Agroquímicos para Controle de Pragas No Brasil

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DEBATE

https://doi.org/10.22239/2317-269x.01195

Agroquímicos para controle de pragas no Brasil: análise


crítica do uso do termo agrotóxico como ferramenta de
comunicação de risco
Agrochemicals for pest control in Brazil: critical analysis of the use
of the term agrotóxico as a tool for risk communication

RESUMO
Peter Rembischevski I,II Devido ao seu potencial de causar danos à saúde e ao meio ambiente, os agroquímicos
utilizados para o controle de pragas estão entre as substâncias mais controversas e
Eloisa Dutra Caldas III,*
reguladas no mundo. No Brasil, a polêmica começa pelo nome que se dá a esses produtos,
incluindo a denominação agrotóxicos prevista na Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989,
de estrutura semântica pouco ortodoxa e só adotada no país. O presente texto aborda
o contexto histórico nacional que levou à incorporação do termo na Lei e apresenta
dados que indicam não ter havido sinais de que esta medida tenha exercido influência
efetiva sobre as práticas de segurança adotadas pelos agricultores, as intoxicações e
tampouco impactou na comercialização desses produtos, apesar de terem sido estes os
objetivos iniciais das autoridades. Discute, ainda, as terminologias adotadas em outros
países para denominá-los, à luz dos fatores que verdadeiramente impactam na redução
dos riscos e do uso dessas substâncias. Os autores concluíram que o termo agrotóxico
não possui os atributos técnicos nem semânticos necessários para uma adoção legal, e o
uso de neologismos, seja com conotações negativas ou positivas, não é apropriado para
comunicar o risco destas substâncias aos trabalhadores e à população geral, de forma
honesta, responsável e tecnicamente embasada.

PALAVRAS-CHAVE: Agroquímicos; Legislação; Comunicação; Risco

ABSTRACT
Due to their potential to impact human health and the environment, agrochemicals used
for pest control are among the most controversial and regulated substances worldwide.
In Brazil, the controversy starts with the name given to these products, including the
one stated in the Law n. 7802/89 – agrotóxicos, only adopted in the country. This paper
I
Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Saúde da Universidade covers the historical context that led to the inclusion of this term in the Law, and shows
de Brasília, (UnB), Campus Darci data indicating that this action did not affect the safety practices adopted by the farmers
Ribeiro, Brasília, DF, Brasil and the number of intoxications, nor affected the commercialization of these products,
II
Agência Nacional de Vigilância which were the primary goals of the governmental authorities. Furthermore, the paper
Sanitária (Anvisa), Brasília, DF, Brasil discusses other terms used in the world, considering the key factors that could affect
III
Laboratório de Toxicologia, the risks and the use of these products. The authors concluded that the term agrotóxico
Departamento de Farmácia, does not contain the necessary technical or semantic attributes to be adopted in a legal
Faculdade de Ciências da Saúde, text, and that neologisms to send positive or negative messages are not appropriate for
Universidade de Brasília (UnB), communicating the risks posed by these products to the general population and farmers,
Brasília, DF, Brasil
in a honest, responsible and technically supported way.

* E-mail: [email protected] KEYWORDS: Agrochemicals; Legislation; Communication; Risk

Recebido: 29 ago 2018


Aprovado: 08 nov 2018

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Rembischevski P & Caldas ED O termo agrotóxico na comunicação de risco

INTRODUÇÃO
As substâncias organossintéticas foram introduzidas na agricul- Comissão Especial da Câmara dos Deputados, aguardando ser
tura a partir da década de 1940, após a descoberta das pro- pautado para deliberação no plenário da Câmara5.
priedades inseticidas do Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) pelo
químico suíço Paul Müller, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de O presente debate aborda o contexto histórico nacional que
Fisiologia ou Medicina em 1948 .
1,2 levou à adoção do termo agrotóxico na Lei nº 7.802/1989, e dis-
cute se esta estratégia de comunicação atingiu seus objetivos na
Isto acarretou de início impactos positivos na produção de ali- percepção de risco dos agricultores, na ocorrência de intoxica-
mentos, bem como no controle de vetores responsáveis pela ções, bem como na comercialização desses produtos.
transmissão de doenças graves, como febre amarela e malária.
Todavia, seu uso intensivo, aliado ao desconhecimento de seus
DISCUSSÃO
efeitos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente, deram iní-
cio ao movimento ambientalista nos Estados Unidos (EUA), pro-
O uso de pesticidas e as intoxicações humanas no Brasil
pagando-se em seguida no mundo, tendo como marco a obra
Primavera Silenciosa, de Rachel Carson (1962). O Brasil situa-se entre os maiores usuários de pesticidas do pla-
neta, em números absolutos. A China ocupa a 1ª posição, com
A partir de então, os agroquímicos empregados no controle de
uso de 1,8 milhão de toneladas de ingrediente ativo (ia)/ano6,7,
pragas, doravante referidos como pesticidas, passaram a ser
seguida por Brasil e EUA, com aproximadamente 0,4 milhão de
questionados. A análise e os desdobramentos desses questiona-
ton/ano cada7,8. Em termos de mercado, EUA e Brasil vêm se
mentos fogem ao escopo deste trabalho. Entretanto, vale men-
revezando entre 1ª e 2ª posição nesta última década, ambos
cionar o recente documento elaborado pela Organização para
com cerca de U$ 9,5 bilhões em vendas, seguidos da China com
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que des-
aproximadamente U$ 8 bilhões9. Todavia, parâmetros absolutos
taca as consequências negativas provocadas pela agricultura
não são os melhores indicadores para esse tipo de comparação,
intensiva baseada em agroquímicos, com impactos adversos
tendo em vista as largas diferenças territoriais entre os países.
não somente à saúde e à biodiversidade, mas também sociais,
Quando se considera a quantidade utilizada por unidade de área
econômicos e regulatórios3.
agricultável, o Brasil ocupa o 28º lugar no ranking mundial, uti-
No Brasil, é cada vez maior a tensão entre o setor produtivo lizando em média 4,57 kg ia/ha em 2015, atrás de países como
agroindustrial e os setores da Saúde e do Meio Ambiente, par- Itália, Bélgica e Holanda (7–9 kg ia/ha), Coreia do Sul, Japão e
ticularmente no que tange à regulação e ao registro de pes- China (11–13 kg ia/ha), além de Colômbia (14,7 kg ia/ha) e Chile
ticidas. Enquanto o primeiro alega excesso de burocracia no (25,07 kg ia/ha)7. Importante ressaltar que a área agricultável
processo, que reduz a competitividade do país no cenário inter- do Brasil corresponde a cerca de 18% do território do país, dos
nacional e ocasiona prejuízos econômicos e perdas aos agricul- quais apenas 7,6% estão efetivamente sob ocupação agrícola na
tores, os dois últimos se arvoram da necessidade de controle atualidade10. Isso implica que a agricultura brasileira, altamente
rígido desses produtos, como forma de proteção da saúde e do tecnificada, se concentra em espaços menores de terra, fazendo
meio ambiente, inclusive invocando o Princípio da Precaução, com que, na prática, a quantidade de ingredientes ativos aplica-
do qual o Brasil é signatário desde a Conferência das Nações dos por hectare seja consideravelmente maior em regiões densa-
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também mente agrícolas, em comparação ao valor nacional médio.
chamada de Rio-924.
Dados da Organização para Agricultura e Alimentação das Nações
Esta tensão atingiu seu momento mais elevado nos dois últimos Unidas (FAO) indicam um incremento no uso de pesticidas
anos, com o desarquivamento do Projeto de Lei (PL) nº 6.299, nas últimas duas décadas no Brasil, passando de um total de
apresentado em 13 de março de 2002, ao qual foram apensa- 0,13 milhão de ton/ano em 1999 para cerca de 0,4 milhão de
dos itens de outros PL anteriormente tramitados, tendo como ton/ano em 20157 (Figura 1). Isto é compatível com o cresci-
propositura a alteração da Lei nº 7.802, de 11 de julho de mento econômico e da própria produção agropecuária do país no
19895. Dentre as alterações propostas, destaca-se a mudança no período, fomentado, entre outros fatores, pela entrada da China
termo “agrotóxico”, adotado para designar os produtos quími- no cenário comercial internacional como importante comprador
cos utilizados no controle de pragas no Brasil. Inicialmente, o de commodities brasileiras. Não obstante, o número de traba-
PL nº 6.299/2002 propôs alterar o termo atual para “produto lhadores rurais no país vem decrescendo ao longo do tempo,
fitossanitário”, sob o argumento de que a denominação agrotó- passando de 17,9 milhões em 1995 para 16,6 milhões em 2006 e
xico traria uma conotação pejorativa a essa classe de produtos, 13,9 milhões em 2013, proporcional à gradual redução da própria
distante da finalidade com a qual são utilizados. Porém, esta população rural total11,12.
proposta teve forte repercussão negativa por parte dos setores
da Saúde e do Meio Ambiente, polemizando o debate e forçando No Brasil, são notificados em torno de 7 a 9 mil casos de intoxica-
a adoção de alterações por meio de substitutivos, incluindo o ções anuais por pesticidas13,14. A Figura 2 mostra que o crescente
uso do termo pesticida para denominar estes produtos. Próximo aumento da incidência dessas intoxicações de 2007 a 2014 tem
à conclusão deste manuscrito, o PL foi votado e aprovado na uma relação direta com o aumento da taxa de comercialização

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500k
Tonnes of active ingredients
400k

300k

200k

100k

0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Pesticides (total) Insecticides Herbicides Fungicides & Bactericides

Insecticides: inseticidas; Herbicides: herbicidas, fungicides/bactericides: fungicidas/bactericidas.


Fonte: FAOSTAT, Food and Agriculture Organization of the United Nations7.

Figura 1. Uso de pesticidas (pesticides) no Brasil entre 1999 e 2015, em mil toneladas de ingrediente ativo.

desses produtos no período. Essas intoxicações incluem as ten- identificados pelo agricultor ou pelo sistema de saúde como
tativas de suicídio e, nesse caso, o termo agrotóxico pode ter estando relacionado à exposição. Avaliação recente do Banco
influenciado o indivíduo na escolha do agente no seu ato. Porém, Mundial constatou que a face da pobreza mundial é primaria-
a relação mostrada na Figura 2 ainda se mantém, já que o per- mente rural e jovem, com 80% da pobreza extrema e 75% da
centual de tentativa de suicídio com pesticidas é estável ao pobreza moderada vivendo em áreas rurais24. Neste sentido, é
longo do período analisado, correspondendo em média a 40% das preciso igualmente colocar os números em perspectiva diante do
intoxicações com estes produtos15. contexto de más condições sanitárias, habitação precária, baixo
acesso a rede hospitalar, deficiência nutricional e exposição a
É bastante provável, porém, que o número de intoxicações por calor severo, que fazem parte do cenário da maioria dos traba-
pesticidas no Brasil esteja subnotificado, principalmente no lhadores rurais no Brasil. Essas condições com frequência pro-
meio rural. Nos EUA, a subnotificação de intoxicações agudas duzem sintomas que podem ser confundidos com efeitos resul-
ocupacionais por trabalhadores rurais foi estimada em até 88%16, tantes de intoxicação por pesticidas, gerando uma dificuldade
podendo chegar a 96% na Tanzânia17 e a mais de 95% na Nicará-
adicional nas tentativas de se estimar um número mais realista
gua18. Com base nessas estimativas, bem como em estudos reali-
relacionado às intoxicações decorrentes da exposição ocupacio-
zados com agricultores familiares do Rio Grande do Sul19, é possí-
nal a esses produtos25. É importante ainda reconhecer que, em
vel especular que a subnotificação de intoxicações ocupacionais/
geral, cerca de 80% dos casos correspondem a intoxicações con-
acidentais agudas por pesticidas no Brasil seja de cerca 95%. Este
sideradas de menor gravidade e de rápida recuperação19.
percentual é coerente com a informação de que somente 3% a
7% dos indivíduos procuram atendimento hospitalar por apresen- Definição legal: contexto histórico
tarem algum sintoma de intoxicação decorrente de exposição a
agentes exógenos em geral20. Isso significa que, para cada caso A primeira norma federal que procurou disciplinar o uso de pro-
de intoxicação aguda ocupacional/acidental por pesticida notifi- dutos químicos na agricultura no Brasil foi o Decreto nº 24.114,
cado no meio rural brasileiro, há por volta de 20 não notificados, de 12 de abril de 1934, instituindo o Regulamento de Defesa
levando a um quadro de cerca de 70 mil intoxicações agudas Sanitária Vegetal. Esse Decreto foi anterior à introdução das
por pesticidas anualmente no país. Apesar desta subnotificação, substâncias sintéticas na agricultura, fazendo menção apenas a
dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) indi- inseticidas e fungicidas, dado que os herbicidas e demais classes
cam que ocorreram 679 mortes por intoxicação ocupacional com de uso ainda não eram utilizados comercialmente26,27. O Decreto
pesticidas no Brasil entre 2000 e 200921. Destaca-se que, den- ficou em vigência por mais de meio século, e sua defasagem foi
tre as causas especificamente identificadas, as intoxicações por sendo suprida pela publicação de portarias ministeriais e outras
pesticidas foram as principais causas de morte por acidentes de normas infralegais, até a publicação da Lei nº 7.802/1989.
trabalho em mulheres, considerando-se todas as atividades da
agropecuária no país22. O regime militar instituído no país em 1964 teve seu auge nos anos
1970, no período da chamada Revolução Verde na agricultura. Essa
As estimativas de intoxicação por pesticidas raramente consi- Revolução se caracterizou pela introdução de novas tecnologias
deram possíveis efeitos crônicos decorrentes dessa exposição, agrárias e técnicas de cultivo, aumentando a produtividade e
os quais são dificilmente notificados, dada a complexidade constituindo-se em um novo paradigma tecnológico de produção
inerente ao estabelecimento de causalidade entre exposição e agrícola28. Considerando que esse regime centrava suas ações sob
efeitos de longo prazo . Adicionalmente, a exposição a pesti-
23
uma ótica desenvolvimentista, aliado ao fato de que não havia
cidas frequentemente produz sintomas clínicos inespecíficos, ainda no país uma plena consciência das consequências que esse
como dor de cabeça, náusea e tontura, que nem sempre são desenvolvimento a todo custo poderia ter na saúde humana e no

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20 10

Taxa de comercialização (Kg/ha)


16.87

Incidência da notificação
14.47 8
15 12.54
11.14

(x 100 mil hab.)


8.65 10.71 6
8.94 5.73 6.26 6.26
10 7.84
5.20 4
4.16
5 3.18 3.66
2.70 2

0 0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Ano

Comercialização de agrotóxicos por área plantada (kg/ha)


Incidência da notificação de intoxicações por 100.000 hab.

Fonte: Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, Ministério da Saúde13.

Figura 2. Correlação entre aumento na comercialização de agrotóxicos (incluindo produtos técnicos) e número de intoxicações.

meio ambiente, o cenário era propício à implementação das práti- programas de capacitação de pessoal visando coibir o uso indis-
cas evocadas pela Revolução Verde no meio rural nacional29. criminado de pesticidas, tanto do ponto de vista econômico,
para evitar desperdícios, como em relação à saúde humana e
Nesse período, foram oferecidos subsídios e incentivos para que ecologia regional31.
o agricultor pudesse ter acesso às tecnologias agrícolas consi-
deradas modernas então adotadas no país, incluindo o uso de A Lei no 7.802/1989, que disciplina a produção, a importação,
pesticidas, por meio principalmente do Programa Nacional de a exportação, o comércio e o uso desses produtos na agricultura,
Defensivos Agrícolas, criado em 1975, que propiciou investimen- trouxe pela primeira vez na esfera federal a definição do termo
tos para implantação e desenvolvimento do complexo agroindus- agrotóxico. O movimento ambientalista, que crescia e ganhava
trial brasileiro27. A agricultura nacional passaria a atingir níveis importância no país no final dos anos 1970, foi o seio para cria-
cada vez mais elevados de produção/produtividade agrícola, que ção deste neologismo, atribuído a Paschoal em uma publicação
viria a ser a base para o modelo de desenvolvimento agrário que de 1977 (Figura 3)32, e citado posteriormente por ele próprio e
perdura até os dias de hoje. Com efeito, a produção de grãos no outros autores27,33,34,35,36. Em depoimento recente, o criador do
Brasil cresceu mais de seis vezes entre 1975 e 2017, passando termo ressalta que esta denominação veio suprir uma lacuna,
de 38 milhões de toneladas para 236 milhões, enquanto a área pois “não havia um termo preciso para indicar a toxidade dos
plantada apenas dobrou30. Merece destaque o aumento no rendi- agroquímicos utilizados nas plantações”, e que ele “funcionava
mento do trigo (346%), arroz (317%) e milho (270%), além de soja de alerta aos consumidores sobre a presença de um componente
e feijão, que praticamente dobrou no período analisado. ‘tóxico’ nos alimentos”37. Este termo já havia sido anterior-
mente introduzido na Lei Estadual nº 7.747, de 22 de dezembro
Diante de todo o pacote de incentivos que o governo destinava ao
de 1982, do estado do Rio Grande do Sul, e posteriormente no
uso de pesticidas e demais agroquímicos, era de se esperar que
Paraná (Lei nº 7.827, de 29 de dezembro de 1983), Santa Cata-
a denominação oficial desta classe de produtos à época estivesse
rina (Lei nº 6.452, de 19 de novembro de 1984) e São Paulo (Lei
alinhada aos objetivos de impulsionar o crescimento e a moder-
nº 4.002, de 5 de janeiro de 1984).
nização da agricultura nacional, não havendo muito espaço para
discussões no âmbito da saúde dos agricultores, tampouco dos Portanto, a Lei nº 7.802/1989 aparentemente fez apenas tornar
possíveis danos ambientais que esses produtos poderiam causar. de direito o que já parecia ser de fato, ao menos entre os mili-
Em 1971 se deu a primeira menção normativa ao termo defensi- tantes da saúde e do meio ambiente.
vos (Portaria do Ministério da Agricultura nº 295, de 23 de agosto
de 1971), conceituando os defensivos organomercuriais e intro- Em seu Art. 2o, a Lei define “agrotóxicos e afins”, de certa forma
duzindo a noção de “defensivos agrícolas”, sem fazer alusão a alinhada às definições internacionais, porém sem descrever o
seu potencial para causar impactos negativos. A partir de então, que especificamente seria “afins”, que é definido indistinta-
este termo passaria a ser empregado, eufemisticamente, inclu- mente de agrotóxicos:
sive em campanhas de promoção ao uso desses produtos27.
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se:
As preocupações governamentais na década de 1970 no tocante I - agrotóxicos e afins:
aos efeitos potencialmente danosos ao trabalhador rural e ao a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos
meio ambiente decorrentes do uso massivo desses insumos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção,
se deram, essencialmente, por meio de iniciativas do Depar- no armazenamento e beneficiamento de produtos
tamento de Extensão da Comissão Executiva do Plano da agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas
Lavoura Cacaueira (Depex/Ceplac), com a implementação de ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de

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as áreas da saúde, educação, meio ambiente e direitos do con-


sumidor. Inclusive, o termo agrotóxico consta no art. 220, §4º,
da CF/88, em um contexto particular, restrito à propaganda de
diversos produtos que podem trazer malefícios à saúde. Ao men-
cioná-lo, sem defini-lo, a CF/88 partiu do natural pressuposto de
que o termo já era, àquela altura, popularmente reconhecido e
culturalmente assimilado no país.

Art. 220, § 4º A propaganda comercial de tabaco, bebidas


alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará
sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do
parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário,
advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.

Um aspecto marcante é que o arcabouço jurídico-normativo que


começava a ser (re)desenhado nessa época, principalmente nas
áreas de maior sensibilidade social, continha o traço comum de
procurar se contrapor ao modelo ou estrutura vigente anterior à
abertura política, e não poderia ser diferente nos temas relacio-
nados às questões agrárias. Assim, ao formalizar o termo agro-
tóxico na Lei Federal nº 7.802/1989 e algumas leis estaduais,
o objetivo dos legisladores fora o de se contrapor ao emprego
do termo defensivo agrícola, abraçado não somente pelo setor
produtivo nacional, mas também sendo a terminologia oficial das
normativas da época, inclusive dos órgãos de saúde (por exem-
plo: Portaria Disad/MS nº 4, de 30 de abril de 1980). Ambos os
termos, embora pareçam intercambiáveis, emitem cada qual seu
próprio juízo de valor e exprimem noções de risco notadamente
distintas. Enquanto defensivo agrícola ressalta os aspectos posi-
tivos desses produtos quanto ao seu caráter protetor da lavoura,
Figura 3. Capa da primeira publicação mencionando o termo “agrotóxico” seu contraponto agrotóxico chama a atenção para os aspectos de
no Brasil32.
nocividade que pode representar à saúde e ao meio ambiente,
procurando comunicar no nome uma conotação de perigo/risco.
ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja No melhor do conhecimento dos autores, nenhum dos dois ter-
alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá- mos encontra similar em qualquer outro idioma ou país.
las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos;
No resto do mundo, empregam-se prioritariamente termos de
b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes,
caráter técnico para se referir a esses agroquímicos em par-
dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento; ticular. Nas línguas inglesa e francesa utiliza-se o termo pes-
[...] ticide, traduzido para pesticida em português, enquanto em
espanhol o termo empregado é plaguicida, ou praguicida em
Nota-se na própria definição que o termo agrotóxico abrange
português. Pesticida e praguicida são também os termos prefe-
vasta gama de produtos além daqueles de uso agrícola, como os
rencialmente adotados pela comunidade acadêmica nacional,
de uso domissanitário, para controle de vetores em campanhas
pois, além de tecnicamente mais apropriados, não possuem
de saúde pública, de uso em ambientes aquáticos, de uso no tra-
inconsistência semântica, como abordado mais adiante. Até os
tamento de madeira, além dos produtos denominados de uso não
dias atuais, defensivo agrícola é a denominação de escolha dos
agrícola, empregados, por exemplo: em margens de ferrovias,
setores públicos e privados ligados à produção e pesquisa na
pátios industriais e aceiros. agroindústria no Brasil, enquanto o termo legal agrotóxico é
majoritariamente empregado por grupos ativistas da saúde e
É interessante avaliar o contexto histórico do Brasil da época
do meio ambiente.
da promulgação da Lei nº 7.802/1989. O país acabava de sair
de 21 anos de regime militar, período em que não se encorajava Os regulamentos da União Europeia no tema adotam o termo
o livre expressar e o intercâmbio de ideias, tampouco os deba- plant protection products (comumente abreviado para PPP),
tes de caráter social nas diversas camadas da sociedade. Apenas e até mesmo fitofarmacêuticos para designar esta classe de pro-
4 anos após o término do regime, foi promulgada a Constituição dutos em português (Regulamento (CE) nº 1.107/2009, de 21 de
Federal de 1988 (CF/88), considerada por alguns autores a mais outubro de 2009), configurando-se nos análogos semânticos mais
democrática e progressista de todas as constituições do país38, próximos de defensivo agrícola. Convém ressaltar que a Europa
trazendo avanços quanto às garantias no campo social, incluindo tem exercido nas últimas décadas um controle bastante rígido no

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comércio e uso de destes produtos39,40, bem como de substâncias estricnina e a nicotina45, sendo um bom exemplo de divergência
químicas industriais em geral , apesar de o termo utilizado no
41
entre o senso comum e o conhecimento científico46.
continente não refletir diretamente esta preocupação.
Portanto, a toxicidade não é privilégio apenas dos pesticidas,
Da inconsistência semântica do termo e agregar o sufixo tóxico a esses produtos pode inclusive ter
implicações práticas negativas, inclusive o seu uso como agente
O significado das palavras, e em última análise, o modo pelo nas ações suicidas. No imaginário popular, que na maioria das
qual todas as coisas são denominadas, e que irá refletir em vezes não diferencia as variadas formas e instâncias de poder na
como iremos nos expressar a seu respeito, é de suma importân- Administração Pública, sedimenta-se a ideia de que o governo,
cia em todas as áreas do conhecimento humano, especialmente enquanto entidade abstrata e ao mesmo tempo onipresente,
na ciência42. Etimologicamente, “agro-tóxico” deriva da junção considera que apenas os pesticidas gozam do atributo da toxici-
do prefixo “agros” (do grego, campo) com o sufixo “toxicon” dade, dado que são os únicos produtos explicitamente tachados
(do grego, veneno), não havendo incorreção nesta derivação32. como tóxicos, em lei. A mensagem, subliminar ou não, passada
Contudo, do ponto de vista semântico (significado), as junções à população, é a de que outras classes de produtos, tais como
envolvendo o sufixo “tóxico” lhe conferem um caráter de efeito medicamentos, saneantes domiciliares e tintas, não apresentam
ao termo utilizado como prefixo. Assim, a rigor, o significado nocividade, dado que não foram formalmente cunhados por um
conceitual de agrotóxico é “tóxico para o campo”, da mesma neologismo que realçasse sua periculosidade, ainda que tal pro-
forma que neurotóxico denota “toxicidade ao sistema ner- posição tenha sido sugerida no caso de produtos de uso domissa-
voso”, hepatotóxico, ao fígado, genotóxico, aos genes, e assim nitário (“domitóxicos”), de modo a manter a coerência termino-
por diante. Isto é, o sentido real, semanticamente falando, lógica com seus análogos agrícolas47.
é diferente daquele que supostamente se propunha com a
conjunção “agro + tóxico”, uma vez que, ao menos em tese, Da inadequação de se definir neologismos em leis
o agente não deveria ser tóxico para o meio no qual está sendo
aplicado, caso contrário nada poderia ser cultivado nele, pois Termos com imprecisão técnica e semântica, que possam trans-
não sobreviveria a ele, incluindo o próprio campo. No mínimo, mitir noções equivocadas e de alguma forma gerar ambiguidade
tal terminologia produz ambiguidade, dando a entender que na compreensão de seu significado, talvez não sejam os mais
se tratam de substâncias tóxicas para a agricultura, que não é apropriados para se empregar em dispositivos legais, seja com
evidentemente a finalidade a que se propõem, apesar do dese- quais objetivos forem, por mais justo que possa parecer. Com
quilíbrio ecológico que podem provocar, acarretando inclusive efeito, o emprego de neologismos em redações oficiais, embora
desenvolvimento e proliferação de novas pragas, muitas das não proibitivo, é visto com ressalvas48.
quais até então tidas como espécies benéficas . 33

Resta aparentemente pacificado que agrotóxico e defensivo agrí-


Outra situação equivocada gerada pelo termo agrotóxico no cola são denominações que, em seus extremos opostos, trans-
arcabouço normativo nacional deve-se ao fato de que sua defi- mitem tendenciosidade, cada qual representando uma corrente
nição contempla também produtos empregados em ambientes ideológica (contra ou a favor de seu uso), cujo mérito foge ao
diversos das lavouras, conforme já mencionado. Isto origina um escopo do presente artigo. Manifestações ideológicas são legí-
emprego semântico inconciliável do termo, quer seja, de “agro- timas e inerentes à natureza humana, o que é discutível é a
-tóxicos” utilizados em residências, água e demais ambientes sua pertinência em instrumentos legais e redações oficiais, os
não agrícolas. Dessa maneira, a expressão “agrotóxicos de uso quais devem primar pelos preceitos constitucionais de impesso-
agrícola”, que deveria ser considerada um pleonasmo, não o é à alidade, clareza e formalidade, não condizente com expressões
luz da Lei nº 7.802/1989, dada a existência de produtos “agrotó- ou jargões que emitem juízos de valor48,49.
xicos de usos não agrícolas”, registrados para outras finalidades.
Pode-se alegar que, uma vez mencionado na Constituição Federal
Da inconsistência técnica do termo de 1988 (CF/1988), o termo agrotóxico tornar-se-ia de uso impo-
sitivo na legislação subsequente. Todavia, reforçando a ideia de
“All substances are poisons; there is none which is not a poi- que a CF/1988 menciona, mas não impõe sua adoção, cita-se a Lei
son. The right dose differentiates poison from a remedy”. Com nº 9.294, de 15 de julho de 1996, que “dispõe sobre as restrições
essa célebre frase, que pode ser abreviada para “A dose faz o ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas,
veneno”, Paracelsus (1493–1541) estabeleceu as bases da toxi- medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do §4°
cologia moderna43, demostrando que a toxicidade é uma carac- do art. 220 da Constituição Federal”. Essa lei, embora evocando
terística inerente a toda substância química (e sua interação explicitamente o dispositivo da CF/1988 que alude a agrotóxicos,
com os sistemas biológicos), e não um atributo restrito a uma opta por empregar termo diverso desse, ainda que notadamente
classe particular de compostos, ora denominados venenos44. se referindo à mesma classe de produtos.
Isto é, todas as substâncias químicas, naturais ou sintéticas,
são potencialmente tóxicas – umas mais, outras menos. Trata- Da comunicação do risco aos agricultores
-se, portanto, de uma propriedade. A propósito, as substâncias
mais tóxicas conhecidas não foram sintetizadas pelo homem, e Os agricultores de países periféricos como o Brasil estão sujeitos a
incluem a toxina botulínica, a aflatoxina B, a tetrodotoxina, a inúmeras externalidades negativas. Os riscos mais imediatos são

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econômicos, tendo em vista que sua atividade laboral depende camponeses das regiões Sul e Sudeste, como utilizar mãos e
de fatores climáticos, sazonais e até mesmo cambiais dos cul- boca para desentupir o bico dos pulverizadores e até mesmo
tivos que produz, sobre os quais eles não possuem ingerência. provar o gosto do produto na ponta da língua, pois, para eles,
Além desses, há os riscos envolvendo a saúde e integridade física um odor/sabor forte é indicativo de elevada eficiência no com-
dessa população, decorrentes da exposição a produtos químicos bate às pragas, sejam chamados de veneno ou de remédio.
perigosos, bem como a fatores mecânicos, elétricos e poluição No trabalho realizado com os agricultores do estado do Rio de
sonora no manuseio de equipamentos, como tratores e aero- Janeiro65, dentre os 97% que os denominam de remédios, 70%
naves agrícolas. Não se pode desconsiderar também os riscos afirmaram perceber os riscos dos produtos; os 3% que não se
indiretos, devido à exposição aos raios solares, ao calor severo, referem a eles como remédios, informaram que não os utilizam
ao pólen, poeira e outras partículas dispersas, além de vermes, por terem sofrido intoxicação aguda por esses produtos no pas-
vírus e bactérias que se proliferam particularmente no meio sado. Em outro estudo realizado no Rio de Janeiro, observou-se
rural50,51. Diante deste cenário, a efetiva comunicação desses ris- uma diversificação na denominação escolhida pelos agriculto-
cos torna-se um processo de primordial importância. res, incluindo veneno, remédio, agrotóxico e inseticida. Nova-
mente, não ficou clara uma correlação entre o nome dado e a
Em um processo de comunicação, ou troca de informações, percepção de risco pelo trabalhador a esses produtos66.
os destinatários devem ser capazes de decodificar o significado
da informação recebida. Desvios na compreensão do significado Esse caráter dicotômico dos pesticidas (ora venenos, ora remé-
são causados tanto pela falta de habilidade dos destinatários em dios) aliado ao mecanismo subjetivo de negação (da periculo-
entender o que se quis dizer, como por mensagens ambivalentes sidade) pelos agricultores67,68, dada a necessidade de seu uso,
de quem enviou a informação. Isto é ainda mais evidente quando permeiam o universo das percepções de risco no meio rural,
o conceito de comunicação é aplicado ao âmbito das ciências guardando pouca ou nenhuma relação com a terminologia ado-
sociais, dado seu maior nível de complexidade e possibilidades tada para esses produtos.
de interferências52. A título de comparação, os pictogramas nos
rótulos dos pesticidas nem sempre são compreendidos pelos agri- Peter Sandman, considerado um dos precursores da comunica-
cultores da forma que se esperava em decorrência de diferenças ção do risco nos EUA, considera válida a iniciativa brasileira de
nos contextos socioculturais entre quem envia e quem recebe a ter consagrado o termo agrotóxico como um instrumento para
mensagem, de difícil previsibilidade .
53 comunicar seu risco, particularmente ao agricultor, diante da
escassez de outras medidas notadamente mais eficazes69. Por
Estudos demonstrando os fatores associados à percepção de risco outro lado, acrescentou que a introdução de um termo de cará-
dos agricultores aos pesticidas têm sido bem documentados em ter supostamente neutro, como pesticida, não deve a princípio
diversas regiões do mundo, e as características se assemelham mudar a percepção de risco das pessoas, pois essas tendem a
entre os países mais e menos desenvolvidos, incluindo o Bra- criar mecanismos cognitivos de defesa (desconfiança ou aversão)
sil54,55. São aspectos estruturais, socioculturais e cognitivos que pelo novo nome que estaria sendo introduzido. Sandman alerta
permeiam o universo laboral dos trabalhadores rurais. De um que nos países de língua inglesa o termo pesticide provoca nos
modo geral, baixo nível de instrução, idade mais avançada e limi- indivíduos o mesmo sentimento de temor ou repulsa que agro-
tada assistência técnica se mostraram fortes determinantes para tóxico no Brasil.
uma baixa percepção no risco, cujos principais indicadores são o
não uso dos equipamentos de proteção, a não leitura das reco- Ao analisar a eficácia da Lei nº 7.802/1989 após 10 anos de sua
mendações de segurança contidas nas bulas e a falta de cuidados publicação, Garcia26 concluiu que nenhuma mudança significa-
no manuseio e armazenamento dos produtos 54,55,56,57,58,59,60,61,62,63
. tiva havia ocorrido em relação à intensidade no uso dos produtos
Nenhum dos estudos conduzidos nos diferentes países relatou ou ao número de produtos menos tóxicos registrados (Classes
influência do termo atribuído aos produtos ou usado pelos agri- toxicológicas e/ou ambientais III e IV). Com o passar das déca-
cultores sobre a percepção do risco. das, não foram observados, na prática, sinais de que a estratégia
tenha impactado no número e/ou gravidade das intoxicações,
No Brasil, além de observar similares determinantes na influên- e não houve também nenhum indício de estabilização (ou menor
cia da percepção de risco pelos trabalhadores rurais12,63, alguns crescimento) na comercialização desses produtos, conforme a
autores analisaram os aspectos da regionalização no modo designação agrotóxico ia sendo assimilada, como mostrado nas
como os pesticidas são referidos pelos agricultores. Por exem- Figuras 1 e 2. Com efeito, observa-se que agrotóxico passou a
plo: enquanto os produtores do interior do Piauí referiam-se a ser muito mais do que simplesmente uma designação de alerta,
esses produtos como veneno64, a maioria dos agricultores dos e sim um símbolo da luta para conter o uso desses produtos,
municípios estudados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul em todas as suas formas, inclusive repudiando alusões ao seu
opta por chamá-los de remédios (da planta)63, mesma deno- uso racional70. Com a descaracterização das bases que susten-
minação escolhida por agricultores de uma área rural do Rio tariam o discurso de alguns segmentos da sociedade em favor
de Janeiro65. Os autores notaram que, apesar da maior per- do emprego deste termo, o argumento pela sua manutenção na
cepção de risco apresentada pelos trabalhadores piauienses legislação notadamente se enfraquece. Seus defensores podem
(que os chamam de veneno), esta não se traduzia em maiores alegar que, na ausência crônica de medidas efetivas no sentido
cuidados no manuseio e uso dos produtos, tendo sido obser- de se garantir maior proteção aos trabalhadores rurais, a altera-
vado nesses indivíduos práticas semelhantes às observadas nos ção do nome era o mais factível que se poderia fazer na época.

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Muitos podem sustentar também que, não tivesse havido a cria- CONCLUSÕES
ção do neologismo agrotóxico e sua definição em lei, a situação
de vendas e uso indiscriminado desses produtos no país seria É possível que hoje já se tenha atingido o nível de maturidade
ainda maior. Naturalmente, não há como provar que estejam necessário para reconhecer que a histórica disputa observada
equivocados. Contudo, alguns dados comparativos não suportam entre setores da saúde e meio ambiente versus setor produtivo
essa afirmação. Por exemplo: a incidência anual estimada de em torno da terminologia utilizada para agroquímicos para con-
intoxicações agudas por pesticidas na Nicarágua que emprega trole de pragas serve a palanques cujos interesses não neces-
o termo plaguicida para denominar esses produtos é de 2,3% , 18 sariamente se coadunam com suas narrativas. A denominação
similar ao Brasil, cuja incidência estimada com base em estudo agrotóxico não possui os atributos técnicos nem semânticos
conduzido no Sul do país foi de 2,2% Semelhante padrão de uso
19. necessários para uma adoção legal, em que pese a louvável
e intoxicações por esses produtos é observado na Argentina e iniciativa de seus idealizadores à época, considerando o con-
outros países latino americanos .
71 texto socioeconômico e político na ocasião de sua construção.
A adoção de termos que denotam juízo de valor, além de não
O fato é que, transcorridas três décadas da adoção do termo apropriados para uma normativa oficial, pode provocar nos
agrotóxico no Brasil, nenhuma outra nação ousou apostar na indivíduos percepções (e atitudes) muito diferentes, tendo em
mesma estratégia, incluindo os países vizinhos latino-america- vista a conjunção de fatores de cunho estrutural e psicossocial
nos, apesar da proximidade geográfica, afinidades socioculturais que permeiam o complexo universo da cognição humana, no
e semelhança entre os idiomas. Segundo Peres et al.72, o termo que diz respeito ao seu poder decisório e sua liberdade de esco-
pesticida teria uma maior conotação positiva de conferir pro- lha sobre quais caminhos seguir ou não seguir, particularmente
teção às lavouras, do que negativa, de alertar sua nocividade. quando há riscos e benefícios envolvidos, por vezes não tão
Entretanto, os efeitos cognitivos subliminares na mente humana claramente percebidos.
provocados pelo sufixo “cida”, o qual se sobrepõe à força do pre-
fixo “pesti”, sugere que o mesmo evoca nas pessoas a mensagem A denominação legal que se dá a estes produtos não parece
de morte, extermínio. Tal cognição é explicada por Kahneman73 influenciar a percepção de risco dos agricultores, com conse-
como relacionado ao nosso sistema mental responsável pelo ins- quentes maiores cuidados quanto à sua segurança e à do meio
tinto e emoção, que opera preponderantemente nesse tipo de ambiente, tampouco atua como um fator de minimização de seu
situação, ditando o componente do comportamento intuitivo dos uso. Ao contrário, a adoção do termo agrotóxico pode ter con-
seres humanos. tribuído para a situação inversa, ou seja, de maior uso, consi-
derando que grande parcela dos trabalhadores rurais associa a
Ressalva deve ser feita no sentido de reconhecer que, a rigor, capacidade tóxica de um produto à sua maior efetividade contra
peste diz respeito mais à doença do que aos organismos que a ori- as pragas que atacam a lavoura. O uso inadequado e/ou exces-
ginaram32, sendo pesticida um exemplo de palavra inglesa aportu- sivo de pesticidas no país, com baixa adoção de práticas segu-
guesada, uma forma de anglicismo. Por este ponto de vista, “pra- ras, é consequência de vários fatores, incluindo controle ineficaz
guicida” poderia ser considerado um termo de maior coerência da venda no varejo, assistência/extensão rural precária, insu-
etimológica em nossa língua. No entanto, peste em inglês também ficiente fiscalização do uso segundo as Boas Práticas Agrícolas,
possui o sentido de praga, sendo traduzido tanto para pest como dificuldades socioeconômicas do produtor rural e baixa escolari-
para plague, de modo que seus significados se confundem. Com dade deste segmento populacional, que dificulta a compreensão
efeito, das línguas de raiz latina, somente o espanhol adota o do rótulo/bula dos produtos, bem como sua percepção de risco
termo praguicida (plaguicida), pesticida é a denominação prefe- em relação aos mesmos.
rencial em francês, italiano e português em Portugal74. Ademais,
não existe atualmente um termo único que represente fielmente As estatísticas de intoxicação e consumo dessas substâncias no
todos os atributos desses produtos, dada sua diversidade de fina- país parecem corroborar com a tese de que a terminologia ado-
lidades e funções, de modo que pesticida surge como opção de tada não surtiu o efeito esperado de minimização de seu uso
escolha, por seu amplo emprego e aceitação internacional. (ou mau uso). Importante ainda ressaltar que os agricultores
dificilmente se orientam pela lei, de baixa permeabilidade no
Não é incomum observarmos agentes públicos empregando ter- meio rural, provavelmente muitos sequer saibam qual o nome
mos distintos para se referir a esses produtos, muitas vezes em legalmente definido.
uma mesma norma. Por exemplo: pode-se citar uma publicação
oficial de 2013 da Secretaria de Defesa Agropecuária do Minis- Os atores envolvidos em regulação sanitária devem aproveitar
tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SDA/MAPA), a oportunidade para se aprofundar no tema e passar a utilizar
utilizando a designação praguicidas para se referir a essas subs- estratégias efetivas de comunicação de risco na área de pestici-
tâncias75. Em outra norma desse Ministério publicada em 2018, das, com base em conhecimentos adquiridos e refletindo o mais
convivem em diferentes artigos os termos agrotóxicos, pestici- atual estado da arte internacionalmente reconhecido na maté-
das e defensivos agrícolas76. A Resolução RDC nº 18, de 3 de abril ria. A criação de jargões ou neologismos, seja com conotações
de 2013 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), negativas ou positivas, não é ação considerada apropriada para
sobre plantas medicinais e fitoterápicos, incorre em confusão esta finalidade fundamental no contexto da análise de risco, que
semelhante, mencionando pesticidas e agrotóxicos na mesma é o de comunicar o risco de forma honesta, responsável e tecni-
frase, em seu Art. 150, como se denotassem coisas diferentes77. camente embasada aos trabalhadores e à população geral.

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Conflito de Interesse
Os autores informam não haver qualquer potencial conflito de interesse com pares e instituições, políticos ou financeiros deste estudo.

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