Manejo 02

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE

PRAGAS II

Editores:
Marcelo Coutinho Picanço
Mayara Cristina Lopes
Gerson Adriano Silva

Departamento de Entomologia
Universidade Federal de Viçosa

2023
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da
UniversidadeFederal de Viçosa – Campus Viçosa

Tópicos de manejo integrado de pragas II [recurso eletrônico] /


T674 editores Marcelo Coutinho Picanço, MayaraCristina Lopes [e]
2023 Gerson Adriano Silva e vários autores
-- Viçosa, MG : UFV, Departamento de Entomologia,2023.
1 livro eletrônico (201 p.) : il. color.

Disponível em: http://www.protecaodeplantas.ufv.br/Inclui


bibliografia.
ISBN 978-65-88874-04-2

1. Insetos predadores – Controle integrado. 2. Inseticidas.


3. Insetos como transmissores de doenças das plantas. 4. Resistência
aos inseticidas. 5. Inovações agrícolas. 6. Estufas para cultivo. 7.
Translocação vegetal. 8. Inteligência artificial.
I. Picanço, Marcelo Coutinho, 1958-. II. Lopes, Mayara
Cristina,1989-. III. Silva, Gerson Adriano, 1979-. IV.
Universidade Federal de Viçosa. Centro de Ciências Biológicas
e da Saúde. Departamento de Entomologia.

CDD 22. ed. 632.7

Bibliotecária responsável: Alice Regina Pinto Pires CRB6 2523


Agradecimentos

As instituições a que pertencem os autores dos


capítulos desse livro, pelo suporte e apoio a cada de
nós.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES), ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (FAPEMIG), pelo apoio à pós-graduação e à
pesquisa no Brasil, pelos recursos e bolsas concedidos
aos pesquisadores que são autores dos capítulos desse
livro. Recursos esses que foram essenciais para a
geração do conhecimento contido nesse livro.
A Pós-graduação Lato Sensu em Proteção de
Plantas da Universidade Federal de Viçosa e ao
Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal da
Universidade Federal de Viçosa, aos programas de
Pós-graduação em Entomologia e Fitotecnia da
Universidade Federal de Viçosa pelo apoio para a
produção e publicação deste livro.
Prefácio

Este livro foi idealizado para que os assuntos de


seus capítulos fossem apresentados no II Workshop
de Manejo Integrado de Pragas. Esse evento foi
realizado de forma gratuita e online de 24 a 26 de
novembro de 2022 e ele teve cerca de 900 inscritos
de todas as regiões do Brasil e de vários países do
mundo. As transmissões das cinco mesas redondas
desse Workshop tiveram mais de 2.000 acessos (mais
de 670 por mesa redonda) no canal do YouTube do
Grupo de Estudos em Entomologia da UFV – Insectum
da Universidade Federal de Viçosa.
Este livro e o II Workshop de Manejo Integrado
de Pragas fizeram parte das atividades da disciplina de
pós-graduação ENT 670 (Manejo Integrado de Pragas)
da Universidade Federal de Viçosa. Os capítulos desse
livro têm como autores 29 pesquisadores pertencentes
a doze instituições públicas e privadas.
Autores
Allana Grecco Guedes: Universidade Federal de Viçosa,
Programa de Pós-graduação em Entomologia, Viçosa, MG.

Andréa Aparecida Santos Oliveira: Universidade Federal de Viçosa,


Programa de Pós-graduação em Entomologia, Viçosa, MG.

Daiane das Graças do Carmo: Universidade Federal de Viçosa,


Programa de Pós-graduação em Entomologia, Viçosa, MG.

Damaris Rosa de Freitas: Universidade Federal de Viçosa,


Departamento de Entomologia, Viçosa, MG.

Daniela da Silva: Universidade de Passo Fundo, Programa de


Pós-graduação em Agronomia Passo Fundo, RS.

Daniela Santos Martins Silva: Miami University, Department of


Biology, Ohio, Oxford, Estados Unidos.

Danillo Coelho Gomes Leite: Southern Illinois University


Carbondale, Carbondale, Illinois, Estados Unidos.

Douglas Sobral de Araújo: Universidade Federal de Mato


Grosso, Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais, Sinop, MT.

Eliseu José Guedes Pereira: Universidade Federal de Viçosa,


Departamento de Entomologia, Viçosa, MG.

Eugênio Eduardo de Oliveira: Universidade Federal de Viçosa,


Departamento de Entomologia, Viçosa, MG.

Gerson Adriano Silva: Universidade Estadual do Norte


Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências e Tecnologias
Agropecuárias, Campos dos Goytacazes, RJ.
Jeny Tatiana Bernal Zuluaga: Universidade Federal de Viçosa,
Programa de Pós-graduação em Entomologia, Viçosa, MG.

Jhersyka da Silva Paes: Universidade Federal de Viçosa,


Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, Viçosa, MG.

Júlia Borges Melo: Universidade Federal de Viçosa,


Departamento de Entomologia, Viçosa, MG.

Juliana Lopes dos Santos: Universidade Federal do Tocantins,


Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal, Gurupi, TO.

Kayo Heberth de Brito Reis: Universidade Federal do Tocantins,


Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal, Gurupi, TO.

Lara Teixeira Melo Costa: Universidade Federal do Tocantins,


Programa de Pós-graduação em Biotecnologia, TO.

Leandro Bacci: Universidade Federal de Sergipe, Departamento


de Engenharia Agronômica, Aracaju, SE.

Letícia Caroline da Silva Sant’Ana: Universidade Federal de


Viçosa, Departamento de Entomologia, Viçosa, MG.

Lorrana Francisca Oliveira Almeida: Universidade Federal de Viçosa,


Programa de Pós-graduação em Entomologia, Viçosa, MG.

Marcelo Coutinho Picanço: Universidade Federal de Viçosa,


Departamento de Entomologia, Viçosa, MG.

Mayara Cristina Lopes: Universidade de Rio Verde, Rio Verde, GO.

Mayara Moledo Picanço: Universidade Federal de Viçosa,


Programa de Pós-graduação em Entomologia, Viçosa, MG.
Paulo Wesley Alvim: Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Programa de Pós-graduação em Conservação e Manejo de
Recursos Naturais, Cascavel, PR.

Poliana Silvestre Pereira: Universidade Federal de Viçosa,


Departamento de Entomologia, Viçosa, MG.

Raul Narciso Carvalho Guedes: Universidade Federal de Viçosa,


Departamento de Entomologia, Viçosa, MG.

Tamíris Alves de Araújo: Universidade Federal de São Carlos,


Centro de Ciências da Natureza, Buri, SP.

Tarcísio Visintin da Silva Galdino: Sumitomo Chemical do Brasil,


Mogi Mirim, SP.

Vinícius Fonsêca dos Santos: Universidade Federal de Viçosa,


Programa de Pós-graduação em Entomologia, Viçosa, MG.
Sumário

Resumo .................................................. 1

Abstract ................................................. 2

Capítulo 1
Programas de manejo integrado de pragas em
cultivos protegidos .................................... 3

Capítulo 2
Resistência das pragas aos métodos de
controle.................................................... 46

Capítulo 3
Uso de produtos naturais no controle de
pragas..................................................... 83

Capítulo 4
Uso de inteligência artificial em programas de
manejo integrado de pragas ........................ 124

Capítulo 5
Translocação de inseticidas nas plantas e nos
insetos ............................................... 159
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

RESUMO
Este livro possui cinco capítulos. O primeiro capítulo
é sobre o manejo de pragas em cultivos em ambientes
protegidos. Nele é abordado as principais culturas,
microclima, colonização por pragas e inimigos naturais,
tomada de decisão e métodos de controle de pragas
nesses ambientes. O segundo capítulo é sobre a
resistência das pragas aos métodos de controle. Nele é
abordado o que é, como surge e as consequências da
dessa resistência. Além disso, no segundo capítulo é
abordado sobre resistência das pragas aos inseticidas e
acaricidas, biótipos de insetos tolerantes a plantas
resistentes, resistência das pragas ao controle cultural e
biológico. O terceiro capítulo é sobre o uso de produtos
naturais no controle de pragas. Ele contém as vantagens
e limitações, legislação brasileira, tipos de produtos,
mercado brasileiro e mundial e produtos promissores. O
quarto capítulo é sobre o uso de inteligência artificial em
programas de manejo integrado de pragas e nele
abordado sobre as formas e exemplos de uso dessas
ferramentas nessa área do conhecimento. O quinto
capítulo é sobre a translocação de inseticidas nas plantas
e insetos. Nele é abordado sobre os métodos de aplicação,
tipos de produtos de acordo com a capacidade de
translocação na planta, etapas da aplicação ao controle,
grupos de pragas controlados pelos inseticidas aplicados
no solo e parte aérea das plantas e a translocação dos
inseticidas no corpo dos insetos.

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

ABSTRACT
This book has five chapters. The first chapter is about
pest management in crops in protected environments.
It addresses the main crops, microclimate,
colonization by pests and natural enemies, decision-
making and pest control methods in these
environments. The second chapter is on pest
resistance to control methods. It discusses what it is,
how it arises and the consequences of this resistance.
In addition, the second chapter addresses pest
resistance to insecticides and acaricides, insect
biotypes tolerant to resistant plants, pest resistance to
cultural and biological control. The third chapter is
about the use of natural products in pest control. It
contains the advantages and limitations, Brazilian
legislation, types of products, Brazilian and world
market and promising products. The fourth chapter is
about the use of artificial intelligence in integrated
pest management programs and it discusses the ways
and examples of using these tools in this area of
knowledge. The fifth chapter is on the translocation of
insecticides in plants and insects. It discusses
application methods, types of products according to
the plant's ability to translocate, steps from
application to control, groups of pests controlled by
insecticides applied to the soil and aerial part of plants,
and the translocation of insecticides in the body of the
insects.

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

CAPÍTULO 1
Manejo de pragas nos cultivos em
ambientes protegidos

Juliana L. Santos, Danillo Coelho, Lara T.M. Costa,


Daniela Silva, Tamíris A. Araújo, Tarcísio V.S. Galdino,
Marcelo C. Picanço.

1.Introdução
A expressão cultivo em ambiente protegido
comumente é utilizada com um significado bastante
amplo, englobando um conjunto de práticas e
tecnologias, usadas pelos produtores para obter um
cultivo seguro e protegido em suas lavouras (Vecchia
& Koch, 1999).
O Brasil é o segundo maior produtor de culturas
em ambientes protegidos da América Latina, com
aproximadamente 30.000 hectares neste tipo de
sistema (Reisser Júnior, 2021).
A tecnologia que envolve o cultivo em ambiente
protegido permite cultivar em um ambiente
controlado, fatores como temperatura, umidade, solo,
água, luz, fertilizantes, entre outros, para assim,

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

permitir o máximo de produção e a produção o ano


todo (Sabir & Singh, 2013).
Existem vários tipos de estruturas usadas em
cultivos em ambiente protegido, dentre elas as mais
utilizadas são os telados que podem ser de
sombreamento ou proteção, as estufas, os túneis de
cultivo, o mulching usado como cobertura do solo e os
viveiros de produção de mudas (Martins et al., 1999).
O cultivo protegido pode ser utilizado tanto no
ciclo todo das culturas quanto somente nas fases de
desenvolvimento das culturas nas quais as plantas
estão mais suscetíveis às condições climáticas ou ao
ataque de pragas ou doenças, como por exemplo, a
fase de mudas.
Neste contexto, este capítulo de livro tem o
objetivo de reunir o que se tem de mais atual sobre o
manejo de pragas em cultivos em ambientes
protegidos.

2. Principais cultivos em ambiente protegido


Algumas culturas podem ter todo seu ciclo
mantido/cultivado em ambiente protegido, incluindo

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

desde o plantio até colheita. Já outras culturas,


geralmente o seu cultivo ocorre somente no seu
momento mais crítico, na fase de mudas. A seguir,
estão descritas as espécies cultivadas em cada um
destes sistemas de produção.

2.1. Produção de mudas


A etapa mais crítica de espécies florestais,
frutíferas, plantas ornamentais e algumas hortaliças
(alface, tomate, melancia, entre outras) consiste na
produção de mudas. Como esta fase exerce grande
influência no desempenho final da cultura, visto que,
há uma relação direta entre mudas sadias e
produtividade a campo (Costa et al., 2017), os
ambientes protegidos são utilizados para garantir o
controle de qualidade para obtenção de mudas sadias.

2.2. Principais cultivos em ambiente protegido


Entre as principais plantas cultivadas em ambientes
protegidos, do plantio à colheita, temos as hortaliças
e as ornamentais.

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Dentre as hortaliças folhosas produzidas em


ambiente protegido, podemos destacar a alface como
a mais importante, sendo a mais representativa desse
grupo por possuir a maior área cultivada (Reddy,
2016). Várias são as opções de culturas dentre as
hortaliças de frutos para cultivos em ambientes
protegidos, entre as principais em área cultivada
temos: o tomate, o melão, o morango, o pepino e o
pimentão (Brandão Filho & Callegari, 1999).
Dentre as plantas ornamentais de maior
importância econômica produzidas em ambiente
protegido, temos as rosas (principalmente as rosas
híbridas de chá), as gérberas, o crisântemo, as
orquídeas entre outras (Reddy, 2016).

3. Microclima nos ambientes protegidos


O microclima é a síntese das condições físicas do
ambiente devido a variáveis atmosféricas (Camuffo,
1998). Neste caso, o cultivo em ambiente protegido
permite controlar estas variáveis, como temperatura,
umidade e luminosidade, para obter o máximo de
produção.

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Para controlar a temperatura, a capacidade de


ventilação natural deve ser aproveitada ao máximo,
com janelas nas laterais e no telhado (Bliska Júnior &
Honório, 1999). A ventilação também pode ser
forçada, com o uso de ventiladores, nos casos em que
seja necessário maior controle da temperatura. Em
cultivos de alto valor agregado (por exemplo, plantas
ornamentais) é comum a climatização das estufas
(Bliska Júnior & Honório, 1999).
O manejo da irrigação é essencial no plantio
protegido e a qualidade da água, capacidade de
retenção de água no solo, métodos de irrigação e
volume de água a ser aplicado devem ser
considerados (Carrijo et al., 1999). Os métodos de
irrigação mais utilizados em ambiente protegido são
sulcos, aspersão e microaspersão (fitas e
gotejamento) (Carrijo et al., 1999).

Dentro de uma estufa, a quantidade e a


qualidade da luz incidente sobre as plantas também
podem ser alteradas a partir da utilização apropriada
dos materiais de cobertura de estufas (plásticos, telas
de sombreamento e telas reflexivas) de modo que

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

atuem como filtros de radiação e de luz (Bliska Júnior


& Honório, 1999).
A cobertura plástica sobre o solo (mulching)
conserva a sua umidade pois proporciona economia de
água e nutrientes ao diminuir a evaporação e a
lixiviação, bem como, conserva a sua temperatura ao
diminuir a amplitude térmica favorecendo, deste
modo, o desenvolvimento ótimo do vegetal (Bliska
Júnior & Honório, 1999).

4. Colonização dos cultivos em ambientes protegidos


por pragas e inimigos naturais
A produção de culturas em ambientes protegidos,
assim como, à campo, sofrem com ataque de pragas.
Entretanto, no campo, tanto as pragas como os
inimigos naturais, são encontrados naturalmente
presentes no ambiente. Já nos cultivos em ambiente
protegido, a proteção exercida pela estrutura deste
ambiente impede ou dificulta a entrada desses
organismos de forma natural.
No MIP, a adoção de medidas pode evitar ou
restringir os insetos-praga nas culturas em ambiente
protegido. Entre elas estão a seleção de locais para
instalação de estufas (observar as plantas existentes

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

em sua circunvizinhança para evitar colonização de


fontes externas), destruição de restos culturais e de
cultivos abandonados, época de cultivo, redução do
período de cultivo (menor tempo de exposição às
pragas, evita colonização de fontes internas), manejo
da nutrição e do fornecimento de água da cultura,
rotação de culturas, desinfecção das instalações (ao
fim dos cultivos, as estufas devem ser tratadas com
inseticida e/ou acaricida, e devem permanecer sem
cultivo pelo menos por duas semanas, evitando
recolonização) (Picanço & Marquini, 1999).
No caso dos inimigos naturais, estes podem ser
escassos ou totalmente ausentes nos ambientes
protegidos, a menos que sejam introduzidos
acidentalmente ou propositalmente. Por outro lado, o
ambiente protegido possibilita que estes organismos
sejam utilizados de forma efetiva como agentes de
controle biológico (Reddy, 2016).
A seguir são apresentadas as principais pragas
(Tabela 1.1) e os principais inimigos naturais das
principais pragas de cultivos em ambientes protegidos
(Tabela 1.2).

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Tabela 1.1. Principais pragas de cultivos em ambientes protegidos

Grupo Espécie Cultura atacada

Lagarta Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Tomate, pimentão e cravo


Noctuidae)

Mosca branca Bemisia tabaci (Homoptera: Aleyrodidae) Alface, couve, couve-flor, tomate, melancia,
melão, pepino, pimentão, repolho, gérbera,
rosa e crisântemo

Pulgão Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae) Tomate, pimentão, pepino e alface

Myzus persicae (Hemiptera: Aphididae) Pimentão, tomate, alface e gérbera

Ácaro Tetranychus urticae (Acari: Tomate, pimentão e pepino


Tetranychidae)

Mosca minadora Liriomyza trifolii (Diptera: Agromyzidae) batata, melão, alface e melancia

Tripes Thrips tabaci (Thysanoptera: Thripidae) Melancia, melão, pepino, pimentão, tomate

Fonte: Rathee et al., 2018; Reddy, 2016.

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Tabela 1.2. Principais agentes de controle biológico nos cultivos em ambientes


protegidos.

Pragas Predador Parasitoide

Ácaros Phytoseiulis persimilis (Acari: Phytoseiidae), -


Neoseiulis cucumeris, Orius laevigatus
(Hemiptera: Anthocoridae)

Mosca-branca Orius laevigatus, Chrysoperla externa Eretmocerus mundus (Hymenoptera:


(Neuroptera: Chrysopidae) Aphelinidae), Encarsia formosa (Hymenoptera:
Aphelinidae)

Tripes Orius laevigatus, Neoseiulus cucumeris -

Mosca minadora - Diglyphus isaea (Hymenoptera: Eulophidae),


Dacnusa sibirica (Hymenoptera: Braconidae)

Pulgão Orius laevigatus, Chrysoperla externa , Aphidius spp. (Hymenoptera: Braconidae)


Aphidoletes aphidimyza (Hemiptera:
Aphididae)

Lagartas Chrysoperla carnea Trichogramma spp.

Fonte: Rathee et al., 2018.

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

5. Tomada de decisão de controle de pragas em


cultivos em ambientes protegidos
O índice de tomada de decisão mais adotado é o
nível de dano econômico, o qual corresponde à
densidade da praga que causa prejuízos de igual valor
ao custo de seu controle. Neste caso, a praga só deve
ser controlada quando sua intensidade de ataque for
igual ou superior ao chamado nível de controle
(Picanço & Marquini, 1999).
No caso de ambientes protegidos, os índices de
tomada de decisão são variados. Geralmente, para
realizar a amostragem, é recomendado que o plantio
seja dividido em blocos por cultura e sistema de
cultivo. Neste caso, deve-se amostrar 1% das plantas
em cada bloco de forma semanal, direcionando a
amostragem para as estruturas do vegetal que são
atacadas pelas pragas (Picanço & Marquini, 1999).
Em culturas ornamentais, que podem perder seu
valor em densidades de pragas extremamente baixas,
os níveis de tomada de decisão são baseados no
padrão estético. Já as hortaliças em ambientes
protegidos possuem níveis de controle menores do

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

que em cultivos a campo devido ao alto valor agregado


(Tabela 1.3). No de espécies florestais, os índices de
controle em mudas são também baixos. Na maioria
dos casos é aceito até 5% das mudas atacadas,
percentual este em que o controle deve ser efetuado
(Martins & Boscardin, 2022).

Tabela 1.3. Níveis propostos para o controle das


pragas em ambiente protegido.
Pragas Nível de controle proposto

Desfolhadores 20% de desfolha

Insetos sugadores 1 (um) inseto/amostra

Ácaros 10% das folhas atacadas

Pragas das flores 5% das flores atacadas

Pragas dos frutos (exceto mosca- 3% dos frutos atacados


das-frutas)

Mosca-das-frutas 1 (um) adulto/armadilha

Fonte: Adaptado de Picanço & Marquini (1999).

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

6. Tomada de decisão de controle de pragas em


cultivos em ambientes protegidos

6.1. Controle cultural


O controle cultural refere-se ao manejo do
agroecossistema com vistas à manipulação cultural de
forma a torná-lo desfavorável para a praga (Baker et
al., 2020). O controle cultural deve ser considerado
como a primeira defesa em torno do qual construir
outras opções (Coaker, 1987).
Muitas infestações de insetos começam em
pontos isolados dentro da estufa. A inspeção do cultivo
protegido inclui a observação de folhagens e flores,
bem como o uso de armadilhas para insetos (Bueno et
al., 2015). Nesse sentido, o monitoramento oportuno
permite evitar aplicações e gastos desnecessários de
controle (Sood, 2010).
Destacamos que o uso de armadilhas no
controle cultural é diferente do monitoramento, pela
quantidade dessas armadilhas que são distribuídas no
ambiente protegido. Para moscas-brancas, pulgões,
tripes e lagartas adultas, cartões adesivos amarelos

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

são um excelente complemento para controle (Reddy,


2016). Além disso, para tripes, armadilhas adesivas
de cor azul também podem ser usadas (Michereff Filho
et al., 2013). Embora as armadilhas adesivas estejam
disponíveis comercialmente, elas também podem ser
fabricadas por produtores. A localização de cada
cartão adesivo deve ser indicado em um mapa da
estufa (Valério et al., 2019). Os cartões adesivos
devem ser observados duas vezes por semana e
registrado o número total de insetos identificados. A
substituição deve ser realizada quando 60-70% da
área estiver coberta por insetos presos (Sood, 2010).
Ainda são exemplos de práticas culturais o
raleio, o desbaste e a catação manual ou rouguing,
(Penteado, 2001). Tanto o raleio quanto o desbaste
promovem maior aeração no dossel (Leão, 2006).
Nesse sentido, arrancar partes de plantas danificadas,
flores e folhas manchadas (e aquelas com larvas de
insetos ou depósitos de ovos) ou com presença de
fitopatógenos, pode ser uma maneira muito eficaz de
reduzir a propagação de pragas em cultivos em
ambientes protegidos (Hoffmann & Antunes, 2012).

15
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Uma estratégia particularmente adequada para


programas de MIP em ambientes protegidos é o uso
de barreiras físicas para excluir insetos-pragas, como
forma de manipulação do meio para evitar que as
pragas tenham acesso aos cultivos (Zanuncio Junior,
2018). Aberturas de telas e portas podem limitar
bastante o movimento de pragas de insetos na estufa
(Vida et al., 2004). No entanto, a seleção da malha de
tamanho de tela adequada e a garantia de fluxo de ar
adequado são mais importantes (Bisbis et al., 2017).
O tamanho da malha depende do inseto alvo
(Bisbis et al., 2017). A malha com orifícios menores
que 200 micrômetros é necessária para a exclusão
completa de tripes, Frankliniella schultzei
(Thysanoptera: Thripidae) (Vida et al., 2004).
Obviamente, a triagem que impede a entrada de tripes
também impede a entrada de pragas maiores, como
pulgões, A. gossypii e moscas-brancas, B. tabaci (Vida
et al., 2004). No entanto, a seleção de tela com
tamanho de malha específico é específica do local e
depende das pragas prevalentes da cultura na
localidade (Bisbis et al., 2017).

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

O acesso limitado a áreas protegidas é benéfico,


pois os insetos podem entrar na estrutura protegida
em roupas ou ser arrastados pelo vento (Zanuncio
Junior, 2018). Construir um hall de entrada com tela
para criar uma entrada de porta dupla resolve
parcialmente o problema dos insetos transportados
pelo vento (Bisbis et al., 2017). Esforços especiais
devem ser feitos para reparar buracos ou rasgos
imediatamente e limpar as telas para manter o fluxo
de ar (Vida et al., 2004).
A alteração do comportamento visual dos
insetos tem sido usada com sucesso como ferramenta
em programas de MIP direcionados para proteger as
culturas de insetos e doenças virais transmitidas por
insetos (Thomazini, 2009). Um exemplo é o uso de
filmes absorventes de radiação ultravioleta (UV)
(Papaioannou et al., 2012). Os insetos percebem
sinais de luz através de seus olhos compostos (Koštál,
2011). Folhas modificadas espectralmente são
produzidas pela introdução de um aditivo absorvente
de UV que bloqueia a transmissão da maioria dos
comprimentos de onda na faixa de UV abaixo de 370-

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

380 nm sem interferir na transmissão de radiação


fotossinteticamente ativa (400-700 nm) (Rathee et
al., 2018).
Além disso, a manipulação da visão UV de
insetos usando materiais de revestimento de estufas
de bloqueio de UV mostrou ser eficaz na prevenção da
imigração de uma ampla gama de insetos-praga
(moscas brancas, pulgões e tripes) do ambiente
externo para o cultivo em ambiente protegido (Rathee
et al., 2018). Constatou-se que as populações de
pulgão, mosca-branca, tripes e minadores foram
menores em tomates cultivados em uma estufa de
plástico feito de polietileno tratado para excluir
comprimentos de onda UV do que em cultivos
cultivados em uma estufa plástica comum (Koštál,
2011).
A velocidade e a direção do vento têm uma forte
influência na entrada e disseminação de pragas e
doenças (Collier et al., 2008). Dessa forma, a
utilização de quebra-ventos, tanto para a proteção do
ambiente quanto contra as pragas, pode ser útil
(Penteado, 2001). O uso de cortina de vento e/ou

18
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

ventiladores também desfavorecem a movimentação


e atividade das pragas (Collier et al., 2008).
Outras ações mais básicas, porém, que
merecem serem mencionadas, são a drenagem
eficiente em viveiros ou casa de vegetação evitando
encharcamentos, além de fertilização equilibrada,
especialmente nitrogenada, ambos atuam auxiliando
a evitar danos decorrentes de infestações de insetos-
praga (Gullino et al., 2020).

6.2. Resistência de plantas


As características das plantas que conferem
resistência aos herbívoros normalmente previnem ou
reduzem os danos causados pelas pragas através da
expressão de características que impedem que esses
organismos se instalem, fixem-se às superfícies,
alimentem-se e se reproduzam, ou que reduzam a
palatabilidade (Rosenthal & Kotanen, 1994).
Nesse sentido, a resistência das plantas às
pragas pode assim ser categorizada como antibiose;
antixenose (ou não preferência) e tolerância (Sulistyo
& Inayati, 2016). As características de antibiose das

19
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

plantas impactam negativamente a biologia da praga


(Smith et al., 2010). Enquanto que, a antixenose é
uma característica expressa pelo hospedeiro que tem
efeitos adversos no comportamento do inseto (Kogan
& Ortman, 1978), tendo os insetos preferência por
hospedeiros antixenóticos, isto é, hospedeiros
suscetíveis (Ranger & Hower, 2002). Já as
características de tolerância reduzem os efeitos
negativos da herbivoria na aptidão das plantas,
mantendo ao mesmo tempo populações de insetos
semelhantes às observadas em plantas suscetíveis
(Simms & Triplett, 1994; Smith et al., 2010).
Embora a resistência completa aos insetos tenha
sido encontrada e usada, é ainda uma característica
considerada excepcional, especialmente em ambiente
protegido (Berlinger, 2008). Por outro lado, a
resistência parcial que ocorre, com maior frequência,
tende a ser mais durável (Parlevliet & Zadoks, 1977),
requerendo métodos de testes mais sofisticados
(Hilder & Boulter, 1999).
A resistência a vetores é um caso especial de
resistência de plantas a pragas, sendo considerada

20
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

tendência das plantas, que são, por si só, suscetíveis


ao vírus, de escapar da infecção, impedindo que o
vetor transmita o vírus (Berlinger, 2008)
Teoricamente, dois mecanismos de resistência das
plantas são reconhecidos: resistência ou tolerância ao
próprio vírus e resistência ao vetor que transmite o
vírus (Bosque-Perez & Buddenhagen, 1992).
A vantagem da resistência ao inseto vetor é
dupla: pode ser integrada à resistência da planta, ou
tolerância, ao próprio vírus, e espera-se que a
resistência da planta aos insetos seja maior do que a
resistência das plantas aos vírus (Stinchcombe, 2022).
Várias características da planta podem ser
responsáveis por esse tipo de resistência: folhas
pilosas, secreções pegajosas e venenosas e fatores
intrínsecos nas plantas que influenciam a fixação,
aceitação e comportamento alimentar do inseto vetor
(Berlinger, 2008). Por outro lado, este tipo de
resistência também pode ter algumas desvantagens
porque é específico do vetor, mas não específico do
vírus (Bosque-Perez & Buddenhagen, 1992).

21
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

A deposição silício em certos tecidos de plantas


contribuem para a resistência a pragas de insetos por
interferir na alimentação e perfuração das larvas e
causar desfiguração de suas mandíbulas (Hakeem,
2015). A resistência a insetos relacionada à cor em
plantas não existe, mas a manipulação genética da cor
da planta geralmente tem um efeito em alguns
processos físicos fundamentais da planta (Hakeem,
2015). Lagartas como Pieris rapae (Lepidoptera:
Pieridae) e Mamestra brassicae (Lepidoptera:
Noctuidae) e a mosca-branca, B. tabaci, foram mais
encontradas em cultivares de folhagem verde em
comparação com espécies de folhagem vermelha
(Hakeem, 2015).

6.3. Controle biológico


O controle biológico trata-se da metodologia
aplicada de forma natural, potencializada ou induzida,
a partir da utilização de interações ecológicas básicas
entre organismo benéficos (inimigos naturais) e
organismos indesejáveis (pragas) em um mesmo

22
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

ambiente, através da predação, parasitismo ou


entomopatogenicidade (El-Wakeil et al., 2017).
Em uma visão geral, os predadores são espécies
de vida livre que consomem grandes quantidades de
presas durante sua vida, como joaninhas e
crisopídeos. Os parasitoides são geralmente vespas e
moscas que ovipositam dentro ou fora de um único
hospedeiro de inseto e nascem as larvas, que se
alimentam do corpo da vítima matando a espécie
hospedeira. Já os entomopatógenos são organismos
causadores de doenças, incluindo bactérias, fungos e
vírus, que matam ou enfraquecem o hospedeiro e são
relativamente específicos para certos grupos de
insetos (El-Wakeil et al., 2017).
Esses inimigos naturais são considerados
eficientes ou bem-sucedidos quando apresentam
características como: (i) altas taxas de reprodução,
(ii) boa capacidade de busca de sua presa ou
hospedeiro, (iii) especificidade do hospedeiro, (iv)
adaptação a diferentes condições ambientais e (v)
sincronização com o hospedeiro - praga (Fontes &
Valadares-Inglis, 2020).

23
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

A caracterização de cada grupo de inimigo


natural será discutida a seguir.

6.3.1. Predadores
Os inimigos naturais considerados predadores,
alimentam-se de outros insetos (ou ácaros) por
mastigação ou sucção da hemolinfa. Geralmente são
considerados de vida livre e apresentam tamanhos
superiores às suas presas, com exceção de algumas
formigas e ácaros predadores.
A predação pode ocorrer em diferentes estágios
de vida do predador. Muitos deles se alimentam de
presas apenas quando larvas ou ninfas (fase jovem),
e quando adultos se alimentam de substâncias
açucaradas como néctar, pólen ou líquido liberado por
outros insetos na planta, mas também há espécies de
predadores que se alimentam dos estágios juvenil e
adultos da presa.
Dentre as espécies de predadores, as principais
famílias que apresentam maior contribuição de
controle biológico em ambientes protegidos são (i) as
Joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae), larvas e

24
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

adultos se alimentam de moscas brancas, pulgões,


ácaros, cochonilhas, larvas; (ii) Tesourinhas
(Dermaptera: Forficulidae), ninfa e adultos, predam
ovos, lagartas pequenas, pupas, pulgões, tripes e
mosca branca, (iii) Crisopídeos (Neuroptera:
Chrysopidae), as larvas predam pulgões, pequenos
insetos, moscas brancas, tripes e ácaros; (iv) Orius sp.
(Hemiptera: Anthocoridae) adultos predam pulgões,
tripes, pequenas lagartas, ácaros e ovos de diferentes
insetos; (v) Geocoris sp. (Hemiptera: Geocoridae),
ninfas e adultos predam outros percevejos (fitófagos),
pequenos besouros, ácaros, ovos e pequenas lagartas
de lepidópteros; (vi) Aphidoletes aphidimyza
(Diptera:Cecidomyiidae), as ninfas se alimentam de
outros pulgões; (vii) Sirfídeos (Diptera: Syrphidae), a
larva preda pulgões, tripes, ácaros, larvas de outros
insetos; (viii) Neoseiulus californicus (Acari:
Phytoseiidae) e Phytoseiulus macropilis (Acari:
Phytoseiidae): fase ninfal preda ácaros-praga
tetraniquídeos, ninfas de cochonilhas, fungos e grãos
de pólen.

25
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

6.3.2 Parasitoides
Os parasitoides são insetos que em determinado
estágio de vida retiram os nutrientes necessários para
o seu desenvolvimento de outro ser vivo (hospedeiro),
nesse caso, insetos e ácaros praga, causando sua
morte. Para ser considerado um parasita, o inimigo
natural pode depositar seus ovos dentro ou fora do
corpo do seu hospedeiro, e esses ovos eclodem e as
larvas se alimentam do corpo da vítima. Além de
fornecer alimento ao inimigo natural, o corpo do
hospedeiro também pode fornecer proteção durante o
desenvolvimento do parasita, até que ele atinja a
idade adulta.
Quando adulto, o inimigo natural deixa o corpo
do hospedeiro para acasalar, podendo se alimentar
tanto de néctar de plantas, como de outros
hospedeiros, para que novas fêmeas ponham ovos. As
fêmeas geralmente colocam seus ovos em cada novo
inseto que encontram, porém nem todo inseto que
atua como hospedeiro, fornece alimento suficiente
para os parasitos, assim a maioria das espécies de
parasitoides prefere um tipo ou estágio de

26
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

desenvolvimento específico do hospedeiro. Esses


indivíduos funcionam como parasitas unitários, então
quanto mais desses inimigos naturais estão no campo,
mais insetos são parasitados.
Os agricultores se beneficiam dessa relação
quando os insetos parasitados morrem sem causar
maiores danos maiores às lavouras, porém algumas
espécies de parasitas que agem de forma interna na
praga hospedeira, acaba induzindo o aumento de
alimentação do hospedeiro, esses inimigos naturais
costumam ser evitados no controle biológico aplicado
no MIP. Alguns exemplos conhecidos de parasitoides
em ambientes protegidos são (i) Eretmocerus sp.
(Hymenoptera: Aphelinidae), parasitoide para
controle de mosca-branca e (ii) Encarsia formosa
(Hymenoptera, Aphelinidae), usado para o controle de
mosca branca e cochonilha de carapaça.

6.3.3 Entomopatógenos
Os entomopatógenos são microrganismos que
causam danos ou doenças aos insetos e ácaros,
podendo levar à morte. Alguns desses patógenos já

27
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

são produzidos em massa e podem ser produzidos


comercialmente para uso comum. Estudos recentes
demonstram que os produtos microbianos,
aparentemente, não afetam diretamente os insetos
benéficos e não são tóxicos para a vida selvagem e
para os seres humanos, apresentando ação seletiva
para grupos específicos de insetos e estágios de vida.
Alguns exemplos de entomopatógenos de pragas são:
(i) Beauveria bassiana, entomopatógeno do ácaro
rajado (Tetranychus urticae); mosca-branca (Bemisia
tabaci); Tripes (Thrips tabaci); (ii) Isaria fumusorosea
entomopatógeno do Psilídeo (Diaphorina citri); mosca
branca (Bemisia tabaci); (iii) Metarhizium anisopliae
entomopatógeno da cigarrinha verde (Empoasca
kraemeri); ácaro rajado (Tetranychus urticae); tripes
(Thrips tabaci); (iv) Lecanicillium lecanii
entomopatógeno da cigarrinha verde (Empoasca
kraemeri) e (v) Bacillus thuringiensis entomopatógeno
da traças das crucíferas (Plutella xylostella); traça do
tomateiro (Tuta absoluta).

28
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

6.3.4. Controle biológico conservativo


O controle biológico conservativo baseia-se na
preservação e aumento das populações de inimigos
naturais, resultando no controle das populações de
pragas. Para isso, os inimigos naturais devem ser
atraídos e se manterem no agroecossistema, sendo
necessário o fornecimento de alimentos alternativos,
como fontes de carboidratos (néctar) e de proteínas
(pólen) para parasitoides e predadores.
A conservação dos inimigos naturais também
necessita de algumas manipulações do ambiente
visando favorecimento das condições do
agroecossistema local, como: a) oferecer alimentos
alternativos (como néctar, pólen e substâncias
açucaradas); b) disponibilidade de abrigo e microclima
adequado para refúgio; c) presas e hospedeiros
alternativos; d) organização do espaço entre as
plantas da cultura e refúgio para favorecer a
movimentação; e) uso de inseticidas e controle
biológico seletivo (Shields et al., 2019)

29
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

6.3.5. Controle biológico aumentativo


O controle biológico aumentativo ocorre quando
os inimigos naturais de ocorrência natural não
conseguem fornecer o nível de controle necessário de
determinada praga, assim, torna-se necessário o
aumento artificial da população de uma ou mais
espécies de inimigos naturais, seja por táticas
inoculativas e inundativas. Tanto os inimigos naturais
como agentes de controle microbianos, passam por
um processo de multiplicação e/ou produção em larga
escala em biofábricas (produtos adquiridos por
empresas) e liberados em maior quantidade para
obter um controle imediato de pragas em cultivos de
ciclo curto ou durante várias gerações em cultivos com
longo ciclo. Para manutenção desses inimigos
naturais, também pode ser necessário manipulações
do ambiente visando favorecimento das condições do
agroecossistema local (Sivinski, 2014).

6.4. Controle comportamental


A manipulação comportamental das pragas
baseia-se em técnicas de interrupção da comunicação

30
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

que visam interferir nos hábitos comuns das principais


pragas, a fim de minimizar seus impactos negativos
na produção agrícola (Foster & Harris, 1997).
Fundamentalmente, essa manipulação envolve o uso
de sinais naturais e/ou artificiais, como feromônios,
sons e vibrações (Agarwal & Sunil, 2020), para
interferir em comportamentos básicos, como
alimentação e acasalamento (Čokl & Millar, 2009).
Os métodos de interferência incluem o uso de
semioquímicos para interromper a comunicação dos
insetos, impedindo a colonização ou o acasalamento.
Embora sejam encontradas milhares de publicações
científicas e muitas reivindicações foram feitas sobre
a contribuição de métodos de interferência, o manejo
de pragas em programas de MIP, seu uso prático ainda
é muito limitado em ambientes protegidos (Van
Lenteren & Nicot, 2020).
De forma geral, armadilhas com isca de
feromônio sexual já são usadas para detectar
mariposas de lepidópteras, como da lagarta do tabaco,
Heliothis virescens (Lepidoptera: Noctuidae) e da

31
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

broca pequena do tomate, Neoleucinodes elegantalis


(Lepidoptera: Crambidae) (Cloyd, 2016).
Por outro lado, a semiofísica (ou seja, sinais
vibracionais transmitidos) está surgindo como uma
nova tecnologia, que está rapidamente ganhando
interesse considerável tanto em produtores quanto em
indústrias com negócios em proteção de cultivos (Nieri
et al., 2021). Insetos como percevejos, que se
comunicam a médio e curto alcance com sinais
vibracionais, dependem da percepção de sinais co-
específicos transmitidos para identificar e localizar um
parceiro em potencial (Van Lenteren & Nicot, 2020).
Ao introduzir sinais disruptivos, que imitam os sinais
naturais de rivalidade feminina do percevejo, nas
plantas hospedeiras, por exemplo, é possível afetar o
processo de formação do par e, assim, impedir o
acasalamento da praga (Dias et al., 2021).

6.5. Controle químico


O controle químico, emprega táticas e
compostos usados no combate de pragas, onde seu
papel é repelir, exterminar ou confundir a praga a fim

32
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

de deixar o número de indivíduos abaixo do nível de


dano econômico (Flint et al., 1981).
Atualmente o controle químico se faz bastante
presente na cadeia produtiva mundial, mesmo em
pequenas propriedades onde em conjunto com outras
técnicas de MIP vem ajudando o produtor no controle
de pragas. Entretanto, o uso exclusivo do controle
químico no ambiente protegido para realizar o manejo
de pragas em geral pode ocasionar aumento na
quantidade de pulverizações em relação ao campo,
devido este ambiente favorecer a praga ao dificultar
ou excluir a ação dos diferentes fatores abióticos e
bióticos de regulação populacional das pragas como
chuva, baixas temperaturas e a atuação de inimigos
naturais (Vida et al., 2004; Picanço & Marquini, 1999).

6.5.1. Principais Formulações


Os inseticidas são encontrados em diversas
formulações, pó seco; pó molhável; pó solúvel,
granulado; concentrado emulsionável; suspensões
concentradas; aerossóis; gasosas e pasta (Gallo et al.,
2002). Excetuando-se as formulações à base de pó

33
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

seco; aerossóis e gasosas, as demais são mais


facilmente encontradas para serem utilizadas e/ou
recomendadas aos ambientes protegidos.

6.5.2. Doses dos produtos


As dosagens para ambiente protegido serão as
mesmas para o cultivo em campo como especificado
na bula do produto, respeitando a quantidade de
ingrediente ativo por 100 L de água em produtos de
suspensão concentrada.

6.5.3. Tecnologia de aplicação dos produtos


A tecnologia de aplicação de um produto permite
adotar conhecimentos buscando a eficiência do
controle da praga através da correta colocação de um
ingrediente ativo no alvo, reduzindo custos e
viabilizando a atividade do ponto de vista econômico
e ambiental.
A partir do tipo de atividade empregada, o
controle químico pode ser por diferentes vias de
aplicação como: aplicação via irrigação ou quimigação;

34
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

submersão; pulverização; aerossóis e tratamento de


sementes.
Entre as principais práticas agrícolas para a
aplicação de produtos químicos vale destacar algumas
recomendações. O uso de EPI pelo aplicador ao
manipular e/ou realizar a aplicação de pesticidas deve
ser adotado. O uso de água de boa qualidade a fim de
que o pH ou certos sólidos da água não interfiram com
o produto a ser aplicado deve ser avaliado. Também
deve ser realizada a calibração adequada do
equipamento a fim de se obter a dose correta e evitar
a subdosagem ou superdosagem. O uso do bico
correto para se obter a devida vazão de calda e
tamanho de gotas adequado para a aplicação.
Respeitar os intervalos de aplicações e intervalos de
reentrada. Considerar a quantidade da praga alvo e
estágio adequado conforme a bula do produto
indicado. Além disso, é importante sinalizar a área
tratada ao final de cada operação com os horários de
reentradas definidos.

35
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

6.5.4. Critérios de seleção dos produtos


Inicialmente, é importante identificar a praga
antes de selecionar o inseticida, verificando sempre a
existência do registro deste pesticida para a praga em
questão, optando, se for possível, por produtos de
conhecida seletividade fisiológica aos inimigos
naturais. O produto, quando aplicado, deverá realizar
a cobertura completa e uniforme da planta,
especialmente quando o inseticida atuar via contato
sobre o inseto. Adicionalmente, deve-se levar em
consideração o período de carência, que pode variar
de dias a horas dependendo do produto (Van Lenteren
& Nicot, 2020). Por fim, a escolha do produto a ser
aplicado na praga alvo também deve ser considerado
a forma que o produto se distribui na planta e o tipo
de ação sobre o inseto.

6.5.5. Controle químico alternativo


No controle químico alternativo em ambiente
protegido, é possível fazer uso de diversas opções.
Extratos botânicos e óleos essenciais, por exemplo,
podem ser aplicados, sendo amplamente usados na

36
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

agricultura orgânica onde possuem alta eficiência na


redução de populações de insetos, sempre associado
a outros métodos de controle.
Outros produtos que podem ser utilizados, de
fácil produção caseira, são as caldas e pastas como: a
calda bordalesa; calda viçosa; calda sulfocálcica e a
pasta bordalesa.

7. Considerações finais
As pragas constituem importante fator de perda
nos cultivos, sobretudo quando este é realizado em
ambiente protegido. Apesar do grande aumento do
cultivo de espécies em ambiente protegido e do
avanço da tecnologia empregada, são escassos os
estudos no Brasil sobre sistemas de manejo de pragas
nesses cultivos.
O manejo de pragas das culturas em ambientes
protegidos é direcionado a prevenir seu
estabelecimento e minimizar seu desenvolvimento e
disseminação na cultura. Assim, o desafio futuro para
os pesquisadores e os produtores é integrar e criar
diferentes tecnologias sustentáveis de manejo de

37
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

pragas para que possam contribuir para o aumento da


produtividade nos ambientes protegidos.

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45
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

CAPÍTULO 2

Resistência das pragas aos métodos de


controle

Allana G. Guedes, Damaris R. Freitas, Júlia B. Melo,


Poliana S. Pereira, Eliseu J.G. Pereira, Raul N.C. Guedes,
Marcelo C. Picanço

1. Introdução
Atualmente, os métodos de controle mais
utilizados são: controle químico, controle cultural e
controle biológico, bem como o uso de plantas
resistentes. Dentre estes métodos, o uso de
inseticidas e acaricidas (controle químico), em geral,
são mais difundidos e eficazes na redução das
populações de artrópodes-pragas a níveis aceitáveis,
ou seja, a níveis que não causam prejuízos
econômicos (Denholm & Rowland, 1992; Boyer et al.,
2012; Barres et al., 2016).
Porém, a resistência de pragas aos métodos de
controle está se tornando uma preocupação mundial,
principalmente no âmbito do controle químico

46
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

(inseticidas e acaricidas) (Whalon et al., 2008; Sparks


et al., 2020).
Nas últimas décadas, foram relatadas mais de
500 espécies de artrópodes resistentes aos métodos
de controle, principalmente ao controle químico
(Sparks et al., 2020). Geralmente, estes artrópodes se
adaptam às moléculas, passando a apresentar
mecanismos fisiológicos e comportamentais
resistentes (Whalon et al., 2008).
Em virtude da imprecisão na utilização das
alternativas de controle, normalmente, a resistência
das pragas à inseticidas e acaricidas aparece devido
ao uso excessivo desses compostos (Silva et al., 2011;
Guedes & Picanço, 2012; Barres et al., 2016).
Apesar das várias pesquisas na área de
resistência das pragas a inseticidas, é fundamental a
junção do conhecimento existente sobre este assunto
para os técnicos e produtores rurais. Neste contexto,
visando difundir essas informações, este capítulo de
livro tem o objeto de reunir o conhecimento atual
sobre a resistência das pragas aos métodos de
controle mais utilizados.

47
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

2. Resistência das pragas aos métodos de controle


Embora a atenção da resistência, na literatura,
encontra-se difundida para a resistência ao controle
químico, vários outros métodos de controle, como
controle cultural e controle biológico, bem como uso
de plantas resistentes apresentam adversidades com
a evolução da resistência das pragas (Tabashnik et al.,
2013; Gould et al., 2018).

2.1. O que é?
A resistência é uma mudança biológica que ocorre
em uma população de praga em resposta a exposições
repetitivas aos métodos de controle, seja químico,
biológico ou cultural. Vários fatores bióticos e abióticos
naturais encontrados no ambiente pode desencadear
resistência às populações de pragas, tornando a
resistência um dos principais gargalos para o controle
de pragas (Gould et al., 2018).

2.2. Como surge?


O primeiro relato de resistência foi documentado
em 1914. A resistência surge do uso intenso de um

48
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

método de controle, seja ele químico, biológico,


cultural ou plantas resistentes. Isso ocorre devido à
seleção de indivíduos que sobrevivem melhor a essas
intervenções, que vão paulatinamente prevalecendo
na população até torná-la resistente ao método de
controle (Tabashnik et al., 2013; Gould et al., 2018).
Neste sentido, com o uso de um determinado método
de controle pode ocorrer a seleção de organismos
pragas que sobrevivem (devido à sua característica
genética) e ao se reproduzirem transferem esses
genes que conferem resistência para a prole (Garrido
& Botton, 2021).
Os organismos pragas podem desenvolver
resistência através de mecanismos comportamentais
e fisiológicos. No caso de mecanismos
comportamentais de resistência, os artrópodes pragas
podem fugir ou mudar seu comportamento para evitar
o contato com o agente de controle, e geralmente este
mecanismo está associado com a capacidade de
aprendizagem desses organismos ou a de evitar a
exposição ao agente de controle (Hoy et al., 1998;
Guedes et al., 2009; Corrêa et al., 2010).

49
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

No caso dos mecanismos fisiológicos, estes são


divididos em mecanismos bioquímicos e propriamente
fisiológicos. Nos mecanismos bioquímicos a resistência
está relacionada à ação de enzimas destoxificativas e
à alteração na sensibilidade do sítio de ação do agente
de controle (Whalon et al., 2008; Corrêa et al., 2010).
Já nos mecanismos fisiológicos a resistência refere-se
à capacidade dos organismos de aumentar a excreção
dos compostos tóxicos, de armazenar substâncias
tóxicas em tecidos pouco sensíveis ou quimicamente
inertes, e de reduzir a penetração cuticular do
pesticida (Whalon et al., 2008; Corrêa et al., 2010;
Sparks et al., 2020).
No controle químico, por exemplo, a resistência
pode ser desenvolvida devido ao uso repetido de
pesticidas com o mesmo modo de ação, ou mesmo
modo de ação distinto, resultando na falha de controle
das pragas (Tabashnik et al., 2013; Guedes, 2017). Em
relação ao controle cultural, há espécies de pragas que
desenvolveram resistência à rotação de milho e soja
(Gould, 1991; Gould et al., 2018).

50
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

2.3. Quais as consequências?


A resistência de organismos pragas é um grande
problema na eficácia das medidas de controle dos
cultivos, sendo uma grave ameaça à segurança
alimentar e industrial, e pode acarretar em perdas
econômicas, ambientais e riscos à saúde pública (Birch
et al., 2011; Guedes et al., 2016; Jørgensen et al.,
2020; Guedes et al., 2022).
As práticas de controle de pragas empregadas de
forma inadequadas podem inviabilizar o uso de
pesticidas, de plantas resistentes com tecnologia Bt, e
de outros agentes e métodos de controle (Gould et al.,
2018; Jørgensen et al., 2020). Além de causar
desequilíbrio nas teias alimentares devido ao impacto
nos organismos não-alvo, reduzindo o desempenho
reprodutivo e a sobrevivência das espécies (Boatman
et. al., 2004).
Ainda que haja o desenvolvimento de novos
pesticidas e métodos de controle, devido ao avanço da
química e da biologia molecular, há uma enorme
possibilidade de que a resistência dos organismos
pragas supere a inovação humana (Gould et al.,

51
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

2018). Assim, é fundamental monitorar a emergência


e a disseminação de espécies pragas resistentes.

3. Resistência das pragas aos inseticidas e acaricidas


Devido aos grandes problemas com pragas
apresentados ao longo dos anos, criou-se uma
dependência excessiva do uso de pesticidas. Para que
estratégias de manejo corretas sejam empregas, é
necessário o conhecimento sobre a origem,
disseminação e manutenção da resistência, bem como
os mecanismos envolvidos, de modo a integrar
conhecimentos que previnem, retardem e/ou superem
a resistência (Bass & Jones, 2018).

3.1. Mecanismos de resistência aos inseticidas e


acaricidas
As moléculas com função inseticida ou acaricida
penetram no corpo do indivíduo através do
tegumento. Esta se dirige até o seu local de ação, se
ligando ao sítio de ação, para assim exercer a sua ação
tóxica e matar a praga. O sítio de ação pode ser o

52
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

tecido nervoso, uma enzima vital ou uma proteína


receptora (Georghiou, 2005).
A resistência metabólica é um dos principais
mecanismos de resistência estudado por ser o mais
comum (Perry et al., 2007). São nas enzimas de
destoxificação glutationa S-transferases (GSTs),
citocromos P450 (P450s) e esterases (ESTs) as mais
importantes aumentando a capacidade de
metabolização de inseticidas pelo organismo, seja pela
maior produção de enzimas destoxificativas, ou pela
produção de formas mais eficientes da enzima
(Abdollahi et al., 2004). De um modo geral, os insetos
e ácaros que apresentam esse tipo de resistência
possuem a capacidade de degradar a molécula tóxica
de forma mais rápida e eficiente.
A modificação no sítio de ação é o segundo
mecanismo de ação mais comum, e o mais desafiador
em termos de manejo por levar a altos níveis de
resistência, com base de herança simples, de evolução
rápida. Esse tipo de alteração diminui a sensibilidade
à molécula tóxica, onde podem ocorrer alterações nos
aminoácidos que ligam a molécula do pesticida ao seu

53
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

sítio de ação, tornando sua ação menos eficaz ou até


mesmo, ineficaz (IRAC, 2022).
A resistência em que ocorre a penetração
reduzida através da cutícula da praga é conhecida
como resistência cuticular. Esta ocorre a partir de dois
mecanismos primários: a partir de mudanças físicas
na espessura cuticular e alterações na composição
química da cutícula (Balabanidou et al., 2016). Essas
alterações estão relacionadas a superexpressão de
dois citocromos P450s (CYP4G16 e CYP4G17),
aumentando a espessura da epicutícula (camada
externa de proteção presente na cutícula do inseto) e
gerando alterações em sua composição química, como
o aumento de hidrocarbonetos cuticulares (Djogbénou
et al., 2008).
A resistência comportamental consiste na
modificação do comportamento do inseto ou do ácaro
para evitar o efeito letal da molécula tóxica. Algumas
das mudanças de comportamento estão ligadas a
alteração da alimentação e escape da área aplicada,
onde estes se locomovem para a parte abaxial da
folha, para outras partes da planta que não estejam

54
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

aplicadas e até mesmo para outras áreas sem


aplicação (Nogueira & Melvile, 2020).

3.2. Problemas da resistência aos inseticidas e


acaricidas
A resistência a inseticidas e acaricidas leva a uma
série de problemas. Ao encontrar uma população com
indivíduos resistentes em seu cultivo comercial, o
agricultor tende a aumentar as doses dos produtos
químicos utilizados e diminuir o intervalo entre as
aplicações realizadas. Esse tipo de prática leva a um
ciclo, fomentando a pressão de seleção e levando a
uma consequente redução da eficiência de produtos
registrados. Somado a isso, ocorrem diversos
impactos ao meio ambiente, a sociedade e a saúde
humana (Stark & Banks, 2003).
A excessiva aplicação de produtos químicos causa
diversos eventos a organismos não-alvo. A toxicidade,
de forma direta e indireta, reduz o tempo de vida, a
fertilidade, as taxas de desenvolvimento, a
fecundidade, razão sexual e o comportamento, como

55
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

forrageamento e reprodução, dos indivíduos expostos


(Stark & Banks, 2003).
As avaliações de risco ecológico buscam
determinar o impacto potencial de utilização de
pesticidas, e como minimizá-los. Os dados avaliados
incluem sequelas agudas, subletais, crônicas,
subcrônicas, em mamíferos e aves, a partir de todas
as vias de exposição oral, dérmica e inalatória.
Somado a isso, também são avaliadas as camadas
testes de ambientes aquáticos e espécies indicadoras
terrestres, sendo incluído informações sobre os efeitos
químicos e físicos desses produtos no solo, nas plantas
e na água (Devine & Furlong, 2007).
Estudos indicam que baixas doses de produtos
químicos presentes no ambiente, em curto e longo
prazo, podem causar efeitos na sobrevivência,
desenvolvimento, razão sexual, acasalamento e
produção de ninhada em diversas espécies (Jiang et.
al., 2016).

56
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

3.3. Manejo da resistência das pragas aos


inseticidas e acaricidas
O fenômeno de resistência a inseticidas e
acaricidas causa sérios problemas aos agricultores. Ao
ocorrer a pressão de seleção, diversos produtos
presentes no mercado tornam-se ineficientes, levando
a um aumento nas doses aplicadas, diminuição dos
intervalos de aplicação e, consequente, aumento na
mão-de-obra e custo produtivo. Dessa forma, é de
extrema importância manejar a resistência aos
pesticidas e assim, reduzir os danos ambientais e os
custos de aplicação.
O manejo de resistência de insetos (MRI) adota
três grandes estratégias para manejar a resistência a
insetos, sendo elas: (i) a moderação, que consiste na
busca pela redução da pressão de seleção, de modo a
preservar os insetos suscetíveis na área;(ii) a
saturação, que consiste na redução de insetos
resistentes na área; e (iii) o ataque múltiplo, que
consiste no uso de duas ou mais técnicas de manejo,
minimizando a seleção de resistência para o inseticida
(Tabashnik, 1989).

57
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

A moderação consiste no uso de técnicas que


resultem na baixa pressão de seleção, conservando os
indivíduos suscetíveis. Esse tipo de manejo visa a
redução do uso de pesticidas e considera-se que os
genes de susceptibilidade precisam ser mantidos e são
valiosos. Em situações que o uso de pesticidas se faz
necessário, recomenda-se o uso de produtos seletivos
a inimigos naturais, que persistam menos no ambiente
e que a sua aplicação seja realizada de forma
localizada, nos focos da praga e nas fases de maior
susceptibilidade (Georghiou, 2005).
A saturação busca uma abordagem enérgica,
eliminando a resistência na área. Essa técnica consiste
na aplicação de altas doses. Ao aplicar as altas doses,
os genes de resistência podem passar a se tornar
funcionalmente recessivos com poucos sobreviventes
que, ao se acasalarem com migrantes susceptíveis,
reestabelecem a susceptibilidade na área (Denholm &
Rowland, 1992).
O ataque múltiplo engloba o principal método de
manejo da resistência a inseticidas, que é a rotação de
inseticidas registrados que apresentem princípios

58
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

ativos ou modos de ação diferentes. Como ilustrado


na Figura 2.1, é necessário realizar aplicações de
produtos de modo a atingir todos os insetos da área
que apresentem diferentes tipos de resistência
(representados pelos insetos resistentes aos produtos
1, 2 e 3). Esse tipo de técnica visa reduzir a pressão
de seleção, uma que vez controla populações de
insetos que possuem indivíduos com diferentes
mecanismos de resistência e em diferentes momentos
no espaço e no tempo (Bernardi et al., 2016). O uso
de outros métodos de controle também ajuda a
compor o manejo de resistência a inseticidas por
ataque múltiplo.
O manejo da resistência é um dos maiores
desafios presentes na Entomologia Aplicada. Dessa
forma, seu entendimento tornou-se obrigatório e deve
ser realizado de modo a reduzir as populações de
pragas resistentes e consequentemente, reduzir as
aplicações de produtos químicos, trazendo benefícios
econômicos, ambientais e sociais (Picanço et al.,
2014).

59
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Figura 2.1. Exemplo de rotação de inseticidas


registrados com princípios ativos ou modos de ação
diferentes. Fonte: os autores.

4. Biótipos de insetos tolerantes a plantas


resistentes
As plantas podem se defender dos danos provocados
pelos organismos pragas por meio de uma série de
defesas químicas e ou estruturais. Desde o século XIX,
com o avanço da hibridização de plantas, foi impulsionado

60
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

a geração de cultivares resistentes a pragas. E essas


cultivares resistentes foram incorporadas como táticas de
controle no manejo integrado de pragas (MIP). Porém, as
defesas das plantas resistentes são capazes de exercer
pressão de seleção sobre os organismos pragas, levando
a adaptação desses organismos num processo de contra
defesa, como se tornasse um novo indivíduo,
apresentando um novo biótipo (Taggar & Arora, 2017).
Neste caso, ao ocorrer falha no manejo dos insetos,
esta população pode ser renovada, passando a ser
considerada uma população diferente da anterior, devido
a variação fenotípica (combinação entre o genótipo e o
ambiente) (Downie, 2010; Taggar & Arora, 2017).
Portanto, é notória a capacidade que os insetos tem em
se adaptar aos métodos de controle existentes, incluindo
às culturas resistentes (Tabashnik et al., 2013; Taggar
& Arora, 2017).

4.1. Biótipos de pragas


A definição mais atual é que biótipos são
populações de uma espécie de artrópodes que
apresentam variações genéticas, podendo resistir e se

61
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

reproduzirem em cultivares produzidas para serem


resistentes ao ataque desses artrópodes. Neste caso,
a variação genética é resultado da interação entre as
cultivares com os genes de resistência e a capacidade
dos artrópodes em utilizar essa característica
implantada (Taggar & Arora, 2017).
Os biótipos de artrópodes podem diferir da
espécie original por manifestar preferência a uma
planta hospedeira para se alimentar ou ovipositar.
Além disso, também podem apresentar tamanho, cor,
potencial de transmissão de patógeno, capacidade de
afetar as plantas, dispersão e níveis de atividade diurna
ou sazonal diferentes (Diehl & Bush, 1984; Taggar &
Arora, 2017).
O desenvolvimento de biótipos de pragas torna-
se uma ameaça aos programas de melhoramento de
culturas resistentes. O surgimento de biótipos de
pragas, que quebram a resistência, foi registrado em
diversas culturas como fruteiras, hortaliças, trigo,
arroz, milho e soja, em todo o mundo. Atualmente,
aproximadamente 50 espécies de pragas foram
confirmadas em várias ordens: Hemiptera (com

62
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

destaque para espécies de pulgão) > Diptera >


Coleoptera > Lepidoptera > Thysanoptera > Acari
(Smith, 2005; Taggar & Arora, 2017).

4.2. Mecanismos de seleção de biótipos


Vários pesquisadores estão revisando as
prováveis causas para o desenvolvimento de biótipos
de insetos (Taggar & Arora, 2017). Segundo os
autores Puterka et al. (1992) e Xiangdong et al.
(2004), a pressão de seleção exercida pelos genes de
resistência, as diferenças preexistentes na virulência,
a mutação ou alteração na sequência de enzimas e
cromossomos, recombinações gênicas, diferenciação
genética da população podem causar a evolução do
biótipo.
O desenvolvimento do biótipo também pode ser
influenciado pela dimensão geográfica das áreas de
plantio das cultivares resistentes, bem como o manejo
inadequado da área de plantio (falta de rotação de
culturas, presença de hospedeiros alternativos) e uso
incorreto de agroquímicos (Smith, 2005; Taggar &
Arora, 2017).

63
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Além disso, também há relatos de que bactérias


endossimbiontes podem estar relacionadas no
desenvolvimento de biótipos de alguns artrópodes.
Pois já foi comprovado algumas mudanças no
comportamento do hospedeiro, estimuladas por estas
bactérias, como capacidade de suportar variações
ambientais (Taggar & Arora, 2017).

4.3. Manejo dos biótipos


A evolução de biótipos de artrópodes pragas torna
difícil o seu manejo em diferentes culturas agrícolas,
sendo uma grande ameaça à durabilidade da
resistência dessas culturas. Os biótipos de artrópodes
pragas podem ocasionar danos nas cultivares, antes
resistentes, provocando perdas econômicas (Taggar &
Arora, 2017).
Desta forma, para tornar mais lento a seleção de
biótipos, é necessário adotar um programa de
melhoramento que apresenta resistência poligênica,
com amplas bases genéticas, aumentando a durabilidade
de cultivares agrícolas resistentes (Jena & Kim, 2010;
Taggar & Arora, 2017).

64
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Além disso, para o manejo do biótipo, é essencial


um amplo conhecimento sobre a biologia de
artrópodes pragas para implantar programas de
monitoramento para identificar e mapear a ocorrência
desses biótipos em conjunto com pesquisadores de
todos os países, visando estabelecer medidas
adequadas de controle (Navia et al., 2013; Taggar &
Arora, 2017).

5. Resistência das pragas ao controle cultural


Entre os métodos alternativos para o controle de
pragas, um dos mais utilizados na agricultura é o
controle cultural. Esse método auxilia na redução do
uso de agroquímicos na agricultura, contribuindo em
menores custos e sustentabilidade no setor agrícola
(Picanço et al., 2014).
O controle cultural engloba a adoção de práticas
agrícolas que envolvem manipular as condições da
área de cultivo: como eliminação dos restos culturais,
preparação do solo, a rotação de culturas entre outros.
Essas práticas são utilizadas visando desfavorecer o
ataque de insetos-pragas, favorecendo assim o

65
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

crescimento e desenvolvimento da cultura de


interesse econômico (Picanço et al., 2014; Oliveira &
Brighenti, 2018; Marvulli et al., 2019).

5.1. Mecanismos de resistência ao controle cultural


Os insetos pragas possuem hábito alimentar
polífago, que são definidos como organismos que têm
mais de um hospedeiro como alvo (Gassen, 1989;
Picanço et al., 2014). Diante dessa situação, o uso de
táticas culturais como a rotação de culturas e culturas-
isca, por exemplo, se tornam mais restritas. Pois, a
capacidade desses insetos de sobreviver ou refugiar
em outros hospedeiros dificulta o manejo da
resistência (Picanço et al., 2014).
Gould (1991), relatou que algumas espécies de
vaquinhas do milho, Diabrotica spp. (Coleoptera:
Chrysomelidae) desenvolveram resistência
comportamental à rotação de culturas. Estes insetos,
que se alimentam restritamente de raízes de milho,
quando larvas, apresentam resistência à rotação de
milho e soja. Populações de algumas espécies
ampliam a hibernação, como ovo, para dois anos.

66
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Assim, as larvas emergem dos ovos a tempo para o


próximo plantio de milho. Outras evoluem para
depositar os ovos no solo sob plantio de soja (Gould
et al., 2018).
Também há relatos da ocorrência de quebra de
resistência de plantas transgênicas. Clark et al. (2006)
divulgou que o hábito alimentar das larvas de
Diabrotica virgifera virgifera LeConte (Coleoptera:
Chrysomelidae) não se diferenciam significativamente
dos tratamentos resistentes a tal praga e os
suscetíveis.

5.2. Manejo da resistência das pragas ao


controle cultural
O manejo de resistência em relação aos métodos
de controle cultural envolve táticas que não favoreçam
a adaptação dos insetos a fome e condições
fisiológicas de interrupção do crescimento ou
reprodução (Gould, 1991; Krafsur, 1995; Leather et
al., 1995; Guedes & Ribeiro, 2000). Como os insetos
não são estáticos, é preciso observar cuidadosamente
os seus hábitos frente às táticas culturais como

67
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

rotação de cultura, por exemplo (Gould, 1991;


Krafsur, 1995; Guedes & Ribeiro, 2000).

6. Resistência das pragas ao controle biológico


A proteção de plantas com a aplicação de
pesticidas possui características atrativas, pois é uma
técnica simples, previsível, e que requer o
entendimento do agroecossistema para a sua
aplicação (Morandi & Bettiol, 2009).
Entretanto, a sociedade se encontra cada vez
mais preocupada com o impacto da agricultura no
meio ambiente, com isso surge a vertente da
agricultura que se baseia na redução ou não aplicação
de pesticidas. Como alternativa a esse problema, há a
inserção do controle biológico de pragas na
agricultura, que surge como promissor dentro dos
programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP)
(Morandi & Bettiol, 2009; Zambolim & Picanço, 2009).
Porém, como observado com as aplicações de
inseticidas, e para os demais métodos de controle
existentes, as pragas podem adquirir resistência ao
agente de controle biológico. Isso precisa ser

68
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

reconhecido para que seja implementada a melhor


forma de controle das pragas, a fim de obter-se um
bom manejo do agroecossistema (Zambolim &
Picanço, 2009).

6.1. Mecanismos de resistência ao controle


biológico

6.1.1. Seleção e variação genética


A seleção é definida como a mudança temporal
da proporção de indivíduos com diferenças genéticas
e uma ou mais características, não requerendo
mutação ou recombinação. Ela é orientada pela
heterogeneidade espacial e temporal levando a
criação de áreas de biodiversidade, passando a possuir
regiões de seleção forte fazendo com que haja rápida
evolução adaptativa (Thompson et al., 2002). A
variação genética tem-se revelado a forma mais
comum de resistência a inimigos naturais, onde foi
encontrada em sistemas inseto-parasitoide e inseto-
patógeno. Origina-se variações nos alelos dos
indivíduos, fazendo com eles apresentem genética
diferente, e com isso tornam-se indiferentes em

69
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

diferentes níveis ao processo desencadeado pelo


agente de controle biológico (Thompson et al., 2002).

6.1.2. Organismos endossimbiontes


Organismos endossimbiontes defensivos podem
contribuir para o aumento da resistência do organismo
praga (Oliver et al., 2010). É bem elucidado que os
insetos comumente abrigam bactérias que são
transmitidos de forma materna, sendo que esses
simbiontes podem evoluir meios para promover a sua
própria transmissão, sendo o mais abundante o
Wolbachia (Baumann, 2000; Stouthamer et al., 1999;
Werren et al., 2008). A partir do momento que o
simbionte desenvolve a transmissão vertical, a sua
persistência e disseminação passam a se relacionar
com a reprodução do hospedeiro. O simbionte passa a
sofrer o processo de seleção para proteger o seu
hospedeiro garantindo pelo menos a sua reprodução.
Diante disso, provavelmente muitos simbiontes
defensivos hereditários evoluíram de patógenos
transmitidos verticalmente (Oliver et al., 2010). Vale
ressaltar que as populações de parasitoides podem

70
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

possuir variações genéticas capaz de superar a


resistência conferida por simbiontes. Exemplo desta
interação pode ser observado entre parasitoides
(Lysiphlebus fabarum) e hospedeiros de pulgões
(Aphis fabae) que são protegidos pelo endossimbionte
γ-proteobacterium Hamiltonella defens (Rouchet &
Vorburger, 2012; Schmid et al., 2012).

6.1.3. Defesas comportamentais dos insetos


Os insetos passaram a desenvolver um conjunto
de mecanismos visando a proteção contra
entomopatógenos. Dentre essas defesas pode-se citar
a cutícula, que constitui uma barreira estrutural para
manter os patógenos afastados. Os insetos ainda
podem sofrer melanização, reações para evitar
infecção por patógenos não próprios, inibidores de
protease e defesas comportamentais contra
microrganismos (Figura 2.2) (Sinha et al., 2016).

71
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Figura 2.2. Possíveis mecanismos de defesa em


insetos contra entomopatógenos.

6.2. Manejo da resistência das pragas ao


controle biológico
A resistência ao controle biológico não é um
processo rápido como aquele observado no
mecanismo de resistência aos pesticidas, porém pode
ocorrer e comprometer a eficácia do controle biológico
(Hufbauer & Roderick, 2005). A resistência entre os
agentes do controle biológico apresenta a seguinte

72
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

relação: entomopatógenos > parasitóides >


predadores (Holt & Hochberg, 1997).
Diante disso, torna-se de suma importância a
inserção de programas de manejo a fim de minimizar
a resistência ao controle biológico (Holt & Hochberg,
1997). Rotacionar as formas de aplicação de agentes
biológicos é uma estratégia fundamental dentro do
controle de pragas, alternando a utilização de
diferentes microrganismos patogênicos, bem como
inimigos naturais com diferentes formas de causar a
mortalidade da praga alvo (Hufbauer & Roderick,
2005).

7. Considerações finais
A maioria dos agricultores utilizam o controle
químico como método de controle predominante. Com
o avanço do processo de resistência de pragas é
importante conhecer e entender a resistência a
inseticidas e acaricidas para uma implementação
correta do programa de manejo de resistência de
insetos. A partir desse conhecimento é possível
diminuir as espécies que apresentam mecanismos de

73
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

resistência, reduzindo a aplicação de produtos


químicos.
Também é necessário utilizar o manejo integrado
de pragas (MIP), que preconiza a utilização de outros
métodos de controle, como controle biológico, controle
cultural e plantas resistentes, como alternativa ou
para complementar ao controle químico, visando
reduzir a seleção de populações de pragas resistentes.
Porém, a aplicação de outros métodos de controle
deve ser manejada de forma adequada para que seja
eficaz a curto e longo prazo, pois também podem
sofrer com o processo de resistência de pragas.

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82
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

CAPÍTULO 3
Uso de produtos naturais no controle de pragas

Andréa A.S. Oliveira, Mayara M. Picanço, Jeny T.B.


Zuluaga, Paulo W. Alvim, Leandro Bacci, Letícia C.S.
Sant’Ana, Marcelo C. Picanço

1. Introdução
Os produtos naturais utilizados no controle de
pragas são extratos vegetais, ou obtidos por
fermentação ou inimigos naturais. Esses produtos
podem ser usados diretamente no controle de pragas
ou servirem como modelos para síntese de outros
produtos (Machado, 2007; Ruiu, 2018; Van Lenteren
et al., 2018).
Os produtos naturais e seus subprodutos
dominavam a indústria farmacêutica, entretanto isso
não tem acontecido na indústria de pesticidas (David
et al., 2015). Nos últimos anos nos cultivos tem-se
buscado o uso de produtos que possibilitem o controle
das pragas de forma sustentável. Isso ocorre devido a
demanda dos consumidores por consumir alimentos

83
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

produzidos de forma sustentável (Lopes & Lopes,


2011).
Atualmente, esses produtos representam uma
pequena parcela do mercado global total de
defensivos agrícolas. Nesse contexto, os produtos
naturais representam cerca de 5% do mercado de
defensivos agrícolas (Van Lenteren et al., 2020).
Assim, nesse capítulo, será abordado sobre as
vantagens e limitações do uso desses produtos
naturais, a legislação brasileira sobre esse assunto,
tipos de produtos usados no controle de pragas,
formas de uso desses produtos, mercado brasileiro e
mundial e produtos promissores a serem usados no
controle de pragas.

2. Vantagens e limitações
Quando falamos de produtos naturais no controle
de pragas existem vantagens e limitações associadas
ao seu uso. Aqui nesse tópico iremos abordar esse
assunto.

84
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

2.1. Vantagens:
Os produtos naturais usados no controle de
pragas, de forma geral, têm grande compatibilidade
com os inimigos naturais e outros organismos e
geralmente são seguros para polinizadores e
organismos não-alvos. Além disso, os ingredientes
ativos de produtos naturais não contaminam o solo e
os ecossistemas (Moreira et al., 2007ab; Côrrea, et
al., 2011; Xavier et al., 2015; Isman, 2020).
Os inseticidas botânicos, um tipo de produto
natural, apresentam baixa toxicidade ambiental e para
a saúde humana. Por isso, são principalmente usados
contra pragas estruturais (cupins e formigas), pragas
urbanas, parasitos de animais domésticos e pragas em
lugares públicos (como hospitais, supermercados e
restaurantes) (Moreira et al., 2007ab; Isman, 2020).
Outro exemplo de produto natural são os
produtos microbianos que são obtidos a partir de
microrganismos como vírus, bactérias e fungos ou
seus agentes bioativos que atuam no controle de
insetos pragas (Deshayes et al., 2017; Picanço et al.,
2022).

85
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Os agentes microbianos para o controle de pragas


apresentam diversas vantagens, sendo considerado
uma alternativa para controle de pragas com objetivo
de reduzir a utilização de pesticidas químicos,
garantindo a boa produtividade e reduzindo os
potenciais riscos de contaminação do meio ambiente
(Renzi et al., 2019).
Ademais, possuem alta especificidade para
determinada praga e atuam somente sobre o alvo,
apresentando uma menor toxicidade para organismos
não-alvo, além de possibilitar a preservação dos
inimigos naturais e polinizadores. Essa especificidade
não só limita a sua eficácia contra determinadas
espécies de pragas, mas também pode reduzir os
casos de resistência cruzada. Esses produtos
geralmente possuem ação multissítio, dificultando o
surgimento de pragas resistentes, podendo ser
implementados em programas para manejo de
resistência (Xavier et al., 2015; Gabardo et al., 2021;
Ruiu, 2018; Singh et al., 2015).
Além de todas essas vantagens já citadas, o custo
de desenvolvimento de um produto biológico é

86
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

considerado menor quando comparado ao custo para


desenvolvimento de um produto químico. O custo para
o desenvolvimento de um produto químico está na
faixa de 250 mil dólares, enquanto os biológicos
apresentam um custo de 2 a 10 mil dólares,
equivalente a aproximadamente 25 vezes menos
(Starnes et al., 1993; Gabardo et al., 2021; Monnerat
et al., 2020).

2.2. Limitações:
Existem algumas limitações quanto ao uso dos
produtos naturais no controle de pragas.
Os inseticidas botânicos são altamente
susceptíveis à fotodegradação (piretrinas), oxidação
abiótica (azadiractinas) ou perdas através de
volatilização (óleos essenciais) (Isman, 2008; Pavela
& Benelli 2016; Isman, 2020). Dependendo de como
aplicados, podem causar fitotoxicidade em plantas nas
quais eles são utilizados, o que levaria a uma redução
da produtividade. Além disso, existe a necessidade de
aplicações frequentes (Isman, 2008; Côrrea, et al.,
2011; Tomé et al., 2013; Isman, 2020).

87
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Já para os inseticidas microbianos, a principal


limitação no processo de produção dos
microrganismos é a contaminação. Os principais
contaminantes no meio de fermentação sólido são os
fungos oportunistas, Aspergillus spp., Penicillium spp.,
Fusarium spp., Rhizopus spp., Tricoderma spp., e as
bactérias de diversos gêneros. Por outra perspectiva,
os principais contaminantes em fermentação líquida
são bactérias e leveduras. A contaminação é maior na
produção nos meios de fermentação sólida comparado
com a fermentação líquida, por haver menor
manipulação do material e maiores assepsia (Meyer et
al., 2022; Picanço et al., 2022).
Por outro lado, esses produtos em sua maioria
apresentam menor eficácia quando comparado aos
pesticidas químicos, uma vez que a velocidade de ação
dos produtos microbianos, por exemplo, é considerada
lenta, e apresentam baixa ação tóxica por contato, não
causando toxicidade aguda sobre o alvo e
apresentando mínimo ou nenhum efeito residual
(Gelernter & Trumble, 1999; Singh et al., 2015).
Outrossim, as altas temperaturas e a exposição à

88
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

radiação podem causar dessecação (secagem),


reduzindo sua eficiência (Weinzierl et al., 1989).

3. Legislação brasileira para o registro de produtos


O registro de pesticidas no Brasil é realizado por
três órgãos governamentais, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa). A Anvisa é responsável por
avaliar os impactos que esses produtos podem causar
a saúde, determinando os parâmetros toxicológicos e
a exposição a esses produtos. O Ibama avalia as
questões relacionadas ao meio ambiente,
determinando a periculosidade ambiental. E o Mapa
avalia a eficácia agronômica, além de ser responsável
pelo registro que só é concedido após aprovação pelos
3 órgãos (Brasil, 2002; Costa, 2016).
Existe uma dificuldade na regulamentação dos
produtos naturais usados no controle de pragas e é
devido ao seu conceito na legislação brasileira,
segundo a lei no 7.802/1989 (Brasil, 2016). Os

89
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

conceitos e normativas sobre o procedimento de


registro de produtos biológicos são considerados na
Instrução Normativa Conjunta (INC) nº 1 de 23 de
janeiro de 2006, na qual abrange: inimigos naturais,
técnica do inseto estéril e exclui os microbiológicos.
Isso dificulta a regulamentação deles que só podem
ser produzidos, importados, exportados e utilizados no
território nacional se previamente registrados no
órgão federal competente, observando as mesmas
normas para obtenção de registros de pesticidas
(Brasil, 2002; 2006).
Com avanço desses mercados, novas normativas
foram aprovadas em 2006 e houve mudanças no
regulamento. Algumas categorias de produtos de
origem biológica foram alteradas (semioquímicos,
agentes biológicos de controle e agentes
microbiológicos) de controle. Normas que
estabeleceram protocolos diferenciados para cada
uma das categorias e como isso deixa evidente o
avanço na simplificação dos produtos (Brasil, 2002).
No entanto, segundo a agência nacional de
vigilância sanitária (ANVISA), ainda não existe uma

90
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

INC que normatize diferenciadamente o registro de


pesticidas derivados de vegetais. Sendo assim,
somente com uma análise caso a caso pode-se
identificar qual o enquadramento do produto
formulado, se como registro convencional,
semioquímicos ou bioquímico. Ainda é importante a
descrição do modo de aplicação e modo de ação do
produto sobre o alvo biológico (ANVISA, 2020).
Para o registro convencional, devem ser seguidos
os procedimentos previstos no decreto 4074 (ANVISA,
2020). Contudo, caso o registro seja para uso na
agricultura orgânica, devem ser seguidos os passos
descritos pelo decreto 6913 de 23 de julho de 2009 e
a Instrução Normativa Conjunta nº 1 de 24 de maio
de 2011 (ANVISA, 2020). Da mesma forma, se o
produto é tratado como bioquímico, ele pode ser
enquadrado na Instrução Normativa Conjunta nº 32,
de 26 de outubro de 2005 (ANVISA, 2020).
Portanto, para melhor eficiência dos mercados de
produtos biológicos, apesar dos avanços nas
normativas, há necessidade em reduzir custo e tempo
de registro desses produtos (Meyer et al., 2022).

91
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

4. Tipos de produtos naturais

4.1. Produtos botânicos


Muitos produtos naturais têm sido avaliados pela
sua ação biocida contra diferentes organismos praga,
entre estes, os compostos botânicos, principalmente
os compostos majoritários do crisântemo (o piretro) e
da planta de neem (a azadiractina) têm sido utilizados
contra diferentes tipos de pragas em diferentes
culturas. Esses compostos também têm sido fonte de
inspiração para o desenvolvimento de pesticidas tanto
naturais quanto sintéticos e até hoje eles dominam o
mercado de inseticidas botânicos. Porém tem muitos
outros compostos extraídos de diferentes plantas,
animais e microrganismos que são usados contra
pragas daninhas das culturas (Tomé et al., 2013;
Gouvêa et al., 2019, Isman, 2020). Na Tabela 3.1
encontram-se alguns deles.

92
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Tabela 3.1. Produtos naturais com atividade pesticida.


Produto Fonte natural Classe

Piretrina Planta Inseticida

Azadaractina Planta Inseticida

Glufosinato Bactéria Herbicida

Espinosade bactéria Inseticida

Strobilurin Basidiomicetos Fungicida

Limoneno Casca da laranja Inseticida

Fosfontricina Microrganismos Herbicida

Leptospermona Planta Herbicida

Rotenona Planta Inseticida

Sabadilla Planta Inseticida

Nicotina Planta Inseticida

Capsaicina Planta Inseticida

Óleo de tomilho Planta Inseticida

Óleo de alecrim Planta Inseticida

Eugenol Planta Inseticida

Vulgarona b Planta Inseticida

Apiol Planta Inseticida

Cnicin Planta Inseticida

93
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Piperidina Planta Inseticida

Saponina Planta Moluscicida

Antraquinona Planta Algicida

Estrobilurinas Basidiomicetos Fungicida

Cinamaldeído Planta Fungicida

Sampangine Planta Fungicida

Coruscanone a y b Planta Fungicida

4.2. Produtos microbianos

Os produtos naturais usados no controle de


pragas obtidos a partir de microbianos incluem
diversos microrganismos como bactérias, fungos,
vírus e nematóides que atuam contra pragas nos
agroecossistemas (Ruiu, 2018; Van Lenteren et al.,
2018). As bactérias e os fungos são considerados os
grupos com maiores porcentagens de produtos
biológicos utilizados na agricultura (Santos et al.,
2020).
Os produtos obtidos por fermentação estão
diretamente ligados a produtos biológicos já
selecionados para produção em larga escala (Lima et

94
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

al., 2001). Segundo Gusmão (2013) para sua


produção em escala comercial deve-se utilizar
processos fermentativos, pois estes facilitam a
produção e estocagem, no qual, são utilizados
atualmente para a produção de fungos e bactérias.
Os patógenos bacterianos, utilizados no controle
de pragas são pertencentes ao gênero Bacillus. Essas
bactérias geralmente estão presentes nos solos, e a
maioria das cepas de inseticidas foram isoladas a
partir de amostras de solos. (Weinzierl et al., 1989;
Villarreal-Delgado et al., 2018). Elas são responsáveis
sintetizar proteínas em forma de cristais que
apresentam características inseticidas, atuando por
ingestão, sendo amplamente utilizada no controle
biológico de insetos pertencentes às ordens
Lepidoptera, Coleoptera e Diptera (Fira et al., 2018;
Valtierra-de-Luis et al., 2020; Villarreal-Delgado et al.,
2018).
Os fungos entomopatogênicos atuam por contato
e podem agir contra diferentes alvos apresentando
diferentes níveis de especificidade. Inicialmente,
ocorre a germinação dos conídios/esporos, os quais
entram em contato com o tegumento do inseto.
Posteriormente, o fungo penetra no corpo do

95
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

hospedeiro onde o micélio irá se desenvolver


internamente, produzindo diferentes tipos de conídios
ou esporos colonizando o hospedeiro (Ruiu, 2018).
Esses fungos compreendem diversas cepas das
espécies Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana,
Hirsutella, Isaria, Lecanicillium, Paecilomyces e
Verticillium, porém Beauveria e Metarhizium
anisopliae são considerado os principais gêneros de
fungos utilizados como biopesticidas. Beauveria
bassiana foi o primeiro exemplo de controle
microbiano de insetos (Zimmermann, 2007; McKinnon
et al., 2017; Ruiu, 2018).
Os vírus são considerados outro grupo de agentes
microbianos que atuam contra insetos. Eles pertencem
à família Baculoviridae e causam infecção após a sua
ingestão por meio de alimentos contaminados (Clem
& Passarelli, 2013; Williams et al., 2017). Os
baculovírus são ativos contra artrópodes mastigadores
e principalmente contra lagartas (Ruiu, 2018).
Os nematóides, considerados outro grupo de
agentes microbianos, penetram no hospedeiro por
meio das suas aberturas (ânus, espiráculos e cavidade
oral). Steinernematidae e Heterorhabditidae são
consideradas as principais famílias que apresentam

96
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

alto potencial para controlar populações de insetos.


Esses patógenos estão associados as bactérias
endossimbióticas (Xenorhabdus e Photorhabdus), e ao
penetrar no hospedeiro liberam essas bactérias,
causando septicemia e posteriormente a mortalidade
do inseto (Poinar Jr, 1990; Ruiu, 2018; Sandhi et al.,
2020).

4.3. Caldas
As caldas com ação no controle de pragas são
preparadas a partir de substâncias naturais sejam
orgânicas ou inorgânicas. São ótimas alternativas para
o controle de ácaros e insetos praga e de alguns
patógenos associados às culturas (Schwengber, et al.,
2007; Farias et al., 2021). Como descrito na Tabela
3.1, existem vários tipos diferentes de caldas, sua
composição e indicação de uso estão listadas.
Essas caldas apresentam baixa toxicidade e baixo
custo, podem ser feitas para uso doméstico e em
aplicações em grande escala para os cultivos. Algumas
dessas caldas, como por exemplo a calda sulfocálcica,
além de auxiliar no controle de pragas, nutrem as
plantas por possuírem uma variedade de

97
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

micronutrientes. Dessa forma, por serem benéficas ao


metabolismo das plantas elas são conhecidas como
caldas fitoprotetoras (Schwengber, et al., 2007; Farias
et al., 2021).

5. Formas de uso de produtos naturais

5.1. Produção própria


Nos países em desenvolvimento, muitos
agricultores não têm acesso aos produtos comerciais
como inseticidas sintéticos ou biológicos porque são
muito caros ou de difícil acesso (Dougoud, et al.,
2019).

98
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Tabela 3.2. Caldas com ação no controle de pragas.


Nome Composição Indicação
Sulfato de cobre, óxido de
Controle preventivo de doenças
cálcio, sulfato de magnésio,
Calda Viçosa causadas por fungos em pomares e
sulfato de zinco, ácido bórico
hortas e de lesmas e caramujos
e água
Sulfato de cobre, óxido de Controle de insetos minadores,
Calda Bordalesa
cálcio e água cascudinho, cigarrinha verde
Controle de ácaros, insetos
Enxofre, óxido de cálcio e
Calda sulfocálcica minadores, sugadores e algumas
água
doenças fúngicas
Extrato de cravo-de- Controle de ácaros, pulgões,
Cravo-de-defunto e álcool.
defunto cascudinho lagartas e nematoides
Enxofre em pó Enxofre líquido e água ácaro vermelho do café
Controle de pulgões, ácaros,
Calda de fumo percevejos, tripes vaquinhas,
Fumo, álcool, sabão e água.
(Nicotiana tabacum) cochonilhas e grilos em plantas
frutíferas e hortícolas
Controle de pulgões, ácaros e
Calda de pimenta-do- Pimenta-do-reino, alho, cochonilhas em hortaliças (inclusive
reino, alho e sabão álcool, água e sabão solanáceas), frutíferas, cereais, flores
e ornamentais

99
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Para enfrentar as pragas, muitos pequenos


agricultores têm usado preparações caseiras de
inseticidas a base de extratos vegetais, “o
conhecimento empírico sobre o uso de plantas com
potencial inseticida tem passado entre as gerações de
forma verbal nas comunidades rurais” (EMBRAPA,
2015). Preparações de inseticidas botânicos têm sido
recomendados por entidades governamentais e
internacionais em países em desenvolvimento na
África, nas Américas e na Ásia, principalmente aqueles
baseados em Neem (Dougoud et al., 2019).
Porém, alguns inseticidas botânicos usados
empiricamente pelas comunidades rurais são
baseados em plantas indígenas do lugar onde são
usados. Entre as plantas mais usadas para
preparações caseiras estão: Alho (Allium sativum),
neem (Azadiractina indica), pimenta (Capsicum spp.),
erva siam (Chromolaena odorata), mãe do cacau
(Gliricidia sepium), cinamomo (Melia azedarach),
moringa (Moringa oleifera), tabaco (Nicotiana
tabacum), manjericão (Ocimum gratissimum),
tefrósia (Tephrosia vogelii), calêndula de árvore

100
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

(Tithonia diversifolia), folha amarga (Vernonia


amygdalina), jambu (Acmella oleracea), Mentrasto
(Ageratum conyzoides), eucaliptos (Corymbia spp. e
Eucalyptus spp.), Artemísia (Artemisia spp.), patchouli
(Pogostemon cablin). As preparações caseiras de
inseticidas botânicos carecem de base científica, mas
têm sido usadas por muitos séculos e isto suporta a
ideia de baixa toxicidade aos seres humanos (Moreno
et al., 2012; Silva et al., 2016; Dougoud et al, 2019;
Gouvêa et al., 2019; Santos et al., 2022).
Os produtos naturais podem ser produzidos a
partir da multiplicação “on farm” que possibilita ao
produtor produzir o seu próprio insumo biológico, cuja
principal finalidade é diminuir os custos de produção.
Essas reduções dos custos podem chegar a 80% e
90% (Santos et al., 2020). Mas, mesmo com a
produção “on farm” gerando redução de custos,
podem existir diferenças significativas entre esses e os
produtos comerciais, uma vez que é necessário ter um
controle de qualidade a fim de garantir maior vida útil
do produto, menor contaminação, controle de

101
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

multiplicação e entre outros (Emerson & Mikunthan,


2015; Gabardo et al., 2021).

5.2. Produtos comerciais


De acordo com o AGROFIT/MAPA, existem
aproximadamente 346 produtos naturais registrados
no Brasil. Na Tabela 3.2, estão listados algumas
dessas marcas comerciais utilizadas no controle de
pragas e doenças (Brasil, 2022). Já na Tabela 3.3,
estão listados alguns dos produtos naturais utilizados
para controle de pragas em outros países (Isman,
2020).

5.3. Modelos para a síntese de novos produtos


Os Produtos naturais têm sido utilizados como
inseticidas e são a principal fonte de inspiração para o
desenvolvimento de novos produtos inseticidas
sintéticos ou semissintéticos (Gerwicks & Sparks,
2014). O exemplo mais conhecido é o piretro extraído
da planta de crisântemo (Tanacetum cinerariifolium).
Os principais produtos desenvolvidos a partir de
compostos naturais são citados na Tabela 3.5.

102
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Tabela 3.3. Produtos naturais comerciais registrados no Brasil.


Ingrediente Produtos comerciais Classe de uso
ativo
Azamax, Azact CE, Bioexos, BTP 300-21,
Inseticida e/ou
Azadiractina BTP 400-21, DalNeem EC, Ecokiller,
Fungicida
Fitoneem,
Dipel, Fx Protection, Aveo EZ, Boneville, Inseticidas e/ou
Bacillus Duravel, Amitrix SC, Bactel, BioBac-t, Onix fungicidas e/ou
OG, Rizos OG. Nematicidas
Arcar, Arizium, Aradya, Biometa, Detroit,
Metarhizium Excellence Rugger, Metaip, Metatec, Inseticida
Optimun.
Auin, Atrevido, Bio Conductor, Bometil,
Inseticida e/ou
Beauveria Bovemip, Boveril Plus, Corvair, Ecobass,
Acaricida
Granada, Vestix.
Baculovirus AEE, Chrysogen, Diplomata K,
Baculovirus Grap Baculovirus, Helicovex, Verpavex, Inseticida
VirControl H.A, Virumix WP, Owner.
Biagro Solo, Bioatria, Gladiador, GNC 006-
Trichoderma 3, Habitat, Trianum DS, Trianum WG, Fungicida
Tricovab, Trichodermaiz WP, Tritter.

103
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Tabela 3.4. Produtos botânicos comerciais registrados em outros países


Ingrediente ativo Marca comercial Países
Alho EcoA-Z, AjoNey, Garlic Barrier Estados Unidos, Colômbia e
México
Annona squamosa e Annona AnosomR Índia
reticulata
Azadiractina AZA-Direct R, Azera TM, Molt-X, Neemix 4.5, Estados Unidos, Índia,
Azatin XL, Fortune Aza 3%EC, Margosan-O, Alemanha e Austrália
Shubhdeep NeemOil, NeemAzal TS
Capsaicina Hot Pepper Wax Estados Unidos
Chenopodium ambrosoides RequiemR América do Norte
Limoneno PreVam, Demize RC África do Sul, Estados Unidos
e na União Europeia
Nicotina 10% Nicotine AS, Nicotine smoke generator Estados Unidos e China
Óleo de alecrim, óleo de EcotrolTM Estados Unidos e América
hortelã-pimenta e Geraniol
Óleo de Citronela Buzz Away Insect Repellent Estados Unidos
Oleoresina de Capsicum e óleo CaptivaR Colômbia
de alho
Óleo de Nim Neem oil tga,i, Neem Oil Insecticidal Soap Estados Unidos, Índia e
Concentrate, Dyna-Gro Neem Oil Austrália
Óleo de Thymus vulgaris EcoVia WD Estados Unidos
Óleo essencial de orégano By-O-reg Estados Unidos
Piretrina Ecozone Pyrethrum Insect Powder, PyGanic EC -
Liquid Pyrethrum, Beskill pyrene oil concentrate Estados Unidos
Rotenona 5% Rotenone Dust, 5% Rotenone ME, Agway Estados Unidos, China
Rotenona dust
Sabadilla Veratran DR Estados Unidos

104
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

6. Mercado brasileiro e mundial


O Brasil está entre os cinco maiores países
produtores agrícolas, e o uso da terra para a realização
de práticas agrícolas aumentou significativamente nos
últimos anos. Com isso, houve uma crescente
demanda na utilização de pesticidas, o que se tornou
uma complicação (Dias et al., 2016; Pignati et al.,
2017).
Os produtos naturais podem exercer um papel
de grande relevância na proteção de cultivos e na
economia baseada na agricultura. Além disso, o
Ministério da Agricultura promove o uso de produtos
naturais para o controle de pragas, principalmente
aqueles à base de crisântemo e neem (Isman, 2020).

105
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Tabela 3.5. Produtos desenvolvidos a partir de produtos naturais modelo


Produto natural Fonte Produto Classe Mecanismo de ação
Fisostigmina Planta Propoxur Carbamatos Acetilcolinesterase
Acetilcolina Animal Aldicarb Carbamatos Acetilcolinesterase
Canal de cloreto fechado com
Picrotroxinina Planta Chlordane e Fipronil Ciclodieno e Fiproles
GABA
Pyrethrum e Piretrinas e
Piretro Planta Canais de sódio
Cypermethrin piretroides
Imidacloprid e Neonicotinoides e
Nicotina Planta Receptor nicotínico de acetilcolina
Nicotina nicotina
Stemofoline Planta Flupiradifurona Butenolídeos Receptor nicotínico de acetilcolina
Spinosad e
Spinosad Microorganismo Espinosinas Receptor nicotínico de acetilcolina
Spinetoram
Abamectin e Canal de cloreto fechado com
Abamectina Microorganismo Avermectinas
Emamectin benz GABA
Milbemctin - Canal de cloreto fechado com
Milbemctina Microorganismo Milbemicinas
lepimectin GABA
Hormonio do Imita hormônio
Hormonio juvenil Pyriproxyfen Sistema hormonal do inseto
inseto juvenil
Bacillus thuringiensis
Microorganismo Bt-based Bt Sistema digestivo do inseto
(Bt)
Dioxipirrolomicina Microorganismo Chlorfenapyr Desacopladores Interrompe a fosforilação oxidativa
Análogos da
Nereistoxina Animal marinho Cartap Receptor nicotínico de acetilcolina
nereistoxina
Complexo III de transporte de
Beta-metoxiacrilatos Planta Fluacrypyrim Acaricidas
elétrons mitocondrial
Piripiropeno a Microorganismo Afidopyropen Piripenos
Ryana Planta Ryana Ryana Canais de cálcio
Azadiractina Planta Azadirachtin Azadiractinas Interrompe a síntese de quitina
Sabadilla Planta Sabadilla Sabadilla Canais de sodio

106
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Assim, a demanda na utilização de produtos


biológicos para o controle de pragas e doenças vem
aumentando cada vez mais, devido a preocupações
ambientais e o consumo de alimentos sem resíduos
deixados por pesticidas sintéticos. Com a necessidade
de produção de alimentos mais saudáveis, o mercado
Europeu estabeleceu protocolos que procuram
melhorar a segurança alimentar do consumidor. O
Brasil já busca meios para um sistema de produção
mais sustentável com a utilização do controle
biológico, sendo esse uma ferramenta indispensável
(Canhos, 2001).
Nesse sentido, no Brasil dispõe de 252 produtos
registrados na classe de inseticidas microbianos
(Agrofit, 2022). Dentre esses produtos registrados,
para a produção em massa é utilizada a fermentação,
sendo os principais princípios ativos as bactérias e
fungos, dentre as bactérias estão Bacillus
thuringiensis e B. amyloliquefaciens. Já entre os
fungos estão Beauveria bassiana, Metarhizium
anisophiae e Isaria fomosorosea (Agrofit, 2022). Já
em relação aos produtos botânicos registrados, esse

107
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

número não é tão expressivo quanto aos produtos


microbianos, sendo 8 produtos que possuem como
ingrediente ativo a Azadiractina (Agrofit, 2022).
O mercado mundial de inseticidas botânicos tem
enfrentado muitas restrições regulatórias tanto em
países industrializados quanto em países em
desenvolvimento (Dougoud et al., 2019). A piretrina e
a azadiractina são os dois compostos naturais mais
produzidos no nível mundial para elaboração de
inseticidas botânicos (Isman, 2020). No século XX o
90% da produção mundial de piretro foi dominada pela
África do Sul, mas devido a condições de instabilidade
política e econômica, o mercado foi aberto e
aproveitado por outros países como Austrália e a
Tasmânia, este último se converteu no maior produtor
de piretro do mundo por volta do ano 2009 (Isman,
2020).
A descoberta do papel da azadiractina no
processo de muda dos insetos, gerou uma grande
onda de conferências, livros e trabalhos de pesquisa
que ajudaram a desenvolver vários produtos à base de
este composto (Campos et al., 2019; Isman, 2020;

108
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Samada & Tambunan, 2020). Só nos Estados Unidos


foi utilizado em grande escala o óleo clarificado de
neem que alcançou os 90.000 kg de produção nos
últimos anos (Isman, 2020). Logo depois, este
mercado foi deslocado por um crescente interesse na
investigação dos óleos essenciais com potencial
inseticida. Como resultado destas investigações, tem
desenvolvido vários inseticidas botânicos baseados em
óleos essenciais à base de plantas como alecrim, alho,
pimenta, laranja, orégano entre outras (Tabela 3.4).
O mercado mundial de bioinseticidas é baixo,
apresenta apenas 5% do volume de defensivos
agrícolas, comparado com inseticidas e acaricidas
químicos que correspondem a 30% dos defensivos
comercializados (Van Lenteren et al., 2019). Já
produtos de natureza fúngica correspondem
aproximadamente 15% do mercado mundial de
bioinseticidas (Batista filho & Almeida, 2001).
Portanto, nos últimos anos o mercado mundial tem
elevação nos registros de produtos biológicos,
crescendo cinco vezes mais que as indústrias de
pesticidas organossintéticos (Canhos, 2001).

109
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

O primeiro inseticida microbiano foi registrado


há mais de 70 anos nos Estados Unidos, e teve como
ingrediente ativo o Bacillus thuringiensis (Ramos,
2008). Atualmente, esses produtos vêm se tornando
melhores e as restrições na utilização de pesticidas
químicos faz com que haja uma alta demanda por
esses produtos (Marrone, 2019).
Nesse sentido, os inseticidas microbianos podem
exercer uma função muito importante na proteção de
cultivos na economia baseada na agricultura do
mundo. Na China, por exemplo, há mais de 300
inseticidas microbianos registrados e esses exercem
um papel de grande relevância no manejo de pragas.
Uma vez que os biopesticidas e área de aplicação,
equivalem a 12% e 9,5% respectivamente, da
produção total (Huang et al., 2007). Já nos Estados
Unidos, há 356 ingredientes ativos de biopesticidas
registrados, dentre esses 57 são espécies de
microrganismos ou seus derivados. A região norte-
americana é responsável pela maior parte do mercado
de inseticidas microbianos com 539 milhões de
dólares. E na Índia, há aproximadamente 15 espécies

110
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

microbianas e 970 formulações microbianas


registradas através do Conselho Central de Inseticidas
e Comitê de Registro (CIBRC).
No Brasil o valor comercializado no mercado de
produtos químicos agrícolas é de 9,6 bilhões de reais,
sendo que os produtos biológicos correspondem entre
1 e 2%. No entanto, a produção de produtos biológicos
vem aumentando e as expectativas são promitentes.
Recentemente, em 2021, o crescimento do mercado
de produtos biológicos no Brasil foi de 42% no ano,
comparado com o crescimento global de 16% (IHS
Markit, 2021). A expectativa é que em 2030 a venda
de produtos biológicos alcance 16,9 bilhões de reais,
considerando uma taxa de crescimento cumulativo em
2025 de 35 % e em 2030 de 25% (IHS Markit, 2021).

7. Produtos naturais promissores


Os produtos naturais usados no controle de
pragas vêm avançando na sua introdução no mercado
e na competição com os inseticidas químicos, porém
ainda enfrentam grandes desafios, entre os quais
estão o aprimoramento da produção em larga escala

111
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

e a manutenção de seu espectro de atuação (Gerwick


& Sparks, 2014). Além dessas questões, existe
também uma necessidade de educar os agricultores
quanto aos métodos alternativos de controle que estão
disponíveis. (Isman, 2020).
O aumento na produção e consumo mundial de
alimentos é inevitável considerando que o cenário
futuro exigirá melhores tecnologias para aumento de
produção, levando em consideração, ao mesmo
tempo, a redução de impactos sobre os recursos
naturais e a produção de produtos agrícolas sem
resíduos químicos.
Atualmente, há aproximadamente 3000
microrganismos que são responsáveis por causarem
infecções em insetos. Entretanto, faz-se necessário
conduzir mais pesquisas para descobertas de outros
microrganismos que podem ser utilizados no manejo
de insetos pragas. Mais de 100 bactérias já foram
identificadas como patógenos de insetos, entre os
quais o Bacillus thuringiensis Berliner (Bt) foi
considerada a mais relevante como agente de
controle. Foram também isolados aproximadamente

112
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

1000 vírus, mais de 800 espécies de fungos


entomopatogênicos e 1000 espécies de protozoários
patogênicos já foram descritas e identificadas
(Canhos, 2001).
Com essas perspectivas, muitas empresas
produtoras de produtos biológicos terão que ampliar
suas produções, assim estão desenvolvendo e
melhorando os equipamentos para sistemas
autônomos e biorreatores e fertilizantes maiores de 2
mil litros. A prioridade para obtenção de novos
produtos está na pesquisa e desenvolvimento para
identificação e triagem de fungos, bactérias e vírus
(Canhos, 2001).

9. Considerações finais
A tendência do mercado consumidor está voltada
para alimentos livres de produtos químicos que
prejudicam a saúde do homem e o meio ambiente,
com isso, os estudos mostram um futuro brilhante do
controle biológico no Brasil.
Os produtos naturais trazem vantagens por
diminuir o uso pesticidas organossintéticos e

113
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

consequentemente causar menor impacto às


populações de organismos não-alvo como os inimigos
naturais e polinizadores, além destes produtos terem
menor toxicidade ao homem.
Portanto, com a crescente demanda por produtos
para controle de pragas gera a necessidade de
melhorias na normalização legislativa com menor
burocratização para o registro desses produtos e a
realização de estudos relacionados a produtos naturais
para suprirem o tempo de prateleira e a
suscetibilidade a degradação ambiental dos produtos
de origem biológica.

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

CAPÍTULO 4
Uso de inteligência artificial em programas de
manejo integrado de pragas

Jhersyka S. Paes, Daniela S. M. Silva, Lorrana F. O.


Almeida, Letícia C. S. Sant’Ana, Marcelo C. Picanço

1. Introdução

A inteligência artificial (IA) é uma ciência recente


e abrange uma grande variedade de subáreas, desde
aquelas utilizadas na realização de tarefas gerais até
as que realizam tarefas mais específicas. Sua atuação
se dá principalmente na sistematização e
automatização de tarefas intelectuais, sendo,
portanto, potencialmente relevante para qualquer
esfera de atividade intelectual humana (Russell,
2010).
A agricultura é um exemplo de campo do
conhecimento onde se começou a implementar tarefas
realizadas por IA. Neste capítulo, enfatiza-se o uso
dessa ciência no controle de pragas associado ao
manejo integrado. O manejo integrado de pragas
(MIP) visa a sustentabilidade econômica, ambiental e

124
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

social no controle de pragas. Detectar, manejar e gerir


a propagação e a disseminação de pragas é, também,
um dos aspectos cruciais de uma produção agrícola
eficiente, considerando que as pragas representam
grandes ameaças e causam perdas de mil milhões de
dólares por ano na agricultura mundial (LI & Du, 2017;
Charania & Li, 2020).
Por estar incorporada em diferentes dimensões da
sustentabilidade (p. ex: social, econômica, individual,
técnica e ambiental), o uso de tecnologias emergentes
de IA podem melhorar o uso, implementação e a
eficiência dos componentes de MIP (Goedde et al.,
2020), sobretudo no diagnóstico e avaliação de
agroecossistemas, auxiliando na tomada de decisões
e na definição das melhores estratégias de controle
(Lin et al., 2017).
Os diagnósticos gerados por IA que auxiliam nas
decisões em campo são baseados em conjuntos de
dados memorizados de experiências passadas e dados
estatísticos, a partir da lógica digital e binária de
computadores, que são computados principalmente
por meio de sistemas especialistas, robótica, sistemas
visuais, aprendizagem de máquinas, planejamento e
logística (Alreshidi, 2019).

125
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Os avanços tecnológicos no campo da IA


proporcionam diversas possibilidades e benefícios
diretos aos programas de MIP e à agricultura. No
entanto, essas inovações evoluem de forma gradativa
e são desconhecidas pela maioria do público de
interesse, necessitando maior visibilidade para efetiva
implementação.
Este capítulo traz informações atualizadas e
confiáveis sobre o uso de IA em programas de MIP,
abordando desde princípios básicos, aplicações,
avanços e os desafios a serem superados, buscando
atender estudantes, profissionais e produtores.

2. Programas de manejo integrado de pragas


São programas com a filosofia de controle de
pragas agrícolas, que procura preservar e incrementar
os fatores de mortalidade natural, através do uso
integrado dos métodos de controle selecionados com
base em parâmetros econômicos, ecológicos e
sociológicos.

2.1. Componentes dos programas de MIP


Os programas de MIP são desenvolvidos
especificamente para o organismo praga e a espécie

126
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

vegetal hospedeira, e são compostos por três


componentes: i) avaliação do agroecossistema (ou
diagnose); ii) sistemas de tomada de decisão e; iii)
métodos (táticas e estratégias) de controle (Pedigo et
al., 2021; Picanço et al., 2014).
O componente i, ou diagnose, visa identificar os
organismos pragas, fatores favoráveis ao seu ataque,
bem como determinar os pontos críticos de seu
controle. Por meio dele, é possível conhecer aspectos
da bioecologia, comportamento e características do
organismo praga, sendo a base para o início de um
programa de MIP eficiente.
O componente ii compreende os sistemas de
tomada de decisão, os quais são compostos por planos
de amostragem e índice de tomada de decisão. Planos
de amostragem referem-se ao planejamento
detalhado das avaliações nas plantas em campo
(como e quando), de forma representativa, precisa e
eficiente. Por meio desses planos, são determinadas
as densidades de pragas e inimigos naturais, em
seguida essas densidades são comparadas a um índice
limiar que auxilia na tomada de decisão. Esse índice

127
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

de tomada de decisão nos programas de MIP


determina se a densidade da praga é baixa ou alta e
se há necessidade de controle, evitando possíveis
danos econômicos.
O componente iii, ou métodos de controle, pode ser
preventivo ou curativo. Os métodos preventivos visam
otimizar a mortalidade natural da praga, utilizando
táticas como o controle cultural, uso de resistência de
plantas e o controle biológico conservador. Por outro
lado, os métodos curativos são dependentes da
densidade da praga, e caracterizam-se pelo uso do
controle artificial, aplicado quando a população da
praga é considerada alta, ou seja, igual ou maior que
o índice de tomada de decisão. Essas estratégias de
controle são selecionadas com base em critérios
técnicos, ecotoxicológicos, econômicos e sociais.

3. Uso de inteligência artificial em programas de MIP


A Inteligência Artificial (IA) é um campo da
ciência da computação que visa habilitar sistemas para
realizarem tarefas emulando a mente humana e
viabilizando aprendizado, raciocínio e tomada de

128
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

decisões. Essa habilitação se dá por meio de diferentes


sistemas de inteligência, com diferentes finalidades.

3.1. Sistemas de inteligência artificial


Como mencionado anteriormente, a IA facilita a
automatização de tarefas por meio de diferentes
sistemas de inteligência. Nessa gama estão inseridos
os sistemas especialistas, sistemas visuais, robótica,
machine learning e data Science (Figura 4.1). Cada
um desses sistemas apresenta características e
funções distintas. O sistema especialista, por exemplo,
é uma área da IA capaz de apresentar conclusões e
resultados, desde que previamente orientado por
lógica e alimentado com informações. São sistemas
projetados com base em conhecimentos específicos e
regras (Barone, 2003).

129
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Figura 4.1. Esquema dos principais sistemas de


inteligência artifical.

Já os sistemas visuais envolvem captação,


armazenagem e manipulação de imagens visuais. São
compostos por softwares e hardwares, como câmeras,
sensores e dispositivos de armazenamento. Suas
principais utilizações focam na identificação de
padrões visuais, classificação desses padrões e
conclusões (Stairs & Reynolds, 2006).

130
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

No campo da robótica, as atividades são


exercidas por agentes físicos (robôs), atuando
diretamente na execução de tarefas de manipulação.
Para realização dessas tarefas, os robôs são equipados
com estruturas de articulações, garras, braços,
estruturas de locomoção, rodas, pernas, asas e
sensores (Russell & Norvig, 2004). As aeronaves
remotamente pilotadas (RPA’s) são um exemplo
clássico do sistema robótico, principalmente por
realizarem navegação autônoma (sem tripulação),
sendo classificadas como robôs móveis.
Em todos esses sistemas, um dos fatores
preponderantes para a tomada de decisões é a
quantidade e qualidade de dados coletados pela IA.
Esses dados são obtidos por meio de avaliações ou
sensores (e.g. sensores no solo, drones e satélites), e
são convertidos em informações úteis e valiosas para
o agricultor e a gestão de produção. Nesse sentido, a
IA vai se aperfeiçoando à medida que há melhorias no
big data ao longo do tempo, isto é, na quantidade de
dados recolhida. Essas melhorias ocorrem comumente
por meio dos feedbacks dos usuários. Vale ressaltar

131
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

que o aperfeiçoamento na capacidade de analisar


grandes volumes de informação, permite a IA prever
padrões e inferir.
Essa previsão é possível graças à capacidade dos
computadores de tomarem as melhores decisões
baseadas em dados memorizados de experiências
passadas e dados estatísticos (Russell & Norvig,
2010). Essa capacidade de aprendizado das máquinas
configura um subdomínio da IA, conhecido por
machine learning (ML), ou simplesmente “aprendizado
de máquinas”. Esse aprendizado pode ocorrer por três
vias distintas: i) aprendizado supervisionado; ii)
aprendizado não supervisionado e; iii) aprendizado
por reforço.
A primeira via de aprendizado, ou aprendizado
supervisionado, ocorre quando o modelo recebe um
conjunto de dados de entradas com as respectivas
saídas. Ou seja, o modelo recebe as respostas reais
para ser treinado e testado por meio de modelos de
regressão e de classificação utilizando ferramentas de
algoritmos (Figura 4.2).

132
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Figura 4.2. Algoritmos para modelos de regressão e


classificação utilizando aprendizado supervisionado.

Na segunda via de aprendizado, ou aprendizado


não-supervisionado, o modelo não recebe as saídas
dos dados; os dados não têm os rótulos ou
categorização prévia. Assim, neste tipo de modelo o
conjunto de dados é dividido em grupos (clusters) com
o uso de algoritmos (Figura 4.3).
Na terceira via de aprendizado, ou aprendizado
por reforço, os modelos são treinados para tomarem
uma sequência de decisões em um ambiente incerto,
desconhecido e complexo. Os agentes do modelo
possuem estado inicial e tomam as decisões e

133
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

executam as ações (Goodfellow et al., 2016). No


entanto, a partir da ação realizada, é recompensado
ou penalizado de acordo com o acerto ou erro. Esse
retorno modifica o estado do agente, gerando um novo
estado para o agente (Figura 4.4), alterando a tomada
de decisão para a próxima ação.

Figura 4.3. Algoritmos para agrupamento utilizando


aprendizado não-supervisionado.

Figura 4.4. Esquema do aprendizado por reforço.

134
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

3.2. Principais usos

3.2.1. Uso em estudos de bioecologia de insetos


No âmbito da Entomologia, a bioecologia é uma
área que abrange aspectos das inter-relações entre as
plantas, os insetos e seus ambientes naturais. Neste
sentido, é natural que tais relações tão importantes no
campo do Manejo Integrado de Pragas tenham
conexão com tecnologias como o uso de IA. Nesse
sentido, a aplicabilidade da IA se dá em diversos
campos aplicados da Entomologia.
A busca por tecnologias que procuram registrar
a atividade alimentar dos insetos (Brown, 1976) por
determinadas plantas e possíveis inoculações de
patógenos está a muito tempo sendo alvo de diversas
pesquisas. Nesse sentido, McLean et al. (1964) em
seus estudos pioneiros, buscou obter técnicas para
registrar eletronicamente algumas fases da
alimentação e salivação de pulgões dentro de uma
planta ou outros substratos eletricamente condutores.

135
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Tecnologias que buscam usar algoritmos que


permitam a máquinas aprenderem já fazem parte do
contexto científico atual com aplicabilidade direta no
campo. Por exemplo, em casos onde o hábito
alimentar de insetos está associado a transmissão de
patógenos às plantas hospedeiras, é possível com o
uso de algoritmos que a máquina aprenda os padrões
de alimentação de insetos e descubra mecanismos que
levam à interrupção da transmissão de patógenos
(Willett et al., 2016).
Neste contexto, as interações das espécies são
críticas para o funcionamento dos ecossistemas e
mensurar essas interações é um desafio. Atualmente,
o monitoramento baseado em imagens de alta
resolução temporal da interação entre os organismos
e seus recursos pode permitir uma quantificação das
interações entre espécies (Høye et al., 2021).

3.2.2. Uso em programas de MIP


A geração de informações e a integração dos
dispositivos de comunicação aumentaram
progressivamente nas últimas décadas de forma que

136
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

ferramentas como a Inteligência Artificial se conectam


ao dia-a-dia da população. Questões como atividades
primárias de produção, processamento de produtos ou
varejo direcionam as escolhas dos consumidores, que
buscam estilo de vida saudável e que se correlacione
com avanços tecnológicos aplicados na produção dos
alimentos (Misra et al., 2020). Neste sentido, o uso de
ferramentas da Inteligência artificial tem se destacado
no campo da agricultura, uma vez que este setor
enfrenta grandes desafios relacionados à maximização
da produção de forma sustentável e a redução de
custos. Essa ferramenta e sua implementação no
campo trazem benefícios como flexibilidade, alto
desempenho, precisão e custo-benefício (Eli-Chukwu,
2019).
Os insetos são o maior e mais diversificado grupo
de animais conhecidos com milhares de espécies
descritas, onde estimativas indicam que esses
organismos possuem mais que o dobro do número de
todos os outros organismos vivos combinados
(Altincicek et al., 2008). No entanto, o monitoramento
desses organismos é complexo, pois os métodos

137
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

atuais são trabalhosos e em muitos casos ineficientes.


Neste contexto, devemos considerar a presença e
papel dos insetos nas culturas, uma vez que esses
organismos são os animais mais abundantes do
planeta e são de extrema importância como pragas ou
como inimigos naturais. No entanto, populações de
insetos são difíceis de estudar, e a maioria dos
métodos de monitoramento são trabalhosos e quando
aplicados de forma errônea, são ineficientes. Os
avanços em Inteligência Artificial fornecem novas
soluções potenciais para esse desafio global. Câmeras
e outros sensores podem realizar observações
entomológicas de forma eficaz, contínua e não
invasiva ao longo dos ciclos diurnos e sazonais (Høye
et al., 2021) e muitas informações podem ser obtidas
a partir do uso dessa ferramenta.
Atualmente os avanços na IA permitem aos
pesquisadores utilizarem diversas ferramentas como
as redes neurais, aprendizado profundo, uso de
sensores, radares na detecção e classificação
automática de insetos a partir de vídeos e imagens em

138
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

tempo real (Raibagi et al., 2021) no estudo de


diversos temas no campo da entomologia.

3.2.2.1. Uso na identificação insetos


Insetos considerados pragas agrícolas são
responsáveis por perdas na ordem de 20 a 40% da
produção mundial anualmente. Neste sentido, opções
de técnicas como a Inteligência Artificial na
determinação de pragas automaticamente auxiliam os
produtores a reduzir suas perdas e
consequentemente, a aumentar a produtividade de
suas culturas (Karar et al., 2021). A detecção de
organismos pragas em culturas é realizado por meio
de coletas de informações diretas e indiretas, sendo
esta última com o uso de armadilhas no campo. Após
a coleta, especialistas realizaram a classificação e
contagem para estimar os níveis de infestação, sendo
esses dados trabalhosos e propensos a erros. Hoje, a
agricultura de precisão é utilizada na detecção de
pragas nas lavouras para que ações em tempo real
possam ser tomadas ou decisões otimizadas com base
nas informações precisas de momento e localização da

139
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

praga em tempo real (Liu et al., 2021). Neste sentido,


nos últimos anos, muitas pesquisas têm sido
realizadas no âmbito da detecção de pragas agrícolas
a partir do reconhecimento baseado em tecnologia de
processamento de imagem com precisão superior a
80% (Deng et al., 2018).
A partir das imagens dos espécimes e o
desenvolvimento de algoritmos, é possível usar esses
dados para o treinamento e criação de modelos que
possam fornecer informações referentes a estimativas
de abundância, biomassa e diversidade de insetos.
Esses modelos também podem quantificar a variação
nas características fenotípicas dos espécimes, seus
comportamentos e interações (Høye et al., 2021). O
reconhecimento e a detecção de pragas de insetos são
vitais para a segurança alimentar, economia agrícola
estável e qualidade de vida (Deng et al., 2018).

3.2.2.2. Uso na tomada de decisão de controle


As pragas agrícolas exercem grande
importância, por causarem danos diretos e indiretos
às culturas de interesse econômico, podendo chegar a

140
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

uma redução de 7,7% da produtividade nas principais


culturas, mesmo fazendo o controle da praga (Oliveira
et al., 2014). Diversos são os tipos de controle, porém,
o mais utilizado, é o controle químico, que são
utilizados de forma demasiada, aumentando os custos
de produção, prejudicando o meio ambiente, gerando
riscos à fauna e à flora, além da saúde humana. Além
desses riscos, as pragas acabam criando resistência
aos produtos químicos, dificultando ainda mais o seu
controle. Dessa forma, o manejo integrado de pragas
se torna indispensável, buscando reduzir os impactos
ambientais, além de tornar o controle mais eficiente.
O MIP é composto por diagnose, tomada de decisão e
controle. A inteligência artificial tem se mostrado
bastante promissora no auxílio da tomada de decisão,
utilizando-se das técnicas de sensoriamento remoto
na amostragem das pragas nos campos de cultivo.

3.2.2.3. Uso nos planos de amostragem

A inteligência artificial tem se mostrado bem


promissora no auxílio da amostragem, ou seja, na
contabilização da praga no campo, para que seja

141
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

tomada a decisão de controle ou não controle,


utilizando os índices de tomada de decisão.
Dentro da inteligência artificial, podemos utilizá-
la de diferentes formas, para a amostragem das
pragas nos campos de cultivos, como o uso de
armadilhas contendo sensores, para contabilizar os
insetos pragas presentes na área, e comparar com o
nível de dano econômico. Essa tecnologia funciona a
partir de feromônios espalhados por todo cultivo, que
atrai a praga para as armadilhas, que apresentam
sensores, conectados a equipamentos eletrônicos,
como tablets e smartphones, que captam os dados e
enviam por meio da internet, para uma central, onde
os dados analisados, e imagens são processadas,
possibilitando a contagem dos insetos (Tunes et al.,
2018). A partir da contabilização dos insetos, nos
talhões homogêneos, pode-se fazer a recomendação
de controle e qual o melhor método, ou de não
controle da área demarcada.
Nesse mesmo sentido de utilização de mapas,
para a identificação das pragas, o uso de segmentação
de imagens, também são utilizados na inteligência
artificial, usando mapas de saliência, para a
identificação de características essenciais para a

142
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

identificação de Helicoverpa armigera em campos de


cultivo. Esse sistema é baseado em energia das
imagens capturadas, consideradas como vetores de
características (Kandalkar et al., 2014). Para a
transformação das características das imagens, como
por exemplo, cor, forma e textura em vetores para a
identificação da praga, é utilizado transformada
wavelet discreta (DWT), usada para essa análise de
sinais digitais.
Outro método utilizando a inteligência artificial
na amostragem de insetos pragas, está relacionado
com a geração de imagens para a amostragem do
percevejo marrom na cultura da soja. Os percevejos
são responsáveis por causar danos irreversíveis em
cultivos de soja. A metodologia para a identificação
desse inseto em campo, é o pano de batida (Corrêa-
Ferreira, 2012), porém, necessita da entrada de
profissionais nas áreas, para a realização da
amostragem, e dependendo do tamanho da área,
necessita de uma quantidade ideal de pontos, para
que a amostragem seja feita em área total, de maneira
representativa. Para facilitar o cotidiano dos
produtores rurais, nessa etapa, imagens dos pontos
de amostragem são coletadas utilizando drones com

143
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

câmera digital. Essas imagens são encaminhadas para


uma rede computacional para que os insetos sejam
reconhecidos e contabilizados, utilizando-se da
saturação e contraste, obtendo um resultado de forma
rápida e eficiente (Souza et al., 2020).
O uso de sistemas baseados em regras pré
estabelecidas, são utilizados para a amostragem de
mosca branca, dentre outros insetos pragas, baseados
em regras alimentadas por sensores de umidade, de
temperatura, e umidade das folhas, para o diagnóstico
das pragas, partindo do princípio de domínio do estudo
da praga, pesquisas e observações em campo
(Shahzadi et al., 2016).
Os índices de regressão linear, também são vias
da inteligência artificial, para a amostragem de
pragas. Esse sistema foi utilizado para a identificação
do ataque de cochonilha na cultura do algodão, de
forma a mapear os locais com danos da praga nas
folhas, usando os índices de sensoriamento remoto,
por meio de satélites. Foram utilizadas imagens de
satélite Landsat TM5, apresentando bandas espectrais
no infravermelho, NIR e RGB. Para isso, a regressão
linear múltipla foi necessária, para a análise dos
dados, comparando o índice de vegetação espectral,

144
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

com o índice de severidade, ou seja, o quanto a praga


causou danos da cultura, apresentando boa correlação
(Singh et al., 2016).

3.2.2.4. Uso no controle de pragas


A população mundial está crescendo em um ritmo
acelerado e estima-se que até 2050 possa chegar a 10
bilhões (Krishna et al., 2017; Campos et al., 2019).
Esse crescimento gera grande pressão nos recursos
naturais, principalmente na agricultura, onde haverá
maior demanda na produção de alimentos (Tomar &
Kaur, 2021). De acordo com essas estimativas,
espera-se que haja um incremento na produção global
de alimentos entre 60% e 110% (Rockstrom et al.,
2017).
Para atingir esses números, é preciso mitigar um
dos principais problemas enfrentados pelo ambiente
agrícola: os insetos pragas que, segundo a
Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO), geram perdas na ordem de 20 a
40% na produção agrícola global a cada ano, gerando
um custo anual de US$ 220 bilhões (FAO, 2020).
Portanto, o aprimoramento de técnicas de controle
desses organismos é essencial para garantir melhores

145
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

índices produtivos da agricultura, e perpassa desde o


monitoramento da praga em campo, determinando
seu estágio mais sensível, até a aplicação de táticas
de controle mais adequadas, considerando o melhor
momento (Flint & Van, 1981). Esse controle tem sido
feito de forma manual ou utilizando métodos
automatizados; no entanto, esses modelos
tradicionais utilizados pelos agricultores serão
insuficientes para atender a esses propósitos
(Dharmaraj & Vijayanand, 2018; Zhang et al., 2021).
Atualmente, na era da agricultura inteligente, a
Inteligência Artificial (IA) integrada às tecnologias
modernas de informação e comunicação apresenta-se
como uma das melhores ferramentas para ajudar os
agricultores na proteção das culturas, incluindo o
controle de pragas e, por consequência, gerando
aumento na produtividade (Young, 2017; Karar et al.,
2021).
Essa implementação tecnológica nos cultivos pode
ser vista principalmente na aplicação de agrotóxicos
por pulverização e uso de drones, que passaram de
dispositivos manuais semi controlados para sistemas
totalmente automatizados baseado em IA. Essas
mudanças resultam, por exemplo, na diminuição do

146
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

esforço humano na pulverização química, tornando-se


uma ótima opção para um sistema mais seguro e
econômico (Tellaeche et al., 2008; Ferentinos, 2018),
já que os métodos convencionais possuem várias
deficiências, como por exemplo: utilização excessiva
de produtos químicos; poluição ambiental; maior
custo de aplicação; menor uniformidade de
pulverização e, consequentemente, menor eficiência
de aplicação e controle das pragas, além da escassez
de mão de obra agrícola (Hafeez et al., 2022). Uma
das principais vantagens da IA na agricultura é que,
por meio de seus algoritmos, o produtor consegue
obter insights significativos dos dados que podem
auxiliar em tomadas de decisão mais assertivas
(Subeesh & Mehta, 2021), permitindo que as práticas
agrícolas sejam planejadas sistematicamente com o
mínimo de trabalho manual. Com isso, a agricultura
inteligente apresenta-se como a melhor opção para os
agricultores aplicarem técnicas de inteligência artificial
integradas às modernas tecnologias de informação e
comunicação para eliminar esses insetos nocivos aos
cultivos.

4. Exemplos do uso de inteligência artificial

147
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

4.1. Remotamente pilotadas


Aeronaves Remotamente Pilotadas (RPAs) têm
ganhado cada vez mais espaço no controle de pragas,
atuando principalmente na liberação precisa de
inimigos naturais, compostos ativos de insetos e
aplicação de pesticidas (Iost et al., 2020; Moses-
Gonzales & Brewer, 2021). Estas são comumente
referidas como “drones de atuação” (Filho et al., 2019)
e sua atividade pode ser potencializada quando o
sistema é totalmente automatizado baseado em IA
(Haffez et al., 2022).
No que diz respeito à aplicação de pesticidas,
comparando com outros aplicadores de agrotóxicos,
os RPAs com integração de IA podem alcançar um
manejo preciso e específico com baixo custo, alta
eficiência e mobilidade (Huang et al., 2009; Xiongku
et al., 2017) durante a pulverização conjuntamente
com análise local dos dados em tempo real, não
requerendo nenhum esforço humano na pulverização
química (Tellaeche et al., 2008; Ferentinos, 2018).
Atualmente, a RPA transporta tanque de defensivos de
até 40 litros em rotas pré-mapeadas para pulverizar

148
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

as lavouras de acordo com as necessidades do


produtor (Hafeez et al., 2022). Todavia, ainda há
limitações no desenvolvimento das RPAs totalmente
autônomas, embora o campo do sensoriamento
remoto, robótica e inteligência artificial estejam
progredindo rapidamente, oferecendo ao público
consumidor maior velocidade de resposta e agilidade
na condução das atividades programadas. A
expectativa é que ao longo dos próximos anos,
melhorias significativas sejam realizadas na
autonomia dessas RPAs, garantindo máquinas mais
leves e mais eficientes em termos de potência
(Elbanhawi et al., 2017).

4.2. Robôs
Uma das estratégias emergente no controle de
pragas na agricultura consiste no uso de máquinas
robótica associadas à inteligência artificial para
localizar, destruir fisicamente pragas, registrar
posições de ocorrência de insetos, pulverizar produtos
químicos e avaliar a eficiência de controle de pragas
(Chung et al., 2014; Young, 2017).

149
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

A automação total dos robôs, baseada nos


melhores algoritmos e maquinários possui entre 85 e
90% de efetividade (Berenstein et al., 2010), podendo
ser comprovada inclusive por meio da redução em até
80% da poluição ambiental causada pelo uso de
pesticidas em fazendas (Mohamed et al., 2021).
Contudo, é observado que os robôs podem ter
dificuldade em lidar com paisagens acidentadas,
pequenos insetos, ovos enterrados ou pragas
voadoras (Courtier et al., 2017).

5. Considerações finais
A inteligência artificial para o uso em programas
de Manejo Integrado de Pragas, tem duas grandes
subáreas. A da equipamentos e sistemas de execução
de tarefas utilizando a IA, e a subárea de análise de
dados utilizando algoritmos para prever e inferir
dados.
Para o uso de diagnose, tomada de decisão,
escolha de métodos e táticas de controle. O uso da IA
no MIP tem uma evolução crescente, no entanto
gradativa. A execução dos avanços alcançados ao

150
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

nível campo, tem uma evolução ainda mais lenta. Ou


seja, apesar de diversos trabalhos já realizados, as
informações nem sempre chega ao produtor ou ao
usuário de interesse.

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TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

CAPÍTULO 5

Translocação de inseticidas nas plantas e


insetos

Daiane G. Carmo, Douglas S. Araújo, Kayo H.B. Reis,


Vinícius F. Santos, Eugênio E. Oliveira, Marcelo C.
Picanço

1. Introdução
O controle químico é o principal método utilizado
para controlar insetos-praga em cultivos agrícolas.
Para que o controle de pragas seja realizado no
momento correto e de forma eficiente é necessário
que as etapas da aplicação ao controle das pragas
pelos inseticidas sejam realizadas adequadamente
(Tudi et al., 2021).
Os métodos de aplicação de inseticidas podem
ser agrupados de acordo com o estado físico do
produto em via sólida, líquida ou gasosa,
predominando a água como principal fluido diluente
(Freitas et al., 2022). A escolha do método vai
depender da situação local, em que é verificado a

159
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

disponibilidade de água e equipamentos e


características da planta e da praga-alvo (Azevedo &
Freire, 2006).
Na aplicação dos inseticidas é necessário que o
produto atinja a planta e após isso que ele seja
translocado. A translocação dos inseticidas na planta
é essencial para o controle de insetos-praga, pois
permite que o produto seja distribuído para os órgãos
da planta (Boer et al., 2014).
O modo como inseticidas penetram no corpo dos
insetos é um fator chave na mortalidade desses
organismos. Os inseticidas podem penetrar o corpo
dos insetos através de três vias: tegumento, oral ou
espiráculos (Yu, 2008). Em alguns casos, os
inseticidas podem penetrar por mais de uma via
simultaneamente (Rego, 2016).

2. Etapas da aplicação ao controle das pragas


pelos inseticidas
Na Figura 1, são mostradas as três etapas para
a realização do controle das pragas pelos inseticidas.
A primeira etapa engloba as atividades antes da

160
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

aplicação do produto. A segunda etapa engloba a


aplicação do produto até atingir o inseto-praga. Já a
terceira etapa compreende desde a penetração do
inseticida no corpo do inseto até a sua morte.

Figura 1. Etapas para a realização de controle das


pragas pelos inseticidas.

A primeira atividade da primeira etapa é a


decisão de controle. Essa decisão é baseada em
amostragem da praga e deve-se realizar controle

161
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

quando a densidade da praga for igual ou maior que o


nível de controle. Já na seleção do produto, local e
tecnologia a serem usados devem ser empregados
critérios técnicos, econômicos, ecotoxicológicos e o
produto deve ser adequado ao sistema de cultivo e
usuários (Picanço et al., 2014).
A segunda etapa está ligada ao processo
operacional de disponibilizar a molécula no alvo, pelos
diversos métodos de aplicação. Após a aplicação do
inseticida, ele pode matar o inseto por contato direto
ou pode ser absorvido e translocado para outras
partes da planta e causar a mortalidade da praga. A
terceira etapa integra a penetração do produto no
corpo do inseto e sua movimentação até atingir seu
sítio de ação e causar a mortalidade da praga.

3. Grupos de pragas controlados pelos


inseticidas aplicados via solo e na parte aérea
das plantas
Na Figura 2 estão indicados os grupos de pragas
controladas pelos inseticidas aplicados via solo e na
parte aérea das plantas. Os inseticidas aplicados via
solo podem ter ação de contato ou serem sistêmicos.

162
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Esses inseticidas têm efeito residual de controle de


cerca de duas semanas. Os inseticidas de contato não
são absorvidos pelas raízes das plantas, e assim
atuam somente sobre as pragas subterrâneas. Já os
inseticidas sistêmicos inicialmente têm ação sobre
pragas subterrâneas (com menor eficiência), e
posteriormente são absorvidos pelas raízes e
translocam pelo sistema vascular para a parte aérea
das plantas onde exercem sua toxicidade sobre as
pragas (Figura 2A), sobretudo sobre os insetos
sugadores de seiva e minadores de folhas (Picanço et
al., 2014).
Por outro lado, os inseticidas aplicados na parte
aérea das plantas podem ter ação de contato,
profundidade ou serem sistêmicos. Esses três grupos
de inseticidas só controlam as pragas que estão
atacando os órgãos da parte aérea das plantas. Isso
ocorre devido os inseticidas aplicados na parte aérea
das plantas não serem translocados para as raízes das
plantas. Esses três grupos de inseticidas atuarão sobre
as pragas que estão sobre os órgãos na parte aérea
das plantas (Figura 2B). Os inseticidas com efeito de

163
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

profundidade também atuarão sobre pragas no


interior dos tecidos foliares e no interior dos tecidos
das camadas superficiais do caule e frutos (Picanço et
al., 2014).

Figura 2. Grupos de pragas controlados pelos


inseticidas aplicados (A) via solo e (B) na parte aérea
das plantas em função da sua capacidade de
translocação nas plantas.

164
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

4. Principais métodos de aplicação de inseticidas


Os métodos de aplicação de inseticidas
disponíveis podem ser agrupados em diferentes vias
de aplicação de acordo com seu estado físico (via
sólida, líquida ou gasosa) (Freitas et al., 2022).

4.1 Aplicação via sólida


A aplicação via sólida tem como vantagem
dispensar a necessidade da diluição do composto em
meio líquido estando prontamente disponível para
uso. Por outro lado, o elevado custo de movimentação
de materiais inertes contribui para a elevação de
custos com o uso desta via (Azevedo & Freire, 2006).
Os principais métodos de aplicação empregados
pela via sólida são:
- Pó seco (PD): o polvilhamento consiste de
formulados em pó seco simples para aplicação direta
por povilhadeiras manuais, costais ou motorizados,
muito utilizada no passado está em desuso desde
1990 (Matuo, 1990; Azevedo & Freire, 2006; Ramos
& Pio, 2008).

165
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

- Grânulos (GR): A aplicação na forma de grânulos é


mais usual, eficiente e segura das aplicações de
sólidos, pois a não formação de pó permite o uso de
produtos com maior toxicidade, além de algumas
formulações usadas como veículo permitirem a lenta
liberação do ingrediente ativo (i.a) (Ramos & Pio,
2008).
- Iscas (RB): ferramenta importante de controle de
formigas cortadeiras e moscas-das-frutas. São
eficientes e de baixo custo. As iscas constituem um
sólido uniforme formulado para aplicação direta,
podendo atrair ou ser ingerida pelo alvo desejado
devido a presença de substâncias alimentares e um
agente tóxico ao inseto.

Os pós secos e grânulos são empregados no


controle de pragas que se alimentam de seiva (insetos
e ácaros), larvas de brocas e lepidópteros (pragas do
cartucho ou bainha foliar), e nematoides (Otoboni,
2003). Geralmente são destinados ao controle de
pragas do solo e em menor proporção ao controle de

166
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

pragas em gramíneas, tendo ação por contato (Matuo,


1990).
A aplicação é feita com equipamentos
motorizados, manuais ou granuladeiras (matraca,
garrafa ou costal). A calibração rápida e fácil reduz
operações e erros de dosagem, que é dada em função
da área (kg/ha), comprimento (g/m de sulco) ou por
planta (g/planta) (Azevedo & Freire, 2006; Cotiero,
Biffe & Catapan, 2018).
As iscas apresentam como vantagem o uso de
doses reduzidas de inseticidas devido a aplicação
localizada em troncos ou folhas de árvores ou bordas
de pomares. Entretanto, podem atrair animais ou
outros insetos não-alvo. Além disso, as iscas são
sensíveis à umidade e devem ficar protegidas (Nunes,
et al., 2019).
A tecnologia de aplicação de iscas dificulta sua
adoção. No campo podem ser encontradas adaptações
como o uso de sopradores de folhas acoplados em
motocicletas ou tratores (Botton, et al., 2016).

4.2 Aplicação via líquida

167
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

A aplicação via líquida é o principal método


utilizado de aplicação de inseticidas. Podem ser
encontradas diversas formulações, como: pó molhável
(WP), suspensão concentrada (SC), pó solúvel (SP),
concentrado emulsionável (EC) e solução concentrada
(SL) (Matuo, 1990).
A aplicação líquida pode seguir a forma terrestre
via aplicação no sulco de plantio, tratamento de
semente (TS), insetigação e principalmente por
equipamentos hidráulicos (pulverizador), pneumáticos
(atomizador), centrífugos (ULVA), térmicos
(nebulizador), filete líquido (rega) ou gotas diminutas
(nebulização), ou dispersos via aérea com uso de
aeronaves próprias para aplicação de produtos
fitossanitários e atualmente com uso drones.
- Pulverização: o diâmetro, qualidade e população das
gotas que serão formadas é um fator decisivo para o
sucesso do tratamento, pois não havendo contato do
produto em quantidade e local adequado no alvo, a
aplicação será inútil (Minguela & Cunha, 2010).
A água apresenta limitações físicas, como a
tensão superficial, tendendo-se a permanecer na

168
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

forma esférica, reduzindo a área de contato com o


tecido da folha ou inseto. Nessa perspectiva, agentes
tensoativos (como molhantes e emulsificantes) podem
reduzir a tensão superficial da água a níveis
desejados. Deve-se observar as recomendações do
fabricante quanto à adição de agentes surfactantes à
calda.
Em condições de baixa umidade e temperaturas
desfavoráveis, quanto menor for o diâmetro das gotas
mais sujeito a existir perdas por volatilização.
Dificilmente o uso de produtos solucionam essa
limitação, porém, não é tão perceptível quando se
trabalha com vazões superiores a 50 L/ha.
- Tratamento de Semente (TS): tem como objetivo
proteger sementes, raízes e plântulas de injúrias das
principais pragas de solo e da fase inicial das plantas,
como corós, vaquinhas, grilos e alguns lepidópteros. É
importante ressaltar outros benefícios proporcionados
pelo uso de inseticidas via tratamento de sementes,
especialmente os efeitos fisiológicos que contribuem
na germinação, formação dos estandes, florescimento
e biomassa. Aqui destacam-se os inseticidas

169
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Thiamethoxan, Imidaclopride e Fipronil (Fagan et al.,


2020).
Segundo Kwak et al. (2001), e Klein et al,
(2004), citados por Fagan et al. (2020), os inseticidas
que atuam em canais de íons como o Fipronil (canais
de cloro), agem na regulação estomática
proporcionando a planta aumento de tolerância ao
estresse hídrico e sensibilidade das vias de sinalização
a ataques de insetos. Quanto ao Thiamethoxan, os
efeitos são indiretos devido sua atuação na expressão
gênica estar relacionada à síntese e ativação de
enzimas metabólicas e de aminoácidos precursores de
hormônios que auxiliam no crescimento vegetativo,
além de contribuir na produção de protoxilema
elevando a capacidade da planta de absorver água e
nutrientes (Balagué et al., 2003; Tavares, 2007;
Fagan et al., 2020).
Existem basicamente duas modalidades de
tratamento disponíveis, os tratamentos “on farm” ou
tratamento industrial (TSI), podendo ser encontrado
nas formulações de base líquida ou forma sólida (pó),
que pode ser menos fitotóxicos quando usado um

170
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

mesmo ingrediente ativo, porém tende a fixar com


menor eficiência nas sementes quando comparado a
formulação líquida, principalmente quando composta
por solventes orgânicos (Maziero & Guedes, 2011).

5. Tipos de inseticidas de acordo com sua


capacidade de translocação na planta

De acordo com a sua capacidade de translocação


na planta, os inseticidas são classificados em: ação por
contato, sistêmicos e ação por profundidade.

5.1. Inseticidas de ação por contato


É o tipo de inseticida cuja ação se dá pelo
contato da molécula diretamente com o corpo do
inseto, transpassando através de sua epiderme e
atuando nas terminações nervosas da praga (Minguela
& Cunha, 2010). A vantagem em sua utilização está
no fato de que o simples contato do inseto com uma
superfície atingida pela molécula já é capaz de
controlá-lo, ao contrário de inseticidas por ingestão
por exemplo, em que se faz necessário o inseto ingerir
a molécula (Yamamoto, 2018).

171
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

A aplicação de inseticidas de contato deve ser


feita utilizando a tecnologia de aplicação adequada,
uma vez que o jato deve ser direcionado à área de
atuação do inseto na planta, considerando a sua
mobilidade, usando gotas preferencialmente de
tamanho médio, com um recobrimento adequado,
buscando assim garantir contato (Minguela & Cunha,
2010). O que se pode mencionar de desvantagens em
relação ao seu uso, está no fato de que sua eficácia
pode ser reduzida quando a praga alvo situa-se em
uma região de difícil alcance do jato pulverizado, e
quando a aplicação se direciona à indivíduos que
possuem pouca ou quase nenhuma mobilidade
(Minguela & Cunha, 2010).

5.2. Inseticidas de ação por profundidade


Inseticidas de ação por profundidade são
importantes para o controle de pragas de difícil
acesso, como as pragas minadoras e aquelas que se
situam na região de baixeiro da planta. Este tipo de
tecnologia é capaz de atingir insetos-praga situados
na face abaxial da folha, ou dentro de minas, através

172
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

de uma pulverização feita na face adaxial, de forma


que a molécula percorrerá a folha através do tecido
vegetal (Figura 3). Esse modo de ação é denominado
de translaminar (Yamamoto, 2018).

Figura 3. Mecanismo de translocação translaminar.

Esse mecanismo confere uma maior persistência


do produto aplicado, pelo fato de se garantir uma
maior proteção contra fatores ambientais, como

173
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

radiação ultravioleta e temperaturas elevadas, por


exemplo (Souza & Vendramim, 2005). Segundo Paes
et al. (2021), o uso de adjuvantes, a exemplo do óleo
mineral, exerce uma influência positiva no mecanismo
de translocação translaminar, por proporcionar
absorção mais rápida pela folha, o que potencializa
esse mecanismo de ação.

5.3. Inseticidas sistêmicos


São defensivos que funcionam da seguinte
forma: o jato é pulverizado sobre a superfície da
planta, e após o contato do conteúdo com a parte
vegetal, ele é absorvido pelos tecidos da planta e
distribuído ao longo das demais partes, o que promove
o controle dos insetos que venham a consumir essas
estruturas, mesmo aqueles que não estejam próximos
do local alvo da pulverização (Fehn, 1970).

Apesar da eficiência e seletividade de alvo, essa


classe de agroquímicos não é a mais utilizada, isso
porque o seu uso pode gerar uma acumulação residual
nos frutos ou nas partes comestíveis das plantas, o

174
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

que pode tornar sua comercialização inviável por não


respeitar os padrões sanitários previstos em legislação
(Torres, 2009). Além disso, outro importante fator é a
dificuldade dos pesquisadores em desenvolver novas
moléculas com ação sistêmica (Zhang et al., 2018).

6. Mecanismos de translocação dos


inseticidas na planta
A translocação dos inseticidas na planta é
essencial para o controle de insetos-praga, pois
permite que o produto seja distribuído de forma
homogênea, atingindo os órgãos da planta (de Boer et
al., 2014). Além disso, conhecer como um inseticida
se movimenta na planta é importante para utilização
da tecnologia de aplicação adequada, visando
aumentar a eficiência de controle das pragas e
racionalizar o uso de inseticidas.
Em relação à sua capacidade de translocação no
interior da planta, os inseticidas são divididos em três
classes: apoplásticos, simplásticos e os ambimóveis.

175
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Os simplásticos são aqueles em que ao serem


absorvidos pela planta, percorrem curtas distâncias de
forma intercelular pelos plasmodesmas, e longas
distâncias por meio do floema (Oliveira, 1991; Pes et
al., 2019). Os apoplásticos por sua vez, são os que ao
serem absorvidos pela planta, são transportados a
curtas distâncias por meio dos espaços intercelulares,
e a longas distâncias através de traqueídeos que
compõem o xilema (Edgington 1981; Oliveira 1991).
Por fim, os ambimóveis, também conhecidos como
inseticidas de fluxo bidirecional, que são translocados
via xilema e via floema. Os inseticidas sistêmicos de
fluxo bidirecional são raros (Edgington, 1981; Oliveira,
1991; Peterson, 1977).

6.1. Inseticidas aplicados via solo


Os inseticidas aplicados via solo são absorvidos
pelas raízes e translocados até as folhas. A penetração
e translocação do inseticida está relacionada com a
concentração do produto na solução do solo e com a
taxa de transpiração da planta (Briggs et al., 1977). A

176
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

absorção do pesticida depende da relação entre a


concentração do produto nas raízes e da sua
concentração na solução do solo (Shone et al., 1974).
A concentração do inseticida na solução do solo está
relacionada com o coeficiente de partição entre octano
e água (Kow) que expressa sua polaridade. Quanto
menor o valor de Kow do pesticida maior é a sua
solubilidade em água. Produtos que apresentam Kow
menor que 1 são considerados hidrofílicos (Briggs et
al., 1977).
Os inseticidas sistêmicos, geralmente são
transportados apenas via xilema, no sentido
ascendente. Uma importante propriedade dos
inseticidas para sua translocação nas plantas é o Kow,
o qual expressa a sua polaridade. As raízes têm
natureza lipofílica e concentram compostos que são
mais lipofílicos (log Kow > 4). As raízes possuem uma
camada chamada endoderme, que é uma barreira a
qual os inseticidas precisam penetrar para serem
translocados. Entretanto, a endoderme possui baixa
permeabilidade a compostos muito lipofílicos (Kow >

177
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

4) ou muito hidrofílicos (Kow < 0). Desta forma, os


pesticidas que possuem um Kow próximo a 2 são mais
eficientemente translocados (Briggs et al., 1982;
Antunes-kenyon & Kennedy, 2001).
O tratamento de sementes é um dos principais
métodos utilizados na agricultura para a
disponibilização de inseticidas que serão translocados
via xilema. As vias de exposição das plantas aos
inseticidas no tratamento de sementes incluem a
permeabilidade do tegumento da semente em toda a
sua superfície e absorção através do coleóptilo. Após
isso ocorre a translocação via xilema para os tecidos
mais jovens da planta (Alsayeda et al., 2008). Os
neonicotinóides são muito utilizados para o
tratamento de sementes. O comportamento sistêmico
em tecidos vegetais é baseado na alta solubilidade em
água deste grupo de inseticidas. A mobilidade do
xilema é essencial para a translocação contínua dos
ingredientes ativos para o tecido vegetal mais jovem
(Maienfisch et al., 2001).

178
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Figura 4: Translocação de inseticidas aplicados via


solo.

6.2. Inseticidas aplicados em pulverização


Os inseticidas aplicados via pulverização podem
permanecer depositados na superfície da planta ou
serem absorvidos, podendo ou não ser translocados.
Os produtos que são translocados pela planta,
atingem partes não pulverizadas e tendem a
permanecer ativos na planta por mais tempo em
relação a produtos depositados na superfície.

179
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Inseticidas sistêmicos quando aplicados nas folhas,


ramos e raízes das plantas, podem ser absorvidos e
translocados para outros órgãos da planta em
quantidades letais para os insetos que se alimentam
nesses locais onde não houve a aplicação direta
(Mariconi 1977).
A translocação de inseticidas em plantas vai
depender inicialmente da capacidade dos compostos
penetrarem nas folhas. As taxas de penetração foliar
são limitadas pela baixa permeabilidade da cutícula
das plantas. A penetração é menor quando os
ingredientes ativos são de alta massa molecular (Baur
et al., 1997). Os inseticidas podem passar pela
cutícula através de microporos (filamentos
protoplasmáticos projetados das células epidérmicas)
e pelos estômatos. A entrada desses produtos pelos
estômatos ocorre quando o pesticida sobre a folha
permanece no estado líquido, o que ocorre por um
curto período após aplicação. Além disso, a passagem
de inseticidas pelos estômatos depende das condições
ambientais que influenciam a abertura e fechamento
estomático. Entretanto, o estômato possibilita

180
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

penetração de maior quantidade do inseticida e


através desta entrada o pesticida fica mais próximo
dos tecidos vasculares, o que pode implicar em maior
translocação pela planta (Stevens et al., 1991).
Os inseticidas aplicados via pulverização são
absorvidos e transportados para partes não atingidas
principalmente no sentido acropetal e em alguns casos
via floema, no sentido basipetal (Girolami et al.,
2009). A mobilidade do floema aumenta a
redistribuição de pesticidas dentro das plantas porque
o produto pode ser translocado tanto para os tecidos
mais jovens quanto para as raízes. No entanto, os
inseticidas com essa propriedade são raros.
Atualmente, apenas o espirotetramato pode ser
transportado nas plantas através do floema e xilema
(Brück et al., 2009).
A movimentação translaminar, ou seja, a
capacidade de translocar-se da face adaxial para a
face abaxial da folha também pode ocorrer para
inseticidas aplicados via pulverização (Barry et al.,
2015). A atividade translaminar requer etapas,
incluindo dissolução, entrada na superfície da folha

181
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

através da camada de cera na cutícula e depois no


apoplasto da folha, difusão através do mesofilo e
acúmulo no lado oposto da folha. O movimento
translaminar é influenciado pelas propriedades físicas
do inseticida, da formulação, ambiente local e da
anatomia e fisiologia da planta (Buchholz et al., 2002;
Trapp 2004).
Os inseticidas quando depositados sobre as
folhas e translocados para outras partes da planta
possuem vantagem como: perdas reduzidas por
lavagem, volatilização e fotodegradação,
proporcionando melhor cobertura e melhor atividade
residual das pragas alvo (Norris 1974).

7. Translocação dos inseticidas no corpo dos


insetos
O modo de entrada dos inseticidas no corpo dos
insetos é um fator chave na mortalidade desses
organismos, especialmente quando se trata do manejo
integrado de pragas. Dependendo de sua estrutura
química, os inseticidas podem penetrar o corpo dos
insetos através de três vias: tegumentar, oral ou

182
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

espiracular (Yu 2008). Em alguns casos, os inseticidas


podem penetrar por mais de uma via simultaneamente
(Rego 2016).

Figura 5: Translocação de inseticidas aplicados via


pulverização.

7.1. Penetração pelo tegumento


É a principal via de penetração dos inseticidas
no corpo dos insetos devido à larga proporção de
superfície cuticular (Yu 2015). Nesse tipo de

183
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

penetração, os inseticidas são pulverizados e podem


atingir o corpo dos insetos ou a superfície foliar, e
posteriormente penetrar o corpo do inseto à medida
que este caminha sobre as moléculas inseticidas (Silva
et al., 2020).
A cutícula dos insetos é uma estrutura fina,
complexa e variável entre os diferentes grupos
taxonômicos. De forma geral, essa estrutura possui
uma camada de cera ou lipídica que evita a
desidratação do inseto devido à sua característica de
repelir a água (Gullan & Cranston 2014). Grande parte
dos inseticidas são moléculas apolares, dessa forma,
podem facilmente penetrar essa cutícula e atingir o
interior do corpo (Matsumura 1985). A partir disso, o
inseticida dissolvido é transportado pela hemolinfa até
atingir seu (s) órgão (s) alvo (s), onde é metabolizado,
acumulado ou secretado (Yu 2015).
É importante ressaltar que a penetração de
inseticidas no corpo dos insetos através do tegumento
não é um simples processo de transporte, mas um
processo dependente das características dos solventes
utilizados na aplicação (Welling et al., 1979). Entre

184
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

essas características podemos citar o próprio efeito


dos solventes utilizados, a polaridade dos inseticidas,
a composição cuticular do inseto, e o próprio
metabolismo dos inseticidas na cutícula (Yu 2015).

7.2. Penetração oral


É a via de penetração dos inseticidas sistêmicos
e de iscas tóxicas (Yu 2015). Também chamados de
venenos estomacais, esses inseticidas são tóxicos se
forem ingeridos pelos insetos, dessa forma, são úteis
tanto para os grupos de insetos que apresentam o
aparelho bucal do tipo mastigador, como lagartas e
besouros, quanto para insetos que se alimentam de
seiva, como os percevejos. Entre os principais
inseticidas dessa classe estão os arsênicos, como o
arsenato de cálcio e o arsenato de chumbo; e os
compostos fluorados, como o fluoreto de sódio e a
criolita (Yu 2008). Além disso, esta é a vida de
penetração de inseticidas bacterianos (como Bacillus
sp.) e inseticidas de origem viral (como os produtos à
base de Baculovírus).

185
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

7.3. Penetração pelos espiráculos


A penetração de inseticidas através da via
espiracular ocorre através de substâncias na forma de
vapor, chamadas de fumigantes. Essas substâncias
penetram o corpo do inseto durante as trocas gasosas
através de estruturas chamadas de espiráculos, e são
usualmente utilizadas no controle de pragas de grãos
armazenados (Sadeghi et al., 2016) ou na fumigação
de viveiros.

7.4. Aprisionamento, metabolismo e excreção de


inseticidas
Chamamos de toxicocinética o estudo da
modelagem e distribuição de xenobióticos em um
organismo, incluindo aspectos como penetração,
distribuição, biotransformação e excreção (Medinsky &
Valentine 2003). Ao penetrar o corpo dos insetos, as
moléculas inseticidas precisam ultrapassar barreiras
fisico-químicas até que cheguem ao seu sítio de ação
(Figura 6). Uma dessas barreiras é a estocagem dos
inseticidas em tecidos indiferenciados, como o tecido
adiposo (ou corpo gorduroso) (Moo-Young 2019).

186
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Além disso, essas moléculas devem ser capazes de


superar os mecanismos metabólicos de quebra desses
compostos em moléculas não ativas (Khan et al.,
2020). O inseticida deve também ser capaz de
persistir no organismo não sendo excretado
(Matthews 1979), de forma que uma pequena porção
desse material chegue ao seu sítio de ação. Vários
mecanismos podem atuar juntos, dificultando com que
a molécula inseticida atinja seu alvo. Um desses
exemplos é a hipótese de que a resistência à
penetração de inseticidas pode, por exemplo, permitir
que as enzimas desintoxicantes metabolizem o
inseticida e este seja excretado (Zhu et al., 2013).
As reações bioquímicas são muito importantes
na dinâmica dos inseticidas nos insetos. As moléculas
absorvidas não são distribuídas uniformemente por
todo o corpo, logo, as capacidades de degradação e
ativação em diferentes órgãos devem ser avaliadas
(Welling 1979). Em particular, enzimas de
desintoxicação podem ser encontradas próximas aos
sítios-alvos de ação dos inseticidas, e estão associadas
à proteção contra essas moléculas (Nardini et al.,

187
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

2012). Os produtos dessa biotransformação


ocasionada por enzimas de desintoxicação são,
geralmente, compostos hidrofílicos que são facilmente
excretados em comparação à molécula inicial
(Vermeulen 1996). Uma forma de contornar o
problema da excreção de inseticidas é a utilização dos
chamados pró-inseticidas, compostos que são
bioativados por processos enzimáticos nos quais os
insetos metabolizam a molécula e a partir disso essas
se tornam compostos ativos (David 2021).

Figura 6: Toxicocinética dos inseticidas no corpo dos insetos.

188
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Como dito anteriormente, os inseticidas


possuem diferentes estruturas químicas, e em geral,
isso define seu sítio de ação. Após vencer as barreiras
físico-químicas supracitadas, as moléculas inseticidas
podem afetar os seguintes processos fisiológicos:
atividade do sistema nervoso (eventos axônicos e
sinápticos), metabolismo energético (como inibidores
da cadeia de transporte de elétrons, da síntese de ATP
ou como desacopladores da fosforilação oxidativa),
trato digestivo (atuando como disruptores de
membranas) ou regulação de crescimento (como
inibidores da formação de cutícula ou interferentes
hormonais) (Yu 2015). É importante entender os
modos e sítios de ação dos inseticidas de forma a
prevenir o desenvolvimento de resistência nos
organismos alvo, e esse problema pode ser evitado ou
retardado através da rotação de produtos químicos
que possuam diferentes modos de ação (Brown &
Ingianni 2013).

8. Considerações finais

189
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

Os insetos-praga estão presentes nos cultivos e


causam perdas de produtividade. A decisão de
controlar ou não a praga é o primeiro passo. Essa
decisão é baseada em amostragem da praga e seu
nível de controle. Ao tomar a decisão de controle,
deve-se realizar a seleção do produto empregando
critérios técnicos, econômicos e toxicológicos. Após
isso, é realizada a aplicação do inseticida de maneira
adequada para que este penetre no corpo da praga,
atinja seu alvo de ação e cause sua mortalidade.
Os inseticidas podem ser encontrados no estado
líquido, sólido e gasoso. A aplicação de formulações
líquidas pode ser feita via aplicação no sulco de
plantio, tratamento de semente e principalmente por
equipamentos hidráulicos (pulverizador), pneumáticos
(atomizador), centrífugos ou dispersos via aérea com
uso de aeronaves ou drones. A aplicação via sólida tem
como vantagem dispensar a necessidade da diluição
do composto em meio líquido estando prontamente
disponível para uso. Aplicação via gasosa (fumigação)
é feita utilizando produto preparado na forma sólida

190
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

ou líquida, que ao entrar em contato com o ar


volatiliza, liberando um gás.
O processo de translocação de inseticidas em
plantas é complexo em decorrência do grande número
de variáveis relacionadas. A variabilidade da
morfologia e fisiologia de plantas e das propriedades
físico-químicas das moléculas inseticidas são fatores
que dificultam o entendimento (TRAPP, 2004).
Portanto, é importante conhecer como o produto se
transloca na planta para orientar a escolha da
tecnologia de aplicação mais adequada para cada
produto e inseto-praga.
Após a aplicação e alcance do alvo, os inseticidas
precisam adentrar o corpo dos insetos para causar
mortalidade. A penetração pelo tegumento é a
principal via de entrada dos inseticidas no corpo dos
insetos. A penetração via oral ocorre através da
ingestão dos insetos. A penetração de inseticidas
através dos espiráculos ocorre através de substâncias
na forma de gás, chamadas de fumigantes. Ao
penetrar o corpo dos insetos, as moléculas inseticidas
precisam mitigar/desvencilhar de barreiras fisiológicas

191
TÓPICOS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS II

até chegar ao seu sítio de ação e causar a mortalidade


do inseto-praga. Essas moléculas devem ser capazes
de superar os mecanismos metabólicos de quebra, de
não serem aprisionadas em tecidos inertes, e persistir
no organismo em suas formas ativas sem serem
excretadas.

9. Referências

Alsayeda, H., Pascal-Lorber, S., Nallanthigal, C.,


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