25 23 PB
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Ars Celebrandi
Revista de Liturgia
v. 1 | n. 1 | janeiro/junho | 2023
FACULDADE
SÃO BASÍLIO MAGNO
ISSN 2965-4564
ARS CELEBRANDI
Revista de Liturgia
Semestral
CDD: 205
SUMÁRIO / SUMMARY
ARTIGOS / ARTICLES
APRESENTAÇÃO / PRESENTATION
DOI: 10.35357/2965-4564.v1n1p9-19/2023
ARTIGOS / ARTICLES
The liturgical formation of the people of God: a challenge re-proposed by Pope Francis
in the Apostolic Letter Desiderio Desideravi
RESUMO: Este artigo apresenta o tema da formação litúrgica do Povo de Deus como um desafio
reproposto pelo Papa Francisco na sua recente Carta Apostólica Desiderio Desideravi. A
importância do tema se encontra na relevância que a Liturgia possui por si só dentro da Igreja e
pela recente manifestação do Santo padre a respeito da formação consistente do Povo de Deus
para a vida litúrgica. Esse trabalho tem como objetivo compreender a perspectiva de formação
por trás da Carta Apostólica Desiderio Desideravi. A metodologia do trabalho é documental e
bibliográfica passando pelos principais documentos eclesiais e autores renomados que discutem
o tema. A partir de estudo cuidadoso chegou-se ao resultado de que os elementos propostos pelo
Papa Francisco, para a formação litúrgica, bebem das fontes conciliares do Concílio Vaticano II,
no assombro perante o mistério Pascal, tendo a vivência (experiência) e formação (teoria) como
ações complementares e abertura de canais eficazes para a formação Litúrgica.
PALAVRAS-CHAVE: Formação Litúrgica; Papa Francisco; Desiderio Desideravi; Magistério;
Concílio Vaticano II.
ABSTRACT: This paper presents the theme of liturgical formation of the People of God as a
challenge re-proposed by Pope Francis in his recent Apostolic Letter Desiderio Desideravi. The
importance of the theme lies in the relevance that the Liturgy has in itself within the Church and
the recent manifestation of the Holy Father regarding the consistent formation of the People of
God for the liturgical life. This work aims to understand the perspective of formation behind the
Apostolic Letter Desiderio Desideravi. The methodology of the work is documental and
bibliographical, going through the main ecclesial documents and renowned authors who discuss
the theme. From a careful study, the result was that the elements proposed by Pope Francis, for
liturgical formation, drink from the conciliar sources of the Second Vatican Council, in the
amazement before the Paschal mystery, having perception (experience) and formation (theory) as
complementary actions and opening effective channels for liturgical formation.
KEYWORDS: Liturgical Formation; Pope Francis; Desiderio Desideravi; Magisterium; Second
Vatican Council.
1
Mestre em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e especialista em
liturgia pela Faculdade São Basílio Magno (FASBAM). E-mail: [email protected]
O Concílio Vaticano II, sem dúvida, foi um marco histórico na caminhada da Igreja.
A partir dele, a Igreja olha para si mesma e a sua situação de ser e atuar no mundo. A
primeira resposta teve como fruto uma profunda reflexão a respeito da Sagrada liturgia,
por meio da Constituição Apostólica Sacrosanctum Concilium. Já se passaram quase seis
décadas e ainda buscamos compreendê-la para melhor vivenciá-la.
2
Cf. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Sacrosanctum Concilium. Constituição sobre a Liturgia
da Igreja. 1963. In: VIER, Frederico (Coord.). Compêndio do Vaticano II: constituições, decretos e
declarações. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. De agora em diante: SC.
3
SC, 14.
4
Cf. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Lumen Gentium. Constituição Dogmática sobre a Igreja.
1964. In: VIER, Frederico (Coord.). Compêndio do Vaticano II: constituições, decretos e declarações. 23.
ed. Petrópolis: Vozes, 2003, n. 1. De agora em diante: LG.
5
Cf. SC, 30.48.
6
Cf. ZELLER, Lourenço. O movimento litúrgico. Revista Eclesiástica Brasileira, Petrópolis, v. 2, f. 4, p.
859, [dezembro] 1942.
7
Cf. COSTA, Valeriano Santos. Viver a ritualidade litúrgica como momento histórico da salvação:
participação litúrgica segundo a Sacrosanctum Concilium. São Paulo: Paulinas, 2005.
8
Cf. LG, 9-17.
9
Cf. LG, 10.
10
COSTA, Valeriano Santos. Viver a ritualidade litúrgica como momento histórico da salvação:
participação litúrgica segundo a Sacrosanctum Concilium. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 45.
11
Cf. PETRAZZINI, M. L. Formação litúrgica. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Anchile M. (Orgs.).
Dicionário de liturgia. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2004.
12
LEÃO, Fábio de Souza. A Formação Litúrgica no Brasil a partir da Sacrosanctum Concilium. 2010.
170f. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010, f. 63.
13
LÓPEZ MARTÍN, Julián. Formação litúrgica e mistagogia. In: No espírito e na verdade: introdução
antropológica à liturgia. v. 2. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 299.
14
COSTA, Valeriano Santos. Viver a ritualidade litúrgica como momento histórico da salvação:
participação litúrgica segundo a Sacrosanctum Concilium. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 45.
15
Cf. SC, 14.
16
SC, 19.
Assim, percebemos claramente que a Igreja, como Mãe e Mestra, deseja que seus
filhos participem da vida litúrgica de maneira consciente, ativa e frutuosa assegurando
desta forma uma eficácia plena19.
Apresentadas as principais concepções propostas pelo documento do Concílio
Vaticano II entendemos que houve um claro avanço para a formação litúrgica porém,
ainda muito centralizada no clero, como o responsável direto pela formação do povo de
Deus. Agora, pretendemos entender em que contexto a Carta Apostólica Desiderio
Desideravit foi escrita, apresentar os principais pontos levantados pelo Papa Francisco
sobre a formação litúrgica e apontar alguns caminhos que tornem possível a formação em
nossas comunidades cristãs
17
Cf. BECKÄUSER, Alberto. Entrevista: mistério, graça e conversão. Diretrizes, Caratinga-MG, v. 50, n.
802, p. 23, [julho] 2008.
18
SC, 48.
19
Cf. SC, 11.
No final do ano de 2022, o Papa Francisco brindou a Igreja com a Carta Apostólica
Desiderio Desideravi20. O Santo Padre já situa de maneira direta em que contexto se
encontra a carta apostólica:
Com esta carta desejo dirigir-me a todos – depois de já ter escrito apenas aos bispos na sequência
da publicação do Motu Proprio Traditionis Custodes – para partilhar convosco algumas reflexões
sobre a Liturgia, dimensão fundamental para a vida da Igreja21.
Assim, o Papa Francisco quer nos lembrar que a liturgia é o hoje da história da
Salvação. Mas para adentrarmos em tão grande mistério, faz-se necessário sermos
introduzidos, pois caso contrário, seremos meros espectadores que pouco veem sentido
na ação litúrgica.
Por isso, nos números 2-26 há um recurso importante em que se explana de forma
objetiva e sucinta a importância da liturgia na vida Igreja e o caminho conciliar sobre a
reforma da liturgia até os desafios dos nossos dias.
Assim a partir de agora, destacaremos os principais pontos para que a formação do
povo de Deus seja, de fato, significativa ajudando o Povo de Deus a compreender melhor
o que se celebra.
Aqui se coloca a questão decisiva da formação litúrgica. Diz Guardini: “Eis a primeira tarefa
prática a fazer: sustentados por esta transformação interior do nosso tempo, devemos aprender de
novo a colocarmo-nos perante a relação religiosa como homens em sentido pleno”. É isto o que a
Liturgia possibilita, para isto nos devemos formar. O mesmo Guardini não hesita em afirmar que
sem formação litúrgica “as reformas no rito e no texto não ajudam muito”. Não é minha intenção
tratar agora de modo exaustivo o riquíssimo tema da formação litúrgica: gostaria apenas de oferecer
algumas pistas de reflexão. Penso que podemos distinguir dois aspetos: a formação para a Liturgia
e a formação pela Liturgia. O primeiro está em função do segundo que é essencial23.
20
Cf. FRANCISCO, Papa. Carta Apostólica Desiderio Desideravi. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/20220629-lettera-ap-desiderio-
desideravi.html. Acesso em 15 dez. 2022. De agora em diante: DD.
21
DD, 1.
22
DD, 31.
23
DD, 34.
Dessa forma, o Santo Padre, mais uma vez, quer nos chamar à atenção para o
racionalismo muitas vezes vivenciado, por aqueles que ingressam nas casas de formação
e estudos teológicos e que reproduzem aquilo que “aprenderam” na sua jornada
acadêmica-formativa.
A plenitude da nossa formação é a conformação a Cristo. Repito: não se trata de um processo
mental, abstrato, mas de chegar a ser Ele. É esta a finalidade para a qual foi dado o Espírito, cuja
ação é sempre e só a de fazer o Corpo de Cristo. É assim com o pão eucarístico, é assim para todos
os batizados chamados a tornarem-se cada vez mais aquilo que receberam em dom no Batismo,
isto é, a serem membros do Corpo de Cristo. Escreve Leão Magno: “A nossa participação no Corpo
e no Sangue de Cristo não tem outro fim a não ser transformar-nos naquilo que recebemos”26.
24 DD, 36.
25
DD, 40.
26
DD, 41.
Como nos esclarece o próprio Papa Francisco “sempre refletindo sobre como a
Liturgia nos forma – é a educação, necessária para poder adquirir a atitude interior, que
nos permite utilizar e compreender os símbolos litúrgicos 28. Assim, vamos educando o
nosso corpo e a nossa mente para entender como esses sagrados mistérios nos insere na
vida divina.
Eis o grande desafio: o como. O Papa Francisco nos alerta que é “preciso encontrar os
canais para uma formação como estudo da liturgia”29. Sabemos que desde o movimento
litúrgico muitas ações foram realizadas nesse sentido. Porém, é preciso uma maior
divulgação para que essas ações consigam chegar, principalmente, nas pequenas
comunidades onde essa formação se dá de maneira ainda muito superficial ou sem o
comprometimento necessário.
Considerações finais
27
DD, 42.
28
Cf. DD, 47.
29
DD, 35.
30
Cf. SC, 10.
31
DD, 24.
Referências
DOI: 10.35357/2965-4564.v1n1p21-36/2023
The Sacrament of the Anointing of the Sick in the light of the Apostolic Letter
Desiderio Desideravi of Pope Francis: emphases of a theological-ritual-mystagogical
rereading
RESUMO: Este artigo pretende reler a teologia, o rito e a mistagogia do Sacramento da Unção
dos Enfermos à luz das inspirações da Carta Apostólica Desiderio Desideravi do Papa Francisco.
Estas reflexões do magistério pontifício constituem uma exortação a redescobrir a beleza da
verdade da celebração cristã que se manifesta na teologia e na ritualidade dos sacramentos.
Aplicadas à Sagrada Unção, trazem profundas ênfases a serem valorizadas na sua prática
sacramental: o Sacramento como participação no desejo de Jesus de entrar em comunhão com
cada enfermo que padece; a Unção como especial toque redentor do Senhor; a união da paixão
daquele que sofre aos sofrimentos de Cristo e sua dimensão corredentora e a configuração do
sacerdote e do enfermo aos sentimentos do Senhor compassivo e padecente. Essas reflexões
podem contribuir para uma vivência profunda e mistagógica desse sacramento, consolidando a
sua redescoberta como sinal de vida, de cura, de salvação, de esperança e de eternidade.
PALAVRAS-CHAVE: Unção dos Enfermos; Desiderio Desideravi; Teologia Litúrgica;
Teologia Sacramental; Mistagogia.
ABSTRACT: This paper aims to re-read the theology, rite and mystagogy of the Sacrament of
the Anointing of the Sick in the light of the inspirations of Pope Francis’ Apostolic Letter
Desiderio Desideravi. These reflections of the papal magisterium constitute an exhortation to
rediscover the beauty of the truth of the Christian celebration manifested in the theology and
rituality of the sacraments. Applied to Holy Anointing, they bring profound emphases to be valued
in its sacramental practice: the Sacrament as participation in Jesus’ desire to enter into communion
with every suffering sick person; Anointing as the Lord’s special redeeming touch; the union of
the passion of the sufferer with the sufferings of Christ and their corridor dimension; and the
configuration of the priest and the sick person to the feelings of the compassionate and suffering
Lord. These reflections can contribute to a profound and mystagogical experience of this
sacrament, consolidating its rediscovery as a sign of life, healing, salvation, hope and eternity.
1
Especialista em liturgia pela Faculdade São Basílio Magno (FASBAM). E-mail:
[email protected]
“Tenho desejado ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer” 3.
Estas palavras de Jesus quando da instituição da Eucaristia são, na reflexão de Francisco
em Desiderio Desideravi, uma porta de entrada para o Mistério celebrado na Sagrada
Liturgia, celebrado nos Sacramentos 4. Ao instituir o Mistério Pascal, o Senhor não está
realizando apenas um gesto memorial, cultual ou simbólico, isto é, uma mera ação ritual
que deveria ser repetida ao longo dos tempos como recordação dele ou de um
2
Cf. FLORES, Juan Javier. Introdução à Teologia Litúrgica. Tradução: Antonio Efro Feltrin. São Paulo:
Paulinas, 2006, p. 368.
3
Lc 22,15. Todas as referências e citações que são feitas das Escrituras neste artigo se encontram na Bíblia
Sagrada: tradução oficial da CNBB. 3. ed. Brasília: Edições CNBB, 2019.
4
Cf. FRANCISCO. Carta Apostólica Desiderio Desideravi: sobre a formação litúrgica do Povo de Deus.
Brasília: Edições CNBB, 2022, n. 2. De agora em diante: DD.
(...) As palavras de Jesus, com as quais se abre o relato da Última Ceia, são a fresta por meio
da qual nos é dada a surpreendente possibilidade de intuir a profundidade do amor das
Pessoas da Santíssima Trindade para conosco. (...) Ninguém conquistou um lugar naquela
Ceia, todos foram convidados, ou melhor, atraídos pelo desejo ardente que Jesus teve de
comer aquela Páscoa com eles: Ele sabe que é o Cordeiro dessa Páscoa, sabe que Ele é a
Páscoa. Essa é a novidade absoluta dessa Ceia, a única verdadeira novidade da história, que
faz com que tal Ceia seja única e, portanto, “última”, irrepetível. Todavia seu desejo infinito
de restabelecer essa comunhão conosco, que era e continua sendo o plano original, não pode
ser saciado até que cada homem, de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5,9) tenha comido
do seu Corpo e bebido do seu Sangue: por essa razão, aquela mesma Ceia se fará presente,
até o seu retorno, na Celebração da Eucaristia5.
5
DD, 2-4.
6
Cf. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium: sobre a sagrada
liturgia. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 2002, n. 47. De agora em diante: SC.
7
Cf. DD, 24.
8
CATECISMO da Igreja Católica: Edição revisada de acordo com o texto oficial em latim. Petrópolis:
Vozes; São Paulo: Paulinas, Paulus, Ave-Maria, 1999, n. 1116. De agora em diante: CaIC.
9
Cf. DD, 6.
10
Cf. CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual: teologia, celebração, experiência. Tradução:
Antonio Efro Feltrin. São Paulo: Paulinas, 2008, p. 37-38.
11
FLORES, Juan Javier. Introdução à Teologia Litúrgica. Tradução: Antonio Efro Feltrin. São Paulo:
Paulinas, 2006, p. 341.
12
SC, 7.
13
MARSILI, Salvatore. Sinais do Mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e
ano litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldim da Silva. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 117.
14
BOROBIO, Dionisio. História e Teologia comparada dos Sacramentos: o princípio da analogia
sacramental. Tradução: José Joaquim Sobral. São Paulo: Loyola; Ave-Maria, 2017, p. 207.
15
SANTOS, Josué Vieira. A Unção dos Enfermos: considerações em vista de uma liturgia e pastoral para
o nosso tempo. 2006. 109 f. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa
Senhora da Assunção, São Paulo, 2006, p. 64.
16
Cf. FABRIS, Rinaldo. O Evangelho de Lucas. In: FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI, Bruno. Os
Evangelhos (II). Tradução: Giovanni di Biasio e Johan Konings. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1992, p. 83.
17
Cf. Jo 11,33.
18
Cf. Lc 15,1-2.
19
Cf. Lc 7,13.
20
É marcante a expressão “compaixão”, desde as entranhas, do mais profundo de si, compartilhar a angústia
do próximo.
21
Cf. Lc 7,11-17.
22
Lc 7,13.
23
Lc 7,14.
24
Lc 4,18-19.
25
Cf. Mc 1,15.
26
Cf. Ap 21,4.
27
Mc 6,13.
28
Cf. Mt 25,36.
29
Cf. Cl 1,24.
30
RITUAL da Unção dos Enfermos e sua Assistência Pastoral. Renovado por decreto do Concílio Vaticano
II, promulgado por autoridade do papa Paulo VI. São Paulo: Paulus, 2010, n. 5. De agora em diante:
RUEAP.
31
Cf. Rm 8,18.
32
RUEAP, 76.
33
Cf. RUEAP, 21-23.
34
Cf. CÓDIGO de Direito Canônico. Promulgado por João Paulo II, Papa. São Paulo: Loyola, 2008, cân.
999. De agora em diante: CIC.
35
Cf. RUEAP, 74.
36
Cf. PARENTI, Stefano; ROUILLARD, Philippe. Cura e unzione degli infermi. In: CHUPUNGCO,
Anscar J. (org.). Scientia Liturgica: Manuale di Liturgia. Itália: Edizioni Piemme, 1998. v. 4, p. 200.
37
RUEAP, 70.
38
RUEAP, 73.
39
RUEAP, 75.
40
RUEAP, 77.
Pela união hipostática41, Deus, invisível, espírito puro, assumiu uma humanidade para
si. Desde o primeiro instante, no ventre de Maria, aquele que é concebido é verdadeiro
homem e verdadeiro Deus, duas naturezas unidas hipostaticamente em uma única
Pessoa42 de modo indivisível, inseparável, inconfundível e imutável 43. A divindade
assumiu em tudo, menos no pecado, a humanidade. Assim, as palavras, as ações, o toque
de Jesus são palavras, ações e toque do próprio Deus, são ações teândricas, epifanias da
Salvação que vem de Deus44. Ele é o Sacramento primordial do Pai45.
Pela ação do Espírito Santo, Cristo Senhor confia à sua Igreja, à comunidade dos seus
discípulos, pela instituição do ministério apostólico, a perpetuidade do mistério da
Encarnação, pois “(...) todo o ministério salvífico, profético, sacerdotal e diaconal da
Igreja tem sua origem na natureza humana de Jesus, unida à divindade” 46. Pelo Mistério
Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor e pelo envio do Espírito Santo sobre a
comunidade cristã nascente, a Igreja recebe a missão de ser sacramento 47, de ser sinal, de
ser continuadora de sua ação salvífica, de modo que o toque sacramental da Igreja é toque
redentor do Ressuscitado 48. A Igreja é sacramento fundamental de Cristo 49.
Além disso, é exigência íntima da fé cristã sua dimensão de encontro pessoal com o
Senhor50. Recorda o papa Francisco em sua Carta Apostólica Desiderio Desideravi, que
41
Cf. CaIC, 483.
42
Cf. MÜLLER, Gerhard Ludwig. Dogmática Católica: teoria e prática da teologia. Tradução: Volney
Berkenbrock, Paulo Ferreira Valério e Vilmar Schneider. Petrópolis: Vozes, 2015, p. 252.
43
Cf. CAIC, 469.
44
Cf. MARSILI, Salvatore. Sinais do Mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade
e ano litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldim da Silva. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 87-88.
45
Cf. NOCKE, Franz-Josef. Doutrina Geral dos Sacramentos. Tradução de Ilson Kayser. In:
SCHNEIDER, Theodor (org.). Manual de Dogmática. Petrópolis: Vozes, 2001. v. 2, p. 199.
46
MÜLLER, Gerhard Ludwig. Dogmática Católica: teoria e prática da teologia. Tradução: Volney
Berkenbrock, Paulo Ferreira Valério e Vilmar Schneider. Petrópolis: Vozes, 2015, p. 441.
47
Cf. BOROBIO, Dionisio. História e Teologia comparada dos Sacramentos: o princípio da analogia
sacramental. Tradução: José Joaquim Sobral. São Paulo: Loyola; Ave-Maria, 2017, p. 70-71.
48
Cf. SC, 7.
49
Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium: sobre a Igreja. In: Compêndio
Vaticano II. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1968, n. 1. De agora em diante: LG.
50
BENTO XVI. Carta Encíclica Deus caritas est: sobre o amor cristão, n. 1. Disponível em:
http://w2.vatican.va/content/benedictxvi/pt/encyclicals/documents/hf_benxvi_enc_20051225_deus-
caritas-est.html. Acesso em: 08 abr. 2018. De agora em diante: DC.
Dessa forma, o Sacramento da Unção dos Enfermos é encontro do enfermo com Jesus
Ressuscitado, é seu toque com suas mãos chagadas e gloriosas, para comunicar o dom do
seu Espírito, a união à sua Paixão, à conformação à sua divina vontade, o dom da cura, se
convier à salvação, e a vida eterna 54. Destacam-se, por isso, dois importantes gestos
mistagógicos desse sacramento: a imposição das mãos e o toque com o óleo dos enfermos
e a forma sacramental.
A imposição das mãos, sem nada dizer, sem nada rezar, manifesta a solenidade deste
rito apostólico tão tradicional no comunicar o Espírito Santo, Senhor que dá a vida: “...e
quando impuserem as mãos sobre os enfermos, estes ficarão curados” 55. Este sinal precisa
ser feito com sobriedade, tranquilidade, com força orante e sacramental. Qualquer canto
ou oração que acompanhe o gesto retira sua grandeza, pois o rito basta por si mesmo.
Apesar de não ser necessário para a validade do sacramento, contribui muito para
significar o mistério que é celebrado. Assim, mesmo quando a Sagrada Unção é
ministrada a muitos enfermos, exige-se que a imposição das mãos e a unção sejam feitas
51
DD, 9.
52
Cf. DD, 8.
53
DD, 10-11.
54
Cf. CaIC, 1532.
55
Mc 16,18.
56
Cf. RUEAP, 67.
57
Tg 5,14.
58
Cf. CIC, cân. 998.
59
Cf. Lc 10,34.
60
Cf. RUEAP, 66.
61
Cf. RUEAP, 65.
62
Cf. CERIMONIAL dos bispos. Restaurado por decreto do Sagrado Concílio Ecumênico Vaticano II e
promulgado pela autoridade do papa João Paulo II. 4. ed. São Paulo: Paulus, 2008, n. 661. De agora em
diante: CB.
63
Cf. SC, 73.
64
Cf. SANTOS, Josué Vieira. A Unção dos Enfermos: considerações em vista de uma liturgia e pastoral
para o nosso tempo. 2006. 109 f. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Pontifícia Faculdade de Teologia
Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, 2006, p. 62.
65
Cf. RUEAP, 70.
66
Cf. RUEAP, 66.
3. O sofrimento redentor: a Igreja que oferece, com Cristo, sua cruz ao Pai
67
Cf. CUNHA, Arlindo. De sacramento maldito a sacramento dos doentes. Humanistica e Teologia,
Portugal, v. 19, p. 313-333, 1998, p. 332.
68
Cf. SANTOS, Josué Vieira. A Unção dos Enfermos: considerações em vista de uma liturgia e pastoral
para o nosso tempo. 2006. 109 f. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Pontifícia Faculdade de Teologia
Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, 2006, p. 92.
69
Cf. RUEAP, 37.
70
Cf. CaIC, 1500.
71
Cf. JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Salvifici Doloris: sobre o sentido cristão do sofrimento humano,
n. 15. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1984/documents/hf_jp-
ii_apl_11021984_salvifici-doloris.html. Acesso em 07 jan. 2023. De agora em diante: SD.
72
CaIC, 609.
73
DD, 15.
74
Cf. CaIC, 1090.
75
CaIC, 1521.
76
Cf. LG, 11.
77
Cf. RUEAP, 5.
78
MARSILI, Salvatore. Sinais do Mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e
ano litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldim da Silva. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 480.
79
RUEAP, 77.
80
Cf. CaIC, 1522.
81
Cl 1,24.
82
SD, 24.
83
Cf. HORTAL, Jesús. Os Sacramentos da Igreja na sua Dimensão Canônico-Pastoral. 5. ed. São Paulo:
Loyola, 2000, p. 211.
84
Cf. DD, 20.
85
CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual: teologia, celebração, experiência. Tradução: Antonio
Efro Feltrin. São Paulo: Paulinas, 2008, p. 103.
86
Cf. DD, 23.
87
Fl 2,5.
88
CB, 646.
89
DC, 34.
90
Lc 10,37.
91
CUNHA, Arlindo. De sacramento maldito a sacramento dos doentes. Humanistica e Teologia, Portugal,
v. 19, p. 313-333, 1998, p. 330.
92
PARENTI, Stefano; ROUILLARD, Philippe. Cura e unzione degli infermi. In: CHUPUNGCO, Anscar
J. (org.). Scientia Liturgica: Manuale di Liturgia. Itália: Edizioni Piemme, 1998. v. 4, p. 207.
93
HORTAL, Jesús. Os Sacramentos da Igreja na sua Dimesão Canônico-Pastoral. 5. ed. São Paulo:
Loyola, 2000, p. 212.
Considerações finais
Referências
BENTO XVI. Carta Encíclica Deus caritas est: sobre o amor cristão. Disponível em:
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_benxvi_enc_2
0051225_deus-caritas-est .html. Acesso em: 08 abr. 2018.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: tradução oficial da CNBB. 3. ed. Brasília: Edições
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FLORES, Juan Javier. Introdução à Teologia Litúrgica. Tradução: Antonio Efro Feltrin.
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JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Salvifici Doloris: sobre o sentido cristão do
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2010.
SANTOS, Josué Vieira. A Unção dos Enfermos: considerações em vista de uma liturgia
e pastoral para o nosso tempo. 2006. 109 f. Dissertação (Mestrado em Teologia) –
Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, 2006.
2 DOI: 10.35357/2965-4564.v1n1p37-47/2023
Valuing the place of the Word in the liturgical space in the light of the
Second Vatican Council
RESUMO: O objetivo principal deste artigo é dissertar acerca do ambão, espaço destinado à
proclamação da Palavra de Deus nas igrejas católicas. Neste intuito, primeiramente, tomamos
trechos da Sagradas Escrituras e verificamos que desde muito cedo os seguidores de Jesus tinham
consciência da relação existente e inseparável entre a Palavra e a Eucaristia. Na sequência,
traçamos um caminho desde a Igreja nascente até o final do século XIX, no qual verificamos que
a Palavra sempre esteve presente como parte importante do rito. Ainda assim, nem sempre houve
um espaço físico destinado à sua proclamação. Neste percurso, observamos o ambão, o púlpito e
a estante. Sobre o último item, refletimos a contribuição do Concílio Vaticano II e de sua reforma
litúrgica. Constatamos que, a partir deste momento histórico, um lugar apropriado e digno é
novamente fixado nas igrejas, destinado às leituras dos textos Sagrados, bem como à Proclamação
do Evangelho. Por fim, destacamos a necessidade de zelar pelo local destinado unicamente à
comunhão da Palavra, e não para outros fins.
PALAVRAS-CHAVE: Ambão; Concílio Vaticano II; Palavra; Escrituras; Comunhão.
ABSTRACT: The main purpose of this paper is to discuss the ambo, a space for the proclamation
of the Word of God in catholic churches. To this end, we first take excerpts from Sacred Scripture
and verify that from a very early age the followers of Jesus were aware of the existing and
inseparable relationship between the Word and the Eucharist. We then trace a path from the
nascent Church to the end of the 19th century, in which we find that the Word has always been
present as an important part of the rite. Even so, there was not always a physical space for its
proclamation. In this journey, we observe the ambo, the pulpit and the bookcase. On the last item,
we reflect on the contribution of the Second Vatican Council and its liturgical reform. We note
that, from this historical moment, an appropriate and dignified place is again fixed in the churches,
destined for the readings of the Sacred texts, as well as for the Proclamation of the Gospel. Finally,
we emphasize the need to take care of the place destined solely for the communion of the Word,
and not for other purposes.
KEYWORDS: Ambo; Second Vatican Council; Word; Scriptures; Communion.
1
Especialista em arquitetura e arte sacra do espaço litúrgico pela Faculdade São Basílio Magno
(FASBAM). E-mail: [email protected]
2
Mt 4, 4.
3
Jo 17, 17.
4
Jo 5, 24
5
Cf. At 2, 42-47.
6
Cf. At 4, 32-33.
7
Cf. At 13, 2.
8
Cf. At 20, 7-12
9
Hb 4, 12.
10
Jo 6, 68.
11
Domus ecclesiae: Igreja doméstica, igreja domiciliar ou casa da assembleia era uma residência romana
aos moldes semelhante do espaço em que ocorreu a Santa Ceia, um segundo piso destinado à reunião dos
cristãos.
12
Cf. ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante, 1988, p. 213-214.
13
Nos refúgios subterrâneos que em sentimento de “paz”, em meio aos vastos corredores se encontravam
salas para a reunião, lá de modo muito simples e familiar sem complicações, partilhavam o Pão elevavam
as preces e outras súplicas comunitárias, escutavam atentamente os escritos da vida do Homem. É a partir
deste momento, a partir dos textos, vão constituindo os Evangelhos.
14
Cf. ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante, 1988, p. 194.
15
Cf. ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante, 1988, p. 214.
16
Cf. ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante, 1988, p. 215.
Para os fiéis, desde as primeiras comunidades, a leitura do Evangelho sempre teve uma
maior atenção, como nas núpcias em Caná20, o melhor é deixado por último. Assim:
De todas as leituras, a última, a essencial, é a do Evangelho, a palavra de Deus. Não é confiada a
um simples leitor, mas aos diáconos, e a passagem é escolhida pelo próprio bispo; mais tarde, há
de fixar-se esta ou aquela para determinados dias. “O Senhor esteja convosco!”. De pé, os fiéis
escutam, numa espécie de posição de sentido que já os crentes do Templo observavam em
Jerusalém21.
17
Ne 8,4.
18
Cf. Lc 4,16-21.
19
Cf. BOSELLI, Goffredo. O sentido espiritual da Liturgia. v. 1. Brasília: Edições CNBB, 2014, p. 53.
20
Cf. Jo 2, 10.
21
Cf. ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante, 1988, p. 215.
A Igreja sempre cuidou de utilizar-se da arte não somente como maneira de preencher
ambientes vazios, mas também como meio de elevar o homem a Deus, Cristo é a face da
beleza em si22. Deste modo notamos que a arte está presente nos ambões, como por
exemplo o da catedral de Ravello, que é composto por um lance de escada que leva ao
espaço da proclamação. Nele vemos o mosaico da figura de Jonas que permaneceu três
dias no ventre do peixe e depois foi devolvido 23, bem como a porta aberta do sepulcro
vazio, a imagem da morte e ressurreição do Senhor 24.
A partir do século XIV gradativamente o ambão foi sendo deixado de lado, dando vez
ao surgimento dos púlpitos. Tal ocorrido podemos assim dizer foi fruto de muitos
acontecimentos, dentre os quais a Reforma Protestante e a resposta contrária a esta
reforma, teve lugar nos púlpitos que serviram de palco para verdadeiros sermões e
pregações apologéticas. Com o Concílio de Trento (1543-1566) e a sua devida aplicação
por Pio V, buscou-se uma unidade da forma de celebrar a santa missa, universalizou-se
então o Rito Romano, com a remodelação do breviário e a composição do novo missal.
Nele encontrava-se o ordo missae, lia-se a Epístola, cantava-se o gradual e proclamava-
se o Evangelho, tudo próximo ao altar. O próprio padre, ou o diácono segurava o livro do
evangelho ou o missal e o púlpito era destinado à pregação 25.
Os púlpitos foram posicionados em colunas centrais das naves, para favorecer a
sonoridade, para que todos pudessem escutar a voz do sacerdote. Passaram a fazer parte
22
Cf. ANTUNES, Octávio Ferreira. A Beleza como Experiência de Deus. São Paulo: Paulus, 2010, p. 4.
23
Cf. Jn 2,1.
24
Cf. FELIX, Joaquim Espaço litúrgico de três capelas. Pastoral da Cultura, 2017. Disponível em:
https://www.snpcultura.org/espaco_liturgico_de_tres_capelas_braga.html. Acesso em: 06 jul. 2021.
25
Cf. GUÉRANGER, Prosper. A Missa Tridentina: explicações das orações e das cerimônias da Santa
Missa. Niterói: Permanência, 2010, p. 42-45.
No séc. XIX, com a criação do microfone, gradativamente o púlpito foi sendo deixado
de lado, e nas celebrações, para o sermão posicionava-se uma estante no presbitério, que
era retirada ao término, para a continuação da missa. Deste modo notamos que
gradativamente a Palavra foi perdendo um espaço físico nas igrejas ao longo dos séculos,
sendo que, como veremos, será recuperado somente com o movimento litúrgico e
revalorizado com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, aplicada por Paulo VI.
O papa João XXIII, enquanto bispo, exerceu como um dos seus cargos, ser visitador
apostólico, tendo assim, a oportunidade de visitar países e de ver a evolução do mundo
da qual a Igreja não tinha acompanhado. Como papa, vendo as necessidades prementes,
inspirado pelo Espírito Santo, convocou o segundo concílio ecumênico no Vaticano. Um
26
Cf. VERDETE, Carlos. História da Igreja. v. 3. Lisboa: Paulus, 2009, p. 51-52.
27
Cf. VERDETE, Carlos. História da Igreja. v. 3. Lisboa: Paulus, 2009, p. 58.
28
SACROSANTUM CONCILIUM. Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Paulus,
1997, n. 7. De agora em diante: SC.
29
SC, 51.
30
Cf. At 8, 30.
31
SC, 52.
32
Jo 4, 23.
33
Cf. PASTRO, Cláudio. Guia do Espaço Sagrado. São Paulo: Loyola, 1999, p. 22.
34
Cf. MOLINERO, Marcelo Antonio Audelino O espaço celebrativo como ícone da eclesiologia para uma
teologia do espaço litúrgico. São Paulo: Paulus, 2019, p. 36.
35
Cf. PASTRO, Cláudio. Guia do Espaço Sagrado. São Paulo: Loyola, 1999, p. 68.
36
Sl 18.
37
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Instrução
Geral do Missal Romano. Disponível em: https://www.liturgia.pt/docs/igmr_5.php. Acesso em: 10 jul.
2021, n. 309. De agora em diante: IGMR.
Realmente é necessário a todo fiel ter consciência de que na Santa Missa comungamos
de duas mesas visíveis, a da Palavra e a do Pão, em vista de servir na mesa da caridade.
O Papa Bento XVI em sua Exortação Apostólica Verbum Domini nos ilumina a respeito
da relação entre a Liturgia e as Sagradas Escrituras. Lembra que a Palavra de Deus não
deve estar presente no templo somente nos atos litúrgicos, mas também em outros
momentos, fora da celebração 40. Como nos lembra também Pastro, os Santos Evangelhos
são também carregados com solenidade em procissão pelo Diácono até o altar, e do altar
ao ambão, para que todos possam ver, que “o Evangeliário é Sacramento do Cristo” 41.
É preciso, pois, abrir o coração, os olhos e os ouvidos para conhecer o que Deus nos
quer revelar. É o ambão o espaço pelo qual se manifesta que o Senhor se mostrou por sua
Palavra, é de onde proclamamos e anunciamos a salvação, com alegria e esperança
conhecemos a história da Salvação. É de lá que se explica e coloca-se em prática, para
que não fique apenas na escuta, mas possa também ser vivida, praticada e renovada 42.
Conclusão
Neste artigo refletimos de forma mais demorada e cuidadosa sobre o ambão, o espaço
destinado à proclamação da Palavra de Deus nas Igrejas Católicas. Como vimos, ao
buscar uma maior e mais frutífera participação do Povo de Deus nos atos litúrgicos, houve
38
Cf. IGMR, 900.
39
CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA. Celebração das Bençãos. Coimbra, 2009. Disponível
em: https://www.liturgia.pt/rituais/Bencaos.pdf. Acesso em: 11 jul. 2021, n. 916.
40
Cf. BENTO XVI. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini sobre a Palavra de Deus na vida e
na Missão da Igreja. Roma, 2010. Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/apost_exhortations/documents/hf_ben-xvi_exh_20100930_verbum-domini.html. Acesso em 11 de
jul. 2021, n. 68.
41
Cf. PASTRO, Cláudio. Guia do Espaço Sagrado. São Paulo: Loyola, 1999, p 168.
42
BOROBIO, Dionisio. A dimensão estética da Liturgia. Arte sagrada e espaços para a celebração. São
Paulo: Paulus, 2010, p. 71.
Referências
ANTUNES, Octávio Ferreira. A Beleza como Experiência de Deus. São Paulo: Paulus,
2010.
BENTO XVI. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini sobre a Palavra de Deus
na vida e na Missão da Igreja. Roma, 2010.
43
SC, 531.
FELIX, Joaquim Espaço litúrgico de três capelas. Pastoral da Cultura, 2017. Disponível
em: https://www.snpcultura.org/espaco_liturgico_de_tres_capelas_braga.html. Acesso
em 06 jul 2021.
ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: QUADRANTE, 1988.
DOI: 10.35357/2965-4564.v1n1p49-62/20232
ARQUITETURA DO SILÊNCIO:
O ESPAÇO LITÚRGICO À LUZ DO RECOLHIMENTO
RESUMO: O presente artigo discorre sobre a influência da arquitetura sacra no local de reunião
dos cristãos chamado “espaço litúrgico”, favorecendo o grande encontro entre Deus e o seu povo,
tendo, como um dos condutores, o “silêncio sagrado”. Tais questões, ancoradas nos documentos
da Igreja, apontam para a necessidade deste silêncio, contribuindo para a celebração do mistério
celebrado e o redescobrimento da oração. Através de uma pesquisa bibliográfica fundamentada
nas reflexões e interpretações, percebe-se que, nos últimos tempos, a agitação diária e o constante
acúmulo de informações, têm levado a sociedade a uma inquietude interna pelas diversas
possibilidades de informações ofertadas na contemporaneidade. Como resultado, a pesquisa
mostra que a Igreja, condutora do Pai aos seus filhos através do silêncio sagrado, conduz a alma
do fiel ao Senhor que ali habita e suavemente, como a brisa leve, faz morada em seu coração.
PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura Sacra; Espaço Litúrgico; Silêncio Sagrado; Mistério
Celebrado; Contemporaneidade.
ABSTRACT: This paper discusses the influence of sacred architecture in the place of meeting
of Christians called “liturgical space”, favoring the great encounter between God and his people,
having, as one of the drivers, the “sacred silence”. Such questions, anchored in the documents of
the Church, point to the need for this silence, contributing to the celebration of the mystery
celebrated and the rediscovery of prayer. Through a bibliographical research based on reflections
and interpretations, it is perceived that, in recent times, the daily agitation and the constant
accumulation of information, have led society to an internal restlessness by the various
possibilities of information offered in contemporary times. As a result, the research shows that
the Church, conductor of the Father to his children through sacred silence, leads the soul of the
faithful to the Lord who dwells there and gently, like the light breeze, makes his home in his heart.
KEYWORDS: Sacred Architecture; Liturgical Space; Sacred Silence; Celebrated Mystery;
Contemporaneity.
1
Especialista em arquitetura e arte sacra do espaço litúrgico pela Faculdade São Basílio Magno
(FASBAM). E-mail: [email protected]
Mediante o silêncio, a Palavra pode encontrar morada em seu povo. É por isso que o
espaço litúrgico, lugar da presença divina, deve ser preparado, favorecendo esse encontro,
onde se celebra e contempla o grande banquete que Deus preparou para todos os seus
filhos. No entanto, antes de mergulharmos nas profundidades do silêncio – que será
explorado em detalhes no segundo capítulo deste artigo – é crucial tratarmos
primeiramente da igreja como espaço sagrado, da arquitetura a serviço da Igreja e da
arquitetura sacra após o Concílio Vaticano II.
A palavra igreja, que deriva do grego ekklesia, significa assembleia. Formada pela
comunhão da comunidade cristã concreta, a Igreja torna-se sagrada pelas manifestações
de fé ofertadas nas celebrações do sagrado mistério, participando do sacrifício do Senhor
e alimentando-se do banquete celeste.
Após o Iluminismo e a Revolução Francesa, a Igreja sente a necessidade de retomar a
tradição, desencadeando uma arquitetura dos “neos” (gótico, clássico, românico), mas
que não impede uma crise religiosa no século XIX, época da idade contemporânea. Toda
essa situação gerou uma confusão, ocasionando inclusive a destruição de igrejas com
valor arquitetônico, dando lugar a uma edificação “moderna” sem o sinal expressivo da
sacralidade, muitas vezes com uma construção tendenciosa à monumentalidade sem
cunho religioso. Outra situação são as repetições mecânicas do passado, excessos de
cartazes, toalhas e objetos devocionais, que distraem e interferem significativamente na
sensibilidade que o espaço necessita para celebrar a memória do Cristo Ressuscitado.
Conforme Arias, o decreto de promulgação da Sagrada Congregação para o Culto
Divino do Ordo dedicationis ecclesiae et altaris (ODEA) apresenta uma definição do
templo como espaço litúrgico:
O lugar em que a comunidade cristã se reúne para escutar a Palavra de Deus, dirigir a Deus orações
de intercessão e louvor e, principalmente, para celebrar os sagrados mistérios (lugar) no qual se
conserva o santíssimo Sacramento da Eucaristia, é uma imagem singular da Igreja, templo de Deus
edificado com pedras vivas2.
2
Ordo dedicationis ecclesiae et altaris, 29 maio 1977, apud ARIAS, Fernando López. Projetar o espaço
sagrado: o que é e como se constrói uma igreja. Brasília: Edições CNBB, 2019, p. 95.
A história da arquitetura sacra atravessa o tempo, criando estilos que refletem sua
força, deixados na tradição viva, ofertando até hoje exemplos a serem seguidos na
elaboração de projetos dos espaços litúrgicos.
Olhar para o passado e aprender a criar essas condições arquitetônicas específicas,
recriando espaços de reflexão e admiração com uma compreensão especial, é uma das
tarefas do profissional de arquitetura e arte sacra, respeitando a época, numa realidade de
crise de valores, apego ao passado e necessidade de uma dimensão espiritual da
humanidade. É ir além do que a própria razão tem condições de alcançar, é inebriar-se no
mistério sem questionamentos, seguir a Palavra e traduzi-la em forma de arte. O edifício,
cuja função é encontrar o invisível no visível, deve continuar sua história propiciando
uma compreensão espiritual, dom de Deus, onde a realidade imediata se transforma em
uma realidade sobrenatural.
Hoje, no tocante às igrejas, o que se vê é uma arquitetura que não mais representa o
centro da vida nas pessoas. Até as torres, que sempre serviram de orientação nas cidades,
e os campanários, que indicavam a hora com seus sinos encantadores, foram silenciados
e ignorados pelo estilo de vida adotado na contemporaneidade, uma época vazia, na qual
os valores foram substituídos e o subjetivismo e o individualismo passaram a dominar o
íntimo das pessoas.
3
1Pd 2,5.
4
Cf. MACHADO, Regina Céli de Albuquerque. O local de celebração: arquitetura e liturgia. São Paulo:
Paulinas, 2007, p. 25.
5
MACHADO, Regina Céli de Albuquerque. O local de celebração: arquitetura e liturgia. 2.ed. São Paulo:
Paulinas, 2007.
6
IGREJA CATÓLICA. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. 8. ed. Brasília:
Edições CNBB, 2023, n. 51. De agora em diante: IGMR.
7
IGMR, 54.
8
Cf. IGMR, 56 e 66.
9
Cf. IGMR, 45.
Vivemos em uma sociedade onde cada vez mais o ruído é o grande protagonista e o
silêncio passou a ser ignorado. O homem moderno introduziu o barulho, produzindo um
caos, excluindo Deus de sua vida, que foi transformada por uma ambição egoísta que o
cega e o afasta gradativamente da pureza do seu coração.
O barulho, que viola a alma e interfere diretamente no posicionamento do ser humano
nas relações com a sociedade, impregnou com tanta veemência os corações, que chega a
invadir lares, escolas e até igrejas, utilizando como instrumento a porta do olhar. Eles são
atraídos e desviados e, sem Deus, o ser humano não pode mais enxergar as estrelas,
metaforicamente falando, fica “cego” para o alto.
O espaço litúrgico, composto por diversas partes, deve ser elaborado seguindo um
programa de necessidades que foi se desenvolvendo ao longo da história, cujo primeiro
espaço, o átrio, com função de antessala, direciona o fiel ao abandono do homem velho e
o introduz no Espaço Sagrado, revelado em Deus no silêncio, presença viva que nos
aproxima numa reflexão de oração e acolhimento, pois como diz Santo Ambrósio:
10
SANTO AMBRÓSIO. Os sacramentos, VI, n. 4. In: SANTO AMBRÓSIO. Os sacramentos e os
mistérios: iniciação cristã na Igreja primitiva. Petrópolis: Vozes, 2019.
11
1Rs 19,9-15.
12
SALES, Dom Eugênio de Araújo. Ruídos. Jornal do Brasil. 23 out. 2009. Disponível em:
https://www.jb.com.br/capa/noticias/2009/10/23/ruidos.html. Acesso em: 25 mar. 2020
13
Sf 1,7.
14
At 2,42.
15
Mt 18,20.
16
BENTO VXI. Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini: sobre a palavra de Deus na vida e na
missão da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2010, n. 66.
17
Mt 6,6.
18
Jr 2, 2.13.
19
NOVAES, Adauto. Mutações: dissonância do progresso. São Paulo: Ed. SESC SP, 2014, p. 12.
20
1Re 3,5-15.
Considerações finais
21
Cf. Ex 3,5.
ARIAS, Fernando López. Projetar o espaço sagrado: o que é e como se constrói uma
igreja. Brasília: Edições CNBB, 2019.
IGREJA CATÓLICA. Lumen Gentium: sobre a Igreja. São Paulo: Paulinas, 2011.
MORAES, Francisco Figueiredo de. O espaço do culto à imagem da Igreja. São Paulo:
Loyola, 2009.
NOVAES, Adauto. Mutações: dissonância do progresso. São Paulo: Ed. SESC SP, 2014.
RUPNIK, Ivan Marko. A arte como expressão da vida litúrgica. Brasilia: Edições CNBB,
2019.
SALES, Dom Eugênio de Araújo. Ruídos. Jornal do Brasil. 23 out. 2009. Disponível em:
https://www.jb.com.br/capa/noticias/2009/10/23/ruidos.html. Acesso em: 25 mar. 2020.
2 DOI: 10.35357/2965-4564.v1n1p63-73/2023
RESUMO: Este artigo trata da relação das artes visuais com a evangelização nos tempos
contemporâneos por meio da mistagogia e espiritualidade presentes no artista católico. Entretanto,
é necessário entender as vertentes que a arte trabalha através de símbolos e sinais nas imagens de
culto e imagens de devoção para uma missão verdadeira, focada no testemunho de vida. Todo
cristão, aqui priorizado o artista, possui o dever de propagar o anúncio do evangelho buscando se
expressar na linguagem do outro sem perder a autenticidade da fé católica.
PALAVRAS-CHAVE: Arte Sacra; Arte Religiosa; Mistagogia; Artes Visuais; Artista Católico.
ABSTRACT: This paper deals with the relationship of the visual arts with evangelization in
contemporary times through the mystagogy and spirituality present in the Catholic artist.
However, it is necessary to understand the aspects that art works through symbols and signs in
images of worship and images of devotion for a true mission, focused on the testimony of life.
Every Christian, here prioritized the artist, has the duty to spread the proclamation of the gospel
seeking to express himself in the language of the other without losing the authenticity of the
Catholic faith.
KEYWORDS: Sacred Art; Religious Art; Mistagogy; Visual Arts; Catholic Artist.
1
Especialista em arquitetura e arte sacra do espaço litúrgico pela Faculdade São Basílio Magno
(FASBAM). E-mail: [email protected]
1. Anúncio do Evangelho
O Espírito é a alma da Igreja que ainda hoje age nos evangelizadores que se deixam
conduzir por Ele. Vivemos em tempos privilegiados onde esse mesmo Espírito se faz
presença em nossas vidas, em todos que na Terra habitam. Procura-se conhecê-lo melhor,
mas é na ação evangelizadora que Ele mais age, num coração puro e disposto a despejar
de si mesmo para que a ação vivificante seja um estímulo para um anúncio eficaz do
Evangelho. Os artistas possuem o dever de levar a salvação através das suas obras
místicas para que o Espírito Santo penetre nos corações e ali se faça morada. O Espírito
é quem age e faz.
O artista deve tornar a evangelização além do possível, mais ativa e frutuosa. Uma
ação sozinha, sem a ação do Espírito Santo, é uma missão defeituosa. Jesus enviou sobre
os apóstolos o Espírito Santo para que saíssem em missão 2, e assim é com todos os
batizados. Enviados à missão sob a ação do Espírito.
Nós sabemos que o homem moderno, saturado de discursos, se demonstra muitas vezes cansado
de ouvir e, pior ainda, como que imunizado contra a palavra. Conhecemos também as opiniões de
numerosos psicólogos e sociólogos, que afirmam ter o homem moderno ultrapassado já a
civilização da palavra, que se tornou praticamente ineficaz e inútil; e estar vivendo, hoje em dia,
na civilização da imagem. Estes fatos deveriam levar-nos, como é óbvio, a pôr em prática na
transmissão da mensagem evangélica os meios modernos criados por esta evangelização. 3
2
Jo 20,22.
3
PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi: sobre a evangelização no mundo contemporâneo.
São Paulo: Paulinas, 2019, n. 42.
4
1Pd 3,1.
Mistagogia é uma palavra grega que significa “iniciação ao mistério”. Não é uma
palavra bíblica, mas está presente na Igreja desde o século II, onde era usada para enfatizar
a iniciação da vida cristã aos sacramentos. A mistagogia implica no próprio ser e é
experimentada como um caminho que é iniciado por Deus para adentrar no mistério. A
mistagogia é a maneira como somos conduzidos, através de marcas que Deus fez ao longo
da nossa vida. Lendo-as, vemos os sinais indicadores dos caminhos que Deus nos fez
caminhar5 e percebemos os diferentes modos de Sua manifestação.
Ao longo da história, o mistério de Deus é apresentado como uma realidade de
comunhão, dinamismo e liberdade. A arte busca falar a mesma língua da mistagogia,
procurando ser perpassada pela dinâmica do mistério. Não busca sentimentos superficiais,
mesmo que intensos, mas deixa um espaço livre para um envolvimento pessoal, a fim de
que, o espectador corresponda à obra, tornando-se parte dela. Assim, aprendemos a nos
relacionar com o mistério e acolhemos a vocação de cocriadores de nós mesmos e do
mundo.
O artista não se deve deixar ser dominado pelas afeições desordenadas, pois é
necessário que exista um ponto determinantemente verdadeiro, que é Cristo. Toda arte
5
Cf. 2Cor 3,1-3.
Os artistas devem enxergar a arte como uma revelação do mistério divino, unindo as
diversas realidades existentes, principalmente a divina com a humana. Esta arte faz uma
passagem do intelecto humilde colocado em contato, até o reconhecimento da realidade
como aquilo que foi capturado em sua originalidade, não apenas uma imitação da
aparência, mas uma compreensão profunda de sua essência.
Para ter acesso à contemplação do invisível presente na arte cristã é preciso estar em
comunhão com Deus. Ao produzir uma arte, o artista necessita esvaziar-se de si mesmo
para que, em união com Deus, sua pintura penetre na essência das coisas. Estar unido ao
Pai para alcançar a originalidade é o essencial para um artista reproduzir o invisível, mas
é necessário ter um coração desapegado, para que Deus fale através de si. Um homem de
moral medíocre reflete na arte seus próprios defeitos. Portanto, a divindade ali presente
só aparecerá àqueles que observam com olhos fiéis, com um “olhar interior” 6 que consiste
em sua purificação, afinal só será possível contemplar o Belo aquele que se tornar belo
primeiro.
Olhar não é ver, exige uma transformação do interior. É preciso viver a arte com a
necessidade de preparar a vida através de disciplina, estudo, pureza, um verdadeiro
aprendizado. Se a arte busca apenas reproduzir a aparência será considerada inadequada,
uma vez que a sua essência foi enganada. Quanto à formação destes artistas, a Igreja diz
que “todos os artistas que quiserem servir à santa Igreja, para a glória de Deus, lembrem-
se de que imitam, de certa maneira, o Deus criador e de que as obras de arte, no culto
católico, destinam-se à edificação dos fiéis e à sua instrução religiosa” 7.
Na aparência da arte por meio de formas e cores, deve transparecer uma realidade
verdadeira. Esta arte retratada nas obras tradicionais é buscada atualmente porque
6
MUZJ, María G. La apariencia como trans-parencia: una situación existencial del homo poeticus. Revista
Teologia, 116 (2015). Disponível em: https://repositorio.uca.edu.ar/handle/123456789/7321. Acesso em:
22 ago. 2021, p. 108.
7
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium. São Paulo:
Paulinas, 2019, n. 127. De agora em diante: SC.
3. Simbologia cristã
8
ANTUNES, Otávio F. A beleza como experiência de Deus. São Paulo: Paulus, 2010, p. 50.
9
Um acróstico é qualquer composição poética nas quais certas letras, quando lidas em outro sentido,
formam outra frase ou palavra.
10
NERY, Irmão Israel José. Os sinais do cristão, n. 152; O símbolo na fé cristã, n. 154. In: Brasil Cristão
- Revista Mensal da Associação do Senhor Jesus, Ano 13, 2010, p. 33.
Há um acordo entre teóricos sobre a diferenciação entre a arte sacra e a arte religiosa,
imagem de culto e imagem de devoção. A imagem de culto procede de Deus e não da
experiência humana, não podendo dar o mesmo sentido para Deus e para as suas criaturas.
11
NERY, Irmão Israel José. Os sinais do cristão, n. 152; O símbolo na fé cristã, n. 154. In: Brasil Cristão
- Revista Mensal da Associação do Senhor Jesus, Ano 13, 2010, p. 33.
12
1Cor 13,3.
13
FRAGOSO, Mauro M. Uma proposta para estudo da imaginária cristã a partir de Romano Guardini e o
contexto cultural da obra. Coletânea, Rio de Janeiro, v. 17, n. 33, p. 145-166, jan./jun. 2018. Disponível
em: www.revistacoletanea.com.br. Acesso em: 10 out. 2021, p. 161.
14
Cf. Pastro, 2010, p. 113.
15
Guardini, 1960, p. 22-23.
16
Pastro, 2010, p. 115.
17
BURCKHARDT, Titus. A arte sagrada no Oriente e no Ocidente: princípios e métodos. São Paulo: Attar
Editorial, 2004, p. 17.
18
SC, 28.
5. Missionariedade do Artista
A salvação em Cristo não está destinada somente àqueles que estão dentro da Igreja e
acreditam em Jesus, mas é destinada a todos e, por assim ser, deve estar à disposição de
todos. Assim como no passado, muitos não possuem o conhecimento do evangelho e da
Igreja por diversos motivos socioculturais. Para eles a salvação em Cristo se dá somente
através de uma graça, mas que, não cria necessariamente, um relacionamento com a
Igreja. Logo, a missão de um cristão, aqui em particular do artista, é de banhar o mundo
com essas graças que provém de Cristo, para que o Espírito Santo alcance para todos a
salvação.
À pergunta porquê a missão?, respondemos, com a fé e a experiência da Igreja, que abrir-se ao
amor de Cristo é a verdadeira libertação. N'Ele, e só n'Ele, somos libertos de toda a alienação e
extravio, da escravidão ao poder do pecado e da morte. Cristo é verdadeiramente “a nossa paz”
(Ef 2,14), e “o amor de Cristo nos impele” (2 Cor 5, 14), dando sentido e alegria à nossa vida. A
missão é um problema de fé, é a medida exacta da nossa fé em Cristo e no Seu amor por nós.19
Os cristãos de todos os tempos deram e continuam a dar a vida para ser um testemunho
de fé que receberam como um dom, não por mérito. Como São Paulo, “não me
envergonho do Evangelho, pois ele é uma força vinda de Deus para a salvação de todo o
que crê”20, por isso, os artistas não devem deixar de anunciar por meio de sua arte que
Cristo veio revelar a face de Deus e a salvação para todos os homens, sem reduzir o
cristianismo a um mundo secularizado e, ser uma testemunha comprometida para colocar
seus dons a serviço da santificação do próximo por meio da beleza. Papa Paulo VI em sua
conclusão do Concílio Vaticano II, vem reforçar aos artistas plásticos:
19
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Missio: sobre a validade permanente do mandato
missionário. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-
ii_enc_07121990_redemptoris-missio.html. Acesso em: 19 jan. 2022, n. 11.
20
Rm 1,16.
A missão do artista não é moldar a si mesmo, mas apenas frutificar suas capacidades,
dando forma estética às inspirações de Deus em sua mente. Nem todos são chamados a
serem artistas, mas por terem a tarefa de serem artesãos de sua própria vida, devem torná-
la uma verdadeira obra de arte.
Nem todos têm a capacidade para descobrir o amor supremo que se encontra no que é Belo, porque
quando este é sentido e realizado na sua verdadeira natureza, manifesta-se na ação humana, no
comportamento que temos com os outros e com as coisas que nos rodeiam. A capacidade de amar tudo
o que vai para além dos olhos requer dimensão e desenvolvimento espiritual.22
Através das obras realizadas o artista deve comunicar aos outros a beleza, o bem e a
verdade para o crescimento espiritual do espectador, vivendo uma relação recíproca com
a beleza. Na linha da parábola dos talentos23 fica esclarecido que a missão do artista deve
render, não deve ser um servo mau e preguiçoso, uma vez que recebeu o dom de revelar
o mistério divino. Portanto, é obrigação de todo artista desenvolver seus dons artísticos,
espiritual e tecnicamente, para colocá-los a serviço de toda a humanidade.
Considerações finais
O artista deve possuir a consciência da dimensão efetiva constituinte em sua arte, que
deve ser sinal visível da presença e da salvação de Deus. A arte é uma expressão de
revelação, tendo sua plenitude em Jesus Cristo que desceu dos céus, fez morada entre nós
e comunicou aquilo que Deus queria falar. A mistagogia presente na arte visual insere os
fiéis nos mistérios de Deus. Ele utiliza da experiência artística para traduzir aos olhos dos
fiéis aquilo que seus ouvidos não conseguem ouvir numa outra linguagem.
É preciso, além de enxergar a arte, vivê-la, e este processo de contemplação interior
necessita de estar firmado num verdadeiro aprendizado através de uma intensa disciplina
nos estudos e na vida pura. O cristão artista possui o chamado para unir a realidade divina
21
PAULO VI. Mensagem do Papa Paulo VI na conclusão do Concílio Vaticano II aos Artistas. 8 dezembro
1965. Disponível em: https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/speeches/1965/documents/hf_p-
vi_spe_19651208_epilogo-concilio-artisti.html. Acesso em: 10 dez. 2021.
22
Cf. DIAS, Emanuel A. F. A educação artística numa escola católica: um estudo de caso. 2016. 362 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) – Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade
Católica Portuguesa, Porto, 2016.
23
Cf. Mt 25,14-30.
Referências
ANTUNES, Otávio F. A beleza como experiência de Deus. São Paulo: Paulus, 2010.
FRAGOSO, Mauro M. Uma proposta para estudo da imaginária cristã a partir de Romano
Guardini e o contexto cultural da obra. Coletânea, Rio de Janeiro, v. 17, n. 33, p. 145-
166, jan./jun. 2018. Disponível em: www.revistacoletanea.com.br. Acesso em: 10 out.
2021.
JOÃO PAULO II. Carta Aos Artistas. A todos aqueles que apaixonadamente procuram
novas “epifanias” da beleza para oferecê-las ao mundo como criação artística. Disponível
em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/1999/documents/hf_jp-
ii_let_23041999_artists.html. Acesso em: 10 dez. 2021.
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Missio: sobre a validade permanente do
mandato missionário. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-
ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_07121990_redemptoris-missio.html. Acesso
em: 19 jan. 2022.
MUZJ, María G. La apariencia como trans-parencia: una situación existencial del homo
poeticus. Revista Teologia, 116 (2015). Disponível em:
https://repositorio.uca.edu.ar/handle/123456789/7321. Acesso em: 22 ago. 2021.
2 DOI: 10.35357/2965-4564.v1n1p75-108/2023
The Gothic style and the via pulchritudinis: the path of beauty in the symbolism and
luminous aesthetics of the work of Abbot Suger de Saint-Denis
RESUMO: O presente trabalho tem como principal objetivo, através de uma concisa exposição
acerca do simbolismo anagógico e da estética luminosa do estilo gótico, estabelecer a sua relação
com a Via-Pulchritudinis, caminho da beleza, retomada em documento homólogo pelo Conselho
Pontifício para a Cultura em 2006. Busca-se compreender o contexto, a cosmovisão e as
influências que conduziram o precursor do estilo, Abade Suger de Saint-Denis, na reforma da
primeira igreja gótica, bem como o fundamento de sua visão estética e simbólica. Como a
arquitetura da abadia, os ornamentos e o programa iconográfico apontam para uma estrutura
sistemática de doutrinas metafísicas e teológicas, procura-se atestar a íntima relação entre a
metafísica da luz, do Pesudo-Dionísio e o simbolismo da obra, principalmente através dos vitrais,
que inundavam a igreja com a luz divina. Por conseguinte, tenta-se compreender a beleza e o
simbolismo no pensamento medievo, presentes no estilo gótico, como esses se fundamentam
desde sempre nos Sacramentos, sobretudo na Sagrada Eucaristia. Observar o seu valor perene,
que se estende e se relaciona aos fiéis do contexto atual, compreendendo, assim, a via da beleza.
Por fim, ressalta-se que essa via não é única, mas em harmonia com outros caminhos, ilumina e
eleva o homem à Verdade. Esse trabalho despende especial atenção ao estilo gótico sabendo que,
sem aspirar a recuperação da ideia de uma idade de ouro da liturgia ou arquitetura, o empenho
deve estar na criação de belas e atemporais obras sacras.
PALAVRAS-CHAVE: Gótico; Beleza; Símbolo; Suger; Pseudo-Dionísio.
ABSTRACT: The main purpose of this paper is to provide a concise exposition of the anagogic
symbolism and luminous aesthetics of the Gothic style and to establish its relationship with the
Via-Pulchritudinis, the way of beauty, which was taken up in a similar document by the Pontifical
Council for Culture in 2006. The aim is to understand the context, worldview and influences that
led the forerunner of the style, Abbot Suger of Saint-Denis, to reform the first Gothic church, as
well as the basis of his aesthetic and symbolic vision. As the abbey's architecture, ornaments and
iconographic program point to a systematic structure of metaphysical and theological doctrines,
we seek to attest to the intimate relationship between the metaphysics of light, Pesudo-Dionysius
and the symbolism of the work, mainly through the stained glass windows, which flooded the
1
Especialista em arquitetura e arte sacra do espaço litúrgico pela Faculdade São Basílio Magno
(FASBAM). E-mail: [email protected]
O admirável Papa João Paulo II, em uma carta aos artistas de todo o mundo, afirma
que em uma obra de arte o artista transmite aquilo que tem em abundância no coração,
deixando impresso em sua obra o seu modo de pensar, que é legado para a sociedade.
Segundo o pontífice “As obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo
e revelam o contributo original que eles oferecem à história da cultura”2. A obra de arte
é, então, em certo aspecto, tanto a expressão de uma filosofia, ou de um pensamento
próprio, que influi do artista para a sociedade através da obra, quanto é, inversamente,
reflexo e síntese do pensamento e cosmovisão do período em que se encontra. Acerca
disso e referindo-se ao estilo gótico, afirmou Daniel-Rops3, historiador e membro da
Academia Francesa:
Aconteceu algumas vezes na história - não muitas - que uma sociedade humana se exprimiu por inteiro
em alguns monumentos perfeitos e privilegiados, e soube conservar, em obras legadas às gerações
futuras, tudo aquilo que trazia em si de vigor criativo, de profunda espiritualidade, de possibilidades
técnicas e de talentos.4
Assim, seria um grande equívoco lograr algum tipo de explanação acerca da arte
gótica, e, antes, da vida intelectual na Idade Média, sem remontar às bases que
fundamentaram o pensamento desse período e o espírito de sua época, isto é, o contexto
e a cosmovisão no qual o estilo gótico floresceu e se estabeleceu. Nesse sentido, nos
primeiros capítulos de seu livro, Rops ressalta que é preciso observar a estreita relação
entre a cosmovisão da Idade Média e a fé cristã.
2
JOÃO PAULO II. Carta aos Artistas: a todos aqueles que apaixonadamente procuram novas «epifanias»
da beleza para oferecê-las ao mundo como criação artística. Vaticano, 1999. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/1999/documents/hf_jp-
ii_let_23041999_artists.html. Acesso em: 18 jan. 2022, n.2.
3
Daniel-Rops, pseudônimo literário de Henri Petiot (1901-1965), foi Membro da Académie Française de
1955 até sua morte. Tornou-se amplamente conhecido sobretudo pelas obras de historiografia que publicou.
Sua coleção História Sagrada abrange os volumes: O povo bíblico (1943), Jesus no seu tempo (1945) e
onze tomos da História da Igreja de Cristo (1948-65).
4
ROPS, Daniel. História da Igreja de Cristo: a Igreja das catedrais e das cruzadas. v. 3. São Paulo:
Quadrante, 1993, p. 386.
5
ROPS, Daniel. História da Igreja de Cristo: a Igreja das catedrais e das cruzadas. v. 3. São Paulo:
Quadrante, 1993, p. 43.
6
Cf. LEÃO XIII. Carta Encíclica Immortale Dei: sobre a constituição cristã dos Estados. Vaticano, 1885.
Disponível em: https://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-
xiii_enc_01111885_immortale-dei.html. Acesso em: 18 jan. 2022, n. 28.
7
Cf. ECO, Umberto. Arte e beleza na estética medieval. Rio de Janeiro: Record, 2010, p.17.
8
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2017, I, q. 84, a. 5.
9
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2017, I, q. 84, a. 5.
10
Cf. RATZINGER, Joseph. O sentido das coisas: a contemplação da beleza. Mensagem do cardeal Joseph
Ratzinger, Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, por ocasião do Meeting de Rímini de 2002.
Disponível em: https://cl.org.br/arquivo/outros/o-sentimento-das-coisas-a-
contempla%C3%A7%C3%A3o-da-beleza. Acesso em: 18 jan. 2022.
11
Cf. HOMENCHUK, Edilson Julio; ALMEIDA, Rogério Miranda de. Desejo de Belo: o libertar da prisão
da realidade sensível em Platão e a reconstituição da semelhança divina do homem em Gregório de Nissa.
Helleniká – Revista Cultural, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 61-75, 2021, ISSN 2596-2582, p. 61-62. Disponível
em: https://fasbam.edu.br/pesquisa/periodicos/index.php/hellenika/article/view/315. Acesso em: 18 jan.
2022.
12
PLATÃO. A República. 3. ed. Belém: EDUFPA: 2000, p. 133, 401b-402a.
13
Cf. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2017, I, q. 84, a. 5.
14
Cf. AGOSTINHO. A Cidade de Deus. Livro XII, cap. XXII apud PESSOA, Fernando; COSTA, Ricardo
da. Estética. Vitória: EDUFES, 2016, n. IV.
15
Cf. SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept
of Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p. 21.
16
Cf. VITOR, Hugo de São. De tribus diebus, PL 176, col. 814 apud ECO, Umberto. Arte e beleza na
estética medieval. Rio de Janeiro: Record, 2010, p. 120.
17
Cf. ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia. v. 1. Rio de Janeiro: W. M. Jacksons Inc., 1964, Inferno, Canto
XI, v. 105.
18
Cf. Sb 13,1-19.
19
Cf. RATZINGER, Joseph. Introdução ao Espírito da liturgia. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2015, p. 108.
20
Ibid.
21
Cf. Mt 25,1-13.
22
Cf. MCNAMARA, Denis Robert. Catholic Church Architecture. Notas de aula. The Liturgical Institute,
2012.
23
Cf. MCNAMARA, Denis Robert. Catholic Church Architecture. Notas de aula. The Liturgical Institute,
2012.
24
HUIZINGA, J. 1919 Herfsttij der Míddeleeuwen (O outono da Idade Média), Haarlem p.282. Optou-se
por essa versão do trecho, retirada de ECO, Umberto. Arte e beleza na estética medieval. Rio de Janeiro:
Record, 2010, p. 104. Entretanto, o mesmo trecho encontra-se na versão traduzida: HUIZINGA, Johan. O
outono da Idade Média. São Paulo: Cosac & Naify, 2010, p. 334.
25
IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000, §1363.
26
JOÃO PAULO II. Homilia: Celebração Eucarística em Lodz com a primeira comunhão de crianças. 13
de junho de 1987, n. 4. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-
ii/it/homilies/1987/documents/hf_jp-ii_hom_19870613_messa-lodz.html. Acesso em: 18 jan. 2022.
27
Cf. STÖCKL, Pe. Fidelis ORC. As três dimensões essenciais da Santíssima Eucaristia. De Magistro –
Revista de Filosofia, Anápolis, v. 5, n. 10, p. 1-21, 2012, ISSN 1808-0626, p. 12. Disponível em:
https://catolicadeanapolis.edu.br/revistamagistro/wp-content/uploads/2013/05/AS-TR%C3%8AS-
Embora transmita certo grau de instrução acerca da história da Igreja e das verdades
da fé, a comunicação existente entre o símbolo cristão e o fiel ultrapassa o carácter teórico
instrutivo sendo, mais do que a expressão de alguma semiótica filosófica, um convite e
um meio para o envolvimento relacional na presença de Cristo. Todavia, segundo
Ratzinger, isso não deve levar a subestimar o significado e o valor da reflexão teológica,
que permanecem inegáveis.33 Assim, as obras católicas abrangem ambos os tipos de
conhecimento e possuem tanto uma finalidade pedagógica e catequética, quanto uma
finalidade simbólica, isto é, através de sinais visíveis podemos conhecer o invisível, e
anagógica, ou seja, por via das coisas naturais nos elevamos às sobrenaturais 34. Mais do
que permitirem o acesso a um tipo de ciência e, diferente de uma gnose, sublinham um
aspecto de participação, que deve ser contemplado aos olhos da fé e da união com Cristo.
Por fim, as obras refletem a própria vida espiritual cristã, que compreende e une a
realidade sensível à invisível.
Acerca disso, comenta o contemporâneo teólogo e artista jesuíta Marko Ivan Rupnik:
A vida espiritual se expressa, por sua própria constituição, como uma realidade simbólica. Ela vive
ao modo do símbolo, ou seja, como unidade de dois mundos, inseparáveis porque unidos na pessoa
de Cristo (...) O símbolo, quando se desvela, provoca uma consciência relacional. De fato,
acolhendo-o, entra-se em comunhão com a pessoa de Cristo, que une ambos os mundos.35
Se a imagem e o símbolo possuem uma íntima relação com a liturgia, poderíamos dizer
o mesmo da beleza. Por conseguinte, o templo cristão, local próprio para a celebração
litúrgica, deve refletir em suas formas e estética a beleza e profundidade do mistério
eucarístico, de forma que o culto possa resplandecer inclusive pelo decoro e beleza da
arte que o compõe36:
De fato, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é
esplendor da verdade (veritatis splendor). Na liturgia, brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio
32
RATZINGER, Joseph. In cammino verso Gesù Cristo, p. 30 apud MOREROD, Charles. A beleza na
teologia de Joseph Ratzinger. Lumen Veritatis, v. 1, n. 4, p. 22-43, 2014, ISSN 1981-9390, p. 28.
33
Cf. RATZINGER, Joseph. In cammino verso Gesù Cristo, p. 30 apud MOREROD, Charles. A beleza na
teologia de Joseph Ratzinger. Lumen Veritatis, v. 1, n. 4, p. 22-43, 2014, ISSN 1981-9390.
34
RAMOS, Felipe de Azevedo. Luz, esplendor e beleza em Pseudo-Dionísio Areopagita. Lumen Veritatis,
v. 5, n. 20, p. 30-46, 2012, ISSN 1981-9390, p. 42.
35
RUPNIK, Marko Ivan. Secondo lo Spirito: la teologia spirituale in cammino con la Chiesa di papa
Francesco. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2017, p. 183-188. Tradução a partir do original em italiano
pelo Prof. Felipe Sérgio Koller (FASBAM).
36
Cf. JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Spiritus et Sponsa: sobre a Sagrada Liturgia. Vaticano, 2003.
Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/2003/documents/hf_jp-
ii_apl_20031204_spiritus-et-sponsa.html. Acesso em: 18 jan. 2022, n. 5.
37
BENTO XVI. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis: sobre a Eucaristia fonte e ápice
da vida e da missão da Igreja, 2007. Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/apost_exhortations/documents/hf_ben-xvi_exh_20070222_sacramentum-caritatis.html. Acesso em:
18 jan. 2022, n. 35.
38
1Re 6,15-22.
39
Cf. VICENZINO, Riccardo S. Book Review: Catholic Church Architecture and the Spirit of the Liturgy
by Denis R. McNamara. Journal of the Institute for Sacred Architecture, Notre Dame, v. 17, 2010, ISSN
1535-9387, p. 45.
40
Jo 10,9.
41
MCNAMARA, Denis Robert. How to read churches: a crash course in ecclesiastical architecture. N.
York: Rozzoli, 2010, p. 150.
42
Epistulæ, IX, 209: CCL 140A, 1714 apud JOÃO PAULO II. Carta aos Artistas: a todos aqueles que
apaixonadamente procuram novas «epifanias» da beleza para oferecê-las ao mundo como criação artística.
Vaticano, 1999. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-
ii/pt/letters/1999/documents/hf_jp-ii_let_23041999_artists.html. Acesso em: 18 jan. 2022, n.5.
43
MCNAMARA, Denis Robert. How to read churches: a crash course in ecclesiastical architecture. N.
York: Rozzoli, 2010, p. 90.
44
MCNAMARA, Denis Robert. How to read churches: a crash course in ecclesiastical architecture. N.
York: Rozzoli, 2010, p.102.
45
IGREJA CATÓLICA. Catecismo Maior de São Pio X. Rio de Janeiro: Permanência, 2009, §191.
46
A basílica de Saint-Denis, foi um local de grande peregrinação desde o séc. V, e, à época do Abade Suger,
se configurava como uma das mais importantes igrejas do reino francês, pelo fato de ser o santuário onde
repousa o corpo do apóstolo e patrono da França, Saint-Denis, ou São Dionísio (séc. III). Além de ser, até
os dias atuais, necrópole real onde também estão sepultados os corpos de diversos membros da monarquia
francesa, a partir de Dagoberto I (†639).
47
De origem humilde, camponesa, Suger estuda em uma escola abacial junto ao príncipe regente da França,
Luís VII. Suger auxilia o príncipe nos estudos, no que surge uma amizade que fará com que ele seja
nomeado pelo futuro rei da França como abade de Saint Denis. Ainda, na ausência do rei Luís VII, pelas
cruzadas, o abade se torna o regente da França.
48
O estilo gótico foi observado como opus francigenum até o séc. XIV na Alemanha. Cf. SIMSON, Otto
Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of Order. Princeton:
Princeton University Press, 1974, p. 64.
49
A nomenclatura “Arte Românica” provém de um arqueólogo do séc. XIX, que assim denominou o estilo
devido a utilização do arco em Berceau (arco romano pleno) como elemento básico. Era uma arquitetura
pouco iluminada, conformada por paredes maciças, janelas estreitas e contrafortes devido aos esforços
estruturais causados pela cobertura e pela ausência de vigas. Havia uma grande importância dada aos
ornamentos, esculturas, pinturas murais e mosaicos, que por vezes tomavam todo o santuário, ou até todo
o interior da igreja, suavizando a austeridade das paredes maciças.
50
PALMA, Laura. In: FLOZ CARMELI VÍDEOS. A Arte Gótica - Profa. Dra. Laura Palma. YouTube, 05
jun. 2021. Disponível em: https://youtu.be/uA3wC9IMG2w. Acesso em: 18 jan. 2022.
Dois ideais inspiraram essa arquitetura: o impulso vertical, na busca por uma elevação
sempre maior, e a luminosidade, na busca por uma luz sempre mais abundante.
Primariamente, o impulso por edificações mais elevadas queria convidar o fiel à oração e
a elevar o coração, de maneira análoga ao edifício. Em segundo lugar, e sobretudo, a
finalidade pela qual são empregados os diversos elementos estruturais da obra gótica é a
introdução da luz, que é um dos maiores símbolos de Deus, no interior da igreja. Ainda
segundo Simson, todo elemento estrutural possuía uma função e um local na composição
da obra. Isso, somado ao intenso uso da luz já descrito, são marcas distintivas do estilo
gótico, sem precedentes em relação aos estilos predecessores. O historiador afirma: “Dois
aspectos da arquitetura gótica, no entanto, são sem precedentes e paralelos: o uso da luz
e a relação única entre estrutura e aparência” 52.
Assim, com os avanços técnicos, em conjunto à utilização de diferentes soluções
estruturais, o estilo gótico, através do cruzamento de ogivas e abóbodas, associado aos
arcobotantes 53 e contrafortes externos, contornará as paredes maciças do românico, que
sustentavam as abóbodas de berceau. Com isso, será possível elevar consideravelmente
a altura das igrejas, reduzir a espessura das paredes e obter maiores aberturas de janelas,
aumentando consideravelmente a iluminação interna. Por fim, a luz que penetra o espaço
sagrado é filtrada por grandes vitrais que ocupam os vãos das janelas conformando como
que paredes de luz. Se através do estilo gótico se deu o ápice da harmonia e dos
simbolismos descritos anteriormente, a exemplo da Catedral de Notre-Dame de Paris, são
os vitrais os principais elementos simbólicos desse estilo. “Os vitrais do gótico
substituíram as paredes vivamente coloridas da arquitetura românica; estrutural e
51
SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of
Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p. 13. Tradução nossa.
52
SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of
Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p. 3. Tradução nossa.
53
Estrutura em forma de meio arco, erguida na parte exterior das igrejas para apoiar, sustentar e repartir os
esforços das paredes e colunas.
Os escritos deixados pelo abade de Saint-Denis evidenciam pouco quais seriam as suas
fontes de inspiração55. Todavia, a estrutura arquitetônica da abadia, os elementos
ornamentativos e decorativos e o simbolismo contido no programa iconográfico dos
vitrais, esculturas e versos inscritos, apontam para uma estrutura sistemática de doutrinas
metafísicas e teológicas 56. Segundo Georges Duby, em seu livro O Tempo das Catedrais,
o estilo gótico nasceu da teologia da luz, em que Suger quis fazer da Abadia de Saint-
Denis uma obra arquitetônica que exprimisse materialmente a filosofia da metafísica da
luz57 do Pseudo-Dionísio Areopagita (séc. V), que acreditava-se ser São Dinis58, o
padroeiro da abadia. Simson corrobora com Duby, ao afirmar que “a estreita analogia
entre a metafísica da luz dionisina e a luminosidade gótica é evidente” 59.
Todavia, Erwin Panofsky, crítico e historiador da arte alemão, foi o primeiro autor a
descobrir a influência de Pseudo-Dionísio sobre Suger60, uma vez que o areopagita não
é mencionado nominalmente e nem há citações identificáveis nos escritos do abade,
embasando diversas outras iniciativas deste gênero61, como as de Duby e Simson.
54
SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of
Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p. 3-4. Tradução nossa.
55
Existem dois tratados acerca das obras realizadas na Abadia de Saint-Denis: “Memórias de Suger sobre
sua administração abacial” (Sugerii abbatis Liber de Rebus in Administatione sua gesti, em latim) e “Livro
sobre a consagração da Igreja de Saint-Denis” (Libellus Alter de Consecratione Ecclesiæ Sancti Dionysii,
em latim), escrito após a cerimônia de consagração da cabeceira da abadia. Ademais, inclui-se as cartas e
os tratados escritos pelo abade, além do escrito do monge Willelmus, “Vida de Suger” (Sugerii Vita, em
latim). Cf. NEVES, Tainah M. Espiritualidade e arquitetura: Suger e a edificação do gótico. Vitória:
EDUFES, 2020, p. 99.
56
Cf. SABINO GOMES, V. A origem do gótico nas idéias de Erwin Panofsky. Escritos – Revista
Científica, Medellín, v. 20, n. 45, p. 359-388, 2012, ISSN 0120-1263. Disponível em:
https://revistas.upb.edu.co/index.php/escritos/article/view/6664. Acesso em: 18 jan. 2022, p. 385.
57
Cf. DUBY, Georges. O tempo das catedrais, a arte e a sociedade 980-1420. Lisboa: Estampa, 1978, p.
103-136.
58
Saint-Denis (São Dinis ou São Dionísio), foi o primeiro bispo de Paris, martirizado em 272. Acreditava-
se que o Pseudo-Dionísio Areopagita, e São Dionísio eram a mesma pessoa.
59
SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of
Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p. 106. Tradução nossa.
60
Em seu livro Abbot Suger on the Abbey Church of St. Denis and Its Art Treasures (1979).
61
SABINO GOMES, V. A origem do gótico nas idéias de Erwin Panofsky. Escritos – Revista Científica,
Medellín, v. 20, n. 45, p. 359-388, 2012, ISSN 0120-1263. Disponível em:
https://revistas.upb.edu.co/index.php/escritos/article/view/6664. Acesso em: 18 jan. 2022, p. 360.
62
Chegaram até os dias atuais quatro tratados: De Caelesti Hierarchia; De Ecclesiastica Hierarchia; De
Divinis Nominibus; De Mystica Teologia; e dez cartas de autoria de Pseudo-Dionísio que compõem esse
corpus apud NEVES, Tainah M. Espiritualidade e arquitetura: Suger e a edificação do gótico. Vitória:
EDUFES, 2020, p.11.
63
PANOFSKY, Erwin. Abbot Suger on the abbey church of st. Denis and its art treasures. New Jersey:
Princeton University Press, 1979, p. 24 apud NEVES, Tainah M. Espiritualidade e arquitetura: Suger e a
edificação do gótico. Vitória: EDUFES, 2020, p. 12.
64
Santo e Doutor da Igreja, Bernardo foi um dos maiores teólogos franceses do séc. XII. Pregador, místico
e conselheiro de papas, reis e bispos, foi Abade de Claraval e reformador da Ordem de Cister, responsável
pela fundação de dezenas de mosteiros. Contemporâneo e abade de Cluny, Pedro o Venerável definia-o
“lanterna da Igreja” (Ep. 164, p. 396), “coluna forte e maravilhosa da ordem monástica e de toda a Igreja”
(Ep. 175, p. 418), enquanto Rops (1993, p. 93) dizia que “sua personalidade simboliza só por si toda a sua
época”.
65
PANOFSKY, Erwin. Abbot Suger on the abbey church of st. Denis and its art treasures. New Jersey:
Princeton University Press, 1979, p. 24 apud SABINO GOMES, V. A origem do gótico nas idéias de Erwin
Panofsky. Escritos – Revista Científica, Medellín, v. 20, n. 45, p. 359-388, 2012, ISSN 0120-1263.
Disponível em: https://revistas.upb.edu.co/index.php/escritos/article/view/6664. Acesso em: 18 jan. 2022,
p. 364.
66
Rm 1,20.
67
RAMOS, Felipe de Azevedo. Luz, esplendor e beleza em Pseudo-Dionísio Areopagita. Lumen Veritatis,
v. 5, n. 20, p. 30-46, 2012, ISSN 1981-9390, p. 42.
68
AREOPAGITA, Pseudo-Dionísio. Obras completas: Jerarquía eclesiástica. Madri: Biblioteca de
Autores Cristianos, 2002, c. 1, 2.
69
Gn 1,3.
70
Sl 36,6.
71
Sl 118,105.
72
Ex 33,22-23.
73
Ex 34,30.
74
RAMOS, Felipe de Azevedo. Luz, esplendor e beleza em Pseudo-Dionísio Areopagita. Lumen Veritatis,
v. 5, n. 20, p. 30-46, 2012, ISSN 1981-9390, p. 32.
75
Jo 1,1-9.
76
AREOPAGITA, Pseudo-Dionísio. Obras completas: Jerarquía celeste. Madri: Biblioteca de Autores
Cristianos, 2002, c. 1. Tradução nossa.
77
AREOPAGITA, Pseudo-Dionísio. Obras completas: Jerarquía celeste. Madri: Biblioteca de Autores
Cristianos, 2002, c. 2, n. 4. Tradução nossa.
78
COSTA, Ricardo da. A luz deriva do Bem e é imagem da Bondade. Scintilla – Revista de Filosofia e
Mística Medieval, Curitiba, v. 6, n. 2, p. 39-52, 2009, ISSN 1806-6526, p. 39-52.
79
RAMOS, Felipe de Azevedo. Luz, esplendor e beleza em Pseudo-Dionísio Areopagita. Lumen Veritatis,
v. 5, n. 20, p. 30-46, 2012, ISSN 1981-9390, p. 34.
80
DIONÍSIO PSEUDO-AREOPAGITA. Dos Nomes Divinos. São Paulo: Attar Editorial, 2004, p. 94 apud
COSTA, Ricardo da. COSTA, Ricardo da. A luz deriva do Bem e é imagem da Bondade. Scintilla – Revista
de Filosofia e Mística Medieval, Curitiba, v. 6, n. 2, p. 39-52, 2009, ISSN 1806-6526, p. 44.
Para além das influências inferidas na obra do abade de Saint-Denis, importa salientar
que a figura de Suger não é, em momento algum, apresentada como sendo um teólogo ou
um pensador sistemático, e, tampouco há evidencias de algum interesse de sua parte para
com as questões teológicas e epistemológicas de seu período. 84 Também não se
encontram em seus escritos citações diretas aos autores apontados, como já mencionado,
porquanto nesta época a argumentação e citação das autoridades eram consideradas
indispensáveis. Ademais, em diversas partes de sua obra, Suger utilizou-se de poemas
instrutivos inscritos, os tituli (titulus), encontrados em antigas igrejas carolíngias de Paris
e nas igrejas italianas. Entretanto, em nenhum momento ele comenta o conteúdo
simbólico dos versos e inscrições gravados, mas se limita a mencionar a sua existência
quando descreve as etapas de reconstrução da igreja, no De Administratione. Assim, seria
pouco provável que Suger possuísse as competências e conhecimentos necessários para
elaborar por conta própria o fundamento doutrinário de seu projeto artístico.
81
Cf. SABINO GOMES, V. A origem do gótico nas idéias de Erwin Panofsky. Escritos – Revista Científica,
Medellín, v. 20, n. 45, p. 359-388, 2012, ISSN 0120-1263. Disponível em:
https://revistas.upb.edu.co/index.php/escritos/article/view/6664. Acesso em: 18 jan. 2022, p. 368.
82
SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of
Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p. 126. Tradução nossa.
83
Sugerius. De consecratione P. L 186 1239 B-C apud SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins
of Gothic Architecture and the Medieval Concept of Order. Princeton: Princeton University Press, 1974,
p.124. Tradução nossa.
84
SABINO GOMES, V. A origem do gótico nas idéias de Erwin Panofsky. Escritos – Revista Científica,
Medellín, v. 20, n. 45, p. 359-388, 2012, ISSN 0120-1263. Disponível em:
https://revistas.upb.edu.co/index.php/escritos/article/view/6664. Acesso em: 18 jan. 2022, p. 383.
85
Cf. SABINO GOMES, V. A origem do gótico nas idéias de Erwin Panofsky. Escritos – Revista
Científica, Medellín, v. 20, n. 45, p. 359-388, 2012, ISSN 0120-1263. Disponível em:
https://revistas.upb.edu.co/index.php/escritos/article/view/6664. Acesso em: 18 jan. 2022, p. 383-385.
86
O irlandês Escoto Erígena foi filósofo, teólogo e tradutor da corte de Carlos, o Calvo.
87
Cardeal filósofo e teólogo francês, comparado em seu tempo com S. Agostinho, Hugo, foi prior do
claustro de São Vitor, em Paris, de 1135 até a sua morte. Seu tratado intitulado Didascalicon (Coisas
relativas à escola), foi uma importante referência para as escolas catedralícias.
88
Cf. SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept
of Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p.105.
89
SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of
Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p. 120. Tradução nossa.
90
Cf. SABINO GOMES, V. A origem do gótico nas idéias de Erwin Panofsky. Escritos – Revista Científica,
Medellín, v. 20, n. 45, p. 359-388, 2012, ISSN 0120-1263. Disponível em:
https://revistas.upb.edu.co/index.php/escritos/article/view/6664. Acesso em: 18 jan. 2022, p. 380.
91
RUDOLPH, Conrad. Artistic Change at St-Denis: Abbot Suger’s Program and the Early Twelfth Century
Controversy over Art. New Jersey, Princeton University Press, 1990, p. 32 apud SABINO GOMES, V. A
origem do gótico nas idéias de Erwin Panofsky. Escritos – Revista Científica, Medellín, v. 20, n. 45, p. 359-
388, 2012, ISSN 0120-1263. Disponível em:
https://revistas.upb.edu.co/index.php/escritos/article/view/6664. Acesso em: 18 jan. 2022, p. 379.
92
Cf. DEFERRARI, Roy J. Hugh of Saint Victor on the Sacraments of the Christian Faith. Cambridge:
Mediaeval Academy of America, 1951, p. 9.
93
VITOR, Hugo de São. Sermones centum. Foz do Iguaçu: Centro Cultural Hugo de São Vitor, 2021, Sermo
I. Sobre o sentido alegórico da dedicação de uma igreja.
94
VITOR, Hugo de São. Sermones centum. Foz do Iguaçu: Centro Cultural Hugo de São Vitor, 2021, Sermo
II. Sobre o sentido moral da dedicação de uma igreja.
No livro Arquitetura Gótica e Escolástica, Panofsky ainda aponta para uma íntima
relação existente entre essa arquitetura e o pensamento escolástico, no que ambos
possuem o seu advento, apogeu e declínio em um mesmo período de tempo e espaço, isto
é, nas mesmas localidades. Segundo o autor, a estrutura das catedrais góticas corresponde
e espelha a estrutura do pensamento escolástico, exposto em tratados filosóficos e
teológicos, como a Summa Theologiae de S. Tomás. Assim como todos os
questionamentos dos tratados deveriam ser respondidos, concluindo a questão, na
estrutura das igrejas, todos os elementos possuíam uma finalidade e um lugar certo, sendo
suprimido o que não tivesse. Toda a estrutura inferior deveria seguir até as partes
superiores, tendo continuidade e uma conclusão. A abundante luminosidade das igrejas e
a íntima relação entre estrutura e aparência, relatadas por Simson, fez com que, através
dos vitrais, a luz penetrasse o ambiente e ganhasse significado. Mais do que aberturas
para iluminação, as paredes repletas de vitrais foram assumidas como “paredes
transparentes”96, que, para Panofsky, espelha a transparência do pensamento
escolástico97.
95
VITOR, Hugo de São. Sermones centum. Foz do Iguaçu: Centro Cultural Hugo de São Vitor, 2021, Sermo
I. Sobre o sentido alegórico da dedicação de uma igreja.
96
Cf. SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept
of Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p. 4.
97
Cf. PANOFSKY, E. Arquitetura Gótica e Escolástica. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 30-34.
98
ROPS, Daniel. História da Igreja de Cristo: a Igreja das catedrais e das cruzadas. v. 3. São Paulo:
Quadrante, 1993, p. 423-424.
99
Cf. DUBY, Georges. O tempo das catedrais, a arte e a sociedade 980-1420. Lisboa: Estampa, 1978, p.
106.
100
ROPS, Daniel. DUBY, Georges. O tempo das catedrais, a arte e a sociedade 980-1420. Lisboa:
Estampa, 1978, p. 76.
101
Conferebam de minimis ad maxima, non plus Salomonianas opes templo quam nostras huic opcri
sufficere posse, nisi idem ejusdem opcris auctor ministratoribus copiose pracpararet. Idcntitas auctoris ct
opcris sufficientiam facit operands. Cf. De consecr., II, 218 apud SIMSON, Otto Von. The Gothic
Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of Order. Princeton: Princeton
University Press, 1974, p. 95-96.
102
O primeiro historiador a reconhecer a relação simbólica entre a catedral gótica e a Cidade Celeste foi
Didron. Ele ressaltou que os anjos nos arcobotantes da Catedral de Reims “assimilavam [a catedral] à
Jerusalém divina construída na terra”. Cf. Manuel d’iconographie chrétienne, p. 261 apud SIMSON, Otto
Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of Order. Princeton:
Princeton University Press, 1974, p.8.
103
Cf. SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic Architecture and the Medieval
Concept of Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p.11.
104
LENIAUD, Jean-michel; PLAGNIEUX, Philippe, 2012, p. 38 apud COSTA, Ricardo da, e NEVES,
Tainah M. A contemplação anagógica na Abadia de Saint-Denis (séc. XII). In: SANTOS, Bento Silva
(Org.). Mirabilia, n. 20, p. 28-43, 2015, ISSN 1676-5818. Disponível em:
https://ddd.uab.cat/record/136925. Acesso em: 18 jan. 2022, p. 33-34.
105
SUGER, De Administratione, p. 62-64 apud AFONSO, Filipa. O Abade Suger e a visão do gótico.
Revista de Teologia e Ciências da Religião da UNICAP, Recife, v. IX, n. 1, p. 73-84, 2010, ISSN 1679-
5393, p. 77.
106
ROSE, Michael S. Ugly as sin. Manchester: Sophia Institute Press, 2001, p. 77.
107
Derivado da expressão latina ochulos (olho), era um elemento utilizado desde o período greco-romano,
tanto como abertura para iluminação e composição da fachada, quanto para aliviar o peso e auxiliar no
equilíbrio das cúpulas, como é caso do Pantheon de Roma.
108
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2017, I, q. 89, a. 1.
109
CONTENSON, Vicentii. Theologia mentis et cordis. t. 3. Paris: Apud Ludovicum Vivès, 1875, p. 291.
Tradução nossa.
110
“A beleza, caminho de evangelização e diálogo”: as conclusões da Assembléia Plenária do Conselho
Pontifício da Cultura. Agência Fides, Vaticano, 29, março 2006.
111
DOSTOIEVSKI, Fiodor M. O idiota. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 422-423.
112
O texto da antífona Tota Pulchra es Maria provém do Cântico dos Cânticos: “tota pulchra es amica
mea et macula non est in te” Ct. 4,7. A mulher amada simboliza o exemplo de perfeição, que a Igreja desde
a antiguidade aplicou a Maria, na devoção à sua Imaculada Conceição. Ao que se poderia repetir os escritos
de Vincent Contenson “Maria é um limpíssimo espelho que nem se quebra pelo reflexo da luz, nem é ferido
por seus raios”.
113
BENTO XVI. Apresentação do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Vaticano, 2005.
Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2005/june/documents/hf_ben-
xvi_spe_20050628_compendium.html#:~:text=Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20do%20Comp%C3%A
Andio%20do%20Catecismo,junho%20de%202005)%20%7C%20Bento%20XVI&text=1.,(Ef%201%2C
%2018). Acesso em: 18 jan. 2022, n.7.
114
BENTO XVI. Audiência geral: Dionísio Areopagita. Vaticano, 2008. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2008/documents/hf_ben-
xvi_aud_20080514.html. Acesso em: 18 jan. 2022.
115
Corpus Dionysiacum, v.2: Gruyter; 1990-91- Caelesti Hierarchia, c. 2, n. 4 apud RAMOS, Felipe de
Azevedo. Luz, esplendor e beleza em Pseudo-Dionísio Areopagita. Lumen Veritatis, v. 5, n. 20, p. 30-46,
2012, ISSN 1981-9390, p. 46.
116
Portarum quisquis attollere quaeris honorem, Aurum nee sumptus, operis mirare laborem. Nobile claret
opus, sed opus quod nobile claret Clarificet mentes ut eant per lumina vera. Quale sit intus in his determinat
aurea porta. Mens hebes ad verum per materialia surgit, Et demersa prius hac visa luce resurgit. SUGER,
De Administratione, XXVII, 189 apud SIMSON, Otto Von. The Gothic Cathedral, Origins of Gothic
Architecture and the Medieval Concept of Order. Princeton: Princeton University Press, 1974, p.115.
117
CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A CULTURA. A Via pulchritudinis, caminho privilegiado de
evangelização e de diálogo
Documento final da Assembleia Plenária, 2006. Disponível em:
https://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/cultr/documents/rc_pc_cultr_doc_06121999_doc
uments_po.html. Acesso em: 18 jan. 2022, c. II, n. 2.
Considerações finais
A Constituição Dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, nos recorda que não
apenas por meio de palavras Deus se revela ao homem 121, sendo assim, o homem não é
118
Cf. STROIK, Duncan. Editorial: Pulchritudo tam antiqua et tam nova. Journal of the Institute for Sacred
Architecture, Notre Dame, v. 16, 2009, ISSN 1535-9387, p. 2.
119
BENTO XVI. Aos patrocinadores das artes dos Museus do Vaticano. Vaticano, 2006. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2006/june/documents/hf_ben-
xvi_spe_20060601_patrons-arts.html. Acesso em: 18 jan. 2022.
120
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium: sobre a Sagrada Liturgia.
Vaticano, 1963. Disponível em:
https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html. Acesso em: 18 jan. 2022, n. 123.
121
Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Dei Verbum: sobre a revelação divina.
Vaticano, 1965. Disponível em:
Essa doutrina foi, de certo, materializada pela estética e simbolismo do estilo gótico,
desde a implantação da igreja, os espaços de transição e os ornamentos mais simples, até
os ícones, esculturas da fachada e, sobretudo, através dos vitrais. Assim, obedeciam ao
que observa Ratzinger, quando em seu livro Introdução ao Espírito da Liturgia, afirma
https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-
verbum_po.html. Acesso em: 18 jan. 2022, n. 2.
122
ROPS, Daniel. História da Igreja de Cristo: a Igreja das catedrais e das cruzadas. v. 3. São Paulo:
Quadrante, 1993, p. 426.
123
São João Damasceno, De sacris imaginibus oratio 1, 16: PTS 17, 89 e 92 (PG 94, 1245 e 1248) apud
IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000, §1162.
124
RUPNIK, Marko Ivan. A arte como expressão da vida litúrgica: conferências do 11º ENAAS. Brasília,
Edições CNBB, 2019, p. 80-81.
125
Cf. Sl 118,130.
126
Cf. Eclo 24,44.
127
RUPNIK, Marko Ivan. A arte como expressão da vida litúrgica: conferências do 11º ENAAS. Brasília,
Edições CNBB, 2019, p. 79.
128
RATZINGER, Joseph. Introdução ao Espírito da liturgia. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2015, p. 114.
129
LEWIS, Clive Staples. O peso da glória. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017, p. 47-48.
130
Cf. PIO XI. Carta Encíclica Divinis Redemptoris: sobre o comunismo ateu. Vaticano, 1937. Disponível
em: https://www.vatican.va/content/pius-xi/pt/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19370319_divini-
redemptoris.html. Acesso em: 18 jan. 2022, n.27.
131
Cf. CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A CULTURA. A Via pulchritudinis, caminho privilegiado de
evangelização e de diálogo
Documento final da Assembleia Plenária, 2006. Disponível em:
https://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/cultr/documents/rc_pc_cultr_doc_06121999_doc
uments_po.html. Acesso em: 18 jan. 2022, c. II, n. 2.
132
Cf. DUBY, Georges. O tempo das catedrais, a arte e a sociedade 980-1420. Lisboa: Estampa, 1978,
p.105.
133
BENTO XVI. Audiência Geral: São Gregório de Nissa (1). Vaticano, 2007. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2007/documents/hf_ben-
xvi_aud_20070829.html. Acesso em: 18 jan. 2022.
Referências
BENTO XVI. Audiência geral: Dionísio Areopagita. Vaticano, 2008. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2008/documents/hf_ben-
xvi_aud_20080514.html. Acesso em: 18 jan. 2022.
BENTO XVI. Audiência Geral: São Gregório de Nissa (1). Vaticano, 2007. Disponível
em: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2007/documents/hf_ben-
xvi_aud_20070829.html. Acesso em: 18 jan. 2022.
134
RATZINGER, Joseph. Guardare Cristo: esercizi di fede, speranza e carità. Milão: Jaca Book, 1989 (Auf
Christus schauen, 1989), p. 82-83 apud MOREROD, Charles. A beleza na teologia de Joseph
Ratzinger. Lumen Veritatis, v. 1, n. 4, p. 22-43, 2014, ISSN 1981-9390, p. 24.
COSTA, Ricardo da. A luz deriva do Bem e é imagem da Bondade. Scintilla – Revista de
Filosofia e Mística Medieval, Curitiba, v. 6, n. 2, p. 39-52, 2009, ISSN 1806-6526.
DEFERRARI, Roy J. Hugh of Saint Victor on the Sacraments of the Christian Faith.
Cambridge: Mediaeval Academy of America, 1951.
ECO, Umberto. Arte e beleza na estética medieval. Rio de Janeiro: Record, 2010.
FLOZ CARMELI VÍDEOS. A Arte Gótica - Profa. Dra. Laura Palma. YouTube, 05 jun.
2021. Disponível em: https://youtu.be/uA3wC9IMG2w. Acesso em: 18 jan. 2022.
HUIZINGA, Johan. O outono da Idade Média. São Paulo: Cosac & Naify, 2010.
JOÃO PAULO II. Carta aos Artistas: a todos aqueles que apaixonadamente procuram
novas «epifanias» da beleza para oferecê-las ao mundo como criação artística. Vaticano,
1999. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-
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JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Spiritus et Sponsa: sobre a Sagrada Liturgia.
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Acesso em: 18 jan. 2022.
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relação com a Igreja. Vaticano, 2003. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-
ii_enc_20030417_eccl-de-euch.html. Acesso em: 18 já. 2022.
JOÃO PAULO II. Homilia: Celebração Eucarística em Lodz com a primeira comunhão
de crianças. 13 de junho de 1987, n. 4. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/it/homilies/1987/documents/hf_jp-
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LEÃO XIII. Carta Encíclica Immortale Dei: sobre a constituição cristã dos Estados.
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PIO XI. Carta Encíclica Divinis Redemptoris: sobre o comunismo ateu. Vaticano, 1937.
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VITOR, Hugo de São. Sermones centum. Foz do Iguaçu: Centro Cultural Hugo de São
Vitor, 2021.
2 DOI: 10.35357/2965-4564.v1n1p109-129/2023
Guilherme Leonel1
Márcio Luiz Fernandes 2
1
Mestrando em teologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail:
[email protected]
2
Doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de teologia na Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e na Faculdade Claretiana de Teologia – Studium Theologicum.
E-mail: [email protected]
3
Essas Igrejas compreendem cinco tradições rituais, sendo: rito Bizantino, rito Armênio, rito Antioqueno
(Siríaco, Maronita e Malankar), rito Caldeu (que também abarca o rito Malabar) e rito Alexandrino (Copta
e Etíope). Em comunhão com a Sé Apóstolica Romana, são 23 Igrejas Católicas orientais que possuem
direito próprio (sui iuris) e existem algumas equivalências no universo da Ortodoxia. Para mais informações
sobre as particularidades dos ritos e Igrejas orientais, Católicas e Ortodoxas, vide o texto: KHATLAB,
Roberto. As Igrejas Orientais: Católicas e Ortodoxas – tradições vivas. 2. ed. São Paulo: Editora Ave-
Maria, 2006.
4
Comumente se refere à Igreja Indivisa aquela do primeiro milênio, antes do cisma de 1054, que separou
católicos romanos e ortodoxos.
5
Cf. LICARI, Savério. O ícone: uma escola de oração. São Paulo: Edições Loyola, 2013, p. 67.
6
Cf. LICARI, Savério. O ícone: uma escola de oração. São Paulo: Edições Loyola, 2013, p. 57-58.
7
Cf. SANTOS, Jésus Benedito dos. Presbíteros sinodais: comunhão, participação e missão. Aparecida:
Editora Santuário, 2022, p.133.
8
Referente àquele que reproduz ícones segundo os costumes e técnicas das Igrejas Orientais.
9
Movimento Católico alemão fundado em 18 de Outubro de 1914 por Pe. José Kentenich.
10
Cf. SANTOS, Jésus Benedito dos. Presbíteros sinodais: comunhão, participação e missão. Aparecida:
Editora Santuário, 2022, p.134.
2. Materiais e métodos
11
Cf. INÁCIO FILHO, Geraldo. Monografia sem complicações: métodos e normas. Campinas: Papirus,
2007, p. 151.
O ícone é uma linguagem imagética e devocional própria das Igrejas Orientais que nos
últimos anos tem ganhado destaque em ambientes eclesiais ocidentais. Entre os ambientes
eclesiais ocidentais que podemos elencar, nota-se sua presença na esfera ecumênica,
como no movimento de Taizé, nas novas comunidades de vida e institutos de vida
consagrada, como comunidade Canção Nova e Comunidade Shalom, nos mosteiros e
paróquias e também na Igreja Anglicana.
Mas afinal, o que é propriamente um ícone? Segundo Henrique13 a palavra “ícone”
deriva do grego bíblico eikon, que significa verdadeira imagem. No mundo digital,
quando acessamos o sistema operacional de um celular, tablet ou computador, clicamos
em ícones dos programas e aplicativos que nos direcionam a outros lugares. Falando de
uma forma simples, o ícone cristão apresenta característica semelhante – quando
acessado, o ícone transporta o expectador/fiel/contemplador para uma outra realidade que
possuí forte apelo ao sagrado.
Licari o caracteriza da seguinte forma:
O ícone, assim como o corpo humano, é território do sagrado, ele possuí uma linguagem própria
(cores e forma) e nos fala da obra criadora e salvadora de Deus, de sua Kénosis (rebaixamento,
esvaziamento) e de seu amor por nós. O corpo humano, assim como o ícone, também é território
do sagrado, possuí uma linguagem específica e nos fala de um Deus que nos ama como pessoas
únicas, ícones divinos, feitos à sua imagem. Somos os depositários privilegiados do amor de Deus,
o projeto bem-sucedido do Pai, o melhor de sua Criação: “Deus viu tudo o que tinha feito: e era
muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia.14
12
Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório geral para a catequese. 5. ed. São Paulo: Paulinas,
2009, p. 165.
13
Cf. HENRIQUE, Flávio. Salus Populi Romani: história do ícone de muitas jornadas. Brasília: Edições
CNBB, 2013, p. 77.
14
Cf. LICARI, Savério. O ícone: uma escola de oração. São Paulo: Edições Loyola, 2013, p. 23.
Três aspectos chamam atenção neste excerto do Pai da Igreja, Damasceno. O primeiro
diz respeito ao sentido pedagógico que as imagens exercem sobre os não-letrados. Esse
aspecto da pedagogia da imagem, impacta todo expectador, seja um fiel ou não, um
letrado ou analfabeto. Entre os mais simples, o que ocorre é a transmissão da mensagem
imediata, através da representação bíblica ou devocional, diante de uma arte sacra não há
como ficar indiferente. O segundo ponto diz respeito ao memorial que a imagem/ícone
representa. Trata-se de presentificar o mistério, de atualizá-lo para a realidade pessoal do
indivíduo e torná-lo partícipe de um mistério incomensurável. A terceira ideia trata de
15
Jo 1, 14. Cf. BÍBLIA TEB: notas integrais tradução ecumênica. Tradução A. J. M. de Abreu et al. 3. ed.
São Paulo: Edições Loyola, 2020. (Coleção de livros da literatura Judaica e Cristã), p. 1998.
16
Período dos sete primeiros séculos da era cristã de grande produção filosófica como instrumento para
defesa da fé.
17
Movimento que considera o uso das imagens e ícones como idolatria.
18
Ainda que a matéria possua em si as centelhas do criador; sobre este tema trataremos mais detalhadamente
na seção sobre o processo iconocopista-escrita do ícone.
19
Cf. DAMASCENO, São João. Contra aqueles que condenam as Imagens Sagradas: contra a heresia
iconoclasta. Curitiba: Editora Santo Atanásio, 2020, p. 60-61.
20
MANSI, séc. XVIII, apud JOÃO PAULO II. Trata-se da citação ao teólogo J. D. Mansi que São João
Paulo II realiza em sua carta apostólica Duodecimum Saeculum: sobre a veneração das imagens por ocasião
do XII centenário do II Concílio de Nicéia, obra esta que precede o prefácio da reimpressão da citada obra
de São João Damasceno.
21
Cf. PASTRO, Cláudio. Arte Sacra. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 52-53.
22
Provavelmente isso aconteça pela proposta de originalidade de seu trabalho e inculturação principalmente
com elementos das culturas indígena a afro. Na íconografia tradicional, isto até muito recentemente, não
era tão presente. No entendimento do autor deste artigo, o processo iconocopista não é de forma alguma,
menos valoroso que a concepção de uma tipologia iconográfica inédita. Realizar um ícone é um ato de
oração, comunhão comunicação com Deus e respeito com aqueles que nos precederam. “O ícone não é
resultado de uma intuição ou a figuração de uma impressão do artista; ele é fruto de uma tradição e, antes
de ser pintado, é uma obra profundamente meditada, pacientemente elaborada por gerações de pintores”.
(Cf. BITTENCOURT, Dom Estêvão. Pergunte e responderemos, n. 456. Rio de Janeiro: Edições Lumen
Christi, 2000, p. 219-225). Nesse sentido a tipologia trinitária proposta por Rublev é única e insuperável:
“essa representação das três pessoas da Trindade como três anjos já estava presente na iconografia
bizantina, mas Rublev lhe conferiu uma tal grandeza e perfeição formal estética que o ícone da Trindade
foi denomidado ‘ícone dos ícones’. Em Moscou, no Concílio dos Cem Capítulos (1551), a Igreja ortodoxa
declarou a Trindade de Rublev modelo único e insuperável ao qual todo o iconógrafo deve referir-se para
representar o mistério da Santíssima Trindade”. (Cf. LICARI, Savério. O ícone: uma escola de oração. São
Paulo: Edições Loyola, 2013, p. 58). “O ícone pode parecer ter um caráter repetitivo e de cópia para o
espectador que não está familiarizado com a arte bizantina. Quando um tema se consagrada numa
determinada forma, geração de artistas a repetirão com poquíssima modulação pessoal, o que os russos
denominam perevod, transferência ou cópia a partir de um modelo para outro ícone. Como uma partitura
por exemplo, que é tocada por diferentes solistas e orquestras; mas, ao longo do tempo, os instrumentos e
a interpretação são outros, assim um ícone se torna o protótipo e é interpretado por muitos artistas em
varidas épocas. Reconhecemos o protótipo contido no ícone, mas sabemos que é de outro iconógrafo” (Cf.
MEIER, Christiane. Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética. Editora Lumen et
Virtus, 2019, p. 286).
23
“A religião do povo latino-americano é expressão da fé católica. É um catolicismo popular,
profundamente inculturado, que contém a dimensão mais valiosa da cultura latino-americana. Entre as
expressões dessa espiritualidade contam-se: as festas patronais, as novenas, os rosários, e via-sacras, as
procissões, as danças e os cânticos do folclore religioso, o carinho aos santos e aos anjos, as promessas, as
orações em família”. (Cf. CELAM. Documento de Aparecida: Texto conclusivo da V Conferência Geral
do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. São Paulo: Paulus, 2008. n. 258-259, p. 120).
24
Cf. HENRIQUE, Flávio. Salus Populi Romani: história do ícone de muitas jornadas. Brasília: Edições
CNBB, 2013, p. 71.
O artista sacro serve a igreja com seus dons e recebe dela o instrumental teórico,
simbólico e espiritual, para executar o seu trabalho. Feita essa pequena introdução,
passemos à descrição das etapas de concepção propriamente ditas do ícone.
O que será descrito aqui diz respeito ao processo específico de composição do
mencionado ícone da Santíssima Trindade. Variações podem ocorrer de acordo com a
tradição, clima e costume de cada local ou escola. Para escrever um ícone é necessário
antes de tudo que a superfície que receberá os pigmentos esteja adequadamente preparada.
Quanto ao preparo da tábua, recomenda-se que seja uma madeira branca de boa qualidade,
sem tanino26 e que esteja previamente cortada, lixada, com as cavas 27 e travas28 prontas.
A madeira é então escarificada29 e é revestida por cola de pele de coelho e, seguidamente,
recebe um tecido de algodão e uma segunda camada da cola mencionada, que já está
preparada e aquecida previamente.
25
Cf. JOÃO PAULO II. Carta aos artistas, n. 12, 1999. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/johnpaulii/pt/letters/1999/documents/hf_jpii_let_23041999_artists.html.
Acesso em: 01 set. 2022.
26
O tanino é uma substância química encontrada no grupo de fenóis vegetais. Este elemento pode ser
encontrado em sementes, cascas e caules de frutos verdes. Bruno Hermenegildo, “Entenda o que são
taninos, onde estão e para que servem”, ART DES CAVES. Disponível em:
https://blog.artdescaves.com.br/o-que-sao-taninos-onde-estao-para-que-servem. Acesso em: 01 set. 2022.
27
Pequeno relevo na tábua que dá um aspecto de “borda”.
28
Com o tempo a madeira tende a trabalhar, com a variação de calor e umidade. As travas “seguram” o
ícone e conferem maior durabilidade a peça.
29
Perfurada, marcada.
30
Utilizou-se nesse processo o gesso crê. Usado no preparo de telas em conjunto com a cola de pele de
coelho, por ter uma secagem mais lenta, permite um melhor nivelamento da superfície.
31
Alguma escolas atribuem aqui um sentido espiritual, de plenificação.
32
Cf. PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza: a educação através da beleza. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2012,
p. 28.
Fonte: o autor.
33
Cf. CACCIARI, Massimo. Três ícones. Belo Horizonte: Editora Âyiné, 2016, p. 23.
34
Jo 1, 5. Cf. BÍBLIA TEB: notas integrais tradução ecumênica. Tradução A. J. M. de Abreu et al. 3. ed.
São Paulo: Edições Loyola, 2020. (Coleção de livros da literatura Judaica e Cristã), p. 1997.
35
Cf. CELAM, Documento de Aparecida: Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-
Americano e do Caribe. São Paulo: Paulus, 2008. n. 479, p. 216.
36
Cf. PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza: a educação através da beleza. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2012,
p. 38.
Fonte: o autor
37
Cf. PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza: a educação através da beleza. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2012,
p. 37.
Fonte: o autor
38
Cf. SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Ofício Divino: oração das horas. Hino
de laudes da solenidade da Santíssima Trindade. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 656-657.
39
A nota de rodapé da Bíblia TEB faz a distinção entre a exegese do texto (o que texto diz em si, em seu
contexto original) e a hermenêutica alegórica (interpretação espiritual), situando o fiel que tem contato com
a Palavra, sobre as possibilidades de análise do texto: “O relato está ora no plural, ora no singular, pois às
vezes se refere à ação de Deus, às vezes a dos três homens; mas o autor se mantem discreto sobre a maneira
em que a presença divina se manifesta. Imagina-se geralmente que se trata do SENHOR, acompanhado de
dois anjos. A iconografia ortodoxa vê aí frequentemente três anjos, figura da Santíssima Trindade”. Num
sentido semelhante Fazzari destaca: “Dios es tan grande que representarlo com um perfil singular no es
conveniente, pues sería como reducirlo a lo humano. Dios tiene que ser representado como más grande que
lo humano... y se lo representa como tres. Quienes aceptamos que la Biblia es la Palabra di Dios, sabemos
que Dios es su autor principal. Por eso, podemos pensar que – si bien em este texto no hay uma revelación
de la Trinidad Divina, no obstante, usando estas imágenes, las misma Trinidad iba preparado el corazón y
la mente de su Pueblo para esta revelación, la cual tendría lugar en ele Nuevo Testamento”. (Cf. FEZZARI,
Jorge. Meditaciones sobre la Trinidad. Lima: Editorial Claretiana, 2005, p. 45).
40
Cf. BÖTTRICH, Christfried, EGO, Beate, EISSLER, Friedmann. Abraão: no judaísmo, no Cristianismo
e no Islamismo. São Paulo: Edições Loyola, 2013, p. 95.
Também está presente no ícone uma variedade de formas geométricas que aludem a
sentidos bíblico-espirituais. Segundo Meier 42, há um circulo que perpassa o redor dos três
anjos, apontando para a plenitude e perfeição. Também há um octógono que coincide com
o formato do altar-trono, circundando os anjos e quer apontar para a realidade da nova
criação, o oitavo dia, a vida nova, a ressurreição. Também há um triângulo que une o
olhar dos anjos, indicando o Deus uno e trino.
Ao fundo de cada um dos anjos, existem três importantes símbolos que sintetizam
atributos de cada pessoa divina.
Atrás do Pai (anjo da esquerda), encontra-se uma casa/templo, simbolizando que na
Casa do Pai há muitas moradas; também quer aludir a Domus Dei, a casa de Deus que é
41
Cf. MEIER, Christiane. Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética. Editora
Lumen et Virtus, 2019, p. 301.
42
Cf. MEIER, Christiane. Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética. Editora
Lumen et Virtus, 2019, p. 298.
Na próxima e última seção deste artigo, veremos como algumas referências do ícone
Trindade, dialogam com a caminha sinodal, proposta pelo Papa Francisco.
43
Cf. MEIER, Christiane. Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética. Editora
Lumen et Virtus, 2019, p. 301.
44
Cf. MEIER, Christiane. Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética. Editora
Lumen et Virtus, 2019, p. 302.
45
Cf. MEIER, Christiane. Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética. Editora
Lumen et Virtus, 2019, p. 303.
46
Cf. MEIER, Christiane. Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética. Editora
Lumen et Virtus, 2019, p. 303;
A busca pela santidade é um sinal da vivência sinodal e de comunhão. Santos 50, nos
indica que a sinodalidade leva a termos uma espiritualidade mais interior do que exterior,
percorrendo o seguinte caminho: andar na presença de Deus, imitar a Cristo, seguir a
Cristo, experiênciar a Deus e encontrar Cristo. Este é um caminho que está presente em
toda história da Igreja e que os que realizaram este percurso, demonstraram uma grande
47
Cf. MANCILIO, Ferdinando. Vivendo a sinodalidade na Igreja: subsídio para reflexão e formação nas
comunidades. Aparecida: Editora Santuário, 2022.
48
“A palavra grega koinonia exprime no Novo Testamento as relações do cristão com o verdadeiro Deus
revelado por Jesus, e a dos cristãos entre si”. (Cf. LÉON-DUFOUR et al. Vocabulário de Teologia Bíblica.
Tradução de Frei Simão Voigt. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2013, p.162).
49
Cf. CACCIARI, Massimo. Três ícones. Belo Horizonte: Editora Âyiné, 2016, p. 31.
50
Cf. SANTOS, Jésus Benedito dos. Presbíteros sinodais: comunhão, participação e missão. Aparecida:
Editora Santuário, 2022, p. 142.
Considerações finais
Referências
51
Cf. SANTOS, Jésus Benedito dos. Presbíteros sinodais: comunhão, participação e missão. Aparecida:
Editora Santuário, 2022, p. 142.
CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório geral para a catequese. 5. ed. São Paulo:
Paulinas, 2009.
DAMASCENO, São João. Contra aqueles que condenam as Imagens Sagradas: contra
a heresia iconoclasta. Curitiba: Editora Santo Atanásio, 2020.
HENRIQUE, Flávio. Salus Populi Romani: história do ícone de muitas jornadas. Brasília:
Edições CNBB, 2013.
LICARI, Savério. O ícone: uma escola de oração. São Paulo: Edições Loyola, 2013.
PASTRO, Cláudio. Arte Sacra. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza: a educação através da beleza. 3. ed. São Paulo:
Paulinas, 2012.
1
Mestrando em filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: [email protected]
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137
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