A (Re) Produção Do Capital Na Periferia Da Periferia: O: Desenvolvimento e o "Subdesenvolvimento" Do Nordeste em Questão
A (Re) Produção Do Capital Na Periferia Da Periferia: O: Desenvolvimento e o "Subdesenvolvimento" Do Nordeste em Questão
A (Re) Produção Do Capital Na Periferia Da Periferia: O: Desenvolvimento e o "Subdesenvolvimento" Do Nordeste em Questão
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Doutora. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]
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Estudante de Pós. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
1 – INTRODUÇÃO
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Cf. especialmente a tese intitulada “Nas Trilhas do Crédito Fundiário: A Luta pela
Sobrevivência entre a Terra e o Assalariamento na Agroindustria Canavieira de Pernambuco”,
defendida no Programa de Pós-Graduação de Serviço Social da UFPE, 2014.
conceitualmente determinadas regiões, levando em consideração apenas suas
características geográficas (embora, ao mesmo tempo e sem nos deixar levar por uma
perspectiva determinista, também reconheçamos a sua importância). Todavia, neste
trabalho, buscamos compreender dada região, a partir das características que atestam
uma forma específica de produção e reprodução do capital no espaço. Por isso
mesmo, acreditamos que
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Na década de 1950 e até metade dos anos 1960, o pensamento intelectual da esquerda
brasileira, sobre a realidade nacional, foi hegemonizado por uma perspectiva analítica que ficou
conhecida como “dualista”. A estrutura econômica, política e social brasileira era concebida
pelos adeptos dessa perspectiva como constituída por dois polos opostos: um setor “atrasado”
e um setor “moderno”. Nesse raciocínio, uma parcela da economia brasileira composta por
baixo custo da força de trabalho rural propiciou o êxodo rural e a formação de um
exercito de reserva de assalariados, sendo fundamental para a produção industrial e a
acumulação do capital, ou seja, para alavancar o “moderno”. O “arcaico” e o
“moderno” seriam duas dimensões dialéticas do processo de desenvolvimento
capitalista5. Assim, “[...] a expansão do capitalismo no Brasil se dá introduzindo
relações novas no arcaico e reproduzindo relações arcaicas no novo [...]” (OLIVEIRA,
2003, p. 36).
Esse desenvolvimento desigual é tratado por Iamamoto (2001, p.102), quando
refere-se a essa acepção em Marx. Para a autora,
6 Sobre esta questão, ressalta Kaio Fernandes, em sua tese de doutoramento: “Apesar da
importância dos agentes públicos como promotores do crescimento e de uma maior
participação do capital industrial na economia regional nordestina, não foram criados
obstáculos à reprodução e ampliação das frações dos capitais mercantis na região, nem muito
menos ao seu poder político, atrelados aos interesses das oligarquias regionais e locais”
(FERNANDES, 2011, p. 59).
Brasil, em razão, fundamentalmente, do volume de investimentos públicos
(infraestrutura) e privados (indústria) efetuados durante os anos 1960 e 1970. Quando
da grande recessão que atingiu o país nos anos 1980, provocada pela crise do setor
externo, em virtude da cessação dos financiamentos do "resto do mundo" , em 1982, e
da decretação de moratória em 1987, a economia nordestina foi mais resistente,
apresentando incremento médio anual de 3,3%, contra o de 1,6% registrado no Brasil.
De acordo com a publicação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste -
SUDENE, as taxas de crescimento do PIB do Nordeste em anos de seca na década
1990 foram: -5,9% em 1990; -1,5% em 1992; -1,8% em 1993; e 1,5% em 1998.
(SUDENE, 1999).
O bom desempenho da economia da região Nordeste nas décadas 1980/1990
assegurou que o PIB regional passasse de US$ 22,9 bilhões em 1960, para US$
129,0 bilhões, no ano de 1997, transformando assim sua participação em relação ao
PIB brasileiro de 13,2% (1960) para 16,0% (1997). O resultado foi à elevação do PIB
per capita regional de US$ 1.029,56 em 1960, para a cifra de US$ 2.813,31 em 1997,
mudando sua participação em comparação com a mesma variável do País de 41,9%
(1960), para 55,8% no ano de 1997. (SUDENE, 1999)
Na década de 1990, as classes dominantes brasileiras subordinaram a eco-
nomia do país ao capital internacional financeiro. Esse novo padrão de acumulação do
capital internacional se apoderou das principais empresas estatais e privadas,
desnacionalizaram os principais setores estratégicos da indústria, do comércio e
serviços. E passaram também a controlar a agricultura brasileira. O Estado se
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transformou no principal fiador e viabilizador desse modelo , ocorrendo a redução de
tarifas de importação, a eliminação de barreiras tarifárias que geraram aumento de
produtividade, forte queda nos preços dos produtos industriais e elevaram as
importações e exportações de produtos primários. Daí justifica-se o aumento do PIB
em todas as regiões do país, mas também, um acelerado e intenso processo de
exploração, empobrecimento e precarização da vida da classe trabalhadora.
Nos anos 2000, é representativo o retorno ao planejamento regional na
economia brasileira, sobretudo a partir de 2006. Entre 1988 a 2001 predominou a
execução de políticas de ajuste estrutural ao neoliberalismo. Já entre 2002-2009,
período nomeado de neodesenvolvimentismo, identifica-se, na região um impulso às
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O Estado “repassa na forma de financiamento subsidiado para investimentos, utilizando-se do
sistema bancário público, Banco do Brasil, BNDES, BNB, SUDENE, assim como o Estado foi o
gestor da transferência de renda nacional para o capital internacional a partir da década de
1970, no pagamento da dívida externa”. (Consulta Popular, 2011, p. 35)
atividades produtivas. Podem-se destacar três períodos distintos entre o período
neoliberal e o novo desenvolvimentismo. Primeiro, entre 1988 e 1995 verifica-se queda
acentuada da participação do Nordeste no PIB total do país. No período 1996-2002 se
mantém praticamente estável, seguido de perda nos dois anos seguintes. No entanto,
desde 2005 a economia nordestina tem se recuperado, alcançando em 2009 sua
maior participação desde 1986, cerca de 13,5%. Contudo, esse crescimento só não foi
maior devido à crise financeira que atingiu o país.
Bacelar (2000, p. 173) afirma que há uma heterogeneidade econômica muito
grande na região Nordeste, com ilhas de desenvolvimento com intensa modernização.
Uma “[...] tendência de acumulação privada reforçadas pela ação estatal, quando não
comandadas pelo Estado brasileiro fizeram surgir e se desenvolver no Nordeste
diversos subespaços dotados de estruturas econômicas modernas e ativas, focos de
dinamismo”.
Na análise de Manoel Correia de Andrade (1981), até os primeiros anos do
século XX a existência de uma elite político-econômica apoiada na posse de grandes
extensões de terra obstaculizou e/ou retardou medidas com viés de desenvolvimento
industrial. Ora, para tal segmento esta forma de organização da sociedade rendia-lhe
diversos benefícios e, nesse sentido, fazia força para rejeitar quaisquer intervenções
com vista a alterar esta realidade. Inclusive, um dos princípios defendidos por essa
elite local era a ideia de que o Brasil “[...] deveria permanecer como um país
eminentemente agrícola, dedicado a produção de materiais primas vegetais e minerais
para a exportação” (ANDRADE, 1981, p. 22).
Nesse sentido, sabemos que entre os anos 1930/1960, em nível nacional,
ocorria o processo de concentração e desenvolvimento progressivo de um parque
industrial na região Sudeste do país, derivando-se daí, uma série de consequências
econômicas e sociais para a região Nordeste, cuja situação de desvantagem
evidenciava-se facilmente, se comparada ao dinamismo das regiões Sul e Sudeste.
Tal discrepância não acontece por um acaso. Em verdade, inúmeros fatores
confluíram para isso, senão, vejamos:
3- CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS