 25 (vinte e cinco) dias de reclusão, e pagamento de 16
(dezesseis) dias-multa, alterando-se o regime fechado para o aberto para início de
cumprimento da pena, com a substituição da pena corporal por prestação de serviços
comunitários e prestação pecuniária de 1 (um) salário-mínimo (fls. 504-523). O v.
acórdão restou assim ementado (fl. 506):

"APELAÇÃO CRIMINAL - Falsidade Ideológica praticada


por agente no exercício de função pública - Artigo 299, “caput”,
parágrafo único, c. c. o artigo 327, § 1°, do Código Penal - Sentença
condenatória - Absolvição por insuficiência probatória - Descabimento
- Materialidade e autoria bem caracterizadas pelo robusto conjunto
probatório - Condenação que se impõe - Dosimetria penal que merece
reparos - Continuidade delitiva reconhecida entre os crimes, uma vez
que preenchidos os requisitos do artigo 71 do Código Penal - Afastado
o concurso material - Fixado o regime aberto para início de
cumprimento de pena - Substituição da pena privativa de liberdade por
duas restritivas de direitos - Cabimento, haja vista que se encontram
preenchidos os requisitos do artigo 44, do Código Penal -
Prequestionamento implícito - Recurso parcialmente provido".

A defesa opôs embargos de declaração. O eg. Tribunal de origem, por


unanimidade, rejeitou o recurso (fls. 598-603).

A defesa interpôs recurso especial, com fulcro no art. 105, inciso III, alínea a,
da Constituição da República, alegando:

i) contrariedade ao art. 2º, parágrafo único, do CP, "ao deixarem de


aplicar aos fatos uma lei posterior - o art. 28-A do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/19 -
que favorece a Recorrente, a fim de viabilizar o oferecimento de ANPP" (fl. 533);

ii) negativa de vigência ao art. 28-A, caput e § 14, do CPP, "ao impedirem
que o MP sequer analisasse a possibilidade de ofertar o ANPP, conforme determina o
dispositivo" (fl. 533).

Pleiteou pelo provimento do recurso especial, "a fim de debelar a


contrariedade ao art. 2º, parágrafo único, do CP e a negativa de vigência ao art. 28-A,
caput, e § 14, do CPP, decorrentes da negativa de remessa do feito ao MP, para avaliar
a possibilidade de celebração de ANPP, visto que flagrantemente insustentável o
argumento de que não se pode discutir a composição após a condenação" (fl. 543).

Apresentadas as contrarrazões (fls. 612-620), o recurso foi admitido na origem


(fl. 630) e os autos ascenderam a esta Corte Superior.

O Ministério Público Federal manifestou-se pelo desprovimento do recurso


especial (fls. 647-652).

O recurso especial foi desprovido, em decisão assim ementada (fl. 654):

"PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL.


ACORDODE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP). ART. 28-A DO
CPP. IMPOSSIBILIDADE. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA EM
MOMENTO ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI N. 13.964/2019.
SÚMULA 568/STJ. INCIDÊNCIA. RECURSO ESPECIAL
DESPROVIDO".

Nas razões deste regimental (fls. 671-684), a defesa pontua que: "1. Acordo de
não persecução penal que somente se tornou viável, pela pena mínima, após o parcial
provimento do recurso de apelação que reconheceu a continuidade delitiva entre os
supostos crimes; 2. Requerimento de remessa dos autos ao MP para oferecimento do
ANPP na primeira oportunidade após o julgamento do recurso ordinário; 3.
Particularidade que revela possibilidade de aplicação do instituto, independentemente de
qualquer discussão a respeito da retroatividade da Lei nº 13.964/2019; Aplicação
imediata no momento em que se tornou objetivamente possível pela pena mínima; 4.
Retroatividade para casos não transitados em julgado reconhecida em diversos
precedentes deste eg. STJ e do col. STF; 5. Natureza mista da norma que tem efeitos
penais e leva à extinção da punibilidade" (fl. 672).

Aduz que "em primeiro lugar, no caso específico, o ANPP tornou-se


admissível somente após o julgamento da apelação pelo eg. TJSP", que "somente nesse
momento o caso passou a se enquadrar no critério objetivo -pena mínima menor que 4
(quatro) anos- previsto no art. 28-A do CPP para viabilizar o Acordo de Não Persecução
Penal. Até então, não era possível requerer o ANPP, pois os moldes em que definida a
imputação jurídico-penal pelo Parquet (preceito incriminador capitulado em concurso
material) inviabilizavam a propositura do acordo" (fl. 674), salientado "que, antes do
julgamento da apelação, o caso não se enquadrava nos requisitos objetivos do art. 28-A
do CPP" (fl. 675).

Assevera que "no que atina com a retroatividade da norma, a justificativa


utilizada para negar provimento monocraticamente ao recurso pela suposta não
retroatividade -qual seja, a incidência da Súmula nº 568 do STJ e do art. 255, § 4º, inciso
II do RISTJ- não é aplicável ao caso em apreço. Isso porque, data venia, o entendimento
deste eg. STJ quanto à retroatividade ou não do ANPP para fatos ocorridos antes da
vigência da Lei nº 13.964/2019 está longe de ser pacificado. Justamente por isso a
questão foi afetada ao regime dos recursos repetitivos por meio do REsp nº 1.890.344, o
qual ainda não foi julgado" (fls. 674-675), ressaltando ainda que "no eg. STF, a situação
é a mesma: não há entendimento fixo a respeito do ponto" (fl. 676).

Afirma "que a compreensão da r. decisão agravada quanto a natureza do


instituto e sua aplicabilidade, com todo o respeito, não procede", que, "em primeiro
lugar, a r. decisão equivocadamente desconsidera a natureza mista do art. 28-A do CPP"
, que "a lei em comento possui implicações de direito material, uma vez que o
cumprimento do acordo de não-persecução penal gera a extinção da punibilidade do
agente (art. 28-A, §13º, do CPP) e, portanto, possui natureza mista" (fl. 677).

Salienta que é equivocado “limitar a retroatividade dos efeitos materiais da


lei por causa da disposição processual tempus regit actum. Isso pela seguinte razão: a
retroatividade benéfica material, além de regida pelo art. 2º, parágrafo único, do CP, é
imposta por comando constitucional (art. 5º, inc. XL, CF/88), enquanto o tempus regit
actum processual é previsto somente em norma hierarquicamente inferior, o art. 2º do
CPP. Dessa forma, a Lei nº 13.964/19 deve retroagir naquilo que tiver efeitos materiais
benéficos ao réu, como é o caso do ANPP" (fl. 678).

Afirma, ainda, que "a doutrina abalizada e a jurisprudência recente do eg.


STF vêm entendendo que por ser lei de caráter misto (penal e processual), o novo art.
28-A do CPP deve retroagir a casos existentes antes da vigência da lei, mesmo que já
oferecida a denúncia" (fls. 682-683).

Ao final, pugna pela reconsideração da decisão agravada, postulando "que seja


provido o Recurso Especial, em razão da contrariedade ao art. 2º, parágrafo único, do
CP e da negativa de vigência ao art. 28-A, caput, e § 14, do CPP, remetendo-se o feito
ao MP para que se avalie a possibilidade de celebração de ANPP" (fl. 683), e,
subsidiariamente, pela apresentação do recurso ao Colegiado.

Iniciado o julgamento em 28/02/2023, após sustentação oral, houve pedido de


minha relatoria de vista regimental (fl. 689).

É o relatório.

VOTO

Diante dos argumentos apresentados pela defesa e melhor analisando a


matéria, tenho que o presente recurso deve ser provido.

No caso em tela, houve uma relevante alteração do quadro fático jurídico,


tornando-se potencialmente cabível o instituto negocial do ANPP. Afinal, o e. Tribunal a
quo, ao julgar o recurso de apelação interposto pela Defesa, deu-lhe parcial provimento, a
fim de reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de falsidade ideológica (CP, art.
299), tornando, assim, objetivamente viável a realização do referido acordo, em razão do
novo patamar de apenamento – pena mínima cominada inferior a 4 (quatro) anos.

Trata-se, mutatis mutandis, de raciocínio similar àquele constante da Súmula


n. 337 desta Corte Superior, a saber: “É cabível a suspensão condicional do processo na
desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva”.

De fato, ao longo da ação penal até a prolação da sentença condenatória, o


ANPP não era cabível, seja porque a Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime) entrou em
vigor em 23/1/2020, ou seja, após o oferecimento da denúncia (26/4/2019), seja porque o
crime imputado – falsidade ideológica, por sete vezes, em concurso material – não
tornava viável o referido acordo, tendo em vista que a pena mínima cominada era
superior a 4 (quatro) anos, em razão do concurso material de crimes.

Ocorre que o e. Tribunal de origem, em 17/1/2021, i.e., já na vigência da Lei


n. 13.964/2019, deu parcial provimento ao recurso de apelação interposto pela Defesa
para reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de falsidade ideológica,
afastando, assim, o concurso material.

Essa modificação do quadro fático jurídico não somente resultou numa


considerável redução da pena (de 9 anos, 6 meses e 10 dias de reclusão para 1 ano, 9
meses e 25 dias de reclusão), mas também tornou objetivamente cabível a formulação
de acordo de não persecução penal, ao menos sob o aspecto referente ao requisito da
pena mínima cominada ser inferior a 4 (quatro) anos, conforme previsto no art. 28-A do
CPP.

Sobre o tema, o seguinte precedente do c. STF:

"Habeas corpus.
(...)
4. No caso concreto, em alegações finais, o MP posicionou-
se favoravelmente à aplicação do redutor de tráfico privilegiado. Assim,
alterou-se o quadro fático, tornando-se potencialmente cabível o
instituto negocial.
5. Ordem parcialmente concedida para determinar sejam os
autos remetidos à Câmara de Revisão do Ministério Público Federal, a
fim de que aprecie o ato do procurador da República que negou à
paciente a oferta de acordo de não persecução penal" (HC n. 194.677,
Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 13/08/2021, grifei).

Assim, nos casos em que houver a modificação do quadro fático jurídico,


como no caso em questão, e ainda em situações em que houver a desclassificação do
delito - seja por emendatio ou mutatio libelli -, uma vez preenchidos os requisitos legais
exigidos para o ANPP, torna-se cabível o instituto negocial.

Cabe salientar, ainda, que no caso dos autos não se faz necessária a discussão
acerca da questão da retroatividade do ANPP, mas sim unicamente a circunstância de que
a alteração do quadro fático jurídico tornou potencialmente cabível o instituto negocial,
de maneira que o entendimento externado na presente decisão não entra em
confronto com a jurisprudência desta Corte Superior.

Ante o exposto, reconsidero a decisão agravada, e dou provimento ao agravo


regimental no recurso especial, para reconhecer a aplicação retroativa do art. 28-A
do CPP, e determino a conversão da ação penal em diligência, a fim de oportunizar
ao Ministério Público a propositura de eventual Acordo de Não Persecução Penal.

É o voto.

Você também pode gostar