2982-Texto Do Artigo-19780-1-10-20200831
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Autora para correspondência. Universidade Federal da Bahia (Salvador). Bahia, Brasil. [email protected]
Submetido 27/05/2020, Aceito 14/08/2020, Publicado 27/08/2020 Como citar este artigo: Jesus AS, Martins GB. Formação acadêmica
Rev. Pesqui. Fisioter., Salvador, 2020 Agosto;10(3):404-409 e profissional de fisioterapeutas atuantes em um hospital público.
Doi: 10.17267/2238-2704rpf.v10i3.2982 | ISSN: 2238-2704 Rev Pesqui Fisioter. 2020;10(3):404-409. doi: 10.17267/2238-2704rpf.
Editoras responsáveis: Cristiane Dias, Katia Sá v10i3.2982
Introdução sociodemográfico e de formação acadêmica e pro-
fissional dos fisioterapeutas inseridos em um hospi-
A assistência fisioterapêutica no ambiente hospitalar tal público com atendimento pelo Sistema Único de
tem se mostrado bastante importante na diminui- Saúde na cidade de Salvador, Bahia, Brasil.
ção do tempo de internação de pacientes e no prog-
nóstico após a alta hospitalar, esses apresentam um
maior índice de recuperação funcional. A presença
constante do fisioterapeuta no ambiente do hospital Materiais e métodos
é imprescindível, porém é importante também que
esses profissionais adquiram conhecimentos especí- Trata-se de um estudo transversal, descritivo, com
ficos na formação para atuar no meio, o que torna abordagem quantitativa, que teve como população
a especialização profissional um dos pontos chave alvo os fisioterapeutas atuantes em um hospital pú-
para um atendimento de qualidade1. blico na cidade de Salvador-BA. Foi escolhida uma
instituição hospitalar que oferece o serviço de fisiote-
A formação em saúde foi designada como uma das rapia nos setores de internação, Unidade de Terapia
atribuições do Sistema Único de Saúde (SUS), sen- Intensiva (UTI), e atendimento ambulatorial, sendo
do gerenciado por instituições públicas de saúde. utilizada uma amostra de conveniência. O projeto
Porém, o grande número de instituições privadas foi submetido à avaliação e aprovação pelo Comitê
que cumprem essa função é significativo. O núme- de Ética em Pesquisa da instituição escolhida, ten-
ro de instituições de ensino superior que ofereciam do sido aprovado sob protocolo n° 2.657.824 (CAAE
o curso de Fisioterapia entre os anos de 1995-2015 85221418.1.0000.0047), respeitando a Resolução nº
cresceu 888%, onde no ano de 1995 eram 63 institui- 466/12 do CNS.
ções, sendo 17 públicas e 46 de ensino privado. Já no
ano de 2015, esse número cresceu para 560 institui- A população do estudo contava com um possível
ções, porém o número de universidades públicas não n total de 68 profissionais. Para ser incluído no es-
acompanhou o crescimento quantitativo das institui- tudo os fisioterapeutas deveriam ser registrados
ções privadas, mostrando uma grande discrepância no Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia
com 492 instituições privadas e apenas 68 públicas2. Ocupacional (CREFITO) e deveriam atuar no hospital
há no mínimo 6 meses. O critério de exclusão seria
No ano de 2016, o curso de Fisioterapia, em âmbito na- a obtenção de questionários respondidos de forma
cional, ocupava o 13º lugar de curso de graduação com incompleta pelos profissionais.
maior número de ingressos, com 55.973 novos alunos,
sendo 76,9% do sexo masculino e 23,1% do sexo fe- Cada fisioterapeuta participante recebeu uma via do
minino3. Uma pesquisa realizada no estado de New Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conten-
South Wales, Austrália, traçou um perfil da Fisioterapia do informações sobre a pesquisa e concordando em
entre os anos de 1975 e 2002, onde no ano de 1975 o participar do estudo de forma voluntária, estando li-
percentual de profissionais do sexo feminino era de vre para abandonar o estudo a qualquer momento.
94,8% ocupando quase todo o campo profissional, já
no ano 2000 esse número caiu para 76,5%, mostrando Os dados foram coletados a partir de um questionário
um crescimento dos fisioterapeutas do sexo mascu- específico, elaborado pelas autoras contendo ques-
lino. Foi observado pelos pesquisadores que apesar tões sociodemográficas (sexo e idade) e questões so-
de serem minoria, os profissionais do sexo masculino bre formação acadêmica e profissional (instituição de
estão à frente em relação a pós-graduação, visto que ensino superior de origem; tempo de formação; cur-
em 1998, 34% dos fisioterapeutas homens eram pós- so de pós-graduação realizado; instituição em que foi
graduados contra 23,2% das mulheres4. realizada a pós-graduação, e área de especialização)
e tempo de atuação no hospital.
Com o intuito de iniciar a exploração do conhecimen-
to sobre o perfil profissional que atuam em rede pú- A coleta foi realizada por duas pesquisadoras pre-
blica, este estudo teve como objetivo traçar um perfil viamente treinadas, entre maio e junho de 2018, em
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dias e horários convenientes a ambas as partes, foram realizadas sete visitas à unidade hospitalar. Os fisiotera-
peutas que aceitaram participar da pesquisa foram entrevistados em um lugar com privacidade afim de evitar
qualquer tipo de exposição e constrangimento.
Os dados obtidos pelos questionários foram tabulados e analisados com estatística descritiva com uso de médias
e percentuais através do programa Microsoft® Office Excel versão 2013, e posteriormente expostos através de
tabelas e gráficos.
Resultados
Da possibilidade de 68 fisioterapeutas participarem da pesquisa, somente um fisioterapeuta não foi incluído por
não atender aos critérios de inclusão, por trabalhar na instituição há menos de 6 meses. Além disso, 23 fisiotera-
peutas não foram encontrados nos dias de visita para coleta das informações e três deles se recusaram a partici-
par do estudo. Desta forma, foram entrevistados 41 fisioterapeutas (Figura 1).
Desses 41 participantes, 51,3% (n= 21) atuavam na enfermaria, 36,5% (n=15) atuavam no ambulatório e 12,2%
(n=5) na UTI. O perfil sociodemográfico e de formação acadêmica e profissional estão descritos na Tabela 1, as
mulheres representaram (56%), na faixa etária de 31-40 anos, formadas por instituições de ensino superior do
tipo privadas e com média de 6-10 anos de formadas.
A maioria dos fisioterapeutas, representada por 87,8% (n=36), afirmaram possuir algum tipo de especialização.
No setor ambulatorial, 80% (n=12) possuía especialização, sendo que um dos fisioterapeutas apresentava duas.
Os três profissionais que afirmaram não possuir especialização estavam cursando uma pós-graduação no mo-
mento da pesquisa. Na enfermaria, 90,4% (n=19) possuía especialização profissional, onde um dos fisioterapeutas
estaria cursando a segunda especialização e um dos que afirmou não possuir este título também estava cursando
a mesma no momento da pesquisa. No ambiente da UTI, 100% dos entrevistados são pós-graduados e de forma
semelhante aos casos anteriores, um dos profissionais possui duas pós-graduações e um outro estava cursando
a segunda especialização. As áreas das especializações desses profissionais podem ser vistas na Figura 2, sendo a
especialização em UTI (adulto) a mais citada entre os profissionais que trabalhavam no próprio setor de UTI e nas
enfermarias, seguida da especialização em Osteopatia, para os profissionais atuantes nos ambulatórios.
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Figura 2. Área de especialização dos profissionais (Salvador, Ba, 2018)
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para 28,8% dos participantes10. No estudo de Badaró Bispo Júnior13, em 2009, fez uma reflexão sobre o
e Guilhem6, no ano de 2006 e 2007 o número de fisio- modelo de formação em fisioterapia e o perfil des-
terapeutas com pós-graduação foi de 63,5%, sendo ses profissionais e observou que os fisioterapeutas
que 7,5% obtiveram duas titulações. O presente estu- ainda apresentavam o modelo curativo-reabilitador
do confirma o crescente número de fisioterapeutas que deu origem a fisioterapia, porém era necessária
que estão se especializando, com uma amostra onde uma mudança na atuação dos profissionais já que o
87,8% já possui especialização concluída, o que mos- perfil epidemiológico da população também estava
tra que os profissionais têm se capacitado de forma mudando. Sendo assim, através do presente estu-
cada vez mais precoce para atender as especificida- do foi possível observar que durante esses 10 anos
des dos pacientes na sua área de atuação, oferecen- (2009-2019) os profissionais têm se especializado em
do assim um serviço de melhor qualidade. diversas áreas, saindo da linha reabilitadora que en-
volve principalmente pacientes da ortopedia e neuro-
Embora diferente por se tratar de um estudo espe- lógicos, e expandindo o serviço para outros setores
cífico em oncologia, Borges e colaboradores11, en- de atuação, a exemplo da oncologia, cardiologia e
trevistaram 30 fisioterapeutas de 13 hospitais do pneumofuncional.
Distrito Federal e foi observado que 86,7% dos pro-
fissionais fizeram algum tipo de especialização em Como limitação do estudo, ressalte-se o fato dos
diversas áreas, sendo a mais comum a especialização dados terem sido coletados em apenas um hospi-
em traumato-ortopedia realizada por 30,2% dos fisio- tal, sendo o mesmo da rede pública, não permitindo
terapeutas, seguida pela a área de pneumofuncional, um comparativo entre diversas instituições públicas
com 20,9% de profissionais, enquanto as especializa- e privadas. Ainda, o estudo apresenta uma amostra
ções em cardiologia e UTI adulto foi realizada por 7% limitada, com número reduzido de voluntários.
dos fisioterapeutas entrevistados.
Em uma relação sobre o tempo de formação e a área A Daniella Souza Jesus, pela análise estatística; a Leticia Silva Lima
Damasceno, pela coleta parcial de dados.
de atuação, foi possível observar que 80% dos fisiote-
rapeutas atuantes na UTI tem um tempo de formado
Contribuições das autoras
entre 1-10 anos e também possuem especialização
em UTI adulto, sendo possível ser explicada pelo
Martins GB participou da concepção, delineamento, interpretação
fato que a especialidade profissional da Fisioterapia dos resultados, redação e revisão crítica do artigo científico. Souza
em Terapia Intensiva foi somente reconhecida A participou da concepção, delineamento, coleta de dados da
pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia pesquisa, análise estatística dos dados da pesquisa, interpretação
Ocupacional através da Resolução Nº402 no ano de dos resultados e redação do artigo científico.
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Conflitos de interesses 6. Badaró AFV, Guilhem D. Perfil sociodemográfico e profissional
de fisioterapeutas e origem das suas concepções sobre
Nenhum conflito financeiro, legal ou político envolvendo terceiros ética. Fisioter Mov. 2011;24(3):445-454. doi: 10.1590/S0103-
(governo, empresas e fundações privadas, etc.) foi declarado 51502011000300009
para nenhum aspecto do trabalho submetido (incluindo, mas
não se limitando a subvenções e financiamentos, participação 7. Nozawa E, Sarmento GJV, Vega JM, Costa D, Silva JEP, Feltrim
em conselho consultivo, desenho de estudo, preparação de MIZ. Perfil de fisioterapeutas brasileiros que atuam em unidades
manuscrito, análise estatística, etc.). de terapia intensiva. Fisioter Pesqui. 2008;15(2):177-82. doi:
10.1590/S1809-29502008000200011
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Brasil. Fisioter Pesqui. 2017;24(3):295-302. doi: 10.1590/1809-
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