Moda Sustentável Como Fonte de Vantagem Competitiva Maria Beatriz Mansilha Correia
Moda Sustentável Como Fonte de Vantagem Competitiva Maria Beatriz Mansilha Correia
Moda Sustentável Como Fonte de Vantagem Competitiva Maria Beatriz Mansilha Correia
M
2023
Moda sustentável como fonte de vantagem competitiva
Dissertação
Mestrado em Economia e Gestão da Inovação
Orientado por
Professor Carlos Brito
2023
Agradecimentos
Com muito carinho, quero agradecer aos meus pais, Cristina e Zacarias, por todo o esforço
que fazem diariamente para me darem uma vida melhor. Espero um dia poder
recompensar este amor e dedicação.
Por último, gostaria de dedicar esta dissertação à minha avó Ebória e ao meu avô Arlindo.
À minha Ivone cujo sorriso puro e gentileza eram impossíveis de passar ao lado a qualquer
um, levo para sempre comigo esse teu coração tão autêntico e puro. Ao meu Arlindo que
sempre se orgulhou de cada sucesso, que sempre desejou mais e melhor para a vida dos
seus. Espero que estejam orgulhosos de mim, sinto a vossa falta imensamente.
i
Resumo
A indústria da moda é, atualmente, uma das principais indústrias que mais degradação
causa no nosso planeta. Indústria constituída, maioritariamente, por modelos de negócios
lineares que incentivam a superprodução, o descarte, e, consequentemente, o incremento de
emissões GEE. Contudo, observa-se uma mutação nos valores dos consumidores,
principalmente dentro da Geração Z, que privilegiam práticas de consumo mais conscientes
e orientadas para escolhas mais sustentáveis. Esta metamorfose torna-se uma oportunidade
para os modelos de negócios alternativos que se firmam no mercado. Assim, este estudo
pretende analisar como modelos B2C de aluguer podem ser alternativas sustentáveis aos
negócios tradicionais, e, impulsionadoras de vantagem competitiva nos mercados. Para isso,
foi adotada uma metodologia qualitativa com recurso a doze entrevistas semiestruturadas a
indivíduos da Geração Z. Os resultados mostram os modelos B2C de aluguer impulsionam
práticas sustentáveis apelativas para consumidores ecologicamente mais conscientes ao
oferecer uma gama diversificada de opções seguindo os fundamentos de economia circular.
Evidencia-se que esta perceção de sustentabilidade pode gerar uma maior fidelidade e uma
maior confiança para com as marcas de moda, e, em última instância servir como vantagem
competitiva. Ao incorporar práticas sustentáveis e comunicar seu compromisso com a
sustentabilidade, as locadoras podem prosperar num mercado volátil que prioriza o consumo
consciente e a responsabilidade ambiental.
ii
Abstract
The fashion industry is currently one of the main industries that causes the most
degradation on our planet. Industry consisting mostly of linear business models that
encourage overproduction, disposal, and, consequently, the increase in GHG emissions.
However, there is a change in consumer values, especially within Generation Z, who favor
more conscious consumption practices and oriented towards more sustainable choices. This
metamorphosis becomes an opportunity for alternative business models to establish
themselves in the market. Thus, this study intends to analyze how B2C rental models can be
sustainable alternatives to traditional businesses, and boosters of competitive advantage in
the markets. For this, a qualitative methodology was adopted using twelve semi-structured
interviews with individuals from Generation Z. The results show that B2C rental models
drive sustainable practices that appeal to more ecologically aware consumers by offering a
diverse range of options following the fundamentals of circular economy . It is evident that
this perception of sustainability can generate greater loyalty and greater trust towards fashion
brands, and, ultimately, serve as a competitive advantage. By incorporating sustainable
practices and communicating their commitment to sustainability, rental companies can thrive
in a volatile market that prioritizes conscious consumption and environmental responsibility.
iii
Índice
1. Introdução .................................................................................................................................. 1
4. Metodologia ............................................................................................................................ 19
iv
Anexo ................................................................................................................................................. 53
Índice de Figuras
Figura 1 - Modelo de Economia Linear ........................................................................................ 6
Figura 2 - Modelo de economia circular ...................................................................................... 8
Figura 3 - Modelo de análise ......................................................................................................... 18
Figura 4 – Modelo final.................................................................................................................... 36
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Blocos constitutivos de um modelo de negócio ............................................... 10
Tabela 2 - Alinhamento dos objetivos e do guião da entrevista ..................................... 21
Tabela 3 – Caracterização da amostra de participantes .................................................... 22
Tabela 4 - Síntese dos benefícios do aluguer de moda ....................................................... 30
Tabela 5 - Síntese dos obstáculos ao aluguer de moda ...................................................... 31
v
1. Introdução
A indústria da moda é, atualmente, considerada a terceira indústria mais poluente (World
Economic Forum, 2021) e um dos maiores empregadores mundiais, sendo fonte de
rendimento de mais de 300 milhões indivíduos (Gazzola et al., 2020). Nos últimos anos este
sector sofreu um crescimento sem precedentes tanto ao nível da produção como do
consumo, observando-se, hoje mais do que nunca, uma forte pressão sob as marcas para o
lançamento contínuo de novas coleções a preços relativamente baixos (Niinimäki, 2017).
Este movimento de manufaturação e consumo rápido é sinónimo de ciclos de vida do
produto mais curtos e da substituição prematura dos mesmos.
Este problema deu origem a 3 questões de investigação mais específicas que irão ser
respondidas no final da dissertação:
Q1: Como modelos B2C de aluguer conduzem práticas mais sustentáveis para a indústria da moda?
2
Q2: Como percecionam as pessoas os modelos B2C de aluguer ao nível da sua sustentabilidade?
Q3: Como a perceção de sustentabilidade pode ser fonte de vantagem competitiva para os negócios de
aluguer da indústria da moda?
Para isso, foi adotada uma metodologia qualitativa com recurso a doze entrevistas
semiestruturadas a indivíduos da Geração Z.
Esta dissertação estrutura-se em seis capítulos. Após esta introdução, no capítulo 2 faz-se
uma revisão de literatura, a qual, permite uma visão geral dos cinco tópicos relevantes para
futuros desenvolvimentos: indústria da moda, sustentabilidade, modelos de negócio, aluguer
de moda e vantagem competitiva. O capítulo 3 apresenta o modelo de análise desenvolvido
para o estudo em questão; o capítulo 4 identifica a metodologia adotada, descrevendo a
análise qualitativa realizada mediante entrevistas semiestruturadas a doze jovens da Geração
Z; o capítulo 5 procede à análise e discussão dos dados posteriormente adquiridos nas
entrevistas; e, por fim, no capítulo 6 são expostas as conclusões da investigação.
3
2. Revisão de literatura
2.1 Indústria da moda
A moda é uma indústria complexa caracterizada por cadeias abastecimento
intrincadas que englobam múltiplas camadas inerentes ao negócio, nomeadamente,
produção, matérias-primas, retalho, uso, e por último, o descarte da peça de vestuário (Yang
et al., 2017). Sendo que, consequentemente, a indústria tem uma forte importância em termos
de empregabilidade, de comércio, de investimento e de receita (Leal Filho et al., 2019).
4
A repercussão da moda no ecossistema deve-se, maioritariamente, ao fast fashion.
(Abdelmeguid et al., 2022) Este modelo de economia linear (Rathinamoorthy, 2019) baseia-
se num padrão de produção e de consumo rápido que visa a conceção frenética de novas
coleções a baixos custos (Grazzini et al., 2021). A moda está marcada pelo hiperconsumo,
pela produção intensiva, pela variedade de oferta apelativa e pela rapidez de criação de
coleções, padrões que propiciam o consumo exagerado e a continuidade de moldes
insustentáveis na indústria (Irokawa et al., 2017). Por outras palavras, o sector está
fortemente correlacionado com a história e com os avanços tecnológicos que continuam a
revolucionar os métodos de produção, e a favorecer a entrega cada vez mais rápida das
criações das marcas. Isto beneficia a difusão do culto do fast fashion e o desejo insaciável dos
consumidores de permanecer “na moda” (Brewer, 2019).
5
e alinhado com práticas de adaptação e resiliência constitui-se um fator competitivo para as
marcas (Amui et al., 2017).
6
por 17 objetivos (United Nations, 2016). A Economia Circular tem especial repercussão
sobre o objetivo 12 - Produção e Consumo Responsável (Gabriel & Luque, 2020), visto que
introduz no ecossistema industrial uma nova perspetiva, passando a desassociar processos
vidrados para o mero crescimento econômico, por meio do consumo imoderado de recursos
(Abdelmeguid et al., 2022), para uma metodologia de readmissão dos recursos na cadeia de
abastecimento (Ghisellini et al., 2016).
7
De acordo com Rathinamoorthy (2019), a definição de Moda Circular exige que: os
itens sejam planejados para um ciclo de vida longo e segundo a eficiência e reutilização de
recursos; que o processo de produção e distribuição ocorra de forma ética, eficiente e segura,
utilizando recursos locais biodegradáveis, não tóxicos e recicláveis; que os produtos sejam
compartilhados entre usuários durante a sua vida útil durante o maior espaço temporal
possível por meio da manutenção, reparo e renovação dos bens; que os itens e as suas
componentes sejam reaproveitados ou alterados para novas aplicações ou para a produção
de novos itens; e, que caso os materiais empregues nas peças sejam inadequados, para a sua
reciclagem ou reaproveitamento sejam viáveis para composto orgânico.
8
empresas independentemente da área do negócio. Estes 9 blocos são discriminados em
proposta de valor, segmento de clientes, canais, relação com os clientes, fluxo de
rendimentos, recursos-chave, atividades-chave, parcerias-chave e estrutura de custos
(Osterwalder et al., 2005). Modelos de Negócio são representações simplificadas dos
elementos que proporcionam a proposta, criação, entrega e captação de valor (Richardson,
2008), bem como as interações que ocorrem dentro de uma unidade organizacional entre
esses elementos (Geissdoerfer et al., 2018).
9
Recursos-chave Descreve os ativos mais
importantes necessários para
fazer o modelo de negócios
funcionar.
Captação de Quanto? Fluxo de Representa o dinheiro que a
valor rendimentos organização gera de cada
segmento de clientes.
Estrutura de custos Resume as consequências
monetárias dos meios
empregados no modelo de
negócio.
Tabela 1 - Blocos constitutivos de um modelo de negócio
10
Negócios Inovadores orientados para a sustentabilidade visam a captação de valor
económico para a empresa por intermédio da transferência de benefícios sociais e ambientais
(Schaltegger et al., 2012). Geissdoerfer et al. (2018) defendem que a inovação do modelo de
negócios consiste num procedimento de análise, adaptação, melhoria, reconstrução,
aperfeiçoamento e reforma do Modelo de Negócios. De notar que, a capacidade que um
negócio possui para adaptar e usufruir de novos Modelos de Negócio está altamente
correlacionado com a obtenção de vantagem competitiva sustentável e ergue-se como uma
alavanca crucial para aprimorar a relação entre sustentabilidade e desempenho
organizacional.
11
modelos de negócio sustentáveis servem-se de ciclos fechados mediante um uso faseado de
matérias-primas e energia (Kant Hvass & Pedersen, 2019), e são um caminho favorável para
dar resposta a problemas de poluição e escassez de recursos.
12
Com a visível mudança nos comportamentos de consumo na indústria da moda
verifica-se que os consumidores estão cada vez mais dispostos a alugar os produtos em vez
de adquiri-los (Yuan & Shen, 2019), desta forma, o aluguer de moda passa a ser um
concorrente direto ao retalho convencional. Contudo, o aluguer pode ser uma mais-valia
para os negócios tradicionais ao eliminar as problemáticas que estes vivem com a devolução
de produtos, por exemplo, as marcas de moda de luxo são as principais vítimas contando
com taxas de devolução que rondam os 35% e os 75% no que diz respeito a vestidos de festa
(Yuan & Shen, 2019, p. 185).
Uma vantagem deste método é a flexibilidade dada ao cliente que pode se aventurar
e experimentar vários estilos sem a necessidade de se comprometer na aquisição das peças,
13
algo benéfico para as pessoas que não querem um registo excessivamente rígido de
determinada tendência e apreciam a variedade de escolha (Mukendi & Henninger, 2020). Por
outro lado, este serviço é uma alternativa ideal para ocorrências singulares ou de curta
duração, e, que não exigindo a aquisição do produto, visto que a necessidade da ocasião pode
mudar rapidamente (Mukendi & Henninger, 2020), o cliente pode melhor beneficiar de
situações de aluguer, nomeadamente, períodos de maternidade, roupas desportivas de neve,
galas, entre outras situações.
Marcas como American Eagle, AllSaints, Vince, Rebecca Taylor, Coach e Hugo Boss, estão
a apostar na realização de parcerias com plataformas de aluguer de modo a explorar e a sua
introdução no mercado de aluguer (Zhang et al., 2022), estando presentes em plataformas
de aluguer como Rent the Runway e CaaStle (Bowers, 2019). Zhang et al. (2022) sustentam que
estas parcerias são favoráveis para os fabricantes de moda à medida que se constata
incrementos de procura no mercado. De ressalvar que, serviços de aluguer podem operar em
dois vertentes distintas, ou seja, podem funcionar mediante um modelo de assinatura ou de
aluguer único (Repeat.ganni.com, 2021). Este último método, representa dois terços da
receita da Rent the Runway, plataforma de aluguer com maior quota no mercado e mais
conhecida mundialmente, enquanto as assinaturas representam o restante da mesma (Safdar
& Kapner, 2017).
14
& Anwar, 2018). A estratégia de liderança pelos custos consiste na capacidade que uma
organização tem para superar os seus concorrentes produzindo ao menor custo viável dentro
da indústria e competir, consequentemente, através de preços baixos (Hamza et al., 2021).
Por outro lado, a estratégia de diferenciação concentra-se na concretização produtos ou
serviços que, devido às suas características únicas e singulares, se tornam mais valiosos aos
olhos dos consumidores (Ahmed et al., 2021). Por fim, a estratégia de focalização pauta-se
pela capacidade que um negócio tem para responder eficientemente a um nicho ou segmento
de mercado específico (Jamal et al., 2021).
15
3. Modelo de Análise
A indústria da moda tem levantado grandes preocupações e objeções devido aos
impactos ambientais prejudiciais resultantes da sua produção e consumo (Zhang et al., 2022).
De tal forma que, é possível afirmar uma crescente censura e reivindicação de posições ativas
e conscientes vindas das gerações mais jovens que exigem a definição de ações com vista a
colmatar as repercussões da 2ª indústria mais poluente (Marques et al. 2020).
16
examinação de modelos B2C de aluguer como alternativas sustentáveis aos modelos
tradicionais da indústria da moda; (ii) a análise do modo como modelos B2C de aluguer na
indústria da moda são percecionados pelos consumidores ao nível da sua sustentabilidade;
(iii) a comprovação de como a perceção de práticas sustentáveis oriundas destes modelos
poderá ser fonte de vantagem competitiva para os seus negócios.
Por seu turno, este problema deu origem a 3 questões de investigação mais específicas:
Q1: Como modelos B2C de aluguer conduzem práticas mais sustentáveis para a
indústria da moda?
Desta forma, o modelo de análise visa aferir uma relação entre práticas de
sustentabilidade em modelos B2C de aluguer e a obtenção de vantagem competitiva em
negócios da moda, deverá ser capaz de fornecer resposta, quando aplicado a um estudo
empírico concreto, às questões de investigação apresentadas no capítulo seguinte, na secção
4.1.
17
Figura 3 - Modelo de análise
18
4. Metodologia
Neste capítulo são apresentadas as decisões relacionadas à abordagem metodológica utilizada
para a investigação em questão. Para além disto, os instrumentos de recolha e análise de
dados são explicados.
19
Objetivo Específico Enquadramento teórico Questões
20
Perceber como os (Lu et al., 2021); (Hwang et 12. Achas que a sustentabilidade
modelos B2C de aluguer al., 2020); (Lookman et al., associada aos modelos de
podem ser fonte de 2023). negócios de aluguer de vestuário
vantagem competitiva pode gerar vantagens económicas,
sociais e ambientais para as
marcas? Porquê?
Tabela 2 - Alinhamento dos objetivos e do guião da entrevista
21
Inês Casais 23 Feminino Estudante Mestrado Engenharia
e Gestão
Industrial
A amostra deste estudo é composta por 12 participantes da geração Z, visto que, tal
como foi exposto na secção 2.4, estes jovens estão mais predispostos a práticas de consumo
mais conscientes, além de serem os futuros consumidores da indústria. Assim, analisar a
visão dos mesmos é relevante para entender se é possível aferir uma relação entre modelos
de aluguer B2C e vantagem competitiva.
22
No final de cada entrevista recorre-se às transcrições dos áudios, que posteriormente
são inseridos na plataforma NVivo onde são expostos padrões nos dados das respostas, assim
melhorando a compreensão dos aspetos-chave investigados. Isto posto, é também efetuado
o registo de anotações de pequenos comentários e expressões das respostas de cada indivíduo
de forma a melhor suportar a informação recolhida.
23
5. Análise e Discussão dos Resultados
Este capítulo apresenta e analisa os resultados das entrevistas semiestruturadas que
serviram de estudo empírico para esta dissertação. Conforme apresentado no capítulo
anterior, foram realizadas doze entrevistas a consumidores da Geração Z de acordo com a
questão de investigação. Essas entrevistas estão estruturadas no seguimento de três tópicos
principais, que servirão como guias para a apresentação de resultados: (i) consumo de
vestuário; (ii) sustentabilidade na indústria da moda; e, (iii) modelo de aluguer B2C.
24
“Não sou o tipo de pessoa que costuma comprar muita roupa, acabo por comprar pouca
coisa durante o ano. Grande parte do meu roupeiro é assim, mais neutro, com coisas
que posso utilizar várias vezes sem me cansar.” – Catarina Moura
“Eu acho que já há algum tempo para cá que sou cada vez mais consciente, ou seja,
primeiro comecei por reduzir aquilo que é o meu consumo porque há sempre aquela
tendência “ah, vou comprar”. Mas eu comecei a ter mais noção daquilo que tinha no
armário e a pensar “ok isto efetivamente eu uso, isto não uso” quando fiz limpezas ao
armário para ter peças de que efetivamente gosto. Quando consegui ter isso, notei que
a minha necessidade de consumir moda, roupa e acessórios reduziu drasticamente,
porque como eu tinha peças no roupeiro que jogavam todas entre si e que eu conseguia
usar todos os dias.” – Inês Casais
A compra em segunda mão foi também um argumento comum para o grosso da
amostra, a plataforma Vinted foi enunciada em quase todas as entrevistas como sendo a
principal fonte de contacto com o mundo da segunda mão, tanto para compra como para
venda.
“Sempre que preciso comprar alguma coisa dou sempre prioridade a comprar em
segunda mão e utilizo as plataformas online como a Vinted ou o Depop.” – Inês Casais
“Normalmente utilizo bastante a Vinted, em que sei que não estou com uma peça de
roupa nova, estou com uma peça de roupa que já foi usada, mas que não foi preciso
extrair novos recursos. E, não utilizo esta plataforma só para comprar, tenho vendido
vários itens que estavam estagnados no meu guarda-roupa.” – Margarida Santos
Uma entrevistada expôs que quando procura uma peça em segunda mão acaba por
optar por adquirir a outrem em vez de se deslocar a uma loja deste efeito:
“Respondendo à tua questão, sim o típico, a loja típica a que eu vou é a Vinted, digamos
assim, não é uma loja mesmo, mas é uma plataforma e acaba sempre por ser um pouco
nessa loja. Ou seja, eu compro muito mais a pessoas que estão a vender do que a lojas.”
-Mariana Vaz
Contudo, apesar de todos os entrevistados terem adquirido peças em segunda mão
no passado, nem todos optam por esta como primeira via de consumo. Apesar de tudo, os
preços e a acessibilidade das lojas de fast fashion facilitam a experiência de consumo destes
jovens.
25
Geração Z, como se pode auferir pelas respostas dos entrevistados. Contudo, outros fatores
ainda se soerguem a este interesse, nomeadamente, a sua condição financeira, grande parte
da amostra ainda se encontra fora do mercado de trabalho não auferindo qualquer tipo de
remuneração, e, os restantes que se encontram inseridos, sentem que ainda não se encontram
aptos para realizar práticas de consumo sustentável como desejariam. A incapacidade
monetária para se associarem aos negócios da moda centrados numa oferta sustentável, leva
os entrevistados a procurarem outras soluções que acreditem os seus valores de consumo
sustentável, mas a preços que tenham em conta as suas capacidades. A compra de moda em
segunda mão foi tida como primeira escolha aquando da compra de uma peça de vestuário
pela maioria da amostra em estudo, tendo sido associada a uma opção de consumo mais
sustentável e acessível para os mesmos. Contudo, nos casos em que a compra em segunda
mão não resolva uma necessidade de consumo que tenham em específico, vários
entrevistados afirmaram que levam o seu tempo para se informarem sobre ofertas
alternativas no mercado e para verificarem se efetivamente não é um impulso momentâneo;
e, apesar do seu desconforto, a acessibilidade e atratividade dos preços das marcas de fast
fashion continua a torná-las atrativas para estes consumidores.
“Claro que eu quero gastar menos que possível e depois também ainda não há assim
tanta oferta em lojas de segunda mão. Por isso, o centro comercial acaba por ser mais
fácil, tem toda a oferta à minha frente.” – João Lameiras
“Eu acabo por comprar nas lojas de fast fashion porque em Portugal são as que tenho
mais fácil acessibilidade, mas se pudesse comprar em lojas mais pequenas e
sustentáveis iria, mas na minha localização ainda não existem.” – Beatriz Teixeira
Por outro lado, a transparência dos processos de manufatura das marcas da indústria
da moda foi colocada em causa pelos entrevistados tendo sido afirmado por seis dos doze
entrevistados que as grandes marcas identificam certos produtos e linhas inequivocamente
como sendo sustentáveis de modo a atingir públicos com preocupações ambientais e sociais.
“Eu acho que os maiores desafios são conseguir efetivamente identificar produtos
sustentáveis, porque acontece muitas vezes as marcas utilizarem cores que nós
associamos a sustentabilidade, assim a tender para o verde, azuis esverdeados etc, e a
colocar palavras que nós pensamos “é biológico”, nós olhamos e pensamos “ok, se
calhar é mais sustentável”, a questão é quando depois vais ao cerne da questão e
começas a fazer investigação muitas das marcas utilizam isso como uma forma de
captar os consumidores que estão mais virados para consumo sustentável, que têm
mais preocupações em termos de sustentabilidade, e, eles querem captá-los.” – Zita
Guimarães
26
De notar que, práticas como o greenwashing foram alvo de fortes preocupações pelos
entrevistados que defenderam haver uma falta de regulamentação na indústria para proteger
os reais interesses dos consumidores.
“Ou seja, há toda uma propaganda muito à volta da sustentabilidade presente em todo
o lado, e nas marcas de roupa eu acho que cada vez mais. O problema é que, muitas
das vezes, é uma publicidade enganosa, há muito greenwashing porque depois vamos ver,
e, na verdade aquilo é para esconder outras coisas.” – Mafalda Sousa
“Eu acho que falta um bocadinho de legislação neste assunto no sentido de proteger
os consumidores porque é impossível nós conseguirmos antes de fazer uma compra
verificar o background de tudo aquilo que estamos a comprar! Ou seja, eu acho que
aqui falta um bocadinho de legislação para nos proteger enquanto consumidores e para
forçar as marcas a efetivamente terem práticas sustentáveis e não ser só aquele fogo de
vista.” – Isabel Sousa
Duas das entrevistadas concordaram que os negócios da moda, principalmente os de
fast fashion, utilizam este tipo de publicidade enganosa pois sabem que o consumidor
consciente cobre grande parte do bolo de consumidores da atualidade, e a sua conquista gera
vantagens ao nível da sua rentabilidade.
“Se não me engano foi para um batizado que ponderei explorar a opção de aluguer,
por saber que ela existe e porque eu achava que, apesar de tudo, fazia sentido também
porque tinha visto outras peças que até gostava, mas que sabia que não ia conseguir
pagar o valor inteiro. Na altura, vi algumas coisas de que gostava, mas acabei por não
mandar vir, porque sinceramente estava um pouco em cima do prazo e tinha medo
como era a primeira vez de como ia acontecer, se ia atrasar ou não, e pronto, acabei
por não o fazer.” – Mariana Vaz
Porém, não obstante, quando questionados se no futuro teriam interesse em alugar
peças e acessórios de vestuário todos assentiram para a possibilidade, mas apenas para
situações em que considerassem que a compra de um item seria um desperdício. Isto é, os
entrevistados apenas estariam interessados em alugar artigos para ocasiões específicas e
27
únicas que exigem indumentárias mais formais, e, por isso, vendidas por retalhistas a preços
mais elevados, como por exemplo, vestidos de noiva, vestidos de cerimónia, fatos, pois
supõem-se que o aluguer deste tipo de peças seja a preços mais acessíveis.
“Acho que sim, olha o exemplo que me vem logo à cabeça são os vestidos de noiva,
porque é caríssimo, tu usas um vestido de noiva mesmo naquela ocasião. Eu acho que
é aquela situação em que era perfeito haver aluguer porque tua usas, estás feliz com a
tua compra de aluguer, e outra pessoa pode sentir exatamente feliz também com a
mesma peça de roupa! Por isso, eu acho que é mesmo um exemplo perfeito para o
aluguer!” – Beatriz Magalhães
“Acho que para ocasiões especiais ou até mais formais o aluguer poderia sim ser uma
boa alternativa, até para evitar aqueles casos em que se compra um vestido ou um fato
e só os utilizamos uma vez, acabando eles por ficar encostados no armário.” – Laura
Martins
Artigos do dia a dia foram rejeitados pelos entrevistados para o aluguer de moda, isto
porque, foi dito que são peças mais pessoais e das que se esperam mais uso podendo sofrer
mais danos. E, sendo o aluguer associado a uma apropriação de curto prazo das peças, os
inquiridos afirmaram que preferiam adquirir peças que soubessem que realmente iriam tirar
usufruto a alugar um item que teria uma pressuposta rotatividade excessiva, e,
consequentemente, não estaria nas melhores das suas condições. Outro entrave para o
aluguer de produtos do quotidiano são as questões higiénicas.
28
“Primeiro é isso, é passar a ter mais espaço nos nossos roupeiros pessoais. É a
relatividade das coisas, uma pessoa deixa de ter de guardar 20 vestidos de cerimónia
praticamente iguais e que quase nem usa.” – Catarina Moura
Por outro lado, foi dito que o aluguer poderá trazer ao consumidor uma maior
diversidade optativa, ou seja, os indivíduos acabam por ter acesso a uma mais ampla gama
de estilos e tendências, nomeadamente, em segmentos que normalmente os mesmos poderão
não ter poder de compra. Acabando por se constituir uma alternativa economicamente
interessante para o acesso a peças de luxo, de designer ou premium, e que, de outra forma,
não poderiam suportar. Isto é, devido a estes moldes conseguem adquirir a preços atrativos
e de forma provisória a propriedade de peças que eventualmente não conseguiriam. Para
além disto, o aluguer elimina a necessidade de grandes investimentos preliminares em
compras que poderão ser impulsivas ou que acabam por não ser utilizadas com muita
frequência.
“Eu acho que quando se aluga, muitas das vezes, as coisas são mais acessíveis por isso
a nível de preços até pode ser melhor para quem não tem tanta acessibilidade.” –
Beatriz Teixeira
“Então, para nós consumidores acho que é o facto de podermos ter acesso a itens da
alta moda, mas a preços mais favoráveis e acessíveis.” - Isabel Sousa
Outro ponto exposto pelos entrevistados foi o relacionamento dos serviços de
aluguer como fonte de práticas mais sustentáveis e éticas, foi defendido o alinhamento entre
o aluguer e consumidores que poderão valorizar um consumo mais responsável.
Alternativa para ocasiões É uma solução conveniente para situações que impliquem o
especiais uso ocasional ou único, como por exemplo, casamentos,
eventos, festas e reuniões formais.
29
Sustentabilidade e Está alinhado com os valores e considerações dos
considerações éticas consumidores que valorizam práticas mais sustentáveis e éticas.
30
Para além disto, o serviço de aluguer exige o retorno dos itens nas condições
acordadas, não se constatando o cumprimento das mesmas, o cliente poderá ser
responsabilizado com coimas por danos significativos ou perda dos itens cedidos.
Risco de danos ou São itens perecíveis, que correm o risco de sofrerem acidentes e
perda danos, podendo o consumidor ser responsabilizado pelos mesmos.
31
poderá propiciar a adoção de técnicas de produção e o uso de matérias-primas de maior
qualidade aumentando a eficiência dos recursos e a redução do desperdício.
Para além disso, certos modelos de negócio de aluguer podem concentrar o seu
mercado em segmentos de clientes sustentavelmente conscientes, praticantes de um
consumo responsável, privilegiando a revenda única, por meio do aluguer, de peças que
sigam normas de produção ecológica e ética. O aluguer pode se constituir como resposta à
incremental procura de opções de moda sustentável.
“Mas hoje em dia, os jovens têm muita consciência disto tudo, que realmente está a
ser um problema, que a moda é dos negócios que mais contribui para as alterações
climáticas então eles também estão abertos a novas alternativas como o aluguer.” –
Mariana Costa
Há um claro interesse deste novo consumidor emergente - o consumidor que opta
por uma seleção que valoriza práticas sustentáveis e sustenta fortes valores éticos -, por uma
mais vasta e fidedigna rede de produtos e marcas que efetivamente traduzam as suas
convicções. Deste modo, os modelos de aluguer, que se regem por princípios de circularidade
e rotatividade dos itens, abrem o caminho para dar uma eficaz resposta às preferências destes
consumidores. Os entrevistados expuseram uma forte preocupação resultante de práticas de
greenwashing levadas a cabo pelas grandes empresas de fast fashion, as quais são antiéticas
constituindo-se uma ofensa ao real interesse dos consumidores e ao direito de transparência.
32
formais e esporádicos - nomeadamente, períodos de maternidade, eventos formais,
cerimónias.
“Estes modelos seriam uma excelente opção para roupas mais de ocasiões assim mais
raras, como casamentos, festas, muito por aí. Acho que por exemplo, no caso de
vestidos de cerimónia, muitas vezes só os usamos uma vez e ficam encostados, por
isso, se o preço do aluguer fosse apelativo seria uma opção muito mais rentável para
nós consumidores e para o planeta.” – Influencer redes sociais
Ou seja, aos olhos dos consumidores da geração Z o aluguer poderá ser mais bem
direcionado para necessidades pontuais, por exemplo, vestidos de casamento, fatos de
cerimónia, vestidos de bailes. E, estas indumentárias esporádicas, ao se constituírem peças
diferenciadas, estão associadas a um preço de aquisição mais elevado ao dos itens
demarcados como itens usados no quotidiano, e, dos quais, se espera uma maior
acessibilidade. Assim, o aluguer foi deliberado pelos entrevistados como um meio para ter
acesso a segmentos de moda que os consumidores poderiam não atingir de outra forma. Por
outro lado, uma entrevistada defendeu que os benefícios financeiros seriam bilaterais, uma
vez que, as marcas de aluguer teriam de efetuar um investimento inicial que propiciaria,
segundo a mesma, “um retorno infindável”. Isto porque, as marcas teriam o maior dos
interesses em manter as condições das peças, assegurando a longevidade e rotatividade das
mesmas.
“Eu acho que tem muita vantagem porque tens um investimento uma vez e tens um
retorno infindável! Porque se produzires os gastos já iriam existir de qualquer das
formas em termos de limpeza e higienização do produto, ou seja, quanto mais vezes
tu conseguires alugar mais retorno vai ser e só fizeste investimento uma vez! Enquanto,
por exemplo, uma marca de fast fashion eles precisam de ter um retorno por cada peça
que produzem, eles não conseguem ter mais do que um retorno por uma peça! Pronto,
por isso acho que claramente há aqui uma possibilidade muito grande de negócio
efetivamente viável.” – Mafalda Sousa
Outro ponto levantado por alguns dos entrevistados está relacionado com uma mais
ampla difusão e divulgação da gama de produtos implementada pelos negócios de aluguer,
mais concretamente, durante as entrevistas foi mencionado que indivíduos que aluguem
determinado item estarão mais predispostos a tomar conhecimento sobre os produtos da
marca. Para além de que, uma experiência de aluguer positiva irá reforçar o interesse do
consumidor em acompanhar a marca, e voltar a recorrer aos seus serviços, ou seja, uma
perceção favorável por parte do consumidor à marca de aluguer poderá desencadear uma
relação de fidelidade do cliente a repetir o serviço, ou de recomendar o mesmo a pessoas
próximas de si.
33
Por fim, os benefícios ambientais auferidos dos modelos de aluguer foram
argumentados como, possivelmente, um dos principais propulsores de vantagem
competitiva. Nomeadamente, foram associados a economias circulares, a rotatividade das
peças de vestuário impulsiona fundamentos de reutilização, e, consequentemente, a redução
de desperdício. Ou seja, estes fundamentos depreendem uma menor exaustão ao nível dos
recursos, dado que, ao invés de múltiplos indivíduos adquirirem a propriedade de um
determinado item de vestuário, é um item que poderá servir várias pessoas através da
aquisição temporária. De notar que, é do interesse das marcas certificar a longevidade das
suas peças mediante uma produção que garanta itens mais resistentes ao desgaste, bem como
uma aplicação de procedimentos de restauração e conservação dos itens. Isto, poderá
espelhar-se numa redução do impacto ambiental da indústria da moda.
Da análise dos dados conduzidos durante a realização das entrevistas foi possível
concluir que o consumidor consciente em ascensão reconhece a locação de moda como uma
alternativa de consumo sustentável, e, que se apresenta como uma promissora oportunidade
para os negócios do mercado. A amostra em estudo concordou unanimemente que a
crescente conscientização dos consumidores surge como uma lacuna no mercado que o
aluguer de moda pode preencher, edificando-se como uma alternativa viável para os
indivíduos com fortes valores sustentáveis. Por sua vez, o aluguer obedece a princípios de
circularidade oferecendo uma vasta gama de itens de vestuário a preços mais acessíveis
gerando um alinhamento entre as marcas de aluguer e as convicções e preferências do
consumidor informado, e, tendo como resultado a fidelidade e confiança dos mesmos para
com as locadoras de moda.
34
de custos é auferida mediante a produção a um menor custo viável, tendo como seguimento
a superação da concorrência dentro da indústria. Os modelos B2C de aluguer, alternativas
aos negócios de moda convencionais, apresentam como cerne do seu núcleo de
funcionamento os princípios de economia circular, resultante da contínua reintrodução e
reutilização das peças e acessórios de vestuário. A circularidade do aluguer permite a estes
negócios maiores margens de retorno financeiro relativamente aos seus esforços iniciais de
investimento, uma vez que, o ritmo de produção é diminuto comparativamente aos modelos
tradicionais. Deste modo, a compreensão de liderança pelos custos por intermédio de
serviços de aluguer poderá ser mais facilmente captada.
Por sua vez, a estratégia de diferenciação (Ahmed et al. 2021) é reflexo da capacidade
de oferta de produtos e serviços com características únicas e, por isso, fortemente apreciadas
pelo consumidor. O aluguer de moda distingue-se da moda convencional em virtude a dois
fatores: a diversidade de oferta e a atratividade de preços. Primeiramente, o aluguer de moda
pressupõe a não propriedade real dos itens, e, como resultado a comercialização da
temporária propriedade dos itens a preços mais economicamente apelativos. Para além disto,
visto que, o aluguer de moda incide numa gama de produtos orientada para ocasiões de causa
única ou rara como, a título de exemplo, eventos e festas formais. Deste modo, o consumidor
ao recorrer a serviços de aluguer dispõe de uma vasta de gama de produtos - que devido às
suas características, no mercado tradicional são comercializados a preços superiores-, e,
inclusive, poderá alcançar segmentos que de outra forma não conseguiria, nomeadamente,
segmentos de luxo.
Por fim, a estratégia de focalização, de acordo com Jamal et al. (2021), caracteriza-se
pela perícia de captação de um nicho ou segmento de mercado específico que um negócio
possuí. Os serviços de aluguer apreendem esta estratégia ao se posicionarem positivamente
no segmento do novo consumidor ecologicamente interessado, o qual, detêm fortes valores
para com temáticas de sustentabilidade e procura praticar um consumo informado e
consciente de forma a reduzir o impacto que as suas ações têm no meio ambiente.
35
Moda de aluguer
como vantagem
competitiva
Alternativa aos
modelos
Benefícios tradicionais
ambientais
Redução de
desperdício
Valor utilitário
Incremental
conscientização
dos consumidores
Diversidade de Atratividade de
oferta preços
36
6. Conclusões
O presente capítulo reserva-se a uma reflexão final sobre os resultados obtidos, as
limitações e as possíveis implicações deste estudo exploratório.
Q1 - Como modelos B2C de aluguer conduzem práticas mais sustentáveis para a indústria da moda?
37
Q3 - Como a perceção de sustentabilidade pode ser uma fonte de vantagem competitiva para as
locadoras da indústria da moda?
Por fim, quanto à terceira questão de investigação, a pesquisa mostra que a perceção
positiva de sustentabilidade levada pelos negócios da moda pode suscitar a obtenção de
vantagem competitiva para os mesmos. Os entrevistados sustentaram que a locação de peças
de vestuário – para ocasiões especiais ou de caracter ocasional – pode ser percebida como
sustentável, e, por isso, propiciadora de vantagem competitiva. Na medida em que, a
circularidade e rotatividade do aluguer é associada, pelos consumidores, a modelos que
priorizam a sustentabilidade nos seus procedimentos, e, por essa razão, torna-os atrativos
para consumidores ecologicamente conscientes e interessados em deter um consumo
responsável. Estes benefícios ambientais são bastante valorizados pela ascendente massa de
consumidores preocupados, e, acrescentando a isto a diversidade de oferta, bem como a
acessibilidade de itens – possivelmente de segmentos de luxo – fomenta o interesse do
consumidor em acompanhar a marca. Para além disto, a marca ao comunicar o seu real
compromisso com práticas sustentáveis, mediante a redução do desperdício e reutilização de
recursos assim promovendo longos ciclos de vida dos produtos, poderá gerar uma maior
credibilidade aos olhos do consumidor, e, como resultado, incremental confiança e lealdade
nestas alternativas aos modelos convencionais de moda.
Esta dissertação tem um conjunto de contributos, tanto para a teoria como para a
prática de gestão, que devem ser realçados.
Este estudo teve como principal objetivo analisar como a compreensão favorável de
sustentabilidade associada aos negócios de aluguer de moda, entendida pelos consumidores
da Geração Z, pode se edificar como vantagem competitiva dos mesmos sob os modelos
convencionais da indústria. Para tal, enfocou-se na análise das práticas de consumo de peças
e acessórios de vestuário da amostra em estudo, bem como a sua perspetiva geral em relação
a serviços de aluguer como alternativa de um consumo consciente. É necessário ressalvar
38
que o estudo recorreu a entrevistas semiestruturadas, o que pode gerar lacunas entre o
comportamento declarado e o real.
A mudança no setor foi apontada pelos entrevistados como essencial, visto que, a
sustentabilidade é um aspeto com gradual importância no processo de decisão de
comportamentos. Assim, o aluguer de moda foi declarado como uma alternativa apta para
favorecer um propósito sustentável. Os jovens entrevistados afirmaram que estes modelos
de negócios poderão contribuir para uma indústria da moda mais sustentável. No entanto, o
interesse no aluguer foi unicamente correlacionado a itens cuja real aquisição da sua
propriedade estaria associada a pouca usabilidade. Ou seja, o aluguer é apenas defendido para
ocasiões especiais ou de ocorrência esporádica e única, nomeadamente, a título de exemplo,
cerimónias formais, casamentos, festas temáticas, períodos de maternidade.
39
Contributos para a gestão
A indústria da moda é uma das indústrias com maior influência na economia mundial,
sendo, por essa razão, um notável alvo de estudos e questões, principalmente, com a
redirecção da indústria primordialmente linear para moldes que favorecem a sustentabilidade
e a economia circular. Há, neste momento, uma visível mutação nos interesses e valores dos
futuros consumidores que exigem opções sustentáveis e uma indústria ecologicamente mais
responsável. Os negócios da moda lineares estão a ser instigados a adotarem modelos de
negócios alternativos, os quais, poderão preencher os requisitos deste novo público. O
incremental peso que a sustentabilidade levada a cabo pelos negócios tem para os
consumidores exige a ascensão de respostas mais direcionadas, tornando o aluguer de moda
um veículo de forte interesse para a gestão. O estudo em questão analisa os benefícios e
desafios associados à implementação de serviços de aluguer na moda, não obstante, estes
resultados podem ser indicadores relevantes para a tomada de decisão das marcas
relativamente à diversificação da sua oferta e planeamento de ação e incorporação destes
serviços de aluguer. Assim, a sustentabilidade edifica-se, cada vez mais, como importante
fator estratégico para o negócio, a qual, favorece a apropriação de oportunidades e vantagens,
e, como resultado, o melhor posicionamento dos negócios ambientalmente responsáveis.
Por fim, os serviços de aluguer constituem-se negócios dos quais se esperam fortes
retornos financeiros dos investimentos levados a cabo, isto porque, as marcas, ao contrário
do que acontece nos modelos lineares, deixam de necessitar deter um ritmo de produção
acelerado. O aluguer visiona a longevidade e rotatividade das peças, e, por isso, o maior gasto
das marcas será direcionado a manter a qualidade e condições das peças, e, não tanto no
esforço de produzir em abundância.
40
6.3 Limitações e sugestão de futuras pesquisas
No presente estudo reconhecem-se várias limitações. Primeiramente, a nível da
amostra utilizada constata-se uma carência ao nível da heterogeneidade, tendo apenas um
elemento do sexo masculino aceite participar na investigação em questão. As limitações desta
dissertação prendem-se ao facto de os indivíduos da geração Z entrevistados serem jovens
com formação académica e de idades similares, possuindo uma cultura e valores limitados.
Por outro lado, a amostragem foi unicamente constituída por jovens com claros interesses
perante temáticas que incluem sustentabilidade. Deste modo, as conclusões não devem ser
generalizadas por ser uma amostra relativamente pequena, e, não servindo como uma
representação total dos jovens desta geração.
Pesquisas futuras poderão estudar uma amostra mais abrangente dando destaque aos
consumidores de outras gerações, e, expandir a área geográfica para outros países. Para além
disto, seria interessante efetuar casos de estudo em empresas de aluguer de moda de modo a
verificar se as vantagens competitivas percecionadas nesta investigação realmente se
verificam.
41
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52
Anexo
GUIÃO DE ENTREVISTA
Consumo de vestuário
1. Como te descreves enquanto consumidor de peças e acessórios de
moda?
2. Que tipo de peças de vestuário costumas adquirir?
3. Em geral, optas pela aquisição de peças que, em princípio, irão durar
mais, ou por peças que estão na moda mesmo que isso signifique que
venham a ter uma duração menor?
4. Por que tipo de lojas de vestuário costumas optar?
53
10. Na tua opinião, que benefícios estão associados aos negócios de
aluguer de vestuário?
11. E também na tua opinião, quais são os principais entraves à expansão
dos negócios de aluguer de vestuário?
12. Achas que a sustentabilidade associada aos modelos de negócios de
aluguer de vestuário pode gerar vantagens económicas, sociais e
ambientais para as marcas? Porquê?
Questão aberta
13. Gostarias de acrescentar alguma coisa?
54
FACULDADE DE ECONOMIA