Aula 17 - Metodologia de Intervenção Psicossocial

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Metodologia de

Intervenção
Psicossocial
Competências psicossociais ligadas ao
processo grupal:
 Construção de regras;
 Constituição de vínculos;
 Comunicação;
 Cooperação;
 Tomada de decisão;
 Formas de distribuição de papéis, poderes e responsabilidades no
grupo.
Tarefa Externa:

O “fazer” do grupo é uma parte fundamental de sua construção de


identidade e de sua autovalorização. Esse “fazer” do grupo – que o
vincula ao contexto social, histórico e cultural – é a sua Tarefa Externa.
Ou seja, é externa não porque aconteça fora do grupo, mas porque liga
o grupo ao seu contexto. No caso das UPs, a tarefa externa busca
consolidar uma identidade de trabalhadores, autoorganizados e
envolvidos com um projeto de inclusão social. Busca dar-lhes apoio
para superar a exclusão social e construir condições concretas de
construção de novas identidades sociais e novas formas de relação com
a sociedade.
Tarefa Interna

 Chamamos de Tarefa Interna à dimensão da vida do grupo


que diz respeito às relações internas e à forma como estas
relações internas permitem ou atrapalham a realização dos
seus objetivos. Por exemplo, como um excesso de
competição pode impedir o desenvolvimento de uma
Unidade Produtiva mesmo quando ela conta com recursos
para produzir e clientela para comprar os seus produtos.
Para tanto, no grupo, torna-se vitais os processos de
comunicação, cooperação, participação, manejo de
conflitos, tomada de decisões e outros aspectos similares.
Equipe de Acompanhamento
Psicossocial
 Trabalha a identidade do grupo, o vínculo entre os
participantes, o vínculo entre a APRECIA (Associação
Preparatória dos Cidadãos de Amanhã) e o grupo, a pactuação
em torno do pertencimento grupal, as regras, os objetivos e
demais aspectos dos projetos do grupo. A EAP busca trabalhar
com o grupo o seu conjunto de regras e valores, os acordos e
conflitos, a compreensão e definição sobre qual deve ser a
relação coordenação-grupo, a divisão de responsabilidades,
compartilhamento de saberes, as práticas de cooperação, a
disposição para trabalhar em conjunto, entre outros aspectos.
Vetores do processo grupal, conforme definidos na
teoria do Grupo Operativo de Pichon-Rivière
(1994):
 São esses: pertencimento, comunicação, cooperação,
aprendizagem, tele, pertinência;
 Para cada uma dessas categorias existe uma oposta que não
deve ser negada (ex: cooperação/competição).
 Ao se trabalhar com os vetores do processo grupal é necessário
compreendê-los no contexto em que estão sendo utilizados, de
forma a ampliar a visão do processo do grupo e a identificar
competências psicossociais necessárias ao seu
desenvolvimento.
Vetores do processo grupal:
 Sentimento de Pertencimento: O desejo de cada participante de ser
reconhecido como membro identificado aos objetivos do grupo Versus O
reconhecimento pelo grupo de um desejo singular em cada participante.
Diferente da inscrição no grupo, o sentimento de pertencimento é
subjetivo, e à medida que é maior, também serão maiores as demandas e
ofertas do indivíduo para o grupo. Trata-se de empenho, e não
desempenho;
 Comunicação: Construção de contextos de diálogo, participação e
significação Versus Dificuldades históricas, sociais, culturais,
intersubjetivas e subjetivas de comunicação. Processo denso no qual serão
construídos os valores, pactos, objetivos e representações, além de estar
estreitamente ligada à produção de sentidos, mas pode gerar conflitos e
incompreensões. Não se limita ao raciocínio lógico.
Vetores do processo grupal:
 Cooperação: Necessidade e desejo de cooperar para construir um projeto
em comum Versus Relações de competição no interior do projeto coletivo.
Cooperação e competição expressam formas de organização do grupo,
podendo coexistirem. As práticas de cooperação não dependem apenas da
psicologia individual mas se apoiam, em larga escala, nas matrizes
oferecidas pela cultura e pela sociedade.
 Aprendizagem: Interesse e o desejo de aprender tanto assuntos técnicos
quanto vivenciais Versus Dificuldades para aprender e dificuldades para se
posicionar como alguém que tem o direito a aprender e a capacidade de
aprender. Como explica Pichon-Rivière (1994), a aprendizagem no Grupo
Operativo é considerada em três dimensões cuja articulação depende da
direção que o processo grupal toma. São elas: (1) absorção de novas
informações com o raciocínio lógico; (2) insight sobre a experiência,
usando o conjunto de saberes aprendidos, e (3) mudanças de postura diante
do mundo, a partir dos avanços conseguidos e da reflexão promovida.
Vetores do processo grupal:
 Tele: Disposição para agir em conjunto Versus Falta de confiança no
vínculo e no projeto grupal. Na teoria do Grupo Operativo, o
conceito “tele” expressa o vínculo de confiança entre os
participantes e como se mostram disponíveis para trabalhar em
conjunto. Essa disposição nasce justamente da trama das
identificações, projeções e transferências múltiplas no grupo. Assim
a “tele” é a expressão da rede transferencial no grupo.
 Pertinência: Construção de autonomia e protagonismo Versus
Conformismo. A pertinência diz respeito às formas como os
participantes constroem saídas para as suas dificuldades, de maneira
criativa e contextualizada, manejando limites e possibilidades nas
situações enfrentadas. Longe do conformismo, o grupo desenvolve
uma atitude protagonista em seu contexto. “Capacidade de viração”.
 “Assim, pensar a pertinência das ações de um grupo é
sempre avaliar a sua relação com o contexto social,
cultural e político. São ações resultantes apenas da
pressão do contexto? Ou são ações que buscam
afirmar o grupo apesar destas pressões? São respostas
conformadas às demandas sociais? Ou são respostas
criativas capazes de contribuir para a mudança do
grupo e da comunidade?” (p. 11).
Alguns exemplos de dinâmicas de
grupo:
Arvoré do Grupo

 Potencialidades: Trabalhar com o grupo sentimentos de


pertencimento, identidade, regras de convivência, valores e
expectativas
 Materiais necessários: Folhas em branco, uma folha grande de
papel, fita crepe, giz de cera/canetinha coloridas, um pincel
atômico.
Arvoré do Grupo
 Procedimentos: No primeiro momento, desenhar, individualmente, uma árvore, que deve
ter raiz, tronco, folhas, fruto e semente. Depois, cada integrante faz uma apresentação da
sua árvore, comentando se há alguma relação das partes da árvore consigo mesmo e
explicando. Em um segundo momento os participantes desenham juntos (como GRUPO)
uma única árvore. Nessa árvore, cada parte representará um aspecto do Grupo.
As raízes representarão o contrato grupal (regras de convivência que possam potencializar
o desenvolvimento do grupo). O tronco estará relacionado ao grupo propriamente dito,
estabelecido a partir das raízes estruturadas e sustentando as demais partes. As palavras
colocadas no tronco dizem respeito aos valores do grupo. Cada participante será
uma folha da árvore. Os frutos representarão as expectativas de cada participante
(relacionadas ao trabalho, ao desenvolvimento pessoal e/ou da unidade produtiva, aos
impactos na comunidade e outros contextos). As sementes representarão o que
cada participante gostaria que fosse produzido no/pelo grupo e multiplicado para
outros meios (impactos na comunidade, na família e nas relações
interpessoais; reconhecimento do trabalho e independência financeira).
Figura Humana
 Potencialidades: Trabalhar a comunicação clara e eficaz no grupo,
promovendo maior percepção de cada integrante e do grupo sobre as
dificuldades existentes.
 Materiais Necessários: Folha de papel em branco e lápis de cor.
 Procedimentos: O grupo tem a missão de desenhar um corpo
humano. Cada um recebe uma folha de papel ofício na qual deve
desenhar uma parte de um corpo. Deverá ser ressaltada a seguinte
regra: todos deverão desenhar e ninguém pode desenhar um pelo
outro (pode-se ajudar mas não fazer pelo outro). Outra regra é que a
pessoa não pode fazer duas partes iguais (por exemplo, o braço
esquerdo e o braço direito), para que não haja monopólio dos
desenhos. Perguntar ao grupo o quanto a comunicação interferiu
nesse trabalho.
Frases da Comunicação

 Potencialidades: Trabalhar junto ao grupo as diferenças entre


formas de comunicação agressiva e assertiva, potencializando a
possibilidade de uma comunicação não violenta.
 Materiais Necessários: Frases e balões.
 Procedimentos: A técnica consiste em colocar dentro de um balão,
pares de frases que possuem o mesmo sentido, mas de forma
diferente, ou seja, uma que seria exemplo de fala agressiva e outra
de fala assertiva. Logo após se solta os balões e pede-se aos
participantes para estourá-los e encontrar quem do grupo está com
uma frase que faz par com a sua. Identificar quais destas frases é
violenta e qual é a não violenta.
Colocando Tudo no Lugar

 Potencialidades: - Desenvolver com o grupo a possibilidade de


uma comunicação mais clara e eficiente dentro e fora do seu
contexto. Trabalhar com o grupo o desenvolvimento de uma
identidade positiva do grupo para si, com a comunidade e com
as instituições parceiras.
 Materiais Necessários: Duas caixas de sapato e o
desenvolvimento de um diálogo com o grupo que possibilite a
participação e a fala de todos.
Colocando Tudo no Lugar

 Procedimentos: Com o grupo sentado em círculo, conversar a


respeito das questões mais relevantes ao grupo e a relação com as
instituições ou órgãos parceiros. Abrir um espaço para a fala e o
entendimento a respeito da construção das relações, conceituar
com o grupo o tema de relacionamento, levantar as questões mais
importantes no relacionamento de parceria ou apoio. Em seguida,
apresentar a proposta de construção de dois recipientes nos quais
um será destinado para questões da própria UP e outro para as
instituições parceiras ou de apoio, os quais serão abertos em um
período acordado conjuntamente para a leitura e discussão do
conteúdo.
Jogo do Oxigênio

 Potencialidades: Trabalhar a cooperação, favorecer a reflexão sobre


os vínculos no grupo e fortalecê-los; discutir papéis e funções dos
integrantes e problematizar as diferentes formas de liderança;
observar e trabalhar o ritmo individual e coletivo na realização de
uma tarefa.
 Materiais necessários: Relógio para medir tempo da atividade.
Balas e bombons (número modifica-se conforme a quantidade de
participantes). Exemplo: Para um grupo de vinte integrantes utilizar
10 balas verdes; 10 balas azuis; 10 balas amarelas; 7 balas vermelhas
e 7 balas roxas. Total: 50 balas).
Jogo do Oxigênio

 Procedimentos: O técnico diz a instrução: “Vou distribuir algumas balas


para vocês. Vocês vão imaginar uma situação na qual o oxigênio do
ambiente vai começar a faltar em alguns minutos. As balas serão a moeda
de troca para vocês obterem oxigênios, isto é, vocês teram que trocar as
balas por oxigênio para manterem-se vivos. O grupo terá dois minutos
(este tempo pode ser modificado de acordo com o número de pessoas,
porém não deve ser muito prolongado) para efetuar esta troca. Vocês só
vão sobreviver se todos tiverem oxigênios. Cada sete balas de cores iguais
dão direito a três oxigênios enquanto três balas de cores diferentes dão
direito a um oxigênio. Entenderam?” Repetir as regras e, caso necessário,
escrevê-las e exemplificar as possibilidades de troca antes de iniciar a
ação.
Jogo do Oxigênio

 Procedimentos: Entregar um número diferente e sortido de balas


para cada integrante sendo que alguns podem até ficar sem receber
nenhuma. O técnico deve observar a interação entre os participantes.
Ao final do jogo, perguntar como todos se sentiram no decorrer da
atividade, como cooperaram ou competiram, quem agiu como
liderança, quem se viu isolado, e outros aspectos. O importante
é refletir sobre a relação entre eles, a cooperação e a forma como o
grupo se organiza diante de uma tarefa.
Máquinas e Corpos

 Potencialidades: Cooperação interna do grupo a fim de fortalecer o vínculo e o


desenvolvimento do mesmo.
 Materiais Necessários: Ter no mínimo seis integrantes e um espaço amplo.
 Procedimentos: O grupo é dividido em duas equipes e cada uma deverá construir
uma máquina com os próprios corpos, onde todos deveram ter seu papel e sua
função. Após a criação da “máquina” cada equipe deverá realizar a apresentação
desta, mostrando seu funcionamento e logo após refletir como o processo da
criação da máquina esteve ou não ligado à cooperação no grupo.
Travessia
 Potencialidades: Analisar com o grupo os fatores geradores de estresse, avaliando a participação e
a implicação de cada um bem como o cumprimento de normas dentro do grupo; trabalhar o nível
de organização com o grupo a fim de que consiga realizar as tarefas sob menos pressão e de forma
mais solidária. Aspectos da tele.
 Materiais necessários: Balões e fita crepe.
 Procedimentos: Divide-se o grupo em dois subgrupos. Faz-se de conta que um determinado espaço
da sala é um rio cheio de crocodilos. São desenhadas pedras no chão, com fita crepe. Cada
subgrupo elege um líder para servir de guia na “travessia”. Os integrantes de cada subgrupo devem
atravessar o rio de mãos dadas, pisando somente sobre as pedras, cuidando para que as mãos não
se soltem e o subgrupo não se desfaça. Do outro lado do rio há um tesouro e o grupo vai em sua
busca. Ao chegar do outro lado, pegam o tesouro (que são balões) e distribuem entre si sem soltar
as mãos. Caso as mãos se soltem ou alguém do grupo pise fora das pedras, todos devem recomeçar
o trajeto na fase em que estiverem. Ao retornar com o tesouro/balão, cada integrante deve enchê-lo
e estourá-lo no corpo do colega sem usar as mãos. O subgrupo que fizer todo esse percurso em
menos tempo ganha um brinde.
Jogo da reciclagem
 Potencialidades: Trabalhar a história do grupo evidenciando os conflitos
existentes a fim de favorecer sua elaboração; Fortalecer os vínculos e
valores grupais. Aspectos da aprendizagem.
 Materiais necessários: Três folhas de papel; uma ou mais canetas.
 Procedimentos: Após um breve aquecimento a respeito da história da
Unidade Produtiva, dar três folhas ao grupo e pedir que eles descrevam
quais aspectos de sua trajetória eles gostariam de: 1- Preservar; 2- Reciclar
e 3-Jogar fora. Em grupos maiores esta atividade também pode ser
realizada em três ou mais subgrupos.
Pedindo Bis
 Potencialidades: Trabalhar com o grupo as formas e conteúdo da
aprendizagem dentro do contexto de vida das participantes, incluindo
o cotidiano da unidade produtiva, buscando possibilitar a reflexão
sobre as facilidades e dificuldades no processo de aprendizagem;
possibilitar a abertura ao processo de aprendizagem dentro da unidade,
e a visualização de capacidades relacionadas a esse processo,
facilitando o aumento do fluxo de informações dentro da UP.
 Materiais Necessários: Cadeiras, uma mesa pequena, caixas de
chocolate bis (a quantidade fica a critério de cada coordenador).
Pedindo Bis
 Procedimentos: Com o grupo em círculo, colocar no centro da roda em
uma mesa embalagens de chocolate bis, solicitar aos participantes que
cada um pense em uma situação vivenciada no contexto do grupo
relacionada à aprendizagem com um colega e, após pegar um chocolate
para cada situação, o distribua ao respectivo colega e conte qual foi a
experiência de aprendizagem que vivenciou e gostaria que se repetisse,
ou seja, pedir Bis. Não existe um limite de entrega do chocolate, pode
ser a partir de quantas experiências forem vivenciadas por cada
participante. Durante as entregas intercalar perguntas ou pontuações
relativas a essa aprendizagem como: conteúdo, tipos de aprendizagem,
facilidades e dificuldades, conceito de aprendizagem.
Eu e Minha Comunidade
 Potencialidades: Reflexão sobre Cidadania e participação social, no contexto em que se
vive; Refletir sobre as problemáticas comunitárias de modo a perceber as mudanças
desejadas e o que se faz necessário para que elas aconteçam; Responsabilização e
implicação do sujeito em práticas sociais. Aspectos da pertinência.
 Materiais Necessários: Pedaços de papel, canetas, recipiente fechado, música.
 Procedimentos: Alguns papéis são colocados em um recipiente fechado que vai
circulando entre as participantes ao som de uma música. Em dado momento, a música é
interrompida e a pessoa que estiver com o recipiente em mãos é convidada a retirar um
papel e completar oralmente a frase escrita. Dentre as opções de frase, sugere-se: Sinto-
me cidadão quando... ; Daqui há 5 anos espero ver a minha comunidade ...; Minha
contribuição para a comunidade é...; Moro aqui há (tempo) e sinto-me ...; Para melhorar
meu bairro eu faço...; Minha relação com os moradores do bairro é... .
Referências:

Ogioni, A.; Afonso, L.; Peixoto, C.; Gomes, D. D.; Bicalho, G.; Moreira, N.
& Silva, W. da C. Metodologia de intervenção psicossocial e
acompanhamento do processo grupal com unidades produtivas em
projeto de inclusão produtiva da APRECIA. Pesquisas e
Práticas Psicossociais 4(1), São João del-Rei, Dez. 2009.

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