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Capítulo 13
Análise térmica de dutos de conducionamento de ar: O
efeito da espessura do isolamento térmico na
condensação de água
Resumo: Este trabalho tem por objetivo verificar a influência da temperatura e umidade
relativa do ar externo, e temperatura de insuflamento na espessura mínima de lã de
rocha, revestida com um filme de alumínio, necessária para evitar o efeito da
condensação em duto de ar condicionado com seção transversal retangular. A
formulação matemática utilizada é baseada na primeira lei da termodinâmica e na lei de
Fourier. Foi desenvolvido um planejamento experimental para obtenção de um modelo
matemático empírico para a variável em análise e superfícies de resposta. Resultados
indicam que o aumento na temperatura e umidade relativa do ar externo e redução na
temperatura de insuflamento contribuem para o aumento na espessura mínima de
isolamento térmico necessária para evitar a condensação do vapor d’água presente no ar
quando em contato com a superfície do duto. Além disso, constatou-se que a umidade
relativa é a variável que mais influencia na variável de resposta analisada.
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III Simpósio de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Campina Grande: Coletânea de Artigos
1.INTRODUÇÃO
Uma rede de dutos é um conjunto estrutural cuja função primária é a de conduzir ar entre pontos
específicos. É comumente empregado na climatização de prédios comerciais, shoppings centers, hospitais,
hotéis de grande porte, etc. Segundo a ABNT NBR 16401-1 (2008), os dutos metálicos utilizados no
transporte de ar condicionado devem ser isolados termicamente para reduzir ganhos ou perdas de calor
do ar, além de evitar a condensação do vapor d’água presente no ar ambiente quando em contato com a
superfície do duto. Tal fenômeno acontece quando o ar entra em contato com uma superfície cuja
temperatura é menor que a temperatura de orvalho.
Se a espessura do isolamento térmico não for suficiente para evitar o efeito da condensação, ocorrerá
gotejamento no local em que o duto estiver instalado. Além disso, a condensação do vapor d’agua presente
no ar contribui para a germinação e proliferação de fungos nos dutos de ar condicionado (PASANEN,
1993), comprometendo a qualidade do ar no interior do ambiente.
Ainda de acordo com a norma ABNT NBR 16401-1 (2008), o material e a espessura do isolamento térmico
devem ser estipulados pelo projetista. Diante do exposto, é importante que a espessura do isolamento
térmico seja tal que se obtenha uma temperatura superficial externa superior a temperatura do ponto de
orvalho, evitando desta forma o efeito da condensação. O objetivo deste trabalho é quantificar a influência
de três variáveis, através de um planejamento experimental, na espessura mínima de lã de rocha,
revestida com um filme de alumínio, necessária para evitar o efeito da condensação em dutos de ar
condicionado com seção transversal retangular.
2.METODOLOGIA
Para o problema físico em análise, foi considerado transferência de calor unidimensional em regime
permanente e sem geração de energia interna. Na Fig. 1a está representado a distribuição de temperatura
no duto com isolamento térmico. A transferência de calor ocorre por convecção na superfície interna do
duto, por condução na parede do duto e no isolamento térmico e por convecção e radiação na superfície
externa ao isolamento térmico, conforme indicado no circuito térmico (Fig. 1b). Observa-se que a
espessura mínima de isolamento térmico necessária para evitar o efeito da condensação (L iso) é obtida
considerando que a temperatura na superfície mais externa ao isolamento térmico é igual a temperatura
de orvalho (TPO), que é determinada em função da temperatura (TBS) e da umidade relativa do ar externo
ao duto (ϕ).
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A partir do circuito térmico equivalente apresentado anteriormente, tem-se a seguinte equação para o
fluxo de calor no duto de seção transversal retangular:
onde q” é o fluxo de calor, hc,ext e hr,ext são os coeficientes de transferência de calor por convecção e
radiação, respectivamente, fora do duto. hc,int é o coeficiente de transferência de calor no interior do duto.
kduto = 52 W/mK e kiso = 0,0372 W/mK são as condutividades térmicas do duto (aço galvanizado) e do
isolamento térmico (lã de rocha), respectivamente. Lduto = 0,7 mm é a espessura do duto e Liso é a
espessura mínima de isolamento térmico necessária para evitar o efeito da condensação, que pode ser
calculada rearranjando a Eq. 1, como segue:
É importante ressaltar que o isolamento térmico foi modelado apenas com a condutividade térmica da lã
de rocha, haja vista que a condutividade térmica do alumínio é muito superior à da lã de rocha
(aproximadamente 50.000 vezes maior), de tal forma que sua contribuição na resistência térmica pode ser
desprezada. Não foi considerado resistência térmica de contato entre a parede do duto e o isolamento
térmico.
O coeficiente de transferência de calor por radiação é dado pela Eq. 3, como segue:
onde 𝜀 = 0,04 é a emissividade do filme do alumínio que reveste a lã de rocha e 𝜎 é a constante de Stefan-
Boltzmann (𝜎 =5,67×10-8 W/(m2×K4)).
O coeficiente de transferência de calor por convecção na superfície externa ao isolamento térmico é
calculado pela Eq. 4.
𝑘𝑓
ℎ𝑐,𝑒𝑥𝑡 = ̅̅̅̅𝐿
∙ 𝑁𝑢 (4)
𝐿
onde L = 1,0 m é o comprimento característico que, para o caso em estudo, corresponde à altura da parede
lateral externa do duto e kf é a condutividade térmica do fluido (ar ambiente).
Considerando que a natureza do escoamento é por convecção natural, modelando as paredes laterais do
duto como placas planas verticais e considerando escoamento laminar (10 4 ≤ RaL ≤ 109), utilizou-se a
correlação recomendada por Churchill e Chu (1975) para calcular o número de Nusselt médio (Eq. 5),
como segue:
⁄ 2
0.387 𝑅𝑎𝐿1 6
̅̅̅̅𝐿 = {0.825 +
𝑁𝑢 } (5)
[1 + (0.492⁄𝑃𝑟 )9⁄16 ]8⁄27
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onde Pr é o número de Prandtl, que representa a razão entre as difusividades de momento e térmica do ar,
e RaL é o número de Rayleigh, definido pela Eq. 6.
𝑔𝛽(𝑇𝑃𝑂 − 𝑇∞ )𝐿3
𝑅𝑎𝐿 = (6)
𝜐𝛼
𝑘𝑓,𝑖𝑛𝑡 𝑘
ℎ𝑐,𝑖𝑛𝑡 = ̅̅̅̅𝐿 = 𝑓,𝑖𝑛𝑡 ∙ 0,125 ∙ 𝑓 ∙ 𝑅𝑒 ∙ 𝑃𝑟𝑖𝑛𝑡1/3
∙ 𝑁𝑢 (7)
𝐷ℎ 𝐷ℎ
onde kf,int é a condutividade térmica do ar no interior do duto, Dh = 0,5 m é o diâmetro hidráulico do duto, f
é fator de atrito, Re é o número de Reynolds e Print é o número de Prandt do ar no interior do duto. A
velocidade de insuflamento, utilizada no cálculo do número de Reynolds, foi de 6 m/s.
As variáveis de entrada do planejamento experimental bem como os níveis reais e codificados estão
apresentadas na Tab. 1, em que (-1) e (+1) representam o menor e maior nível, respectivamente, e (0)
representa o nível do ponto central.
A partir dos resultados obtidos da matriz de planejamento experimental, foi utilizado o programa
STATISTICA® 7 para calcular os efeitos principais e de interação das variáveis de entrada na variável de
resposta, auxiliar na análise de variância (ANOVA), bem como na obtenção do modelo matemático e das
superfícies de resposta.
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tab. 3 estão listados os níveis de significância e os coeficientes estatisticamente significativos dos
fatores principais e de interação sobre a variável de resposta L iso, desconsiderando o fator de interação TBS
× TINS. A um nível de significância (α) de 0,10, todos os fatores na Tab. 3 são considerados estatisticamente
significativos, ou seja, há uma probabilidade de acerto de pelo menos 90% em se admitir que estes fatores
estejam influenciando na variável de resposta analisada.
Tabela 3: Níveis de significância e coeficientes estatisticamente significativos dos fatores para a variável
de resposta Liso.
Níveis de Coeficientes estatisticamente
Fatores
significância (α) significativos (α < 0,1)
Média 0,00556 84,904
TBS 0,05787 37,570
ϕ 0,00602 87,596
TINS 0,03865 -44,263
TBS × ϕ 0,09050 30,909
ϕ × TINS 0,06164 -36,584
Com isso, o modelo matemático empírico para a variável de resposta Liso, em função dos valores
codificados para as variáveis de entrada, conforme Tab. 1, é apresentado na Eq. 8, como segue:
𝐿𝑖𝑠𝑜 (𝑚𝑚) = 84,904 + 37,570𝑇𝐵𝑆 + 87,596ϕ − 44,263𝑇𝐼𝑁𝑆 + 30,909𝑇𝐵𝑆 × ϕ − 36,584ϕ × 𝑇𝐼𝑁𝑆 (8)
A partir da análise da Tab. 4, constata-se que o modelo apresentou coeficiente de correlação (R 2) muito
satisfatório e regressão estatisticamente significativa, tendo em vista que o F Calculado > FTabelado ao nível de
90% de confiança. Além disto, o modelo também está bem ajustado, visto que FCalculado < FTabelado para a
falta de ajuste. É importante ressaltar que o valor de F Tabelado para a regressão e para falta de ajuste foram
determinados conforme Rodrigues e Iemma (2009).
A Fig. 2a ilustra a superfície de resposta para L iso em função da umidade relativa (ϕ) e temperatura do ar
externo (TBS). Para obtenção de tal superfície de resposta, fixou-se a temperatura de insuflamento no nível
de ponto central, ou seja, TINS = 15ºC. Na Fig. 2b está representada a superfície de resposta L iso em função
da temperatura de insuflamento (TINS) e umidade relativa (ϕ) para TBS = 33ºC.
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Pela análise conjunta das Figs. 2a e 2b, constata-se que o aumento na umidade relativa (ϕ), aumento na
temperatura de bulbo seco do ar externo ao duto (TBS) e redução na temperatura de insuflamento do ar no
interior duto (TINS) contribuem para o aumento da espessura mínima de lã de rocha necessária para evitar
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4.CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos e discussões feitas neste trabalho, pode-se concluir que:
a) Pela análise estatística de variância (ANOVA), foi possível determinar um modelo matemático
bem ajustado, com coeficiente de correlação (R2) muito satisfatório e regressão estatisticamente
significativa para a variável de resposta em análise.
b) A análise desenvolvida pelo método do planejamento experimental foi importante para
comprovar que a temperatura (TBS) e umidade relativa (ϕ) do ar externo, bem como a temperatura do ar
de insuflamento (TINS) influenciam na espessura mínima de lã de rocha necessária para evitar o efeito da
condensação em dutos de ar condicionado.
c) Dentre as três variáveis de entrada analisadas, a umidade relativa (ϕ) é a que apresenta maior
influência na variável de resposta em estudo.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a FAPESQ, CNPQ, CAPES e FINEP pelo suporte financeiro.
REFERÊNCIAS
[1] abnt Nbr 16401-1. "Instalação de ar-condicionado - Sistemas centrais e unitários". 2008.
[2] Cengel, Y. "Heat and mass transfer: fundamentals and applications". McGraw-Hill Higher
Education, 2014.
[3] Churchill, S. W.; Chu, H. H. S. "Correlating equations for laminar and turbulent free convection
from a vertical plate". International Journal of Heat and Mass Transfer, Vol. 18, 1975, pp. 1323–1329.
[4] Pasanen, P.; Pasanen, AL.; Jantunen, M. "Water condensation promotes fungal growth in
ventilation ducts". Indoor Air, Vol. 3, 1993, pp. 106–112.
[5] Rodrigues, M. I.; Iemma, A. F. "Planejamento de experimentos e otimização de processos". Cárita
Editora Espírita, 2009.
[6] Tsilingiris, P. T. "Thermophysical and transport properties of humid air at temperature range
between 0 and 100ºC". Energy Conversion and Management, Vol. 49, 2008, pp. 1098–1110.
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