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ISSN 2236 - 4420

Qualidade pós-colheita de banana ‘Pacovan’ sob diferentes condições de


armazenamento

1
Luirick Felix Silva Barbosa, 1Anderson Lima Alves, 1 Karla dos Santos Melo de Sousa, 1 Acácio
Figueiredo Neto, 1 Ítalo Herbert Lucena Cavalcante, 2 Jucilayne Fernandes Vieira
1
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus Juazeiro, Avenida José de Sá Maniçoba, S/N, Centro, CEP
56304-917, Petrolina, PE, Brasil. E-mails: [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected], [email protected]
2
Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia, Avenida Adhemar de Barros, 967, Ondina, CEP 40.170-110,
Salvador, BA, Brasil. E-mails: [email protected]

Resumo: O descarte de frutas tropicais e subtropicais representa um crescente problema para produção
mundial de alimentos. No mundo, 54% do desperdício de alimentos ocorrem na fase inicial da produção,
manipulação pós-colheita e armazenagem, o restante ocorre nas etapas de processamento, distribuição e
consumo. Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes condições de
temperatura, nos parâmetros químicos e físicos de frutos de banana ‘Pacovan’, armazenada durante 12
dias. Os cachos foram colhidos em grau de maturação 2 com a coloração da casca verde-maturo sendo
lavados em água corrente e mergulhados por 5 minutos em solução desinfetante. Cada penca foi disposta
em bandejas plásticas e submetidas a duas condições de armazenamento, sendo elas: T1- temperatura
ambiente (25±1 ºC) e T2 - em B.O.D. à temperatura de 12±1 ºC. Os parâmetros utilizados para avaliar o
efeito do acondicionamento nos frutos foram o pH, sólidos solúveis total, acidez titulável, relação SST/ATT,
cor, massa e o teor de umidade da polpa. O experimento seguiu o delineamento inteiramente casualizado,
em esquema fatorial (2x5), testando-se, respectivamente, duas temperaturas de armazenamento (ambiente
e 12 ºC) e cinco tempos de armazenamento (0, 3, 6, 9 e 12 dias) com três repetições. Os resultados
demonstraram que a refrigeração é eficaz na manutenção da qualidade física e química de frutos de banana
da variedade ‘Pacovan'.

Palavras chave: Musa spp., Conservação, Temperatura

Post-harvest quality of Pacovan banana under different storage conditions

Abstract: The disposal of tropical and subtropical fruits represents a growing problem for world food
production. Worldwide, 54% of food waste occurs in the early stages of production, postharvest handling and
storage, the rest occurring in the processing, distribution and consumption stages. In this sense, the
objective of this work was evaluating the effect of different temperature conditions on post-harvest quality of
Pacovan banana fruits, stored for 12 days. The clusters were harvested to maturation grade 2 with the
green-brown peel color being washed in running water and immersed for 5 minutes in disinfectant solution.
Each bunch was placed in plastic trays and submitted to two storage conditions: T1- room temperature (25 ±
1 ºC) and T2 - in B.O.D. at a temperature of 12 ± 1 ° C. The pH, total soluble solids, total titratable acidity
and the SST/ATT ratio were evaluated for the chemical parameters, and the color, mass and moisture
content of the pulp were evaluated. The experiment was carried out in a completely randomized design, in a
factorial scheme (2x5), with two storage temperatures (ambient and 12 ºC) and five storage times (0, 3, 6, 9
and 12 days) with three replications. The results demonstrated that refrigeration is effective in maintaining
the physical and chemical qualities of banana fruits from Pacovan cultivar.

Key words: Musa spp., conservation, Temperature.

Magistra, Cruz das Almas – BA, V. 30, p. 28 – 36, 2019.


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Introdução Dessa forma, por ser um fruto climatério, a


banana possui um período de maturação curto, o
Segundo dados do Instituto Brasileiro de que significa menor tempo de conservação
Geografia e Estatística [IBGE] (2018), a produção (Falcão et al., 2017). Segundo Prill et al. (2012)
nacional de banana (Musa spp) em 2018 será de isso ocorre pela alta taxa respiratória e produção
6,82 milhões de toneladas, valor inferior ao de etileno que a fruta possui, fator que acelera o
produzido em 2017, que chegou a 7,16 milhões processo. O armazenamento realizado de
de toneladas. O descarte de frutas tropicais e maneira adequada torna-se de grande valor para
subtropicais representa um crescente problema que tais transformações não prejudiquem a
para produção mundial de alimentos. No mundo, comercialização, bem como o uso de tecnologia
54% do desperdício pós-colheita que permita preservar a qualidade
de alimentos ocorre na fase inicial da dos frutos (Singh et al., 2014 & Pereira et al.,
produção, na manipulação pós-colheita e no 2015).
armazenamento. Já os outros 46%, ocorrem nas Objetivando a manutenção das
etapas de processamento, distribuição e características originais das frutas na pós-colheita, o
consumo, segundo o Food and Agriculture uso de refrigeradores se torna uma alternativa
Organization [FAO] (2013). viável. Contudo, os frutos que são sensíveis a
Colhida em sua maturidade fisiológica, a baixas temperaturas necessitam de um
banana é caracterizada por apresentar padrão armazenamento com temperaturas acima das
respiratório climatérico e dependente do etileno mínimas de segurança e uso de filmes plásticos,
para completar o seu amadurecimento, sendo objetivando prevenir desordem fisiológica (Martins
esse um regulador vegetal que provoca et al., 2007 & Lima et al., 2018). No caso específico
modificações nos frutos após a colheita (Xiao et da Musa spp, dependendo da variedade e
al., 2013). Na fase de amadurecimento da banana maturidade, a temperatura mínima de segurança
sofre modificações em sua aparência, textura e para o armazenamento varia entre 13 a 15 °C, de
composição química, provocadas pela acordo com Payasi Sanwal, 2010 & Falcão et al.,
transformação do amido em açúcares, resultando 2017.
no acréscimo dos sólidos solúveis, redução do pH Neste sentido, observa-se que o
e aumento da acidez titulável. Ao mesmo tempo, armazenamento e a conservação da cultura em
na casca, ocorre o amarelecimento devido à estudo dependem algumas medidas específicas,
degradação da clorofila (Vergeinen, Banala & com isso, o presente trabalho teve como objetivo
Krautler, 2014) e o surgimento dos pigmentos avaliar o efeito de diferentes condições de
carotenoides (Carvalho et al., 2011). temperatura na qualidade pós-colheita da banana
Um importante atributo de qualidade em ‘Pacovan’ armazenada durante 12 dias.
frutos é a cor, não só por contribuir com
aparência, mas também por influenciar na
aceitabilidade do consumidor (Motta et al., 2015). Material e métodos
Durante o amadurecimento, de grande parte dos
frutos, acontecem modificações na cor, Os frutos de banana, cultivar ‘Pacovan’,
principalmente na casca, tornando esta foram colhidos em propriedade localizada na
importante na determinação do estádio de Agrovila 17, Lote 17, Perímetro Irrigado Pedra
maturação e qualidade dos frutos (Oliveira, 2012 Branca, integrante do Sistema Itaparica,
& Motta et al., 2015). Com a função de quantificar localizado nos municípios de Curaçá e Abaré, a
numericamente a cor, o colorímetro mede as 170 km de Juazeiro, região Norte da Bahia. Os
coordenadas L*, C* e o ângulo Hue (hº) cachos foram colhidos em grau de maturação 2
(Sarmento, 2012). que corresponde a coloração da casca verde-
Outra característica importante que maturo, despencados, armazenados em caixas
-1
determina o rendimento da produção (t ha ) e de colheita, transportados em temperatura
que, consequentemente, resulta no valor final de ambiente (2h de percurso) para o Laboratório de
venda, são as dimensões (comprimento e Pós-colheita da Universidade Federal do Vale do
diâmetro), pois essas possuem uma relação São Francisco, Campus Juazeiro-BA, lavados em
direta com a massa e também são utilizadas na água corrente e mergulhados por 5 minutos em
classificação da fruta (Castricini et al., 2012). solução desinfetante.

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Oriundos de uma mesma colheita, os e a regressão no SigmaPlot , versão 10.0.
cachos foram despencados e sendo (2006).
armazenados na forma de pencas, as quais
continham um mínimo de 15 frutos com repetição Resultados e discussão
de 3 pencas. Cada uma delas foi disposta em
bandejas plásticas e submetidas a duas Com relação ao efeito da baixa
condições de armazenamento, sendo elas: T1- temperatura (T2) no parâmetro L* da casca
temperatura ambiente (25±1 ºC) e T2 - em B.O.D. (Figura 1A), constatou-se que a temperatura
à temperatura de 12±1 ºC. Para análises do efeito inibiu a variação na cor dos frutos, mantendo-os
do armazenamento na qualidade dos frutos foram ao longo do tempo próximo a faixa intermediária
utilizados seis frutos por intervalo, sendo esses de luminosidade ou brilho. Por outro lado, aqueles
de 0, 3, 6, 9 e 12 dias de armazenado. que foram submetidos à condição ambiente (T1),
Para caracterização física foi avaliado a cor ocorreu uma elevação, chegando ao seu ponto
por meio do colorímetro Minolta modelo CR400, máximo no 9º dia de avaliação, alcançado o valor
expressa em três parâmetros: luminosidade (L*), de 74,09 de brilho, confirmando o escurecimento
que varia entre 0 (cores escuras ou opacas) e do fruto. Considerando que o parâmetro L*
100 (cores brancas ou de máximo brilho); (luminosidade ou brilho) da casca varia de 0 a
cromaticidade ou pureza (C*), sendo os valores 100, e que valores baixos indicam casca opaca/
baixos cores impuras (acinzentadas), e os sem brilho e valores altos equivalem ao máximo
elevados, as cores puras; ângulo de tonalidade brilho, todos os tratamentos apresentaram valores
ou cor verdadeira (ºHue), sendo o ângulo 0º de médio a alto.
corresponde à cor vermelha, 90º à cor amarela, De acordo com Santos et al. (2018) um
180º à cor verde, 270º à cor azul e 360º de aumento na intensidade de cor foi observada
vermelho a negro, sendo as medições realizadas como resultado da aparência de pigmentos, com
na região equatorial de cada fruto de acordo com exceção da clorofila presente nos frutos. Segundo
Castricini et al. (2012). Além da cor, o teor de Nogueira et al. (2007) em bananas, a degradação
umidade da polpa (%) e a massa (%) média dos da clorofila é o principal evento no
frutos, ainda na penca, obtida após pesagens em amadurecimento, enquanto a síntese de outros
balança digital (BK5002), também foram pigmentos é realizada em níveis relativamente
estudados. baixos. A perda da cor verde deve-se à
Para os parâmetros físico e químicos foram decomposição estrutural da clorofila (Moser et al.,
o
avaliados os sólidos solúveis total ( Brix) 2012), devido aos sistemas enzimáticos que
utilizando refratômetro tipo Abbe, acidez total atuam isoladamente ou em conjunto
-1
titulável (g de ácido málico 100g ), pH principalmente pela ação da clorofilase sobre os
(pHmetromPA210) adicionando à 50 mL de água cloroplastos, que revela a cor amarela. O declínio
destilada uma amostra de 5 gramas do fruto da clorofila inversamente ao aumento dos
macerado e a relação SST/ATT (ratio). carotenóides foi relatado em banana ‘Nanicão’
O experimento seguiu o delineamento por Oliveira Neto e Silva (2004). Segundo Aquino
casualizado em esquema fatorial (2x5), testando- et al. (2018), a concentração total de carotenóides
se, respectivamente, duas temperaturas de aumenta na polpa e na casca devido ao
armazenamento (ambiente e 12 ºC), cinco amadurecimento dos frutos de banana
tempos de armazenamento (0, 3, 6, 9 e 12 dias) A cromaticidade expressa a intensidade de
com três repetições. Os resultados foram cor, ou seja, saturação, em termos de pigmentos
submetidos à análise de variância para dessa cor o que pode ser explicado pelo controle
diagnostico de efeito significativo entre as médias das temperaturas durante o tratamento e o
das variáveis em estudo, utilizando o programa armazenamento (Silva et al., 2012), onde também
estatístico Assistat versão 7.7 (Silva, et al., 2016) foram observados neste trabalho.
.

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Figura 1 - Regressão ao longo do tempo dos parâmetros de cor (A) Luminosidade – L*, (B) cromaticidade –
C* e (C) ºHue da casca de banana Pacovan armazenada em duas condições de ambiente. T1-
temperatura ambiente (25 ±1 ºC) e T2 - temperatura de 12±1 ºC.

80 60
(A) (B)
T1 Y= 54,1783+19,2701/(1+exp(-(x-6,1873)/0,1246)) R² = 0,9725 T1 Y= 46,2217+10,2636/(1+exp(-(x-7,5934)/0,6598)) R² = 0,9983
58 T2 Y= 45,9909+1,7523*x-0,3109*x^2+0,0151*x^3 R² = 0,9481
75 T2 Y= 52,0602+1,5536*x-0,2266*x^2+0,0108*x^3 R² = 0,8455

56

70
54

C*
L*

65 52

50
60

48

55
46

50 44
0 3 6 9 12 0 3 6 9 12

Dias Dias

130
(C)
T1 Y= 92,0553+26,1797/(1+exp((x-7,4624)/0,6571)) R² = 0,9999
125
T2 Y= 118,3922-0,4680*x+0,0870*x^2-0,0044*x^3 R² = 0,9992

120

115
ºHue

110

105

100

95

90
0 3 6 9 12

Dias

Os frutos submetidos à temperatura de 12 conservação das bananas ‘Pacovan’, menor a


ºC apresentaram-se, nos dias 3 e 6, com valor de velocidade do metabolismo dos frutos. Esse dado
cromaticidade (C*) superior em relação ao se confirma quando relacionado aos demais
tratamento T1 (Figura 1B) e, além disso, parâmetros analisados.
mantiveram-se ao logo da avaliação entre 45,93 e Valores encontrados por Pinheiro et al.
48,24. Já em temperatura ambiente, a partir do 6º (2007), constaram a diminuição da cromaticidade
dia, ocorreu acréscimo, chegando a 56,47. Para a 12 ºC, obtendo de 43,86 a 37,74 do parâmetro
Castricini et al. (2012), os valores de cromo ao longo da avaliação e aumento a 25 ºC
baixos representam cores impuras variando entre 41 a 46,56 aos 11 dias. Castricini
(acinzentadas), e os elevados, as cores puras, o et al. (2012) obtiveram valores de variando entre
que de fato pode ser observado no tratamento T1 41,50 a 50,87 no estádio de maturação 6, o que
que a partir do 9º dia do experimento os frutos equivale ao 9º dia do presente trabalho.
apresentaram-se na cor amarela, tornando-se A melhor forma de avaliar o efeito dos
cada vez mais pura até o ponto em que inicia-se tratamentos na cor dos frutos é pela tonalidade da
a senescência dos mesmos. casca, representada pelo parâmetro ºHue (Figura
Os resultados apresentados neste trabalho 1C), onde observou-se a tendência da coloração
demonstraram que o armazenamento refrigerado amarela (90º) ao longo do tempo no tratamento
pós-colheita retardou o pico climatérico dos frutos T1 e a proximidade da coloração verde (180º) no
nos primeiros seis dias do armazenamento, ou T2. Essa mudança de coloração verde para
seja, quanto menor o tempo entre a colheita e a amarela ao longo da maturação dos frutos é

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devido à degradação da clorofila e a visibilidade superficial da casca da banana e da transferência
dos carotenoides, sendo esse processo resultante de umidade do interior da fruta para áreas
da quebra da estrutura da clorofila, principalmente superficiais (Santos et al., 2010). Além do mais, a
pelas alterações no pH, ativação das clorofilases casca transfere água para a polpa por osmose,
e presença de sistemas oxidantes (Chitarra & fazendo com que aumente a massa fresca da
Chitarra, 2005), provocadas pelo aumento da polpa do fruto. Os resultados do estudo foram
respiração em frutos climatérios. Como a semelhantes aos relatados por Sarmento et al.
respiração está intimamente ligada à temperatura (2012), que estudaram a banana cultivar 'Valery'
(Ribeiro et al., 2008, Schmidt & Efraim, 2016), o armazenadas a 14 ºC, onde observaram a
armazenamento à 12 ºC (T2) contribuiu para a redução acentuada na firmeza dos frutos após a
diminuição da degradação da clorofila. transferência condições de temperatura ambiente
De acordo com Silva et al (2006) e (27 ºC ± 2 ºC e umidade relativa de 55% ± 5%).
Nogueira et al. (2007), o período de Segundo Chen et al. (2015), a firmeza é um
amadurecimento da banana acelera a componente da textura que tende a diminuir
degradação da clorofila (cor verde), tornando durante a maturação, principalmente em virtude
visível os pigmentos carotenóides (cor amarela a da degradação da parede celular, ocorrendo
laranja) enquanto a síntese de outros pigmentos especialmente pela ação enzimática.
acontece em níveis relativamente baixos. A perda de massa foi mais acentuada nos
O efeito da temperatura em cinco cultivares frutos que permaneceram no tratamento T1
de banana evidencia que os índices de cor são (Figura 2), porque a transferência de calor do
afetados com o aumento de tempo de exposição ambiente para a casca causa perda de umidade
dos frutos à refrigeração (Oliveira, 2014). Esse da superfície. Segundo Santos et al., 2010, a
fato deve-se a baixa diferença de temperatura temperatura ambiente aumenta a respiração que
entre os tratamentos (12 ºC), pois quanto maior influencia diretamente a transpiração, provocando
for a temperatura do ar, maior é a perda de a perda de massa dos frutos.
umidade (Pires et al., 2014). Além disso, a
diminuição da umidade depende da transferência
de calor do ambiente para evaporar a umidade

Figura 2 - Massa média (%) de frutos de banana Pacovan armazenada em duas condições de ambiente.
T1- temperatura ambiente (25 ±1ºC) e T2 - temperatura de 12±1 ºC

100
Massa percentual (%)

95

90

85

T1= 100,1977-1,3107*x R² = 0,96


T2= 89,8091+10,4597*exp(-0,1616*x) R² = 0,96
80
0 3 6 9 12

Dias

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Segundo Nobre et al. (2018) a perda de para 20,4 %, do 3° dia para o 12° dia,
massa fresca é comum durante o respectivamente.
armazenamento de frutas e hortaliças, uma vez Comparando as temperaturas de
que, ocorre o consumo de nutrientes no próprio armazenamento, observar-se que o teor de
metabolismo do produto, principalmente perda sólidos solúveis (Figura 3A) apresentou um
hídrica, ocasionada pela transpiração provocada acréscimo à medida que o estádio de maturação
pela diferença de pressão entre o produto e o avançou, porém este aumento para T2 foi menos
meio ambiente. acentuado que em T1. Esse fato ocorre devido à
Damatto, et al. (2005) caracterizaram frutas refrigeração retardar alterações nos frutos, como
de bananeira cv. Prata Anã durante 12 dias de a conversão de amido em açúcares, que é
armazenamento sem utilização de embalagens e responsável pelo acumulo de sólidos solúveis
armazenadas em condições ambientais normais totais ao longo do amadurecimento dos frutos
(temperatura e umidade) e verificaram aumento (Carvalho et al., 2011).
da perda de massa ao longo dos dias de 4,25 %

Figura 3 - Regressão ao longo do tempo do (A) º Brix - SST, (B) acidez titulável - ATT, (C) pH e (D) relação
SST/ATT de banana Pacovan armazenada em duas condições de ambiente. T1- temperatura
ambiente (25 ±1ºC) e T2 - temperatura de 12±1 ºC

0,9
35 (A) (B)
T1 Y= 4,3433+22,8400/(1+exp(-(x-6,1744)/0,1057)) R² = 0,99 0,8 T1 Y= 0,6875*exp(-0,5*((x-10,1130)/2,8606)^2) R² =0,82
30 T2 Y=3,9286+0,2307*x R² =0,93 T2 Y= 0,1474+0,0039*x R² = 0,81
0,7
-1

25
g de ácido málico 100g

0,6

0,5
20
º Brix

0,4
15
0,3

10 0,2

0,1
5

0,0
0
0 3 6 9 12 0 3 6 9 12
Dias Dias
7,0 60
(C) (D)
T1 Y= 6,1086 - 0,1408*x R² = 0,87 55 T1 Y=26,4352+1,9191*x R² = 0,95
6,5
T2 Y= 5,9387- 0,0303*x R² = 0,84 T2 Y=27,0696+0,6645*x R² = 0,92
50
6,0
SST/ATT (%)

45
pH

5,5
40

5,0
35

4,5
30

4,0 25
0 3 6 9 12 0 3 6 9 12
Dias Dias

Na avaliação da acidez titulável (Figura tratamento T1, apresentou elevação superior ao


3B), ambos os tratamentos permitiram elevação verificado em T2, chegando a valores próximos a
da acidez ao longo do tempo. Entretanto, o -1
0,7g de ácido málico 100g . Após o nono dia, a

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acidez titulável começou a decrescer no similares a este trabalho na relação SST/ATT, os
tratamento T1 provocado pelo início da quais obtiveram, respectivamente para mesma
senescência do fruto, segundo Prill et al. (2012), cultivar, 47,83 a 61,91 e 51,7, e o presente
este fato ocorre porque as substâncias pécticas trabalho 41,65 (9º dia) e 49,47(12º dia).
são solubilizadas em decorrência da atividade
enzimática durante o amadurecimento.
Os frutos no tratamento T1 apresentaram Conclusão
o
coloração da casca amarela a partir do 9 dia de
armazenamento e nesse estádio os valores Nas condições específicas deste trabalho
encontrados foram superiores aos relatados por conclui-se que a perda de massa foi mais
Salles et al. (2006), para SST (23,26° brix) e ATT acentuada nos frutos do tratamento de 25±1ºC
(0,46%), já em relação ao obtidos por Jesus et al. devido à transferência de calor do ambiente para
(2004) os resultados foram similares para °Brix a casca. A conservação com 12±1ºC mostrou-se
(27,7) e ATT (0,54%), sendo que em ambos os eficiente na manutenção das qualidades físico-
estudos foram utilizadas a mesma cultivar. químicas dos frutos de banana da variedade
Pesquisas realizadas por Martins et al. (2007), ‘Pacovan’.
verificaram que bananas cv. ‘Prata Anã’ foram
armazenadas por 35 dias a temperaturas de 10 e
12 °C sem a utilização de atmosfera modificada Referências
corroborando com este estudo. Fernandes et al.
(2010) constataram em bananas da variedade Aquino, C.F., Salomão, L. C.C., Pinheiro-
‘Nanicão’, armazenados à 13 e 25 ºC, um Sant’ana, H.M., Ribeiro, S. M.R., Siqueira, D.L., &
decréscimo do ATT, diferindo da ‘Pacovan’, onde Cecon, P. R.(2018). Carotenoids in the pulp and
o SST aumentou. peel of bananas from 15 cultivars in two ripening
Os valores de pH (Figura 3C) reduziram à stages. Revista Ceres, 65 (3), 217-226.
medida que aumentou o tempo de
armazenamento dos frutos em ambos os Carvalho, A.V., Seccadio, L.L., Jr., M.M., &
tratamentos de armazenamento, porém em T1 Nascimento, W.M.O. (2011). Qualidade pós-colheita
essa variação foi mais acentuada, sendo que de cultivares de bananeira do grupo ‘maçã’, na região
essa acidificação ocorre de forma natural ao de Belém – PA. Revista Brasileira de Fruticultura, 33
longo do amadurecimento dos frutos. Os valores (4), 1095-1102.
o
referentes ao pH para o tratamento T1, após o 9
dia de armazenado, apresentaram valores Castricini, A., Coelho, E.F., Rodrigues, M.G.V., &
próximos ao encontrado por Salles et al. (2006) Coutinho, R.C. (2012). Caracterização pós-colheita
que consta (4,64), e por Jesus et al. (2004) de frutos de bananeira ‘BRS platina’ de primeiro ciclo,
constam (4,36). Fernandes et al. (2010) sob regulação do déficit de irrigação. Revista
evidenciaram elevação do pH no decorrer do Brasileira de Fruticultura, 34 (4), 1013-1021.
período de armazenamento da banana cv
‘Nanicão’. Chitarra, M.I.F., & Chitarra, A.B. (2005). Pós-colheita
Comparado o efeito da temperatura na de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio (p.785).
maturação dos frutos, conforme Figura 3D, Lavras: UFLA.
observa-se que a 12 ºC ocorreu o retardamento
do amadurecimento dos frutos, influenciando no Chen, H., Cao, S., Fang, X., Mu, H.,Yang, H., Wang,
“ratio” (SST/ATT) que aumenta ao decorrer do X., Xu, Q., & Gao, H. (2015). Changes in fruit
amadurecimento dos frutos, sendo esse índice firmness, cell wall composition and cell wall degrading
ligado ao sabor das frutas e mais representativo do enzymes in postharvest blueberries during storage.
que quando feita a medição isolada dos sólidos Scientia Horticulturae, 188, 44-48.
solúveis ou da acidez (Chitarra & Chitarra, 2005).
Para Ribeiro et al. (2008) e Melo et al. (2012) a Damatto Jr.,, E. R., Leonel, S., & Pedroso, C. J.
melhor forma de expressar, precisamente, a (2005). Adubação orgânica na produção e qualidade
maturação de frutos é quando se obtém o índice de de frutos de maracujá-doce. Revista Brasileira de
maturação. Levando em consideração o mesmo Fruticultura, 27 (1), 188-190.
estádio de maturação (a partir 9º dia de
armazenado), com os trabalhos de Salles et al.
(2006) e Jesus et al. (2004), os valores foram

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Food and Agriculture Organization. (2013). Food Nobre, R.C.G., Lucena, E.M.P., Gomes, J.P.,
wastage footprint: Impacts on natural resources Araújo, D.R., & Quirino, D.J.G. (2018). Post-
(63p). Roma: FAO. harvest quality of bananas Prata-anã and Nanica
after application of exogenous ethylene in
Falcão, H. A. S., Fonseca, A. O., Oliveira Filho, J. maturation. Revista Brasileira de Fruticultura, 40
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