Aspectos 1
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20/03/2024, 19:20 Aspectos Sociais, Políticos e Legais da Educação
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Introdução
Olá, caro estudante!
Esta unidade é destinada ao estudo das relaçõ es que são tecidas entre Educação, Estado e Sociedade, com
ênfase nas políticas educacionais. A ideia é que você possa compreender basicamente três pontos:
- O que são as políticas educacionais.
- Quais as políticas que regem os processos formais de educação no Brasil.
- Como as políticas educacionais aparecem na legislação brasileira, de hoje e de antigamente.
Para isso, alguns pontos de discussão serão importantes. Por exemplo, você conhece os dispositivos legais
que respaldam e estabelecem as diretrizes para a sua vida acadêmica? Já leu sobre o Regime de Colaboração? E
mais: sabia que a Lei Magna no Brasil é a Constituição Federal? Alguns destes termos e conceitos podem
parecer tão distantes de nó s, mas são importantes, pois neles estão contidos os marcos histó ricos e legais que
estão por trás da educação do país, desde a educação infantil até o ensino superior.
Este estudo almeja contribuir para que você conheça com mais profundidade a legislação educacional e a sua
trajetó ria histó rica – pois a educação, como parte indissolú vel da sociedade, acompanha as modificaçõ es
sofridas em consequência das transformaçõ es sociais, culturais, econô micas e políticas que marcaram a
histó ria social brasileira.
Nesta unidade, você verá como são formadas as redes de educação municipal, estadual e federal e a
possibilidade de as instituiçõ es pú blicas trabalharem de forma mais integrada entre as três instâncias
federativas – Município, Estado e União – por meio do Regime de Colaboração. Por fim, você conhecerá as
principais medidas determinadas pelas Constituiçõ es brasileiras, desde a Independência do Brasil, o que lhe
dará subsídios para analisar, de forma crítica, a nossa atual Constituição, também conhecida como
Constituição Cidadã.
Bons estudos!
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E é para se adaptar às novas condiçõ es da sociedade industrial que surge a escola da era moderna, como
espaço formal de saber e de transmitir o conhecimento sistematizado e organizado, para garantir à sociedade
que as novas geraçõ es possam ser instrumentalizadas e inseridas nesta nova forma de ser e estar no mundo.
É aqui que se inicia o que conhecemos como “escolarização”. Ou seja, um processo de educação, mas em um
espaço formal, vinculado à uma ideia de sociedade e de desenvolvimento. O saber sai da competência
exclusiva da família e dos espaços culturais, políticos e, principalmente, da alçada da religião, e ganha espaço
na mão do Estado.
Para se desenvolver, o Estado precisa de força de produção. Para ter força produtiva, as pessoas precisam
aprender. E para que elas aprendam, o Estado apresenta, como uma de suas funçõ es, prover políticas pú blicas.
É por isso que existem as políticas educacionais. Com esse pressuposto em mente, você entenderá no que
consistem as políticas pú blicas para a educação a partir do conhecimento de sua trajetó ria – da formulação à
implantação –, buscando identificar nesse processo suas relaçõ es com a sociedade e com o Estado.
Mas afinal: o que são políticas pú blicas? Como elas se originam? Elas sofrem influências das demandas
sociais ou são apenas um dispositivo político criado pelo Estado? Quais as suas funçõ es sociais?
Para responder, podemos começar pelo dicionário. O vocábulo política respeito à “[...] Arte ou vocação de
guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido, pela influência da opinião pú blica
[...]. Habilidade especial ao relacionar-se com outras pessoas, com o intuito de obter certos resultados
anteriormente planejados [...].” (MICHAELIS, 2019)
Falar de política(s) é falar de formas de regular, de governar, de administrar. Contudo, observe que estamos
buscando compreender o que são políticas pú blicas – o que nos leva, logo de saída, a pensar essas práticas de
governo direcionadas ao pú blico, ao povo em geral.
Na verdade, se você fizer um levantamento teó rico das definiçõ es acerca do que são políticas públicas,
certamente encontrará um conjunto de definiçõ es bastante diverso, o que, por si só , aponta para a
complexidade do tema e as relaçõ es que a temática das políticas pú blicas estabelece com diferentes
perspectivas teó ricas utilizadas em suas análises e operacionalizaçõ es.
O fato é que todos nó s, querendo ou não, somos afetados pelas políticas pú blicas. Por mais alheia que uma
pessoa possa estar em relação ao que ocorre em sociedade, as políticas pú blicas estão permeadas em toda a
organização estatal, e não só naquilo que parece nos afetar mais diretamente.
Ao recorrer à literatura que trabalha com a temática das políticas pú blicas, a conceituação deste termo foi
atribuída por Janete Maria Lins de Azevedo (1997; 2000), que define políticas pú blicas como “ação do Estado”.
(AZEVEDO, 1997, p. 23). Nesta perspectiva de compreensão, o foco das análises privilegia as açõ es estatais
desenvolvidas para atender, regulamentar e administrar as diferentes demandas sociais, via de regra,
compreendidas pelo Estado como problemas pú blicos a serem controlados.
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VOCÊ SABIA?
Que existem dicioná rios de política? O campo de estudo que envolve os
conhecimentos sobre “política” é bastante complexo, ambíguo e multifacetado.
Alé m disso, nem sempre os dicioná rios de uso comum trazem uma definiçã o
específica dos conceitos deste campo de estudos. Dentre os dicioná rios específicos
da á rea, um exemplo é o “Dicioná rio de Política”, escrito pelos sociólogos Norberto
Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino e publicado pela primeira vez em
1983.
Para Secchi (2014, p. 22), existe uma “política pú blica real quando incorpora a intenção de resolver um
problema pú blico com o conhecimento para resolvê-lo”. Por exemplo: a distribuição de preservativos gratuitos
em parceria com o Sistema Ú nico de Saú de (SUS) com o objetivo de controlar a AIDS, enquanto doença que
apontava taxas crescentes na sociedade brasileira.
As políticas pú blicas muitas vezes são criadas para solucionar conflitos ocasionados pelas desigualdades
sociais, econô micas e culturais que interferem diretamente na consolidação dos direitos de parte da
população historicamente excluída do acesso aos bens culturais e materiais. Nesse sentido, os movimentos
sociais organizados contribuem para pressionar o Estado a planejar e operacionalizar políticas pú blicas que
atendam às reivindicaçõ es dos povos subalternizados.
O Movimento Negro no Brasil é um dos bons exemplos de como a sociedade organizada pode lutar para que as
políticas pú blicas estejam em consonância com as demandas de uma população. Não à toa, este movimento
teve papel decisivo para que fosse criada a Lei n. 12.71/12. Também conhecida como Lei das Cotas, ela dispõ e
sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituiçõ es federais de ensino técnico de nível médio e
prevê, no mínimo, 50% das vagas disponíveis para alunos autodeclarados pretos, pardos e indígenas,
provenientes de família de baixa renda (BRASIL, 2012).
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Figura 1 - Dentre as conquistas dos movimentos sociais estão aquelas voltadas à igualdade racial.
Fonte: Elenabsl, Shutterstock, 2018.
A Lei 12.711 contribuiu para o enfrentamento das desigualdades raciais e econô micas no Brasil ao prever uma
reserva de vagas para estudantes cotistas. Percebe-se, portanto, a relevância das políticas pú blicas, na medida
em que elas se encontram profundamente ligadas às transformaçõ es pelas quais passam as sociedades.
São exatamente os problemas da sociedade em cada contexto histó rico que, ao provocarem insatisfação e
busca por melhores condiçõ es de vida social, podem se transformar em políticas pú blicas.
Outro caso importante de destaque é o movimento feminista. Se no início do século XX a luta era por direito a
voto, conquistado em 1932, hoje são outras demandas que emergem deste movimento, como a luta por
igualdade salarial, o direito ao aborto seguro e legal, e a luta contra a violência doméstica.
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Assim, pode-se dizer que as políticas pú blicas se constituem em uma espécie de ponte entre uma situação real
concreta, que requer determinadas soluçõ es, a uma situação ideal na qual a problemática apontada esteja
satisfatoriamente resolvida.
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Figura 3 - Representação do movimento das políticas pú blicas desde a identificação da problemática social à
efetividade das açõ es.
Fonte: Elaborada pela autora, 2019
Porém, as políticas pú blicas têm finalidades diferentes, de acordo com seu modelo e seu grupo de alcance. Ou
seja, são de tipologias distintas. Também não se pode dizer que elas sigam rigorosamente uma determinada
classificação. Muitas vezes elas são híbridas ou, ainda, se estruturam com as características de mais de um
tipo. É importante que tenhamos conhecimento do que caracteriza cada tipo de política pú blica, além de
objetivos e metas a serem, por elas, alcançadas.
Nesse sentido, Lowi (1972), ao considerar dois critérios – o impacto da política na sociedade e o espaço onde
os conflitos sociais são negociados –, fez a seguinte classificação das políticas pú blicas que poderão ser
vistas clicando nos botõ es a seguir:
Distributivas São aquelas políticas que destinam bens ou serviços para uma
determinada parcela da sociedade, porém com a utilização dos
recursos de toda a sociedade. Este tipo de política pode ser
assistencialista, clientelista ou destinada a assegurar direitos
sociais. Exemplos: seguro-desemprego, criação de creches e escolas,
pavimentação de estradas, entre outras.
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Redistributivas
São políticas que, assim como as distributivas, são destinadas a
parcelas específicas da sociedade. No entanto, os recursos alocados
não são provenientes da sociedade como um todo, mas, sim, de
outros grupos específicos. Exemplos: programa habitacional para
pessoas de baixa renda, reforma agrária.
Agora que você já sabe o que são políticas pú blicas, seus diferentes tipos e funçõ es, conhecerá a trajetó ria das
políticas desde a formulação do texto legal à consolidação das políticas educacionais.
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Nesse sentido, o soció logo inglês Stephen Ball, em trabalho de pesquisa com a parceria de Richard Bowe,
propõ e uma nova abordagem conceitual que em muito contribui para que possamos compreender e analisar
os movimentos das políticas pú blicas para a educação. Este autor, que contou com a colaboração de outros
investigadores britânicos do campo das políticas (BALL; BOWE, 1992), teve suas obras difundidas no Brasil
especialmente pelas traduçõ es, entrevistas e trabalhos de pesquisa do professor da Universidade Estadual de
Ponta Grossa (UEPG) Jefferson Mainardes (2006).
As contribuiçõ es dos estudos desenvolvidos por Stephen Ball tornam-se particularmente relevantes para a
realidade brasileira na medida em que, até hoje, ainda contamos com poucos estudiosos brasileiros que se
dedicam a discutir e elaborar referenciais teó ricos e analíticos que contribuam para o avanço da nossa
compreensão sobre o percurso das políticas pú blicas educacionais.
Mas o que propõem os estudos de Stephen Ball (2001)?
A proposta é analisar as políticas educacionais a partir da perspectiva analítica denominada por Ball e Bowe
(1992, apud MAINARDES, 2006, p. 48) de “abordagem do ciclo de políticas” (policycycle approach, em inglês).
E do que se trata essa abordagem? Inicialmente, conforme propõ e Ball (2001, p. 41) a partir de suas pesquisas,
podemos compreender o ciclo de políticas a partir de três arenas políticas vistas clicando nos botõ es a seguir:
•
Política proposta
Se refere à política oficial e envolve não apenas as intencionalidades do governo, mas, também, os
setores interessados no campo da educação no qual a política vai intervir. Aqui, inclui-se
assessores, escolas, lobistas, burocratas, enfim, todos aqueles que estariam encarregados de
implementar a política.
Política de fato
Conforme Ball e Bowe (1992), a arena constituída pela política de fato é formada pelos textos
políticos e textos legislativos que, na verdade, servem como balizadores políticos para que a
política possa ser colocada em prática. São os textos que apontam o que pode ser feito, em quais
condiçõ es e para quais finalidades.
Política em uso
É o termo usado para referir-se aos discursos e às açõ es institucionais que ocorrem no processo
em que, de fato, as políticas serão implementadas, ou seja, colocadas em prática.
Posteriormente, Ball e Bowe (1992) fazem uma reflexão crítica sobre o modelo que haviam proposto como
referencial para análise das políticas educacionais. Dessa forma, identificam que se fazia necessário retirar a
fixidez presente no esquema analítico que haviam proposto, na medida em que essas três arenas – política
proposta, política de fato e política em uso – não apresentavam relaçõ es entre si.
Observe a ilustração a seguir.
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Vê-se, portanto, que, neste primeiro momento, as arenas que constituem a trajetó ria das políticas pú blicas
educacionais não se relacionam entre si. Mostram-se estáticas, lineares e se apresentam como se
funcionassem em etapas. Isso porque, para estes autores, os sujeitos que atuam na prática interferem na arena
de formulação das políticas. Por consequência, Ball e Bowe (1992) rejeitam qualquer modelo de análise
política que separe as dimensõ es entre o planejamento e a prática das políticas.
Na leitura de Mainardes (2006, p.50): “Os autores indicam que o foco da análise de políticas deveria incidir
sobre a formação do discurso da política e sobre a interpretação ativa que os profissionais que atuam no
contexto da prática fazem para relacionar os textos da política à prática.” Dito de outra forma, na análise das
políticas é preciso considerar as práticas de resistências, de negociaçõ es, de interpretaçõ es que as pessoas que
atuam na prática, no chão das escolas, fazem dos textos legais que a elas são dirigidos.
Nesse sentido, Ball e Bowe (1992) vão propor um ciclo contínuo formado por três dimensõ es inter-
relacionadas: contexto de influência, contexto da produção de texto e contexto da prática.
Observe a figura a seguir e veja que, quando comparada com a imagem anterior, as análises das políticas
pú blicas ganham outra compreensão. Agora, todos os contextos, ainda que mantenham suas singularidades,
possuem zonas de inter-relaçõ es entre si.
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Dessa forma, é possível compreender que as políticas pú blicas para a educação não acontecem de forma
verticalizada, estática e linear. Ao contrário, obedecem a fluxos contínuos que abarcam os contextos da
influência nos quais as políticas são planejadas; o contexto da produção do texto em que as políticas são
formalizadas; o contexto da prática no qual as políticas são recriadas, e não simplesmente implantadas.
Assim, você já está apto para analisar as políticas educacionais que regem o seu cotidiano como estudante,
como professor/a ou como pessoa interessada no campo das políticas educacionais.
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Lei n. 4.024/61
Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. (BRASIL, 1961).
Lei n. 5.540/1968
Fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá
outras providências (BRASIL, 1968).
Lei n. 5.692/1971
Fixa diretrizes e bases para o Ensino de 1o e 2o graus, e dá outras providências (BRASIL, 1971).
Decorridos dez anos da promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,
1961), o governo do Regime Militar (1964-1985), buscando organizar a educação brasileira em sintonia com a
ordem social e econô mica vigente no período ditatorial, cria uma nova lei com o objetivo de ajustar a LDBEN
existente.
Em termos de Ensino Superior, as mudanças foram feitas por meio da Lei n. 5.540/1968, também chamada de
Lei da Reforma Universitária (BRASIL, 1968). E em 1971, para adaptar o então Ensino Primário e o Ensino
Médio à nova ordem econô mica brasileira, a Lei n. 5.692/1971 alterou estes níveis, que passaram a ser
denominados de Ensino de 1o e de 1o Graus, respectivamente. Esta lei determinou um novo quadro
organizativo para o ensino nacional, conforme observamos no quadro a seguir.
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Quadro 1 - Síntese da estrutura e organização da educação brasileira na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional segundo a Lei no 5.692/1971.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019, baseada em BRASIL, 1971.
A legislação educacional da Ditadura Militar, instaurada no Brasil em 1964, se estendeu até o início da então
chamada transição democrática, ou seja, o período que transitou do fim da ditadura ao início de um regime
político democrático. Importante saber que, de acordo com a literatura educacional, compreende-se, como
Ditadura Militar, o período em que o governo esteve sob o controle do regime militar (1964-1985). Chama-se
de período de redemocratização da sociedade brasileira o período de transição ocorrido entre o fim do regime
militar e a instauração do regime democrático, que teve como marco histó rico e político a aprovação da
Constituição Federal de 1988.
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Assim, no período da chamada redemocratização nacional, que teve como marco de consolidação democrática
a Constituição da Repú blica Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, cresceu a pressão por
parte de diferentes segmentos sociais que reivindicavam maior participação popular nas tomadas de decisõ es
no país. Foi a partir da necessidade de uma mudança estrutural na educação brasileira, em consonância com
as mudanças políticas do país, que a atual LDB foi promulgada em 20 de dezembro de 1996.
A Lei n. 9.394/1996 é a terceira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e está vigente até os dias de
hoje. Com ela, garantiu-se a educação pú blica gratuita e universal e um percentual mínimo para investimento
pú blico em educação por parte das diferentes esferas administrativas (federal, estadual e municipal).
Determinou-se, também, a duração do ano letivo em 200 dias e 800 horas, além de um currículo mínimo
comum para o ensino fundamental. Veremos mais sobre a LDB a seguir.
Quando o homem sente a necessidade de intervir nesse fenô meno [educação] e erigi-lo em
sistema, então ele explicita sua concepção de educação enunciando os valores que a orientam e as
finalidades que preconiza, sobre cuja base se definem os critérios de ordenação dos elementos
que integram o processo educativo. E surgem as distinçõ es: ensino [como transmissão de
conhecimentos e habilidades], escolas [como locais especialmente preparados para as atividades
educativas], articulação vertical e horizontal [graus e ramos] etc. (SAVIANI, 1999, p. 120).
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Saviani (1999) argumenta ainda que, na modernidade, o Estado é quem tem legitimidade para criar leis que
estejam a serviço da sociedade; por efeito, só faria sentido falar em sistema na esfera pú blica. Segundo o autor:
“Por isso as escolas particulares integram o sistema quando fazem parte do sistema pú blico de ensino,
subordinando-se, em consequência, às normas comuns que lhes são pró prias. Assim, é só por analogia que se
pode falar em ‘sistema particular de ensino’”. (SAVIANI, 1999, p. 21, grifos do autor)
Agora que você já compreendeu melhor a noção de sistema, sua provável emergência nas legislaçõ es e suas
recorrentes utilizaçõ es nos discursos educacionais, conhecerá, de forma específica, os sistemas de ensino na
estrutura educacional brasileira ou, concordando com Saviani (1999), as redes de ensino que compõ em o
sistema educacional brasileiro.
De acordo com a LDBEN, a educação escolar compreende: educação básica e educação superior. Por sua vez, a
educação básica é formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio (BRASIL, 1996).
Voltaremos já a este assunto.
Observe a representação a seguir.
E como ficam as modalidades de ensino? De acordo, com a LDBEN a Educação a Distância, a Educação
Especial, Educação Profissional e a Educação de Jovens e Adultos devem ser trabalhadas de forma transversal
aos níveis da Educação Básica, respeitando suas singularidades (BRASIL, 1996). Ou seja, as modalidades de
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educação, embora não estejam entre os níveis de ensino, atravessam toda a educação básica. Sua
aplicabilidade dependerá das demandas educacionais.
Observe o exemplo no caso a seguir.
CASO
Mariana, comerciá ria de 35 anos de idade, havia concluído o Ensino Mé dio antes de
casar e ter seus trê s filhos. Por necessidade de melhorar seu desempenho no
trabalho e galgar postos maiores na empresa em que trabalha, pensou em fazer um
curso superior em Ciê ncias Contá beis. Conversou com a família e com os colegas de
trabalho, ficando animada com a possibilidade de progredir nos estudos e qualificar-
se profissionalmente.
Mariana buscou saber quais seriam suas chances de alcançar seu objetivo. Para tanto,
foi à Secretaria Estadual de Educaçã o de sua cidade e pediu orientações aos
profissionais que lá estavam. Perguntou: será que tenho alguma chance de fazer a
graduaçã o que tanto quero? Já possuo o Ensino Mé dio completo, mas aqui nã o há
universidades ou faculdades onde eu possa cursar. E agora? O que devo fazer?
Diante disso, as professoras lhe orientaram informando que existem muitos cursos na
modalidade Educaçã o a Distâ ncia, ofertados por diversas instituições credenciadas
pelo Ministé rio da Educaçã o (MEC), as quais garantem graduações qualificadas.
Agora que você já conhece os sistemas de ensino, vale chamar a atenção para a seguinte assertiva: lembra-se
que a LDBEN preconiza que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem trabalhar seus
sistemas de ensino em Regime de Colaboração? A seguir, você entenderá o que são práticas colaborativas.
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É importante você saber que o desejo brasileiro em consolidar um Sistema Nacional Articulado de Educação,
observando-se os princípios fundamentais da democracia e da autonomia, não é recente. Se você acessar o
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, vai identificar as reivindicaçõ es dos educadores,
signatários do Manifesto, em prol de um Sistema Nacional de Educação. É certo que, no percurso de quase um
século, conquistas importantes foram obtidas, mas o Brasil ainda não conseguiu consolidar um Sistema
Nacional de Educação.
Estas dificuldades podem ser pensadas pela tensão existente entre os movimentos de centralização e
descentralização e a forma de colaboração ou relacionamento entre a União e os demais entes federados.
Nesse sentido, a Carta Magna de 1988 redesenhou a organização educacional presente na Constituição de
1946, estruturada pelos sistemas federais e estaduais de ensino, ao atribuir aos municípios a prerrogativa de
construírem seus sistemas de ensino sem que haja necessidade, inclusive, da aprovação dos estados. No
entanto, a consolidação desse tripé político-administrativo, na perspectiva da gestão democrática, passa pela
possibilidade de que se efetive de forma plena a colaboração recíproca entre os entes federados.
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Figura 7 - A educação democrática e inclusiva proporciona aos alunos o acesso às novas tecnologias de
informação e comunicação.
Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.
Nesta direção, pode-se dizer que o processo de discussão sobre o Regime de Colaboração tem centrado seus
esforços na busca por encontrar formas que garantam sua efetividade, a partir da articulação de práticas
colaborativas, materializadas por relaçõ es de reciprocidade entre as três esferas da administração pú blica,
como modo de acelerar a inclusão social de todos por meio do protagonismo do setor educacional.
Dessa maneira, temos um grande desafio pela frente se quisermos, por um lado, respeitar as diversidades
regionais, suas culturas e tradiçõ es e, por outro, promover uma educação nacional que assegure a igualdade de
acesso aos conhecimentos científicos para todas as regiõ es brasileiras, através de uma educação com
qualidade socialmente referendada.
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Constituiçã o de 1824
Constituiçã o de 1891
Constituiçã o de 1934
Constituiçã o de 1937
Constituiçã o de 1946
Constituiçã o de 1967
Estas constituiçõ es retratam um percurso histó rico importante do Brasil, pois elas datam de períodos
distintos do nosso país: desde o Império, passando pelo princípio da repú blica, os períodos ditatoriais,
chegando até a Constituição vigente, de 1988.
Vamos acompanhar o percurso da educação como um direito que se vincula ao princípio da dignidade da
pessoa humana e se constitui como fundamento do Estado Brasileiro?
Acesse a galeria de arte interativa e visite os quadros sobre a histó ria das Cartas Magnas do país, de 1824 até a
atual, de 1988.
Agora que você visitou a galeria de arte das constituiçõ es, vamos retomar pontos importantes.
Nossa primeira Carta Maior é a Constituição de 1824, que garantiu o ensino primário a todos os cidadãos
brasileiros. Atribuiu que sua realização ocorresse preferencialmente pelas famílias e pela igreja, bem como a
criação de colégios e universidades para o ensino de Ciências, Artes e Letras. De acordo com a análise de
Anísio Teixeira (1969), podemos afirmar que na Constituição de 1824 não havia, enquanto poder
constitucional, atribuiçõ es claras das competências sobre o direito à educação. Por meio de legislação
ordinária, a educação foi descentralizada, mas apenas o ensino superior foi privilegiado em detrimento dos
demais níveis de ensino.
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VOCÊ O CONHECE?
Anísio Teixeira é um dos principais pensadores brasileiros. Intelectual orgâ nico e
comprometido com as questões sociais e políticas contemporâ neas à sua é poca, Anísio
fez parte de movimentos políticos voltados à consolidaçã o da educaçã o pú blica,
gratuita e obrigatória. Foi també m um dos educadores que mais questionou as formas
pelas quais as redes de escolas se estruturavam e se organizavam em relaçã o ao
ensino. Defensor da necessidade de formar professores articulados com as prá ticas
escolares, Anísio Teixeira deixou-nos um importante legado para o campo da educaçã o
brasileira. Para conhecer sua biografia e sua obra, acesse o endereço:
<https://www.ebiografia.com/anisio_teixeira/>.
A Constituição de 1891 foi a nossa segunda Carta Magna. Nela, o direito à educação encontra-se presente em
dois de seus artigos: 35 e 72. Uma das modificaçõ es que se identifica diz respeito à descentralização das
atividades de ensino na União e nos Estados. A Lei Maior estabelece ser do Congresso a competência do
desenvolvimento das letras, artes e ciências. Estabelecem o ensino laico ministrado em instituiçõ es oficiais.
Identifica-se na Constituição de 1934 avanços significativos para a consolidação de uma educação pú blica
com qualidade, posto que disciplinou a previsão de recursos orçamentários para os estabelecimentos
pú blicos de ensino e, inclusive, para pessoas pertencentes às classes economicamente desfavorecidas e com
dificuldades de acesso ao ensino, incluindo as instituiçõ es pú blicas.
Decorridos três anos, outra Lei Maior é promulgada: Constituição de 1937. Também chamada de
Constituição do Estado Novo (1937-1945), retira o caráter democrático e inclusivo prescrito na Constituição
de 1934. Estabelece distinçõ es entre as escolas para as elites e as escolas para as classes trabalhadoras.
Manteve a gratuidade do ensino primário e tornou obrigató rio a educação física, o ensino cívico e os trabalhos
manuais nos currículos escolares. Tornou facultativo o ensino religioso.
A Constituição de 1946 pode ser entendida como resultado de um cenário nacional e internacional que
caracterizou o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No Brasil, os anos de 1946 e de 1947 foram
marcados por muitos conflitos sociais resultantes de reivindicaçõ es trabalhistas. Em termos de educação, esta
Carta Magna tende a recuperar a gratuidade do ensino tal como havia sido prescrita na Constituição de 1934.
No entanto, a gratuidade no ensino perdeu seu caráter mais amplo e passou a ser restrita apenas para as
pessoas que comprovassem baixa renda.
A quinta foi a Constituição de 1967. Esta Carta Magna contribuiu para disciplinar os princípios da educação
e da legislação de ensino. Conforme o Art. 176, “A educação, inspirada no princípio da unidade nacional e nos
ideais de liberdade e solidariedade humana, é direito de todos e dever do Estado, e será dada no lar e na
escola” (BRASIL, 1967). Retirou o caráter amplo de gratuidade ao ensino na medida em que propô s meios de
substituir a gratuidade do ensino por distribuição de bolsas de estudos atreladas ao bom desempenho dos
estudantes.
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A Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, que resulta do Estado de Exceção provocado pelo
Golpe Militar de 1964, altera de forma severa a Constituição de 1967. Entre as medidas da EC-1, a “liberdade de
cátedra” que assegurava a pluralidade de ideias e de concepçõ es político-pedagó gicas, no exercício do
magistério, foi substituída pela “liberdade de comunicação de conhecimentos”, ou seja, controlou a liberdade
de expressão ao campo dos conhecimentos científicos que compõ em os currículos escolares. O regime
político ditatorial vivido pelo país, neste período, ao fazer esta mudança no texto constitucional, acabou por
tornar legal o controle e a censura do que podia ser dito nas salas de aulas. Em outras palavras, censurou os
discursos nas instituiçõ es escolares e acadêmicas.
Figura 8 - A censura da liberdade de expressão foi imposta pela Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro
de 1969.
Fonte: AR Images, Shutterstock, 2018.
Como você pô de constatar, a trajetó ria do direito à educação nos textos constitucionais apresentados até aqui
mostram com clareza que a educação, por um lado, sempre foi objeto de disciplinamento nas Constituiçõ es
Brasileiras. Por outro lado, no entanto, identifica-se que a educação enquanto direito fundamental sofreu
avanços e retrocessos, especialmente quando analisadas como um direito para todos, independentemente de
credos, classes econô micas, etnias, raças e culturas.
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1983-1984 – O movimento da sociedade organizada, que ficou conhecido como “Diretas já”, reivindicava
eleiçõ es diretas para Presidente da Repú blica.
VOCÊ SABIA?
De modo simples, pode-se dizer que o “Diretas Já” foi formado por um conjunto
de comícios realizados nas principais capitais brasileiras. Obteve alcance nacional
e mundial por meio da cobertura da mídia, em especial das redes de TV. Ocorreu
entre 1983 e 1984 e, certamente, foi uma das mais expressivas manifestações
populares de reivindicaçã o pela democracia social e civil.
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1987 – Os congressistas (deputados e senadores) então eleitos são convocados para formar a Assembleia
Nacional Constituinte com o objetivo de elaborar uma nova Constituição.
1988 – Promulgação da Constituição Cidadã.
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Como você deve reconhecer, as desigualdades econô micas que historicamente marcam a sociedade brasileira
retiraram o direito à educação de um expressivo universo de crianças e jovens que, desde a tenra idade, viram-
se obrigados a evadir das escolas e contribuir com o orçamento familiar. Nesse sentido, a gratuidade do
ensino para todos os níveis da escolarização torna-se uma importante medida legal para a democratização da
educação na perspectiva da educação brasileira. (BRASIL, 1996)
Importante também é a inclusão do atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a 6 anos de idade,
possibilitando que as mães possam permanecer no mercado de trabalho com a garantia de que seus filhos
serão cuidados e educados.
Outro ponto relevante marcado pela Constituição de 1988 é a inclusão de atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente em classes regulares. Significativa também foi
a inclusão feita pela Emenda Constitucional n. 11, de 1988, atribuindo às universidades a autonomia em suas
três dimensõ es constitutivas: didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial. Prevê
ainda o princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. (BRASIL, 1988)
Como você deve estar percebendo, a nossa atual Constituição é, sem dú vidas, entre todas as que já tivemos
apó s a Independência do Brasil, a mais generosa, inclusiva e democrática. No entanto, como você também
deve ter identificado, mesmo passados mais de 30 anos desde sua promulgação, ainda temos muitos desafios
a enfrentar com vistas à implantação de seus preceitos legais no campo da educação.
Conclusão
Ao concluir este estudo, você conheceu as relaçõ es estabelecidas entre Estado e sociedade e suas principais
implicaçõ es para a educação, de forma geral, e para as políticas educacionais, de forma específica.
Compreendeu que a atual legislação educacional mantém correlaçõ es com as demandas sociais que
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caracterizam cada período histó rico vivido pela sociedade brasileira. E, ainda, identificou os principais
dispositivos legais que regem a educação nacional e que tem na Constituição de 1988 a sua Lei Magna.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
Bibliografia
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