Resumo Direito Penal Esquematizado Cleber Masson

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA REGIÃO DA CAMPANHA

CURSO DE DIREITO – Módulo 2

Camila Cuadros Bueno1


Diogo Taborda2

RESUMO:

O objetivo do trabalho é produzir um resumo do Capítulo 2 do livro "Direito Penal -


Parte Geral, Volume 1" de Cleber Masson, que aborda o tema da conduta penal.
Segundo o conceito, a conduta é o comportamento humano voluntário que produz
um resultado típico, ou seja, que se enquadra em um tipo penal previsto em lei. O
capítulo se divide em três seções sendo elas: Conceito de conduta: em que o autor
define o conceito de conduta e diferencia os tipos de conduta (ação, omissão e
comissão por omissão). Logo em seguida fala sobre os elementos da conduta,
onde o autor analisa os elementos da conduta, que são: o sujeito ativo, o sujeito
passivo, o objeto material, o objeto jurídico e o nexo causal. Na última seção o
texto fala sobre a classificação da conduta: o autor classifica a conduta de acordo
com o dolo, a culpa e a preterintenção. O capítulo também aborda temas como a
teoria do domínio do fato, a teoria da imputação objetiva e a teoria da imputação
subjetiva. Sendo assim, seguem as partes resumidas do texto na sequência.

2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL


2.1. CONCEITO

Princípio são os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do


sistema jurídico.
No Direito Penal, os princípios têm a função de orientar o legislador ordinário,
no intuito de limitar o poder punitivo do Estado mediante a imposição de garantias aos
cidadãos.

2.2. PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE

2.2.1. Princípio da reserva legal ou da estrita legalidade

Encontra-se previsto no art. 5º, inc. XXXIX, da Constituição Federal, bem como no
art. 1º do Código Penal. Trata-se de cláusula pétrea.
Preceitua, basicamente, a exclusividade da lei para a criação de delitos (e
contravenções penais) e cominação de penas, possuindo indiscutível dimensão democrática,
pois representa a aceitação pelo povo, representado pelo Congresso Nacional, da opção
legislativa no âmbito criminal. Enuncia o princípio nullum crimem nulla poena sine lege.
É vedada a edição de medida provisória sobre matéria relativa a Direito Penal (CF, art.
62, §1º, inc. I, b).

1
Acadêmica do Curso de Direito
2
Bacharel em Direito, Promotor de Justiça
O princípio da reserva legal possui dois fundamentos, um de natureza jurídica e
outro de fundamento político.
O fundamento jurídico é a taxatividade, certeza ou determinação, pois implica,
por parte do legislador, a determinação precisa, ainda que mínima, do conteúdo do tipo penal
e da sanção penal a ser aplicada, bem como, da parte do juiz, na máxima vinculação ao
mandamento legal, inclusive na apreciação de benefícios legais.
O fundamento político é a proteção do ser humano em face do arbítrio do poder
de punir do Estado. Enquadra-se, destarte, entre os direitos fundamentais de 1ª
geração.

2.2.1.1. Princípio da reserva legal e mandados de criminalização

A CF brasileira estabelece mandados explícitos e implícitos de criminalização (ou


penalização). Cuida-se de hipóteses de obrigatória intervenção do legislador penal. Ver. CF,
art. 5º, inc. XLII a XLIV e § 3º; art. 7º, inc. X; art. 227, § 4º e art. 225.
Há, também, mandados implícitos de criminalização, podendo ser citado o exemplo do
necessário e urgente combate eficaz à corrupção eleitoral.

2.2.2. Princípio da anterioridade

Decorre também do art. 5º, XXXIX, da CF, e do art. 1º do CP, quando estabelecem
que o crime e a pena devem estar definidos em lei prévia ao fato cuja punição se pretende.

2.2.3. Princípio da insignificância ou da criminalidade de bagatela

O Direito Penal não deve se ocupar de assuntos irrelevantes, incapazes de lesar o bem
jurídico legalmente tutelado.
Este princípio, calcado em valores de política criminal, funciona como causa de
exclusão de tipicidade, desempenhando uma interpretação restritiva do tipo penal.
Para o STF, constituem os requisitos de ordem objetiva autorizadores da
aplicação desse princípio:
a) mínima ofensividade da conduta;
b) ausência de periculosidade social da ação;
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
d) inexpressividade da lesão jurídica.

O reduzido valor patrimonial do objeto material não autoriza, por si só, o


reconhecimento da criminalidade de bagatela. Exigem-se também requisitos subjetivos.
Cumpre destacar que não há um valor máximo (teto) a limitar a incidência do
princípio da insignificância. Sua análise há de ser efetuada levando-se em consideração o
contexto em que se deu a prática da conduta, especialmente a importância do
objeto material, a condição econômica da vítima, as circunstâncias do fato e o
resultado produzido, bem como as características pessoais do agente.
O STF não reconhece a incidência do princípio da insignificância em crimes
cometidos por militares.
Com a aplicação do princípio da insignificância, opera-se tão somente a
tipicidade formal. No entanto, não que falar em tipicidade material.
Por ter força suficiente parar descaracterizar, no plano material, a própria tipicidade
penal, o princípio da insignificância autoriza a que o judiciário conceda, ex officio, habeas
corpus. E para o STF, o trânsito em julgado da condenação não impede seu
reconhecimento.
O princípio da insignificância tem aplicação a qualquer delito com ele
compatível, e não apenas aos crimes contra o patrimônio.
Nos crimes contra a Administração Pública, para o STF, excepcionalmente, o
princípio tem incidência. No entanto, o STJ tem entendimento diverso da questão.
Ainda, o STF reconheceu que o princípio da insignificância incide também sobre
crimes praticados por prefeitos. Ademais, tem sua incidência reconhecida nos crimes
contra a ordem tributária.
É necessário destacar que esse princípio não é admitido em crimes praticados
com emprego de violência à pessoa ou grave ameaça, inobstante tenha a coisa
subtraída ínfimo valor econômico.
Nos crimes previstos na Lei 11.343/2006 – Lei de Drogas, o STF,
historicamente, tem opinião contrária à aplicação do princípio da insignificância, visto que o
tráfico de entorpecentes é crime contra a saúde pública. É mister destacar que, a respeito
do porte de droga para consumo pessoal, inobstante a aplicação do princípio da
insignificância, nesse caso específico, constituir medida equivalente a “liberar o porte de
pequenas quantidades de droga contra legem”, o STF reconhece sua incidência.
Urge destacar, também, que o postulado da insignificância não é reconhecido no
tocante ao crime de tráfico internacional de arma de fogo.
Ademais, o STF não reconheceu a incidência do princípio da insignificância em crime
de moeda falsa.
A respeito da incidência do princípio no tocante a ato de improbidade
administrativa, o STJ entende sua inaplicabilidade, visto que o que o bem jurídico que a Lei
de Improbidade (Lei 8.429/92) busca salvaguardar é, precipuamente, a moralidade
administrativa.

2.2.3.1. Princípio da insignificância e sua valoração pela autoridade policial

O STJ entende que somente o Poder Judiciário tem competência para reconhecer a
incidência do princípio da insignificância. Destarte, cabe à autoridade policial, inobstante
conceber a aplicabilidade do princípio, efetuar a prisão em flagrante, devendo imediatamente
submeter a questão à autoridade judiciária competente.

2.2.3.2. Princípio da insignificância imprópria ou da criminalidade de bagatela


imprópria
De acordo com esse princípio, sem previsão legal no Brasil, inexiste legitimidade na
imposição da pena nas hipóteses em que, nada obstante a infração penal esteja
indiscutivelmente caracterizada, a aplicação da reprimenda desponte como desnecessária e
inoportuna.

2.2.4. Princípio da individualização da pena

Expressamente indicado pelo art. 5º, XLVI, da CF, repousa no princípio de justiça,
segundo o qual se deve distribuir a cada indivíduo o que lhe cabe, de acordo com as
circunstâncias específicas do seu comportamento. Em outros termos, a aplicação da pena deve
levar em conta não a norma penal em abstrato, mas, especialmente, os aspectos
subjetivos e objetivos do crime.
O princípio da individualização da pena desenvolve-se em três planos: legislativo,
judicial e administrativo (descrição do tipo penal, sentença judicial e execução,
respectivamente).

2.2.5. Princípio da alteridade

Em síntese, ninguém pode ser punido por causar mal apenas a si próprio,
pois uma das características inerentes ao Direito Penal moderno repousa na necessidade
intersubjetiva nas relações penalmente relevantes.

2.2.6. Princípio da confiança

Bastante difundido no Direito Penal espanhol, trata-se de requisito para a existência do


fato típico e se baseia na premissa de que todos devem esperar por parte das demais pessoas
comportamentos responsáveis e em consonância com o ordenamento jurídico, almejando
evitar danos a terceiros.
É recorrentemente citado pela jurisprudência em crimes de trânsito.

2.2.7. Princípio da adequação social

De acordo com esse princípio, não pode ser considerado criminoso o comportamento
humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o sentimento social de justiça.

2.2.8. Princípio da intervenção mínima

Conforme a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, em seu art. 8º,
a lei somente deve prever as penas estritamente necessárias. Surgia o princípio da intervenção
mínima ou da necessidade, afirmando se legítima a intervenção penal apenas quando a
criminalização de um fato se constitui meio indispensável para a proteção de
determinado bem ou interesse, não podendo ser tutelado por outros ramos do
ordenamento jurídico.

2.2.9. Princípio da fragmentariedade ou caráter fragmentário do Direito Penal

Estabelece que nem todos os ilícitos configuram infrações penais, mas apenas os que
atentam contra os valores fundamentais para a manutenção e o progresso do
ser humano e da sociedade. Em resumo, todo ilícito penal será também ilícito perante os
demais ramos do Direito, mas a recíproca não é verdadeira.

2.2.10. Princípio da subsidiariedade

De acordo com o princípio da subsidiariedade, a atuação do Direito Penal é cabível


unicamente quando os demais ramos do Direito e os demais meios estatais de controle social
tiverem se revelado impotentes para o controle da ordem pública.
O princípio da subsidiariedade estabelece que o Direito Penal somente deve ser
utilizado como “ultima ratio”.

2.2.11. Princípio da proporcionalidade

De acordo com o princípio da proporcionalidade, também conhecido como princípio


da razoabilidade ou da convivência das liberdades públicas, a criação de tipos
penais incriminadores deve constituir-se em atividade vantajosa para os membros da
sociedade, eis que impõe um ônus a todos os cidadãos, decorrente da ameaça de punição que
a eles acarreta.
O princípio da proporcionalidade funciona como forte barreira impositiva de
limites ao legislador. Por corolário, a lei penal que não protege um bem jurídico é
ineficaz, por se tratar de intervenção excessiva na vida dos indivíduos em geral.
Como decidido pelo STJ, o princípio da proporcionalidade incide também na
dosimetria da pena-base.
Em outros termos, o princípio da proporcionalidade possui três destinatários: o
legislador (proporcionalidade abstrata), o juiz da ação penal (proporcionalidade
concreta), e os órgãos da execução penal (proporcionalidade executória).

2.2.12. Princípio da humanidade

Apregoa a inconstitucionalidade da criação de tipos penais ou a cominação de penas


que violam a incolumidade física ou moral de alguém. Dele resulta a impossibilidade de a
pena passar da pessoa do condenado.
Decorre da dignidade da pessoa humana, consagrada no art. 1º, III, da
Constituição Federal como fundamento da Rep. Fed. do Brasil.

2.2.13. Princípio da ofensividade ou da lesividade

Não há infração penal quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de
lesão ao bem jurídico. Este princípio atende a manifesta exigência de delimitação do
Dir. Penal, tanto em nível legislativo como no âmbito jurisdicional.

2.2.14. Princípio da exclusiva proteção do bem jurídico

O Direito Penal moderno é o Direito Penal do bem jurídico. Nessa seara, o princípio
da exclusiva proteção do bem jurídico veda ao Dir. Penal a preocupação com as intenções e
pensamentos das pessoas, do seu modo de viver ou de pensar, ou ainda as suas condutas
internas, enquanto não exteriorizada a atividade delitiva.
O princípio da exclusiva proteção do bem jurídico não se confunde com o princípio da
alteridade. Neste, há um bem jurídico a ser penalmente tutelado, mas pertence exclusivamente
ao responsável pela conduta legalmente prevista, razão pela qual o Direito Penal não está
autorizado a intervir; naquele, por sua vez, não há interesse legítimo a ser protegido pelo
Direito Penal.

2.2.14.1. Eleição de bens jurídicos e a teoria constitucional do Direito Penal


De acordo com a teoria constitucional do Direito Penal, a tarefa de criação de crimes e
cominação de penas somente se legitima quando são tutelados valores consagrados na
Constituição Federal. Em outros termos, a eleição dos bens jurídicos dignos de proteção
penal deriva dos mandamentos constitucionais.

2.2..14.2. A espiritualização (desmaterialização ou liquefação) de bens jurídicos no


Direito Penal
Com a evolução dos tempos, e visando a antecipação da tutela penal, pois assim
mostrou-se possível a proteção de lesões às pessoas, o Direito Penal passou também a se
preocupar com momentos anteriores ao dano, incriminando condutas limitadas à causação do
perigo (crimes de perigo concreto e abstrato), ou seja, à exposição de bens jurídicos,
notadamente de natureza transindividual, à probabilidade de dano.

2.2.15. Princípio da imputação pessoal

O Direito Penal não pode castigar um fato cometido por agente que atue sem
culpabilidade. Em outras palavras, não se admite a punição quando se tratar de agente
inimputável, sem potencial consciência da ilicitude ou de quem não se possa exigir conduta
diversa.
O fundamento da responsabilidade penal pessoal é a culpabilidade (nulla poena sine
culpa).

2.2.16. Princípio da responsabilidade pelo fato

Os tipos penais devem definir fatos, associando-lhes as penas respectivas, e não


estereotipar autores em razão de alguma condição específica. Não se admite um Direito
Penal do autor, mas somente um Direito Penal do fato.

2.2..17. Princípio da personalidade ou da intranscendência

Ninguém pode ser responsabilizado por fato cometido por terceira pessoa.
Consequentemente, a pena não pode passar da pessoa do condenado (art. 5º, XLV, CF).

2.2.18. Princípio da responsabilidade penal subjetiva

Nenhum resultado penalmente relevante pode ser atribuído a quem não o tenha
produzido por dolo ou culpa. A disposição contida no art. 19 do Código Penal exclui a
responsabilidade penal objetiva.
Conforme o STJ, o Direito Penal moderno é o Direito Penal da culpa. Apontam-se
vestígios da responsabilidade objetiva em duas situações no
Direito Penal brasileiro: i) rixa qualificada (art. 137, parágrafo único, CP); e II) punição das
infrações penais praticadas em estado de embriaguez voluntária ou culposa, decorrente da
ação da teoria da actio libera in causa (art. 28, II, CP).

2.2.19. Princípio do ne bis in idem

Não se admite, em hipótese alguma, a dupla punição pelo mesmo fato. Com
base nesse princípio, foi editada a Súmula 241 do STJ: “A reincidência não pode ser
considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial”.
A reincidência como agravante genérica quando da prática de novo crime, contudo,
não importa em violação desse princípio.
Vale ressaltar que a existência de duas ou mais ações penais, em searas judiciais
diversas, pela prática de fatos distintos, não acarreta violação a esse princípio.

2.2.20. Princípio da isonomia

Consagrou-se o princípio da isonomia, ou da igualdade, como a obrigação de tratar


igualmente aos iguais, e desigualmente aos desiguais, na medida de suas desigualdades.
No Direito Penal, importa em dizer que as pessoas (nacionais ou estrangeiras) em
igual situação devem receber idêntico tratamento jurídico, e aquelas que se encontram em
posições diferentes merecem um enquadramento diverso, tanto por parte do legislador como
também pelo juiz.

REFERÊNCIAS:
Resumo do Capítulo 2 do livro MASSON, Cleber; Direito Penal - Parte Geral,
Volume 1", capítulo 2.

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