O documento discute a evolução da doutrina da situação irregular para a teoria da proteção integral dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. A doutrina da situação irregular enfatizava uma visão negativa e estigmatizante da infância, enquanto a teoria da proteção integral defende uma abordagem interdisciplinar baseada nos direitos humanos.
O documento discute a evolução da doutrina da situação irregular para a teoria da proteção integral dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. A doutrina da situação irregular enfatizava uma visão negativa e estigmatizante da infância, enquanto a teoria da proteção integral defende uma abordagem interdisciplinar baseada nos direitos humanos.
O documento discute a evolução da doutrina da situação irregular para a teoria da proteção integral dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. A doutrina da situação irregular enfatizava uma visão negativa e estigmatizante da infância, enquanto a teoria da proteção integral defende uma abordagem interdisciplinar baseada nos direitos humanos.
O documento discute a evolução da doutrina da situação irregular para a teoria da proteção integral dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. A doutrina da situação irregular enfatizava uma visão negativa e estigmatizante da infância, enquanto a teoria da proteção integral defende uma abordagem interdisciplinar baseada nos direitos humanos.
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Nome do aluno
CONSIDERAÇÕES SOBRE O FILME “JULGAMENTO DE NUREMBERG”
Resenha apresentada ao Componente
Curricular Fundamentos Epistemológicos do Direito.
Bagé, 07 de abril de 2021
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CONSIDERAÇÕES SOBRE O FILME “JULGAMENTO DE NUREMBERG”
Reflexão crítica sobre o filme:
A doutrina da situação irregular foi consubstanciada com conceitos do século
XIX. A edição do Código de Menores em 1927, que abordou sobre formas de assistência e proteção para a infância e a posterior readaptação do texto legal, instituindo um novo Código de Menores em 1979 foram marcos temporais para a construção da teoria da situação irregular, que foi expressamente prevista no segundo documento jurídico. A doutrina da situação irregular trouxe visões ultrapassadas em relação as reais necessidades para a infância, abordando conceitos relacionados a menoridade, que eram estigmatizantes e pejorativos, pois impediam a concepção de necessários direitos fundamentais para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. A doutrina da situação irregular se preocupava com o “menor” em situação irregular, que era aquele que se encontrava em situação de dificuldades e passava a ser objeto da tutela do Estado. A visão em relação a infância levava por consideração o que a pessoa “não tinha e não era”, sendo uma prática que não era universal, era autoritária e estava em desacordo com as bases que instituíram os direitos humanos e fundamentais, sendo práticas discriminatórias e que legitimavam a exclusão social e reproduziam as ideias de “concepção negativa, redutora, embasada no adultocentrismo” (CUSTÓDIO, 2008, p. 23-25). Na doutrina da situação irregular o interesse jurídico em relação as crianças e adolescentes surgia a partir da prática de atos de caráter de infracional ou pelas condições de exclusão social. A situação de pobreza de crianças e adolescentes eram vistas como condições de irregularidade, pois havia o risco que era uma condição para a atuação e responsabilização do Estado. Os magistrados agiam no sentido de administrar práticas assistencialistas e de responsabilização de crianças e adolescentes por seus atos. A visão em relação a pobreza distorcia a questões econômicas, pois se trabalhava com a ideia de situação irregular do “menor” e não de incapacidade do Estado em reduzir as condições de desigualdade social, pois a crianças ou o adolescente pobre podem trazer riscos para o desenvolvimento da 2
sociedade e necessitam de controle individual por parte do Estado. Ou seja, as
práticas de exclusão social eram legitimadas por lei e práticas estatais (CUSTÓDIO, 2008, p. 25-26). A teoria da proteção integral começou a surgir com a participação dos movimentos sociais no processo de democratização do Brasil na década de 1980, onde a participação popular foi protagonista no processo de modificação de autoritarismo do Estado e na defesa dos direitos inerentes à infância de forma interdisciplinar, o que ocorreu de acordo com as convenções internacionais da Organização das Nações Unidas e com a Organização Internacional do Trabalho. Em contrapartida, a doutrina da situação irregular perde adeptos e a teoria da proteção integral inicia o seu processo de construção democrática em consonância com os ideais democráticos, com os direitos humanos, com a concretização de direitos inerentes a condição de cidadania e com a constitucionalização de direitos fundamentais nas suas diversas categorias, superando-se os conceitos inerentes ao “menorismo”, que foram enfrentados ferrenhamente buscando a extinção da doutrina da situação irregular (CUSTÓDIO, 2008, p. 26-27). Assim, a Constituição da República Federativa do Brasil do ano de 1988 surgia com ideais democráticas e com a consolidação da teoria da proteção integral de raiz popular e consubstanciada na participação de movimentos sociais interdisciplinares em defesa da garantia da proteção integral a cidadãos em situação peculiar de pessoa em desenvolvimento, condição própria da infância. Então, o ordenamento jurídico constitucional passou a ter teoria própria protetiva de crianças e adolescentes, emanando princípios a todo ordenamento jurídico infraconstitucional e a toda a construção política dos entes federados brasileiros, e assegurando direitos fundamentais próprios à condição de sujeito de direitos (CUSTÓDIO, 2008, p. 27-28). No entanto, mesmo com a proteção jurídica constitucional em relação a proteção dos direitos da criança e do adolescente, de acordo com a teoria da proteção integral, ainda existem muitos resquícios da visão da doutrina da situação irregular que ainda não foram superados. A consolidação de crianças e adolescentes como sujeito de direitos vem sendo um processo difícil e demorado, e deve ter bases fortes em todos os aspectos, desde a linguagem, pois a superação de concepções relacionadas a menoridade, que tratava a infância como objeto, são fundamentais para a garantia da proteção integral no ramo de direito da criança e do 3
adolescente. Portanto, a expressão menor, que traz estigmas e prejuízos, é uma
expressão que deve ser superada com urgência, não podendo ser aceita no ambiente acadêmico e jurídico, pois remonta a uma lógica de submissão que deve ser superada (CUSTÓDIO, 2008, p. 28-30). A superação da concepção doutrinária em relação a proteção integral é uma proposta que foi destaca, sendo demonstrado que há razões suficientes para defender que já existe uma teoria da proteção integral, que se encontra embasada por princípios, direitos fundamentais e regras. Não que a doutrina da proteção integral não tenha tido o seu papel fundamental, que até mesmo consolidou a ideia de teorização. Mas que os subsídios de uma teoria da proteção integral trazem uma maior base para a concretização de direitos e políticas públicas, em um sistema de direitos da crianças e adolescentes, que estão construídos pelo olhar da infância, embasada na cidadania, na interdisciplinaridade, na emancipação do sujeito e na dignidade da pessoa humana, tendo sido consolidada de forma democrática (CUSTÓDIO, 2008, p. 30-31). A teoria da proteção integral trouxe ideias estratégicas inovadoras para a construção do direito da criança e do adolescente. A busca pela visão interdisciplinar da infância e as estratégias de execução de políticas públicas de forma articulada, em rede e descentralizada foram de suma importância para a estruturação do sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes, e com espaço para construções democráticas com participação popular. A teoria da proteção integral possuí um aparato consistente e que vem sendo fortificado, o que dificulta a atuação das ideias retrógradas e superadas cientificamente. A proteção jurídica da teoria da proteção integral está fundamentada pela Convenção sobre Direitos da Crianças da Organização das Nações Unidas, pela Constituição da República Federativa do Brasil e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e nas demais convenções internacionais de proteção à direitos humanos (CUSTÓDIO, 2008, p. 31-32). A base principiológica da teoria da proteção integral foi desenvolvida de acordo com diversas visões. Pode-se afirmar que os princípios que estruturam a teoria são vários: “universalização”; “garantismo”; “interesse superior da criança”; “prioridade absoluta”; “ênfase das políticas sociais básicas’; “humanização no atendimento”; “desjuridicionalização”; “descentralização político-administrativa”; “participação popular”; “tríplice responsabilidade compartilhada”; “proteção integral”; dentre outros (CUSTÓDIO, 2008, p. 32). 4
No artigo 3º, I, da Convenção sobre Direitos da Criança da Organização das
Nações Unidas está previsto o princípio do interesse superior da criança, que traz a necessidade de observação das decisões de acordo com as necessidades da infância, e não submisso ao interesse adulto. O conflito de interesses é próprio da sociedade capitalista, onde ocorre a busca pela concretização do consumo com base no individualismo, tal visão impõe a superioridade de quem detém do capital na escolha, o que não pode ocorrer com base na visão do interesse superior da criança para a tomada de decisões jurídicas e políticas de acordo com o que é melhor para a infância (CUSTÓDIO, 2008, p. 33-34). A prioridade absoluta, prevista no artigo 227 da Constituição da República Federativa do Brasil e no 4º, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do Adolescente, encontra-se estritamente relacionada com a ideia do interesse superior da criança, pois prevê a prioridade em assegurar direitos as crianças e adolescentes, o que engloba a primazia em relação a socorro e proteção, o atendimento com precedência em serviços de natureza pública, a formulação e execução de políticas públicas de natureza social com preferência e o privilégio em relação a destinação de recursos públicos para a efetivação de direitos relacionados a infância. Assim, o princípio da prioridade absoluta demonstra as diretrizes estratégicas para as ações públicas no contexto de tomada de decisões por parte dos entes federados (CUSTÓDIO, 2008, p. 34-35). O princípio da ênfase nas políticas sociais básicas, por sua vez, busca a promoção do “[...] reordenamento institucional, provendo um conjunto de serviços de efetivo atendimento às necessidades de crianças, adolescentes e suas próprias famílias por meio de políticas de promoção e defesa de direito” (CUSTÓDIO, 2008, p. 35). O princípio possui natureza emancipatória e necessita possibilitar o atendimento universalizado por meio de uma rede estruturada nos municípios. Desta forma, observa-se que o princípio da descentralização política e administrativa deve ser observado para proporcionar o atendimento no local onde ocorrem as relações sociais da pessoa humana, ou seja, no âmbito municipal. A descentralização deverá ocorrer em consonância com a participação popular para a tomada de decisões relacionadas a infância. O princípio da participação popular prevê a necessidade da observância de ações articuladas entre o Estado e a sociedade civil na construção de políticas públicas, observando-se as diretrizes propostas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, órgão que deve existir em todos os níveis 5
federados. A participação popular está de acordo com as necessidades de
emancipação e empoderamento cidadão nos ambientes sociais (CUSTÓDIO, 2008, p. 35-36). O princípio da desjuridicionalização demonstra um novo papel aos juízes, ou seja, superou-se a concepção da situação irregular, modificando o papel dos juízes, que deverão ser protagonistas na efetivação de direitos fundamentais quando não houver efetivação por parte das políticas públicas, passando atividades que eram de sua atribuição para os órgãos que desenvolvem as ações políticas. Na mesma ótica, a superação da visão menorista propõe o princípio da despolicialização, que irá permitir se assegurar a condição de sujeito de direitos em substituição as práticas de caráter repressivo e controlador praticadas pelos entes policiais no decorrer da história da infância no Brasil (CUSTÓDIO, 2008, p. 37). Já os conceitos garantistas, de observação da dignidade da pessoa humana e de direitos humanos, foram tratados com uma visão principiológica no direito da criança e do adolescente, trazendo condições basilares para a estruturação da teoria da proteção integral na sua maior amplitude, o que gera a humanização da infância como uma categoria de sujeito de direitos em condições peculiares de pessoa em desenvolvimento, que surge a partir de um novo olhar (CUSTÓDIO, 2008, p. 37). A abordagem da teoria da proteção integral por uma visão crítica e interdisciplinar se faz fundamental para o desenvolvimento de um novo paradigma no direito da criança e do adolescente, que embasa toda uma nova concepção emancipatória da infância. Para tal concretização, se faz fundamental a observância da tríplice responsabilidade compartilhada para a efetivação teórica embasada no protagonismo responsável por parte da sociedade, do Estado e da família, em um rompimento cultural a antigas concepções arreigadas em práticas culturais conservadores que devem ser superadas (CUSTÓDIO, 2008, p. 38).
BIBLIOGRAFIA
CUSTÓDIO, André Viana. Teoria da proteção integral: pressupostos para a
compreensão do direito da criança e do adolescente. Revista do Direito: Revista do programa de pós-graduação do mestrado e doutorado, Santa Cruz do Sul, n. 29, p. 22-43, jan-jun. 2008.