Monografia Defendida

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

JUMA ADREMANE

ANÁLISE DA EFICÁCIA DO INDEFERIMENTO TÁCITO FACE AOS


DIREITOS E INTERESSES DOS PARTICULARES LEGALMENTE
PROTEGIDOS

NAMPULA, 2018
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

JUMA ADREMANE

ANÁLISE DA EFICÁCIA DO INDEFERIMENTO TÁCITO FACE AOS


DIREITOS E INTERESSES DOS PARTICULARES LEGALMENTE
PROTEGIDOS

Monografia a ser submetida à Faculdade de


Direito - FADIR da Universidade Católica de
Moçambique – UCM, como requisito parcial
para a obtenção do grau de licenciatura em
Administração Pública.
Supervisor: Aboochama O. Vontade, MA.

NAMPULA, 2018
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

JUMA ADREMANE

ANÁLISE DA EFICÁCIA DO INDEFERIMENTO TÁCITO FACE AOS


DIREITOS E INTERESSES DOS PARTICULARES LEGALMENTE
PROTEGIDOS

Nampula, aos ____________________________ de __________________________ de 2018

Resultado:___________________________________________________________________

MEMBROS DE JÚRI

Presidente: __________________________________________________________________

Supervisor: _________________________________________________________________

Examinador: ________________________________________________________________

Estudante: ________________________________________________________________

NAMPULA, 2018
Declaração de Honra
O presente trabalho científico constitui o resultado da minha pesquisa e da magna orientação
do meu supervisor: MA, Aboochama Oliveira Vontade. Pelo que, nunca foi publicado em
nenhuma Faculdade para a obtenção de qualquer grau académico. Porém, encontram-se
apresentadas nas referências bibliográficas, todas as fontes usadas para a realização do
presente trabalho.

Juma Adremane

________________________________________

Nampula, Agosto de 2018

i
Dedicatória
Em primeiro lugar dedico a Allah, todo-poderoso!

Aos meus pais: Adremane Saide Amade e Avinaça Nuro Juma.

Ao meu tio e encarregado de educação Sr. Momade Nuro Juma, que dia e noite esteve
próximo e pronto em ver materializado este processo;

À memória do meu avô, que desde criança ensinou-me o espírito da persistência nos estudos;

Incansavelmente à minha querida Esmeralda Estêvão, que foi a pessoa mais especial dando
enormes contributos em todo pacote de Licenciatura em Administração Pública;

Aos meus filhos: Icra Juma Adremane e Avinaça Juma Adremane, que mesmo estando
distante, foram a maior causa e fonte de inspiração ao longo da formação.

ii
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradeço a Allah, todo-poderoso!

Aos meus pais: Adremane Saide Amade e Avinaça Nuro Juma.

Com especial enfoque ao meu respeitoso supervisor, o MA, Aboochama Oliveira Vontade,
que de forma particular, deu e tem dado a sua orientação a todos níveis como uma condição
sine qua non para o sucesso da presente licenciatura.

À toda minha família, por ter me ajudado ao longo do percurso;

Um agradecimento especial ao meu tio e encarregado de educação, Momade Nuro Juma, que
prontificou a sua ajuda em todos os momentos da formação;

Aos irmãos, Saide Adremane, Saide Adremane Namacoma e Raimo Adremane.

Aos meus colegas, Neves Dinis Calisto Janfar, Amisse Dauda, Obed Gualter José Gil, a Tuair
Selemane, António Isaías Mamborice, a Andra Manuela Chiwira, a Joana Gonçalves
Fernando, ao Cimo Vieira Tualha, a Elsa Alufane, ao Manuel Eduardo Pereira, ao Teodónio
Daniel José António e demais colegas da turma que de forma incansável deram o seu apoio
para a materialização desta licenciatura.

Aos meus docentes: MA. Aboochama Oliveira Vontade, ao Dr. Celestino Júnior, ao MA. João
Bento Zampula, à Dra. Adília Marília Silva, ao MA. Cremildo Yotamo, ao MA Vicente
Marcos, ao MBA. António Cuna, ao Dr. Mussagy Hassane Mussagy e demais docentes da
Faculdade de Direito da Universidade Católica de Moçambique, que de forma directa
contribuíram bastante na troca dos seus conhecimentos ao longo deste período da licenciatura.

Um agradecimento especial, à Esmeralda Estêvão, que sempre esteve próxima no momento


em apreço e constituiu uma referência a todos os níveis da minha vida estudantil. Às
personalidades que não cabe menciona-las, aos meus pares da Faculdade de Direito, que
directa ou indirectamente, trocamos impressões académicas, particularmente no que tange ao
mundo da Administração Pública, vai o meu muito obrigado.

iii
Epígrafe

“O modo de funcionamento da
Administração não se compadece com a
oralidade, em regra, portanto, o
procedimento administrativo tem carácter
escrito”(in Marcello Caetano cit. Amaral,
1989. Vol. III).

iv
Lista de Siglas/Abreviaturas
AP – Administração Pública

Apud – (latim) – Citado por…

Art. - Artigo

CRM – Constituição da República

Cit – (latim) – Citado por

Dr. Doutor

LPA - Lei do Procedimento Administrativo

MA – Master Administration

MBA – Master Administration Basic

N.º – Número

Prof. – Professor

SS – Seguintes

Vide – consultar

v
Resumo
O presente trabalho científico tem como tema: Análise da Eficácia do Indeferimento Tácito Face aos Direitos e
Interesses dos Particulares legalmente protegidos. Trata-se de uma análise doutrinal e jurídico-administrativa do
fenómeno do indeferimento tácito que reiteradamente ocorrem na nossa realidade administrativa e não só. Do
ponto de vista académico, o indeferimento tácito é visto como uma violação aos princípios da decisão e da
fundamentação dos actos administrativo, alias, viola os direitos e interesses fundamentais dos particulares
legalmente protegidos. Entretanto, atendendo que o fenómeno tem deixado os particulares desmotivados num
Estado de Direito Democrático, importa no presente estudo perceber o paralelismo deste fenómeno diante dos
princípios acima arrolados. Assim sendo, em consideração à problemática acima arrolada ao longo da pesquisa,
permitiu-nos levantar a seguinte pergunta de partida: Que implicações o indeferimento tácito gera face aos
direitos e interesses dos particulares legalmente protegidos? Outrossim, o objectivo geral do estudo é de analisar
o impacto do indeferimento tácito para o desenvolvimento socioeconómico do país. Nisso, culmina nos seguintes
objectivos específicos: (i) identificar os efeitos jurídicos do indeferimento tácito sobre os direitos e interesses dos
particulares legalmente protegidos; (ii) descrever as implicações do indeferimento tácito sobre os direitos e
interesses dos particulares legalmente protegidos, e (iii) propor, possíveis melhorias jurídico-administrativas para
salvaguardar os direitos e interesses legítimos dos particulares. Contudo, a presente pesquisa versa num olhar dos
artigos 107º e 108º respectivamente da Lei 14/2011, de 10 de Agosto, uma lei que regula a vontade da
Administração Pública, estabelece as normas de defesa dos direitos e interesses dos particulares. Para a
realização do presente trabalho, tivemos como recurso à pesquisa bibliográfica e documental, onde foi possível
apreciar as posições dos autores comparativamente com as legislações internas e internacionais.

Palavras-chave: Administração, Indeferimento, Direitos, interesse, particulares.

vi
Abstract

The present scientific work has as its theme: Analysis of the Efficacy of Tacit Dismissal Faced with the Rights
and Interests of Legally Protected Individuals. It is a doctrinal and legal-administrative analysis of the
phenomenon of tacit rejection that repeatedly occur in our administrative reality and beyond. From an academic
point of view, tacit dismissal is seen as a violation of the principles of decision making and of administrative
grounds, alas, it violates the fundamental rights and interests of legally protected individuals. However, in view
of the fact that the phenomenon has left private individuals unmotivated in a State of Democratic Right, it is
important in the present study to perceive the parallelism of this phenomenon in view of the above mentioned
principles. Thus, in consideration of the above problems, we were able to ask the following question: What
implications does tacit denial generate in the face of the rights and interests of legally protected individuals?
Moreover, the overall objective of the study is to analyze the impact of tacit rejection on the socio-economic
development of the country. In this, it culminates in the following specific objectives: (i) to identify the legal
effects of tacit dismissal on the rights and interests of legally protected individuals; (ii) describe the implications
of tacit dismissal over the rights and interests of legally protected individuals, and (iii) propose possible legal and
administrative improvements to safeguard the rights and legitimate interests of individuals. However, this
research looks at articles 107 and 108 respectively of Law 14/2011, of August 10, a law that regulates the will of
the Public Administration, establishes the norms to defend the rights and interests of individuals. For the
accomplishment of the present work, we have had recourse to the bibliographical and documentary research,
where it was possible to appreciate the positions of the authors comparatively with the domestic and
international legislations.

Keywords: Administration, Rejection, Rights, interest, individuals.

vii
Índice
Declaração de Honra................................................................................................................i

Dedicatória..............................................................................................................................ii

Agradecimentos.....................................................................................................................iii

Epígrafe..................................................................................................................................iv

Lista de Siglas/Abreviaturas....................................................................................................v

Resumo...................................................................................................................................vi

Abstract.................................................................................................................................vii

INTRODUÇÃO......................................................................................................................1

CAPÍTULO I: MARCO TEÓRICO........................................................................................4

1.1. Noções Gerais da Administração Pública....................................................................4

1.3. O INDEFERIMENTO TÁCITO/ SILÊNCIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. .7

1.3.1. O Princípio do Respeito pelos Direitos e Interesses Legalmente Protegidos dos


Particulares............................................................................................................................11

1.3.2. O tratamento do Indeferimento Tácito no Ordenamento Jurídico..........................12

1.3.3. Noções fundamentais do Acto Administrativo.......................................................14

1.3.4. Acto Administrativo definitivo e Executório.........................................................16

1.3.5. O indeferimento tácito face às Garantias Jurídicas dos Particulares......................18

1.3.6. O Dever de Informar da Administração Pública na era da Informação.................20

1.3.6.1. Administração Pública Electrónica.....................................................................20

CAPÍTULO II: METODOLOGIA........................................................................................26

2.1. Caracterização da pesquisa.........................................................................................26

2.3. Tipo de pesquisa quanto a forma de abordagem do problema...................................26

2.4. Método de pesquisa....................................................................................................26

2.4.1. Quanto a forma de abordagem................................................................................26

2.4.2. Técnicas de colecta de dados..................................................................................27

2.4.3. Técnicas de análise de dados..................................................................................27

CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS..........................................28


viii
3.1. A LUZ DO MARCO TEÓRICO...............................................................................28

3.2. Implicações do indeferimento tácito sobre os direitos e interesses dos particulares


legalmente protegidos...........................................................................................................28

3.3. Indeferimento tácito...................................................................................................29

3.4. O Dever de Informar da Administração Pública face à era da Informação...............31

CAPÍTULO IV: DISCUSSÃO DE RESULTADOS............................................................33

4.1. A LUZ DO MARCO TEÓRICO...............................................................................33

Conclusão..............................................................................................................................42

Sugestões...............................................................................................................................43

Referências Bibliográficas....................................................................................................44

a) Legislações usadas:........................................................................................................44

b) Doutrina:........................................................................................................................44

ANEXO.................................................................................................................................46

ix
INTRODUÇÃO
O presente trabalho científico tem como tema: Análise da eficácia do indeferimento tácito
face aos direitos e interesses dos particulares legalmente protegidos Trata-se de uma análise
doutrinal e jurídico-administrativa do fenómeno do indeferimento tácito que reiteradamente
ocorrem na nossa realidade administrativa e não só. Do ponto de vista académico, o
indeferimento tácito é visto como uma violação aos princípios da decisão e da fundamentação
dos actos administrativos, o que, em outras palavras vale dizer, viola o princípio da legalidade
administrativa.

Entretanto, atendendo que o fenómeno tem deixado os particulares desmotivados num Estado
de Direito Democrático, a tem gerado maior diferença na opinião pública. Porém, com a
insatisfação dos particulares pode, eventualmente, alimentar a prática da corrupção, uma
doença bastante combatível a nível interno e internacional. Assim sendo, em consideração à
problemática arrolada, levanta-se a seguinte pergunta de partida: Que implicações o
indeferimento tácito gera face aos direitos e interesses dos particulares legalmente
protegidos?

Outrossim, o objectivo geral do estudo é de analisar o impacto do indeferimento tácito para o


desenvolvimento socioeconómico do país. Relativamente aos objectivos específicos da
presente pesquisa, temos: (i) identificar os efeitos jurídicos do indeferimento tácito sobre os
direitos e interesses dos particulares legalmente protegidos; (ii) descrever as implicações do
indeferimento tácito sobre os direitos e interesses dos particulares legalmente protegidos, e
(iii) propor, possíveis melhorias jurídico-administrativas para salvaguardar os direitos e
interesses legítimos dos particulares.

Contudo, a presente pesquisa versa num olhar dos artigos 107º e 108º respectivamente da Lei
14/2011, de 10 de Agosto, uma lei que regula a vontade da Administração Pública, estabelece
as normas de defesa dos direitos e interesses dos particulares. Para a realização do presente
trabalho.

Para a realização do presente trabalho, nos baseamos na pesquisa bibliográfica e documental


para melhor articulação do problema. Contudo, relativamente a tipologia da pesquisa usada
quanto a forma de abordagem do problema, no presente trabalho empregou-se a pesquisa
qualitativa, visto que é aqui onde o pesquisador faz um estudo do fenómeno de forma cabal;
no que tange a pesquisa do ponto de vista dos seus objectivos, optou-se no presente estudo a
1
pesquisa exploratória; relativamente ao método científico empregue na presente pesquisa,
resta-nos elucidar que optamos o método dedutivo, entendo que é neste método onde se
estuda um determinado fenómeno partindo do geral, descendo assim para o mais particular.

No que concerne às técnicas de recolha de dados, importa esclarecer que o presente estudo
cingiu-se na análise bibliográfica e documental, sem esquecer a um olhar especial de
legislações internas e internacionais que descrevem a matéria. Nesta vertente, permitiu olhar
de forma explícita as ideais dos autores comparativamente com as normas jurídicas que
explicitam o fenómeno em alusão. Com relação à estratégia usada para a apresentação e
discussão dos resultados, cumpre-nos sublinhar que fizemos uma espécie do estudo
comparativo da doutrina face às legislações atinentes à matéria em alusão, mas sobre tudo,
das outras realidades de modo a encontrarmos possíveis saídas face ao problema.

Outrossim, sempre que se fala do indeferimento tácito, que consiste na ausência de


pronunciamento dos órgãos administrativos após o decurso do período legal, a questão tem
suscitado maior equívoco no seio da opinião pública. O que obviamente remete-nos a uma
análise de modo a percebermos até que ponto a medida gera implicações no seio dos
particulares.

Como é do nosso conhecimento, a Administração Pública assenta nos princípios de:


(Legalidade, transparência, decisão, fundamentação, eficiência e eficácia, publicidade,
continuidade, efectividade, razoabilidade, racionalidade, entre outros). Ou seja, a
Administração Pública está vinculada ao princípio da legalidade – (a AP está na lei).

Do ponto de vista académico, este, torna-se um ponto de debate a fim de se apurar o melhor
caminho possível que possa ser adoptado de forma a preservar os direitos e garantias dos
particulares legalmente protegidos. Por outro lado, o silêncio administrativo/indeferimento
tácito acaba, nalgumas vezes; lesando os particulares, tirando os seus sonhos; e
comprometendo a materialização dos seus projectos; descredibiliza a imagem administrativa e
compromete o desenvolvimento socioeconómico do país.

No que toca a estruturação do presente trabalho, importa salientar que o mesmo encontra-se
subdividido em quatro (4) capítulos nomeadamente: o marco teórico, a metodologia, a
apresentação e análise de dados e por último, a discussão de resultados. Relativamente ao
primeiro capítulo (Marco Teórico), apresentamos em princípio, as noções fundamentais da
expressão Administração pública, a conceitualização terminológica do termo silêncio e
2
silêncio administrativo, o tratamento do silêncio da Administração Pública no ordenamento
jurídico moçambicano, o dever de informar da Administração Pública na era de informação e
fizemos o estudo comparativo do silêncio em alusão em outras realidades do mundo lusófono.

No que concerne ao segundo capítulo (os procedimentos metodológicos) é de enfatizar que


ilustramos de forma resumida os métodos adoptados para a realização do presente trabalho
científico, a tipologia de pesquisa com enfoque à pesquisa qualitativa, o método de
abordagem com olhar ênfase ao método dedutivo, às técnicas de pesquisa, as técnicas de
colecta de dados e a estratégia de apresentação e discussão de resultados.

Quanto ao terceiro capítulo, (apresentação e análise de dados), importa referir que é aqui onde
assenta a comparação doutrinal e legislativa dos factos apurados, pois, tentamos encontrar
possíveis soluções do problema em análise. Por último, no quarto capítulo fizemos uma breve
discussão de resultados apurados ao longo da pesquisa bibliográfica efectuada e uma
subsequente conclusão e sugestões face ao tratamento do indeferimento tácito. Pelo que,
esperamos que o resultado espelhe o esforço envidado.

3
CAPÍTULO I: MARCO TEÓRICO

1.1. Noções Gerais da Administração Pública

Conforme nos lembra o Otero (2014), “a Administração Pública visa sempre a prossecução de
interesses públicos, identificados como fins que encontram a sua fonte num título jurídico do
poder público, procura satisfazer necessidades colectivas dotadas de projecção ou repercussão
política, reconduzíveis ao conceito do bem comum” (p. 23).

Na perspectiva do Amaral (2006), “são dois sentidos em que se utiliza na linguagem corrente
a expressão administração pública: a Administração Pública em sentido orgânico ou
subjectivo e a administração pública em sentido material ou objectivo” (p. 21-22).

Outrora aponta para um terceiro sentido de expressão que é do ponto de vista técnico-jurídico,
ligado ao modo próprio de agir que caracteriza a administração pública em determinado tipo
de sistemas de administração.

Acresce o autor que “tomando em conta os dois sentidos da expressão, escrevê-la-emos com a
letra minúscula – administração pública – quando a usarmos no sentido material ou funcional,
a actividade administrativa pública; inversamente, quando recorremos ao sentido orgânico,
em princípio, a expressão leva letra maiúscula – Administração Pública” (Amaral 2006, p.
22).

Em nossa opinião, realmente o conceito da expressão Administração obedece, efectivamente,


três sentidos, nomeadamente: a Administração Pública em sentido orgânico; em sentido
material e em sentido formal. Para tal, diz-se em sentido material toda a actividade prestada
pelos órgãos administrativos na esfera/exercício do seu poder administrativo.

“A Administração Pública enquanto actividade humana, traduz-se na gestão de recursos que


visam a satisfação de necessidades colectivas destinada a prosseguir interesses públicos
identificados como o bem comum da colectividade, falando-se aqui em Administração
Pública em sentido objectivo ou material” (Otero, 2014, p. 171).

Na visão do Professor Caupers (2013), podemos perceber que afinal Administração Pública
sob ponto de vista orgânica é:

 Um conjunto de órgãos, serviços e agentes do Estado e demais organizações públicas;


 Asseguram em nome da colectividade tais serviços;
4
 A satisfação disciplinada, regular e contínua;
 Das necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar.

Daí que nos permite entender, numa primeira fase que, a administração pública em sentido
material ou funcional compõe-se do conjunto de acções e operações materiais desenvolvidas
pelos órgãos, serviços e agentes do Estado e demais organizações públicas ocupadas em
assegurar, em nome da colectividade, a satisfação disciplinada, regular e contínua das
necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar.

Entretanto, Otero (2014, p: 126), ensina que se deve considerar os seguintes traços distintivos
da Administração pública, enquanto instrumento do Estado, a saber:

 A actividade desenvolvida pela Administração Pública materializa-se juridicamente na


função administrativa, sem prejuízo de existir também uma componente sem natureza
jurídica imediata que se integra na função técnica e também na função política;
 A Administração Pública limita-se a gerir interesses públicos cuja titularidade não lhe
pertence, antes se encontra atribuída à colectividade, identificada esta com o titular da
própria sociedade política – particulares;
 A subordinação da actividade administrativa à vontade do titular da soberania
determina uma prevalência da vontade constituinte e da vontade legislativa sobre o
querer da Administração Pública: a actividade administrativa encontra-se vinculada a
respeitar à Constituição e à lei;
 A subordinação à vontade constitucional e legislativa permite vislumbrar, numa
acessão rousseauniana, além de uma legitimação democrática de acção administrativa
pela vontade geral, uma paradoxal relação cruzada: o povo é legislador e,
simultaneamente, destinatário das prescrições da lei e da actividade administrativa,
devendo-lhes obediência;
 A obediência à Administração Pública pressupõe uma implícita regra de conformidade
da acção administrativa com a vontade constitucional e legislativa, envolvendo a
existência de mecanismos de controlo ou fiscalização dessa mesma exigência de
conformidade: aos tribunais encontra-se reservada a última palavra dos termos da
obediência à vontade do titular da soberania – no controlo judicial reside a garantia
objectiva de respeito administrativo pela juridicidade e, ao mesmo tempo, a garantia

5
subjectiva das posições jurídicas substantivas e procedimentais dos destinatários da
actuação administrativa.

1.2. Formas e Meios da Actividade Administrativa


1.2.1. A Multiplicidade de Formas

No exercício da sua competência, visando a prossecução das suas tarefas, a


Administração Pública recorre a formas jurídicas e a formas não jurídicas de
actividade, ilustrando que nem sempre as funções do Estado se reconduzem à prática
de actos jurídicos, apesar de todos os actos não jurídicos radicarem a sua validade
numa norma jurídica de competência e serem passíveis de envolver a produção de
efeitos jurídicos na esfera administrativa (Otero, 2014, p: 128).

Contudo, segundo este autor, as formas jurídicas de actuação administrativa, envolvendo a


definição ou reconstrução de situações jurídicas, pautam-se pelas seguintes ideias nucleares:

a) Definição das situações jurídicas pode fazer-se através do recurso ao direito público
(formas de actividade jurídica pública) ou mediante a utilização do direito privado
(formas de actividade jurídica privada);
b) As situações definidas podem ter incidência substantiva, procedimental e processual;
c) Nem sempre a definição das situações jurídicas é feita por acção, uma vez que a lei
pode associar à inércia ou omissão administrativa um determinado significado
definidor de uma situação jurídica concreta;
d) A invalidade da definição jurídica proveniente da Administração Pública nem sempre
impede a sua produção de efeitos, nem exclui o seu destinatário do dever de
obediência em todos os casos;
e) A definição das situações jurídicas pode fazer-se em termos unilaterais ou bilaterais;
f) No âmbito do direito público, a definição unilateral das situações jurídicas pode ser
recortada a nível geral e abstracto ou em termos individuais e concretos.

Portanto, o exercício da actividade administrativa, assuma ou não forma jurídica, exige


sempre a mobilização de meios, salientando-se os quatro seguintes principais:

 Meios humanos;
 Meios materiais;
 Meios organizativos; e
 Meios privados.

6
1.3. O INDEFERIMENTO TÁCITO/ SILÊNCIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Começamos nesta abordagem a retratar a terminologia e significado da expressão
silêncio/indeferimento tácito para posteriormente aferir os efeitos jurídicos do indeferimento
tácito.

Todavia, tendo o recurso ao Dicionário Universal e Integral da Língua Portuguesa (2008), “a


expressão silêncio deriva do latim silentiu, visto como um substantivo masculino que
significa: estado de quem se abstêm de falar; taciturnidade; privação voluntária do falar;
abstenção de publicar qualquer notícia ou facto; ausência de ruído; interrupção de
correspondência; omissão de explicações e sossego” (p. 1357-1358).

Em nossa opinião, convergindo com o Dicionário acima citado, a palavra silêncio, numa
interpretação literal e extensiva, podemos perceber silêncio como sendo a omissão
propositada efectuada por um indivíduo; a falta da intervenção individual sobre um
determinado facto; ausência deliberada de vontade, entre outros.

Nos termos do n.º 1 e 2 do art. 108º da Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto estatui que:

1. Independentemente do disposto no artigo anterior, a falta, no prazo fixado para a sua


emissão, de decisão final sobre pretensão dirigida a órgão administrativo competente
confere ao interessado, salvo disposição em contrária, a faculdade de presumir
indeferida essa pretensão, para poder exercer o respectivo meio legal de impugnação.
2. O prazo a que se refere o número anterior é, salvo disposto em lei especial, de vinte e
cinco dias.

Atento a este posicionamento do legislador, podemos entender que os particulares tem a


faculdade de exercer os respectivos meios legais quando decorrido o período legal para a
decisão duma determinada matéria à um órgão administrativo competente. Para tal, cumpre-
nos enfatizar o efeito jurídico que o indeferimento tácito suscita perante pretensões concretas.
Ademais, a omissão das matérias submetidas pelos particulares tem sido recorrente na
Administração Pública, violando assim o poder - dever da Administração Pública, poder esse
que recai na decisão das matérias submetidas pelos cidadãos, por um lado, e o dever de
fundamentação, (vide art. 11 e 14 da lei n.º 14/2018, de 10 de Agosto).

7
Na perspectiva do Prof. Amaral (2006), “por vezes a Administração nada faz ou nada diz
acerca dos assuntos de interesse público que tem entre mãos 1. Tal atitude pode provocar
reacções por parte de opinião pública, mas não tem normalmente qualquer consequência
jurídicaˮ (p. 266).

Acrescenta o autor, que existem, porém, algumas situações em que a lei atribui ao silêncio da
Administração um determinado significado jurídico, daí decorrendo efeitos jurídicos.
Suponhamos que um particular apresenta a um órgão da Administração um requerimento em
que solicita que lhe seja atribuída uma licença ou uma pensão a que por lei tem direito.

Em nosso perceber, o silêncio da Administração Pública resulta na omissão ou preterição de


decisões dos órgãos administrativos face aos pedidos submetidos pelos particulares. Ou seja,
diz-se o silêncio da Administração Pública, quando decorrido o período legal, este órgão nada
diz diante dos pedidos submetidos pelos particulares, que se consubstancia na flagrante
violação dos direitos subjectivos dos mesmos.

Entretanto, considerando que o fim último da AP é a satisfação regular e contínua dos


particulares, a lei deve atribuir expressamente, o silêncio da Administração os efeitos
jurídicos positivos. Ou seja, sob ponto de vista doutrinal, discute-se reiteradamente se o
silêncio da Administração seria ou não a aceitação das matérias apresentadas aos
administrativos.

Como todos nós sabemos, muitas vezes a Administração tem uma atitude de inércia
ou de silêncio perante pretensões concretas dos particulares, constituindo uma das
mais insidiosas formas de desrespeito pelas regras ou normas que regem o
funcionamento da Administração pública, de forma directa violando assim o
princípio da legalidade, como devem ser entendidos num Estado de Direito – no
caso de Moçambique (Saldanha, 2013).

Contudo, no nosso entender, esta prática vem sendo reiterada nas nossas instituições públicas
moçambicanas, pelo que, em princípio não deve ser tratada como um simples problema, mas
sim, como uma questão nociva que afecta o âmago da administração pública. Outrossim, a

1
Se nada diz por exemplo, em primeira análise, podemos dizer que o órgão administrativo está violar a lei.
Aliás, cumpre aos órgãos administrativos, nos termos da lei dar uma decisão final sobre um determinado acto
administrativo. Assegura o principio da decisão que: os órgãos da Administração Pública devem decidir sobre
todos os assuntos que lhe sejam apresentados pelos particulares. No entanto, considerando esta prescrição, é
óbvio que os órgãos administrativos estão diante de um poder-dever de decidir os actos administrativos
submetidos por particulares, pelo que, não há espaço de se registar o silêncio em alusão.
8
doutrina do silêncio administrativo2, surge como uma necessidade de salvaguardar os direitos
e interesses dos particulares perante a Administração.

Tanto é que, a Administração Pública existe para a prosseguir o interesse público que a lei
coloca a seu cargo, sendo inadmissível que, no âmbito da prossecução de tal interesse, se
permitisse à Administração, que continuasse com a política de braços cruzados.

De acordo com Breweer (1990) cit Saldanha (2013), “a doutrina do silêncio administrativo
surge como uma necessidade de salvaguardar os direitos e interesses dos particulares perante
a Administração, configurando-o como um princípio geral de direitoˮ (p. 91).

Em nossa humilde opinião, num momento em que se pretende modernizar cada vez mais a
administração pública, seria óptimo que o indeferimento tácito presumisse na aceitação do
pedido. Pois, muita das vezes os órgãos administrativos têm omitido certas matérias
alegadamente por estar a defender o interesse geral dos particulares.

Contudo, “atendendo que a Administração Pública existe para prosseguir o interesse público,
a que a lei coloca a seu cargo, sendo é inadmissível que, no âmbito da prossecução de tal
interesse, permitisse à Administração, que continuasse com a política de braços cruzados, e
assim, não respondesse deste modo as solicitações concretas e individuas dos particularesˮ
(Saldanha, 2013. P: 91).

Face a estes posicionamentos, em nossa opinião há que respeitar a marcha do procedimento


administrativo que, directa ou indirectamente, trás certas fases que devem ser observadas
pelos órgãos administrativos face aos pedidos submetidos pelos particulares, pois, entre elas
destaca-se a fase de decisão que abre espaço legal, salvo casos excepcionais a Administração
Pública pronunciar-se diante dos interessados.

Ao abrigo do art. 104º da lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto consagra que o procedimento
administrativo extingue-se pela tomada de decisão final bem como por qualquer outros factos
previstos na presente lei.

2
O silêncio da Administração ou simplesmente o silêncio administrativo é, na nossa posição um vício dos órgãos
administrativos em não se pronunciar face aos pedidos dos particulares após o decurso do período legalmente
estabelecido. Contudo, resta percebermos o seu tratamento no nosso ordenamento jurídico e, efectivamente, qual
seria a melhor medida face a este mal.
9
Sendo a tomada de decisão, a extinção do procedimento administrativo, o indeferimento tácito
em nossa opinião viola de larga medida o princípio da legalidade administrativa, um princípio
motor que assegura a actividade administrativa e não só.

De acordo com Guibanda (2012), “no desenvolvimento da sua actividade, a Administração,


muitas vezes, atinge os direitos e interesses legítimos dos particulares, de forma lesiva” (p.
21).

Adianta o autor, afirmando que o desrespeito do princípio da legalidade que norteia a


actividade da Administração, esta, muitas vezes, comete violações da lei e/ ou abusa do seu
poder, quer por actos, quer por omissão, lesando direitos e/ou interesses dos particulares.

Entrando em concordância com o autor, realmente, o silêncio administrativo é uma violação


clara ao princípio da legalidade administrativa, que é no nosso entender é o guião de toda
actividade administrativa. Neste contexto, atendendo que esta prática vem sendo reiterada no
seio da administração pública, dever-se-ão os órgãos administrativos a se conformarem com
as matérias legais, pois, o procedimento administrativo culmina com a tomada de decisões
administrativas. Ademais, do ponto de vista doutrinal e jurisprudencial, a Administração
Pública goza do poder vinculativo, pelo que, deve a observância de tal poder de forma que os
actos celebrados não lesem os particulares.

Entretanto, de referir que é assim que os Estados de Direito Democrático curam de colocar ao
serviço dos particulares uma gama de garantias (políticas, administrativas, ou graciosas e
jurisdicionais ou contenciosas), tendentes a reprimir ou a prevenir a violação dos seus direitos
e interesses legalmente protegidos, pela Administração.

Por outro lado, sabemos muito bem que “a Administração Pública visa a
prossecução do interesse público. Porém, sendo este o princípio motor da
Administração pública, não devem, os órgãos administrativos omitir certos actos que
por lei, devem ser decididos. Tanto é que na filosofia administrativa, é justo ouvir
que a (AP) actua, move-se, funciona para prosseguir o interesse público, pois, o
interesse público é o seu único fim” (Amaral, 2008, p: 256).

A medida é comungado nos termos do art. 5º da LPA, que estatui que : a Administração
Pública prossegue o interesse público, sem prejuízo dos direitos e interesses dos
administrados protegidos por lei.

Todavia, o maior equívoco face ao silêncio da AP surge, na medida em que a mesma serve o
interesse público e na sua actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos

10
cidadãos, vide n.º 1 do art. 249º da CRM. Assim sendo, considerando deste modo que a
génese e essência da Administração é observar estreitamente o respeito dos direitos e
liberdades fundamentais dos cidadãos, surge uma questão relativamente ao tratamento do
silêncio da Administração Pública particularmente na nossa realidade jurídico-administrativa
moçambicana.

1.3.1. O Princípio do Respeito pelos Direitos e Interesses Legalmente Protegidos dos


Particulares

Segundo o Prof. Freitas do Amaral (2008), “a prossecução do interesse público não é o único
critério da acção administrativa, nem tem um valor ou alcance ilimitado. Há que prosseguir,
sem dúvida, o interesse público, mas respeitando simultaneamente os direitos subjectivos e os
interesses legalmente protegidos dos particulares” (p. 61-62).

Acrescentando a posição do autor, entre nós, concordamos que realmente não basta prosseguir
um interesse público3, mas sim, na última instância, respeitar o interesse prosseguido visto
que é o dever da administração pública oferecer serviços públicos de forma eficiente e eficaz.
Contudo, diante do silêncio da Administração Pública comparativamente ao dever de respeitar
os direitos e interesses dos particulares referenciados pelo autor, percebemos que realmente,
do ponto de vista doutrinal é a violação dos princípios e alicerces da administração pública.

Outrossim, está aqui retratada a essência do Direito Administrativo, que se caracteriza pela
necessidade permanente de conciliar as exigências do interesse público com as garantias dos
particulares. Pois, durante muito tempo, pensou-se que a única forma de assegurar o respeito
pelos direitos subjectivos e pelos interesses legalmente protegidos dos particulares seria
reclamar e garantir o princípio da legalidade.

O autor, acresce que respeitando a legalidade, a Administração pública automaticamente


respeitaria os direitos e interesses dos particulares. Com isso, percebe-se no posicionamento
nosso que o indeferimento tácito é uma das vias de violação do princípio constitucional da
legalidade. Como sabemos, o princípio da legalidade administrativa nasce como sendo o
limite à acção da Administração pública; a sua função era a de proteger os direitos e interesses
dos particulares.
3
O interesse público constitui o fim último da administração pública. Contudo, há que priorizar este, de forma
que se garanta o bem-estar socioeconómico dos particulares.
11
1.3.2. O tratamento do Indeferimento Tácito no Ordenamento Jurídico
De lembrar que nos termos do art. 104º da LPA (a lei que regula a formação da vontade da
Administração Pública, estabelece as normas de defesa dos direitos e interesses dos
particulares), consagra que o procedimento extingue-se pela tomada de decisão final, bem
como por qualquer outros factos previstos na Lei.

A considerar a posição do legislador, percebe-se que o procedimento administrativo tem como


fim último dar termo dum acto administrativo, ou seja, tomar uma dada decisão face às
petições submetidas pelos particulares.

Mais adiante, a lei supracitada, estabelece nos seus n.º 1 e 2 do artigo 107º, os casos de
deferimento tácito dos actos administrativos nas seguintes posições:

1. Se a decisão não for proferida no prazo estabelecido por lei, as autorizações ou


aprovações solicitadas apenas se consideram concedidas nos casos em que leis
especiais prevejam o deferimento tácito.
2. Quando a lei não fixar o prazo especial, o prazo de produção do deferimento tácito é
de vinte e cinco dias, a contar da formulação do pedido ou da apresentação do
processo para esse efeito.

Relativamente ao n.º 1 do art. 108º da lei em alusão (LPA), estabelece que independentemente
do disposto no artigo anterior, a falta, no prazo fixado para a sua emissão de decisão final
sobre pretensão dirigida ao órgão administrativo competente confere ao interessado, salvo
disposição em contrário, a faculdade de presumir indeferida essa pretensão, para poder
exercer o respectivo meio legal de impugnação.

Entre nós, percebemos que, visto que o prazo estabelecido para a decisão final das pretensões
dirigidas aos órgãos administrativos competentes, salvo a disposição em contrário é de vinte e
cinco dias, há casos em que decorre o período em alusão sem que haja uma pronunciação dos
órgãos administrativos, violando assim a Constituição da República e leis avulsas do nosso
ordenamento jurídico.

Contudo, decorrendo este facto, denomina-se o indeferimento tácito, o resultado dessa


omissão da decisão sobre as pretensões submetidas aos órgãos competentes. Entretanto,
pensamos nós que ainda não temos medidas eficientes e eficazes do tratamento do silêncio da
12
Administração Pública no nosso ordenamento jurídico moçambicano. Ou seja, estamos diante
dum vazio legal face ao silêncio da Administração no ordenamento jurídico moçambicano. A
presunção não é um meio eficiente perante os direitos e interesses legítimos dos particulares.

Ora vejamos, a lei só e só estabelece que decorrido o período legal para a decisão final das
pretensões submetidas aos órgãos competentes, presumir-se-á o deferimento ou indeferimento
tácito dos seus pedidos. Contudo, achamos nós que não há espaço, pelo menos na vida
jurídico-administrativa a questão de presunção, principalmente quando se trata da violação
dos direitos e interesses dos particulares legalmente tutelados por lei.

Todavia, esta vaga da disposição legal não é eficaz, pois, é uma matéria que reiteradamente
ocorre na nossa realidade. Contudo, é na nossa humilde opinião que se faça uma reforma legal
da lei em análise, particularmente nos artigos 107º e 108º respectivamente. Na nossa opinião,
seria a mesma lei a determinar de forma categórica, que o silêncio da Administração Pública,
portanto decorrido o período legal, resultar-se-á na aceitação do pedido submetido aos órgãos
competentes. Isso porque, em princípio o legislador estaria a acautelar os direitos e interesses
dos particulares que na em princípio a lei almeja, sob pena de termos uma lei, que na essência
não defende aquilo que são os interesses dos particulares que do ponto de vista doutrinal e
jurisprudencial é o fim último da Administração pública.

A opinião exposta no parágrafo anterior, surge na medida em que a lei prevê ainda n.º 1 do
art. 108º que em caso do decurso legal do período, salvo a disposição em contrário, devem os
particulares, presumir indeferida do seu pedido para efeitos de impugnação junto aos tribunais
Administrativos e entre outras instâncias. Ora, a presunção de tal facto não é um meio
positivo no nosso entender.

Aliás, o aprendemos ao longo da nossa formação que o Tribunal Administrativo não passa
deste equívoco (Silêncio da Administração Pública), pelo que, achamos que é o momento
oportuno que se possa fazer uma revisão pontual da lei em apreço, de modo que o legislador
determine medidas acautelares dos direitos e interesses dos particulares, visto que são
situações que lesam de certo modo os particulares, e, devido a desinformação administrativa
de muitos concidadãos ficam sem saber o que fazer, optando assim, na maioria das vezes
corromper para que os seus pedidos sejam satisfeitos. Assim sendo, um dos casos negativos
que o silêncio da Administração produz é a abertura dum campo para a prática da corrupção,
uma doença bastante combatível em Moçambique e no mundo em geral.

13
De lembrar que a tal presunção não satisfaz de forma cabal os particulares cujos direitos estão
estabelecidos na Constituição. Porém, de todo em todo o Silêncio da Administração Publica,
em outras palavras seria a violação dos princípios administrativos expressos nos art. 4º e ss da
(LPA).

Todavia, comparando isso com o silêncio da Administração Pública, podemos perceber que o
indeferimento tácito, realmente é um atentado aos direitos subjectivos dos administrados,
atendendo que viola os princípios da decisão e da fundamentação dos actos administrativos.

Ensina-nos o Professor Freitas do Amaral, se a Administração Pública nada disser,


está a violar a lei, está a ofender um direito subjectivo de um cidadão. Mas, como a
garantia dos particulares em Direito Administrativo se traduz no direito de recorrer
contenciosamente dos actos praticados pela Administração pública, estes podem de
certa forma, se a Administração nada disser, se portanto não praticar nenhum acto -,
como é que o particular poderá recorrer, de que decisão e que ira interpor recurso?
(Amaral, 2016).

Acresce o autor, que infelizmente, estas situações de inércia ou de silêncio da Administração


perante pretensões concretas apresentadas por interessados aos órgãos competentes são
frequentes. E, como se compreende, deixam os particulares desarmados, num sistema jurídico
que organiza a protecção dos administrados sobretudo na base do recurso contencioso de
anulação – o que efectivamente pressupõe a prática de acto administrativo definitivo e
executório, de que se possa recorrer.

1.3.3. Noções fundamentais do Acto Administrativo


Na concepção do Prof. Amaral (2012),

“O acto administrativo é o acto jurídico unilateral praticado, no exercício do poder


administrativo, por um órgão da Administração ou por e outra entidade pública ou privada para
tal habilitada por lei, e que traduz a decisão de um caso considerado pela Administração,
visando produzir efeitos jurídicos numa situação individual e concreta” (p. 239).

Acresce o autor, que o acto administrativo, em princípio obedece, no mínimo cinco elementos
essenciais, a destacar:

 Trata-se de um acto jurídico;


 Trata-se de um acto unilateral;
 Trata-se de um acto praticado no exercício do poder administrativo;
 Trata-se de um acto de um órgão administrativo;
 Trata-se de um acto decisório;
14
 Trata-se um acto que versa sobre uma situação individual num caso concreta.

Seguindo o raciocínio do autor, o acto administrativo, para todos efeitos, todas as decisões
tomadas pelos órgãos Administrativos em sede da administração pública (no exercício das
suas funções), que visa produzir efeitos numa determinada matéria. (Amaral, 2012).

De acordo com Sousa e Matos (2009), “o acto administrativo não é sinónimo do acto da
administração, o conceito do acto administrativo abrange um grupo de condutas
administrativas dotadas de características essenciais idênticas e por isso sujeitas a um regime
jurídico comum” (p. 73).

O autor, adianta prescrevendo que o acto administrativo é uma decisão do órgão da


administração pública que, ao abrigo de normas de direito publico, visa produzir efeitos
jurídicos numa situação individual e concreta. Ora bem, se nos apegar com as palavras do
autor comparativamente com o silêncio da Administração Pública, podemos efectivamente
apurar que nalguns casos o silêncio da Administração Pública (AP) pode ser sim uma decisão
tácita para todos efeitos, dos órgãos administrativos em preterir sobre uma dada pretensão dos
particulares, pelo que, não sendo expressa é nociva no seio dos particulares, pois, viola a lei.

O conceito do acto administrativo é reforçado ainda pelo Prof. Caupers que sustenta
“o acto administrativo é, antes de mais, um acto jurídico, ou seja, conduta voluntaria
geradora de efeitos de direito. Nota-se que determinação da voluntariedade da
conduta nem sempre com recurso à chamada de vontade psicológica, isto é, a
vontade de tal como concebe a teoria do negócio jurídico (Caupers, 2013).

Acresce o autor, que a partir da existência da voluntariedade da conduta, mesmo com a


especificação apontada, permite excluir do conceito de actos administrativos os factos
jurídicos em sentido estrito, onde nos quais não se revela qualquer conduta voluntaria.

o acto administrativo é um acto jurídico unilateral praticado, no exercício do poder


administrativo, por um órgão da Administração pública ou por outra entidade
pública ou privada para tal habilitada por lei, e que traduz a decisão de um caso
considerado pela Administração, visando produzir efeitos jurídicos numa situação
individual e concreta (Macie cit Amaral, 2015).

Sobre esta posição, podemos perceber que o acto administrativo é sim, as decisões tomadas
pelos órgãos da Administração pública, mas sobre tudo no exercício das suas funções. Ora,
visto que uma das funções dos órgãos administrativos é de decidir as matérias que lhes são
apresentadas pelos particulares, poderíamos assentar que o silêncio da Administração pública,
pode eventualmente ser uma decisão tácita. Todavia, merece um tratamento cabal a fim de
garantir que os direitos e interesses dos particulares sejam acautelados.

15
1.3.4. Acto Administrativo definitivo e Executório
Na perspectiva do Caetano (2007), “o processo administrativo não finda necessariamente com
o acto definitivo e executório. A legalidade deste pode ser ainda examinada e a sua validade
discutida perante os tribunais administrativos numa nova fase, a de recurso contencioso” (p.
1326).

Na verdade, concordando com o autor, o processo administrativo não finda necessariamente


com o acto definitivo e executório. Contudo, há momentos em que os órgãos administrativos
não se pronunciam diante duma dada matéria. Pelo que, poderíamos nos questionar, se o
recurso contencioso far-se-á ao acto definitivo e executório, qual seria o tratamento de
simples preterição e omissão dos órgãos administrativos face aos pedidos dos interessados?

Em nossa humilde opinião, pensamos nós que não seria carácter administrativo, de todas as
formas que isso acontecesse. Ou seja, visto que estamos numa era em que todas as forças
vivas são chamadas a envidarem esforços no sento de catapultar a economia do país e não só,
os órgãos administrativos, também, deve rever a sua actuação perante aos pedidos submetidos
pelos particulares, sob pena de criar indícios de corrupção, a que merece o magno combate,
sob risco de prejudicar a economia do país.

Nos termos do Direito Administrativo moçambicano em particular, o Silêncio da


Administração Pública é uma matéria que merece um debate, pois, do ponto de vista
jurisprudencial e doutrinal, o silêncio da Administração viola aquilo que é os deveres da
própria Administração Pública. De lembrar que a Administração Pública tem, um poder-
dever, resultante deste modo na faculdade de prestar serviços públicos aos utentes por um
lado, e, o dever de tomar decisões face aos pedidos submetidos pelos particulares por outro
lado.

Entre nós, o tal recurso contencioso, em princípio é susceptível aos actos administrativos
definitivos e executórios, vide n.º 1 do art. 27º da lei n.º 9/2001, de 7 de Julho, pelo que
aproveitemos questionar, se o recurso contencioso a que se pode manifestar consiste num acto
administrativo definitivo e executório, qual seria a manifestação dos particulares com a
pretensão ou omissão dos órgãos administrativos face aos pedidos?

16
Ademais, Macie (2015) sublinha que “o conceito de acto administrativo impugnável
contenciosamente, é, na ordem jurídica moçambicana, o acto com eficácia externa, isto é, que
possa produzir efeitos jurídicos na esfera dos particulares, afectando os seus direitos ou
interesses legalmente protegidos” (p. 94-95).

Acrescenta o autor que é o acto administrativo impugnável o acto definitivo e executório, com
eficácia externa, incluindo neste conceito o acto não definitivo, desde que tenha sido
executado pela Administração Pública.

A ideia do Prof. Macie, leva-nos a um equívoco face ao tratamento legal do silêncio da


Administração. Se a impugnação contenciosa é susceptível ao acto definitivo e executório
com uma eficácia externa, qual seria o assento positivo aos particulares diante do silencio da
Administração, que até a última instancia produz esta eficácia externa e que não tenha sido
executado? Com certeza, temos que procurar saídas de modo que se acautele os direitos dos
particulares.

Nessa senda de ideia, atendendo que o silêncio da Administração resulta da omissão dos
órgãos administrativos após o decurso do período legal, há, efectivamente, enorme
necessidade da lei prescrever, formalmente o acento cabal da omissão dos órgãos
administrativos face aos pedidos submetidos pelos particulares. Na nossa consciência, seria de
bom-tom que a lei prescrevesse medidas eficientes do silêncio da Administração Pública de
modo que garante os interesses da colectividade. Ou seja, visto que o recurso contencioso
junto aos tribunais administrativos fazer-se-á mediante um acto definitivo e executório, ainda
estamos diante dum vazio do tratamento do silêncio da Administração, violando assim os
princípios assentos da administração pública.

Outrossim, o Tribunal Administrativo é um órgão da Administração Pública que tem a


prerrogativa de fiscalizar as actividades administrativas. Contudo, o estudo indica que mesmo
este órgão, não foge da matéria em alusão. Ocorre por ai que um particular submeta a sua
petição junto ao Tribunal Administrativo para efeitos de impugnação e que, o Tribunal, de
forma serena e tácita não satisfaça ou não corresponda com o tempo à pretensão exigida pelo
particular. Neste contexto, qual seria o som eficaz na Administração Pública moçambicana
perante os particulares visto que estão sendo minados os interesses que por lei têm direitos?
Essas, mais outras tantas questões serão discutidas ao longo do presente trabalho.

17
1.3.5. O indeferimento tácito face às Garantias Jurídicas dos Particulares
De acordo com o Prof. Amaral (2011), “são os meios criados pela ordem jurídica com a
finalidade de evitar ou sancionar as violações do direito objectivo, as ofensas dos direitos
subjectivos ou dos interesses legítimos dos particulares, ou o domínio da acção
administrativa, por parte da Administração pública” (p. 747).

Na perspectiva do Caetano (2013), “entendemos por garantias todos os meios criados pela
ordem jurídica com a finalidade imediata de prevenir ou remediar, quer as violações do direito
objectivo (garantias da legalidade), quer as ofensas dos direitos subjectivos ou interessas
legítimos dos particulares (garantias dos administrados) ” (p. 1202).

Entre nós, concordando com o Professor Amaral e Professor Caetano respectivamente,


garantias jurídicas dos particulares são a faculdade sujeita aos particulares de exigir uma
determinada pretensão. Entretanto, em sede do silêncio da Administração Pública, para que
sejam defendidos os direitos dos particulares, é chamado o nosso legislador moçambicano que
estabeleça expressamente na lei do procedimento administrativo, particularmente nos artigos
107º e 108º respectivamente, que decorrido o período legal sobre as matérias submetidas
pelos interessados, presumir-se-á o deferimento dos factos nelas constantes. Pois, só assim vai
garantir maior celeridade, transparência, racionalidade, eficiência e eficácia da administração
pública combatendo assim o espaço da corrupção, um mal bastante nocivo para o país e não
só, que nalgumas vezes tem tido lugar devido ao silêncio da Administração Pública.

Nos termos do n.º 1 do art. 18º da lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto, conjugado com o art. 15º
do Decreto 30/2001, de 15 de Outubro estabelece que são as garantias dos direitos das pessoas
singulares ou colectivas, as seguintes:

a) O requerimento;
b) A reclamação;
c) O recurso hierárquico;
d) O recurso hierárquico impróprio;
e) O recurso tutelar;
f) O recurso de revisão;
g) A queixa;
h) A denúncia;
i) A petição, queixa ou reclamação ao provedor de justiça;

18
j) O recurso contencioso.

Atento nas entrelinhas, e em particular ao recurso contencioso, podemos perceber que o


mesmo ê efectuado face ao acto administrativo definitivo e executório, vide n.º 1 do art. 27º
da lei 9/2001, de 7 de Julho. Ora, se o recurso contencioso far-se-á ao acto definitivo e
executório, somos de opinião que o silêncio administrativo nocivo que é, não pode se registar
no procedimento administrativo, aliás, de lembrar que o procedimento administrativo
extingue-se pela decisão final dos órgãos administrativos, vide art. 104º da lei 14/2011, de 10
de Agosto. Pelo que, enquanto não seja decidido pelos órgãos competentes, ainda não é um
acto susceptível de recurso contencioso para todos efeitos legais. Assim sendo, como forma
da Administração Pública honrar com o seu poder de decisão unilateral dos actos
administrativos, este órgão deve pronunciar-se de todos actos que lhe é solicitado pelos
interessados a fim de aprimorar o fim último da administração pública.

Na vertente das garantias dos particulares face aos abusos ou ilegalidades cometida pela
administração pública se desdobram em: garantias políticas, garantias graciosas e garantias
contenciosas (Amaral, 2005).

a) Garantias politicas – no que toca às garantias políticas, dizer desde logo que toda a
organização democrática do Estado constitui – em si mesma e nos múltiplos aspectos
de que se compõe – uma garantia para os particulares. Contudo, a garantias políticas
resumem-se no direito de petição, quando exercido perante qualquer órgão de
soberania, e o chamado direito de resistência;
b) Garantia graciosa – considera-se as garantias graciosas, as que se efectivem através
de actuação dos próprios órgãos da administração activa. A ideia fundamental em que
assenta a existência de garantias consiste na institucionalização, dentro da própria
Administração, de mecanismos de controlo da sua actividade – designadamente,
controlo hierárquicos, controlos tutelares e outros, os quais são criados por lei;
c) Garantias Contenciosas - finalmente, no que toca às garantias contenciosas, importa
salientar que estas representam a forma elevada e mais eficaz de defesa dos direitos
subjectivos e dos interesses legítimos dos particulares. As garantias contenciosas, em
síntese se efectivam através dos tribunais.

Em nosso entender, os particulares tem uma faculdade impugnatória face aos abusos
praticados pela Administração Pública. Contudo, não se pode pensar que o simples facto dos

19
particulares ter essa margem legal que os órgãos administrativos não se pronunciem sobre
uma dada matéria solicitada pelos particulares. O silêncio da Administração é um sinal claro
da violação dos direitos subjectivos dos particulares, mas sobre tudo a violação à constituição
e demais leis avulsas do nosso ordenamento jurídico.

Outrossim, os órgãos administrativos são chamados a colaborarem com os particulares, até


porque a lei dá essa previsão, sob pena de violar também o modelo da nova Gestão Publica ou
New Public Manergemnt que elucida um rol de princípios e procedimentos a ser respeitados
pela Administração Pública com vista a imprimir serviços públicos eficientes e eficazes sob
pena de pôr em causa o fim último pretendido. Alias, sobre estes comportamentos nocivos
que tem se verificado um pouco nalgumas instituições públicas, parece-nos que estamos a
caminhar por um quarto modelo tão negativo baseado na ineficiência e ineficácia. Ou seja, é
da inteira do Estado, como o órgão máximo da administração pública, criar medidas tangíveis
de modo a salvaguardar os interesses dos particulares legalmente protegidos.

1.3.6. O Dever de Informar da Administração Pública na era da Informação

1.3.6.1. Administração Pública Electrónica


De acordo com Otero (2014), “as últimas décadas do século XX, por efeito de um crescente
desenvolvimento tecnológico nos domínios da informática, permitiu registar quatro fases
sucessivas de transformação das modernas sociedades” (p. 484).

Na vertente de tais efeitos, o autor em apreço aponta as seguintes fases:

 A utilização de ferramentas computadorizadas de tratamento e armazenamento de


informação, possibilitando conexões, interacções e uma gestão mais eficiente e rápida
de informação desmaterializada;
 A democratização do computador pessoal, permitindo a cada pessoa o acesso, a todo o
tempo, em qualquer local, à informação;
 A conexão à internet, verdadeira auto-estrada da informação em que telefone em que
cada um tem ligação a partir da sua própria casa ou de um simples telefone móvel,
num mundo globalizado na partilha de informação;

20
 A criação de redes sociais, garantindo uma rápida circulação de informação, põe em
contacto um universo que, sendo global, matou as distâncias, sem necessidade de
contactos físicos entre os seus membros.

Contudo, a sociedade de informação criada, tornando quase anacrónica a utilização do papel


na comunicação de mensagens, conduziu à desmaterialização da informação e à simplificação
da linguagem escrita, senão mesmo à sua substituição por imagens ou símbolos universais de
comunicação, abolindo fronteiras e revelando a ineficácia dos mecanismos clássicos de
intervenção do Estado perante os desafios do ciberespaço. No entanto, esta radical
transformação das modernas sociedades, revelando um progressivo domínio da vida social
pelas conquistas da técnica, produziu inevitáveis efeitos na Administração Pública.

A introdução da informática no âmbito da Administração Pública, fazendo incorporar as


novas tecnologias na sua gestão e funcionamento, assim como no seu relacionamento com os
cidadãos, fez criar novos mecanismos e instrumentos jurídicos que, progressivamente,
revelaram uma nova Administração: as duas últimas décadas, conduzindo à informatização da
Administração Pública clássica foi cedendo lugar, num processo ainda em pleno
desenvolvimento e aprofundamento, a uma Administração Pública electrónica.

No que tange da Administração Pública electrónica, o autor acima suscitado levanta principais
manifestações da decorrente de tal processo de informatização da AP:

 Em termos evolutivos, a informação administrativa passou de uma primeira fase dita


do computador-arquivo, para uma nova fase, baptizada do computador-
funcionário, permitindo hoje, em casos de predeterminação por via de programação
de computador, a adopção de actos administrativos informáticos: a existência de
conceitos jurídicos indeterminados e de poderes discricionários surgem como áreas de
exclusão decisória informatizada.
 A armazenagem, a gestão e utilização da informação administrativa é hoje feita
através de mecanismos computadorizados, conduzindo a desmaterialização do
procedimento decisório, sendo visíveis altos graus de implantação da Administração
electrónica nos seguintes âmbitos sectoriais:
1. Administração tributária ou fiscal;
2. Segurança social;
3. Sistema público de saúde;
21
4. Contratação pública;
5. Registo civil, criminal e predial;
6. Justiça;
7. Sector financeiro e bancário;
8. Universidades públicas;
 O acesso dos cidadãos à Administração é feito, cada vez mais, através de portais da
internet, recolhendo informação e formulários online, enviado informação e
apresentando reivindicações, impugnações e esclarecimentos, permitindo até o
funcionamento de mecanismos de participação electrónica, registando-se que,
igualmente em número crescente, a resposta administrativa vem por via de notificação
electrónica, usando uma assinatura digital, num processo de desmaterialização do agir
administrativo – a indicação da morada é substituída, progressivamente, pela
indicação do endereço electrónico (email);
 A criação de linhas pessoais de acesso a informação, envio ou obtenção de
certificados constante de bases de dados administrativos, servindo de pressupostos
para o exercício de direitos ou de cumprimentos de deveres, envolvendo
documentação reservada de natureza pessoal ou profissional, através da atribuição aos
cidadãos de uma palavra-chave de acesso (password);
 Publicação electrónica dos boletins oficiais de legislação, divulgando on line actos
jurídicos ou simples informação administrativa, que, assumindo um papel vinculativo
para a Administração Pública ou em relação aos cidadãos, permita um fácil acesso de
todos ao seu conteúdo, facilitando o controlo público do agir administrativo – os
livros bem suporte de papel que realizavam compilações ou colectâneas de legislação,
de decisões administrativas e de sentenças judiciais estão a ser substituídos pela
informação resultante de sites da net geridos por entidades públicas ou por e-books;
 Substituição da presença física ou pessoal em certas reuniões de órgãos colegiais
administrativos, por uma presença assegurada através se sistemas de
videoconferência, ou até da prática presencial de operações materiais administrativas,
tal como sucede com o dar uma aula num estabelecimento público mediante um
sistema de ensino electrónico à distancia.

22
Outrossim, na nova Administração Pública electrónica, expressão do resultado da influência
das novas técnicas de informação e conhecimento de uma sociedade desenvolvida, em que o
computador pessoal desempenha a função chave de uma porta permanente aberta ao mundo,
registam-se significativas alterações no agir administrativo.

No que tange a contribuição dos meios da informação e comunicação, esclarece o Prof.


Chiavenato, que:

O surgimento da década de 1990 marca o surgimento da era da informação, graças a


Deus, com o tratamento impacto provocado pelo desenvolvimento tecnológico e
pela tecnologia da informação. Na era da informação, o capital financeiro cede o
trono para o capital intelectual. A nova riqueza passa a ser o conhecimento, o
recurso institucional mais valioso e importante capaz de tecer melhorias
(Chiavenato, 2008).

Como sublinhamos anteriormente, a Administração Pública não só tem o poder de tomar


decisões administrativas, mas sim, tem o dever de informar aos particulares cujos direitos
estão legalmente protegidos.

No que concerne ao direito de informação, está explícito nos n.º 1, 2 e 3 do art. 253º da CRM,
que estabelece:

1. Os cidadãos têm o direito de serem informados pelos serviços competentes da


Administração Pública sempre que requeiram sobre o andamento dos processos em
que estejam directamente interessados nos termos da lei.
2. Os actos administrativos são notificados aos interessados nos termos e nos prazos da
lei e são fundamentados quando afectam direitos ou interesses dos cidadãos
legalmente tutelados.
3. É assegurado aos cidadãos interessados o direito ao recurso contencioso fundado em
ilegalidade de actos administrativos, desde que prejudiquem os seus direitos.

Entretanto, percebemos nós que com o silêncio da Administração Pública, não só viola a
Constituição e demais leis avulsas, mas também, trás um impacto muito negativo no seio da
sociedade moçambicana. Ora vejamos, tem se reportado enormes casos de corrupção activa e
passiva respectivamente no nosso país, duma forma simplista, uma simples preterição dos
actos administrativos faz com que seja uma manobra por parte de tomadores de decisões
administrativas, o que, efectivamente, nalguns casos abre um espaço de prática da corrupção
que doravante trás, entre outros, o seguinte impacto:
23
 Compromete o crescimento socioeconómico do país, uma vez que, como sabemos,
diante do processo administrativo tem-se arrecadado taxas no sentido de catapultar o
Orçamento Geral do Estado – OGE que permite, efectivamente a materialização do
Plano Económico e Social – PES;
 Compromete o desenvolvimento socioeconómico do país, uma vez que, sem sombras
de dúvidas com a prática da corrupção o cidadão perde a confiança face à
Administração pública;
 Compromete, em larga medida a prossecução do interesse público a todos níveis.

Aliás, no que concerne a prossecução do interesse público, explica o Prof. Caupers (2013), “o
interesse público é o interesse de uma comunidade, ligado à satisfação das necessidades
colectivas desta (o bem comum)” (p. 79).

Na mesma linha do pensamento do autor, a variabilidade e o crescimento destas necessidades


constituem uma das características do Estado social de direito, determinando, por seu turno, a
expansão quantitativa e qualitativa dos interesses públicos, com a crescente dificuldade da
distinção entre estes e os interesses privados. Contudo, atendendo estas realidades que nalgum
momento tem sido reportado nas comunicações sociais, há que chamar atenção aos órgãos
competentes no sentido de estancar este mal.

Convergindo com o posicionamento do autor, realmente, considerando que o mundo atravessa


uma era da informação influencia pela capacidade tecnológica que os países vivem, a
Administração Pública é chamada a acompanhar este fenómeno até porque trás melhorias na
prossecução das necessidades da colectividade. Pelo que, melhor será, a adopção dos meios
tecnológicos na informação de decisões aos particulares para que efectivamente a
Administração Pública – (AP), esteja efectivamente em colaboração com os particulares.

Posto isso, cumpre-nos destacar que um dos meios de prevenção do silêncio administrativo
nas instituições públicas e na Direcção Provincial das Obras Públicas, Habitação e Recursos
Hídricos em particular, seria, efectivamente a adopção dos meios tecnológicos que o mundo
oferece a fim de salvaguardar os direitos e liberdades fundamentais dos particulares.

Ou seja, a tecnologia da informação – (TI), o casamento do computador com a televisão e as


telecomunicações invade a vida das instituições e das pessoas provocando profundas
transformações (Chiavenato, 2008). Criacao

24
Com essa prerrogativa, são desafiadas, em particular enfoque às Instituições Públicas a
adoptarem essa medida em todos procedimentos administrativos, pós assim, possibilita maior
gestão de informação, arquivos e documentos institucionais a fim de criar maior confiança,
aproximação e colaboração entre as partes (Administradores e administrados), pois esse é um
dos princípios motor da administração pública. Pelo que, seria melhor a criação de bancos de
dados institucionais, acesso cabal à internet a fim de garantir a melhor conectividade entre a
Administração e seus particulares alvos.

Contudo, atendendo que as Instituições Públicas têm como fim último o bem-estar
socioeconómico da colectividade, importa destacar que têm um desafio enorme no abraço
desta área. Pelo que, são os seguintes desafios que se registam na vertente da adopção das
tecnologias de informação e comunicação:

a) Conhecimento;
b) Digitalização;
c) Virtualização;
d) Molecularização;
e) Integração/redes interligadas;
f) Desintermediação;
g) Convergência;
h) Inovação, entre outros.

25
CAPÍTULO II: METODOLOGIA

2.1. Caracterização da pesquisa


No presente capítulo, são apresentados os procedimentos metodológicos adoptados para a
realização do trabalho, com enfoque especial ao método de pesquisa, tipo de pesquisa,
universo e amostra, a forma ou a técnica de colecta de dados e a sistemática de tratamento e
análise de dados.

2.2. Tipo de pesquisa quanto aos procedimentos técnicos


Quanto a tipologia adoptada no presente trabalho científico, do ponto de vista dos
procedimentos técnicos é a pesquisa bibliográfica.

Prodanov e Freitas (2013), ela ocorre quando “elaborada a partir de material já publicado,
constituído principalmente de: livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos,
jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográfico, internet, com o
objectivo de colocar o pesquisador em contacto directo com todo material já escrito sobre o
assunto da pesquisa” (p. 54).

2.3. Tipo de pesquisa quanto a forma de abordagem do problema


Para este estudo foi aplicada a pesquisa qualitativa. Esta pesquisa considera-se que há uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o
mundo objectivo e a subjectividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A
interpretação dos fenómenos e a atribuição de significados são básicas no processo de
pesquisa qualitativa (Silva e Menezes, 2001).

2.4. Método de pesquisa

2.4.1. Quanto a forma de abordagem


No que toca a forma de abordagem, resta-nos simplificar que a presente pesquisa baseou-se
no método dedutivo. Pois, este método tem o objectivo de explicar o conteúdo das premissas.
Por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, de análise do geral para o
particular, chega a uma conclusão, o que segundo Gil (2008), apud Prodanov e Freitas (2013),
parte do geral e, a seguir, desce à particular parte de princípios reconhecidos como
26
verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a conclusões de maneira puramente formal,
isto é, em virtude unicamente de sua lógica.” (p. 27).

2.4.2. Técnicas de colecta de dados


Toda pesquisa científica, em especial a pesquisa descritiva, deve ser bem planeada se quiser
oferecer resultados úteis e fidedignos. Esse planeamento envolve também a tarefa de colecta
de dados, que se corresponde a uma fase intermediária da pesquisa descritiva. Daí que
adoptamos as seguintes: a pesquisa bibliográfica e análise documental, mas também, cumpre-
nos sublinhar, o uso de legislações internas e internacionais que descrevem a matéria em
alusão.

2.4.3. Técnicas de análise de dados


De acordo com Freire e Almeida (2008), quanto às técnicas de análise de dados, temos:

“Sob ponto de vista dos procedimentos de colecta de dados, o último passo numa
investigação consiste na análise dos dados recolhidos com a observação ou a
avaliação conduzida. Este tratamento dos dados, seja qualitativo, seja quantitativo, e,
sempre que possível, ambos, vai permitir ao investigador e ao profissional retirar
conclusões do seu estudo junto de um indivíduo, grupo, situação ou instituição” (p.
222).

Concordando com a opinião dos autores, realmente, os dados colhidos na pesquisa não são
descritos duma forma isolada. Ou seja, sempre fazer-se-á sua análise. Pelo que, a análise de
dados colhidos permite ao pesquisador tecer uma dada conclusão face à matéria em estudo.

No âmbito de realização do presente trabalho, e como forma de honrar os objectivos do


presente estudo, fizemos uma análise face aos dados pesquisados na doutrina, da análise
documental comparativamente às legislações internas e/ou internacionais que descrevem a
realidade administrativa dum país.

27
CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

3.1. A LUZ DO MARCO TEÓRICO

3.2. Implicações do indeferimento tácito sobre os direitos e interesses dos


particulares legalmente protegidos
Referido o indeferimento tácito, importa tecer certas implicações que geram no seio dos
particulares. Atendendo que a marcha do procedimento administrativo extingue-se pela
tomada da decisão final pelos órgãos administrativos competentes, os órgãos administrativos
violam o princípio da legalidade administrativa na medida em que estes não se pronunciam
após o decurso do período legal para o efeito.

Ora vejamos:

Ao abrigo do disposto no n.º 1 e 2 do art. 108º da lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto, reza o
seguinte:

1. Independentemente do disposto do artigo anterior, a falta, no prazo fixado para a sua


emissão, de decisão final sobre pretensão dirigida a órgão administrativo competente,
confere ao interessado, salvo a disposição em contrário, a faculdade de presumir essa
pretensão, para poder exercer o respectivo meio legal de impugnação.
2. O prazo que se refere no número anterior é, salvo o disposto em lei especial, de vinte e
cinco dias.

Contudo, muita das vezes tem-se registado no seio dos particulares uma falta de confiança
perante a Administração Pública, tudo resultante das omissões e falta da colaboração da
Administração Pública com os particulares, o que, de forma implícita gera a corrupção, um
factor determinante no comprometimento do desenvolvimento socioeconómico do país.

Tanto é que, resultante deste fenómeno tem cultivado:

 Aumento da corrupção;
 Desconfiança dos particulares face à Administração Pública; e
 Comprometimento o acesso às infra-estruturas;

Nesta senda de ideia, o indeferimento tácito não só lesa aos particulares, como também,
compromete a materialização das actividades administrativas. Tanto é que, em nossa opinião,
o indeferiomento tácito não pode ser tratado como mera eventual ocorrência, nem pode ser
28
invocado como uma parte do procedimento administrativo porque, o procedimento
administrativo desagua na tomada de decisões, pelo que, deve ser visto como um mal capaz
de desvincular a colaboração da Administração Pública aos particulares que, por lei, estão
sujeitos. Assim sendo, quanto aos impactos administrativos podemos ter:

 Falta de prestígio administrativo;


 Falta de eficiência e eficácia administrativa;
 Falta de arrecadação de receitas para os cofres do Estado, entre outros.

O outro factor mais curioso, é que a lei do procedimento administrativo (Lei n.º 14/2011, de
10 de Agosto), trás como medidas a defesa dos direitos e interesses dos cidadãos, por outro
lado, temos sublinhado, tanto na vertente doutrinária como na prática que, obviamente, a
Administração Pública está vinculada ao princípio da legalidade, se assim o é, então esta
prática não pode ocorrer na Administração pública, visto que afronta ao próprio princípio da
legalidade administrativa.

3.3. Indeferimento tácito


Na perspectiva do Prof. Amaral (2006), “por vezes a Administração nada faz ou nada diz
acerca dos assuntos de interesse público que tem entre mãos. Tal atitude pode provocar
reacções por parte de opinião pública, mas não tem normalmente qualquer consequência
jurídicaˮ (p. 261).

Acrescenta o autor, que existe, porém, algumas situações em que a lei atribui ao silêncio da
Administração um determinado significado jurídico, daí decorrendo efeitos jurídicos.
Suponhamos que um particular apresenta a um órgão da Administração um requerimento em
que solicita que - lhe seja atribuída uma licença ou uma pensão a que por lei tem direito.

Na opinião do Saldanha (2013), “como todos sabemos, muitas vezes a Administração tem
uma atitude de inércia ou de silêncio perante pretensões concretas dos particulares,
constituindo uma das mais insidiosas formas de desrespeito pelas regras estabelecidas e pelo
princípio da legalidade” (p. 91).

A realidade jurídico-administrativa moçambicana trata o silêncio da Administração Pública


nos artigos 107º e 108º respectivamente da LPA. Com efeito, se a decisão não for proferida no

29
prazo estabelecido por lei, as autorizações ou aprovações solicitadas apenas se consideram
concedidas nos casos em que leis especiais não prevejam o deferimento tácito. Este
argumento da lei do Procedimento administrativo moçambicano, trás um equívoco do ponto
de vista dos objectivos prosseguidos, contudo o que a realidade jurídico-administrativa
moçambicana estipula, acaba não sendo eficaz, visto que a finalidade do procedimento
administrativo é, sempre tecer uma dada decisão.

Com certeza, a opinião do Prof. Saldanha merece uma atenção. Em nosso entender o tal
silêncio é, efectivamente, uma afronta ao Estado de Direito Democrático, cujos cidadãos têm
o direito de informação diante dos seus Administradores. Não só, a mesma prática, de forma
especial viola os princípios da actividade administrativa, nomeadamente: o princípio da
legalidade, da colaboração da Administração com os Administrados, da informação, da boa-
fé, da supremacia do interesse público, entre outros.

Na nossa humilde opinião, o Silêncio da Administração Pública resulta na omissão ou


preterição de decisões dos órgãos administrativos face aos pedidos submetidos pelos
particulares. Nessa senda de ideia, diz-se o Silêncio da Administração Pública, quando
decorrente do período legal, este órgão nada diz diante dos pedidos submetidos pelos
particulares, que consubstancia na flagrante violação dos direitos subjectivos dos mesmos.

Em princípio, a doutrina do silêncio administrativo, surge como uma necessidade de


salvaguardar os direitos e interesses dos particulares perante a Administração, configurando-o
como um princípio geral do direito (Carias, apud Saldanha, 2013).

Mais adiante, o autor explica que a Administração existe para prosseguir o interesse público
que a lei coloca a seu cargo, sendo inadmissível que, no âmbito da prossecução de tal
interesse, se permitisse à Administração, que continuasse com a política de silêncio.

O silêncio administrativo, com já explicitado acima, não se ajusta à ideia de expressa actuação
da Administração Pública, já que inexiste silêncio administrativo parcial, pois a manifestação
pode ser omissiva, imprecisa ou incompleta em certos pontos, mas será sempre uma
manifestação; com vícios, mas, repita-se, uma manifestação expressa.

De acordo com Faria (2002), “um acto decorre de uma manifestação, anterior ou posterior,
que é expressa, não há falar em inactividade formal da Administração, logo, inexiste silêncio
administrativo, como bem apregoa a precisa distinção na passagem abaixoˮ (p. 56).
30
Para o autor, podemos afirmar que se entende por acto implícito a decisão administrativa que
se infere de uma outra decisão manifesta; e por silêncio administrativo a inactividade formal
da Administração que, após o decurso do prazo legal, ou reconhecido como razoável, deixa de
agir ou se omite de decidir, quando deveria fazê-lo.

Verdadeiramente, nas linhas do autor acima referenciado, a Administração omite a


informação que deveria, em larga medida, efectuar junto aos particulares. Neste contexto, é na
nossa opinião uma verdadeira violação dos princípios administrativos, pelo que, há razão de
se fazer um estudo profundo sobre o que deve ser feito no sentido de romper o cenário, sob
pena de caminharmos a um quarto modelo da Administração pública cujo os seus caracteres
se manifesta na insatisfação dos utentes.

3.4. O Dever de Informar da Administração Pública face à era da Informação


O surgimento da década de 1990 marca o surgimento da era da informação, graças a
Deus, com o tratamento impacto provocado pelo desenvolvimento tecnológico e
pela tecnologia da informação. Na era da informação, o capital financeiro cede o
trono para o capital intelectual. A nova riqueza passa a ser o conhecimento, o
recurso institucional mais valioso e importante capaz de tecer melhorias
(Chiavenato, 2008, p: 102).

Como sublinhamos anteriormente, a Administração Pública não só tem o poder de tomar


decisões administrativas, mas sim, tem o dever de informar aos particulares cujos direitos
estão legalmente protegidos.

No que concerne ao direito de informação, está explícito nos n.º 1, 2 e 3 do art. 253º da CRM,
que estabelece:

4. Os cidadãos têm o direito de serem informados pelos serviços competentes da


Administração Pública sempre que requeiram sobre o andamento dos processos em
que estejam directamente interessados nos termos da lei.
5. Os actos administrativos são notificados aos interessados nos termos e nos prazos da
lei e são fundamentados quando afectam direitos ou interesses dos cidadãos
legalmente tutelados.
6. É assegurado aos cidadãos interessados o direito ao recurso contencioso fundado em
ilegalidade de actos administrativos, desde que prejudiquem os seus direitos.

31
Entretanto, percebemos nós que com o silêncio da AP, não só viola a Constituição e demais
leis avulsas, mas também, trás um impacto muito negativo no seio da sociedade
moçambicana. Ora vejamos, tem se reportado enormes casos de corrupção activa e passiva
respectivamente no nosso país, duma forma simplista, uma simples preterição dos actos
administrativos faz com que seja uma manobra por parte de tomadores de decisões
administrativas, o que, efectivamente, nalguns casos abre um espaço de prática da corrupção
que doravante trás, entre outros, o seguinte impacto:

 Compromete o desenvolvimento socioeconómico do país, uma vez que, sem sombras


de dúvidas com a prática da corrupção o cidadão perde a confiança face à
Administração pública;
 Compromete, em larga medida a prossecução do interesse público a todos níveis.

Aliás, no que concerne a prossecução do interesse público, explica o Prof. Caupers (2013), “o
interesse público é o interesse de uma comunidade, ligado à satisfação das necessidades
colectivas desta (o bem comum) ” (p. 79).

32
CAPÍTULO IV: DISCUSSÃO DE RESULTADOS

4.1. A LUZ DO MARCO TEÓRICO

A presente pesquisa, tinha como objectivo geral, analisar o impacto que o silencio da
Administração Pública trás para o desenvolvimento socioeconómico do país. Nesta senda de
ideia, da pesquisa teórica chegamos de perceber que o silêncio administrativo compromete o
desenvolvimento e o crescimento económico do país; desmotiva a sociedade no que concerne
à confiada que este deposita aos órgãos administrativos; a Administração Pública perde o seu
prestígio, o que, de certa forma não é bem-vindo numa Administração que se deseja
modernizar.

Em concordância com Amaral (2006); Caupers cit Saldanha (2013) e Caetano (2010), o
indeferimento tácito viola os direitos e interesses legalmente protegidos, ou seja, atenta ao
princípio da legalidade administrativa. Todavia, é, no nosso entender que o sistema do
indeferimento tácito não pode se registar na Administração pública, pois, é de lembrar que os
particulares tem o direito de exigir uma Administração Pública actuante, que decide os
pedidos e não ficar no silêncio.

Comparativamente com o exposto no n.º 1 do art. 108º da (LPA), temos a esclarecer que não é
a cultura administrativa ficar na presunção de que decorrido o período legal sem a decisão por
parte dos órgãos administrativos competentes, os particulares presumirem indeferido os seus
pedidos. Assim, numa altura em que precisamos de ter uma Administração Pública actuante
que responde os anseios dos particulares, não é digno vivermos na presunção. Pelo que,
devemos ter um comando legal que salvaguarda os anseios dos particulares.

Em nossa humilde opinião, o indeferimento tácito gera sim os efeitos jurídicos perante os
direitos e interesses dos particulares legalmente protegidos. Contudo, atendendo que o
indeferimento tácito consiste na negação dos pedidos dos particulares tacitamente, esse,
produz os efeitos jurídicos negativos dos pedidos. Entretanto, é a fase de termos uma norma
jurídica consentânea com a nossa realidade.

Outrossim, importa recordar que estamos numa era em a Administração Pública é chamada a
aprimorar os seus mecanismos no sentido de adequar às realidades actuais do país. Por outro,
estamos também numa fase em que os meios tecnológicos nos oferecem a prerrogativa de
comunicação a diversas formas, tanto é que, melhor será, serem adoptados tais meios
33
tecnológicos de forma que a administração seja eficiente e eficaz. Nesta senda de ideia,
atendendo que tem-se verificado um pouco por todo país a desmotivação deste fenómeno,
fomos obrigados a apreciar até a exaustão o desenrolar desta matéria.

Em consideração do n.º 1 e 2 do art. 108º da lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto, que estabelece:

1. Independentemente do disposto no artigo anterior, a falta, no prazo fixado para a sua


emissão, de decisão final sobre pretensão dirigida a órgão administrativo competente
confere ao interessado, salvo disposição em contrária, a faculdade de presumir
indeferida essa pretensão, para poder exercer o respectivo meio legal de impugnação.
2. O prazo a que se refere o número anterior é, salvo disposto em lei especial, de vinte e
cinco dias.

Num olhar sucinto do artigo acima, temos a dizer que face ao indeferimento tácito, para que
realmente sejam salvaguardados os direitos e interesses dos particulares legalmente
protegidos, a lei deve atribuir ao silêncio um significado jurídico positivo, daí decorrente do
acto tácito a favor dos particulares, pois, nalgum momento tem sido o desperdício e clara
omissão por parte dos particulares por coisas tão abertas.

Tal significado, deveria, em termos legais o legislador prescrever que na falta da decisão final
sobre determinadas pretensões submetidas pelos particulares, salvo matérias excepcionais,
decorrido o período legal automaticamente se consideram aceites os pedidos submetidos pelos
particulares. Essa posição, realmente iria fazer com que os órgãos administrativos agissem
nos termos da lei, como também tomando as suas decisões nos tempo legal previsto na lei a
fim de moldar a Administração Pública para uma actuação eficiente e eficaz.

Como sabemos, muita das vezes tem-se registado no seio dos particulares uma falta de
confiança perante a Administração Pública, tudo resultante das omissões e falta da
colaboração da Administração Pública com os particulares, o que, de forma implícita gera a
corrupção, um factor determinante no comprometimento do desenvolvimento socioeconómico
do país.

Tanto é que, resultante deste fenómeno tem cultivado:

 Aumento da corrupção;
 Desconfiança dos particulares face à Administração Pública; e
 Comprometimento o acesso às infra-estruturas;
34
Inversamente a isso, pretendíamos perceber ao longo da pesquisa se o intervalo do tempo para
a decisão final de um acto administrativo seria ou não suficiente para que se produza uma
decisão final. Nestes termos, olhando à pesquisa efectuada comparativamente aos dispositivos
legais vigentes no nosso ordenamento jurídico percebe-se o tempo é, salvo matéria em
contrária, mais do que o suficiente para que os órgãos administrativos tomem uma dada
decisão. Mais do que isso, é um dever constitucional da Administração Pública garantir a
celeridade no procedimento administrativo, (art. 64º da LPA).

Na vertente ao tempo, previsto pela LPA, achamos que é, do ponto de vista administrativo,
um período salvo as disposições contrárias mais que suficiente para que os órgãos
competentes na matéria se pronunciem. Para o efeito, ficar no silêncio é uma característica
atípica da administração pública e mostra claramente a desaplicação da LPA num caso
concreto, atendendo que a mesma, reza o princípio da decisão administrativa nos termos do
artigo 11º da LPA.

A par disto, ainda na presente pesquisa, sublinhávamos como uma parte das questões
suscitadas para corporizar o trabalho, percebermos se o indeferimento tácito traria ou não um
impacto no seio dos particulares, de igual modo, no funcionamento da administração pública.
Da pesquisa efectuada, colhemos a ideia de que efectivamente, o indeferimento tácito trás
sim, um impacto negativo sobre os direitos e interesses legítimos dos particulares.

Do ponto de vista jurídico, numa primeira fase, falar do indeferimento tácito na


Administração pública moçambicana é, efectivamente, falar da falta da decisão dos órgãos
administrativos competentes, falta essa que se presume ser negativo. Nestes termos, a é no
nosso entender que o legislador aprecie essa matéria e defenda os direitos e interesses dos
particulares, pois, a boa administração pública é aquela que culmina com a tomada de
decisões expressas.

Relativamente ao silêncio da Administração Pública/o indeferimento tácito, o fenómeno tem


ocorrido com muita frequência, pois, as vezes a Administração tem uma atitude de inércia
perante pretensões concretas dos particulares, constituindo uma das mais insidiosas formas de
desrespeito pelas regras estabelecidas e pelo princípio motor da AP – princípio da legalidade
(Saldanha, 2013, p. 87).

35
Adverte o Prof. Amaral (2012), “por vezes a Administração nada faz ou nada diz acerca dos
assuntos de interesse público que tem entre mãos. Tal atitude pode provocar reacções por
parte de opinião pública, mas não tem normalmente qualquer consequência jurídicaˮ (p. 261).

Acrescenta o autor, que existe, porém, algumas situações em que a lei atribui ao silêncio da
Administração um determinado significado jurídico, daí decorrendo efeitos jurídicos.
Suponhamos que um particular apresenta a um órgão da Administração um requerimento em
que solicita que - lhe seja atribuída uma licença ou uma pensão a que por lei tem direito.

Ainda do ponto de vista doutrinal, importa sublinhar que “a prossecução do interesse público
não é o único critério da acção administrativa, nem tem um valor ou alcance ilimitado. Há que
prosseguir, sem dúvida, o interesse público, mas respeitando simultaneamente os direitos
subjectivos e os interesses legalmente protegidos dos particulares” (Amaral, 2012: p. 61-62).

Se do ponto de vista teórico e prático a Administração Pública nada diz e nada faz perante as
pretensões submetidas pelos particulares, cuja lei lhes atribui o direito de informações e de
colaboração com a Administração Pública, então, com esta omissão proferida pela
Administração Pública resulta sublinhar que efectivamente a lei está sendo violada em larga
escala, não só, cumpre-nos resumir que efectivamente, os interesses da colectividade não
estão sendo periodizados pela Administração Pública, o que, de certa forma viola o princípio
da supremacia do interesse público.

Nesta perspectiva, considerando este trecho, percebe-se desde logo que o indeferimento tácito
é, em larga medida uma violação dos direitos subjectivos dos particulares. Pelo que, deve-se
fazer uma reforma legislativa da Lei do Procedimento Administrativo (LPA), particularmente
nos artigos 107º e 108º respectivamente, pois, a mesma entendemos nós que abre espaço
como também alimenta a prática deste mal.

Visto que a questão principal foi de percebermos o impacto que o indeferimento tácito trás
para o desenvolvimento do país, da pesquisa doutrinal feita, constatamos que: o indeferimento
tácito em última análise presume-se na falta do pronunciamento da Administração face aos
pedidos submetidos pelos particulares, e, por lei deve a Administração pronunciar-se.
Contudo, numa primeira fase percebemos que é, sem sombras de dúvidas, uma violação clara
à Constituição da República e demais leis avulsas. Ora vejamos, estabelece a nossa
Constituição, no seu n.º 1 do art. 253º: “os cidadãos têm o direito de serem informados pelos

36
serviços competentes sempre que requeiram sobre o andamento dos processos em que estejam
directamente interessados nos termos da leiˮ.

No que tange ao tema em alusão e considerando a citação acima a que posição justificaria o
indeferimento tácito da Administração Pública? Em nosso entender, não há nenhuma
justificação legal de facto nem de direito face a este problemática. Contudo, deve se romper
esta prática por parte dos órgãos administrativos, sob pena de violar os direitos e garantias
jurídicas dos particulares.

Atendendo que o fim último da Administração é, efectivamente, a prossecução das


necessidades da colectividade e porque a actuação administrativa pode ser completamente
adstrita à lei, isto é, vinculada à lei, não se justifica que haja este preceito do silêncio face às
pretensões dos particulares, pois, isso mina a finalidade da administração pública.

Em outras palavras, a Administração Pública geralmente promove, no campo das realizações


materiais, o que a norma jurídica determinou criteriosamente ao Poder Público, o que se dá
nos actos plenamente vinculados. Assim sendo, essa vontade não decorre do vislumbre
psicológico do agente, não mesmo, ela decorre da configuração administrativa da imposição
legal. Ou seja, a vontade é administrativa.

Mas uma questão deve ser debatida: se os órgãos públicos não detêm vontade; então, qual a
razão de chamar o dever de cumprir uma imposição legal de vontade administrativa? Porque
os órgãos da Administração Pública se destinam justamente a fazer cumprir os comandos
legais e, por conseguinte, através dos seus agentes, se prestam a envidar esforços à
consecução das prescrições legais, daí a vontade de promover, a contento, todos os fins a eles
determinados ou impostos pelo sistema jurídico. Em princípio, a vontade dos agentes, nesses
casos, é sempre derivada, pois advém da prescrição legal. E se a vontade não é propriamente
dos servidores, então, ela é administrativa.

Nos actos administrativos discricionários, que se prefere chamar de não plenamente


vinculados, a margem de actuação da autoridade pública faz com que, em face de opções ou
medidas igualmente válidas no sistema jurídico, exista efectivamente uma vontade
psicológica, contudo, exercida nos claros limites da lei.

37
É do nosso conhecimento que a Administração Pública detêm o poder vinculativo no âmbito
da sua prestação das actividades administrativas, contudo, esta prerrogativa que os órgãos
administrativos possuem dá todas possibilidades aos órgãos em determinar quando e como
decidir uma dada matéria, e não simplesmente estar relegado face aos direitos subjectivos dos
particulares.

Por sua vez, a vontade normativa constitui uma perspectiva diversa de pensar, já que a
vontade não está precisamente na lei, esta apenas consolida a pretensão normativa
prospectada pela actividade regenerante. Ora, se a Administração Pública deve cumprir os
comandos legais, então implica dizer que são os ditos comandos que orientam e impõem toda
a actividade administrativa. Logo, podemos sublinhar que, se a Administração está vinculada
à prescrição legal, não deve, de forma nenhuma ficar em silêncio.

Outrossim, o indeferimento tácito por parte dos órgãos da Administração Pública, não
dignifica a sua imagem. Entretanto, os órgãos da Administração Pública devem alinhar-se às
leis vigentes no nosso ordenamento jurídico, de modo que os interesses legítimos dos
particulares não sejam violados. A violação dos interesses legitimados dos particulares, não só
atribui uma má imagem aos órgãos administrativos, como também, mina o desenvolvimento e
crescimento económico do país.

Ademais, considerando que a Administração Pública está sujeita à lei, a que percebermos o
princípio da fundamentação dos actos administrativos patentes no artigo 14º da LPA, que
estabelece: a Administração Pública tem o dever de fundamentar os seus actos administrativos
que impliquem, designadamente o indeferimento do pedido ou a revogação, a alteração ou a
suspensão de actos administrativos anteriores.

Fazendo uma interpretação extensiva da citação acima, resulta dizer que os órgãos
administrativos devem pautar pela estreita comunicação diante dos particulares em todo o
procedimento administrativo, salvo a matéria em contrária, pelo que, estão vedados de estar
silenciosos.

Explica-nos o Prof. Caetano (2007), “o processo administrativo não finda necessariamente


com o acto definitivo e executório. A legalidade deste pode ser ainda examinada e a sua
validade discutida perante os tribunais administrativos numa nova fase, a de recurso
contencioso” (p. 1326).

38
Na verdade, concordando com o autor, o processo administrativo não finda necessariamente
com o acto definitivo e executório. Contudo, há momentos em que os órgãos administrativos
não se pronunciam diante duma dada matéria. Pelo que, poderíamos nos questionar, se o
recurso contencioso far-se-á ao acto definitivo e executório, qual seria o tratamento de
simples preterição e omissão dos órgãos administrativos face aos pedidos dos interessados?

Em nossa humilde opinião, pensamos nós que não seria carácter administrativo, de todas as
formas que isso acontecesse. Ou seja, visto que estamos numa era em que todas as forças
vivas são chamadas a envidarem esforços no sento de catapultar a economia do país e não só,
os órgãos administrativos, também, deve rever a sua actuação perante aos pedidos submetidos
pelos particulares, sob pena de criar indícios de corrupção, a que merece o magno combate,
sob risco de prejudicar a economia do país.

Nos termos do Direito Administrativo moçambicano em particular, o Silêncio da


Administração Pública é uma matéria que merece um debate, pois, do ponto de vista
jurisprudencial e doutrinal, o silêncio da Administração viola aquilo que é os deveres da
própria Administração Pública. De lembrar que a Administração Pública tem, um poder-
dever, resultante deste modo na faculdade de prestar serviços públicos aos utentes por um
lado, e, o dever de tomar decisões face aos pedidos submetidos pelos particulares por outro
lado.

Entre nós, o tal recurso contencioso, em princípio é susceptível aos actos administrativos
definitivos e executórios, vide n.º 1 do art. 27º da lei n.º 9/2001, de 7 de Julho, pelo que
aproveitemos questionar, se o recurso contencioso a que se pode manifestar consiste num acto
administrativo definitivo e executório, qual seria a manifestação dos particulares com a
pretensão ou omissão dos órgãos administrativos face aos pedidos?

Ademais, sublinha Macie (2015), “o conceito de acto administrativo impugnável


contenciosamente, que é, na ordem jurídica moçambicana, o acto com eficácia externa, isto é,
que possa produzir efeitos jurídicos na esfera dos particulares, afectando os seus direitos ou
interesses legalmente protegidos” (p. 94-95).

A outra posição que temos que ter em mente, é que a Administração pública está sujeita aos
princípios gerais, que em larga medida são o garante da actividade administrativa. No que
tange a contribuição dos meios da informação e comunicação, esclarece o Prof. Chiavenato,
que:
39
O surgimento da década de 1990 marca o surgimento da era da informação, graças a
Deus, com o tratamento impacto provocado pelo desenvolvimento tecnológico e
pela tecnologia da informação. Na era da informação, o capital financeiro cede o
trono para o capital intelectual. A nova riqueza passa a ser o conhecimento, o
recurso institucional mais valioso e importante capaz de tecer melhorias
(Chiavenato, 2008, p. 276).

Como sublinhamos anteriormente, a Administração Pública não só tem o poder de tomar


decisões administrativas, mas sim, tem o dever de informar aos particulares cujos direitos
estão legalmente protegidos.

No que concerne ao direito de informação, está explícito nos n.º 1, 2 e 3 do art. 253º da CRM,
que estabelece:

4. Os cidadãos têm o direito de serem informados pelos serviços competentes da


Administração Pública sempre que requeiram sobre o andamento dos processos em
que estejam directamente interessados nos termos da lei.
5. Os actos administrativos são notificados aos interessados nos termos e nos prazos da
lei e são fundamentados quando afectam direitos ou interesses dos cidadãos
legalmente tutelados.
6. É assegurado aos cidadãos interessados o direito ao recurso contencioso fundado em
ilegalidade de actos administrativos, desde que prejudiquem os seus direitos.

Entretanto, percebemos nós que com o silêncio da AP, não só viola a Constituição e demais
leis avulsas, mas também, trás um impacto muito negativo no seio da sociedade
moçambicana.

Contudo, no nosso entender, esta prática vem sendo reiterada nas nossas instituições públicas
moçambicanas, pelo que, em princípio não deve ser tratada como um simples problema, mas
sim, como uma questão nociva que afecta o âmago da administração pública, mas sobretudo
os direitos e interesses dos particulares. Assim sendo, poderíamos questionar, que impacto
isso trás para o desenvolvimento socioeconómico do país? Respondendo a questão, podemos
afirmar, de viva voz que o indeferimento tácito, realmente mina os direitos e interesses
legítimos dos particulares na medida em que viola os princípios da decisão e da
fundamentação dos actos administrativos. Assim, tal prática pode efectivamente, gerar
cepticismo no seio dos particulares; alimenta a prática da corrupção no seio do sector público

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e defraudar a expectativa de muitos moçambicanos de ver um AP que resolve os anseios dos
utentes.

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Conclusão
Ao longo de realização do presente trabalho científico, chegamos a seguinte conclusão: o
indeferimento tácito vem sendo uma prática que reiteradamente tem ocorrido um pouco por
toda administração pública. Entretanto, tal prática gera implicações negativas, como é o caso
de: falta de confiança perante a AP; perca do prestígio administrativa, a prática de corrupção,
entre outras.

Considerando os posicionamentos acima elencados, cumpre-nos destacar que o indeferimento


tácito realmente produz efeitos negativos perante as solicitações dos particulares. Nesta senda
de ideia, somos de opinião de que não seria essa a cultura administrativa, entendendo nem
todos os pedidos merecem tal tratamento. A Administração Pública deve optar por decisões
expressas de modo a adequar-se nos princípios gerais da actividade administrativa.

O indeferimento tácito fere a sensibilidade dos particulares; retarda o desenvolvimento e


crescimento do país; alimenta a prática de actos de corrupção; viola o princípio da decisão
administrativa e da fundamentação dos actos administrativos. Pelo que, precisamos uma
Administração Pública que decida os pedidos num período legalmente previsto na lei, e, em
caso do indeferimento dos mesmos, que se fundamente os factos de direito a fim de termos
uma AP actuante em prol da prossecução dos interesses da colectividade.

Contudo, constituem garantias dos particulares, a reclamação, a queixa, os recursos tanto


tutelar, contencioso, entre outros. Mas, pouco se materializa tais garantias, deixando os
particulares agastados e desarmados. Mais do que isso, a Lei do Procedimento Administrativo
moçambicano não dispõe de mecanismos eficazes para tal matéria como forma de
salvaguardar os interesses legítimos dos particulares.

Outrossim, cumpre-nos enfatizar que o estudo tinha como problema central: Que impacto o
indeferimento tácito gera face aos direitos e interesses dos particulares legalmente
protegidos? Nestes termos, da pesquisa efectuada percebemos que realmente o indeferimento
tácito em alusão trás um impacto bastante negativo no seio dos particulares. Ou seja, indeferir
tacitamente não só viola a lei, mas também prejudica os projectos dos particulares visto que
para a nossa realidade a nível dos países em vias de desenvolvimento, o ónus da prova recai
sempre aos particulares.

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Sugestões
Após a realização da pesquisa, do ponto de vista jurídico-administrativo, olhando os efeitos
jurídicos que o indeferimento tácito trás, cumpre-nos destacar as seguintes sugestões:

 Fazer uma reforma legislativa da LPA, com particular enfoque nos artigos 107º e 108º
respectivamente para que estabeleça claramente o assento legal e administrativo que
em casos da ausência da decisão no período legal por parte dos órgãos administrativos,
considerar-se-á aceite os pedidos solicitados pelos particulares, de modo que se
produza efeitos positivos do sistema do indeferimento tácito.
 Para que a Administração Pública preste serviços de forma eficiente, deve adoptar o
uso dos meios tecnológicos de modo a garantir uma colaboração online com os
particulares;
 Os particulares devem se conformar com as leis a fim de saber se defender nos seus
direitos e interesses legítimos;
 O legislador deve responsabilizar os órgãos administrativos competentes que não se
pronunciam em determinadas matérias, visto que estes conhecem a lei. Pois, o
indeferimento tácito não dignifica a imagem da Administração Pública;

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Referências Bibliográficas

a) Legislações usadas:
CRM - Constituição da República de Moçambique em vigor - (2004).

Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto, que regula a formação da vontade da Administração


Pública, estabelece as normas de defesa dos direitos e interesses dos particulares.

Decreto-lei n.º 4/2015, de 7 de Janeiro, que aprova o novo Código do Procedimento


Administrativo Português.

Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro, que aprova as Normas de Funcionamento dos


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44
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ANEXO

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