Fragmento Livro Mba Educação DDG Cap 1
Fragmento Livro Mba Educação DDG Cap 1
Fragmento Livro Mba Educação DDG Cap 1
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ESCOLA
QUE
APRENDE
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DEDICATÓRIA
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ÍNDICE
Apresentação
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APRESENTAÇÃO
Thomas Edson
Informações
Dados e fatos: O que, onde, quem?
Uma referência sempre vem em minha mente quando se trata de exemplo de Mestre. Meu
benchmarking, ou seja, minha melhor referência é Jesus Cristo, com uma pedagogia e um estilo
gerencial todo próprio. Este é um exemplo a ser seguido:
Sábio no falar, um verdadeiro neurolinguístico – Ele sabia falar a partir da neurologia
de seus interlocutores;
Era efetivo em cada planejamento;
Sabedoria na utilização de metáforas, analogias e parábolas;
Suas salas de aulas eram encantadoras (montes, mares, ruas, templos, entre
outros, mas todos didadicamente pensados);
Exercitava vínculo afetivo com seus discípulos/alunos;
Ensinava o que era – um exemplo sem discurso apenas;
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Sabia trabalhar com a diversidade. Não havia distinção de pessoas;
Fazia transdisciplinaridade e transversalidade a todo o tempo;
Praticava Gestão Participativa;
Foi humilde no falar e no agir.
A abordagem que vem estimulando nosso laboratório de aprendizado sobre gestão, onde
queremos desenvolver “mestres-corujas”, vem da constatação de que a mudança de modelos
mentais, só é possível a partir da implementação estruturada do movimento de “aprendizagem
organizacional”. Por isso intitulamos esta produção como a “Escola Que Aprende”. A escola que
quer ensinar tem que aprender a aprender. A começar pelos seus “líderes corujas”. Só haverá
mudança se houver um agente que facilite este aprendizado. Este é o objetivo do presente
trabalho. Por isso, dedico-o aos gestores educacionais que tenham a humildade de se fazerem
corujas. Alguém que escolheu ser mestre e não tem medo de ser seguido. Sabe que a constatação
de sua liderança está no fato de olhar para trás e perceber que tem seguidores. Ensina o que é,
não o que diz. Busca a excelência pessoal e é o principal aluno da Escola que Aprende.
David S. Jordan disse uma certa ocasião algo que vem ao encontro de nossa reflexão
nesse momento: “Sabedoria é saber o que fazer; habilidade é saber como fazer; virtude é fazer”.
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Estamos falando de uma virtude que, infelizmente, ainda não encontramos com facilidade. Realizar
mudanças, aplicando métodos e ferramentas modernas de gestão, não tem sido o foco dos
dirigentes educacionais em sua grande maioria. Nossas “corujas” estão adormecidas e precisamos
despertá-las. Esta é a nossa responsabilidade. “Se é para educar, que se eduque com dedicação”.
É o que encontramos no livro de provérbios, na Bíblia Sagrada. Mestres, com a pedagogia do
sucesso através de esforço e dedicação. Desenvolvendo habilidades na análise de dados e fatos
que possam subsidiar decisões de melhorias da organização, dos processos e das pessoas. Sendo
capazes de acumular conhecimentos contextualizados, transformando teoria em prática. Não
pensam em “comos” sem “porquês”.
Estamos diante da necessidade de contemplar um sistema educacional, onde seus
gestores tracem metas de aprendizado individual, coletivo e institucional. Só assim alcançaremos a
sabedoria da “coruja” - Aprender como modo de ser. Nada é tão bom que não possa ser
melhorado. Inclusive esta obra. Quando um trabalho é considerado perfeito, certamente seus
críticos e avaliadores foram pouco exigentes. Corujas são exigentes. Não tenho a pretensão de
estabelecer nenhuma verdade absoluta. Trata-se de um compartilhar de aprendizagens que venho
experimentando até agora. Falta muito...
Assim, este material atenderá às duas primeiras caixinhas do fluxo anteriormente citado.
Cada capítulo de nosso “Kit Didático” terá a finalidade de promover reflexões e referências teóricas,
ou seja, informações que precisam ser transformadas em conhecimentos através do exercício
diário de experimentar a teoria. Nosso desafio é buscar colocar em prática os conceitos estudados
em nossas respectivas instituições. Nessa perspectiva, os “porquês” de cada um, ou seja, o
entendimento individual e as lições aprendidas na aplicabilidade dos conceitos no dia-a-dia é que
estaremos aptos para a troca de experiências. Um laboratório de “aprendizes de sábios”.
Os estudiosos do futuro mostram tendências que impactarão o ambiente de ensino. São
movimentos que, se forem administrados estrategicamente, poderão virar oportunidades, caso
contrário, só serão ameaças. Pois tendência não é destino! Precisamos gerenciá-las. A ausência da
formulação estratégica para o sucesso organizacional pressupõe o planejamento para o fracasso.
Todos nós, conscientes e alertas, estamos olhando para as tendências futuras como um
enorme cenário de oportunidades de crescimento e aprendizagem. Enfim, instituímos o
APRENDER COMO MODO DE SER. E buscaremos planejar a potencialização das oportunidades
identificadas.
Além de uma frase incrível, o que é “aprender como modo de ser”? Há que se pensar que
aprender como modo de ser tem conteúdo real. Trata-se de uma forma autêntica de viver trabalhar,
pensar, sentir e agir neste mundo turbulento, onde é preciso acordar para o risco de perder seu
norte por falta de estratégias, fundamentos, ferramentas e liderança efetiva.
O desafio é administrar novos rumos para a gestão escolar. O segredo é perder sem se
perder, ou seja, humildade intelectual. Num momento de muita instabilidade, está fadado ao
fracasso o gestor que achar que seu conhecimento é “estável”. Como as condições turbulentas
surgem em qualquer instituição e permeiam nossas vidas todos os dias, em tempo e espaço, o
aprendizado em condições de transformação permanente é, e continuará sendo, um modo de vida
constante para todos nós – daí a frase “aprender como um modo de ser”.
Baseado em diferentes tipos de pesquisas, leituras de inúmeros livros e artigos, pesquisa de
campo em empresas, escolas e universidades no Brasil e no exterior, facilitação de fóruns de
debates com gestores educacionais, troca de experiências em grupos de intercâmbio; pude
desenvolver uma série de artigos, alguns livros, e a tese do meu primeiro mestrado na
COPEE/UFRJ, onde desenvolvi estudos que me ajudaram a consolidar o pensamento de que “só
se faz gestão através da educação”. E agora é hora de disseminar que, para fazer qualidade no
ensino, precisaremos modernizar nossas estruturas gerenciais através da “Educação com Gestão”.
Estou convencida de que o uso adequado da Gestão Estratégica da Qualidade em
Educação fará de uma instituição de ensino, seja ela pública ou privada, de creche à universidade,
uma referência no setor educacional. A leitura e aplicação das lições, princípios e conceitos
discutidos neste livro, pode acelerar a jornada de Melhoria do Desempenho das Instituições de
Ensino em busca de Excelência. Pode, também, evitar frustrações com processos de mudanças
gerenciados sem fundamentação. E, por fim, pode otimizar os custos, já que o foco é melhorar a
produtividade. Sem falar no tempo que se ganha por não se perder tempo com busca de culpados
por problemas operacionais, já que os mesmos são previstos na gestão da qualidade.
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Há que se trabalhar entusiasticamente na aplicabilidade dos conceitos e teorias nos
diferentes ambientes das instituições de ensino brasileiras. Isto é ser um mestre. Um aprendiz de
sábio. Só chegamos ao verdadeiro aprendizado vivendo, acertando, errando, corrigindo. Uma
Jornada de APRENDIZAGEM com letra maiúscula.
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CAPÍTULO 1
Administrando a Escola em
Tempos de Mudanças
D.Helder Câmara
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INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO I
GESTÃO: A ÚNICA RESPOSTA PARA A CRISE
DESCONFORTO DA MUDANÇA
GERA
CRISE
OPORTUNIDADE
AMEAÇA
ddg 31
Crise: O que é? É algo que pode estar fugindo ao controle e que precisa ser percebido
e administrado. Crise é um problema administrado sem eficiência. Crise é um estado da alma da
instituição. O clima fica pesado, as pessoas, inseguras, todos esperando que alguém tire a
empresa da crise e este alguém achando que todos têm esta responsabilidade. A má administração
da mudança é que gera o problema, que, por sua vez não gerenciado, gera a crise. Enfim,
administrar ou gerenciar é estar “de olho” em possíveis crises.
Tudo começa com a sensação de risco, de perder o controle de uma situação planejada.
E então, dependendo da reação, teremos uma tragédia ou não. A mudança veio para ficar, ou
melhor, sempre esteve em nosso meio, mas hoje é mais veloz e subjetiva. A mudança gera
problemas e os problemas geram Crise. Então surge a questão – Nossas escolas estão
interpretando a crise como ameaça ou oportunidade? A resposta dependerá de como as
instituições de ensino se comportam diante da necessidade de mudança gerada pela crise. Será
que administrar mudanças, ou seja, sair da zona de conforto não seria a resposta para a crise?
Uma escola precisa ser amiga da mudança e não ter medo de correr riscos. O risco é
justamente a oportunidade de uma organização superar os obstáculos saindo da linha da
mediocridade e da acomodação. A crise é simplesmente um sintoma de desmazelo e preguiça. E
então encontraremos uma instituição onde todos reclamam de todos e não conversam sobre os
problemas, não programam o futuro e se gerenciam por eventos. Os cargos importam mais que os
papéis.
Pode ser uma maneira dura de refletir sobre o rumo da educação. Anos atrás, quando
comecei como consultora em empresas, tive de aprender como diferenciar uma organização bem
administrada de uma administração incompetente – sem qualquer pretensão de produzir receita de
bolo. Logo aprendi que uma instituição bem administrada é um lugar com “estresse do bem”, a
agitação faz parte da dinâmica do negócio, mas não há catástrofe, porque a crise foi prevista, e os
seus riscos convertidos em estratégias de melhorias e rotinas sob controle. Ou seja, um Modelo de
Gestão pela Qualidade.
Minha intenção é compartilhar um modelo mental que vivencia a crise como oportunidade
e não como ameaça. A mudança gera crise de percepção, as pessoas reagem de maneiras
diferentes, mas se os colaboradores da escola transformarem-se em parceiros de mudanças, e se
as instituições, de forma organizada, se estruturarem para o fortalecimento do setor, olhando outra
escola não como concorrente, mas como parceira diante de uma mesma crise, talvez possamos
competir com sabedoria.
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O que posso fazer de diferente? Quais os diferenciais competitivos que a escola consegue
enxergar ao olhar para os seus concorrentes? Será que só espaço físico? Preço? O que mais? E
será que só escolas são nossos concorrentes?
Faz-se necessário salientar que as novas tecnologias têm estado na pauta do mundo em
mutação. A tecnologia está derrubando o velho conceito de espaço e tempo como também dando
velocidade ao processo de mudança. É fator crítico para o sucesso da instituição de ensino, estudar
as inovações tecnológicas e as suas influências em nosso fazer pedagógico e administrativo. Ou
seja, para Administrar a escola em tempos de mudanças precisamos estar antenados com as
descobertas científicas pelo o mundo a fora.
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CAPÍTULO 1
Escolas ainda são administradas pelas regras do passado. Por um modelo de gestão que
preconizava a cultura do “faça o que eu mando e não o que eu faço” ou “Manda quem pode e
obedece quem tem juízo”. Com efeito, trata-se de um modelo de gestão que não vê o ser humano
como o centro do processo de produção de suas atividades. O momento presente da
administração educacional vive um conflito – Fazer a transição, de uma escola administrada com
regras do passado para a Escola do Futuro. Estamos dispostos a encarar o desafio? Não é fácil ser
um agente de mudança!
A escola já está sendo cobrada por assegurar um processo educativo coerente com o mundo
em mudanças. Deverá assumir a responsabilidade por alavancar a base da transformação na
administração pedagógica, administrativa, e sem dúvida, de como gerenciar os seus recursos
humanos, os trabalhadores do conhecimento dentro e fora das formais salas de aulas de qualquer
tipo de organização. É difícil prever em detalhes o mundo que está emergindo. Mas acredito que
podemos desenvolver em cada um de nossos alunos o estar preparado para mudanças sempre.
Assim estarão aptos para captar com alto grau de probabilidade quais as novas questões que
surgirão. Da mesma forma que exercitaremos as possibilidades de desenhar a escola do futuro,
eles desenharão suas possibilidades futuras. Mas como ouvirão se não houver quem fale? É mister
que se administre esta transformação já. E por falar nisso, que conceito reside em nossas cabeças
quando pensamos em Administração Escolar?
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Aprendendo com Peter Drucker.
“ A administração existe há muito tempo. Muitas vezes me perguntavam quem foi, na minha opinião,
o melhor executivo. Minha resposta era sempre: O homem que concebeu, projetou e construiu a
primeira pirâmide egípcia há cerca de quatro mil anos – e que ainda está de pé. Mas, a administração
não era considerada um tipo específico de trabalho antes da Primeira Guerra Mundial – e, então,
apenas algumas pessoas passaram a considerá-la como tal. A administração como disciplina só
emergiu após a Segunda Guerra Mundial. Em 1950, quando o Banco Mundial começou a emprestar
dinheiro para o desenvolvimento econômico, a palavra “administração” sequer estava em seu
vocabulário. De fato, embora a administração tenha sido inventada há milhares de anos, não foi
popularizada antes da Segunda Guerra Mundial, em especial desempenho da indústria norte-
americana. Mas, talvez igualmente importante para a aceitação geral da administração tenha sido o
desempenho do Japão desde 1950. Após a Segunda Guerra, o Japão não era um país
subdesenvolvido, mas sua indústria e economia foram quase totalmente destruídas e o país nem
mesmo dispunha de tecnologia doméstica. Seu principal recurso era sua disposição para adotar e
adaptar a administração que os norte-americanos tinham desenvolvido durante a Segunda Guerra
(principalmente o treinamento). Em vinte anos – da década de 1950, com o fim da ocupação do
Japão pelos norte-americanos, a década de 1970 -, o Japão se tornou a segunda maior potência
econômica do mundo, e líder em tecnologia.”
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Ao pesquisar os conceitos da Teoria Geral da Administração (TGA), que é o campo do
conhecimento humano que se ocupa do estudo da gestão, encontramos uma evolução desde a
Escola Taylorista (1900) à Teoria da Contingência (1970). A última explica que nada é absoluto na
teoria e na arte de administrar. Existe uma relação funcional entre as condições do ambiente e as
técnicas gerenciais. O percurso 1903 até 1972 apresentou várias escolas da administração com
diferentes abordagens sobre os modelos administrativos, sendo que o grande diferencial entre elas
esteve ligado à gestão de pessoas, na relação de poder, na produtividade. Trata-se da opção sobre
que modelo de gestão a escola irá implementar. O dirigente precisa se perguntar: Estou adaptando
minhas estruturas às mudanças externas, às necessidades contingenciais? Qual a razão de ser de
minha instituição? Os princípios da GEQUAE (Gestão Estratégica pela Qualidade em Educação)
podem nortear os rumos de minha administração?
Percebemos nesta última pergunta que administrar é muito mais do que um modelo de
comando, com alguns poucos no topo, os famosos níveis hierárquicos, dando ordens, e muitos em
baixo “obedecendo”. Este estático modelo, sempre representado pelo organograma, permaneceu
como norma por quase cem anos. Mas, na “vida como ela é”, nunca foi estático, pois tudo ocorria
na parte branca dos mesmos, entre as caixinhas. Os desafios gerenciais estão exatamente na parte
branca do organograma e suas interfaces.
A mudança desta visão de administração começou junto com a socialização do
conhecimento. Enfim, quando o conhecimento especializado de todos os tipos, especialmente os
relacionados às questões humanas, começou a penetrar nas organizações surgiram algumas
funções da administração.
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O primeiro nível de desempenho da escola é o nível macro, que exige do gestor a visão do
todo e de que tudo faz parte de um estupendo todo. A visão das variáveis internas em
interface com o ambiente externo.
O segundo nível de desempenho da escola são os seus processos. Sem dúvida, o mais
subjetivo, no entanto também o mais sério. A escola precisa de produtividade no
desempenho de sua estrutura e funcionamento horizontal – todos os problemas precisam
ter a idéia de cadeia. Os processos, ou seja, as áreas como clientes e fornecedores uns dos
outros.
E finalmente, não menos importante talvez o maior desafio, o desempenho do trabalhador
do conhecimento, o nível tarefa. Este precisa aprender a se auto-controlar e estar sempre
aberto para o novo.
Enfim, o administrador precisa manter os três níveis de desempenho adaptados ao ritmo
frenético das mudanças no mundo. Na verdade, todo o mundo está apostando bastante alto na
competência, no talento e na responsabilidade da administração.
Nestes quatro milhões de anos em que o homem vive sobre a terra, nunca as mudanças
foram tantas e tão intensas quanto agora. Basta lembrar que, até a virada do século passado, o que
facilitava a locomoção das pessoas eram transportes tipo: navio, cavalo ou diligência. As estradas-
de-ferro eram pouquíssimas e não existia automóvel. Hoje, se quiser viajar, o homem pode tomar o
supersônico Concorde, e já se fala até em foguetes para daqui a alguns anos.
O que será que está acontecendo? Existe uma interpretação bastante aceita por uns, e
criticada por alguns professores de história, por acharem simplista, mas tal simplicidade facilita o
entendimento sobre esta evolução. Estou me referindo às “Ondas de Alvin Toffler”, que começou
com o livro “A Terceira Onda” apresentando três ondas de desenvolvimento e que hoje, duas
décadas depois, evoluiu para cinco e eu tomei a liberdade de classificar uma que antecede as cinco
de Tofler, mas que me serviu de análise para este momento. O quadro abaixo foi adaptado a partir
de Toffler para ilustrar as pegadas da mudança, o que considero marcos históricos diante da
evolução humana. Com efeito, estes períodos regulam as mudanças culturais.
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organizações a cultura da caça, “dos culpados”, processos fragmentados, a falta de foco nas
pessoas, como na era industrial.
As ondas de evolução provocam-me entusiasmo e angústia. Angústia por perceber
nitidamente o paradoxo, a incoerência, ou seja, a confusão dos tempos, espaços, políticas e
culturas. Nossas escolas, em maioria, são administradas com métodos da primeira, segunda e
terceira onda, num espaço e tempo da quarta e quinta onda, com a responsabilidade de preparar a
“geração digital” para a quinta onda. Haja intuição! E quando mencionei o entusiasmo, quis me
referir à grande valorização da educação para este tempo. Claro que uma educação libertadora.
Há 100 anos, um país onde houvesse muitas fábricas era um país líder. Na era industrial,
sua existência indicava progresso, empregos fartos. Hoje, na sociedade pós-industrial, a fábrica
deixou de representar fartura de empregos ou ganhos maiores. Ademais, podem trazer degradação
ambiental, como é o caso da indústria de celulose, de cimento, amianto, gases tóxicos e muitas
outras. Fala-se hoje da empresa com responsabilidade social e consciência ecológica. As
instituições de ensino tem todas as características desse tipo de organização. Não conheço
nenhuma atividade mais responsável pela evolução com caráter de responsabilidade social do que
a educação. Mais do que despoluir o ambiente ecológico estamos falando da possibilidade de
desenvolver senso crítico que seja incapaz de prejudicar aos outros e a natureza. Este ser humano,
e não um “ser vivente”, só acontecerá através de um rigoroso e criativo processo educacional, que
por sua vez dependerá de um modelo de administração inovador.
Muitos são os textos teóricos que fundamentam nossos administradores para o foco das
funções dentro das instituições. Na verdade, precisamos atentar, principalmente como instituições
de ensino, para a função social da escola e sua gestão no seu contexto também. Responsabilidade
Social é um dos temas que mais vem ganhando espaço nas freqüentes discussões de como uma
organização pode atuar de forma solidária em benefício do desenvolvimento social.
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proteção ambiental ou humana. Tudo muito lento e confuso. E então surgem soluções alternativas
e cooperativas. Basta olhar para o lado e identificaremos sempre algo a ser feito pelo social dentro
e fora das salas de aulas. Como ser uma escola com Responsabilidade Social. Ou seja, que
conduz suas atividades de tal maneira que a torna co-responsável pelo desenvolvimento social.
Nossa utopia (“um lugar que ainda não existe”) é pensar que por meio de um verdadeiro
processo educacional e de conscientização ética, política e social, o Brasil deixa de ser um país de
contrastes extremos até então evidentes para todos nós? A sociedade quer educar seus filhos, mas
os filhos do país fogem à luta por um Brasil melhor.
Talvez ainda não tenhamos assumido o fato de que o sistema educacional representa o
poder – e o poder tem de ser acompanhado de responsabilidade social, tem que assegurar um
sistema que inclui e promove. Fazendo pensadores e vencedores. Assim o poder será legítimo. A
Sociologia nos ensina que a escola é um dos aparelhos ideológicos do poder. Que esta
responsabilidade seja assumida com seriedade. Sob a pena de não participar do futuro do planeta.
A administração educacional também tem a função de gerar relacionamento com a comunidade em
que está inserida e assumir o seu papel social de agregar valor a sociedade. A escola deve ser o
pólo de diminuição dessas desigualdades a começar pelo seu ambiente interno e seu entorno. Que
haja paz, amor e solidariedade na terra a começar em cada sala de aula. Essa atitude traz ganhos
para a atividade educacional. A prática de intervensão socialmente responsável traz ganhos para a
imagem institucional e, principalmente para a sociedade.
Basta entendermos a evolução que o mundo vem passando por meio das “pegadas da
mudança”, para entendermos que o “poder” está no significado das coisas, no “espírito” das coisas.
A Educação e sua essência vêm mudando de rumo nestes quatro milhões de anos em que nós,
seres humanos, estamos nos buscando profundamente.
É tarefa básica da administração gerenciar os impactos sociais e as responsabilidades
sociais da instituição de ensino. Nenhuma de nossas escolas existe por si só nem um fim em si
mesma. Existimos como uma organização que faz parte de um sistema social. A escola não é
exceção, mesmo quando pertence ao sistema privado. Não se pode justificar a livre iniciativa por
ser boa para o seu negócio apenas, e sim por agregar valor para a sociedade. Incorporando em
seu planejamento de atividades, não só as propostas dos acionistas ou mantenedores, mas sim o
atendimento das demandas de seus colaboradores, comunidade, governo e prestadores de
serviços.
A escola existe em função de servir a um alunado que deverá contribuir com a sociedade.
As instituições devem fazer parte da comunidade psicológica, geográfica e política. Uma Escola
socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de interagir com os diferentes
interesses que se fazem representar em sua comunidade (alunos, suas famílias, mantenedores,
colaboradores, representantes da comunidade, prestadores de serviço, fornecedores, órgãos
reguladores, entre outros). Conseguindo assim atender todas as demandas necessárias. Este
aspecto merecerá um capítulo a parte – a questão da participação. Ela se compromete com
programas sociais voltados para o desenvolvimento e o futuro da comunidade e da sociedade
através de seu projeto de extensão. Investe em campanhas de conservação ambiental e no uso
racional dos recursos naturais. Enfim, faz dos conteúdos transversais uma prática de cidadania e
crescimento humano. Por isso tais “conteúdos” não podem estar aprisionados nas “grades
curriculares”.
O sucesso da instituição de ensino depende do quanto ela consegue causar impactos sobre
o público, comunidades e sociedade em que está inserida. Esse tipo de comportamento revelaria a
nossa crença de que só uma sociedade saudável pode gerar escolas saudáveis. A instituição de
ensino brasileira, em qualquer segmento precisa ter poder e autoridade através do que consegue
influenciar as pessoas que trabalham nela, as que dependem de seus serviços, os vizinhos, como
fonte de empregos e receita tributária. Precisava mostrar claramente as suas preocupações quanto
ao futuro do planeta e sua qualidade de vida.
Não se fala mais em “capital” e “trabalho” e sim em “gestão e trabalho”. Conclui-se que,
para administrar as instituições educacionais em tempos de mudanças, precisaremos de uma
liderança visionária, educadora e que institua um processo de participação a partir de novos
conhecimentos e novas crenças e valores. Empoderamento - termo utilizado que busca ilustrar o
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famoso conceito de empowerment. A prática do mesmo já é uma evidência da responsabilidade
Social da instituição de ensino. A valorização de seus colaboradores é uma ação social.
O processo de mudança passa por uma série de desconfortos e tensões gerados justamente
pela crise. Na hora da tomada de decisão sobre que rumo a escola deverá tomar, sobre que
rupturas deverá assegurar, é tudo muito confuso. O processo transitório entre o que temos e o que
desejamos, requer o conhecimento das “tensões” que o gestor tem para identificar e superar. Se
bem administradas as tensões se caracterizam como “Estresse do bem”, caso contrário, teremos o
“estresse do mau”. Uma instituição com um clima pesado diante do processo de mudança.
Acredito que qualquer gestor educacional já tenha parado para observar as tensões e
questões centrais que atingem a sociedade e que, conseqüentemente, geram a crise no ambiente
educacional. São elas:
a tensão criada pela necessidade que o ser humano e sua comunidade têm por sentirem-se
estabilizados;
a tensão gerada pela medo que, as instituições educacionais têm, diante da responsabilidade de
desestabilizar o estado atual das coisas (status quo) para administrar a mudança;
a tensão gerada pela urgência da mudança de paradigma de que a escola precisa de “trabalhadores
do conhecimento”;
a tensão que surge da necessidade de autonomia da instituição em convergência dos interesses da
sociedade no Bem Comum;
a tensão gerada pela demanda crescente por instituições de ensino com responsabilidade social;
a tensão entre especialistas com conhecimentos específicos e a necessidade da instituição de ensino
de que estes especialistas trabalhem como uma equipe interdisciplinar;
a tensão provocada por uma ação coletiva de saída da zona de conforto para transformar a
instituição educacional num movimento ágil e flexível através de processos e pessoas integradas.
Decidir por acompanhar a mudança é o primeiro passo que a Escola que Aprende pode dar
em direção ao futuro, ultrapassando as barreiras geradas pelas tensões acima citadas. Estas
preocupações centrais, dentro dos próximos anos, não deverão ser resolvidas por pronunciamentos
filosóficos ou por pareceres legislativos do MEC. Serão resolvidas onde se originam (na sala de
aula, nas salas de reuniões, nos gabinetes dos gestores, nos processos escolares). Não podemos
esquecer de que as soluções são encontradas no mesmo espaço e tempo onde estão os
problemas.
A Escola precisa ser amiga da mudança. À medida que mudamos nossos hábitos e
padrões, aprendemos a aprender e evoluir. Quando encaramos os problemas como efeitos naturais
do processo de mudança, descobrimos novas maneiras de ser. A vida da escola passa a ser um
desafio cheio de significados que nos conduz a sucessivos estados de maior compreensão. Este é
um processo natural de “aprender como modo de ser”.
A decisão por sair da “zona de conforto” e gerenciar a transformação dará o direito de errar
e aprender. No entanto, continuar acomodado diante da necessidade de mudança, além de
covardia, é um erro. Nenhuma mudança significativa acontecerá nesta terra chamada Brasil se os
seus filhos, educadores, fugirem à luta. Todos nós concordamos – a Mudança no Brasil deverá
passar pelos caminhos da educação.
O mundo, o Brasil e as Instituições de ensino estão prontos para serem reinventados. São
muitas as oportunidades de crescimento e sucesso para a educação brasileira. Mas por que
algumas instituições de ensino dão certo e outras não? A Instituição Educacional só dará certo se
houver um processo sistemático de administração de mudanças. É necessário que a liderança seja
estratégica e desenvolva um plano de navegação para enfrentar ondas altas e curtas que
interferem no dia-a-dia da instituição de ensino. Navegar é preciso, planejar o impreciso também é
necessário. É preciso navegar no cenário de transformação que os novos tempos nos mostram.
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Gestores Educacionais precisam atravessar os limites de seus cargos e posições e perderem a
ilusão de que exercem o controle da situação com práticas antigas de gestão. É necessário que se
entenda o momento certo de mudar e “como” mudar.
1.5.1 - Quando mudar?
Começando pelo começo: quando uma instituição de ensino deve tomar decisão de mudar?
Diante do desconforto gerado pelas incertezas e o caos. A pressão para mudança vem de várias
direções:
da condição econômica do país;
do MEC;
da concorrência;
dos clientes que descobriram que têm muitas opções que não apenas a escola;
de um mercado impulsionado por inovações tecnológicas, entre outras;
de uma sociedade carente de valores humanizados através do processo educativo;
da necessidade de um reposicionamento estratégico;
da urgência em assumir uma escola com Responsabilidade Social.
A instituição de ensino deve estar sempre em processo de melhoria. A hora de mudar é agora. É
possível exercitar e imaginar um formato ideal para administrar a transformação.
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1.5.3 – Critérios de Excelência em Gestão
Assim, antes da crise surgir é melhor buscar formas de corrigir dia a dia aquilo que precisa
ser corrigido. Há que se ter cuidado para “sentir o cheiro” da crise, enxergá-la subjetivamente. Não
precisamos de um “iceberg” batendo em nossa embarcação. É possível enxergá-lo de longe,
quando se tem visão do todo. Isto é “gestão estratégica”.
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qualidade de ensino de sua instituição através da qualidade dos processos, métodos e pessoas. A
Instituição de Ensino precisa se tornar apta para:
Administrar a mudança – eis o desafio para gestores educacionais. Precisamos construir uma
embarcação sólida e preparada para mudanças sempre. Ordem e Progresso dependem de gestão
e planejamento. A Mudança veio para ficar! Não esquecer: a CRISE reflete a má administração.
Este capítulo explorou o desafio de Como Administrar a Escola em Tempos de
Mudanças. Nele estivemos explorando alguns conceitos, reflexões e ações que prepararão as
nossas mentes para a necessidade de sabedoria como agentes de mudanças. Quando me refiro a
sabedoria, estou falando de paciência e persistência na facilitação da Mudança do Modelo de
gestão em sua escola. É o que ilustra o texto abaixo. Leia.
Haja bambu
Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada, absolutamente nada,
por 4 anos – exceto o lento desabrochar de um diminuto broto, a partir do bulbo. Durante 4 anos, todo
o crescimento é subterrâneo, numa maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende vertical e
horizontalmente pela terra. Mas então, no quinto ano, o bambu chinês cresce, até atingir 24 metros.
Covey escreveu: “Muitas coisas na vida (pessoal e profissional) são iguais ao bambu chinês. Você
trabalha, investe tempo e esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e às vezes não se
vê nada por semanas, meses ou mesmo anos. Mas, se tiver paciência para continuar trabalhando e
nutrindo, o “quinto ano” chegará e o crescimento e a mudança que se processam o deixarão
espantado. O bambu chinês mostra que não podemos desistir fácil das coisas.... Em nossos trabalhos,
especialmente projetos que envolvem mudanças de comportamento, cultura e sensibilização para
ações novas, devemos nos lembrar do bambu chinês para não desistirmos fácil frente às dificuldades
que surgem e que são muitas”...
(desconheço o autor)
Faça o exercício a seguir e verifique o que pode mudar em seu interior para que você seja um
transformador organizacional de sucesso.
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A AUTO AVALIAÇÃO DO GESTOR
Abaixo você encontra três estilos básicos de gestão. Por meio de uma Auto avaliação, procure situar-se em um deles.
( ) Não se sente encorajado em mudar sua forma de trabalhar ou de interferir na administração atual
de sua instituição. Entende que o futuro seja a continuação do passado. Age com cuidado, optando por
trilhas seguras e já batidas. Encara os novos conceitos como “modismos” e não consegue conhecê-los
melhor. Acredita que o relacionamento hierárquico na sala de aula ou na administração não deve misturar
sentimentos com o trabalho. Os incêndios do dia-a-dia não lhe permitem pensar em mais nada. Tem sempre
a sensação de estar apagando incêndios como um “bombeiro”.
( ) Portador de uma visão estratégica. Busca captar as informações, pelo menos superficialmente para
saber o que se passa no mundo lá fora. Tem desejo genuíno de construir um ambiente de qualidade para as
pessoas de sua organização, como também aprimorar-se tecnicamente; aprofundar-se nos conceitos
necessários e entregar-se a um processo de aprendizagem. Coisas importantes, porém não essenciais, ainda
tomam todo o seu tempo. Você se dedica muito à rotina e isto lhe consome energia e tempo. Acha que sua
equipe não está preparada para assumir responsabilidades. Você tem consciência do que precisa ser feito,
mas não consegue colocar em prática. E aí o tempo passa, o tempo voa e você continua como um bombeiro
ou então “engenheiro de manutenção” de alguns esforços pontuais que conseguiu implantar.
( ) É um apaixonado pela vida. Sua positividade pode ser sentida à distância. “Se”, “talvez”, “não sei
não”, “não vai dar certo” são expressões que estão extirpadas do seu dicionário. Gosta de desafios e desafia
as convenções e os dogmas. Tem o hábito de olhar as coisas como elas poderiam ser e indagar: Por que não?
Cria um propósito e se mantém constante nele, mesmo que tenha que gerenciar conflitos para construir
consenso. Acha que as pessoas que trabalham com você são capazes e merecedoras de confiança e delega
decisão e comando para que elas gerenciem a rotina. Exerce um modelo administrativo de ter controle sem
precisar ficar no comando o tempo inteiro. Por isso investe tempo em pesquisas, estudos, aprimoramento
pessoal, e desenvolvimento de visão de futuro para a sua instituição. E como um líder educador – busca
ensinar as pessoas a aprenderem. Assim você consegue ser um”arquiteto do futuro”, muito mais do que
atuar somente como “engenheiro de manutenção”. Você já deixou de ser bombeiro.
O terceiro estilo é o Transformador Organizacional – O que o põe em ação é a possibilidade de realizar seus
sonhos e não o poder em si. O poder como meio, como forma de influência consciente e declarada sobre outras pessoas,
é utilizado com vistas a atingir objetivos. Tende a ter metas de longo prazo, em cuja direção deve trabalhar de forma
apaixonada, determinada e sistemática. Continue pesquisando, planejando e implementando. Sua visão é acompanhada
de ação. Por isso você faz a diferença. Transformou-se num “arquiteto do futuro” que atua como “engenheiro de
manutenção” sempre que necessário. Assumirá o papel de transformador social – um agente de mudanças, girando
sempre o PDCA.
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conclusão
A Escola que Aprende busca aprender como empreender o que hoje parece impossível, mas que
amanhã, poderá se transformar num padrão de excelência. Cérebros líderes de pessoas e que têm
um negócio voltado para o desenvolvimento de pessoas, terão que exercitar o sonho em ação
planejada para inovar em meio a crise, criando, assim, a transição da neutralização de ameaças
para a potencialização das oportunidades. Cada gestor precisa ser um especialista no que não
existe. O caminho está na “busca” e não na acomodação. É hora de despertar o espírito guerreiro,
resgatar sonhos, aspirações, transformando-os em realidade. Assim, responderemos à Crise com
criatividade.
crise
Respostas
Investigação
sobre futuro Visão de
futuro
Acordar !! desafios
Ameaça? Oportunidade?
O século XXI está sendo marcado por incertezas, ameaças e oportunidades. A análise
prospectiva – a arte de pensar adiante – dificilmente terá conhecido uma atualidade de tantos êxitos
retumbantes e evidentes fracassos, assim como um panorama futuro tão rico em possibilidades
contraditórias. Não pode um ano ser imaginado em separado dos processos mundiais em curso,
nem poderia o Brasil ser visto fora das contrastantes realidades internacionais. As empresas e
entidades não-governamentais estão investindo pesado em processos educacionais. O mundo
acordou para a necessidade de cérebros-de-obra e responsabilidade social.
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Profª Débora Dias Gomes
Email: [email protected]
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