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SEQUÊNCIA LITERÁRIA BÁSICA COM O GÓTICO:

O MÉDICO E O MONSTRO
Ana Carla Chagas1
Daise Lilian Fonseca Dias2
Wanilly do Nascimento Félix3

RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de intervenção pedagógica a partir do modelo
de sequência básica de Cosson (2016), tendo como obra central, o romance O médico e o Monstro
(1886), de Robert Louis Stevenson, e outros textos que também foram construídos com a temática do
gótico. Essa proposta é resultado de estudos do Mestrado Profissional em Letras, e tem como foco os
alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, mas pode ser adaptada para outros níveis escolares.
Realizamos uma revisão bibliográfica do estado da arte em relação às concepções de sequência
literária, o trabalho com a leitura e escrita, o gótico, e o texto literário na sala de aula que
fundamentaram nossa proposta. Para tanto, utilizamos os pressupostos crítico-teóricos de autores
renomados, tais como: Antunes (2003), Baldick (1996), Colomer (2007), Cosson (2016), Cuddon
(1996), Hogle (2002), Jouve (2012), Rangel (2009), Rouxel (2013), Terra (2014) entre outros, com
vistas também à promoção do letramento literário. Esta proposta busca aprimorar nos alunos as
habilidades de leitura, escrita, linguística e oralidade, através da literatura gótica. Utilizamos como
norte, a sequência básica de Cosson (2016), e detalharemos todos os passos por ele propostos:
motivação, introdução, leitura e interpretação. Durante cada etapa, apresentaremos sugestões
metodológicas detalhadas e fundamentadas teoricamente, como também análises das obras góticas
(estrangeiras e brasileiras) envolvendo vários gêneros textuais. Com isto, esperamos que nosso
trabalho seja útil para inovações nas aulas de literatura e como alternativa de trabalho e sugestão para
outras práticas de leitura nas salas de aula.

PALAVRAS – CHAVE: Sequência literária, gótico, leitura e literatura.

INTRODUÇÃO

A sequência didática básica proposta neste artigo consiste em um plano de trabalho


com o texto literário, envolvendo gêneros textuais diversos, estabelecendo uma inter-relação
entre textos e autores variados, com foco em uma mesma temática “o gótico”. Entretanto,
diferente daquelas que os professores têm acesso no seu cotidiano escolar, todos os passos são
justificados teoricamente, propiciando um conhecimento ao professor sobre as metodologias
utilizadas. Isso facilitará para que eles tenham embasamento necessário e consigam aplicar
esta proposta em sala de aula, bem como elaborar outras sequências com segurança, além de
executá-las.
1
Mestra pelo Curso de Mestrado em Letras – PROFELETRAS da Universidade Federal de Campina Grande -
UFCG; [email protected];
2
Doutora em Letras pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB; [email protected];
3
Mestra pelo Curso de Mestrado em Letras – PROFELETRAS da Universidade Federal de Campina Grande -
UFCG; [email protected];
É tentando superar as dificuldades com o trabalho envolvendo o texto literário que
utilizamos nesta proposta de sequência básica o romance clássico, O médico e o Monstro
(1886), de Robert Louis Stevenson, da coleção L&PM POCKET (tradução de José Paulo
Golob, Maria Ângela Aguiar e Roberta Sartori), como texto-base para as atividades que
envolvem o trabalho a ser concretizado com os alunos. Vale salientar que o professor pode
utilizar (algumas de suas partes, ou o todo), e/ou adaptá-las de acordo com suas necessidades
e a realidade de cada turma.

METODOLOGIA

O presente trabalho constitui-se em uma pesquisa de natureza bibliográfica interligada


com uma proposta didática e metodológica de intervenção a ser utilizada pelo professor de
Língua Portuguesa do 9º ano do Ensino Fundamental. Essa revisão bibliográfica foi de grande
importância para nós, servindo-nos como suporte teórico para realizarmos reflexões sobre
nossa temática, nossas vivências em sala e, acima de tudo, para a elaboração de nossa
proposta de intervenção. Por meio dela, acreditamos ser capazes de transformar nossas
realidades em sala, mas também auxiliar os professores com o que nesta pesquisa é
apresentado, sobretudo visando motivá-los a serem pesquisadores e promotores de novas
propostas, na busca por uma melhoria em sua práxis.
Sendo assim, apresentamos uma proposta de intervenção didática envolvendo o
letramento literário, através da sequência básica proposta por Cosson (2016), seguindo suas
etapas, cada uma amparada e justificada por um embasamento teórico reforçado, visando a
interação e o desenvolvimento da criatividade entre os envolvidos no processo de ensino
aprendizagem, para a construção de leitores proficientes na leitura literária.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Cientes da amplitude que nos oferece Cosson (2016), abrimos um espaço com o texto
literário através de um trabalho organizado, planejado e justificado (com referências de outros
autores) envolvendo várias obras de autores renomados, através de adaptações com gêneros
textuais diversos. Possibilitando a produção textual, o desempenho da oralidade, a análise das
obras entre outros, tendo o gênero gótico como foco. Para tanto, realizaremos um trabalho
abrangendo motivação, introdução, leitura e interpretação.
Primeiro passo: Motivação – 5 horas-aula. Esta etapa está direcionada à recepção
do texto e foi planejada de forma que o aluno sentisse prazer em engajar-se e curiosidade
sobre as próximas ações da tarefa. Neste momento, podemos trabalhar com atividades
voltadas à temática do texto, sua estrutura, linguagem entre outros. De acordo com Cosson
(2016, p. 55):

[...] as mais bem-sucedidas práticas de motivação são aquelas que


estabelecem laços estreitos com o texto que se vai ler a seguir. A construção
de uma situação em que os alunos devem responder a uma questão ou
posicionar-se diante de um tema é uma das maneiras usuais de construção da
motivação.

Para essa etapa, propomos duas atividades: uma com um documentário da Discovery
Civilization que fala sobre a obra “Drácula: o vampiro da noite” de Bram Stoker, e outra, com
a construção de um fanzine, intitulado “O gótico popular”. Na primeira, objetivamos que a
partir dos conhecimentos que os alunos já possuem, eles estabeleçam uma relação entre o que
sabem, o que nos mostra o documentário e a obra. Para isso, sugerimos iniciar com uma
discussão oral norteada pelo questionamento “O que vocês sabem sobre Drácula?” para
depois, exibir o documentário sobre o livro Drácula, de Bram Stoker. Após a exibição,
realizar-se-á uma roda de conversa para que os alunos expressem suas impressões sobre o
documentário, especificamente sobre a obra de Stoker.
Como sugestão, apresentamos alguns questionamentos que podem nortear o início
desse trabalho. Partindo de impressões gerais para mais específicas sobre a obra:

1- Que impressões vocês tinham sobre Drácula antes do documentário e depois?


2- Que elementos são utilizados pelo autor para criar um suspense?
3- O que você entende pelo gótico a partir do documentário?
4- Que tipo de ser humano Drácula representava em relação ao período histórico?
5- Qual o papel das mulheres na obra e qual relação com o período histórico?
6- Como Drácula é visto hoje?
7- O que vocês entenderam do documentário?

É importante que o professor seja o condutor dessa conversa e apenas instigue que eles
percebam algumas características do gótico sem definí-las totalmente, pois serão
aprofundadas durante as sequências. Este será um momento que oportunizará os alunos se
expressarem e reconhecerem as transformações em suas inferências, pois como nos diz Terra
(2014, p. 65): “Por meio das inferências, o leitor preenche as lacunas de um texto, faz
antecipações, constrói um contexto cognitivo com base em esquemas que tem armazenados na
memória, permitindo-lhe processar o texto como coerente”.

Resumo de Drácula (1897), de Bram Stoker

Através de textos epistolares, tais como, bilhetes, cartas, diário, relatos cotidianos de personagens,
telegramas e pequenos textos extraídos de jornais, temos a construção de narrativas que nos
apresentam a história do Conde Drácula. Tudo começa quando o advogado Inglês Jonathan
Harker, tem a missão de trabalhar para o conde (comprar uma casa em Londres) e para isso vai passar
um período em sua residência na Transilvânia. Ao conhecê-lo, Hacker estranha alguns de seus
comportamentos e tenta desvendar quem é realmente o homem para quem está trabalhando. Em um
clima de tensão, mistérios monstruosos são revelados e ele percebe que, na verdade, é um prisioneiro
naquele lugar, e que seu cliente é um vampiro, que sobrevive sugando o sangue das pessoas. Os
ambientes fúnebres, frios, escuros, com casas e castelos antigos e caixões tornam-se propícios para os
acontecimentos. Além disso, Drácula, com a ajuda de ciganos e piratas decide ir à Londres com o
intuito de comprar terras e criar novos seres semelhantes à ele. Para isso, algumas personagens,
principalmente femininas, tornam-se suas vítimas, dentre elas, podemos destacar Mina Murray (noiva
de Jonathan) e sua amiga Lucy (que morre por seu sangue ter sido sugado pelo vampiro). Mas para
combater e lutar contra o Conde, vários personagens se unem e entram em cena juntamente com o Dr.
Abraham Van Helsing. Jonathan consegue fugir do castelo e unir-se ao grupo. Porém, Mina se torna
vítima de Drácula e os medos e cuidados na missão de combater essa criatura são redobrados. Por
outro lado, o desejo e a coragem de acabar com o gerador de todo aquele tormento faz com que
juntos, persigam o Conde de volta a sua terra e, numa batalha com os ciganos protetores do Conde,
antes do pôr do sol, com um facão Jonathan corta o pescoço de Drácula e seu amigo Morris mergulha
uma lâmina em seu coração. Tudo termina com o fim de Drácula, paz e descanso para todos até
mesmo para o vampiro, pois como demonstra a passagem a seguir relatada no diário de Mina
“Durante toda minha vida relembrei com satisfação aquele momento de dissolução final, pois,
naquele instante, houve uma expressão de paz no rosto do Conde, expressão esta que eu jamais
imaginaria poder existir ali” (STOKER, 2012, p. 404).

Na segunda, objetivamos resgatar e valorizar os conceitos e impressões que os alunos


possuem sobre o gótico, como também incentivá-los a uma pesquisa sobre o tema. Para isso,
produzirão em dupla um fanzine contendo informações sobre o gótico, a partir das suas
vivências e dessas pesquisas. Resgatamos aqui a memória coletiva não só do aluno
individualmente, mas da sua geração, da sua comunidade, para que antes mesmo de terem
contato com o texto escrito possam analisar características que aparecerão posteriormente,
pois como afirma Lima (2008, p. 38): “A experiência da leitura vai além do texto e começa
antes mesmo do contato com ele, processando-se como um diálogo entre o leitor e o que é
lido, seja escrito ou sonoro seja um gesto ou uma imagem.”
Para confecção do fanzine, em uma hora-aula, o professor propõe a pesquisa dos
alunos, na qual irão procurar informações sobre o gótico para a próxima aula. Na aula
seguinte (utilizando 2 horas-aula), o professor acompanha a montagem do fanzine, contendo
imagens de elementos góticos e explicações produzidas pelos alunos. Esse fanzine deve ser
bem colorido e os textos curtos e diretos, os alunos podem tanto desenhar como colar
figurinhas.
Somos cientes de que as informações que os alunos trarão sobre o tema serão bem
preliminares, tais como: a imagem de casas assombradas, a representação do gato preto, a
figura “um pouco distorcida” de alguns personagens, a exemplo de Drácula, Frankenstein,
Bruxa, caveiras, representações da morte, entre outros. Por tal razão, é necessário que o
professor complemente essas ideias, lembrando que estamos apenas iniciando nosso trabalho
com esse gênero. Para tanto, no quadro a seguir, fornecemos algumas informações que
poderão ser pertinentes sobre elementos góticos.

Iniciamos com a origem da palavra, pois “Goth” e “Gothic” descrevem as tribos germânicas
que saquearam Roma e assombraram toda Europa nos séculos III, IV e V d. C. A palavra significa
bárbaro e germânico, como também designava um estilo de arquitetura que nem era romano, nem
grego. A partir do século XVII, a palavra gótico tornou-se sinônimo de Idade Média, período
reconhecido como escuro e caótico. Sendo então, um termo racial antes de tornar-se um termo que
designa um gênero na arquitetura ou literatura. Logo, está ligado a questões éticas e culturais.
É um tipo de literatura considerado como popular no final do século XVIII e início do século
XIX e os enredos dos romances concentravam -se em um passado (em geral, na era medieval) e em
países estrangeiros ( em especial, nos católicos do sul da Europa). Os ambientes nos quais as
histórias aconteciam eram monastérios, castelos, prisões subterrâneas e paisagens montanhosas.
Os enredos eram desenrolados a partir de suspense e mistérios envolvendo o fantástico e o
sobrenatural, sendo que muitos romances do gênero são contos de mistérios e horror. Eles estão
repletos de elementos sobrenaturais, com uma topografia familiar, presenças e acontecimentos, tais
como: paisagens desoladas e selvagens, florestas escuras, igrejas em ruinas, salões feudais, castelos
medievais com prisões subterrâneas, passagens secretas, câmaras de tortura, aparições monstruosas,
maldições, uma terrível atmosfera de desolação, heróis e heroínas em situações macabras, vilões
terríveis, bruxas perversas, poderes demoníacos, dentre outros.
Um dos primeiros romances góticos foi O castelo de Otranto (1764, p.21) de Horace Walpole
e, segundo Freedman (1978, p. 21) em seu livro Romance, “Walpole disse que a visão crucial da sua
novela lhe surgiu num sonho, e até certo ponto toda a novela “gótica” parece um sonho, ou melhor,
um pesadelo.”
Freedman também comenta que o gótico tem um valor psico-histórico bem maior que
literário, com duas explicações possíveis para os acontecimentos nas obras: uma racional para os
efeitos sobrenaturais ou por um demónio poderoso e nos afirma que “... há mais coisas no céu e na
terra do que pensa a nossa filosofia – em especial quando se é um racionalista do século XVIII.”
(FREEDMAN,1978, p. 22)
O gótico é considerado um gênero percussor do Romantismo e, segundo Freedman, deu
origem a obra que norteia nosso trabalho com Frankenstein, de Mary Wollstonecraft Shelley, que
desde então alcançou a consciência do público.
A seguir, mais algumas características comuns do gótico literário:
Herói monstro/vilão essa busca corajosa pelo conhecimento proibido ou poder sempre leva o
herói, como já mencionamos, à ruina, à corrupção, ou destruição, fazendo com que o herói na
literatura gótica seja frequentemente um “vilão”. Esse herói ou é isolado dos outros pela sua
decadência , ou se torna um monstro ( como exemplo, temos Heathclif na obra O morro dos ventos
uivantes e Rochester em Jane Eyre). Ele também pode viver em constante confronto com o seu duplo
(Dr. Jekyll no Médico e o Monstro e Dr. Victor e a criatura na obra Frankenstein). Torna-se um
“herói satânico” desafiando as leis do universo.
Monstros, bruxas, espíritos, anjos e fantasmas frequentemente simbolizam as forças
conflitantes dentro da alma humana. O herói pode ser tentado por espíritos maus ou redimido por
bons espíritos que simbolizam o potencial do herói para o bem ou para o mal. Os fantasmas são
espíritos que podem representar alguns aspectos de experiências do protagonista que “não morrem,”
que não podem ser reprimidos e lhe é inescapável.
Sonhos/visões. O conhecimento escondido do universo da natureza humana emerge através
de sonhos, porque, enquanto o indivíduo dorme, a razão adormece, e o sobrenatural, o mundo
irracional se apresenta. Sendo assim, desejos obscuros e verdades terríveis podem ser reveladas.
Castelos/casas assombradas refletem o perfil psicológico do protagonista. Os cômodos
secretos podem simbolizar as profundezas escondidas da mente e aspectos desconhecidos da psique
que estão além do controle racional. Ex: O laboratório secreto de Frankenstein.
Mútliplas narrativas. A história é contada através de uma série de manuscritos ou múltiplas
narrativas, a cada uma revelando um segredo mais profundo, de modo que a narrativa entra num
espiral em direção à verdade escondida. O narrador é geralmente em primeira pessoa compelido a
contar a história para um ouvinte fascinado ou cativo (isto representa o poder cativante de
conhecimento escondido). Ao revelar os segredos da sua alma, o narrador revela os segredos da alma
humana. Ex: Frankenstein.
Loucura/Personagens que questionam a própria sanidade sugere um encontro da
humanidade com o lado fantástico que desafia a razão humana. Sendo que esses personagens teriam
uma compreensão mais profunda dos fatos e tem a coragem de desvendar verdades encobertas pelas
pessoas normais.
Mulheres em perigo. Representadas por uma heroína solitária, pensativa, e oprimida é
frequentemente a figura central da obra. Abandonada (de propósito ou por acidente) e, muitas vezes,
sem um protetor. Mulheres ameaçadas por um tirano opressor, poderoso e impulsivo, são figuras
recorrentes. Um ou mais personagem masculino tem o poder como rei, lorde, pai ou guardião, para
demandar que uma ou mais personagens femininas façam algo inaceitável (Temos um exemplo no
conto “As rosas,” de Júlia Lopes e no conto “O gato preto”).

Após os alunos terem concluído seus fanzines, a turma montará um varal para que
todos possam ler e analisar em conjunto as informações coletadas e ampliadas a partir da
pesquisa e da ajuda do professor. Aqui, os alunos iniciarão seus conhecimentos sobre o gótico
que serão aprofundados no decorrer da sequência.
Para a conclusão desta etapa e início de várias outras, o professor poderá propor que os
alunos confeccionem um diário de bordo e registrem suas impressões sobre cada momento da
sequência didática. Nele, os alunos podem colar imagens, desenhar, decorar e escrever sobre o
que acharam do momento e o que aprenderam ou aperfeiçoaram com a atividade.

Professor! O tempo pode ser organizado da seguinte forma: uma aula para o trabalho com o
documentário, uma para explanação e combinados sobre a confecção dos fanzines e duas para
produção e apresentação destes.

Segundo passo: Introdução - 1 hora-aula. Nesta etapa, o professor apresentará o


autor da obra O médico e o monstro, destacando as informações mais pertinentes e também
apresentará a obra física para a turma, incentivando uma análise da capa, da orelha e de outros
elementos que possibilitem a introdução da obra, pois Cosson (2016) destaca que essa etapa
objetiva uma recepção positiva sobre a obra a ser lida. O professor poderá levar para sala um
painel com informações sobre a vida do autor como também com capas de livros do autor. A
este respeito, devemos considerar que:

As apreciações criticas presentes nas orelhas ou na contracapa são


instrumentos facilitadores da introdução e muitas vezes trazem informações
importantes para a interpretação. O professor pode aproveitar o tom positivo
desses textos para explicitar aos alunos as qualidades que levaram a
selecionar tal obra (COSSON, 2016, p. 61).

Vale salientar que, com relação a O médico e o monstro, Colomer (2007) nos
apresenta informações importantes, visto que sugere que a obra inicia a partir de uma
construção instigante, com uma situação suspeita, necessitando a junção de um quebra-
cabeças do que nos oferece o olhar do personagem Utterson e a habilidade de Stevenson na
descrição de ambientes fantasmagóricos. Ela aduz ainda que o mais instigante são os dilemas
morais focados em três núcleos: a dualidade entre o bem e o mal no interior dos seres
humanos, o anti-héroi presente na obra com a dúvida sobre a natureza humana e os limites
estabelecidos, e o uso descontrolado da ciência. Sendo que tudo isso serve para propor uma
reflexão e condenar quem realmente merecia. Além disso, Colomer (2007, p. 193) destaca:

Se nos estendemos nesse exemplo foi para mostrar que esse pode ser,
definitivamente, o grande interesse desta ou de outras obras semelhantes
para os adolescentes que, depois de uma infância marcada por normas
externas, estão enfrentando agora sua liberdade de escolha, construindo sua
responsabilidade moral, sua capacidade de decidir de que maneira
conciliarão e que limites estabelecerão, entre a parte negativa de Hyde e a
parte positiva de Jekyll, que convivem na alma humana. As crianças têm o
direito de saber o que a literatura nos fala, deste e de outros dilemas
humanos.

Para concluir esta etapa os alunos poderão registrar suas impressões sobre o autor e
inferências sobre a obra, destacando o que acharam mais interessante nela e qual obra do
autor chamou mais sua atenção e interesse (Professor esse momento poderá ser realizado em
casa).
No quadro a seguir, apresentamos algumas informações sobre a obra em estudo e seu
autor, texto que faz parte de um artigo de Juarez Monteiro de Oliveira Júnior:

“Em janeiro de 1886, na Inglaterra em plena era vitoriana, Robert Louis Stevenson publicou
“O Médico e o Monstro”, romance que iria imortalizá-lo como grande escritor de terror. Embora não
seja muito apreciado pela crítica como um grande romance em termos de história e estilo, “O Médico
e o Monstro” alcançou rapidamente status de “clássico”, graças principalmente a ideia bem
desenvolvida do duplo, tema precioso e recorrente na literatura. A história do Dr. Jekyll e Mr. Hyde é
amplamente conhecida, inclusive por quem nunca leu o livro. Sua propagação se deu pelos diversos
meios que se apropriaram da história de Stevenson, como o cinema, televisão e quadrinhos, e com o
passar dos anos se tornou parte da cultura popular. A história é simples: o bondoso Dr. Jekyll bebe
uma poção borbulhante e, após alguns espasmos e contrações, transforma-se no terrível Mr. Hyde,
um ser abominável de rosto deformado, cheio de pelos e verrugas, com um indescritível sorriso
malévolo, que sai pelas ruas de Londres para matar... É importante ressaltar que a história narrada no
livro de Stevenson difere bastante da conhecida história do médico que se transforma em monstro.
Nas histórias transportadas para o cinema, televisão e quadrinhos, Mr. Hyde é um monstro que
domina Dr. Jekyll e, quando se transforma, Mr. Hyde cresce em tamanho e força, tornando-se um
psicopata. Essa representação foge da descrição que Stevenson faz em seu romance. Nesse livro, Mr.
Hyde diminui em tamanho, ganhando uma aparência símia e de doente.” (OLIVEIRA-JUNIOR,
2015, p.4981).

Terceiro passo: leitura – 5 horas-aula. Este é o momento de grande relevância para


o letramento literário, pois o aluno realmente estará em contato com o texto e participará de
uma efetiva experiência literária. Por isso, é importante que o professor acompanhe a leitura
dos alunos e considere que é preciso algumas estratégias bem definidas, principalmente por
ter que propor algumas etapas para casa, já que o texto trabalhado não pode ser lido somente
em sala, devido sua extensão.
Cosson (2016, p. 62) define que: “A leitura escolar precisa de acompanhamento
porque tem uma direção a cumprir, e esse objetivo não deve ser perdido de vista.” O autor
destaca que esse acompanhamento não deve ser encarado como uma forma de vigiar ou
comprovar a leitura, mas como uma maneira de aproximação entre o leitor (os alunos), o texto
e o professor. Para que possam, juntos, alunos e professores, superar as dificuldades durante o
processo de leitura.
E para que o professor tenha sucesso nesse trabalho com seus alunos, é preciso que ele
tenha em mente o que nos diz Rouxel (2013, p. 20):

Pensar o ensino da literatura e suas modalidades práticas supõe que se defina


a finalidade desse ensino. É a formação de um sujeito leitor livre,
responsável e crítico – capaz de construir o sentido de modo autônomo e de
argumentar sua recepção – que é prevista aqui. É também, obviamente, a
formação de uma personalidade sensível e inteligente, aberta aos outros e ao
mundo que esse ensino da literatura vislumbra.

A partir dessas acepções reconhecemos que neste momento de acompanhamento, o


professor precisa estruturar estratégias para que a fruição na leitura aconteça junto com um
auxílio e acompanhamento. Assim, de acordo com Cosson (2016), precisamos oportunizar
intervalos para que os alunos demonstrem como está o andamento da leitura. E estes podem
ser realizados de várias formas, desde uma simples conversa até atividades bem específicas.
Para essa etapa, serão necessários cinco intervalos na seguinte sequência: recapitulando
informações, lendo o primeiro capítulo e combinando atividades (1 hora-aula); executando
jogo (1hora-aula), leitura do conto “Gennaro” do livro “Noite na Taverna” (2005) (1 aula),
executando jogo 2 (1 hora-aula) e estoura balão (1 hora-aula). A seguir detalharemos cada
uma das atividades.

Atenção, professor! Para a realização desta etapa, você precisa que seus alunos tenham em mãos a
obra completa a ser lida O médico e o monstro, de R. L. Steveson. Ressaltamos que por ser um texto
curto, caso a escola não tenha, podem ser utilizadas cópias ou até fazer uma campanha na escola
para compra dos livros. Providencie com sua turma antecipadamente e combine os intervalos com
todos para que possam levar para sala a obra e os materiais necessários em cada etapa. O jogo e
estoura balão aqui citados serão explicados detalhadamente a seguir.

Resumo da obra O médico e o Monstro, (1886) de Robert Louis Stevenson

Uma história que desperta o interesse do leitor na busca por explicações sobre fatos que
acontecem em uma Londres fantasmagórica e assustadora. Com cenas e trama que nos permite
refletir sobre dilemas introspectivos. Stevenson nos conta a história a partir dos personagens Dr.
Jekyll e Mr. Hyde, representando a dualidade entre o bem e o mal existente no interior do ser
humano. Tudo começa quando o advogado, Sr. Utterson, encarregado pelo testamento do Dr. Jekyll
(homem das ciências, de poder aquisitivo, honrado, respeitado pela sociedade) tem informações sobre
seu herdeiro, Mr. Hyde. Passa a não compreender o porquê de todos os bens de uma pessoa ilustre
ficarem para uma pessoa como aquela. O advogado tem suas primeiras impressões sobre o herdeiro
de seu cliente através de um primo, Richard Enfield. Este relata uma cena de atrocidade cometida por
Hyde com uma criança, descrevendo-o como um ser perverso, que mesmo sem defeito físico tem uma
aparência que causa repúdio. Sr. Utterson passa então a investigar qual é a relação existente entre o
Dr. Jekyll e Mr. Hyde. No desenrolar da história, Mr. Hyde assassina um idoso e o crime tem como
testemunha uma empregada do seu “protetor” que presencia tudo da janela de seu quarto e conhecia o
assassino por frequentar a casa do patrão. O criminoso passa a ser procurado pela polícia e o médico
recluso em seu laboratório, começa a se atormentar. Mesmo com uma intensidade de buscas e
recompensas, o assassino continua desaparecido. Unindo as informações como um quebra-cabeça,
todo segredo é revelado, e na verdade, Dr. Jekyll e Mr. Hyde são duas personalidades que ocupam o
mesmo corpo, ou seja, são a mesma pessoa. Jekyll representando a civilidade (uma forma de ser
positiva) e o outro sentimentos negativos. Esse estranho fato acontece porque o médico descobre e
produz uma fórmula capaz de controlar os instintos humanos, desafiando a própria natureza humana
através do uso da ciência. No final, Dr. Jekyll esclarece tudo, discorrendo sobre a existência do bem e
do mal ao mesmo tempo, um tentando dominar o outro. E no corpo de Mr. Hyde (representação do
“mal”) morre tentando consertar seus erros e livrar-se daqueles instintos utilizando a droga que havia
criado.

Inicialmente, propomos que o professor faça um trabalho de predição com os alunos


envolvendo o autor e a obra física de maneira rápida. Em seguida, os alunos realizam juntos a
leitura do primeiro capítulo, e o professor propõe que alguns capítulos sejam lidos em casa de
forma que aconteçam dois momentos para execução do jogo proposto a seguir.
Após os alunos realizarem a leitura dos capítulos para o primeiro momento o professor
divide a turma em dois grupos e cada um deverá elaborar no mínimo dez questões sobre os
capítulos propostos com respostas dissertativas. Após as questões elaboradas, o professor
prepara o material para o jogo.

Detalhando o jogo
Materiais:
Dado, cartões coloridos com pontuação (rosa vale 1, amarelo 2, azul 3, branco 4, vermelho 5),uma
caixa ou sacola contendo as perguntas dos grupos, um relógio para marcar o tempo.

Como acontece o jogo:


Cada grupo recebe os cartões (que serão pedaços de papel colorido equivalendo a pontuação). O
grupo escolhe a cor do cartão antes da pergunta, pois caso erre, perderá os pontos. Se o aluno acertar,
o grupo marca ponto. Cada grupo deve jogar uma vez em cada rodada. Todos os membros devem
participar, revezando os alunos para respostas. Vence o grupo que conseguir mais pontos e o jogo
termina quando as perguntas forem encerradas. É importante que o professor comande o tempo.

Importante! Professor, no primeiro intervalo, você, em uma hora aula, realiza todas as
combinações com datas precisas para a realização do primeiro momento do jogo com a
leitura de alguns capítulos, e, no segundo momento, com a leitura de outros capítulos, divide
os grupos e explica como o jogo vai funcionar.

Entre a realização das duas etapas do jogo, o professor propõe em sala a leitura do
conto “Gennaro”, do livro Noite na Taverna (1855), de Álvares de Azevedo. Essa leitura pode
ser realizada silenciosamente para que os alunos tenham um primeiro contato com o texto e,
depois, de forma compartilhada. Propomos essa leitura silenciosa em sala em consonância
com o que nos afirma Rangel (2009, p. 39):

A leitura silenciosa, antes de uma leitura oral ou em grupo, é um momento


preparatório essencial para que o leitor se aproprie das ideias do autor e
estabeleça, num primeiro momento, a leitura curiosa e criativa.

Resumo do conto “Gennaro,” do livro Noite na Taverna (1878), de Álvares de Azevedo.

Este livro reúne contos com histórias de vários personagens que relatam seus segredos em
uma taverna, durante uma bebedeira. Cada conto possui um subtítulo que designa o nome do
personagem principal. No conto “Gennaro” temos a introdução da narrativa por meio da voz de um
narrador em terceira pessoa, que nos apresenta o ambiente e chama atenção do personagem que será o
narrador. Assim, temos a história de Gennaro, pintor, que em sua juventude, como aprendiz, mora na
casa de seu mestre, Godofredo Wash. Lá, também vive a esposa do dono da casa Nauza (jovem de 20
anos) e a filha dele do primeiro casamento, Laura, (moça de 15 anos). Gennaro mantém um
relacionamento as escodidas com Laura e, ao descobrir que ela está grávida, afasta-se. Em sua
frustração, a moça torna-se triste e doentia. O pai, sem compreender, sente a dor de está perdendo sua
filha sem reconhecer a razão para tal. Mas, em seu leito de morte, ela revela que cometeu um aborto e
pede desculpas. Godofredo mergulha no desespero e passa noites lamentando a morte de sua filha
amada. Ao mesmo tempo que Gennaro e Nauza trocam carícias, nos braços um do outro, em seu
leito. O aprendiz atordoado, certa noite, vai ao quarto de Laura com o pai dela e confessa tudo. Então,
uma noite, o pai em busca de vingança, leva o moço até um penhasco e revela saber toda a história,
fazendo o jovem pular para a morte. Porém, Gennaro é salvo por camponeses que o encontram
desacordado. No final, ele decide retornar a casa do professor para se vingar, mas encontra seu grande
amor, Nauza, e Godofredo mortos por envenenamento.

Após a leitura a turma discutirá através de um debate sobre a dualidade existente nos
seres humanos. A partir dos seguintes questionamentos:
O que você acha que o ser humano é capaz de fazer para conseguir o que almeja?
Você acredita que em nosso interior temos um pouco de “anjos” e um pouco de “demônios”?
Justifique.
Como você explicaria a relação aparência versus essência na obra O médico e o monstro.?
Qual seu posicionamento com relação as atitudes cometidas pelo personagem Gennaro no conto e Dr.
Jekyll versus Edward Hyde no romance?
O que podemos observar de semelhante no comportamento desses personagens?

Essa atividade é relevante, pois relacionamos obras de autores diferentes, de gerações


diferentes com ideias e características que convergem, e isso propicia um novo olhar aos
leitores através da comparação de textos. Logo após, o professor realiza com a turma a
segunda etapa com o jogo, o qual já explicamos como funciona acima. (Este será o momento
no qual os alunos realizarão o jogo em si, utilizando as questões elaboradas.)
Finalizando o momento de leitura, o professor poderá realizar um estoura balão com
trechos da obra. Neste momento, o professor leva para sala balões com trechos da obra que
considera importante, coloca uma música e, onde parar, o aluno estoura o balão e comenta
sobre o trecho retirado do balão. Assim, todos revisarão a obra. (O professor deve utilizar
trechos de todos os capítulos, os mais importantes.)
Agora é o momento de registrar as novas vivências, descobertas e aprendizagens no
diário de bordo. Desta forma, o olhar de cada aluno vai se metamorfoseando e fluindo como
raios que iluminam seus saberes para futuras experiências de leitura.

Dica ao professor: o registro do diário pode ser realizado em casa.

Quarto passo: interpretação – 9 horas-aula. Na Sequência didática expandida este é


o último passo, conforme orienta Cosson (2016), mas aqui ele é o quarto. Nele temos dois
momentos importantes: o momento interior e o exterior, o primeiro objetiva a apreensão geral
do texto por parte do leitor e acontece logo após a leitura, já o segundo, objetiva um olhar
detalhado sobre o texto, ampliando os sentidos que construímos anteriormente através da
socialização de nossas percepções e da escuta das percepções do outro, acontece um
compartilhamento.
Jouve (2012) propõe que para o alcance de uma leitura transformadora é preciso que
três operações aconteçam: entender, interpretar e explicar. Entender é realizar uma associação
entre os signos e o significado, ou seja, apreender o sentido do texto mediante a realidade que
vivemos , sendo que:

O sentido linguístico está, portanto, no fundamento da comunicação: é em


razão da denotação das palavras, de seu poder referencial, que o mundo da
ficção guarda um vínculo com o mundo real e desemboca em uma série de
representações mentais parcialmente intersubjetivas (JOUVE, 2012, p. 105)

Interpretar é estabelecer elos entre a elaboração do texto e os elementos que o


compõem, para que o leitor através deles possa confirmar ou refutar suas apreensões,
afirmando:

Em síntese, interpretar consiste em dar conta, tanto no nível local como no


nível global, do duplo gesto de seleção (por que o texto optou por essa
configuração aí?) e de combinação (que significações podem ser lidas nas
relações entre elementos textuais?) (JOUVE, 2012, p.108).

Explicar é utilizar-se de seus conhecimentos prévios como leitor, suas vivências, seu
contexto e o da obra, o projeto do autor ao construí-la e as informações fornecidas pelo texto
para que ele (o leitor) possa apresentar seu posicionamento através de sua análise e nos
esclarece que:

Muito evidentemente, entre as causas que explicam as significações de um


texto, está o projeto intencional do autor – pelo qual podemos nos interessar
desse ponto de vista. Mas há também uma série de causas não intencionais (a
sociedade, a história, a cultura, a biografia etc.) (JOUVE, 2012, p.110).

Assim, reconhecemos uma relação entre a proposta desses dois autores, pois as etapas
que Jouve sugere são bem delineadas na sequência básica de Cosson, principalmente na etapa
da interpretação. Acreditamos oportuno realizar essa conexão para um esclarecimento do
nosso trabalho.
Para isso, o professor realizará quatro etapas. Iniciará, reconhecendo as impressões dos
alunos envolvendo as características do gótico que compõem a narrativa, propondo que os
alunos registrem individualmente os questionamentos do quadro abaixo.

Como você apresentaria fisicamente e psicologicamente os personagens Dr. Jekyll e Edward Hyde?
Como a característica do duplo está presente na obra?
Como você compreendeu a relação entre esses personagens?
Quais suas concepções sobre a dualidade do ser humano?
Como você explicaria o título da obra?
Como você descreveria os ambientes?
Qual a relação entre os ambientes e o comportamento das personagens?
O que representa as duas portas de acesso à casa, o espelho e a criança?
Quais as possíveis temáticas a obra envolve?
Como a ciência é representada?
O que a ação do médico acarreta como transformação para sua vida enquanto ser humano?
Quais sentimentos o livro despertou em vocês?
Quais suas impressões sobre o comportamento do médico?
Que lição a obra nos transmite?

Este é um espaço pertinente para acrescentarmos mais elementos do gótico. Logo no


quadro abaixo tratamos dessas informações como esclarecimento.

Entre os elementos típicos do gótico temos o duplo ou doppelganger definido por Federick
S. Frank um segundo eu ou uma identidade alternativa, às vezes, mas nem sempre, um gêmeo físico.
O Doppelganger em forma demoníaca pode ser um eu inferior bestializado, como Mr. Hyde
Doppelgangers góticos frequentemente assustam e ameaçam a psique racional de suas vítimas.
Como percebemos o motif do duplo está direcionado a uma comparação e um contraste entre
dois personagens ou grupos de personagens dentro de uma obra de forças opostas na natureza
humana. Como exemplo temos na obra O medico e o monstro, texto norteador da nossa sequência
básica, Dr. Jekyll e seu duplo perverso, Mr. Hyde, que representam a batalha entre o eu racional,
intelectual e o eu bestial e irracional. O motif do duplo sugere que os seres humanos carregam um
fardo que é uma natureza dupla, uma alma dividida. Podemos encontrar o duplo entre gêmeos,
irmãos, marido e mulher, pai e filho, herói e vilão (Jonatan e Drácula), criador e criatura (como no
caso de Frankenstein e a criatura) e em uma única personagem (como no Médico e o monstro).
Transformação em besta esse percurso destinado a ter um conhecimento ou poder sem limites
geralmente resulta na sua transformação em um monstro/besta (nem sempre no sentido literal, como
em Moby Dick). Frequentemente esta transformação é descrita como uma forma de degradação do
protagonista e a perda da própria humanidade e às vezes, o protagonista acredita que a sua
transformação em uma besta é uma forma de libertar-se das convenções sociais e humanas como é o
caso de Dr. Jekyl e Mr. Hyde em O médico e o monstro.

Dica: Neste momento é importante a participação de todos os alunos.

Uma possível análise para os questionamentos acima:

Com relação ao comportamento do médico, é perceptível que ele vive dilemas morais
sobre como deve ser seu comportamento perante uma sociedade conservadora, ao mesmo
tempo em que deseja satisfazer desejos extravagantes com uma vida mais livre. Para isso,
decide romper com os preceitos do bem e mal presentes em um único ser que luta para
controlar seus impulsos negativos e ser aceito perante o olhar do outro, criando através de
seus conhecimentos científicos uma droga capaz de romper com a alma humana. Com isso,
pode ser um homem honrado, social, justo, adorado e respeitado através de sua própria
configuração, Dr. Jekyll, e também desfrutar de seus mais profundos desejos e insanidades
sem ser julgado, mantendo sua aparência, através de Mr. Hyde. Um ser que se torna
desprezível, sem compaixão, capaz de causar pânico e desprezo em todos que o veem. Temos,
neste momento, a configuração do duplo através destas personalidades que intercalam entre o
bem e o mal. Assim, justificamos o oportuno título da obra com o médico (ser do bem,
respeitado) e o monstro (representado pela sua criação Mr. Hyde). Fazendo-nos refletir sobre
Jekyll considerar-se tão superior, ao ponto de através da ciência desafiar os preceitos
“divinos”.
Os ambientes configuram-se em lugares ermos, melancólicos, escuros que estão
diretamente ligados aos perfis dos personagens principais e aos seus comportamentos, pois as
ações se desenrolam preferencialmente à noite, na obscuridade. E é neste cenário que Mr.
Hyde está livre para praticar suas atrocidades. A configuração das entradas da própria
residência onde Jekyll tem acesso à casa pela faixada da frente (supostamente iluminada e
apreciável) combinando com seu caráter, enquanto Hyde tem acesse pelos fundos, um lugar
escuro, sujo, secreto, desprovido de beleza, onde segredos podem ser mantidos, o que também
está relacionado com a pessoa misteriosa que ele é. O espelho que nos apresenta como um
único ser, integrado de aparência versus essência. A criança símbolo da inocência e pureza,
ser divino.
Dentre as várias temáticas, podemos destacar a dualidade humana, a aparência versus
essência, como a sociedade pode alterar no comportamento humano, o que a evolução
científica pode acarretar, o divino e o mundano, entre outras. Com todo seu dilema, seu saber
científico, suas honrarias, mesmo assim suas ações provocam sua própria destruição e é sua
invenção que considerava magnífica que o leva à morte de forma trágica.
Após a análise, o professor propõe que os alunos escrevam uma carta para um amigo
indicando os motivos pelos quais ele deveria ler o livro, pois Cosson (2016, p. 68) afirma que:
“O importante é que o aluno tenha a oportunidade de fazer uma reflexão sobre a obra lida e
externalizar essa reflexão de uma forma explícita, permitindo o estabelecimento do diálogo
entre os leitores da comunidade escolar.” Nesse sentido, o professor realizará um momento
para leitura das cartas e montará um painel com os textos dos alunos para que eles possam
compartilhar suas impressões sobre a obra, como nos diz Antunes (2003, p. 45):

A atividade escrita é, então, uma atividade interativa de expressão, (ex-,


“para fora”), de manifestação verbal das ideias, informações, intenções,
crenças ou dos sentimentos que queremos partilhar com alguém, para, de
algum modo, interagir com ele.

Dica: É importante que o professor trabalhe as características da carta pessoal com a turma.

Expandindo nosso olhar sobre a temática da dualidade humana, neste momento o


professor realizará uma sessão de cinema na escola com o filme “Cisne Negro” (2010),
dirigido por Darren Aronofsky, com duração de 1h e 48min. Essa atividade pode ser realizada
no contra turno, caso a escola disponibilize espaço, se não, programe na própria sala. Deixe o
ambiente bem aconchegante para que os alunos se sintam à vontade com uma preparação da
sala.

Resumo do filme Cisne Negro (2010), dirigido por Darren Aronofsky

Toda história do filme acontece em torno da montagem para apresentação de um espetáculo


com o texto “O Lago dos Cisnes”. Quando Beth, bailarina veterana, precisa se aposentar, surge uma
vaga para o papel principal e Nina é selecionada para atuar. Porém, vítima de pressões exercidas por
sua mãe (que busca a perfeição) e por um diretor controlador, apresenta problemas psicológicos. Na
obra, temos a dualidade através do Cisne Branco (representando a pureza, inocência) e do Cisne
Negro (representando os sentimentos obscuros como: sensualidade, paixão, astúcia). Para
desempenhar o papel principal a personagem precisa assumir características compatíveis com as duas
identidades. Nina, após escolhida, mistura o real com sua personagem e começa a ver em Lily (colega
de profissão) uma ameaça. Em meio a tantas confusões, sem entender seu próprio “EU” vai ao palco
ferida mortalmente com um pedaço de vidro introduzido por ela em sua própria barriga.

Após o filme, sugerimos um breve comentário envolvendo dois questionamentos: Que


mensagem o filme trouxe para a nossa vida? Que semelhanças podemos reconhecer entre a
temática do filme e da obra “O Médico e O Monstro”?. Para descontrair, deixe o espaço de
fala livre para os alunos que desejarem expor sua opinião.
Integrando as duas obras em uma outra aula (com duração de 2 horas – aula), os
alunos em grupo produzirão uma história em quadrinhos envolvendo a temática debatida na
etapa anterior. Eles poderão utilizar características tanto dos personagens do filme como da
obra em estudo. É primordial que o professor trabalhe com a turma características básicas do
gênero (quadrinho) para que os alunos tenham sucesso nesta atividade. Alguns alunos têm
habilidades com desenhos e pinturas e podem ser encarregados de ilustrar os textos de toda
turma.

Professor: esta é uma atividade que pode ser iniciada em sala e concluída em casa, principalmente a
parte dos desenhos.
Após todos os quadrinhos prontos, reserve 1 hora – aula para que os alunos leiam seus
textos, apresentando-os para toda turma.

Professor! Sugerimos a divisão das atividades da seguinte maneira:


Reconhecendo impressões e análise da obra envolvendo elementos da narrativa e góticos 2 horas-
aula;
Produção da carta em casa e 1 hora-aula para apresentação;
Trabalho com o filme 2 horas- aula;
Produção de quadrinho 2 horas-aula;
Apresentação dos quadrinhos 1 hora-aula;
Encerramento com diário de bordo1 hora-aula.

Finalizando, o professor propõe que os alunos registrem em seu diário de bordo sua
carta e apresente-os em sala no dia da leitura para culminância de nossa sequência.
Deste modo, reconhecendo o poder de transformação da leitura através do texto
literário, buscamos ultrapassar os limites enfrentados pelos nossos alunos no que concerne a
tornar-se um leitor proficiente, autônomo e protagonista de novos saberes. Assim, ao longo
desta pesquisa, viabilizamos auxiliar os professores na compreensão dessas dificuldades,
utilizando estratégias que propiciem momentos com a leitura literária que podem se tornar
únicos e provedores de enriquecimento tanto do professor quanto dos alunos.
Traçando os caminhos percorridos em todo nosso trabalho, podemos salientar que a
escola é responsável pela promoção desses momentos singulares, utilizando estratégias
diversificadas que englobam gêneros textuais diversos e o desempenho de habilidades com a
leitura, oralidade, e escrita. Cabe a ela a efetivação do letramento literário concebendo
práticas inovadoras, e o professor é a peça fundamental neste processo. Pois com estudo,
empenho, dedicação, utilizando textos literários e metodologias envolventes; ele é capaz de
alcançar a tão almejada leitura proficiente e ir além, instigando os alunos à serem
pesquisadores e a buscarem novos textos que satisfaçam não só ao trabalho da escola, mas
seus mais íntimos desejos de conhecimento. O objetivo é que eles se tornem capazes de
desvendar um novo mundo, com múltiplos olhares que ressignificarão o seu modo de pensar,
agir e olhar o mundo em que vive.
Unimos então, as perceptíveis identificações dos alunos com obras de suspense e
terror, com a ideia de serem mineradores e promotores de novos saberes através de uma
proposta de intervenção metodológica envolvendo obras do gênero gótico. Tudo isso tendo o
professor como principal promotor do letramento na escola, conforme afirma Cosson (2016).
Assim, traçamos uma investida em concepções imprescindíveis a termos, estratégias e ações
relacionadas à leitura.
Acreditamos que através das atividades desenvolvidas nesta sequência, os alunos terão
a oportunidade de conhecer novas obras através de gêneros textuais diversificados, para que
se sintam instigados à leitura do texto original. Como também aperfeiçoaram suas habilidades
de interpretação com análises comparativas das obras, aprofundaram seu olhar sobre as
características do gótico, externaram suas opiniões ampliando sua oralidade e aperfeiçoaram
sua escrita produzindo gêneros como fanzine, quadrinho, carta e o diário de bordo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa proposta visa colocar o texto literário em cena nas aulas de Língua Portuguesa
com essa mesclagem de atividades que propiciam de forma lúdica, dinâmica e reflexiva
momentos únicos de aprendizagem. E é no contato com estas obras que os alunos e
professores ultrapassam juntos as barreiras enfrentadas com relação à leitura, ampliando seus
repertórios e aprimorando saberes de oralidade, escrita e leitura. O objetivo é tornar os
docentes capazes de construir novas visões e serem promotores de novas intervenções.
Acreditamos no poder de transformação de nossas realidades através da literatura e, para isso,
ela precisa fazer parte da nossa vida e de nossas práticas escolares como promotora de um
mergulho nas páginas da vida ficcional interferindo no real.

REFERÊNCIAS

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2003.

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New York: Penguin Books, 1996.

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STOKER, Bram. Drácula: O vampiro da noite. Tradução de Maria Luísa Lago Bittencourt. 4
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TERRA, Ernani. Leitura do texto literário. São Paulo: Contexto, 2014.

SITE CONSULTADO

www.youtube.com/watch?v=OWqXdnjEpEw

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