RESP 1719 372 STJ Grifado
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RELATOR :
MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
RECORRENTE :
K V N DA S (MENOR)
REPR. POR :
T SMS
ADVOGADOS :
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ANA LIVIA MOTTOLA - DEFENSORA PÚBLICA - SP306369
RECORRIDO : M N DA R
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PETER GABRIEL MOLINARI SCHWEIKERT - DEFENSOR PÚBLICO -
SP316906
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. ALIMENTOS. BASE DE CÁLCULO. PARTICIPAÇÃO NOS
LUCROS. VERBAS INDENIZATÓRIAS. EXCLUSÃO. ART. 7º, XI, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REMUNERAÇÃO. DESVINCULAÇÃO. ARTIGO 3º DA
LEI Nº 10.101/2000.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código
de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Os alimentos incidem sobre verbas pagas em caráter habitual, aquelas
incluídas permanentemente no salário do empregado, ou seja, sobre
vencimentos, salários ou proventos, valores auferidos pelo devedor no
desempenho de sua função ou de suas atividades empregatícias, decorrentes
dos rendimentos ordinários do devedor.
3. A parcela denominada participação nos lucros (PLR) tem natureza indenizatória
e está excluída do desconto para fins de pensão alimentícia, porquanto verba
transitória e desvinculada da remuneração habitualmente recebida submetida ao
cumprimento de metas e produtividade estabelecidas pelo empregador.
4. A participação de que trata o art. 2º não substitui ou complementa a
remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de
qualquer encargo trabalhista, não lhe sendo aplicado o princípio da
habitualidade, consoante preceitua o art. 3º da Lei nº 10.101/2000.
5. A percepção do PLR não produz impacto nos alimentos, ressalvadas as
situações em que haja alteração superveniente do binômio necessidade e
possibilidade, readequação que deve ser analisada no caso concreto.
6. Recurso especial provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a
Terceira Turma, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro (Presidente), Nancy
Andrighi e Paulo de Tarso Sanseverino votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 05 de fevereiro de 2019(Data do Julgamento)
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : K V N DA S (MENOR)
REPR. POR : TSMS
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ANA LIVIA MOTTOLA - DEFENSORA PÚBLICA - SP306369
RECORRIDO : M N DA R
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PETER GABRIEL MOLINARI SCHWEIKERT - DEFENSOR PÚBLICO -
SP316906
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, decidiu afetar o julgamento do presente processo à Segunda
Seção.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.719.372 - SP (2018/0012110-4)
RELATÓRIO
O Ministério Público estadual opinou pelo provimento do apelo por entender que
os alimentos têm como base de cálculo as verbas de natureza salarial, devendo ser excluídos
desse cômputo somente os valores de origem indenizatória,"bem como o terço constitucional
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de férias, já que não se tratam de verbas indenizatórias" (e-STJ fl. 189 - grifou-se).
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.719.372 - SP (2018/0012110-4)
VOTO
No caso dos autos, o recorrido foi condenado pelo juízo sentenciante a pagar, a
título de pensão alimentícia à sua filha menor, ora recorrente, 20% (vinte por cento) de
seus rendimentos líquidos, devendo tal percentual incidir sobre a parcela do 13% (décimo
terceiro) salário, horas extras e eventuais verbas rescisórias. O Tribunal de origem, ao reformar
parcialmente a sentença, ainda incluiu no valor o adicional de 1/3 (um terço) sobre as férias
gozadas, afastando da condenação, contudo, o benefício correspondente à participação dos
lucros, por não integrar a base de cálculo da dívida alimentar.
Válido salientar, desde já, que os alimentos arbitrados em valor fixo devem ser
analisados de forma diversa daqueles arbitrados em percentuais sobre vencimento, salário,
rendimento e provento. Na primeira hipótese, a dívida resta consolidada com a fixação do valor
e a periodicidade em que deve ser paga, não se computando na base de cálculo qualquer outra
parcela (REsp nº 1.091.095/RJ, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
16/4/2013, DJe 25/4/2013).
O Tribunal local, ao concluir que a participação nos lucros "é benefício que não
configura rendimento salarial e decorre de esforço ocasional e extraordinário do
alimentante, não devendo integrar a base de cálculo dos alimentos" (e-STJ fl. 206 - grifou-se),
confirmou o entendimento da Terceira Turma desta Corte:
A relatora do leading case, Ministra Fátima Nancy Andrighi, apontou como razão
de decidir o mandamento constitucional (art. 7º, XI) que desvincula a participação nos lucros da
remuneração, bem como a norma legal regulamentadora do dispositivo (art. 3º da Lei nº
10.101/2000), o qual lhe conferiu plena eficácia, concluindo, ao final, pela natureza indenizatória
do benefício em análise, conforme ora se transcreve:
"RECURSO ESPECIAL (art. 105, inc. III, 'a', da CRFB/88) - AUTOS DE AGRAVO
DE INSTRUMENTO NA ORIGEM - AÇÃO DE OFERTA DE ALIMENTOS -
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS - INTEGRAÇÃO NA BASE DE
CÁLCULO DA VERBA ALIMENTAR - ACRÉSCIMO PATRIMONIAL
DECORRENTE DO CONTRATO DE TRABALHO, APTO AO INCREMENTO DA
POSSIBILIDADE DO ALIMENTANTE. INSURGÊNCIA DO AUTOR/DEVEDOR.
Hipótese: definir se a participação nos lucros e resultados integra a base de
cálculos dos alimentos, fixados, em sede de ação de oferta de alimentos, no
equivalente a 20% do salário líquido do demandante.
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(...) 2. O título executivo, ao fornecer os parâmetros para sua interpretação,
dispôs como base de cálculo o salário líquido, esse entendido como os valores
brutos auferidos pelo empregado, subtraídos apenas os descontos da
previdência e do imposto de renda. Ao se proceder à leitura da sentença,
infere-se que o termo salário foi utilizado como equivalente às expressões
rendimentos e ganhos.
2.1 A verba recebida a título de participação nos lucros objetiva estimular a
produtividade do empregado, pois esse terá seus vencimentos ampliados na
medida em que produza mais, tratando-se, portanto, de rendimento
decorrente da relação de emprego. Desse modo, a circunstância de a
referida verba, nos termos do art. 7º, inc. XI, CRFB/88 não poder ser
considerada para efeito de incidência de ônus sociais, trabalhistas,
previdenciários, não impede que seja considerada como base de cálculo para
se aferir o quantum devido a título de alimentos. Precedentes.
2.2 Assim, para fins de apuração do valor relativo aos alimentos, deve ser
reconhecida a natureza salarial/remuneratória da verba em questão,
porquanto inegavelmente implica acréscimo em uma das variáveis do
binômio da prestação alimentar, isto é, na possibilidade do alimentante,
devendo os valores auferidos a tal título integrar a base de cálculo da
prestação alimentar.
3. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO" (REsp 1.561.097/RJ, Rel. Ministro
LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO),
Rel. p/ Acórdão Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
06/02/2018, DJe 02/03/2018 - grifou-se).
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do Ministro Lelio Bentes Corrêa:
Nesse sentido:
Documento: 1731398 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/03/2019 Página 13 de 5
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"RECURSO ESPECIAL. ALIMENTOS. AUXÍLIO-ACIDENTE.
AUXÍLIO-CESTA-ALIMENTAÇÃO E VALE-ALIMENTAÇÃO. VERBAS
INDENIZATÓRIAS. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO DA PENSÃO
ALIMENTÍCIA. PRECEDENTES. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. PERCENTUAL INCIDENTE SOBRE A
REMUNERAÇÃO. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ.
1. Os alimentos incidem sobre verbas pagas em caráter habitual, aquelas
incluídas permanentemente no salário do empregado. A verba alimentar
incide, portanto, sobre vencimentos, salários ou proventos, valores auferidos
pelo devedor no desempenho de sua função ou de suas atividades
empregatícias, decorrentes dos rendimentos ordinários do devedor.
2. As parcelas denominadas auxílio-acidente, cesta-alimentação e
vale-alimentação, que tem natureza indenizatória, estão excluídas do
desconto para fins de pensão alimentícia porquanto verbas transitórias (...)"
(REsp nº 1.159.408/PB, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 07/11/2013, DJe 25/11/2013 - grifou-se).
Todavia, o acórdão recorrido, calcado nas premissas ora expostas, não analisou
a real necessidade da alimentanda e a verdadeira possibilidade do alimentante, o que, nos
termos da jurisprudência do STJ, poderia, eventualmente, excepcionar a regra de que a PLR
não compõe os alimentos, motivo pelo qual devem os autos retornar à origem para que, à luz do
conjunto probatório e do imprescindível contraditório, seja averiguado se é factível a
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readequação da base de cálculo da dívida alimentar no caso concreto.
É o voto.
Documento: 1731398 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/03/2019 Página 15 de 5
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : K V N DA S (MENOR)
REPR. POR : TSMS
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ANA LIVIA MOTTOLA - DEFENSORA PÚBLICA - SP306369
RECORRIDO : M N DA R
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PETER GABRIEL MOLINARI SCHWEIKERT - DEFENSOR PÚBLICO -
SP316906
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro (Presidente), Nancy Andrighi e
Paulo de Tarso Sanseverino votaram com o Sr. Ministro Relator.
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