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GRUPO DE ESTUDOS LOGÍSTICOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Portos Secos

Gabriela Juppa Pedelhes, [email protected]

1. Introdução

O comércio internacional cresceu muito nos últimos anos no país, e o volume de


mercadorias exportadas e importadas aumentou sem que houvesse uma contrapartida do
governo em investimento em infra-estrutura. Em 1970 o país exportou 2,7 bilhões de dólares
em mercadorias, dez anos depois este valor já estava na casa dos 20 bilhões de dólares, em
1990 nos 30 bilhões e em 2006 já está em 113,4 bilhões.

O volume de importação é menor, mas também vem crescendo muito, sendo que em
2006 já foram importadas 77 bilhões de dólares.

A conseqüência é a sobrecarga logística, os portos estão sobrecarregados, o que


acarreta perda de tempo e dinheiro para as empresas, e redução do nível de serviço logístico.

Neste contexto os Portos Secos são uma alternativa para desafogar o transito
aduaneiro nas zonas primárias, visto que podem realizar todas as atividades, em zona
secundaria, levando a mercadoria para as zonas primárias (exportação) prontas para
embarque, ou para as empresas, no caso de importação, já desembaraçadas.

Com este crescimento das exportações nos últimos anos, os Portos Secos ampliaram
sua participação no comércio exterior brasileiro, mas ainda estão aquém da sua capacidade e
suas vantagens logísticas e fiscais ainda não são totalmente exploradas.

2. O que são Portos Secos?

A Receita Federal conceitua Portos Secos como recintos alfandegados de uso


público, situados em zona secundária, nos quais são executados operações de movimentação,
armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias e de bagagem, sob controle aduaneiro.

Recintos Alfandegados são espaços físicos delimitados à movimentação,


armazenagem de mercadorias de importação e exportação, que necessitam ficar sob controle
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aduaneiro. E Zona Secundária é todo território nacional, exceto as zonas primárias: áreas de
portos, aeroportos e pontos de fronteira alfandegados.

A Revista Conexão Marítima conceitua Portos Secos como armazéns usados para
estocar importações e exportações enquanto a Receita Federal libera seu comércio no país ou
sem embarque para o exterior.

Este conceito reduz um pouco a utilidade dos portos secos, pois as mercadorias
podem ficar armazenadas não só para aguardar a liberação, mas como uma estratégia da
empresa de utilizar os portos secos como um estoque, retirando ou exportando as mercadorias
aos poucos, e pagando os tributos gradativamente.

Os portos secos foram criados no início da década de 1970, e chamavam-se Centrais


Aduaneiras de Interior, desde sua criação, passaram por muitas mudanças, e trocas de
denominação. As Centrais Aduaneiras passaram a se chamar em 1996 de Estações Aduaneiras
Interiores, mais conhecida pela sigla EADIs.

Foi a partir daí que o papel de recintos alfandegados de uso público, instalados em
zona secundária, sob regime especial de importação e exportação passou a ser realidade nos
portos secos.

A denominação atual foi adotada em janeiro de 2003, e marcou uma nova fase de
desenvolvimento, impulsionada principalmente pelo aumento das exportações.

Os portos secos são zonas capazes de estimular as exportações, disponibilizando


todas às atividades de liberação aduaneira das mercadorias importadas ou exportadas.
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Atualmente conforme fonte da Receita Federal existem 63 Portos Secos, a


distribuição pelos estados brasileiros pode ser visualizada na Tabela abaixo:

Tabela 1 – Localização dos Portos Secos

Estado Quantidade

Goiás 2

Mato Grosso 1

Mato Grosso do Sul 1

Amazonas 1

Pará 1

Pernambuco 1

Bahia 2

Minas Gerais 5

Espírito Santo 3

Rio de Janeiro 3

São Paulo 27

Paraná 6

Santa Catarina 2

Rio Grande do Sul 8

Fonte: Adaptada Receita Federal (2006)

A tabela demonstra a concentração dos Portos Secos em São Paulo, onde gira o
maior volume de mercadoria, e pólos industriais. O estado de Santa Catarina possui dois
Portos Secos, ambos localizados no município de Itajaí, um deles é de carga geral e
administrado pela Portobello Comércio, Transportes, Distribuição e Armazéns Gerais S/A; o
outro é específico para cargas frigoríficas e é administrado pela Brasfigo S/A .
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Segundo panorama de 2005 publicado pela Revista Tecnologística, os Portos Secos


movimentaram aproximadamente 30% do comércio exterior brasileiro por contêineres, por
via marítima, e paletes, por via aérea. Gerando 20 mil empregos diretos, que movimentaram,
em 2005, mercadorias no valor de US$ 72 milhões.

Segundo dados da Abepra, Associação Brasileira das Empresas Operadoras de


Regimes Aduaneiros, os portos secos trabalham com todos os segmentos da economia, na
exportação os destaques são para o agronegócio, a indústria calçadista, equipamentos de
informática, e o setor metal-mecânicos.

Na importação, os setores mais expressivos são: indústria automobilística, de


informática, componentes eletroeletrônicos e a indústria farmacêutica.

2.1 Vantagens

Um Porto Seco pode proporcionar diversos benefícios para as organizações


envolvidas com comércio exterior, uma das principais é a agilidade no desembaraço
aduaneiro e regimes especiais.

A redução do tempo de espera é possível, pela estrutura existente nos Portos Secos, e
o menor volume de cargas, desta forma os veículos não precisam ficar parados nas zonas
primárias.

Outra vantagem são os custos menores, devido a redução do tempo de espera, e do


valor menor cobrado pelos serviços, de acordo com o panorama 2005 da Revista
Tecnologística os portos secos cobram para realizar serviços de armazenagem e despacho
aduaneiro 30% menos que os Portos e 90% menos que os aeroportos.

Quanto ao regime aduaneiro especial os exportadores podem utilizar um regime


denominado de Depósito Alfandegado Certificado – DAC, nesta modalidade a empresa pode
fechar a exportação de seus produtos, com liquidação do câmbio antes do embarque das
mercadorias, estas ficam armazenadas à disposição do importador. E para efeitos legais,
fiscais e de cambio a mercadoria já é considerada exportada.
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Nas importações, há a modalidade de Depósito Alfandegado Público, onde é


possível armazenar produtos importados, com cobertura cambial pelo período de 120 dias.

Estes são alguns exemplos de operações aduaneira realizadas nos Portos Secos, mas
estes podem utilizar todas as operações de trânsito aduaneiro. O transporte é realizado do
ponto de desembarque da fronteira, até o recinto alfandegado do Porto Seco. E as mercadorias
de exportação saem lacradas e desnacionalizadas, indo direto para o terminal de embarque
sem novas vistorias.

Outras das operações de transito aduaneiro oferecidas nos Portos Secos são:

- Regime Entreposto Aduaneiro: Permite exportação de mercadorias consignadas,


com suspensão dos impostos por até 3 anos. Pode-se nacionalizar somente as
quantidades necessárias para atender pedidos de qualquer volume..

- Regime Entreposto Industrial: Permite que determinado estabelecimento de uma


indústria importe, com suspensão de tributos, mercadorias, que são submetidas à
operação de industrialização e exportadas.

- Regime Exportação Temporária: Permite que através do porto seco a mercadoria


nacional seja exportada com suspensão de impostos, com a condição de retornar ao
Brasil no mesmo estado ou após conserto com prazo de 1 ano, prorrogável por mais
um ano.

- Entreposto Aduaneiro Exportação: Permite que a mercadoria permaneça


armazenada por um ano, prorrogável por mais um ano, visando a suspensão de
impostos internos, até a conclusão do desembaraço e embarque.

Além dos serviços característicos realizados pelos Portos Secos, como regimes
especiais, há outros serviços que agregam valor ao cliente. Alguns são especializados, e
possuem aéreas climatizadas, refrigeradas, segregadas para produtos químicos, realizam
serviços de paletização, manutenção, e embalagem.

Possibilitam pagamento dos impostos, relativos à exportação e importação de forma


facilitada, e possuem em sua estrutura postos da Receita Federal, Ministério da Saúde e
Agricultura, agilizando o processo e resolução de problemas.
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Para ilustrar a agilidade proporcionada por estes serviços Eduardo Martins da Cruz,
presidente da Associação Brasileira das Empresas Operadoras de Regimes Aduaneiros
(Abepra), em reportagem publicada na Revista Tecnologística, cita o caso de um de seus
clientes, exportador de mangas, que usa uma companhia marítima para fazer o transporte da
carga, cujo dead-line é na quarta-feira. O cliente colhe a fruta no domingo, libera os
contêineres na EADI na segunda e na terça-feira e embarca a carga na quarta. Esta operação
permitiu uma redução de sete dias na logística de distribuição desse cliente, para um produto
que tem 30 dias de validade.

2.2 Projeto Lei

Até agosto de 2006, quando foi aprovada a Medida Provisória 320, os Portos Secos
só poderiam ser criados através de licitação.

O Projeto de Lei que vinha propondo a alteração no modelo jurídico destes recintos
alfandegados, estava rolando no congresso desde 2005. O foco do projeto era o fim do
processo de licitação para escolha de operadores dos portos secos, mas também continha
outros temas.

De acordo com o projeto, a licença para a exploração do Porto Seco será concedida à
empresa constituída no Brasil, que explore serviços de armazéns gerais, e tenha patrimônio
liquido igual ou superior a 2 milhões, contra 10 milhões previstos na legislação atual.

Prevê também que os novos Portos Secos sejam instalados em locais onde haja
unidades da Receita Federal, e que os operadores tenham regularidade fiscal, e requisitos
técnicos, como sistemas de monitoração com câmaras, scanner, e laboratórios de análise.

A proposta enviada ao congresso no final de 2005 recebeu 34 emendas, e vinha


sofrendo resistência para aprovação. Com argumento de que havia risco de estrangulamento
do fluxo de comércio exterior no País, o governo federal resolveu não esperar o Congresso
Nacional e editou a Medida Provisória 320, que permite a abertura de portos secos sem
licitação.

O texto da MP é praticamente o mesmo que o da lei, e há opiniões favoráveis e


contra o Projeto e a MP, o governo a favor, alega que este modelo combina garantia fiscal
com facilidade logística, e menor custo alfandegário. A secretária-adjunta da Receita, em
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reportagem a Folha de São Paulo, disse que o País não podia esperar a votação do projeto sob
o risco de comprometer os despachos aduaneiros em grandes portos, como em São Paulo.

Já a Frente Nacional dos Permissionários de Recintos Alfandegados, critica a MP,


diz que o projeto tem que ser mais discutidos, que faltam fiscais para atender a todos os
licenciados.

2.3 Considerações Finais

Com o crescimento do comércio exterior no país, o problema da infra-estrutura


defasada se agrava cada vez mais, dentre os principais problemas está a situação dos portos
brasileiros.

Segundo Anuário de Infra-Estrutura publicado pela Exame, um dos principais


problemas é a falta de espaço para colocar contêineres, as exportações e importações
cresceram, sem contrapartida de investimentos em obras para sustentar esta demanda.

Com isto perdem os exportadores, e perde o país, os investimentos nos portos não
deixam de ser necessários, mas o aumento da utilização dos portos secos pode desafogar as
zonas primárias, e resolver alguns dos problemas, como a falta de espaço para armazenagem e
o custo com caminhões parados, aguardando para realizar embarque e desembarque.

Neste sentido a aprovação da MP, pode permitir a expansão destes serviços, para
diversas regiões, alguns estados não possuem nenhum porto seco. Caso forem cumpridos os
requisitos necessários, e a fiscalização para garantir uma boa prestação de serviços, os portos
secos, funcionam como uma alternativa para aumentar a eficiência logística das atividades
relativas ao comércio exterior.

Referências

http://www.conexaomaritima.com.br/revistas/ed20/reportagem_secos.pdf

www.tecnologística.com.br

www.abepra.org.br

http://www.receita.fazenda.gov.br/Aduana/Eadi.htm

www.guialog.com.br/ARTIGO275.htm

www.exame.com.br/infraestrutura
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