MONIQUE APARECIDA VOLTARELLI Rev
MONIQUE APARECIDA VOLTARELLI Rev
MONIQUE APARECIDA VOLTARELLI Rev
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
São Paulo
2017
MONIQUE APARECIDA VOLTARELLI
da Sociologia da Infância
(versão corrigida)
São Paulo
2017
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
Aprovada em:
Banca Examinadora
Poder declarar gratidão por pessoas tão especiais e importantes numa trajetória
como esta não é uma tarefa fácil, pois cada período da pesquisa, da escrita, da produção
de toda a tese e da minha formação envolveu tantos momentos e tantas pessoas que
contribuíram de maneiras diversas durante esses anos. Assim, este reconhecimento será
feito para as pessoas que registraram em mim esse sentimento de gratidão durante o
percurso, mas, de antemão, agradeço a todos que aqui não foram citados, mas que também
me apoiaram na realização deste sonho, seja em âmbito pessoal, profissional, científico
ou acadêmico.
Primeiramente, quero agradecer à Profa. Dra. Maria Letícia Barros Pedroso
Nascimento todo apoio, acolhimento, confiança, incentivo, encorajamento, dedicação e
orientação para meu desenvolvimento intelectual e pessoal, e por tudo que me ensinou
nestes quatros anos, que foram muito importantes na minha vida. Deixo aqui registrados
minha admiração e respeito pela pessoa e profissional maravilhosa que é, e pela qual
tenho muito carinho. Difícil descrever em palavras a minha imensa gratidão.
Agradeço, de coração, à Profa. Dra. Lourdes Gaitán Muñoz, por ter me recebido
tão generosamente em Madri, por ter me orientado, me ajudado a crescer como
pesquisadora, por me ensinar tanto em tão pouco tempo, por momentos prazerosos de
diálogos sobre a infância, por compartilhar comigo experiências que considero valiosas
na minha formação, pela relação de confiança, respeito e carinho que construímos juntas
durante o ano de 2016, que sempre será inesquecível para mim. Muchas y muchas gracias,
profesora!
Gratidão à Profa. Dra. Begoña Leyra Fatou, pela oportunidade de receber-me com
tanto carinho e facilitar toda a minha estadia na Universidade Complutense de Madri, por
me ajudar a desconstruir conceitos e por fazer importantes considerações para a minha
pesquisa.
Também agradeço ao Prof. Dr. Andrés Arias, que me recebeu em seu grupo de
orientandos de uma forma tão acolhedora, dando-me oportunidade para dialogar sobre a
pesquisa com diversos colegas da pós-graduação, o que, sem dúvida, contribuiu muito
para os avanços deste trabalho, além de colocar-me em contato com o Prof. Dr. José
Manuel Fernández, ao qual sou extremamente grata pelas longas discussões e tardes de
conversas teóricas, me ajudando a compreender os conceitos de Pierre Bourdieu.
Da mesma forma, sou muito grata às professoras argentinas e chilenas que
participaram desta pesquisa, pelas entrevistas, diálogos, pelo recebimento em suas
universidades, pela facilitação de materiais e de contatos para os avanços da pesquisa.
Em especial, agradeço à Profa. Dra. Ana Vergara del Solar, pela abertura, desde o
princípio, para trabalhos futuros, e à Profa. Dra. Iskra Pavez Soto, que muito me ajudou
nos processos para o doutorado sanduíche, colocando-me em contato com a Profa. Dra.
Lourdes Gaitán, além de todas as contribuições com o meu estudo.
Agradeço muito ao Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Sociologia da Infância e
Educação Infantil (GEPSI), no qual pude aprofundar os estudos no campo, tendo sido
fundamental para minha formação e para os avanços da tese. Em especial agradeço à
Bruna Breda, Celia Serrão, Sandra Mara da Cunha e Renata Costa Prado, por me
acolherem no grupo, pelas conversas, explicações, diálogos sobre a sociologia da
infância, metodologias de pesquisa e parceria durante esses anos. Deixo aqui registrado
o meu muito obrigada.
Menção especial devo à Profa. Dra. Maria da Graça Jacintho Setton, pela
oportunidade de participar do Grupo de Pesquisa Práticas de Socialização, assim como
agradeço a todos os colegas do grupo pelo acolhimento e por compartilharem comigo
momentos ricos de estudos das obras de Pierre Bourdieu.
Importante dizer que somente foi possível realizar esta pesquisa por contar com o
auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Sou muito
grata por todo o financiamento recebido, pelo investimento na minha formação científica,
por todo o respaldo durante a Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE), na Espanha,
por oportunizar minha participação em eventos científicos nacionais e internacionais, os
quais, sem dúvida, foram essenciais para a compreensão do campo dos estudos sociais da
infância e para o desenvolvimento deste trabalho.
Da mesma forma, agradeço à Profa. Dra. Denice Catani pelas aulas e atividades
desafiadoras, por me forçar a avançar no contexto acadêmico, por apresentar tantas
referências, em especial as obras de Pierre Bourdieu. Do mesmo modo, agradeço a todos
os professores, profissionais e colegas da FEUSP que também contribuíram com esta
trajetória.
Também faço meu agradecimento aos membros titulares e suplentes que
compõem a Banca Examinadora deste trabalho: Profa. Dra. Lucia Rabello de Castro;
Profa. Dra. Maria Cristina Soares de Gouvea; Profa. Dra. Lourdes Gaitán Muñoz; Profa.
Dra. Marcia Gobbi; Profa. Dra. Lisandra Ogg Gomes; Profa. Dra. Rita De Cássia Marchi;
Profa. Maria da Graça Jacintho Setton; Profa. Dra. Flavia Pires; Profa. Dra. Fernanda
Müller, profissionais que respeito e admiro muito. Em especial agradeço à Profa. Dra.
Márcia Gobbi, presente desde a qualificação, à qual sou muito grata pela leitura cuidadosa
do meu trabalho.
Meus sinceros agradecimentos às caras Profa. Dra. Afua Twum-Danso Imoh,
Profa. Dra. Andressa Gadda, Profa. Dra. Natalia Fernandes, Profa. Dra. Gabriela
Trevisan, Profa. Dra. Catarina Tomás, Profa. Dra. Rita de Cássia Marchi, a companhia
nos congressos, as risadas e tantos momentos formativos.
Aproveito para agradecer à Profa. Dra. Samantha Punch a acolhida, a
oportunidade de passar um tempo na Universidade de Stirling, as conversas, os
ensinamentos, o acesso a tantos livros e materiais sobre a infância, e toda a ajuda durante
a minha estadia na Escócia. Nunca me esquecerei de tudo o que fez por mim.
Neste itinerário, também agradeço à Profa. Dra. Maria Iolanda Monteiro, a
amizade, parceria e o apoio durante o processo seletivo para o doutorado na FEUSP.
Obrigada por me incentivar a trilhar minha carreira nessa profissão tão linda que
escolhemos seguir.
Agradeço com carinho às amigas Natalia Marpica, Paula Reis, Carla Pompeu, por
me ajudarem tanto, me ouvirem sempre, compartilharem discussões teóricas,
profissionais, pessoais e afetivas. Que alegria construir amizades durante o doutorado
com pessoas tão extraordinárias, queridas e divertidas como vocês. Obrigada por serem
tão especiais.
Meus sinceros agradecimentos às amigas sul-americanas e espanholas, que foram
muito receptivas sempre, por viverem Madri comigo, ampliarem minha visão sobre
muitos temas, e me proporcionarem momentos que guardarei sempre com muito carinho.
Gratidão à Amanda Amorocho Pérez pela amizade, resumos corrigidos e ajuda com a
língua espanhola.
Não poderia deixar de agradecer às amigas Priscila Cesário, Letícia Naves, Luana
de Freitas e Mariana Lupianhes, e aos amigos Diego Teixeira e Alexandre Souza, sem os
quais não posso viver. Muito obrigada por estarem sempre presentes na minha vida.
Às amigas Jéssica Dias e Luisa Lemes, por todo o carinho, respeito e paciência,
por me acompanharem e me ajudarem sempre com as minhas demandas de última hora,
desde o mestrado, respeitando minhas ausências e me acolhendo nas presenças. Obrigada
por serem grandes amigas.
Às minhas queridas amigas que formam “nosso quarteto”, Andreza Apolinário,
Elisabete Ribeiro e Letícia Rodrigues, por iniciarem esta caminhada comigo, em 2004,
na Universidade Federal de Uberlândia, por partilharem dessa paixão pela educação e
pelas crianças, por seguirmos sempre juntas nas nossas diferentes escolhas, por todo o
carinho, incentivo e companheirismo. Agradeço em especial à Letícia, por me acolher
nos momentos de angústia, tensão, solidão, sempre com bom humor e alto-astral, por
estar sempre presente na minha vida, pela cumplicidade e por ser uma amiga tão incrível.
Me sinto muito privilegiada em ter vocês pertinho de mim. Amo muito!
Às minhas grandes amigas e irmãs Thatiara de Sordi e Debora Kataoka, por
permanecerem sempre ao meu lado, por me ajudarem a ser uma pessoa melhor a cada dia,
entenderem meus silêncios, inquietações, intensidades e celebrarem as minhas explosões
de alegria. Vocês moram para sempre no meu coração!
À minha querida tia Susu, por torcer sempre por mim, por tanto amor e
cumplicidade e por dedicar as orações que me abençoam sempre! E a Pati por todo
carinho, cuidado e amor.
E, por ser mais difícil, deixei para o final o agradecimento à minha família, por
serem as pessoas que são meu tudo, que são minha vida, minha base, minha estrutura, que
são minha maior fonte de inspiração, de amor, conforto, compreensão, apoio sem igual e,
por mais que eu busque palavras, elas sempre serão insuficientes para descrever toda a
minha gratidão.
Agradeço a Deus pela vida, pela força diária, e por ter me presenteado com uma
família tão maravilhosa. Gratidão à minha irmã (sem ela a própria vida não teria sentido),
por tanto companheirismo, pelas horas incansáveis de conversas, por me acalmar quando
eu mais preciso, por me incentivar a crescer sempre, por me apoiar em todas as minhas
decisões, por compartilhar cada momento de uma forma sempre única, divertida e
especial. Somos para sempre eu e você, é para sempre a nossa parceria, é para sempre o
meu amor por você!
É com muita emoção que agradeço à minha mãe, a mulher que mais amo e admiro
neste mundo, que me fortalece, que está ao meu lado sempre, que segurou o coração
apertado de saudades para me ver realizar um grande sonho, e que só de olhar já me
alimenta com seu amor. Meu exemplo de vida, de fé, de perseverança e esperança sempre.
Que sorte a minha tê-la como mãe, que me faz acreditar, todos os dias, ser possível
realizar tudo aquilo que guardo e almejo dentro do meu coração.
Ao meu pai, que nunca mediu esforços para que eu pudesse estudar, pelo apoio
imensurável durante toda a minha vida, por ser tão cuidadoso, carinhoso, atencioso e
generoso comigo, por participar da minha trajetória profissional tão de perto, por todo o
suporte dado para que eu pudesse realizar meus sonhos. Obrigada por me ensinar o valor
da educação, a importância da humildade e por ser o melhor pai do mundo! Só tenho a
agradecer à minha família por acreditar em mim e estar comigo sempre. Amo muito
vocês!
“A verdade da infância não está no que dizemos dela, mas no que
ela nos diz no próprio acontecimento de sua aparição entre nós,
como algo novo. E, além disso, tendo-se em conta que, ainda que
a infância nos mostre uma face visível, conserva também um
tesouro oculto de sentido, o que faz com que jamais possamos
esgotá-la”.
Jorge Larrosa
RESUMO
Nos últimos anos, pode-se visualizar o aumento das produções e das publicações sobre o
tema da infância pela ótica dos cientistas sociais, que a têm investigado sob nova
perspectiva, assim como discutido e verificado outras possibilidades metodológicas de se
realizar pesquisas com e sobre crianças, num movimento de busca de compreensão do
seu papel e do da infância no mundo contemporâneo. Ao considerar que o campo da
sociologia da infância tem produção internacional e que pesquisadores de diferentes
países têm apresentado suas pesquisas em congressos da área e publicado seus trabalhos
em livros ou periódicos, verificou-se que há pouca informação sobre estudos da infância
na América do Sul. Esta pesquisa propôs-se a investigar o desenvolvimento do campo em
ao menos dois países deste continente, a fim de compreender o que se tem pesquisado e
produzido na perspectiva da sociologia da infância. A investigação mapeou, considerando
o período de 2010 a 2013, as produções de autores sul-americanos hispano-falantes, por
meio da consulta a diferentes bases de dados, da realização de visitas aos países
escolhidos para melhor conhecimento da produção, e de entrevistas com os
pesquisadores. Para a compreensão da configuração do campo na América do Sul,
recorreu-se ao conceito de campo científico em Bourdieu, sendo que, com as
contribuições da obra desse autor, juntamente com a realização da análise de conteúdo,
foram identificados os temas consagrados nas publicações, as abordagens teóricas, os
caminhos metodológicos, as áreas predominantes nos estudos, e os elementos que
estruturam o campo na Argentina e no Chile, países investigados. Considera-se que o
campo da sociologia da infância e o campo interdisciplinar dos estudos sociais da infância
convivem nesses países, como resultado das diferentes formações dos pesquisadores do
campo e dos variados contextos de vida das crianças. Constata-se que, num primeiro
momento, as produções europeia e norte-americana tiveram grande influência na
realização de investigações científicas nos países investigados, mas conclui-se que os
movimentos próprios do campo podem estruturar outros caminhos para as produções e
teorizações da infância no hemisfério sul.
In recent years, we have seen an increase in the productions and publications on the theme
of childhood from the perspective of the social scientists who have investigated childhood
by discussing it applying other methodologies when conducting research with and about
children. It has led to a new movement which aims at understanding the role of children
and childhood in the contemporary world. Considering the worldwide width of sociology
of childhood, little has been shown in conferences and literature about childhood studies
in South America. Having noticed this lacking, the present research headed to investigate
the development of the field in at least two South American countries in order to
understand what has been researched and produced from the sociology of childhood
perspective. The study mapped the production of South American and Spanish-speaking
authors from 2010 to 2013, by consulting different databases, visiting the selected
countries and interviewing researchers so to have a better understanding of the
productions. In order to comprehend the field in South America configuration, we
adopted the concept of the scientific field of Bourdieu, and with his theoretical
background and the content analysis, we were able to identify the themes consecrated,
the theoretical approaches, the methodological procedures, the predominant areas, and
also the elements that structure the field in Argentina and Chile, the investigated
countries. We noticed that the field of the sociology of childhood and the interdisciplinary
field of social studies of childhood coexist in these countries, which is due to the different
academic background the researchers of the field have and the varied contexts of
children's life. Initially, European and North American productions had a great influence
on the conduct of scientific research in the countries investigated, but the movements of
the field can structure other pathways for the productions and theorizations of children in
the Southern Hemisphere.
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................... 22
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................... 26
CAPÍTULO 1 - O CAMPO DA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA ............................................................. 33
1. 1. NOTAS SOBRE O CAMPO CIENTÍFICO, EM BOURDIEU ................................................................... 33
1.2. A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA ........................................................................................................... 39
1.2.1. A infância como objeto da sociologia ...................................................................................... 39
1.2.2. A Sociologia da infância ........................................................................................................... 43
1.2.3. A abrangência da Sociologia da Infância.................................................................................. 45
1.2.4. Correntes e linhas teóricas da Sociologia da Infância .............................................................. 54
1.2.5. Temáticas investigativas no campo da Sociologia da Infância ................................................. 58
CAPÍTULO 2 - PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................................... 76
2.1. Procedimentos para localização dos investigadores/pesquisadores da infância para a pesquisa . 76
2.2. Detalhamento dos procedimentos e progressos da pesquisa ........................................................ 79
2.2.1. Levantamento geral da produção dos estudos da infância nos países de língua espanhola da
América do Sul ................................................................................................................................... 79
2.2.2. Verificação e análise do levantamento bibliográfico das referências utilizadas nos trabalhos
localizados na etapa anterior............................................................................................................. 85
2.2.3. Organização do levantamento dos pesquisadores e das produções da infância nos países de
língua espanhola sul-americanos....................................................................................................... 87
ARGENTINA ............................................................................................................................................ 89
BOLÍVIA .................................................................................................................................................. 91
CHILE ...................................................................................................................................................... 92
COLÔMBIA ............................................................................................................................................. 94
EQUADOR ............................................................................................................................................... 96
PARAGUAI .............................................................................................................................................. 97
PERU ....................................................................................................................................................... 98
URUGUAI .............................................................................................................................................. 100
VENEZUELA .......................................................................................................................................... 101
2.3. Identificação de pesquisadores, localização e estabelecimento de contato por correio eletrônico
............................................................................................................................................................. 102
2.4. Sociologia da Infância na América do Sul: países selecionados, pesquisadores, publicação e
principais conceitos relacionados ao campo ....................................................................................... 106
2.5. Visitas e entrevistas com pesquisadores da Argentina e do Chile ................................................ 119
2.6. A vivência do campo – avanços e contribuições a partir de estágio internacional ....................... 122
CAPÍTULO 3- ESTUDOS DA INFÂNCIA NA AMÉRICA DO SUL: PERSPECTIVAS A PARTIR DA
ARGENTINA E DO CHILE .................................................................................................................... 124
3.1. ARGENTINA ................................................................................................................................... 124
3.1.1. A visita em Buenos Aires e o ambiente universitário ............................................................ 124
3.1.2. Os grupos de pesquisa ........................................................................................................... 126
3.1.3.A produção científica .............................................................................................................. 135
3.2.CHILE .............................................................................................................................................. 139
3.2.1.A visita em Santiago e o ambiente universitário .................................................................... 139
3.2.2. Os grupos de pesquisa ........................................................................................................... 141
3.3.3. A produção científica ............................................................................................................. 145
CAPÍTULO 4 - ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES .................................................................................. 152
4.1. Delimitação do corpus para a análise ........................................................................................... 152
4.2. Procedimentos de análise ............................................................................................................. 153
4.3. Resultados ..................................................................................................................................... 157
4.3.1. As produções na Argentina .................................................................................................... 157
4.3.1.1. Os temas consagrados ........................................................................................................ 167
4.3.1.2 As abordagens teóricas ........................................................................................................ 184
4.3.1.3 Os caminhos metodológicos ................................................................................................ 188
4.3.2 As produções do Chile ............................................................................................................ 194
4.3.2.1 Os temas consagrados ......................................................................................................... 202
4.3.2.2 As abordagens teóricas ........................................................................................................ 221
4.3.2.3 Os caminhos metodológicos ................................................................................................ 225
4.3.3 Caracterização geral das produções ....................................................................................... 229
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................... 238
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 252
APÊNDICE A - Roteiro de questões para a entrevista .......................................................................... 262
APÊNDICE B- Relação de referências das publicações encontradas .................................................... 264
ARGENTINA ...................................................................................................................................... 264
BOLÍVIA ............................................................................................................................................ 269
CHILE ................................................................................................................................................ 269
COLÔMBIA ....................................................................................................................................... 272
EQUADOR ........................................................................................................................................ 276
PARAGUAI ........................................................................................................................................ 277
PERU ................................................................................................................................................ 277
URUGUAI ......................................................................................................................................... 279
VENEZUELA ...................................................................................................................................... 279
APÊNDICE C- RELAÇÃO DAS UNIVERSIDADES CONSULTADAS ............................................................. 281
APÊNDICE D - Relação das produções das pesquisadoras que compõem o corpus da pesquisa ........ 305
ARGENTINA - PRODUÇÕES .............................................................................................................. 305
CHILE - PRODUÇÕES......................................................................................................................... 313
APÊNDICE E- Manual de análises ......................................................................................................... 318
MANUAL DE ANÁLISE - ARGENTINA E CHILE ................................................................................... 318
MANUAL DE ANÁLISE – POR PAÍS .................................................................................................... 320
APRESENTAÇÃO
“As crianças não vão tornar-se pessoas no futuro porque já são pessoas”.
Janusz Korczak
22
Enquanto pedagoga, professora de educação infantil, mestre em aprendizagem da
docência em creches e pré-escolas, a questão, desde a graduação, era compreender o
significado da infância e quem são as crianças inseridas nesses espaços institucionais.
Insatisfeita com as explicações tradicionais da psicologia e incomodada com as práticas
profissionais observadas durante os quase sete anos em que atuei como professora de
educação infantil, fui em busca de outras alternativas para compreender as crianças e a
infância.
Quando finalizei o mestrado, ficou aberta, diante dos resultados encontrados, uma
questão em relação à concepção de infância das professoras sobre as crianças, que
influenciava a forma como aquelas se relacionavam com estas nas instituições de
educação infantil. Dentre as oportunidades de estudo encontradas, muito me interessou a
sociologia da infância1, um novo campo disciplinar que reconhece as crianças como sendo
pessoas.
Engajada no Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Sociologia da Infância e
Educação Infantil (GEPSI) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, sob
a coordenação da Profa. Dra. Maria Letícia Nascimento, compreendi que seria possível
realizar uma pesquisa sobre a infância e as crianças, que fosse além das práticas
pedagógicas. No GEPSI, estava em desenvolvimento um levantamento de pesquisadores
da América Latina que trabalhavam com a sociologia da infância; nesse movimento,
percebi que havia a possibilidade de estudar o campo e de buscar compreender a produção
sul-americana sobre infância e crianças.
De acordo com Bourdieu (2004b), uma das contribuições da teoria dos campos é
abordar a possibilidade de rompimento com o conhecimento primeiro, que é parcial e
arbitrário porque está relacionado a uma posição no campo: “cada um vê o campo com
uma certa lucidez, mas a partir de um ponto de vista dentro do campo, que ele próprio
vê” (p.43). Assim, realizar uma pesquisa sociológica sobre o campo científico da
sociologia da infância (SI) na América do Sul foi desafiador desde o princípio. Primeiro,
por ter de romper com concepções já enraizadas sobre a infância, no sentido de vê-la
apenas como uma fase da vida; segundo porque, sendo do campo educacional, foi
necessário ampliar conhecimentos no campo sociológico para poder realizar uma
investigação na perspectiva da metapesquisa ou de fazer “sociologia da sociologia”;
1
Meu primeiro contato com o campo da sociologia da infância foi durante o mestrado, quando cursei uma
disciplina com a Profa. Dra. Anete Abramovicz na UFSCar.
23
terceiro, por ter de encontrar formas metodológicas que pudessem dar conta de explorar
o objeto proposto; quarto, por mergulhar no campo e aprender novas teorias, conceitos,
metodologias e instrumentos de análise para compreender os estudos sociais da infância;
e, finalmente, pelo enfrentamento das angústias e indisposições de estudar um campo
científico, o qual nos coloca diante de fatores em que nós, pesquisadores, estamos
inseridos, exigindo um esforço de retirada do campo, para que se possa falar sobre ele,
observá-lo e estudá-lo (BOURDIEU, 2004 a, p.115).
Optar pelo conceito de campo, em Bourdieu, permitiu realizar a leitura do campo
científico bem como vivenciá-lo por outro caminho, não apenas como estudante e novata,
mas principalmente como pesquisadora. Nesse aspecto, sou muito grata à FAPESP, que
me permitiu realizar a pesquisa na América do Sul, bem como experienciar o campo na
Europa, por meio do estágio BEPE (Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior), o que
possibilitou: (1) identificar como as lutas são travadas, (2) conhecer os agentes
consagrados, os temas, as instâncias envolvidas na estruturação e fortalecimento do
campo, (3) aprofundar a discussão teórica e metodológica com a Profa. Dra. Lourdes
Gaitán2, bem como (4) participar dos processos de elaboração de uma revista científica3
que busca trazer visibilidade às produções no campo dos estudos sociais da infância em
língua espanhola e portuguesa, fatores que, sem dúvida, foram essenciais para a
compreensão do objeto de pesquisa e enriquecedores para a elaboração da tese.
Desta forma, o exercício de saída do campo no qual estou inserida foi contínuo,
pois o esforço de não defender o campo (tendo em vista que quanto mais o conhecia, mais
submersa estava), mas vigiá-lo, persegui-lo, compreendê-lo era constante, exigindo
momentos de reflexão sobre a minha posição enquanto pesquisadora do campo científico
em todos os momentos da realização da pesquisa. Ou seja,
2
Lourdes Gaitán Muñoz é uma socióloga espanhola, precursora da sociologia da infância na Espanha, a
qual tem se engajado para estruturar o campo nesse país, bem como trazer visibilidade para as produções
espanholas, estabelecendo estreitas ligações com os pesquisadores da América do Sul.
3
Revista Sociedad e Infancias é uma revista multidisciplinar e ibero-americana que objetiva promover o
conhecimento científico sobre a vida de crianças e adolescentes, principalmente no contexto espanhol,
português e ibero-americano, orientado pelos novos estudos da infância. Para saber mais consultar:
<https://revistas.ucm.es/index.php/SOCI>.
24
maior ou menor afinidade dos habitus que leva a achar “simpáticos” ou
“antipáticos” seu pensamento e sua ação (BOURDIEU, 2005, p. 55).
25
INTRODUÇÃO
4
Nove teses sobre a infância como fenômeno social, artigo de 1993, publicado em português em 2011.
26
ideia do poder estabelecido entre gerações, como a noção do adultocentrismo5 e da
imposição normativa que oferece oportunidades desiguais de participação para as
crianças e institucionaliza normas a serem incorporadas por elas. A educação é
cristalizada no poder adulto, uma vez que as relações tradicionais entre crianças e adultos
já são marcadas pelo poder, mantendo-se, assim, a dependência da criança e reforçando-
se a ideia de proteção (ROSEMBERG, 1976). Pode-se mesmo dizer que
5
A noção de adultocentrismo foi apontada por Rosemberg (1976), ao se referir às relações de poder
estabelecidas entre adultos e crianças, tendo em vista que a sociedade é centralizada nos adultos, que
colocam as crianças como receptoras do que eles ensinam. Ver Rosemberg, 1976.
6
Segundo Corsaro (1997, 2011) o termo reprodução toma a ideia de que as crianças não estão simplesmente
internalizando a sociedade e a cultura, mas estão ativamente contribuindo para produção e mudança
cultural; interpretativo tem o significado de aspectos criativos e inovadores desenvolvidos pelas crianças
em sua participação social.
27
um conceito estrutural [...] visa caracterizar a infância como parte de
uma dada arquitetura social, e por isso é também útil para comparar a
infância com outros grupos em uma dada sociedade, bem como com a
infância em diferentes nações e períodos históricos7 (p.48),
7
Todas as traduções dos textos em inglês ou em espanhol, no original, são de minha responsabilidade.
28
crianças com os pares e com os adultos, percebendo-as cada vez mais como parte
integrante da sociedade.
A pesquisadora espanhola afirma que o desenvolvimento desta subdisciplina
sociológica ainda é recente, e aponta três objetivos principais que orientam as
investigações científicas na área: (a) a contribuição para a expansão das ciências sociais,
levando em consideração uma parte da sociedade que esteve esquecida por ela, (as
crianças como grupo minoritário); (b) a realização de explicações sociológicas, tendo
como enfoque o fenômeno da infância; (c) a visibilidade para as crianças enquanto atores
sociais na perspectiva da Convenção dos Direitos da Criança-CDC8, que as reconheceu
como sujeitos de direitos (GAITÁN MUÑOZ, 2006a, p.10).
A sociologia da infância, de acordo com Sarmento (2008) “propôs-se a colocar a
infância no centro da reflexão das Ciências Sociais” (p.32), sendo reconhecida como “um
componente estruturante do campo interdisciplinar dos Estudos da Infância que está em
plena constituição” (ibid., p.33, grifo no original). Este campo mais amplo, segundo
Qvortrup, Corsaro e Honig (2009), foi primeiramente composto pela sociologia e pela
antropologia, que tiveram dificuldade em utilizar conceitos e métodos investigativos
próprios para pesquisar as crianças e a infância, e, assim, foram desafiadas a estabelecer
interlocução entre suas referências teórico-metodológicas.
Nos últimos anos, pode-se visualizar o aumento das produções e das publicações
sobre o tema da infância pela ótica dos cientistas sociais, que têm se atentado ao novo
paradigma, investigando novas formas de olhar para a infância e as crianças, bem como
discutindo e verificando possibilidades metodológicas de se realizarem pesquisas com e
sobre elas, a fim de avançar na sua compreensão no mundo contemporâneo. Ao considerar
que o campo da sociologia da infância tem produção internacional e que pesquisadores
de diferentes países têm apresentado suas pesquisas em congressos da área e publicado
seus trabalhos em livros ou periódicos, verificou-se haver, ainda, pouca informação sobre
os estudos da infância na América do Sul. Em breve levantamento realizado em 20139,
8
A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças foi promulgada em 1989, reunindo
medidas internacionais que visam proteger a infância. Com caráter universal e internacional, o documento
abrange 54 artigos que consideram os direitos fundamentais das crianças, sintetizados em direitos de
provisão, proteção e participação.
9
Como parte do projeto de pesquisa Developing a Sociology for Early Childhood: advances and challenges
with particular reference to the role of institutions in young children’s lives, realizado pelo GEPSI FEUSP,
em parceria com a University of Surrey, UK.
29
foram encontrados alguns textos10, cujo referencial teórico é pautado pelos estudos da
infância, o que provocou o interesse por saber mais sobre quem pesquisa, o quê pesquisa
e como pesquisa a infância e as crianças nos países de língua espanhola da América do
Sul.
No Brasil, pesquisa de Castro e Kosminky (2010) relaciona os estudos sobre as
crianças e a infância a questões sobre as crianças como problemas sociais, apontando que,
somente após a aprovação da Constituição Federal (1988) e do Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990), as crianças passaram a ser reconhecidas como sujeitos de direitos, o
que as transforma em foco da agenda política e as torna visíveis na pesquisa acadêmica.
As autoras fazem um balanço da produção acadêmica brasileira e, ao final do artigo,
referem a sociologia da infância como campo de estudo em construção.
Em 2013, investigação realizada pelo Grupo de Estudos e Pesquisa sobre a
Sociologia da Infância (GEPSI), coordenada por Maria Letícia Nascimento, mapeou os
grupos de pesquisa que trabalham com a sociologia da infância no Brasil. Uma das
informações obtidas pela pesquisa é a estreita relação entre o campo e a educação.
Também em texto recente, Szulc e Cohn, antropólogas argentina e brasileira,
respectivamente, apresentaram um breve balanço sobre os estudos da antropologia da
criança na América do Sul, descrevendo as perspectivas brasileiras e argentinas. As
autoras destacam que a infância recentemente tem se legitimado nas pesquisas da região,
ganhando visibilidade nas publicações, bem como na agenda pública (COHN; SZULC,
2012) e afirmam que a grande diversidade da América Latina - seus diversos países e
diversas histórias - está mergulhada em uma variedade de contextos, mesclando
linguagens, trajetórias políticas, econômicas, sociais e composições étnicas, que afetam a
vida das crianças.
Em outras palavras, a diversidade cultural sul-americana está presente nas
experiências vividas pelas crianças, sendo que a pesquisa sobre a infância como um
processo social, historicamente construído, vai ser elaborada de diversas formas dentro
da complexidade do cruzamento das relações sociais em cada país onde é realizada. Essa
característica certamente exige, de quem pretende investigar mais de um país, um esforço
que leve em consideração a compreensão da infância como construção social e das
crianças como agentes sociais em complexas e diversas realidades socioculturais.
10
PAVEZ SOTO (2012); VERGARA, CHÁVEZ e VERGARA (2010); SZULC e COHN (2012), por
exemplo.
30
Propor uma pesquisa sobre os estudos da infância na América do Sul requer
investigar as pesquisas, a produção e as publicações sobre a infância, para visualizar a
produção da infância nos países de língua espanhola. Trata-se de um passo para: (1)
estabelecer interlocução com pesquisas brasileiras, buscando compreender o conjunto
sul-americano; (2) compreender a própria diversidade presente nas abordagens da
infância; (3) estabelecer contato com pesquisadores com vistas à constituição de parcerias
e, posteriormente, de uma rede sul-americana de estudos da infância.
Em uma primeira busca, foram encontradas algumas publicações nos países da
América do Sul de língua espanhola, indicando preocupação com direitos das crianças,
proteção social, trabalho infantil, crianças em situação de rua e participação infantil.
Segundo Moss (2011), é necessário prestar mais atenção nas construções da
infância e localizar os estudos e as análises das sociedades em que as crianças vivem, para
compreender o que significa viver a infância em cada uma delas. Em outras palavras, o
autor afirma que “precisamos explorar o relacionamento entre infância e o espaço
histórico e contextual [em] que cada criança vive” (p.4). É nesta perspectiva que se
considera a América do Sul - as especificidades demográficas, econômicas, sociais e
culturais dos países como impactantes nas vidas das crianças - e buscam-se indicativos
da configuração da infância nesses países. O mapeamento de pesquisadores que
reconhecem as crianças como atores sociais e participantes do meio em que vivem, em
consonância com as produções a partir do novo paradigma da infância, na América do
Sul, permite compreender as linhas teóricas que vêm sendo utilizadas, os caminhos
metodológicos, as escolhas temáticas, assim como amplia as referências sobre os estudos
da infância na perspectiva da sociologia.
Assim, o objetivo geral desta pesquisa é investigar o desenvolvimento de estudos
sociais da infância em ao menos dois países da América do Sul, a fim de compreender o
que se tem pesquisado e produzido.
Como objetivos específicos, pretende-se: (1) mapear pesquisadores que
trabalham com estudos sociais da infância nos países de língua espanhola da América do
Sul; (2) realizar um inventário sobre as pesquisas/publicações sobre a infância desses
países; (3) identificar as áreas predominantes dos estudos (história, geografia, sociologia,
antropologia, psicologia social, educação, direito) mais regulares na produção de pesquisa
sobre a infância; (4) verificar como a sociologia da infância tem sido construída; e (5)
investigar o alcance do paradigma da infância nesses países.
31
O trabalho está composto por quatro capítulos: no primeiro apresenta-se o
desenvolvimento da sociologia da infância a partir da discussão sobre a noção de campo
em Bourdieu, o qual fornece elementos para pensar a construção do conhecimento
científico e as principais características presentes. A seguir, busca-se abordar os
principais autores, conceitos, correntes de pesquisa e as possiblidades metodológicas da
sociologia da infância.
No segundo capítulo, apresenta-se o percurso metodológico percorrido para
encontrar, selecionar, investigar e entrevistar os autores sul-americanos que trabalham na
perspectiva da sociologia da infância. Descreve-se o processo para a realização de
levantamento geral da produção dos estudos da infância nos países de língua espanhola
da América do Sul:
• levantamento bibliográfico de referências;
• identificação de pesquisadores;
• localização e estabelecimento de contato por correio eletrônico;
• definição de países para a realização das entrevistas com os autores.
O terceiro capítulo apresenta a configuração dos estudos da infância na América
do Sul, as visitas em cada país, a caracterização dos pesquisadores de cada país,
informações coletadas a partir das entrevistas, a descrição das formas de trabalho nas
universidades, as áreas em que estão situados, a metodologia dos grupos de pesquisa para
realizar os estudos sobre a infância. Também foram consideradas as produções dos
pesquisadores para identificar a sociologia da infância em seus trabalhos e apresentar seus
temas de pesquisa.
No quarto capítulo estão as análises das produções das autoras dos países
escolhidos para aprofundamento dos estudos, as categorias delineadas, os temas
consagrados e as abordagens teóricas e metodológicas das produções.
Finalmente, nas considerações finais, recupera-se o conceito de campo científico
em Bourdieu para compreensão da sociologia da infância e dos estudos sociais da infância
como campo científico, bem como apresentam-se algumas considerações sobre o campo
nos países investigados.
32
CAPÍTULO 1 - O CAMPO DA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA
33
num movimento no qual os primeiros entram e procuram modificar as leis que o regem,
almejando alcançar prestígio; todavia, os dominantes se empenham para defender o
monopólio pela autoridade científica, a fim de eliminar a concorrência. Essa competição,
entretanto, não é explícita, pois ocorre por meio de estratégias, muitas das quais
inconscientes, que garantem que as características para a continuidade da ordem
permaneçam, e que, ao serem incorporadas e medidas, levem a determinadas ações dentro
do campo.
A análise sociológica feita em relação à teoria do campo bourdiesiana está
relacionada a quatro fatores que colocam em prática a teoria nos espaços científicos. O
primeiro a ser considerado são os agentes do campo e a relação com as posições que nele
ocupam, para que se possa conhecer os dominantes e os novatos deste espaço; as
estruturas do campo são um segundo fator a ser destacado, a fim de compreender como
as relações de poder estão distribuídas; como terceiro ponto se faz necessário identificar
quais os valores fundantes no campo, ou seja, quais princípios mobilizam este universo e
motivam os protagonistas do campo a apostar no jogo (illusio11); e, finalmente, o quarto
fator se estabelece pela compreensão da história das instituições onde os agentes estão
inseridos, o que permite entender sua configuração e como o jogo de forças é
estabelecido12.
Bourdieu (2004b) conceitua o campo científico como um “universo no qual estão
inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou difundem [...] a
ciência” (p.20). Essa afirmação fornece elementos para investigação do campo científico,
e, nesta pesquisa, permite identificar quais são as instituições relacionadas com a
reprodução e a difusão do conhecimento no campo da sociologia da infância, bem como
as responsáveis pela circulação dos produtos acadêmicos a ele relacionados. A produção
científica se torna, assim, um componente de consagração dos pesquisadores, por se
relacionar com a publicação, em espaços que prestigiam essa produção e aumentam o
capital científico dos que publicam. Desta forma, localizar os pesquisadores e suas
publicações permitirá assegurar a identificação das produções que estão sendo
reconhecidas dentro do campo e que possibilitam compreender a sua configuração.
11
Para Bourdieu (2004b) este conceito se relaciona com a crença no sentido do jogo, ou seja, se vale a pena
que os agentes invistam e lutem pelos elementos em jogo em um determinado campo.
12
Estes quatro fatores foram sintetizados a partir das discussões do livro Homo Academicus (BOURDIEU,
2013) no Grupo de Pesquisa sobre Práticas de Socialização no Mundo Contemporâneo (GPS), liderado pela
Profa. Dra. Maria da Graça Jacintho Setton, na Faculdade de Educação da USP.
34
Além das instâncias especificamente encarregadas da consagração
(academia, prêmios), ele compreende ainda as revistas científicas que,
pela seleção que operam em função de critérios dominantes, consagram
produções conformes aos princípios da ciência oficial, oferecendo,
assim, continuamente, o exemplo do que merece em nome da ciência,
e exercendo uma censura de fato sobre as produções heréticas, seja
rejeitando-as expressamente ou desencorajando simplesmente a
intenção de publicar pela definição do publicável que elas propõem
(BOURDIEU, 1983, p.138).
35
o sentido do jogo e possa situar-se no campo. A prática científica exige dedicação de
tempo e de esforços para a construção do conhecimento por meio da investigação do que
já foi produzido, a fim de que se possam elaborar novas pesquisas e ampliar a produção
do conhecimento. A busca pela originalidade da produção faz com que o pesquisador
avance nas pesquisas, de forma a não se limitar na repetição do que já foi produzido. Em
virtude disso, os agentes procuram apoiar-se nas obras teóricas e ultrapassar a produção
do conhecimento, amparando-se na contribuição de outros autores no campo, pois “a
capacidade de reproduzir activamente os melhores produtos dos pensadores do passado
pondo a funcionar os instrumentos de produção que eles deixaram é a condição do acesso
a um pensamento realmente produtivo” (BOURDIEU, 2000, p. 63).
São as estruturas das “relações objetivas entre os agentes que determinam o que
eles podem ou não podem fazer” (BOURDIEU, 2004b, p.23), uma vez que as posições
ocupadas pelos protagonistas nesta estrutura orientam as suas tomadas de conduta. As
práticas realizadas no âmbito acadêmico demarcam-se pela distribuição de capital
científico entre os diversos protagonistas empenhados no campo, sendo que esse
engajamento é reconhecido a partir da identificação de saber “de onde ele fala”
(BOURDIEU, 2004b, p.24), ou seja, qual o reconhecimento dele dentro do campo.
A estrutura do campo científico “é um estado da relação de força entre os agentes
ou as instituições envolvidas na luta ou, se preferir, da distribuição do capital específico,
que, acumulado no decorrer de lutas anteriores, orienta as estratégias posteriores”
(BOURDIEU, 2003, p.120). Para tanto, ao se falar de capital científico, é preciso fazer
menção ao capital específico que vale em relação ao campo científico e se submete aos
limites desse campo, uma vez que, ao acumular capital, busca-se o reconhecimento e a
legitimação dentro dele. Assim, é possível enunciar que o capital científico é uma espécie
de capital simbólico que atribui “créditos” no interior do campo científico e baseia-se na
autenticidade de uma capacidade com a qual colabora para o estabelecimento não apenas
das “regras do jogo, mas também de suas regularidades, as leis segundo as quais vão se
distribuir os lucros nesse jogo, as leis que fazem ser ou não importante escrever sobre tal
tema, que é brilhante ou ultrapassado, e o que é mais compensador publicar”
(BOURDIEU, 2004b, p.27).
Em consonância com Bourdieu (2004b, p.36), o capital científico puro e o capital
científico da instituição são duas espécies de capital que demandam leis distintas para sua
acumulação. O primeiro pode ser adquirido pelas ações que fornecem prestígio no campo,
no que se refere aos contributos para a ciência, como publicações e produções no campo;
36
e a aquisição do segundo tipo de capital se relaciona à legitimação do capital científico
por meio de estratégias políticas, participações em comissões, bancas, eventos, concursos,
congressos e demais meios que promovam o reconhecimento da autoridade científica.
Essas duas formas de capital estão estritamente ligadas a duas formas de poder no campo:
o poder político e o institucional. O primeiro está relacionado aos meios de produção e
reprodução que ele garante, e o poder específico confere prestígio pessoal, ou seja,
corresponde ao reconhecimento entre os pares e consagra o pesquisador dentro do campo
(BOURDIEU, 2004b, p.35). Se determinadas instituições conferem maior distinção entre
os agentes, devido a sua própria história - o que possibilita a compreensão do mundo
universitário, e os jogos de forças nele estabelecidos -, pode-se entender a dinâmica de
maior quantidade de produções acadêmicas por determinados professores em detrimento
de outros.
Em Homo Academicus, Bourdieu (2011) fornece elementos para a compreensão
das relações de força no espaço universitário, entendido enquanto espaço de conflito, com
disputa de valores, para que o campo se mantenha e se reproduza, sendo que o autor
demonstra, nesta publicação, a estrutura da composição do campo científico e as
estratégias de que os agentes fazem uso para se manterem dentro dele.
Quais os capitais necessários para entrar em um campo científico? Como é
produzido o conhecimento? Como se estabelece a relação com o objeto de pesquisa?
Bourdieu (2011) desvela o universo universitário, o qual é dotado de disputas, lutas e
relações de poder e busca por capital científico, demonstrando que a ciência não é
totalmente desinteressada, e que preocupações como participar de grupos, comitês,
eventos de pesquisa legitimados no campo; conhecer pessoas influentes nesses espaços
(aquisição de capital social); escolher objetos de pesquisa mais valorizados; produzir e
publicar em certos periódicos são estratégias que configuram ganhos simbólicos,
favorecendo o acúmulo de capital científico, e denunciam os mecanismos de produção e
de autoridade científica.
Quanto ao funcionamento do campo, se faz oportuno lembrar que estes não são
totalmente fechados, há um intercruzamento entre eles. Porém as interferências são
limitadas pela autonomia de cada campo, que se fecha ou não às interferências externas
em relação ao seu poder de refração (BOURDIEU, 2004b). De acordo com o autor, todo
campo científico é um campo de forças no qual os agentes não são “partículas
passivamente conduzidas pelas forças do campo. Eles têm disposições adquiridas que
37
chamo de habitus, isto é, maneiras de ser permanentes, duráveis, que podem, em
particular, levá-los a resistir, a opor-se às forças do campo” (BOURDIEU, 2004b, p.28).
Esse habitus se refere às disposições científicas, como maneiras de ser, pensar e
agir dentro do campo, que são adquiridas, inscritas, incorporadas pelos agentes e
orientarão o posicionamento nele, de forma a opor-se (pondo-se em risco) ou submeter-
se às forças do campo (conformando as disposições) (BOURDIEU, 2003, 2004b).
Entretanto o habitus depende das imposições das condições do jogo, pois o campo
científico possui uma regularidade que pode ser mudada ou conservada quando são
ameaçadas. Isso faz parte de um senso prático (BOURDIEU, 2009) relacionado a uma
determinada comunidade científica em um demarcado período histórico e que tende a
produzir práticas ajustadas às possibilidades de ação.
Assim, o agente considerado como um bom jogador nas lutas travadas no campo
(BOURDIEU, 2004b) é aquele que sabe mediar suas ações e escolhas, visando tomar as
decisões que tragam lucros simbólicos para sua trajetória profissional. Para compreender
os agentes do campo, destaca-se a necessidade de considerar a sua origem social, a
natureza de sua formação, seu prestígio social, a posição por ele ocupada e as relações
estabelecidas e mantidas com o conhecimento (BOURDIEU, 2011).
Não há escolhas científicas neutras, tendo em vista que o campo de pesquisa, os
métodos empregados, os lugares de publicação etc., são orientados por “estratégia política
de investimento objetivamente orientada para a maximização do lucro propriamente
científico, isto é, para a obtenção do reconhecimento dos pares-concorrentes”
(BOURDIEU, 1983, p.127). A essa ordem, também se destaca o papel das universidades
que são delegadas a confirmar a
38
compreender o mundo universitário, é possível compreender relações estabelecidas nos
demais espaços sociais e que também envolvem estratégias de dominação.
Desde o início do século XX, as crianças eram vistas a partir de disciplinas como
a medicina, a psicologia, a educação e o direito (MORAN-ELLIS, 2010), sendo que estas
ciências determinaram concepções de criança e de infância que as concebiam como seres
passivos. A medicina, por meio da pediatria, se ocupou do desenvolvimento físico das
crianças; os aspectos psicológicos relacionados a comportamento e emoções, dentre
outros dessa natureza, ficaram a cargo da psicologia; e a pedagogia focalizou a dimensão
cognitiva e social por meio de sua escolarização.
De acordo com Andrade (2010), as crianças eram reconhecidas por estas
disciplinas a partir da necessidade de proteção, visto serem consideradas vulneráveis,
dependentes, passivas, imaturas, ao contrário dos adultos, vistos como o ideal a ser
atingido. Em relação à sociologia, esta tradicionalmente pouco se ocupou da infância, e,
desde seu surgimento como disciplina científica, tratou da socialização das crianças.
A sociologia surge no século XVIII como disciplina científica em busca de
compreender a sociedade após as grandes Revoluções Industrial e Francesa (MARTINS,
1994). Esta disciplina se propõe a entender o contexto social, as relações estabelecidas
pelas diferentes classes, as transformações ocorridas e as novas condições de vida na
sociedade posteriormente à revolução industrial. Bauman (2010) aponta que a sociologia
faz referência a um corpo de conhecimentos acumulados no que diz respeito ao “mundo
feito pelos seres humanos” (p.13). Isso quer dizer que ela produz conhecimento que serve
a diversos tipos de interesses, tendo diferentes abordagens metodológicas para explicar a
realidade social, e com uma produção histórica que abrange a compreensão dos homens
sobre si mesmos, sobre as estruturas sociais e as relações de poder que envolvem a ordem
social (BOURDIEU, 1996).
O conceito de socialização tradicionalmente se referiu aos processos que
possibilitam às crianças tornarem-se membros da sociedade, tomando a infância enquanto
etapa de preparação para a vida adulta. As maneiras pelas quais elas se inserem
39
progressivamente no meio social, a aquisição de condutas e competências necessárias
para atuar na sociedade são elementos que caracterizam esse conceito.
Durkheim é quem irá estabelecer as primeiras relações entre a sociologia e a
infância. Para ele, as crianças são frágeis, instáveis, incompletas e, por estarem em fase
de crescimento, submetem-se à transformação, à mudança e à assimilação rápida do meio,
ou seja, em processo até que atinjam um completo desenvolvimento. Em outras palavras,
as crianças vão sendo transformadas em seres sociais por meio do processo de
socialização. As instituições sociais, família, igreja e escola, são as responsáveis por este
processo e têm por objetivo desenvolver nas crianças a capacidade moral e social, de
modo que elas se identifiquem com o sistema social. Desta maneira, percebe-se que a
educação e o processo de socialização são essenciais para a manutenção, conservação e,
principalmente, para o funcionamento das sociedades.
Na obra intitulada Sociologia, Educação e Moral, Durkheim (1984) aponta que
os três aspectos que nomeiam o livro têm a função de promover certo número de estados
físicos e mentais que a sociedade considera como indispensáveis a todos os seus
membros. Além disso, pretende assegurar a disciplina, fornecer à criança o pertencimento
a um grupo social, identificar o seu papel na sociedade, a sua autonomia e a
autodominação, com a finalidade de consolidar as consciências sociais (que são coletivas)
e constituir o ser social em cada indivíduo.
Elementos para pensar o processo de internalização da sociedade fazem parte da
teoria de Parsons (1951), autor que, em seu livro, The Social System, constrói a estrutura
da organização social, segundo a qual as crianças devem adquirir capacidades necessárias
para a vida adulta, internalizando regras fundamentais para o funcionamento da
sociedade. Diz o sociólogo que o indivíduo é funcional para a manutenção da ordem
social, sendo que as crianças aceitam, assimilam e internalizam as regras da sociedade na
qual estão inseridas, contribuindo com a manutenção e a propagação dos valores e normas
que conduzem o seu funcionamento, isto é,
40
O autor destaca que a falta de maturidade biológica das crianças é um elemento
evidente e que, durante o seu desenvolvimento, elas carecerão de aprendizados de
condutas esperadas para viver em sociedade. “A prática social da criança é sublimada
pelos presumíveis interesses do teórico [Parsons] a manter a integração e a ordem no nível
analítico [do Sistema Social]” (JENKS, 2002, p.205).
Outros sociólogos que apontaram a sociedade como um produto humano e o
homem como um produto social foram Berger e Luckmann, no conhecido livro A
Construção Social da Realidade, publicado em 1966. Na obra, os autores argumentam
que a criança não nasce membro da sociedade, mas nasce com a predisposição para
tornar-se membro dela. Isso ocorre por meio da interiorização do mundo enquanto
realidade social provida de sentido e pela compreensão de nossos semelhantes. Esse
processo é realizado pela socialização, que pode ser definida como “a ampla e consistente
introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela”
(BERGER; LUCKMANN, 1985, p.175). É depois da interiorização que a criança se torna
membro da sociedade, ou seja,
41
Partindo de uma visão contemporânea sobre socialização, faz-se necessário
destacar os sociólogos franceses Dubet e Dubar.
Dubet publica, em 1994, a obra intitulada Sociologie de l'expérience, na qual
questiona o conceito de socialização definido pelos autores da sociologia clássica por
meio da noção de experiência. Segundo ele, a visão de socialização esteve ligada ao
processo de internalização das normas sociais pelo indivíduo, sendo que a noção de
experiência por ele proposta refere-se à construção heterogênea das lógicas da ação que
transformam o ator em um sujeito social. Nesse sentido, a experiência se apresenta como
“uma atividade cognitiva, é uma maneira de construir o real e, sobretudo, de o verificar,
de o experimentar. A experiência constrói os fenômenos a partir das categorias do
entendimento e da razão” (DUBET, 1994, p. 95). A socialização, assim, não é total, uma
vez que a experiência dos indivíduos “se inscreve em registros múltiplos e não
congruentes. É nisso que assenta aquilo que se poderá considerar como a autonomia do
indivíduo” (DUBET, 1994, p. 98).
Ao propor uma sociologia da experiência, o sociólogo considera a subjetividade
dos atores e concebe cada indivíduo como capaz de dominar conscientemente, pelo menos
em certa medida, a sua relação com o mundo (Ibid., p. 100-107). Essa noção de
experiência incita a subjetividade e a reflexividade por meio da combinação de lógicas de
ação com aquelas que associam o ator às dimensões do social, de forma que ele deva
‘articular lógicas de ações diferentes’ (ibid., p. 100-107). Com esse objetivo, Dubet coloca
em vista três princípios fundamentais: (1) a ação social não tem unidade, mas uma
pluralidade não hierárquica; (2) a ação social é definida por relações sociais, não sendo
determinada apenas por orientações normativas e culturais; e (3) a experiência social é
uma combinatória de vários tipos de ação (DUBET, 1994, p.107-112). A partir da noção
de experiência, verifica-se outra concepção de socialização, uma vez que a ação das
crianças começa a ter destaque na sua relação com o mundo social.
Dubar, em La Socialisation: construction des identités sociales et
professionnelles, obra publicada em 2002, define socialização como um “processo de
construção, desconstrução e reconstrução de identidades ligadas às diversas esferas de
atividade que cada um encontra durante sua vida e das quais deve aprender a tornar-se
ator” (DUBAR, 2002, p. xvii). Para ele, o indivíduo se constrói na interação com os
outros, com o juízo que os demais fazem sobre ele, bem como com suas próprias direções,
construindo sua identidade por meio de contínuas socializações. O sociólogo afirma que
a atribuição da identidade pelas instituições (analisada no interior dos sistemas de ações)
42
e a interiorização da identidade pelos próprios indivíduos (analisada no interior das
trajetórias sociais) são processos de socialização que produzem as identidades sociais
(DUBAR, 2002, p.136-140). Para ele, a socialização inicia-se na infância, mas a idade
adulta não representa a etapa final, ou seja, tanto a criança quanto o adulto estão em
processo contínuo de socialização.
43
O sociólogo norte-americano William Corsaro realizou pesquisa sobre os
processos de socialização das crianças e criou o termo reprodução interpretativa, como
denominação alternativa ao processo. Ele afirma que o uso do termo “socialização” pode
remeter à ideia de preparação da criança para uma vida futura, enquanto “reprodução
interpretativa” pode superar a interpretação individualista do conceito historicamente
elaborado para a socialização. Interpretativa por considerar a criatividade das crianças na
participação social e reprodução pelo fato de as crianças não apenas internalizarem o meio
social, mas modificarem-no e reproduzirem-no nas relações sociais (CORSARO, 2011,
p.31).
Segundo ele, as crianças são “agentes sociais que contribuem para a reprodução
da infância e da sociedade, por meio de negociação com adultos, e de sua produção
criativa de uma série de culturas de pares com outras crianças” (CORSARO, 2011, p.26).
Para o autor, “a noção interpretativa desafia a sociologia a levar as crianças a sério e a
apreciar as contribuições infantis para a reprodução e para a mudança social” (Ibid., p.26).
Em 1990, James e Prout definem um novo paradigma para a infância. Jens
Qvortrup (1991) propõe a infância como uma construção social e considera-a como uma
variável de análise, assim como classe, gênero e etnia. Desenvolve-se o argumento de que
as crianças podem e devem ser estudadas para os seus próprios direitos e referidas como
“ativas na construção e determinação de suas próprias vidas sociais, a vida de si mesmas
e da sociedade em que vivem” (JAMES; PROUT, 1990, p.8).
Assim, ao longo do tempo, diferentes conceitos e temas são apropriados,
amplificados ou desenvolvidos pela sociologia da infância como um campo em
construção. A existência de uma ordem geracional composta por infância, idade adulta e
velhice distingue grupos específicos da população, e as crianças como um grupo social,
estabelecendo infância como categoria de estrutura social (ALANEN, 2001, p.13).
Evidencia-se que a definição do ramo “infância” ainda é jovem na sociologia
(BÜHLER-NIEDERBERGER, 2010, p.155) e traz novas definições teóricas para a
perspectiva dos estudos da criança e da infância, impulsionando não apenas discussões
por diferentes perspectivas, mas propondo abordagens metodológicas que possam
considerar a perspectiva das crianças nas pesquisas.
Este campo da sociologia considera a infância como categoria social geracional
e concebe as crianças como sujeitos de direitos. Sua ação social é reconhecida pelo fato
de, ao ingressarem no mundo, modificarem as relações sociais estabelecidas com as
pessoas ao seu redor. Elas são compreendidas como membros da sociedade, o que serve
44
de base para indicar a importância de se conhecerem as maneiras como as crianças
pensam e agem na sociedade, além de investigar como os processos econômicos, políticos
e sociais interferem sobre suas vidas.
A partir do momento em que se percebe a infância como uma realidade
socialmente construída, considera-se que as variações históricas e culturais determinam
um modo de ser criança em determinado momento histórico (GAITÁN MUNÕZ, 2006,
p.44). Nesse sentido, a infância é vista como parte permanente da estrutura social, de
forma que as crianças são afetadas pelas mesmas situações que os adultos e que os fatores
macrossociais que interferem no mundo adulto e na velhice também atingem a infância
(QVORTRUP, 1991, 2011).
13
Current Sociology, v.58, 2010.
14
Os dados sobre o Brasil, presentes no volume, serão apresentados no capítulo 2 deste trabalho.
15
ALMEIDA, A.N. Para uma sociologia da infância: jogos de olhares, pistas para investigação. Lisboa:
Instituto de Ciências Sociais, 2009.
45
sociológico, era necessário ver as crianças como sendo na sociedade e não apenas como
um vir a ser; além disso, ressaltava-se a invisibilidade das crianças e da infância dentro
da sociologia.
Cabe citar que, na Itália, os estudos também foram fortemente influenciados pela
perspectiva pedagógica da Reggio Emilia, a qual considera as crianças como participantes
ativos e atores sociais na construção do conhecimento, visando a uma educação baseada
na relação com os pares e com os adultos.
A França e o Reino Unido deram seus primeiros passos na década de 1990, a partir
de críticas às noções tradicionais de socialização, apontando para visões reflexivas que
consideram as crianças enquanto atores sociais. Menciona-se que a sociologia francesa
foi composta por grandes pensadores influentes para as pesquisas sobre a infância e as
crianças, com destaque para Ariès, pioneiro na história da França a reconhecer o
sentimento de infância na sociedade burguesa e a trazer uma nova configuração para a
visão das crianças na sociedade.
A partir dos fatores educacionais, as discussões emergem em países como Brasil
e Estados Unidos, trazendo a compreensão da infância por meio de uma abordagem
transdisciplinar. Ressalta-se que, nos Estados Unidos, o contexto dos estudos da infância,
desde 1980, apontou iniciativas de pesquisa empíricas realizadas com as crianças
americanas.
As publicações na Alemanha surgiram no final da década de 1970 e em princípios
de 1980, questionando a posição das crianças na estrutura social, no intuito de analisar as
mudanças na sociedade e os impactos para a vida das crianças.
A Austrália foi influenciada pelos países pioneiros no campo (países
escandinavos, Reino Unido, França e Alemanha), e os reflexos nas pesquisas pontuam
questões similares aos países desenvolvidos.
Na Romênia, as primeiras ideias sobre o desenvolvimento da sociologia da
infância e da sociologia da criança estavam relacionadas ao trabalho desenvolvido pela
Bucharest School Sociology, nas décadas de 1930 e 1940. A escola reuniu pesquisadores
de campos multidisciplinares estudando a infância como uma unidade social, e era
recomendado que as crianças fossem tratadas como categoria social própria.
Os direcionamentos dos estudos sociológicos da infância na Espanha ocorreram
na década de 1990, por meio de alguns eventos internacionais como o I Congreso
Internacional Infancia y Sociedad (1989), e o seminário europeu sobre Investigación y
Políticas de la Infancia en la Europa en los años 90. Neste mesmo ano, a cidade de
46
Madrid reuniu pela primeira vez sociólogos interessados nos estudos da infância, no
Congresso Mundial de Sociologia e, em 1995, foi realizado o seminário europeu sobre
Politicas de Infancia en la Europa que, ao lado de outros eventos, demarcou as crianças
em grupos temáticos e a partir da oferta de cursos universitários embasados na sociologia
da infância.
Alguns fatores favoráveis à visibilidade das crianças nos estudos sociais nestes
países estão relacionados à ratificação da CDC em 1989 e às contribuições dos estudos
feministas que se atentaram para as crianças enquanto grupo minoritário. Eles
colaboraram para a discussão dos direitos sociais das crianças, evidenciando a
necessidade de se oferecerem espaços para a voz delas nas áreas científicas e nas políticas
nacionais. Frisa-se que, desde 1990, foi estabelecido um grande fluxo de publicações que
consideravam as crianças enquanto atores sociais e localizavam a infância como parte da
estrutura social.
Temas de pesquisa
47
- Finlândia: cuidado e educação, relação adulto e criança, agenda política, direito
de participação, estrutura e agência (STRANDELL,2010);
- França: discursos e representações da infância, fronteiras da infância com a
juventude, análises verticais da socialização, grupo de pares, perspectivas das crianças
sobre os processos de socialização, culturas infantis, relação das crianças com a pobreza,
desaparecimento da infância e proteção (SIROTA, 2010);
- Holanda: saúde, situação de pobreza, exclusão social, impacto de problemas
sociais para a vida das crianças, relações familiares e com o contexto escolar (VAN
DAALEN, 2010);
- Itália: crianças na vida familiar, socialização, perspectiva educacional,
participação das crianças e cidadania infantil (BARALDI, 2010);
- Reino Unido: relações de poder entre adultos e crianças, relações éticas que
envolvem as investigações científicas, crescimento, processo de se tornar cidadão,
mudanças de posição no próprio mundo acadêmico sobre os estudos da infância,
competência, relações com os estudos feministas, e participação infantil (MORAN-
ELLIS,2010);
- Portugal: crianças na população portuguesa; crianças à margem (sombras e
maus-tratos), trabalhos das crianças, representações e valores pautados na família,
espaços das crianças, participação infantil, culturas da infância, protagonismo e alteridade
(ALMEIDA, 2010);
- Romênia: crianças vulneráveis, pobreza infantil, dados sobre a situação das
crianças no país, trabalho infantil, crianças na divisão do trabalho familiar, trabalho
escolar, institucionalização das crianças, proteção e controle, participação infantil e
relações familiares (STANCIULESCU, 2010).
Desenvolvimento do campo
48
acadêmicas começaram a enfatizar com maior propriedade a perspectiva social, havendo
uma grande preocupação com as questões éticas em pesquisas envolvendo crianças.
Houve o reconhecimento da sociologia da infância como unidade de pesquisa nas
ciências sociais, por meio de redes, conferências e eventos, tais como European
Sociological Association (ESA), e International Sociological Association (ISA), por meio
do comitê de pesquisa da Sociologia da Infância, RC53 (Research Committe 53).
No Reino Unido, a Economic and Social Research Council (ESRC) fundou o
programa Children 5-16, o qual realizava pesquisas a partir da abordagem da sociologia
da infância, e os periódicos Childhood e Children and Society apresentaram publicações
pautadas no novo paradigma da infância e se tornaram dois dos principais divulgadores
das produções no campo.
Na França, o Research Committee of the International Association of French-
Speaking Sociologists (AISLF) criou o RC Sociology of Childhood, o qual, em 2000,
instituiu o workshop anual intitulado Journées de sociologie de l’enfance. Nessa
perspectiva, também foram criados observatórios e centros nacionais de pesquisa que
visavam desenvolver investigações evidenciando a infância.
Na Alemanha, conforme explicita Zeiher (2010), o campo da sociologia da
infância contou com o apoio da Associação Alemã de Sociologia e tem mostrado
progressão e atividades acadêmicas crescentes.
Em 1995 e 1997, de acordo com Baraldi (2010), a sociologia da infância na Itália
ganhou um centro de pesquisas sobre infância e adolescência nomeado Laboratorio
Infanzia e Adolescenza (LIA), e foi estabelecido um Centro Nazionale di
Documentazione e Analisi per l’Infanzia e l’Adolescenza (CNDAIA) o qual também
estimulou o aumento da produção no campo.
Os pesquisadores dos Estados Unidos têm publicações anuais sobre a infância
desde 1986, enquanto membros da American Sociological Association (ASA), a qual
possui uma seção destinada às crianças e aos jovens.
Em Portugal, destaque é dado para as produções realizadas pelo Instituto de
Estudos da Criança (IEC), coordenado por Sarmento, e pelo pioneirismo desse país na
oferta do mestrado em sociologia da infância pela Universidade do Minho.
Sobre os estudos da infância na Espanha, destaca-se a relação estabelecida nos
últimos anos com os países ibero-americanos a partir da criação de instituições como a
Red Iberoamericana para la Docencia e Investigación, em 2014, com o intuito de
promover a interação entre pesquisadores acadêmicos, profissionais e estudiosos da
49
infância e trazer visibilidade e contribuições para a efetivação dos direitos das crianças
de acordo com a CDC; e a Asociación GSIA (Grupo de Sociología de la Infancia y la
Adolescencia), em 2011, composta por profissionais de diversos campos disciplinares que
visam discutir, refletir e produzir conhecimento científico e ações para a promoção dos
direitos das crianças por meio do enfoque sociológico.
O desenvolvimento do campo no Reino Unido, segundo Moran-Ellis (2010),
iniciou-se com o processo de estudar as crianças e a infância por outras abordagens, como
realizou Hardman, em 1978, que, pautado em uma perspectiva antropológica, estudou as
crianças como grupos silenciados. Em 1982, Jenks demonstrou as diferentes abordagens
teóricas sobre a criança; em 1988, Alanen publicou um texto sobre a hegemonia da
socialização; já em 1990, Mayall publicou sobre o papel das crianças na divisão do
trabalho de cuidar, e em 1991, James e Prout publicaram o livro Constructing and
Reconstructing Childhood, o qual demarca o surgimento de um novo paradigma para os
estudos da infância.
Na Dinamarca, o primeiro sociólogo a trabalhar com a infância foi Jens Qvortrup,
em 1985, com seus estudos sobre a divisão social de trabalho, família e Estado. Qvortrup
também desenvolveu projetos de pesquisa importantes desde a perspectiva sociológica
sobre a infância, em conexão com outros países, tais como Childhood as a Social
Phenomenon e Childhood, Society and Development in the Nordic Countries.
Sirota (2010) revela a fragmentação do campo francês e frisa que as contribuições
para os estudos da infância são advindas não apenas da sociologia, mas também de
diferentes campos disciplinares. Em 1998, o termo “sociologia da infância” aparece pela
primeira vez com a publicação do periódico Education et Sociétés, sendo que,
posteriormente, as publicações de Sirota (1998) e de Montandon (1998) apresentam
estudos sobre a emergência do campo, a partir das literaturas francesa e inglesa
respectivamente, e instauram orientações para suas discussões e desenvolvimento.
Zeiher (2010) afirma que, na Alemanha, os estudos da infância se desenvolvem
com proximidades ao campo educacional, pois educadores e trabalhadores sociais se
apropriaram da literatura da sociologia da infância em maior profundidade do que os
sociólogos. Este fato traz implicações para o futuro das produções no país e chama a
atenção para a necessidade de maiores discussões sociológicas para a infância, de forma
a torná-la mais visível nos estudos desta disciplina.
Na Itália, Baraldi (2010) traz apontamentos sobre os limites e as possibilidades
para os estudos no país e afirma que o campo tem uma lenta expansão. Ressalta que a
50
sociologia da infância ainda se encontra marginalizada no âmbito das pesquisas
científicas dentro das universidades, sendo que o futuro das produções depende de uma
renovação política concomitante à promoção da participação das crianças, e pontua que
o principal obstáculo é “o morno interesse dentro da comunidade sociológica”
(BARALDI, 2010, p.272).
Apesar de as crianças receberem mais atenção nos últimos anos nas pesquisas
holandesas, Van Daalen (2010) aponta que elas tradicionalmente foram marginalizadas
enquanto tópicos de pesquisa, e ressalta a evidente fragmentação dos estudos devido à
dispersão dos pesquisadores da infância pelo país e por não possuírem aproximações entre
si, o que resulta no desenvolvimento da sociologia da infância em condições limitadas.
Sobre a Romênia, é oportuno acentuar o difícil acesso do país à obtenção de
informações desde a queda do Comunismo em 1989. Nota-se que as publicações e
pesquisas não contavam com grandes financiamentos, sendo que, após esse período,
houve um aumento da produção de conhecimento sobre as crianças. Segundo
Stanciulescu (2010) algumas ideias foram eficientes para a estruturação da sociologia da
infância, tais como: crianças enquanto grupo que possui um mundo específico; cultura
das crianças; processos de industrialização e modernização da sociedade e impactos para
a vida das crianças; metodologias de pesquisa; noção da divisão social do trabalho que
considera o espaço das crianças.
Nos Estados Unidos, desde 1970, nota-se a presença de publicações que
reconhecem as crianças separadamente dos adultos e trazem o ponto de vista delas para a
compreensão de suas experiências (BASS, 2010). Destacam-se os estudos realizados por
Corsaro, o qual se apresenta como importante teórico para o campo da sociologia da
infância e contribui para compreensão das experiências cotidianas a partir da metodologia
etnográfica; considera a voz das crianças nas pesquisas e busca entender as culturas
infantis.
De acordo com Van Krieken (2010), o campo de pesquisas sobre a infância na
Austrália se desenvolveu a partir de uma abordagem interdisciplinar, e as pesquisas no
âmbito das ciências ainda não são tão intensas, devido ao fato de a infância ter sido
tradicionalmente estudada no país pela vertente política, criminológica e da saúde.
Algumas mudanças têm ocorrido no campo, apontando a emergência de novas
abordagens sobre a infância, principalmente sobre a relação das crianças com as
tecnologias. Sociólogos têm se atentado para debater a perspectiva das crianças dentro da
51
vida familiar e nas comunidades indígenas, o que gera impacto nas discussões de políticas
nacionais para a infância e nos regimes econômicos.
A sociologia da infância em Portugal passa a ter um papel importante a partir das
demandas por novos olhares para a infância surgidas com as mudanças sociais, na
reconfiguração das famílias, com a diminuição das taxas de natalidade, no processo de
massificação escolar, na ratificação da CDC, e entre outros fatores determinantes que
conferem valor social sobre a vida das crianças.
Na Espanha, Gaitan Muñoz (2006b) ressalta alguns pontos comuns nas pesquisas
desenvolvidas no campo da sociologia da infância no país, como a presença da
perspectiva intergeracional, as aproximações das crianças de forma global e não
individual, e o interesse em estudar as condições típicas, normais e comuns às crianças.
Principais desafios
52
Em relação à Romênia, Stanciulescu (2010) assegura que, mesmo o país
demonstrando uma tradição sociológica para a infância e as crianças, atualmente são
poucos os pesquisadores dedicados a trazer os debates para a discussão em âmbito
internacional, emergindo várias questões a serem resolvidas e desenvolvidas para o
campo da sociologia da infância.
Nos Estados Unidos, Bass (2010) enfatiza a presença da abordagem
interdisciplinar e afirma que o futuro dos estudos no campo precisa considerar
investigações relacionadas às políticas sociais e aos direitos das crianças. Pontua a
necessidade de avançar nas abordagens metodológicas para a realização de pesquisas
empíricas com as crianças.
Em Portugal, Almeida (2009) ressalta algumas propostas para a investigação da
infância, destinando-se à exploração das potencialidades e limitações do campo, para não
somente fornecer maior consistência a projetos anteriores, como também inspirar os
investigadores a realizarem pesquisas em temas inexplorados.
Finalmente, sobre a Espanha, Gaitan Muñoz (2006) destaca a necessidade de ver
as crianças enquanto unidade de análises, de aprofundar os conhecimentos sobre a
infância nas investigações sociais, a importância de selecionar procedimentos
metodológicos mais adequados nos estudos estatísticos e naqueles que abordem o
pensamento e a opinião das crianças. Em virtude disso, a autora ressalta que as questões
éticas devem ser colocadas em pauta como discussão nas comunidades científicas, de
forma que os direitos sejam respeitados nas investigações realizadas com as crianças.
Sobre a estruturação do campo, de acordo com Bourdieu (2003), podemos
observar que as ações reguladoras das regras do jogo para a construção da sociologia da
infância são as pesquisas que têm considerado as crianças enquanto atores sociais e
agentes; os temas relacionados à participação infantil e a busca por abordagens
metodológicas específicas para realizar pesquisas com crianças.
Identifica-se, em âmbito mundial, o interesse dos pesquisadores em participar do
jogo posto pelo campo da sociologia da infância. Bourdieu (1997) afirma que as relações
estabelecidas com as pesquisas e as publicações do campo não surgem “do nada”, pois os
agentes acreditam que o jogo merece ser jogado. A essa crença no jogo o autor deu o
nome de illusio. Assim o campo se desenvolve e se estrutura por meio de ações dos
agentes pautadas no investimento, na concorrência, e nos interesses pela produção
científica. Cabe mencionar que essas ações ocorrem pelo compartilhamento e
consentimento, de maneira oculta, das regras do jogo, reafirmando o envolvimento com
53
o campo científico à medida que acreditam que “vale a pena lutar a respeito das coisas
que estão em jogo no campo” (BOURDIEU, 1997, p.141).
A leitura das obras forneceu, em sua totalidade, elementos que expressam o
desenvolvimento do campo da sociologia da infância em diversos países do mundo,
composto por movimentos de luta em prol das crianças e da infância. Desde os anos 1980,
presencia-se a motivação dos pesquisadores em realizar e aprofundar a investigação nos
estudos da infância a partir da abordagem sociológica, apontando as conquistas e as
dificuldades para a estruturação do campo ao longo dos anos.
É oportuno destacar a relação estabelecida pela sociologia da infância com as
outras ciências, principalmente a antropologia, a educação, a psicologia, a história e a
geografia, no intuito de se estabelecer um diálogo sobre o entendimento da infância.
Essas obras também demonstram os desafios assumidos pelo campo, as principais
temáticas de investigação, e dão margem a questionamentos sobre o desenvolvimento da
sociologia da infância nos países não contemplados nessas publicações. Ademais,
ilustram as histórias de investigações sobre a infância e apontam a ausência de
informações sobre como a América do Sul desenvolve pesquisas nesse campo, e como
este se configura nos aportes teóricos da sociologia da infância.
16
A Asociación GSIA (Grupo de Sociología de la Infancia y la Adolescencia) é formada por um grupo de
profissionais de sociologia, psicologia, direito, trabalho social, jornalismo e educação social, que
compartilham de conhecimentos e habilidades no intuito de promover os direitos das crianças por meio do
conhecimento sociológico. Para maiores informações, consultar: <http://grupodeinfancia.org/>.
54
entre os agentes dominantes torna-se visível para manutenção do poder, e no caso do
campo científico, para a manutenção da autoridade científica. Assim, será possível
visualizar os objetos de pesquisa, as opções metodológicas e os caminhos escolhidos
pelos principais agentes do campo da sociologia da infância, o qual Gaitán Muñoz
(2006b) caracteriza a partir dos enfoques. A pesquisadora ainda apresenta a organização
do campo a partir das seguintes abordagens: estrutural, construcionista e relacional,
classificação que, segundo ela, ajuda a compreender características específicas de
propostas teóricas e apresenta os principais conceitos dos enfoques investigativos do
campo.
O primeiro enfoque a ser apresentado é o estrutural que, como já refere o próprio
nome, trata a infância como uma parte permanente da estrutura social, assim como a fase
adulta e a velhice. Nesse aspecto, considera-se que as crianças participam das atividades
sociais e são afetadas pelos mesmos âmbitos políticos, econômicos e culturais que adultos
e idosos. Para este enfoque, destaque é dado para o sociólogo dinamarquês Jens Qvortrup,
cujas publicações contribuíram para a estruturação do campo.
Reconhece-se, a partir dos resultados do projeto, a necessidade de um trabalho
interdisciplinar para estudar a infância, bem como uma variedade de métodos para a
realização de pesquisa. Como marco também se assinala o termo no plural, crianças, para
se referir a um grupo de pessoas incumbidas pela categoria estrutural da infância. Os
principais termos e conceitos desta abordagem são: estrutura social, geração, grupo
minoritário, justiça distributiva, infância e ator social; e como temas de interesses, citam-
se: sociologia da infância, atividades das crianças, justiça distributiva, economia da
infância e status legal das crianças (GAITAN MUÑOZ, 2006 a; p. 18-19).
A metodologia utilizada por este enfoque, segundo Gaitán Muñoz (2006a, p.20),
é a abordagem quantitativa, pelo fato de investigar fontes secundárias para explorar dados
estatísticos com a finalidade de elaborar uma macroperspectiva da infância.
O segundo enfoque é o construcionista, que considera que as crianças habitam um
mundo de significados criados na interação delas mesmas e na sua interação com os
adultos. Dentre os autores, encontram-se as contribuições de Cris Jenks, Alan Prout e
Alisson James. Neste enfoque, acredita-se que exista uma pluralidade de infâncias que
devem ser averiguadas na forma em que são construídas, considerando as condições
temporais e sociais. Gaitán Muñoz (2006b, p.73) aponta que o primeiro ponto de partida
elucida a desconstrução da visão convencional de infância para elaborar uma visão a partir
da observação das próprias crianças, considerando os diversos contextos em que estão
55
inseridas. Ressalta que James e Prout (1990) enfatizam a necessidade de a sociologia da
infância debater com a ciência social, tendo em vista a elaboração de interesses comuns
e de temas e projetos de estudos sobre a infância, para que não fiquem isolados dos
grandes debates da sociologia contemporânea.
Como terminologias e conceitos principais deste enfoque, Gaitán Muñoz (2006a,
p.18-19) elenca a construção social, as relações sociais e cultura das crianças, visões e
representações das crianças e agência das crianças.
O enfoque relacional representa o terceiro e último item que vai focalizar a
socióloga britânica Berry Mayall e seu livro Towards a Sociology for Childhood, de 2002,
no qual há um reconhecimento do papel das crianças na relação com a sociedade,
definindo a existência da infância a partir da relação com a fase adulta. Os estudos
feministas representam aporte teórico para Mayall (2002) discutir a infância, ao trazer a
relação do papel da mulher na sociedade nas relações estabelecidas com as crianças, e por
entendê-las como grupos sociais minoritários. Assim, a discussão sobre gênero e geração
configura os estudos realizados pela autora: estudar as crianças a partir de suas próprias
perspectivas, porque são atores sociais competentes para falarem sobre suas próprias
vidas. Já os estudos de gênero contribuem, segundo Mayall, para visualizar as questões
políticas, econômicas, sociais e culturais que atravessam a vida das mulheres, indicando,
consequentemente, a posição ocupada pelas crianças na sociedade.
Gaitán Munõz (2006b, p.87) revela três itens que caracterizam o enfoque
relacional: (1) o “pensamento sociológico fundamentalmente relacional” para a
compreensão das relações entre adultos e crianças, desde uma perspectiva individual ou
de uma perspectiva grupal; (2) a forma como as “crianças experimentam e entendem suas
vidas e suas relações sociais” desde a perspectiva das próprias crianças; e (3) o
“conhecimento baseado nas experiências das crianças como um ingrediente fundamental”
para o reconhecimento dos direitos das crianças. A metodologia utilizada é a pesquisa
qualitativa, com a realização de entrevistas individuais ou em grupos com as crianças e
adultos próximos a elas.
A seguir, apresenta-se um quadro com a síntese dos três enfoques apresentados
por Gaitán Muñoz (2006) sobre a organização das teorias do campo da sociologia da
infância:
56
Quadro 1: Síntese dos enfoques do campo da sociologia da infância17.
1.São coconstrutores da 1.As relações sociais e a cultura 1.Deve-se ter em conta como as
infância e da sociedade. das crianças devem ser crianças experimentam suas
2. A dependência das crianças estudadas em suas próprias vidas e relações sociais.
CRIANÇAS
17
Fonte: GAITÁN MUÑOZ, L. La nueva sociología de la infancia. Aportaciones de una mirada distinta.
Política y Sociedad, v.43, jun.2006a, p.17.
57
1.2.5. TEMÁTICAS INVESTIGATIVAS NO CAMPO DA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA
18
Os elementos do novo paradigma da infância (JAMES; PROUT, 1991) serão apresentados na
metodologia deste trabalho.
58
pesquisa realizada na Europa poderão ser também identificados na América do Sul? Quais
as possibilidades de pesquisa da sociologia da infância? Quais as temáticas de pesquisa e
as abordagens para se discutir a infância? Como as pesquisas com crianças podem ser
realizadas? Quais as questões e tensões presentes para a produção desses estudos?
Demandas como essas orientam as discussões que se pretendem realizar com os temas a
serem encontrados nas produções da sociologia da infância nos países de língua espanhola
da América do Sul e que se tornam pertinentes para compreender como o campo tem se
ocupado e se apropriado das temáticas relacionadas com as crianças e com a infância.
59
b) Adultocentrismo e modelo de competência
c) O fator idade
60
presentes, posto que a visão social sobre elas considera a infância associada à preparação
para a vida adulta, desconsiderando o que são no presente.
Qvortrup (2015) pontua que a confiança nas crianças oportuniza experiências,
explorações das cidades e dos diversos espaços, a partir do momento em que os adultos
permitem às crianças, independentemente da idade, desfrutar da liberdade para enfrentar
as situações com as quais venham a se deparar. As circunstâncias e a situação social são
outros pontos ressaltados pelo autor sobre a permissão concedida a elas para estarem
“desprotegidas” e participarem da vida social.
A dialética entre a proteção e a participação é discutida pelo autor, o qual pontua
que os espaços de ação das crianças estão cada vez mais limitados pela justificativa de
proteção, retirando-as dos espaços públicos e as confinando em espaços protegidos,
“separados dos lugares de ação de outras faixas etárias” (QVORTRUP, 2015, p.19).
d) Institucionalização da infância
61
encontrada pelos adultos para confiná-las em ambientes seguros e marginalizá-las dos
ambientes sociais adultos.
62
sociais a partir de outras perspectivas, interesses, pontos de vista, problematizando
questões advindas de outros grupos sociais que devem ser consideradas e desenvolvidas
teoricamente nas pesquisas.
f) O processo de familiarização
Outro tema estudado no campo se refere à representação das crianças nas famílias.
Oldman (1994) critica o processo de familiarização por se referir a uma instituição que
impede a visibilidade social das crianças, levando para uma ‘fusão’ da infância com a
família, destacando a necessidade de libertá-las desta extensão.
O autor aponta que as famílias historicamente foram tidas como a maneira de
representar as crianças nas estatísticas sociais e econômicas, dificultando que elas fossem
estudadas por si próprias como categorias de análises. Perante essa questão, Oldman
(1994) destaca a emergência de se caracterizar a infância como componente da
estratificação social e as implicações surgidas na compreensão da vida dos pequenos.
As crianças enquanto objeto de trabalho dos adultos; a visibilidade das que estão
fora das famílias; os problemas sociais relacionados à sua proteção; a vulnerabilidade; as
atividades que realizam como (re)produtoras da sociedade; e a exploração são alguns
argumentos utilizados pelo autor para demonstrar as relações entre crianças e adultos na
sociedade.
63
A redução do número de nascimentos relaciona-se com o consumo de tempo, os
gastos trazidos para as famílias, a inserção da mulher no mercado de trabalho, a demanda
por maior participação masculina nas tarefas domésticas, além da barreira que os filhos
representam para a satisfação profissional na carreira de seus pais.
Entretanto a autora aponta que o interesse maior pelas crianças advém das
mulheres e, geralmente, em casos de divórcios, os filhos ficam com as mães. Além disso,
os nascidos fora do casamento geralmente são registrados pelas mães, pois era o
casamento que “garantia a paternidade crianças” (JENSEN, 1994, p.68).
i) Espaço e tempo
Abordagens sobre o espaço e o tempo das crianças nas pesquisas são realizadas a
partir de diálogos entre a psicologia e a sociologia. Tempo e espaço estão interconectados
64
e influenciam na estrutura da ação e dos movimentos humanos (KOVARÍK, 1994),
estabelecendo relações importantes para pensar as crianças e a infância. Considerando a
família, a escola e os pares como as três áreas sociais que resumem os modos estruturais
do tempo e do espaço, Kovarík (1994) ressalta que as mudanças ocorridas nessas áreas
afetam as experiências e instauram limites e possibilidades de participação infantil.
Esses temas abrem margem para a realização de diversos estudos no campo que
partam dos pressupostos da organização da vida das crianças pelos adultos; dos
relacionamentos estabelecidos a partir do atendimento dos interesses e necessidades que
eles estabelecem para os pequenos; e do confinamento ou da oportunidade de vivências
para as crianças. No entanto, a elaboração de políticas públicas que considerem a
participação das crianças e a disponibilização de ambientes públicos a elas destinados
representam possibilidades de novas maneiras para o convívio social.
A vida pública não é permitida para as crianças, e o campo tem apresentado
investigações que se preocupam com a construção da infância moderna fora da sociedade
(ALANEN, 1994; ENNEW, 1994; OLDMAN 1994). Outro aspecto apresentado
relaciona-se ao tempo livre das crianças e à preocupação em demandar tarefas/atividades
para ocupar a ociosidade da infância. Questões como o tempo biológico e o tempo social
trazem implicações para a estruturação de suas vidas, demonstrando como a
disciplinarização do tempo tem se tornado o princípio regente da organização das
atividades por elas realizadas. Para Ennew (1994), o lazer das crianças está relacionado
às atividades extraescolares que visam à aquisição e ao ganho de maior capital cultural
(BOURDIEU, 1998), pois a visita a museus, aulas de danças, atividades relacionadas a
artes e música oferecem a apropriação da cultura adulta.
Bourdieu (1997) apresenta a relação do tempo com a aquisição de capital cultural,
destacando que o acontecimento do processo de interiorização demanda investimento de
tempo, sendo que a acumulação desde
Além dos ganhos previstos com o investimento do tempo para as crianças, não se
pode esquecer que este está relacionado ao poder exercido pelos adultos na vida delas,
65
marginalizando-as da vida social, desvalorizando os seus interesses e reforçando a ideia
da “energia humana enquanto unidade de tempo laboral” (ENNEW, 1994, p.143).
j) Dimensões da infância
O termo dimensões da infância foi utilizado em 1994 por Frønes, para apresentar
a existência de diversas perspectivas de análises dentro do campo da sociologia da
infância, destacando que cada aspecto pode levar a diferentes interpretações e conclusões
sobre o mesmo tópico.
Para o autor, o campo está divido em quatro abordagens temáticas as quais ele
agrupa pela perspectiva das relações entre as gerações; pelos estudos das relações entre
crianças e os pares; pelas pesquisas que investigam os arranjos institucionais da infância;
e, por fim, a infância associada ao grupo de idade.
A interpretação dos estudos da infância sobre múltiplas perspectivas, além de
apresentar divergências nas abordagens das dimensões dos estudos da infância, faz com
que o campo científico se desenvolva, apontando novas possibilidades de pesquisas.
66
aspecto, apontando a etnografia como uma possibilidade metodológica para estudar as
crianças.
Saporiti (1994) apresenta alguns indicadores sociais para desenvolver pesquisas
que considerem as crianças, levando em consideração os fatores sociais, econômicos e as
variáveis culturais. Primeiramente o autor apresenta variantes demográficas para observar
as crianças nas estatísticas entre a população de crianças, adultos e idosos; segue
abordando as estatísticas das distribuições familiares e a relação com o número de
crianças; também discute a relação estatística de pessoas pobres, famílias pobres e
crianças pobres e o que provém dessa discussão, como estrutura familiar, bem-estar das
crianças, políticas sociais; e aborda, ainda, a questão da infância e da fertilidade como
componente para discussão social demográfica da infância.
Esses pontos representam algumas possiblidades de demonstrar as crianças
compondo a estrutura social. Assim, torna-se possível relatar suas condições de vida,
apontar o quadro social das problemáticas nas quais estão envolvidas, problematizando
teoricamente com as contribuições da sociologia da infância, além de ressaltar a
emergência de pesquisas que possam contribuir para estas discussões.
67
adultos); entre as famílias com e sem crianças; e entre a população de crianças (garotos e
garotas, crianças mais velhas e mais novas etc.).
Wintersberger (1994) sugere que a infância deveria ser estudada tomando-se por
base as perspectivas históricas, dialogando sobre o lugar das crianças na sociedade e nos
modelos econômicos. O autor destaca a necessidade de se fazer considerar a dimensão
geracional e a localização geográfica em que as crianças estão inseridas, além de pontuar
os conflitos entre famílias e sociedade.
m) Pertencimento da infância
68
permitida a participação nos diversos âmbitos sociais e possuir o domínio de suas próprias
vidas. Ações que justificam o discurso da proteção legitimam o controle exercido pelos
adultos e reforçam a dependência das crianças.
69
necessidades, assim como pontuam sua exclusão das diversas esferas sociais. Engelbert
(1994, p.288) questiona a posição das crianças nos sistemas sociais, problematizando que
elas, gradualmente, adquirem competências; entretanto, enquanto não são
‘completamente’ socializadas sob o enfoque dos adultos, elas não são integradas na
sociedade. Espaços, tempo e aberturas não são fornecidos para a atuação social das
crianças, as quais são postas em lugares seguros, distanciados do mundo adulto.
As políticas sociais, segundo Engelbert (1994), direcionam-se para aumentar as
possibilidades de atuar na sociedade, o que, consequentemente, deveria ser válido para as
crianças, a fim de amplificar suas chances de participação social. Entretanto as políticas
sociais da infância edificam-se sobre os fenômenos de proteção, exclusão e dependência.
As políticas da infância, de acordo com o autor, preocupam-se com tarefas de:
formulação de problemas (relacionando as condições de vida e as necessidades básicas
das crianças); tarefas transversais (considerando o seu bem-estar nas diversas áreas
sociais); tarefas de correção (integrando os mundos da infância); tarefas de fornecimento
(de espaços seguros para as crianças); e tarefas de compensação (sobre a distribuição
desigual de recursos) (ENGELBERG, 1994, p.295). O objetivo dessas políticas deveria
considerar, além das necessidades das crianças, seus interesses, no intuito de confrontar
o problema de exclusão.
70
q) Panorama conceitual da infância
71
Bardy (1994, p.299) elucida que a infância tanto é construída pela sociedade,
quanto constrói a própria sociedade. Entretanto a autora afirma que a organização da
infância se divide entre paternalidade e participação das crianças. A primeira se refere ao
cuidado e à educação dos adultos com as crianças; e a segunda altera-se de acordo com o
tempo e o espaço e com a autonomia dada pelos adultos; geralmente está relacionada à
paternalidade. Esses aspectos são elencados para demonstrar a construção social da
infância, e como as relações interferem na elaboração de políticas públicas, bem como na
problematização da posição social das crianças.
A construção do objeto exige uma objetivação dos instrumentos de pesquisa, ou
seja, é necessário pensar os processos pelos quais será produzido o conhecimento, sob o
eventual controle que se pensa possuir sobre os pressupostos, conforme aponta Bourdieu
neste excerto: “e não estou longe de pensar que a virtude principal do trabalho científico
de objetivação consiste naquilo que ele permite, sob a condição, certamente, de que se
saiba analisar o produto” (BOURDIEU, 2013, p. 28).
As condições de realização de pesquisas e as escolhas por opções metodológicas
relacionam-se com os posicionamentos dos agentes no campo e com a configuração da
produção do conhecimento advinda do ambiente científico no qual os agentes se inserem.
As temáticas que envolvem as pesquisas têm apresentado a questão das crianças
em relação à dependência dos adultos, marginalizadas socialmente, e caracterizadas pela
proteção e pela exclusão. Conforme os diversos autores apontaram em suas pesquisas
sobre diferentes temas, esses aspectos perpassaram as discussões e colocaram as crianças
em um status minoritário.
A ideia predominante de que elas são imaturas, frágeis, vulneráveis e em processo
de preparação para a vida adulta resulta em aspectos da marginalização social no âmbito
socioeconômico, pois são dependentes das famílias e do Estado para que seu bem-estar
seja garantido; são marginalizadas do setor público, por ser considerado perigoso para as
crianças, prejudicando sua participação; e excluídas da esfera política, pois ainda não são
responsáveis para assumir suas escolhas e não podem exercer os direitos de cidadania até
alcançarem a idade permitida, além de serem abordadas pelas políticas sob o aspecto da
proteção.
Assim, a posição social das crianças está relacionada ao status de menor, estando
situadas nas famílias, escola e creches. Essas instituições são reconhecidas como espaços
sociais responsáveis pelas crianças, preservando-as do convívio público, promovendo o
72
atendimento de suas necessidades básicas, e controlando e curricularizando o tempo das
crianças.
Em relação às políticas para a infância, Bardy (1994) afirma que as discussões se
concentram em estabelecer os espaços adequados e os cuidados necessários para seu bem-
estar, ou seja, “das ruas e do trabalho para escolas e ambiente familiar” (p.304). Esses
debates, segundo a autora, implicam em definir “o que é melhor para a criança”,
abordando desde políticas da família até aspectos que deem suporte para a vida das
crianças. Ao lado dessas resoluções estão as políticas educacionais voltadas para seu
cuidado e educação.
Sobre os direitos fundamentais, a partir da CDC, de 1989, estabeleceram-se os
direitos de proteção, provisão e participação das crianças em praticamente todos os
membros das Nações Unidas, exceto na Somália e nos Estados Unidos da América. No
Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA foi instituído em 1990, garantindo
a proteção dos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes e regulamentando
as instituições e demais itens relacionados à proteção e a medidas socioeducativas.
As crianças são afetadas pelas práticas das instituições sociais, as quais são
submetidas às orientações adultas, tendo suas práticas institucionalizas (BARDY, 1994;
FRØNES,1994). As experiências institucionais não induzem a participação das crianças,
entretanto elas têm demonstrado ser competentes em suas participações sociais e
promovem transformações no meio familiar e nas demais instituições em que estão
inseridas. Todavia, conforme aponta Bardy (1994), os adultos tendem a não reconhecer
sua participação, estabelecendo relações de poder, detendo o domínio da decisão sobre
suas vidas, uma vez que não é permitido a elas viver sem a orientação adulta.
Frønes (1997) pontua que as relações estabelecidas entre as crianças são variadas
e complexas se comparadas àquelas estabelecidas com os adultos, as quais, geralmente,
são mais rígidas e lineares. O autor pontua que as relações entre os pares contribuem para
o processo de socialização, além disso, essas interações revelam como as crianças
constroem significados para suas vidas e focalizam como elas arquitetam a realidade
social (FRØNES, 1994, p. 159).
As pesquisas com crianças apresentam-se por diferentes frentes, envolvendo
aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos, abordando temas que envolvem as
preocupações centrais da sociedade com elas e como se localizam nestes diversos
âmbitos. A marginalização das crianças perpassou as discussões, bem como as questões
de dependência e proteção. Percebe-se que as pesquisas buscam avançar nesses aspectos
73
para promover pontos de discussão nas comparações já postas entre adultos e crianças
(autonomia, responsabilidades, participação), no intuito de promover um olhar o qual
possibilite às crianças serem consultadas sobre as questões que afetam suas vidas e que
dê a elas possibilidades de escolhas.
No Brasil, Castro e Kosminsky (2010) examinaram como se constroem as
questões sobre as crianças nas pesquisas científicas e pontuam que os estudos sobre a
socialização foram os primeiros a destacá-las. As autoras afirmam que as crianças e a
infância estiveram subordinadas aos tópicos de formação de classes sociais, migração e
urbanização e também foram abordadas por fatores de pobreza, abandono, negligência e
delinquência.
Posteriormente, estudos trataram da institucionalização da criança desviante,
problematizaram o trabalho infantil, as questões relacionadas à pobreza e à criminalidade,
como também se ocuparam dos contextos educacionais e das crianças enquanto objeto de
proteção, cuidado e controle (CASTRO; KOSMINSKY, 2010, p.212-213). Com os
estudos feministas, a marginalização das crianças enquanto objeto de pesquisa na
sociologia foi evidenciada e somente após a instituição do ECA, as investigações sobre
elas começaram a ter outro destaque.
Tópicos de pesquisas como crianças enquanto cidadãs, instituições alternativas
para o cuidado das crianças, reponsabilidade criminal, violência contra a criança, adoção,
participação social, bem-estar das crianças surgem e ampliam a discussão sobre a infância
no país. De acordo com as autoras, os estudos antropológicos sobre a infância instauram
questões da criança enquanto ator social e contribuinte para o mundo cultural,
inaugurando temas de pesquisa relacionados às questões raciais e à história da infância.
Identifica-se o debate sobre as pesquisas pautadas na sociologia da infância, o que
enfatiza o aumento do interesse pelo tema nas publicações científicas.
A relevância dada a determinados problemas investigativos e as disposições que
configuram a escolha dos objetos de pesquisa relacionam-se à posição dos agentes no
campo, nos diferentes territórios e nos diversos espaços. Essa escolha pelo objeto exige
que, além da objetivação de si (BOURDIEU, 2013), realize-se a objetivação dos
instrumentos de pesquisa, para compreender as escolhas que serão/são feitas para realizar
o trabalho.
O pesquisador, estando imerso no espaço acadêmico, tem uma visão baseada em
sua percepção da vivência nesse meio, o que precisa também ser colocado em
questionamento. Essas questões permeiam a discussão da produção do conhecimento no
74
campo científico, abordando fatores que visam à objetivação, na tentativa de refletir sobre
os processos de produção do conhecimento e também sobre as perspectivas obtidas a
partir da posição ocupada dentro do campo. Em consequência desses fatores, o
pesquisador será levado a adquirir uma determinada postura diante da pesquisa e a
assumir uma dada conduta no interior do campo.
Este capítulo teve a intenção de apresentar a construção do campo da sociologia
da infância, sem esgotar cada um desses elementos, tendo em vista que a construção de
um campo científico é complexa e envolve diversos fatores políticos, econômicos e
epistemológicos (BOURDIEU, 2000, 2004c). O capítulo buscou demonstrar que a
infância não é um conceito universal, sendo diferentemente construída nos diversos
contextos e considerada enquanto categoria social, permanente na estrutura social. Do
mesmo modo, buscou romper com a visão normativa de uma criança universal, de forma
a retirá-la da condição de objeto de pesquisa, visando pensar na criança enquanto agente
ativo na sociedade, produtora de cultura e sujeito de direitos.
No que se refere ao campo da sociologia da infância, destacou-se a existência de
diversas linhas teóricas que têm elaborado suas compreensões sobre crianças e infância
de diferentes maneiras, o que resulta em uma divisão conceitual no campo, em disputas e
lutas para o monopólio de autoridade científica na produção dos estudos sociais da
infância.
75
CAPÍTULO 2 - PERCURSO METODOLÓGICO
19
Cadernos de Pesquisa, n.112, março de 2011.
20
Revista Brasileira de Educação, vol. 15, núm. 43, jan.- abril, 2010, pp. 84-97.
76
Também em 2010, Lucia Rabello Castro e Ethel Kosminsky publicam um artigo
no periódico Current Sociology21 intitulado Childhood and its Regimes os Visibility in
Brazil: an Analysis of the Contribution of the Social Sciences, no qual analisam a
contribuição das ciências sociais para a visibilidade das questões das crianças na
sociedade brasileira.
Outra investigação realizada no Brasil, publicada em 2013, pelo GEPSI, grupo
coordenado pela Profa. Dra. Maria Letícia Barros Pedroso Nascimento, relata o
levantamento sobre os grupos de pesquisa que utilizam a Sociologia da Infância no país,
a fim de verificar quais abordagens/conceitos desse campo fazem parte dos grupos de
pesquisa, de forma a conhecer a produção sobre a infância aqui realizada.
Sobre investigações que levam em consideração a América do Sul, em 2008,
encontra-se a tese de Rosânia Campos, sob a orientação da Profa. Dra. Eloisa Acires
Candal Rocha, na Universidade Federal de Santa Catarina, intitulada “Educação Infantil
e Organismos Internacionais: uma análise dos projetos em curso na América Latina e suas
repercussões no contexto nacional”. Esta retrata as relações entre a política nacional de
educação infantil e as indicações produzidas por organismos internacionais atuantes na
América Latina, analisando três grandes projetos: a Agenda Iberoamericana para a
Infância e a Adolescência (AIIA), coordenada pela Organização dos Estados Ibero-
Americanos (OEI), o Programa Iberoamericano de Educação (PIE) e o Projeto Regional
de Educação para América Latina e Caribe (PRELAC), este último coordenado pela
Unesco.
Em 2012, a pesquisadora francesa Régine Sirota publica L’enfance au regard des
Sciences Sociales, no periódico AnthropoChildren22, no qual relata a sociologia da
infância como uma disciplina dos Estudos da Infância, e apresenta a estruturação do
campo de pesquisa no espaço anglófono, francófono e lusófono. Neste mesmo periódico,
e neste mesmo volume, as pesquisadoras Andrea Szulc e Clarice Cohn publicam artigo
sobre a antropologia e a infância na América do Sul23, apontando as perspectivas para o
Brasil e a Argentina, de forma a considerar a diversidade e a desigualdade desses países,
21
Current Sociology, v. 58, n. 2, p. 206-231, mar. 2010.
22
AnthropoChildren ,n.1, janeiro 2012, p 1-20.
23
Anthropology and Childhood in South America: Perspectives from Brazil and Argentina.
77
e pensar sobre o desenvolvimento das pesquisas no campo da antropologia infantil na
América do Sul.
Tendo em vista esses levantamentos, destacou-se a necessidade de realizar uma
investigação nos países da América do Sul de língua espanhola, considerando que a maior
parte dos países que compõem esse continente possui como língua oficial o espanhol.
Nesta pesquisa, pretende-se investigar se há a presença do campo da SI nestes
países e, se existir, buscar-se-á investigar como está a construção do campo e quais são
esses estudos e produções sobre a infância.
Para tal levantamento, consideraram-se como critério os estudos e as produções
da infância pautadas pelo paradigma da infância (JAMES; PROUT, 1990) apresentado a
seguir:
1. A infância é uma construção social.
2. A infância é variável e não pode ser inteiramente separada de outras variáveis
como a classe social, o sexo ou o pertencimento étnico.
3. As relações sociais das crianças e suas culturas devem ser estudadas em si.
4. As crianças são e devem ser estudadas como atores na construção de sua vida
social e da vida daqueles que as rodeiam.
5. Os métodos etnográficos são particularmente úteis para o estudo da infância.
6. A infância é um fenômeno no qual se encontra a dupla hermenêutica das
ciências sociais evidenciada por Giddens, ou seja, proclamar um novo paradigma no
estudo sociológico da infância é se engajar num processo de reconstrução da criança e da
sociedade (JAMES; PROUT, 1990, p.8-9).
A pesquisa foi realizada em cinco fases, a saber: (1) levantamento geral da
produção dos estudos da infância nos países de língua espanhola da América do Sul; (2)
levantamento bibliográfico das referências utilizadas nos trabalhos; (3) identificação de
pesquisadores; (4) localização e estabelecimento de contato com os pesquisadores por
meio de correio eletrônico; (5) definição de dois países que tenham produção de pesquisa
regular e posterior agendamento de visita a cada um desses países, visando identificar
como o campo tem sido construído, para, então, (a) realizar entrevistas; (b) conhecer as
pesquisas; (c) buscar os aportes teóricos; (d) compreender o lugar da infância dentro da
produção do pesquisador; e (e) realizar levantamento de produção nas suas universidades
e bibliotecas.
Importante lembrar que a presente pesquisa não tem como objetivo realizar um
estado da arte dos estudos da infância na América do Sul, uma vez que a preocupação
78
maior é olhar para esses estudos na perspectiva da SI, e, além disso, vale destacar que as
fontes consultadas não esgotam a complexidade e a variedade dos estudos existentes na
área.
Para localizar as produções dos estudos da infância nos países de língua espanhola
da América do Sul24, foi realizado um levantamento de dados de cada país, levando em
consideração as universidades - departamentos, docentes, investigações científicas,
publicações; os principais periódicos; a busca pelas produções no Scientific Electronic
Library Online (SciELO) de cada país; além de buscas por diretórios de pesquisa; buscas
na base de dados Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades (CLASE);
pesquisa na bibliografia latino-americana em revistas de investigação científica e social;
busca de centros e institutos de investigação por meio do portal de sociologia latino-
americana; pesquisa por eventos científicos e buscas sistemáticas, usando alguns
descritores preestabelecidos no Google25.
À medida que a pesquisa avançava, entretanto, novas páginas online surgiam
como possibilidades de investigação, devido à abrangência dos aspectos envolvidos na
temática dos estudos da infância e da variedade de possibilidades de encontrar os
pesquisadores pela Internet. Assim foi definido um recorte temporal, até 2013, para
buscar pelas produções, publicações e pesquisadores da infância nos países sul-
americanos, e conforme as buscas foram realizadas e as páginas online consultadas,
reconhecidas como adequadas aos interesses desta pesquisa, também foram considerados,
conforme descrito a seguir:
a) Pesquisadores que compõem o corpo docente da educação e das ciências sociais das
principais universidades da América do Sul.
24
Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela.
25
Descritores: estudios de la infancia; sociología de la infancia; infancia; niñez; participación infantil;
cultura infantil; derecho de los niños; ciudadania de los niños.
79
Nesta etapa, primeiramente foram realizadas buscas pelas universidades públicas
e privadas26 de cada país por meio da localização dos docentes dos departamentos de
educação e ciências sociais, de forma a consultar seu currículo (quando disponível na
página27) e as publicações, a fim de encontrar algum item relacionado aos estudos da
infância. Quando o currículo dos docentes não estava disponível nas páginas das
universidades, era realizada uma busca por meio do Google, colocando-se o nome do
docente como descritor, com a finalidade de encontrar suas produções.
Posteriormente foi consultado, nas páginas das universidades, o link sobre as
investigações realizadas pelos departamentos, para procurar grupos de pesquisa em
ciências humanas que pudessem estar trabalhando com esta temática. Foram selecionados
publicações e docentes que estavam realizando ou já haviam realizado estudos pautados
pelo novo paradigma da infância (JAMES; PROUT, 1990).
Ao consultar as páginas das universidades também foi possível procurar pelas
produções da infância por meio das revistas científicas dos departamentos. As consultas
eram realizadas pela opção “busca” das páginas, colocando-se os seguintes descritores
para localização dos textos: sociologia de la infancia; infancia; e niñez.
26
As universidades consultadas por país da América do Sul estão listadas no Apêndice C.
27
Páginas se referem aos sítios da internet consultados durante as buscas virtuais.
28
www.oei.es/index.php
80
No terceiro momento desta primeira etapa da pesquisa, foram investigadas as
páginas de eventos científicos realizados pelas universidades consultadas, documentos
em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO); Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); e documentos
governamentais que permitiram o acesso aos organizadores dos textos e a busca de
vínculos com as universidades de alguns dos países da América do Sul.
Também foram consultadas as páginas do Conselho Latino-americano de Ciências
Sociais (CLACSO)29 e da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação
(CLADE)30, nas quais se pode ter acesso às publicações sobre a infância e consultar os
autores utilizados nas suas próprias referências bibliográficas, os quais serviram para
nortear as buscas pelos investigadores sul-americanos. Este foi o quarto momento da
primeira parte da pesquisa.
29
www.campanaderechoeducacion.org
30
www.clacso.org.ar
31
www.altillo.com
32
www.sociologialatinoamericana.ucr.ac.cr
81
33
Foram realizadas investigações na base de dados CLASE , sendo esta a sexta
parte da primeira etapa da pesquisa, e as consultas na página foram feitas a partir dos
descritores já apontados anteriormente. Utilizado o descritor sociologia de la infancia,
por meio da opção “busca básica”, foram listados 253 resultados, sendo a maior parte das
publicações referentes aos seguintes países: Brasil, México, Espanha e Costa Rica. Seis
artigos foram incluídos no corpus do trabalho, dentre os quais três publicações da
Argentina, uma da Colômbia, duas do Peru e uma da Venezuela.
Utilizando o descritor infancia, foram encontrados 745 resultados, sendo incluídos
no corpus da pesquisa apenas 15 artigos, dos quais oito pertenciam aos pesquisadores da
Argentina, dois relacionados ao Chile e os outros cinco de investigadores da Colômbia.
Por meio do descritor niñez, foram encontrados 457 resultados, porém apenas 19 foram
incluídos, sendo oito de investigadores colombianos, seis artigos argentinos, um
venezuelano e quatro chilenos.
33
CLASE foi criada em 1975, pela Universidade Nacional Autonoma de México (UNAM), e oferece cerca
de 350 mil acervos digitais entre artigos, ensaios, resenhas de livros, e demais documentos publicados, e
em torno de 1500 revistas da América Latina e do Caribe, tendo como foco as publicações em ciências
sociais e humanidades.
www.clase.unam.mx
34
www.biblat.unam.mx
82
f) Consulta ao acervo da Scientific Electronic Library Online (SciELO).
35
A SciELO é o resultado de um projeto de pesquisa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa de São
Paulo), em parceria com a Bireme (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da
Saúde), que, desde 2002, possui o apoio do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (www.scielo.br).
83
niñez foram encontrados 53 artigos, mas apenas dois foram incluídos no corpus da
pesquisa, porque os demais se referiam à área da saúde ou da psicologia escolar, o que
totaliza 363 artigos encontrados e apenas cinco incluídos na pesquisa.
Na SciELO Colômbia, a partir do descritor sociologia de la infancia, foi
encontrado um artigo; com o descritor infância foram encontrados 292 artigos, sendo que
27 se referiam aos estudos da infância e os demais estavam relacionados à área da saúde,
e com o buscador niñez, não foi encontrado nenhum item, o que totaliza 293 artigos, e 28
incluídos no corpus da pesquisa.
Em relação ao Equador, não foi possível realizar a busca, uma vez que não existe
ainda uma base de dados como a SciELO naquele país.
Sobre o Paraguai, foram encontrados 24 artigos quando usado o descritor infancia,
porém todos relacionados à saúde; colocando-se o descritor niñez, foram encontrados seis
artigos também relacionados à saúde, e com o buscador sociologia de la infancia, não se
encontrou nenhum artigo, o que, no final, totalizou 30 artigos, mas sem nenhuma inclusão
na pesquisa.
Na busca realizada na SciELO Peru, foram encontrados 15 artigos, sendo que 14
deles foram localizados utilizando-se o buscador infancia, mas apenas um se referindo
aos estudos da infância; os demais estavam relacionados às áreas da saúde e da psicologia
escolar. Com o buscador sociologia de la infancia, não foi encontrado nenhum resultado
e usando-se o descritor niñez, encontrou-se o mesmo artigo considerado com o buscador
infancia, portanto apenas um artigo foi incluído na pesquisa.
Em relação à SciELO Uruguai, foram encontrados 42 artigos usando-se o descritor
infancia, mas todos relacionados à área da saúde; nenhum artigo foi encontrado a partir
do buscador sociologia de la infancia, e 12 artigos foram encontrados com o buscador
niñez, mas nenhum deles se referia aos estudos da infância, portanto nenhum artigo foi
incluído na pesquisa.
Finalmente, na SieLO Venezuela, foram encontrados 70 artigos com o descritor
infancia, porém todos relacionados às publicações da saúde. Com o descritor sociologia
de la infancia, não se encontrou nenhum artigo; com o descritor niñez, encontraram-se 17
artigos, mas somente três estavam relacionados ao tema, o que totaliza 87 artigos
encontrados e somente três incluídos na pesquisa.
84
g) Investigação em sítio de busca da internet – Google
36
Essas informações serão apresentadas em forma de tabela na sequência deste texto, separadas por país
para facilitar a compreensão dos resultados encontrados.
37
Esses quadros foram sintetizados e serão apresentados por países na sequência do texto.
85
os resumos e as referências bibliográficas, a fim de selecionar os artigos que seriam
incluídos ou não no corpus da pesquisa. Em seguida, foram verificados os currículos dos
pesquisadores.
A maior parte das publicações foi localizada na íntegra pela própria busca na
internet e/ou por meio de solicitação, via correio eletrônico, aos pesquisadores que, em
grande parte, retornaram o contato e enviaram o texto digitalizado. Os que não foram
encontrados, não foram incluídos no corpus da pesquisa, uma vez que a consulta não pode
ser realizada, e, portanto, a verificação da relação com a pesquisa também não pode ser
confirmada.
Esse procedimento permitiu: (1) realizar um levantamento de pesquisas que
utilizam a sociologia da infância na América do Sul nos países de língua espanhola; (2)
verificar quais abordagens e conceitos sobre sociologia da infância vêm sendo utilizados
nos países sul-americanos; (3) conhecer a produção sobre a infância nesses países e
estabelecer um panorama sobre o que está sendo estudado; (4) conhecer quais áreas têm
se ocupado com os estudos da infância e quais delas têm dialogado com a sociologia da
infância, tendo em vista que os estudos da infância são multidisciplinares e permitem
diálogos entre diversas áreas do conhecimento; e (5) examinar como tem sido construído
e legitimado o campo da sociologia da infância na América do Sul.
Cabe apontar que os resultados obtidos neste levantamento estiveram sujeitos às
condições da oferta de informação das páginas das universidades, destacando-se que
algumas não puderam ser consultadas, pois não havia página virtual, esta encontrava-se
em construção, ou ainda que, muitas vezes, essas páginas não oferecem informações sobre
o corpo docente. Além disso, a pesquisa realizada nem sempre faz parte do menu de
informações oferecido e as informações podem não estar atualizadas. Dessa forma, foi
enviada mensagem por correio eletrônico para todos os professores que tiveram seus
trabalhos incluídos no corpus da pesquisa, a fim de verificar a atualidade das informações
coletadas por meio virtual e consultar sobre o trabalho com os estudos da infância.
A seguir, um quadro-síntese das informações obtidas.
86
Quadro 2 - Fontes de pesquisa para encontrar os investigadores da infância nos países de
língua espanhola da América do Sul.
Argentina 88 33 20 116 19
Bolívia 12 56 4 26 11
Chile 21 54 20 363 14
Colômbia 39 78 63 293 10
Equador 30 48 9 0 4
Paraguai 6 54 5 30 6
Peru 28 54 22 15 10
Uruguai 11 25 7 54 6
Venezuela 63 41 31 87 6
Total 298 443 181 984 86
38
www.linkedin.com/
39
www.academia.edu/
40
www.scienti1.colciencias.gov.co:8081/cvlac/
41
Os demais quadros serviram para uso pessoal, para melhor entendimento do campo e organização dos
dados desta pesquisa.
88
ARGENTINA
Antropologia 59
Ciências políticas 5
Comunicação social 3
Direito 8
Economia 4
Educação 20
História 11
Letras 2
Psicologia 23
Sociologia 44
Total 179
42
A mesma lógica segue para os demais países.
89
Quadro 4 - Temas abordados e a frequência com que apareceram nas publicações na
Argentina.
90
BOLÍVIA
Antropologia 1
Educação 1
Sociologia 19
Total 21
No que se refere aos temas abordados nas publicações, foram encontrados quatro
diferentes temas dentro das oito publicações, que abordam questões como: trabalho
infantil, políticas públicas para a infância, crianças em situação de rua e infância e
experiências.
91
trabalho infantil, violência contra as crianças, crianças em situação de rua e com o olhar
das políticas públicas para a infância na Bolívia.
Todas as publicações se embasam no referencial teórico de Bourdieu, mas
nenhuma apresentou um referencial específico do campo da sociologia da infância, apesar
de expressarem questões que fazem parte das preocupações ligadas a esses estudos.
CHILE
Antropologia 2
Biologia 1
Ciências da comunicação 1
Ciências políticas 1
Direito 11
Educação 11
História 11
Psicologia 14
Sociologia 13
Trabalho Social 17
Total 82
92
publicações sobre a infância, não usam o aporte teórico da sociologia da infância, além
de não possuírem mais de uma publicação sobre o tema.
Observa-se, assim, o predomínio da psicologia e da sociologia, seguidas da
história e da pedagogia. No que se refere às temáticas abordadas nas publicações, foram
encontrados 15 diferentes aspectos, como se vê no quadro seguinte.
Quadro 8- Temas abordados e a frequência com que apareceram nas publicações no Chile.
93
COLÔMBIA
Administração 1
Antropologia 4
Ciências religiosas 1
Comunicação social 2
Direito 9
Economia 13
Educação 19
Educação especial 2
Enfermagem 1
Filosofia 4
História 4
Medicina 3
Nutrição 2
Odontologia 2
Psicologia 32
Sociologia 11
Trabalho social 9
Total 119
94
diversidade de profissionais demonstra a multidisciplinaridade dos estudos da infância e
a preocupação das áreas em dialogar com a sociologia para pensar a infância nas
investigações, uma vez que essas produções avançam na compreensão e na estruturação
dos estudos da infância, principalmente por ter como preocupação central a temática da
infância para desenvolver as pesquisas.
Sobre a diversidade das temáticas pesquisadas e sua frequência nas publicações,
encontraram-se 17 temas, mas apenas 14 foram selecionados, tendo em vista os que
possuem referencial teórico relacionado ao campo da sociologia da infância, conforme
visualizado no quadro a seguir.
Antropologia da infância 5
Cidadania infantil 10
Conceitualização da infância 8
Construção social da infância 5
Criança como objeto de estudo 4
Crianças e conflito armado 7
Crianças em situação de rua 4
Desaparecimento da infância 4
Direito das crianças 7
Estudos da infância 11
Participação infantil 11
Percepção das crianças 8
Política para infância 11
Situação da infância na Colômbia 7
Socialização da infância 1
Trabalho infantil 3
Vitimização da infância, vulnerabilidade, 2
violência contra a criança
95
Dentre os 56 pesquisadores selecionados, 13 usam a sociologia da infância como
principal suporte teórico, sendo três autores da psicologia, um da filosofia, um da história,
um da educação, três da sociologia, um da medicina, um das ciências religiosas, um da
odontologia e um do trabalho social.
EQUADOR
Antropologia 4
Economia 1
Educação 14
Psicologia 2
Sociologia 12
Total 33
96
Em relação aos temas abordados nas publicações, destacam-se sete diferentes
temáticas, das quais quatro foram incluídas no corpus deste trabalho, conforme se pode
observar no quadro a seguir:
Quadro 12 - Relação dos temas abordados e a frequência com que apareceram nas
publicações no Equador.
Este é o país com maior número de publicações cujo tema principal é a sociologia
da infância. As temáticas: infância no Equador; primeira infância e trabalho infantil não
foram incluídas, porque os textos não usavam o aporte teórico relacionado ao campo e
não atendiam os demais critérios de seleção desta pesquisa.
Sobre o uso da sociologia da infância como principal referência presente nas
discussões dos artigos, foram encontrados 23 pesquisadores utilizando esse referencial,
sendo dois antropólogos, um psicólogo, oito sociólogos e 12 pedagogos.
PARAGUAI
Este país não será incluído na pesquisa pelo fato de não terem sido localizados
pesquisadores e/ou publicações relacionados aos estudos da infância que atendessem os
critérios de seleção desta pesquisa. Foram localizados sete pesquisadores a partir de
quatro publicações analisadas e quatro áreas com publicações sobre a infância: economia,
psicologia, educação e antropologia. No entanto nenhuma foi incluída pelo fato de os
autores não estarem vinculados às universidades e/ou não usarem o referencial teórico
relacionado ao campo.
97
Quadro 13 - Profissionais e publicações sobre estudos da infância no Paraguai.
Antropologia 1
Economia 2
Educação 3
Psicologia 1
Total 7
Foram identificados quatro diferentes temas que também não foram incluídos e
não foi encontrada publicação relacionada com os aportes teóricos da sociologia da
infância.
Infâncias 1
Presença da criança no mundo 1
Primeira infância 1
Trabalho infantil 1
PERU
Neste país, foram encontradas 35 publicações, sendo que, por meio delas, foi
possível localizar 33 pesquisadores. Após a análise dos textos, foram selecionadas 27
publicações, contemplando 20 pesquisadores que se enquadram nos critérios desta
pesquisa. Foram localizadas cinco áreas que publicaram sobre infância, a saber:
sociologia, pedagogia, antropologia, psicologia e economia.
98
Quadro 15 - Profissionais e publicações sobre estudos da infância no Peru.
Antropologia 5
Economia 4
Educação 12
Psicologia 3
Sociologia 9
Total 33
Cidadania 2
Crianças indígenas no Peru 4
Discriminação e primeira infância 2
Infância no Peru 6
Métodos de investigação com crianças 1
Perspectiva e participação infantil 5
Protagonismo infantil e direitos 5
Ser criança no Peru 3
Socialização infantil 1
Trabalho infantil 3
A infância no Peru foi o tema de maior frequência nas publicações peruanas sobre
os estudos da infância, juntamente com as seguintes temáticas: perspectiva e participação
infantil; protagonismo infantil e direito das crianças. Note-se que os temas das pesquisas
estão relacionados aos conceitos trazidos pela sociologia da infância, e as discussões dos
artigos revelam preocupação em realizar pesquisas com a participação das crianças.
99
Dentre os 20 pesquisadores selecionados, 10 utilizam referências teóricas da
sociologia da infância especificamente, sendo eles três pesquisadores da antropologia, um
da psicologia, quatro da sociologia e dois da educação.
URUGUAI
Sociologia 9
Psicologia 1
Trabalho social 1
Medicina 1
Nutrição 1
Total 13
100
Quadro 18 - Relação dos temas abordados e a frequência com que apareceram nas
publicações no Uruguai.
VENEZUELA
Educação 6
Educação Especial 1
História 1
Letras 1
Psicologia 2
Sociologia 5
Total 16
101
publicações, destacam-se seis diferentes temas, dos quais cinco foram selecionados, como
se vê no quadro a seguir.
102
Durante este processo, uma pesquisadora da Argentina esteve no Brasil,
especificamente em São Paulo, para participação em um evento científico que ocorreu na
Universidade de São Paulo (USP), o que facilitou o encontro com a ela.
Diante dessa possibilidade e da disponibilidade da pesquisadora em realizar um
encontro, aproveitou-se a oportunidade para realizar a primeira entrevista da pesquisa,
uma vez que, por meio das conversas pelo correio eletrônico, ela afirmou utilizar em
algumas produções os aportes teóricos da sociologia da infância. A entrevista foi realizada
na USP, no Instituto de Psicologia, onde estava sendo realizado o X Colóquio
Internacional do LEPSI (Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e
Educacionais sobre a Infância - IP/FEUSP) “Crianças públicas, adultos privados”, V
Congresso da RUEPSY – Rede Universitária Internacional em Educação e Psicanálise e
I Congresso Brasileiro da Rede INFEIES (Revista Científica Multimedia sobre la
Infancia y sus Institución(es)), para a qual a pesquisadora realizou palestras sobre a
infância e as instituições e infância e seus direitos.
A conversa durou cerca de uma hora e foram realizadas perguntas seguindo um
roteiro43 para investigar como ela vem trabalhando os estudos da infância na universidade
em que atua e questões que pudessem contribuir para o entendimento das produções da
infância pelo seu grupo de pesquisa, bem como para compreender como tem utilizado a
sociologia da infância em suas produções. Esse procedimento foi importante para refletir
sobre a pertinência das questões presentes no roteiro de entrevista, de forma a analisar se
atendem os objetivos da pesquisa e se abordam a problemática que a pesquisa se propõe
a investigar. Após a escuta das respostas foi possível perceber que seus estudos não estão
exatamente relacionados com o campo da sociologia da infância, pois a pesquisadora
prioriza a psicanálise. Além disso, reafirmou-se a necessidade de revisitar os dados
levantados, para selecionar os autores de cada país.
Por meio do contato via correio eletrônico com os pesquisadores, foi possível
validar alguns dados já encontrados anteriormente, confirmar as universidades às quais
estão vinculados, ter acesso a novas publicações enviadas na íntegra pelos autores ou de
novos títulos para complementar as buscas, além de identificar a participação em grupos
de estudos/investigação.
A seguir, observa-se a quantidade de mensagens enviadas por correio eletrônico
para os autores de cada país e a quantidade de respostas obtidas, sendo importante apontar
43
O roteiro com as questões pode ser lido no Apêndice A.
103
que alguns pesquisadores que haviam sido eliminados na primeira parte desta pesquisa,
mas cuja eliminação deixara dúvidas, também foram consultados, a fim de confirmar a
exclusão ou para repensar a sua inclusão no corpus da pesquisa. Por este fator, os números
de pesquisadores podem estar em quantidade diferente dos primeiros quadros
apresentados.
Argentina 46 26
Bolívia 2 1
Chile 24 16
Colômbia 58 27
Equador 3 1
Peru 20 10
Uruguai 4 1
Venezuela 8 4
Este procedimento resultou em novos dados para a pesquisa, pois juntamente com
as informações e textos enviados pelos autores, foram realizadas buscas na internet para
complementar o que já havia sido encontrado. Esse movimento possibilitou a ampliação
de informações sobre os pesquisadores e produções sobre os estudos da infância nos
países investigados, o que levou a uma nova elaboração de quadros para especificar o que
cada pesquisador/autor tem publicado, permitindo uma seleção mais consistente para
verificar quais deles estão produzindo estudos sob a perspectiva da sociologia da infância.
Como a quantidade de publicações mudou devido ao acesso a novos textos, foi
revisitado o currículo dos autores, a fim de identificar a frequência das produções, o
período inicial de publicações, visando descobrir qual tempo esses autores têm dedicado
à infância e sob quais enfoques têm se debruçado sobre ela.
Assim, foram elaboradas cinco categorias para encontrar e escolher pesquisadores
que têm trabalhado com a sociologia da infância, sendo que, primeiramente, levantaram-
se as informações em seus currículos, para verificar o tempo de trabalho com a infância;
posteriormente, buscaram-se suas publicações e a frequência destas. Em seguida, foram
retomados resumos e referências bibliográficas, foi verificada sua relação com a
sociologia da infância e, por fim, por meio do contato via correio eletrônico e novas
104
buscas na internet, foram identificadas suas participações em grupos de
estudos/investigação e os temas desses estudos.
A seguir, se apresenta um panorama geral das etapas da pesquisa e da seleção dos
pesquisadores por país.
105
foi localizado um pesquisador que trabalha com a sociologia da infância, entretanto suas
publicações na internet não estavam completas e não havia informações sobre as
referências bibliográficas.
De maneira geral, pode-se verificar que alguns autores mudaram de linha de
pesquisa, deixando de estudar a infância e focalizando os estudos na juventude, nas
políticas públicas, nos movimentos migratórios, no processo de construção de
conhecimento pela criança e/ou focalizando o trabalho em instituições que atendem a
infância. Foram verificados intervalos de mais de quatro anos entre as publicações, sendo
que a infância aparece em textos isolados no currículo dos autores. Além disso, não
localizar os resumos ou os textos completos dos autores impossibilitou a participação de
alguns pesquisadores nesta investigação.
Os países que pareceram utilizar a sociologia da infância de maneira mais
consistente foram Argentina, Chile, Colômbia e Peru, com maiores quantidades de
publicações, com publicações que possuem relação com os conceitos da sociologia da
infância, com a presença de um número maior de pesquisadores e com alguns vínculos a
grupos de estudo/investigação.
106
Observaram-se, como regularidade, as publicações anuais, embora verifique-se
que alguns pesquisadores publicam em intervalos de um ano e meio ou dois anos. A
universidade com maior concentração de pesquisadores, doze, é a Universidad de Buenos
Aires (UBA), seguida pela Universidad Nacional de San Martín, com dois, Universidad
Nacional de General Sarmiento, também dois, Universidad Nacional de Córdoba, um,
Universidad Nacional de La Matanza, com um, Universidad Nacional del Sur, um,
Universidad Nacional de La Plata, um, e Universidad Nacional de Rosário, também um.
107
Quadro 24- Pesquisadores da infância chilenos.
108
Maria V. Alzaite Piedrahita Pedagogia Universidad Tecnológica de Pereira
Ofélia Roldán Vargas Pedagogia Universidad de Manizales
Patrícia Botero Gómez Psicologia e Educação Universidad de Manizales
Especial
Sara Victoria Alvarado Psicologia Universidad de Manizales
Wilson Herney Mellizo Rojas Trabalho social Universidad de La Salle
44
Este pesquisador foi incluído no corpus da pesquisa, tendo em vista a quantidade de publicações
relacionadas à sociologia da infância, e por ser um autor frequentemente citado nos demais países,
principalmente nas publicações argentinas.
109
Gráfico 1 - Tempo de pesquisa com a infância45.
12
5 5
4
3 3 3
2 2 2 2 2
1
0 0
82
66
25 25
21
9 12
6 5 8 7 8
1 0 1 1
45
Todos os gráficos deste trabalho são resultado de elaboração própria, tendo como fonte as informações
coletadas nas fases da pesquisa.
110
Bauman (3); Berger; Luckmann (8); Bourdieu (16); Foucault (18); Giddens (5); e
Goffman (3).
Para cada autor selecionado para esta etapa da pesquisa, foi elaborado um quadro
com os dados das produções relacionadas à sociologia da infância, contendo a quantidade
de publicações, o tempo de trabalho com a infância, a frequência, os títulos, as palavras-
chaves, os conceitos da sociologia da infância, os resumos, as principais referências
utilizadas por eles, a vinculação ou não a grupos de estudos/investigação, a universidade
em que estão trabalhando, a formação do autor e o contato por correio eletrônico.
Estes ítens foram organizados para que fosse possível caracterizar a produção de
cada pesquisador, seus principais referenciais teóricos, permitindo a escolha daqueles que
seriam entrevistados. A seguir, se apresenta o Quadro 27, com os principais conceitos
elencados por país e, posteriormente, o Gráfico 3, elaborado para que possam ser
visualizados os conceitos utilizados.
Quadro 27: Principais conceitos localizados nas produções dos países selecionados com
relação ao campo da sociologia da infância.
Principais conceitos localizados nas Frequência com que os conceitos aparecem nas
publicações que se relacionam com a publicações de cada autor por país
sociologia da infância
Argentina Chile Colômbia Peru
Agência 2 2 2 0
Ator social 1 1 3 1
Bem-estar 1 0 3 2
Cidadania 7 2 8 1
Competência 0 0 4 0
Crianças 6 5 8 3
Crianças em situação de rua 4 0 1 2
Crianças focalizadas nas pesquisas 8 3 1 2
Crianças que trabalham 5 2 1 3
Desaparecimento da infância 0 0 2 0
Direitos 12 3 15 4
Escola 0 1 7 0
Escolarização 3 0 1 1
Estrutura 1 0 0 0
Estudos da infância 2 2 1 1
Etnia 1 0 0 0
Família 0 0 0 2
Gênero 1 3 0 0
Geração 0 1 0 0
111
Idade 2 0 0 0
Infância 13 7 14 4
Jogo entre pares 2 0 0 0
Mundo social 3 3 3 1
Participação 5 3 5 3
Pobreza 2 0 0 0
Políticas culturais da infância 1 1 1 0
Ponto de vista das crianças 0 2 1 1
Protagonismo 1 0 0 0
Proteção 4 2 9 2
Representação 3 2 3 1
Saúde 0 0 3 0
Socialização 4 0 1 2
Voz das crianças 4 2 2 1
Vulnerabilidade 4 0 1 1
A partir desse quadro visualiza-se que os conceitos mais frequentes foram direitos,
infância, crianças, cidadania, proteção, participação, crianças focalizadas nas
pesquisas, vulnerabilidade, crianças que trabalham. Estes dados podem ser visualizados
no Gráfico 3, sobre a frequência dos conceitos nos quatro países selecionados.
cidadania
ator social
competência
gênero
mundo social
pesquisa com crianças
infância
representação
participação
voz das crianças
socialização
crianças
estudos da infância
direitos
proteção
bem-estar
escolarização
113
Andrea Paola Diretora da equipe - infância - Alvim
Szulc 9 anos 8 de investigação - crianças M.R.;Valladares
“Niñez, alteridad y - agência L P.
(UBA/ ciudadanía” - voz das crianças - Carli, S
Antropologia) - estudos da infância - Christensen,
- pesquisa com P.;Prout, A.
crianças - Cohn, C.
- Goffman, E.
- Hecht, A.C
- James, A. ;.
Prout, A
- Jenks, C.
- Morrow, V. ;
Richards, M.
- Pires, F.
Cecilia Faz parte de um - participação - Bourdieu, P ;
Litichever 6 anos 5 projeto de infantil Wacquant, L.
investigação - direito das crianças - Foucault, M.
(Universidad de PIP/CONICET, - fez pesquisa com - Gentile, M. F.
San Martín/ coordenado pela crianças - Giddens, A.
Sociologia) Valeria Llobet - cidadania - Llobet,V.
- crianças de rua
Diana Milstein Dirige um projeto - fez pesquisa com - Alderson, P.
9 anos 6 de investigação crianças - Aries, P.
(Universidad sobre “infancia y - participação - Christensen, P.,
Nacional de La educación en - agência James, A.
Matanza/ contextos urbanos” - atores sociais - James, A.,
Antropologia) Jenks, C. ; Prout,
A.
- Qvortrup, J.
- Rockwell, E.
- Waldorff, G.
Maria Florencia Investigadora do - crianças em - Bourdieu, P.
Gentile 9 anos 5 “Programa de situação de rua - Carli, S.
Estudios Sociales - bem-estar da - Cohn, C.
(Universidad en Infancia y infância - Goffman, E.
Nacional de Juventud”, - sociologia da - Litichever, C.
General coordenado por infância - Mauss, M.
Sarmiento/ Dr. Alberto - infância - Rizzini, I.
Sociologia) Minujín e Dra. - vulnerabilidade - Simmel, G.
Valeria Llobet
Valeria Llobet Coordena o - direitos - Bourdieu, P.
9 anos 10 projeto de - infância - Carli, S.
(Universidad investigação: “La - cidadania - Foucault, M.
Nacional de protección de los - proteção - Larrosa, J.
San Martín/ derechos de niñas, - criança em - O’Connor, J.
Psicologia) niños y situação de rua - Qvortrup, J.
adolescentes y las - vulnerabilidade
interpretaciones - estrutura
del ‘bienestar - meio social
infantil: disputas e - crianças
interacciones en la
construcción de los
Sistemas locales
de protección de
derechos”
114
Quadro 29: Pesquisadores para a entrevista no Chile.
115
Monica Peña Não foi encontrada - voz das - Ariés, P.
Ochoa 11 anos 4 nenhuma informação crianças - Carli, S
- infância - Corsaro, W.
(Universidad - escola - Deleuze, G.
Diego Portales/ - fez pesquisa - Donzelot, J.
Psicologia) com crianças - Foucault, M.
- estudos - Gaitán, L.
sociais da - James, A. ;
infância Prout, A.
- agência - Llobet, V.
- ponto de - Mayall, B.
vista das - Rojas, J.
crianças - Vergara, A.
- Woodhead,
M;Faulkner, D
116
Ernesto Durán Observatório sobre - proteção Não foi possível
Strauch 16 anos 9 infância na - direitos ter acesso aos
Colômbia - crianças textos completos
(Universidad - bem-estar
Nacional de - infancia
Colombia/
Medicina)
Maria Cristina Observatório sobre - direitos Não foi possível
Torrado 21 anos 12 infância na - crianças ter acesso aos
Pacheco Colômbia - políticas textos completos
culturais da
(Universidad infância
Nacional De - crianças em
Colombia/ situação de rua
Psicologia) - infância
- cidadania
117
Sara Victoria Coordena o grupo - cidadania - Agamben, G
Alvarado 21 anos 15 de investigação: - crianças em - Alvarado, S.;
“Perspectivas situação de rua Ospina, H. F.
(Universidad políticas, éticas y - participação - Berger;
de Manizales/ morales de la niñez - infância Luckmman
Psicologia) y la juventude” - socialização - Cussianovich,
Líneas de - direitos A;Márquez, A.
investigación - Foucault, M.
declaradas por el - Hart, R.
grupo: - James, A; Prout,
1.- Construcción de A.
paz - Woodhead, M.
2.- Construcción
social del niño y la
niña: crianza y
familia
3.- Desarrollo
Psicosocial
4.- Infancias,
Juventudes y
Ejercicio de la
Ciudadanía
5.- Políticas
públicas y
programas en niñez
y juventud
6.- Socialización
Política y
Construcción de
Subjetividades”
118
- crianças - Liebel, M.
trabalhadoras - Kaufmann, A.
- Kohan, W.
- Mills, W.
Patricia Paola Ames Investigadora do - participação - Alarcón, W.
Ramello 6 anos 9 Instituto de - família -Gaitán Muñoz, L.
Estudios Peruanos - socialização - James, A.; Prout,
(Pontificia desde 1997. - crianças A.
Universidad Católica - ponto de vista - Save The
del Perú/ Projeto de das crianças Children
Antropologia) investigação: - pesquisa com - Rogoff, B.
“Influencia de la crianças - Woodhead, M;
organización de - bem-estar P. Moss
entornos - escolarização
interculturales
saludables en la
disminución de la
violencia infantil:
Un estudio en
comunidades alto-
andinas de
Ayacucho”
119
da SI e por seu retorno via correio eletrônico ter sido mais rápido. As entrevistas foram,
então, efetuadas nos meses de março e abril de 2015.
O roteiro da entrevista foi reelaborado após entrevistar pesquisadora argentina em
novembro de 2014, a fim de atender os objetivos da pesquisa e complementar as
informações do levantamento de dados realizado até o momento desta etapa da
investigação.
Após a autorização da FAPESP46 (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo)
para a realização da pesquisa de campo fora do país, agendaram-se dois momentos para
a visita aos países eleitos, sendo a primeira no mês de março de 2015, no período entre
os dias 15 e 21 daquele mês, para realização da pesquisa de campo na Argentina, em
Buenos Aires; e o segundo no mês de abril do mesmo ano, no período de 05 a 11 daquele
mês, para realização da pesquisa de campo no Chile, em Santiago.
As entrevistas com os pesquisadores foram realizadas nos períodos da manhã e da
tarde daquelas semanas, nas universidades correspondentes de cada pesquisador; neste
momento também foram efetuados o levantamento da produção e a investigação do
material publicado, bem como do referencial teórico utilizado pelos pesquisadores nas
bibliotecas das universidades.
Durante a semana, em Buenos Aires, os pesquisadores sugeriram uma entrevista
com mais uma pesquisadora importante no campo dos estudos da infância na Argentina,
Mariela Macri, do Instituto de Investigações Gino Germani, que já havia sido identificada
no levantamento inicial da pesquisa, mas não entrou na seleção devido ao curto período
de permanência naquela cidade e à quantidade de pesquisadores selecionados.
Em razão da facilidade de contato com a professora e de sua disponibilidade para
conceder a entrevista, esta foi realizada no próprio Instituto, onde se obteve a
oportunidade de encontrar diversas obras e publicações no campo da infância. Foi
possível ter acesso às diversas bibliotecas das universidades e também às públicas, mas
não foi encontrado um acervo atualizado. A relação com Mariela Macri oportunizou o
contato com pesquisadores e com a biblioteca do Instituto de Investigações Gino
Germani, acervo mais atual, que reúne, além de livros, publicações em periódicos
impressos e online das revistas científicas.
46
Houve a necessidade de solicitar a liberação do recurso de Reserva Técnica de Bolsas para realizar a
pesquisa de campo no exterior e autorização da FAPESP para o afastamento das atividades na USP em
detrimento das visitas aos pesquisadores.
120
As entrevistas com cada pesquisador duraram cerca de duas horas, e foram
realizadas em diversos locais da cidade: universidades, cafés e na residência dos
professores. As informações coletadas durante aquela semana foram transcritas e
organizadas para a elaboração do próximo capítulo.
Na semana de pesquisa em Santiago, não foi possível realizar a entrevista com a
Profa. Paulina Chavez Ibarra, pois ela estava ocupada devido ao adoecimento de seu filho,
e não disponibilizou outro horário para que a entrevista pudesse ser efetivada. Entretanto
ela se comprometeu a enviar as respostas por correio eletrônico.
Ao conversar com as professoras, foi sugerido que fossem incluídas três
entrevistas no corpo deste trabalho: com o Prof. Osvaldo Torres, da Universidade Central
do Chile; o Prof. Cláudio Duarte, da Universidade do Chile e o Prof. Jorge Rojas, da
Universidade Católica do Chile. Todos esses pesquisadores já haviam sido localizados no
levantamento realizado inicialmente, porém, ao analisar as suas produções, não se
considerou relevante incluí-los; não obstante, buscou-se entrar em contato com eles na
semana da pesquisa no Chile e, posteriormente, em suas respectivas universidades. Não
houve êxito com os dois primeiros, mas foi possível realizar uma conversa com o Prof.
Jorge Rojas.
Esta conversa foi determinante para a compreensão dos estudos da infância no
Chile, posto que o Prof. Rojas é um renomado pesquisador no campo da história da
infância no país e pode desvelar pontos que ainda não estavam totalmente esclarecidos
nos levantamentos das produções, bem como criou-se a oportunidade de conhecer um
aspecto geral da história dos estudos da infância no país, o que validou a seleção dos
autores para a entrevista desta pesquisa.
As entrevistas com cada pesquisador em Santiago duraram cerca de uma hora ou
uma hora e meia, e foram realizadas nas universidades, com exceção da Profa. Iskra
Pavez, que preferiu que o encontro se desse em um café da cidade. As informações
coletadas durante essa semana também foram transcritas e organizadas para que
pudessem ser incluídas na discussão do próximo capítulo.
Tomando-se por base o conjunto de publicações e as entrevistas, buscar-se-á
analisar as informações obtidas e compreender um pouco mais acerca da sociologia da
infância na América do Sul.
121
2.6. A VIVÊNCIA DO CAMPO – AVANÇOS E CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DE ESTÁGIO
INTERNACIONAL
47
Nesse sentido, cabe agradecimento à FAPESP, Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE), realizada
em 2016.
48
Autores como: Jens Qvortup, Alan Prout, Priscilla Alderson, Nigel Thomas, Claudio Baraldi, Spyros
Spyrou, Erica Burman, Samantha Punch, Kay Tisdall, Afua Twum-Danso Imoh, Jo Moran-Ellis, Doris
Bühler-Niederberger, Heinz Sünker, Manuel Jacinto Sarmento, Manuela Ferreira, Natália Fernandes, Ivan
Rodriguez Pascual, etc.; também autoras brasileras como: Lucia Rabelo de Castro, Ethel Kosminsky, Rita
de Cássia Marchi; e encontrar algumas pesquisadoras que fazem parte do corpus desta investigação: Iskra
Pavez, Mariela Macri e Ana Vergara Del Solar, além de conhecer mestrandos e doutorandos que também
estão lutando por espaços de reconhecimento no campo.
122
Cabe mencionar que todo o processo de aprofundamento no campo demandou
exercícios reflexivos com a orientadora no Brasil e com as coorientadoras na Espanha,
Profa. Dra. Lourdes Gaitán Muñoz e Profa. Dra. Begoña Leyra, além dos professores do
departamento de sociologia, que estabeleceram diálogos para acompanhar os movimentos
observados no campo e associá-los à compreensão do conceito de campo em Bourdieu.
Destaque é dado para as vivências realizadas com a Profa. Dra. Lourdes Gaitán,
com quem foi possível clarificar elementos estruturantes do campo e visualizar sua
configuração na Espanha, de forma privilegiada, pois, ao identificar a maneira como
ocorre o funcionamento deste campo naquele país, foi possível identificar também a
configuração das lutas para consolidá-lo e reconhecê-lo em instâncias de consagração,
como a Federação Espanhola de Sociologia49.
Durante o período do estágio, para além do entendimento e do encaminhamento
de problemas teóricos sobre a tese e outros que ainda estavam nebulosos, foi possível
também formular o processo inicial da análise das produções. Esta análise, num primeiro
momento, foi realizada por diversos movimentos, possibilitando estabelecer
comparações, agrupamentos e compreensões para as produções que compõem o corpus
desta pesquisa. Decidiu-se, assim, realizar a análise de conteúdo50, por ser uma maneira
de analisar os dados sem perder os propósitos da tese.
Assim, com o estágio, pode-se dizer que foram ampliadas as compreensões sobre
o campo, resultando no amadurecimento do objeto de estudo, aprofundamento teórico e
metodológico para dar seguimento ao trabalho.
49
A Federação Espanhola de Sociologia (FES) é uma sociedade científica de sociologia espanhola que
congrega cerca de 3.000 sociólogos espanhóis. A FES faz parte da Associação Europeia de Sociologia
(ESA), da International Sociological Association (ISA), e colabora com associações de sociologia de outros
países e organismos internacionais no âmbito das ciências sociais. Também é membro da Rede de
Associações de Sociologia do Sul da Europa (RESU), ao lado de associações da França, Portugal, Grécia e
Itália. Para saber mais consultar: <http://www.fes-sociologia.com/>.
50
Nesse sentido, pode-se destacar o apoio recebido da Profa. Dra. Lourdes Gaitán, que forneceu os
elementos necessários para compreender os aportes deste tipo de análise, ajudando na configuração das
categorias para elaboração do manual de análises. Os resultados serão apresentados no capítulo 4 deste
trabalho.
123
CAPÍTULO 3- ESTUDOS DA INFÂNCIA NA AMÉRICA DO SUL:
PERSPECTIVAS A PARTIR DA ARGENTINA E DO CHILE
“La idea de que importa el futuro de los niños es peligrosa desde un punto de
vista ético, porque mide el bienestar del niño basándose en su vida futura y no
en su bienestar presente. Esta opinión implica no estar interesado en el niño,
sino, en los adultos”.
Jens Qvortrup
3.1. ARGENTINA
51
As entrevistas foram enviadas para as professoras/pesquisadoras, as quais puderam realizar possíveis
correções e validá-las para o uso neste trabalho.
124
localizadas perto de suas residências ou das universidades. Destaca-se que uma das
entrevistas foi feita na residência da professora e duas realizaram-se na própria
universidade. As que preferiram as cafeterias disseram que, na universidade, não havia
espaços com privacidade para realizar conversas em particular, afirmando que é comum
a reunião com os pares nesses ambientes para discutir questões acadêmicas.
O quadro seguinte apresenta as pesquisadoras entrevistadas e suas respectivas
universidades:
125
(CONICET). Dentre as professoras entrevistadas, apenas duas não possuem
financiamento (Florencia e Mariela); uma delas tem orientandos bolsistas (Diana); e as
demais possuem investigações científicas contempladas com os recursos financeiros
desta agência.
Outro ponto observado ocorreu em relação às condições para o trabalho docente
nas universidades da capital da Argentina, que não oferecem para todos os docentes uma
sala de trabalho, não possuem equipamentos tecnológicos suficientes, e o acervo das
bibliotecas, de modo geral, não está atualizado. Com exceção do Instituto Gino Germani
da Universidade de Buenos Aires, que contém acervo amplo e atualizado das produções
sociais sobre a infância, nas demais universidades não foi possível encontrar nem mesmo
os exemplares das obras das professoras. A maioria delas afirmou que os trabalhos
relacionados à pesquisa científica muitas vezes são realizados no espaço doméstico.
126
para as pesquisas com crianças. No âmbito da história, Carli (2011) elucida que os temas
estavam relacionados aos problemas sociais, ao papel do Estado com as famílias, e às
políticas públicas.
Nas falas das pesquisadoras, a nova configuração dos estudos da infância implica
numa socioantropologia, que vai considerar as crianças como agentes sociais,
protagonistas de suas vidas, e, desta maneira, ampliar as possibilidades de realização de
pesquisas com as crianças. Como se pode verificar, os estudos da infância no país
decorrem de estudos interdisciplinares, que configuram as crianças enquanto objeto de
estudo, e promovem a visibilidade científica da infância na Argentina.
Os grupos de pesquisa apresentados a seguir chegam até a infância por diversas
abordagens, com metodologias investigativas parecidas, referencial bibliográfico que se
aproxima da perspectiva da sociologia da infância, tendo em vista que os grupos se
embasam em suas grandes áreas, mas afirmam possuir um diálogo interdisciplinar. Os
trabalhos desenvolvidos por eles conectam-se com outros campos, tais como estudos de
religião, estudos rurais, linguística e sociologia. A infância é estudada por disciplinas
como educação, antropologia, sociologia, história, política, linguística e filosofia, em
abordagens que focalizam as crianças indígenas, relações geracionais, processos de
institucionalização, direito das crianças, políticas sociais, trabalho infantil e crianças em
situação de rua.
O primeiro grupo a ser apresentado é codirigido por Ana Padawer, juntamente
com Gabriela Novaro, na Universidade de Buenos Aires. Na entrevista com Padawer, ela
pontua que o grupo está vinculado ao Programa Antropologia e Educação, porém não
possui um nome específico, uma vez que apenas os projetos são nomeados. É composto
por treze pessoas: além das líderes, participam María Laura Diez (antropologia), Carolina
Hecht (antropologia), Mariana García Palacios (antropologia), Noelia Enriz
(antropologia), Aristóbulo Borton (antropologia), Laura Martínez (antropologia), Lucía
Groisman (antropologia), María Laura Canciani (educação), María Laura Canciani
(antropologia), Lucila Rodríguez Celín (antropologia).
Os encontros do grupo ocorrem, geralmente, uma vez por semana com pequenas
equipes, pois dividem as tarefas, e, quinzenal ou mensalmente, todos os integrantes se
reúnem para tratar do andamento dos projetos. Durante a entrevista, Padawer disse que
os encontros acontecem na UBA, onde são realizadas discussões sobre os textos, debates
a respeito do trabalho de campo e, às vezes, convidam professores para fazerem falas
sobre os temas que estão trabalhando.
127
O objetivo do grupo é desenvolver pesquisas relacionadas à antropologia e à
educação com a população de crianças indígenas, e, atualmente, eles estão trabalhando a
questão geracional. A sociologia da infância não é um tema central para o grupo,
entretanto Padawer afirma que os pesquisadores pautam-se na produção de sociólogos
que trabalham com a infância, mas ela desconhece a existência de um campo com este
nome.
As pesquisas do grupo partem do princípio de que as crianças são competentes,
valorizam a agência das crianças, e as investigações empíricas fazem uso de instrumentos
de coleta de dados realizados pelas próprias crianças. Conforme salientado por Padawer,
trabalhar com elas promove o conhecimento de suas perspectivas e ajuda a compreender
os problemas macroestruturais. Além disso, técnicas de pesquisas com crianças são
utilizadas em campo, quando fazem uso de desenhos, escrita de pequenos textos, recursos
audiovisuais normalmente utilizados pelas crianças, free listing52 ou jogos infantis.
Entrevistas abertas complementam os dados obtidos pela observação participante.
As pesquisas possuem financiamento do CONICET e abordam como principais
temas de investigação os seguintes aspectos: relação do conhecimento obtido dentro e
fora do âmbito escolar, socialização linguística, socialização religiosa, jogos e
brincadeiras, identidade e movimentos migratórios. Todos esses temas são estudados a
partir das crianças indígenas.
O grupo tem natureza antropológica e educacional, e os principais autores por ele
estudados são: Rabelo Gomes, Tassinari, Cohn, Bourdieu, Mannheim, Margaret Mead e
Ariès. Enfoque maior tem sido dado aos estudos geracionais, pois a preocupação com as
idades da vida surgiu como discussão no grupo, a fim de se pensar na dimensão histórica
das comunidades indígenas, bem como na transmissão de conhecimento dentro dessas
comunidades, o que despertou o olhar para o conceito de geração. As investigações em
andamento, segundo Ana, têm priorizado o conhecimento prático, na busca pela
sistematização de como as crianças indígenas Mbyá explicitam e se apropriam de um
conhecimento que se produz nas relações geracionais.
52
A técnica free listing é usada para elucidar os elementos ou membros de domínios culturais, tais como
percepções e conceitos compartilhados. Geralmente as informações são obtidas por meio de entrevistas
semiestruturadas e as perguntas são direcionadas a cada participante, referentes a um domínio de interesse.
A técnica permite conhecer a importância, a ênfase, a familiaridade ou a representação cultural dos temas
trabalhados com os participantes, bem como seus padrões de conhecimento e de caracterização sobre um
domínio (BORGATTI, 1998, p.8). Maiores informações em: BORGATTI, S. Elicitation techniques for
cultural domain analysis. In: LECOMPTE, M. D.; SCHENSUL, J. J. (Eds.). Designing and conducting
ethnographic research. Walnut Creek, CA: Alta Mira Press, 1998.
128
O segundo grupo de investigação localizado foi Niñez, alteridad y ciudadanía,
liderado por Andrea Szulc, na UBA. O grupo, financiado pelo CONICET, tem como
enfoque os estudos indígenas e as disputas político-culturais contemporâneas em torno
das crianças mapuche de Neuquén. Composto por nove pessoas: Szulc, quatro doutoras,
três bolsistas e a socióloga María Eugenia Rausky, a mais nova integrante. Szulc preferiu
não citar os nomes dos demais participantes, pois ficou um pouco receosa para falar sobre
as discussões do grupo e sobre o formato das reuniões, uma vez que viveu a experiência
de participar de entrevistas que não foram bem intencionadas. Disse ela que
Apesar disso, contou que o grupo tem focalizado a infância indígena e as relações
estabelecidas com distintas dimensões culturais, políticas, religiosas, de forma a priorizar
os modos como as crianças vivem as experiências, valorizar suas perspectivas e
articulações. Os encontros do grupo são mensais e ocorrem na universidade. Szulc diz
que tem a preocupação de discutir os autores que possam ajudar no desenvolvimento dos
trabalhos e sempre procura trazer referencial atualizado sobre a infância.
A sociologia da infância está presente nas discussões e nos estudos do grupo,
embora a autora acredite que os estudos da infância são interdisciplinares, necessitando
de diálogo entre a antropologia, a psicologia e a sociologia para trabalhar as questões de
pesquisa. Szulc acredita que a sociologia da infância é antropológica por se apoiar na
perspectiva do ator e usar a etnografia para fazer pesquisas com crianças. A pesquisadora
se coloca contra divisões do campo, tais como sociologia da infância, antropologia da
infância etc., por crer que estas divisões isolam as discussões. Em suas palavras, “[…] se
corre o risco, como te dizia com o conceito de culturas infantis, de isolar essa população
como se fosse uma entidade autônoma, como se pudéssemos ver as crianças sem estudar
os adultos, isso me parece um absurdo (Entrevista com Andrea Szulc, 16/03/2015).
Os principais problemas de investigação do grupo são: a infância indígena, a partir
de questões religiosas, jogos e brincadeiras, alteridade e cidadania; a construção da
53
As traduções de todas as falas das entrevistas são de responsabilidade da pesquisadora.
129
imagem das crianças nas campanhas em defesa dos direitos das crianças; políticas sociais
e nacionais para a infância; educação intercultural bilíngue; e trabalho infantil. Durante a
entrevista, Szulc disse que o grupo está se ocupando das questões burocráticas para
elaborar os relatórios para o CONICET e está discutindo a possibilidade de novos
projetos.
Os aportes teóricos usados advêm de distintas áreas, pois, segundo ela, o
importante não está na origem dos referenciais, mas na contribuição que podem oferecer
para compreender a infância. Teóricos como James e Prout, Cohn, Tassinari, Morrow,
Komaroff, Hall, Mouffe, Laclau e autores que publicam nas principais revistas da infância
estão presentes nas produções do grupo, que se preocupa em conhecer as publicações
atuais sobre a infância.
Em relação às investigações em andamento, Szulc afirma que a infância tem sido
discutida como um campo de disputas, no que tange às disputas por hegemonia e aos
direitos das crianças indígenas. Quanto às metodologias de pesquisa, utilizam-se
abordagem etnográfica, observação participante, entrevistas abertas, desenhos, conversas
informais e entrevistas em grupo.
O terceiro grupo investigado se chama Grupo de estudio y trabajo Antropología
y Educación, liderado por Diana Milstein, cujo objeto se pauta na discussão sobre as
formas não institucionais de agrupamento das crianças em assentamentos urbanos e suas
relações com os processos de institucionalização e a vida escolar. O grupo também se
preocupa em discutir os vínculos entre os pares, a sociabilidade e a socialização das
crianças. Atualmente está composto pelos seguintes pesquisadores: María Laura Requena
(sociologia), Alejandra Otaso (antropologia social), Analía Meo (sociologia), Linda
Kdohr (sociologia), Andrea Tammarazio (antropologia e comunicação social), Jesús
Jaramillo (educação), Silvina Fernández (educação), Analía Meo (sociologia), Verónica
Solari Paz (antropologia); Ángeles Clemente (pesquisadora externa, México, educação),
Alba Lucy Guerrero (pesquisadora externa, Colômbia, educação).
Os pesquisadores se reúnem mensalmente para estudar, escrever e ler. O grupo
realiza reuniões virtuais e presenciais na universidade e na casa de Milstein; eles se
dividem na organização das tarefas e na frequência dos encontros. Os principais temas de
investigação considerados nas pesquisas se apoiam na infância, nas mudanças estruturais
da vida em sociedade, nas teorias sobre a infância, que colocam as crianças como atores
sociais, nos processos de inserção social, bem como nos modos pelos quais compreendem
essa vida social. Os projetos têm interlocução com a história, a sociologia, a filosofia e a
130
política, e têm como base as publicações de Foucault, Bourdieu, Mead, James, Prout,
Qvortrup e Florestan Fernandes.
Durante a entrevista, Milstein pontuou que a equipe trabalha com distintos temas
investigativos trazidos pelos orientandos e demais integrantes do grupo, que chegam até
a infância a partir de questões de gênero, políticas públicas, vida urbana das crianças,
crianças hospitalizadas, proteção, aspectos geracionais, entre outros que, conforme a
pesquisadora, são “experiências particulares e são muito bem-vindas” (Entrevista com
Diana Milstein, 19/03/15). As metodologias utilizadas são de cunho qualitativo: estudos
de casos, entrevistas, fotografias, desenhos, pesquisas feitas pelas crianças, uso do método
de Lefebvre54, pesquisas etnográficas, observação participante, análise do discurso e
análise documental.
Milstein acredita que o grupo trabalha na linha da socioantropologia da infância,
por considerar, nas pesquisas, a agência das crianças e suas capacidades enquanto
interlocutores da vida social. Durante a entrevista, afirmou seu interesse por aspectos mais
amplos da vida pública e sobre as questões educacionais, temas para os quais acredita ser
eficiente fazer pesquisas com crianças, pois refletem a sociedade. Os pesquisadores se
apoiam nas publicações dos periódicos Childhood e Children Today para embasar as
discussões, além das aproximações com a obra de Florestan Fernandes, que também
contribuiu para a realização de pesquisas em interlocução com as crianças.
Assim como Szulc, Milstein questiona o isolamento entre as disciplinas e afirma
que a sociologia e a antropologia da infância são campos que delimitam seus atores e seus
objetos de estudos. A pesquisadora aponta que a preocupação de seu trabalho se relaciona
com o conhecimento, e o seu objeto de estudos é o mundo social, o que fica evidenciado
quando diz que “[...] quando nós investigadores fechamos nossa perspectiva de
investigadores colocando etiquetas no objeto de estudo, fechamos também a
possibilidade de entender a reflexividade dos autores, que deveria ser nosso verdadeiro
objeto de conhecimento” (Entrevista com Diana Milstein, 19/03/05). Ela explica que
tratar os temas em campos disciplinares próprios reduz os caminhos e fecha
54
O método de Henri Lefebvre se refere à compreensão do espaço social por meio de uma tríade conceitual
pautada na prática espacial - representação do espaço - espaços de representação. A pesquisadora Diana
Milstein organiza as narrativas das crianças em suas produções a partir destas três dimensões para
compreender as crianças nos espaços sociais. Para maiores informações consultar:
- LEFEBVRE, H. The Production of Space. Oxford: Basil Blackwell, 1991.
- MILSTEIN, D. et al. Encuentros etnográficos con niños y adolescentes. Entre tiempos y espacios
compartidos. Buenos Aires: Miño y Dávila editores, 2011.
131
possibilidades de pesquisa. Para ela, a sociologia da infância é também antropológica e
usa de aportes metodológicos da antropologia para realizar suas pesquisas. Não faz
sentido separar os campos, pois eles se intercruzam.
O quarto grupo investigado, intitulado Programa de estudios sociales de infancia
y juventud, é liderado por Valeria Llobet. Os encontros acontecem mensalmente para
discutir projetos de investigação e bimestralmente para estudar literaturas específicas;
organizam de três a quatro encontros anuais com mesas redondas ou oficinas sobre os
temas envolvidos, e os encontros ocorrem na UNSAM. A equipe é composta por Gabriela
Magistris (direito), Marina Medan (comunicação social), Ana Cecilia Gaitán
(antropologia), Carolina García Cejudo (sociologia), Viviana Buenaventura (educação),
Pablo De Grande (sociologia), Sandra Franco (sociologia).
Seu objetivo principal resume-se na definição de leituras para o projeto de
investigação, centrado nas discussões sobre Estado, democracia, direitos humanos e
infância, com destaque para a inclusão de debates sobre a desigualdade. Os problemas de
pesquisa abrangem discussões sobre como os sujeitos são produzidos pelas sociedades;
como se configuram os sistemas de proteção de direitos; o governo da infância; condições
de vida de crianças e adolescentes; vulnerabilidade; programas sociais; trajetórias de
crianças que crescem em ambientes desiguais, com falta de integração social expostas a
maus-tratos e violência; e direitos das crianças.
Durante a entrevista, Llobet pontua que o grupo não se nomeia no campo da
sociologia da infância, entretanto pauta-se, sobretudo, nos estudos de Qvortrup, Mayall,
James, Prout e Corsaro para discutir a infância, e acredita que a composição de seus
trabalhos tem um caráter interdisciplinar. Segundo ela, a sociologia da infância ajuda a
compreender as configurações da experiência infantil e suas próprias possibilidades de
vida, ainda que o grupo se configure em uma perspectiva foucaultiana e se apoie na
sociologia para compreender a agência e a inserção das crianças nos diversos espaços
sociais. Os pesquisadores dividem-se em duas preocupações centrais: as formas pelas
quais as crianças experimentam as desigualdades sociais e as condições de vida e
trajetórias sociais de crianças expostas a ambientes vulneráveis e violentos.
Os temas que perpassam as pesquisas individuais dos integrantes do grupo
compreendem, ainda, os programas de inclusão social para mães adolescentes; cuidados
com a primeira infância; desnutrição infantil; políticas sociais; relações entre famílias e
crianças; educação e infância indígena; e crianças em situação de rua. Estes e os temas
gerais do grupo são discutidos a partir das teorias de Foucault, Rose, Fraser, Fonseca,
132
Schuch, Bittencourt, Cardarello, Rizzini, Stolen, Milanich, Zelizer. Entre as referências
relacionadas à sociologia da infância estão Prout, Qvortrup, James, Corsaro e Mayall.
As metodologias utilizadas pelo grupo, segundo Llobet, são heterogêneas, mas
geralmente de abordagem qualitativa, fazendo uso de perspectivas etnográficas, trabalho
de campo com participação e observação, entrevistas, análises documentais, análises
institucionais, selecionadas para melhor atender os objetivos dos projetos e sempre são
discutidas pelo grupo.
O quinto grupo investigado na Argentina foi o Grupo de estudios sobre infancia,
adolescencia y juventud, liderado por Mariela Macri, com sede no Instituto Gino Germani
da UBA. Fazem parte desta equipe as seguintes pesquisadoras: Mariela Macri, Saraí
Miranda Juárez, Claudia Uhart, Verónica Halperin, e Daiana Ant. As reuniões são
quinzenais e ocorrem em duas vertentes: a primeira são reuniões de formação, para
leitura, estudos de literatura específica e sobre metodologias de pesquisa, pois conforme
afirmado na entrevista, “[...] este é um instituto que está em uma universidade, então não
fazemos apenas investigações, mas também somos docentes, e a ideia é que se formem
investigadores dentro do grupo” (Entrevista com Mariela Macri, 18/03/15). A segunda
linha dos encontros é referente a seminários e palestras ministradas por professores
convidados sobre os temas de investigação em discussão no grupo, uma vez que Macri
reforça a intenção do aprofundamento de teorias e da formação de pesquisadores.
Destaque-se que o interesse central desta equipe são as trajetórias socioeducativas
de crianças e adolescentes trabalhadores, e que pretendem obter a perspectiva dessas
trajetórias a partir do ponto de vista dos atores. A produção e publicação de livros está
em torno desses objetivos. Aspectos como dificuldades de aprendizagem, perspectivas de
crianças e adolescentes sobre o trabalho infantil, trajetórias socioeducativas, processos de
aprendizagem escolar, condições de vida das crianças e adolescentes, permanência na
escola e políticas sociais são problemáticas de pesquisa que pautam as discussões do
grupo e fazem parte dos capítulos dos livros publicados.
Como base teórica, os estudos fundamentam-se nas obras de Ariès, Bourdieu,
Cunningham, deMause, Durkheim, Erickson, Rosenmeyer, nas publicações do periódico
Childhood, e na teoria de Weber. Discussões com as áreas da história, antropologia,
educação e política estão presentes e conectadas com as produções, segundo a entrevista
realizada com a líder do grupo. Ela afirma que a sociologia da infância está presente nas
discussões que dizem respeito às perspectivas do trabalho infantil, pois o grupo parte da
concepção das crianças enquanto atores sociais e sujeitos de direitos.
133
Durante a entrevista, Macri pontua que a infância não é o ponto central de suas
investigações, mas sim o trabalho infantil. A infância é discutida por meio da sociologia
da infância para ajudar na construção de “[...] concepções acerca do que é a infância e o
que são as crianças” (Entrevista com Mariela Macri, 18/03/15). As metodologias de
pesquisa utilizadas são de natureza quanti-qualitativa, com entrevistas em profundidade,
estudos de caso e levantamento de dados estatísticos.
O último grupo pesquisado é liderado por Maria Florencia Gentile e, apesar de ter
investigações em curso e ser denominado Núcleo de estudios de infancia y juventud del
Área de Sociología (NEIJAS), ainda está em processo de formalização na UNGS. Este é
o único grupo que toma a sociologia da infância como fundamentação importante para as
pesquisas. Durante a entrevista, Gentile refere-se ora à sociologia da infância, ora à
socioantropologia da infância. A pesquisadora lidera, juntamente com Carolina Zapiola,
o grupo de quinze pesquisadores, dentre eles Cecília Litichever. Envolvidos em um
projeto que visa realizar um estado da arte sobre as abordagens institucionais para as
crianças em situação de rua na Argentina, por demanda da Secretaría de Niñez,
Adolescencia y Familia de la Nación, acreditam que, ao seu término, poderão consolidar
o NEIJAS na universidade.
Os encontros, quinzenais ou mensais, de acordo com o desenvolvimento do
projeto, ocorrem na UNGS e na casa de Gentile. Ela esclarece que os integrantes se
dividiram para a realização das tarefas, permitindo que as reuniões ocorram entre as
pequenas equipes, sendo que apenas em alguns momentos são realizadas com os 15
pesquisadores participantes.
A sociologia da infância tem ajudado na organização do projeto, porém a
fundamentação teórica acolhe também a antropologia, a educação, o direito e o trabalho
social. Caminhando por uma linha socioinstitucional, o grupo tem estabelecido seus
recortes de pesquisa empírica: o que considerar como situação de rua; qual o recorte etário
para considerar as crianças; conceitos sobre instituição etc., o que tem demandado uma
carga grande de leituras e estudos.
Como base teórica, Gentile demonstra interesse pela socioantropologia da infância
e afirma que os estudos de Qvortrup são essenciais para a realização de pesquisas
macrossociais e para as discussões que tomam a infância enquanto categoria da estrutura
social. Para um olhar mais cultural, o grupo se apoia nos estudos de James e Slavoj Žižek,
e, para pesquisas com crianças, recorre à obra de Mayall. Referências como Ariès,
Goffman, Cohn, Carli, Zapiola e Padawer também foram citadas pela entrevistada por
134
apresentarem subsídios para as discussões sobre a infância, história da infância na
Argentina e a infância nas instituições.
As metodologias de pesquisa são pautadas na etnografia e na busca pelo ponto de
vista das crianças. Entrevistas, observações, jogos, desenhos, canções e fotografias são
instrumentos apontados como significativos na pesquisa com crianças e adolescentes.
55
A lista das produções consultadas por pesquisadora está no Apêndice D.
135
às crianças”. Em seus textos, está presente a infância enquanto categoria social, e as
experiências cotidianas das crianças são consideradas nas pesquisas.
A partir de pesquisas etnográficas, a produção de Andrea Szulc centraliza-se
principalmente nas crianças indígenas. A autora discute em seus textos as possibilidades
de pesquisas com crianças, problematiza as abordagens investigativas que “dão voz às
crianças”, e pontua a necessidade de contextualização e relação dos estudos da infância
com a fase adulta. Suas publicações demonstram que a etnografia não se apresenta como
a única fonte de informação para pesquisas com crianças e que a infância não pode ser
vista pelos pesquisadores apenas por aquilo que as crianças falam e fazem, sendo
necessário considerar as ações e interpretações dos demais indivíduos sociais
relacionados com as crianças, incluindo os pesquisadores.
Sua perspectiva sobre a própria produção não se localiza na antropologia da
infância, tampouco na sociologia da infância, mas compreende-se no campo da
antropologia e posiciona-se contra esse tipo de subdisciplinas. Seus textos apresentam
preocupações macrossociais e, por meio da observação da infância, a autora discute as
questões sociais que afetam todos os grupos etários. Identificam-se temas como
experiências escolares de crianças indígenas; disputas em torno da infância mapuche;
imagem de crianças indígenas em propagandas publicitárias; problematizações de
pesquisas com crianças, direito das crianças; e assuntos relacionados à antropologia e à
infância. Em seus textos, refere-se a Christensen, Prout, James e Morrow para a
problematização da ética na pesquisa com crianças e para defender a perspectiva
etnográfica para a realização de estudos da infância.
Sobre a produção da pesquisadora Cecília Litichever, destaca-se a presença de
discussões sobre a trajetória institucional das crianças; crianças em situação de rua;
programas sociais dirigidos às crianças; desigualdade e inclusão social de crianças e
adolescentes, temáticas estudadas por meio dos conceitos de estrutura e agência, a partir
da participação infantil e de negociações das crianças no interior das instituições. Esta
pesquisadora estava vinculada ao grupo de investigação de Valeria Llobet e possui
publicações em conjunto com ela, mas atualmente está envolvida em um projeto
coordenado por Maria Florencia Gentile sobre crianças em situação de rua.
A pesquisadora não se refere diretamente à sociologia da infância, trazendo antes
os estudos da infância como um campo diversificado, isto é,
136
[…] conhecemos quem investiga os temas de infância... é... sim, existe
um campo, digamos. Já não sei se é sociologia da infância [...] é um
campo amplo, ...sim, existem muitos investigadores que trabalham com
estes temas por aí a partir de lugares distintos, não?... Não saberia
tampouco se seria um campo fechado (Entrevista com Cecília
Litichever, 18/03/15).
Milstein argumenta que a participação das crianças nas pesquisas propicia que se
discutam assuntos do domínio adulto e, segundo seus textos, expõe a dificuldade dos
adultos em autorizar as crianças a falar de temas que “não são coisas de crianças”, como
a política, por exemplo. Acolhe a sociologia da infância como referencial teórico para
pensar as questões metodológicas de pesquisa, para dialogar sobre a participação infantil
e pensar nas crianças como interlocutores para compreender problemas sociais. Nesse
sentido, a pesquisadora se apoia nas obras de Qvortrup, Jenks, James e Prout. Entretanto
não acredita que a infância seja seu principal tema de investigação, mas que as crianças
137
são o meio para se compreender o social, fato relacionado a sua preocupação em
investigar possibilidades metodológicas de pesquisa.
Maria Florencia Gentile produz pesquisa no âmbito da socioantropologia da
infância, incorporando temáticas como crianças em situação de rua; inclusão social de
crianças; vulnerabilidade; gênero; socialização; institucionalização da infância; políticas
sociais; e bem-estar da infância na Argentina. Apesar de manter a sociologia da infância
como palavra-chave em algumas publicações, ela se aproxima da antropologia para
pensar o campo dos estudos da infância. Partindo de pesquisas microssociais, suas
publicações focalizam as crianças em situação de rua e as relações estabelecidas com os
pares e com as instituições de inclusão social. Utiliza a sociologia da infância e os
trabalhos de Mayall, Qvortrup, James e Prout para defender as crianças como atores
sociais e a importância de considerar suas experiências e pontos de vista nas pesquisas.
Os textos de Mariela Macri debruçam-se sobre o trabalho infantil na Argentina.
Suas publicações abordam, ainda, a escolarização das crianças e suas trajetórias.
Apresenta discussões sobre as políticas públicas e a infância e suas investigações
focalizam as crianças e os demais atores envolvidos na problemática do trabalho infantil.
Reconhece que as publicações no campo da sociologia da infância influenciaram seus
estudos ao considerarem as crianças como sujeitos de direitos e que as abordagens
metodológicas propostas pelo campo vão ao encontro de suas expectativas de pesquisa.
Defende, contudo, a interdisciplinaridade e os estudos sociais, alegando que, para
abordar a infância, se faz necessário “[…] tomar tudo o que vem da psicologia, da
pedagogia e de suas posições acerca da infância; [...] eu acredito que a sociologia da
infância se nutre de todos estes estudos” (Entrevista com Mariela Macri, 18/03/15).
Destaca-se, ainda, que, para a pesquisadora, a sociologia da infância não permite muitas
aberturas teóricas e precisa ser complementada com enfoque dos estudos culturais, da
antropologia, da história social, enfim, da articulação com outras disciplinas para discutir
a infância.
Na produção de Valeria Llobet vinculam-se temas como: infância no discurso
científico da psicologia; políticas sociais; instituições para a infância; crianças em
situação de rua; crianças como sujeitos de direitos; infância nas ciências sociais; vozes
das crianças; cidadania infantil; proteção, em enfoque multidisciplinar, a partir da
história, da sociologia, da psicologia e da antropologia. Ela publicou trabalhos sobre as
crianças em situação de vulnerabilidade e sobre o discurso institucional produzido sobre
elas, tendo em vista suas representações e significações.
138
Segundo a pesquisadora, há necessidade de se promover um diálogo
interdisciplinar sobre a infância para enriquecer os enfoques teóricos e metodológicos.
Além disso, ela valoriza os diversos contextos temporais e locais para analisar os saberes
sobre a infância e a intervenção estatal sobre as crianças. Afirma que “[…] o que temos é
um campo da infância que dialoga interdisciplinarmente e isso é a maior riqueza do
debate na Argentina” (Entrevista com Valeria Llobet, 18/03/15).
Utiliza, contudo, textos de James, Prout, Jenks, Corsaro, Qvortrup, Mayall,
considerados como referencial interessante para pensar a perspectiva relacional, e
Foucault e Larossa estão presentes em grande parte de suas publicações, que apontam
para o lugar dos direitos das crianças na sociedade e na agenda da política social para a
infância, o que, juntamente com as referências foucaultianas, discute o governo da
infância.
O conjunto de entrevistas e de textos consultados e lidos oferece significativo
quadro dos estudos sociais da infância na Argentina.
3.2.CHILE
139
Quadro 33: Pesquisadoras entrevistadas no Chile.
56
Durante as entrevistas, as professoras sugeriram entrar em contato com o Prof. Jorge Rojas, da Pontifícia
Universidade Católica do Chile, por elas considerado o principal autor sobre a história da infância no país.
Realizado o contato por meio de correio eletrônico, o professor se disponibilizou a conversar informalmente
sobre seu trabalho investigativo acerca da infância chilena, o que complementou e contribuiu para o
entendimento da maneira como se configuraram os estudos sociais da infância no Chile.
140
A despeito de suas áreas de formação, a psicologia, em sua maioria, as
pesquisadoras têm produzido textos com base nos estudos sociais da infância, tendo como
metodologia predominante a etnografia, como se verá a seguir.
Os estudos sociais da infância no Chile ainda são recentes no país e não há grupos
formalizados de pesquisa que se aproximem dos aportes teóricos da sociologia da
infância, pois, de acordo com o historiador Jorge Rojas, estudos sobre a infância derivam
de outros campos, ou seja, a história social, a sociologia das famílias, a sociologia da
juventude e a sociologia da educação trouxeram alguma visibilidade para as crianças nas
produções científicas. O professor ressalta, porém, que a sociologia da juventude está
mais próxima dos estudos da infância, havendo uma fronteira pouco nítida entre os jovens
e as crianças.
Apesar de haver publicações isoladas no campo da sociologia da infância, Rojas
acredita que a sociologia da juventude ainda é predominante, sendo que a luta para
institucionalizar e formalizar um grupo de estudos com o aporte da sociologia da infância
decorre dos esforços da equipe da professora Ana Vergara, que tem maior contato com
esse campo, por ter feito seu doutorado na Inglaterra com Adrian e Alisson James,
pesquisadores da sociologia da infância. Os demais estudos referentes à infância dizem
respeito aos direitos das crianças e às políticas sociais para seu bem-estar, que procedem
dos estudos de Oswaldo Torres, da Universidade Central do Chile. Em relação à
sociologia da juventude, que se aproxima e/ou tem influência na sociologia da infância,
estão os estudos realizados por Claudio Duarte, da Universidade do Chile. Nesta mesma
universidade, a pesquisadora María Emilia Tijoux aborda a infância a partir das
investigações dos processos migratórios. A infância ainda aparece em vários estudos
relacionados à educação infantil no país, mas a prioridade é o enfoque educacional e não
o sociológico. E, evidentemente, os estudos procedentes da história social, publicados por
Rojas, apresentam a história da infância no Chile57 e suas aproximações com os demais
campos científicos.
57
O livro “Historia de la Infancia en el Chile Republicano, 1810-2010”, de Jorge Rojas, apresenta, em seis
capítulos, as diferentes temáticas do estudo das crianças no Chile. Entre as décadas de 1930 e 1970, os
temas sobre os estudos da infância estavam relacionados à educação, abrangendo a questão da escola, o
higienismo escolar, e a infância na literatura. Sobre o aspecto social, destacam-se temas como trabalho
141
Quanto aos grupos de investigação, o primeiro a ser apresentado é o liderado por
Ana Vergara del Solar que, mesmo não formalizado institucionalmente, foi considerado
para esta pesquisa, pois está estruturado e possui produção no campo e projetos que
discutem o protagonismo das crianças na sociedade. O grupo se chama Protagonismo
infanto juvenil, embora a líder afirme que os trabalhos e as publicações se direcionam ao
protagonismo infantil, a infância é o objeto de pesquisa de todas as integrantes do grupo.
Localizado no departamento de Psicologia da Universidade Diego Portales, a
equipe está formada por Ana Vergara del Solar, Monica Peña Ochoa, Paulina Chavez
Ibarra, Patricia Castillo e Albana Paganini. Suas reuniões ocorrem formalmente uma vez
por mês, embora cerca de três vezes por semana as pesquisadoras se reúnam para almoçar
e discutir questões do grupo. São também realizadas reuniões entre pequenas equipes,
para a produção de artigos, depois compartilhadas por correio eletrônico, como refere
Peña Ochoa:
[...]“o que acham disto?”, “que opinam sobre este outro?”, “o que
acham desta entrevista?”, ou seja, são coisas que de alguma maneira
sempre estamos compartilhando, é um grupo que até agora funciona
de forma fluida. Sempre digo “até agora” porque na universidade
nunca se sabe (Entrevista com Monica Peña Ochoa, 09/04/15).
A entrevista sobre o grupo foi realizada com Monica Peña Ochoa, porém Vergara
del Solar e Chavez Ibarra complementaram informações durante suas entrevistas
individuais. Segundo Peña Ochoa, o grupo está em uma etapa de crescimento financeiro
e institucional, com a finalidade de legitimar sua participação no âmbito acadêmico,
formalizar programas de pós-graduação, ofertar mestrados, e publicar livros com seu
nome. A pesquisadora contou que a equipe já realizou grandes projetos com
financiamento do Fondo Nacional de Desarrollo Científico y Tecnológico
(FONDECYT) e, como acabaram de terminar um projeto, ainda possuem muito material
para publicação, porém estão em busca de financiamento.
O principal tema de trabalho do grupo está vinculado ao protagonismo da infância,
mas também desenvolve pesquisas sobre as crianças enquanto atores sociais, agência
política da infância, problemas para o protagonismo, produções das crianças durante a
infantil, ócio e consumo infantil, mortalidade infantil e proteção das crianças. Nos períodos que marcam a
ditadura, democracia e a sociedade até 2010, foram abordados: pobreza e marginalidade infantil; políticas
de proteção integral da infância; mudanças familiares; violência contra as crianças. Em estudos mais
recentes sobre as crianças indígenas: migração infantil; representações visuais das crianças e direito das
crianças.
142
ditadura, e sobre as relações familiares. Segundo Peña Ochoa, o tema central do grupo foi
definido, tendo em vista que “[…] as cinco compartilham uma posição, uma visão, das
crianças como agentes políticos, eu acredito que isso as cinco compartilham, e esta é
uma pergunta investigativa que sempre temos e que gira em torno de nós, não? A agência
política da infância” (Entrevista com Monica Peña Ochoa, 09/04/15).
O referencial teórico selecionado compreende pesquisadores dos estudos da
infância na Europa tais como James e James, Prout, Mayall, Alanen, Qvortrup,
Christensen, Punch. Da América Latina, trabalham com Giberti, Carli e Rojas. Utilizam
também Ariès, Fairclough e Van Dijk, Burman, Kubortrump, Mouffe e Laclau. Também
utilizam autores europeus e latino-americanos com enfoque psicanalítico. O grupo
articula-se com outras áreas que dialogam com as suas pesquisas, como a sociologia da
infância, a psicanálise, a história, a antropologia, a sociologia da juventude e a educação.
Em consonância com a informação prestada por Rojas, Peña Ochoa diz que “[...] eu
acredito que existam grupos mais fortes em termos de sociologia da juventude do que de
infância, mais coesos e de mais de longa data, mas também temos relações com eles, são
campos que, de alguma maneira, se encontram” (Entrevista com Monica Peña Ochoa,
09/04/15).
No que se refere às investigações em andamento, as integrantes pontuam que os
projetos estão aguardando a formalização do grupo na universidade, para poder solicitar
financiamento. A pesquisadora destaca que o objetivo do grupo é se dedicar à pesquisa,
e, dessa forma, tem discutido possibilidades de novas vertentes de trabalho que possam
trazer recursos para suas pesquisas, como, por exemplo, realizar projetos solicitados pelo
Estado.
Quanto às metodologias de pesquisa, o trabalho da equipe tem priorizado as de
natureza qualitativa, abordagem etnográfica, análise do discurso, e, como instrumentos
para pesquisas com crianças, recorrem às entrevistas, recursos visuais, jogos e outros que
surjam como possiblidades nos encontros do grupo. Conforme salienta Peña Ochoa, “[...]
acredito que, para nós, tenha sido um campo bem emergente, ou seja, são ideias que nos
vão ocorrendo com o tempo; eu acredito que, como grupo, e o fato de trabalhar com a
infância, te obriga e te leva a ser bem criativo na formulação de metodologia” (Entrevista
com Monica Peña Ochoa, 09/04/15).
O segundo grupo investigado tem caráter internacional e inclui pesquisadores de
diversas áreas como sociologia, psicologia, direito, trabalho social, jornalismo e educação
social. Liderado por Lourdes Gaitán Muñoz, destaca-se a participação de Iskra Pavez
143
Soto, que foi considerada no corpus desta pesquisa e traz discussões do campo da
sociologia da infância para suas produções no Chile.
Pavez Soto é professora da Universidade Bernardo O’Higgins e realizou seu
mestrado e doutorado na Espanha. Possui vínculo com o grupo de pesquisa liderado por
Gaitán Munõz, e colabora com projetos sobre a infância realizados pela Universidade
Autônoma de Barcelona. Tem ligação com pesquisadores dos estudos sociais da infância
na América do Sul, e, assim, considerou-se oportuno trazer a estrutura do grupo de
investigação de que ela participa, por pautar-se na sociologia da infância.
O Grupo de Sociología de la Infancia y la Adolescencia (GSIA) é formado pelos
seguintes pesquisadores: Danel Alberdi, Mario Andrés Candelas, Ana Bárcenas Viñas,
Victoriano Barrio Sierra, Armando Bello, Elisa Brey, Olivia de Cos Cuesta, Justina de
Pablo Arenales, Inés Domínguez Lloréns, Marta Domínguez Pérez, Myriam Fernández
Nevado, Heike Freire, Esther Freire de Dios, Lourdes Gaitán Muñoz, María José Gea
Fernández, Kepa Paul Larrañaga Martínez, Isabel López de la Usada, Iskra Pavez Soto,
Antonia Picornell Lucas, Concepción Portellano Pérez, Iván Rodríguez Pascual e Ricardo
Sandoval Villar. Os encontros são realizados mensalmente; Pavez Soto participa das
discussões por meio da internet e utiliza correio eletrônico semanalmente para resolver
questões relacionadas às produções do grupo. O formato das reuniões se define pela
coordenação e atribuição de tarefas para cumprir as demandas dos projetos que realizam
e para organização de eventos.
O objetivo do GSIA é discutir os direitos sociais das crianças, partindo do
embasamento teórico da sociologia e da sociologia da infância europeia. Os temas de
pesquisa se respaldam em questões como a ociosidade infantil, a vida das crianças nas
cidades, as crianças nos espaços públicos, políticas públicas para infância, proteção e
emancipação, migração infantil, imagens da infância, infância e trabalho, direitos das
crianças, pobreza infantil, infância e novas tecnologias, infância, cidadanias e meios de
comunicação, espaço social da infância, e estado de bem-estar das crianças.
Segundo Pavez Soto, o grupo foi criado em 2011, por profissionais de diversas
áreas, interessados na produção de conhecimento científico sobre a infância e em temas
voltados para o bem-estar e qualidade de vida das crianças. Por meio do conhecimento
144
sociológico, o grupo desenvolve suas produções orientadas na compreensão das crianças
como sujeitos de direitos e na promoção de possibilidades para participação infantil58.
58
As informações obtidas na entrevista com Iskra Pavez Soto foram complementadas por meio da consulta
na página online do GSIA: <http://grupodeinfancia.org/>.
145
como vozes autênticas, puras, quase que não são sociais ou vozes que
são necessariamente inovadoras quando não têm por que ser
necessariamente inovadoras, um discurso social pode ser muito
conservador, como costuma ocorrer, e a análise crítica sempre supõe
isso, uma mistura de lógicas mais inovadoras e lógicas mais
conservadoras (Entrevista com Ana Vergara, 06/04/15).
147
significados da televisão na vida cotidiana das crianças em Santiago, apontando como
isso interfere na construção de suas identidades e na relação com seus pais.
O interesse de Chavez Ibarra está nos discursos das crianças de diferentes níveis
socioeconômicos de Santiago e nas relações entre pais e filhos, de certo modo, a temática
do livro que prepara com Ana Vergara sobre as percepções das crianças acerca da infância
e das relações que estabelecem no meio familiar. A pesquisadora aponta seu interesse em
desenvolver uma linha de trabalho sobre participação infantil.
A autora considera a infância em seu trabalho como “[...] objeto de estudo ‘por
direito próprio’ e não simplesmente como uma variável a ser incluída nos estudos de
família, gênero, educação, ou políticas públicas” (Entrevista com Paulina Chavez Ibarra,
04/06/15). Refere-se a Childhood Studies59 e afirma que os aportes teóricos sustentam
suas discussões sobre infância enquanto categoria e instituição social, incorporando a
dimensão da agência, a participação e as perspectivas das crianças em suas pesquisas.
Para Chavez Ibarra não há como pensar nos estudos da infância sem articulação
com a fase adulta, pois essas categorias estão historicamente marcadas por relações
sociais e, nesse sentido, afirma que “[…] as categorias geracionais ‘adulto’ e ‘criança’
se articulam, são interdependentes e intrinsecamente relacionais (são constituintes de, e
constituídas por, na relação)” (Entrevista com Paulina Chavez Ibarra, 04/06/15). Ela
considera que seu grupo de pesquisas está fazendo um trabalho pioneiro no campo e que
a produção chilena é realizada por pesquisadores isolados e por temas específicos que não
focalizam a infância como temática central nas investigações. Para a pesquisadora, a
interlocução com pesquisadores latino-americanos coloca-se como fundamental para os
avanços dos estudos da infância no país.
A produção de Sylvia Contreras Salinas em conjunto com Mónica Ramírez
Pavelic60 revela o debate de temas como as relações entre a infância e o processo de
cidadania, a participação e as práticas infantis. As autoras realizaram pesquisas com
crianças para identificar como elas constroem o conceito de gênero, passando pela
literatura e pela escola rural; escreveram sobre a educação colonizadora; realizaram
investigação com meninos de setores rurais, revisando o conceito de gênero e
59
Maneira como Paulina Chavez Ibarra faz referência ao campo da sociologia da infância.
60
Sylvia Contreras Salinas foi a entrevistada, em Santiago, uma vez que Mónica Ramírez Pavelic estava
em Iquique, onde se localiza a Universidade Arturo Prat, na qual trabalha.
148
masculinidade construído por eles, as crenças sobre ser homem e mulher na sociedade e
como essas construções são representadas em seus discursos.
A leitura de seus trabalhos indica a influência de aporte teórico de Eduardo
Bustelo61 e de Gaitan Muñoz, autores que publicam em língua espanhola e não em inglês,
como a maior parte dos pesquisadores do campo da sociologia da infância. Contreras
Salinas considera que a infância não é seu tema principal de estudo, mas está relacionado
aos grupos que foram invisibilizados pela sociedade e sujeitos à imposição da dominação
adulta. Nessa direção, ela destaca que, em sua produção, as crianças são sujeitos de
direitos, que têm condições de participar dos âmbitos sociais em que estão inseridas. Esta
visão prevalece na escolha da metodologia para a realização de suas pesquisas, constituída
por discussões em grupos, desenhos, entrevistas em profundidade e mapas mentais.
A pesquisadora afirma que seu interesse pelos estudos da infância ocorre no
sentido de fortalecer as possibilidades metodológicas de pesquisa com crianças e
problematizar a forma como os adultos apresentam as vozes das crianças em seus
trabalhos, além de apontar a necessidade da interpretação das crianças:
[…] negociar, faço uma negociação com eles, das interpretações que
faço de seus próprios discursos, é o que fazem... se eu me junto a um
adulto e lhe mostro a minha interpretação do que ele indicou e me diz:
‘sim, estou de acordo’, ‘não, não estou de acordo’, mas como fazer isso
que com as meninas e com os meninos? Para o que o adulto diga como
resultado da investigação, que as crianças possam validá-los, acredito
que nos falta avançar, em termos de como pensar esse aspecto
metodológico e como pensar que seja um truque construtivo, uma
construção de ambos, de uma autoridade compartilhada e que o autor
não seja o adulto, porque senão seremos super inconsistentes e
incoerentes (Entrevista com Sylvia Contreras Salinas, 08/04/15).
61
Sociólogo argentino falecido em 2014. Era presidente do Fórum Parlamentar da Criança da Argentina,
foi o fundador e primeiro representante (1989 - 1993) do escritório da UNICEF no país. Consultor de
Desenvolvimento Humano para o Escritório Regional da UNICEF para América Latina e Caribe entre 1993
e 1997. Publicou El recreo de la infancia (Siglo XXI, 2007), livro no qual aborda a questão da pobreza e
como isso afeta as crianças a partir do universo simbólico e da formação de subjetividade da criança, bem
como o papel da indústria cultural nesse processo e o papel do Estado e da sociedade na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes.
149
Para finalizar, no que diz respeito às produções de Iskra Pavez Soto, percebe-se a
presença da sociologia da infância em seus textos e a existência de três linhas
investigativas em suas publicações: uma que se refere à infância e o protagonismo
infantil; a segunda sobre a questão geracional, focalizando discussões em gênero e nos
estudos feministas; e a terceira sobre grupos migrantes no Chile. As linhas determinam
sua produção: infância migrante no Chile; direito das crianças peruanas que vivem no
Chile; crianças migrantes do Peru; significados sobre ser criança migrante; mudanças
familiares; relação geracional; pobreza; condição de vida das crianças; divisão sexual do
trabalho das crianças; sociologia da infância; crianças como atores sociais; perspectiva
das crianças sobre a migração; participação infantil; imigração infantil e racismo;
experiências das crianças; e infância chilena. Pretende publicar um livro sobre infância
trabalhadora e, atualmente, tem trabalhado com a violência sexual contra as meninas. Ela
afirma que, como metodologia, sempre faz intervenções ou observações em suas
investigações, com entrevistas em grupo e individuais, jogo de ideias, mapa falante, e
desenhos.
Sobre a influência da sociologia da infância em seus trabalhos, acredita que o
campo europeu, principalmente no que se refere às obras de Mayall e Alanen, tem
contribuído para discutir as questões de gênero. Sobre autores latino-americanos, tem
trabalhado com Cussiánovich, Unda, Vásquez e Vergara. Nas suas produções também
foram encontrados autores como Frønes; Gaitán Muñoz; James; Prout; Jenks; Qvortrup;
Corsaro; Honig e Liebel. Reconhece a contribuição do campo da sociologia da infância
para os estudos das crianças e acrescenta que
150
entrevista, falta organização. De acordo com Pavez Soto, existem pesquisadores
trabalhando nessa perspectiva, mas que não se encontram, não se conectam; mesmo as
pesquisadoras que estão na mesma cidade alegam não conhecer o trabalho que outras
desenvolvem.
151
CAPÍTULO 4 - ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES
152
Como corpus da investigação, foram consideradas as produções encontradas nas
etapas descritas no capítulo 2 (percurso metodológico), por meio de buscas na internet e
em bibliotecas de universidades por: produções relacionadas ao campo dos estudos
sociais da infância; produções dos autores encontrados em cada um dos países; artigos e
capítulos de livros obtidos a partir das visitas aos países. A complementação dessas
buscas ocorreu com o envio de artigos e de demais produções pelos próprios autores, por
correio eletrônico.
As publicações examinadas seguiam os seguintes critérios: relacionavam-se ao
novo paradigma da infância (JAMES; PROUT, 1990); seu(sua) autor(a) deveria ter
publicado ao menos três textos sobre a infância; sua publicação deveria ter ocorrido entre
os anos 2000 e 2013. Ao final do processo, foram apreciadas 61 produções da Argentina
e 32 do Chile.
Para sua avaliação nos termos da pesquisa, foi escolhida a análise de conteúdo,
técnica de investigação sociológica que consiste em descrever objetiva, sistemática e
quantitativamente um conteúdo manifesto ou latente das comunicações (BERELSON,
1952; LÓPEZ-ARANGUREN, 1986). A análise de conteúdo é marcada pelo exercício da
leitura pela exaustividade, para classificar e/ou codificar os elementos de um texto, além
de possibilitar generalizações (GÓMEZ MENDOZA, 2000; PORTA E SILVA, 2003).
Neste trabalho, a análise de conteúdo também colabora para a compreensão das
informações diretas e indiretas do texto, que representam e expressam o que o autor quer
dizer com suas produções (ANDRÉU ABELA, 2000). Dessa maneira, os dados podem
ser compreendidos dentro de um contexto que contém significados sobre o que dizem os
textos, os quais são fundamentais para a análise dos estudos e produções da infância nos
países escolhidos.
A seguir serão apresentadas as etapas desenvolvidas para a realização desta
análise.
153
temas (consagrados) e os conceitos (pautados no paradigma da infância) no conteúdo das
produções.
O primeiro passo, segundo Andréu Abela (2000) e Porta e Silva (2003), trata da
definição dos objetivos, universo e documentos, os quais já foram descritos no capítulo 2
e revisitados para clarificar as buscas na ocasião de leitura e releitura dos textos.
Assim, os primeiros esforços foram dedicados à leitura e releitura repetida de
todas as produções que compõem o corpus da investigação, tendo como objetivo
estabelecer a frequência do aparecimento dos elementos do texto, quantificar os dados e
fazer comparações, para que fosse possível organizar categorias analíticas, identificando
e descrevendo suas particularidades (LANDRY, 1992).
O passo seguinte foi a realização da leitura, pontuando as informações manifestas
e latentes dos textos (GÓMEZ MENDOZA, 2000; LANDRY,1992; LÓPEZ-
ARANGUREN, 1986), de maneira a identificar os conceitos do campo da sociologia da
infância escritos explicitamente e os que estavam implícitos, o que demandou a
interpretação do que foi dito pelos autores, para compreensão do sentido e registro dos
conceitos.
Na sequência, procedeu-se ao conhecimento do contexto dos dados (LÓPEZ-
ARANGUREN, 1986), ou seja, clarificaram-se os os fatores que os rodeiam e que os
envolvem. Nesta pesquisa, foram considerados os contextos político, econômico e social
dos países investigados, para compreender os motivos da predominância de alguns temas
em determinados períodos históricos e o esforço dos investigadores para se dedicarem a
esses problemas ou temas de investigação.
Depois de ler atentamente, várias vezes, os textos, foi possível obter familiaridade
com os temas que apareciam com mais frequência, pontuar impressões, identificar ou
recusar hipóteses, de forma a delinear as categorias para análise. Este momento é
chamado, por autores como Bardin (1977) e L’Écuyer (1985), de “leitura flotante”, sendo
essencial para organizar o material e adquirir uma visão panorâmica do corpus que se
pretende analisar.
A etapa seguinte consistiu na preparação de tudo o que havia sido lido, para
determinar o sistema de codificação, que, segundo Holsti (1969), se refere ao processo
pelo qual os dados são transformados em unidades de análise, para descrever as
características do conteúdo. Essa etapa foi desenvolvida por meio de tabelas, elaboradas
nos programas Word e Excel, que continham o mapeamento dos textos, organizados por
154
país, autor, tema, conceitos da sociologia, conceitos dos estudos sociais da infância e
sobre os contextos.
Essa organização permitiu realizar o que Bardin (1996) denomina “enumeração e
regras de reconto”, cuja finalidade é buscar presença, frequência ponderada, intensidade,
direção, ordem e contingência dos elementos presentes no texto. Assim, com a disposição
das tabelas organizadas em Word e Excel, foi possível começar a delinear, por meio de
leituras consecutivas, os agrupamentos e as possíveis classificações. Esse processo
também é conhecido como registro (LÓPEZ-ARANGUREN, 1986) por agrupar, reunir e
descrever os dados de forma analisável.
A partir desse momento, foram realizadas diversas preparações e organizações
dos dados, com a finalidade de buscar unidades de significação que pudessem ser
classificadas e codificadas. Esse foi o processo mais trabalhoso, pois mesmo lendo o
mapeamento repetidas vezes e refletindo sobre ele, a quantidade e a diversidade de
elementos presentes nos textos não permitiam a realização dos agrupamentos. Esta etapa,
que López-Aranguren (1986) pontua como a mais complexa, é geralmente a mais difícil,
pois não existem regras fixas para orientar o estabelecimento de categorias, o que
demanda um exercício reflexivo, por meio de inúmeras revisões do material.
Para a definição das unidades de análise foram observadas as semelhanças entre
os textos, contextos, temas e conceitos, de maneira indutiva, a partir das aproximações
entre os dados analisados, tendo como base o novo paradigma da infância (JAMES;
PROUT, 1990), e da interpretação e enumeração do conteúdo dos textos que determina a
elaboração dos temas consagrados (BOURDIEU, 2004, 2008).
Em seguida, definiram-se as categorias nas quais foram agrupados e classificados
os elementos dos textos pelos critérios anteriormente estabelecidos (BARDIN, 1996;
LÓPEZ-ARANGUREN, 1986). De acordo com esses autores, as categorias se
desenvolvem para solucionar as questões propostas para a investigação e para que se
possa compreender o problema investigado.
Para examinar os textos, foram elaborados manuais com as categorias de análise
que orientaram a pesquisa, de forma a estabelecer unidades de análise, cujo objetivo era
compreender os conteúdos das produções da Argentina e do Chile, países selecionados
para o aprofundamento das análises no contexto da América do Sul, e efetuar o
cruzamento dos dados de ambos, de modo a obter um panorama que permitisse interpretar
a configuração do campo nesses países. A elaboração desses manuais foi inspirada nas
155
obras de Prado (2009, 2014) e na leitura flotante das publicações consideradas no corpus
deste trabalho. A síntese dessas categorias e das unidades de análise apresenta-se a seguir:
156
produções relacionadas ao campo, considerando as informações categorizadas na
Argentina e no Chile.
4.3. RESULTADOS
157
Gráfico 4: Distribuição das produções relacionadas ao campo na Argentina.
14
12
10
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Ciências Antropologia Educação Psicologia Direito História
Sociais
158
organizado para atestar a distribuição das publicações por área de conhecimento, durante
o recorte temporal proposto pela pesquisa.
8 Educação
6 Direito
4 História
2 Psicologia
0 Ciências
Sociais
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
159
MERKLEN, 2005; RUBIATTI, 2014), entre outros fatores que farão com que as crianças
tenham menor acesso ao exercício de seus direitos (CAMPOS, 2012).
Segundo Carli (2010) e Llobet (2011), as mudanças na estrutura social na
Argentina promoveram modificações nas relações geracionais, em paralelo a uma crise
de autoridade na família, na escola e na sociedade, questão que produziu aumento da
violência física e sexual contra as crianças, crescimento do trabalho infantil e aumento do
número de crianças em situação de rua (LENTA, 2013; LITICHEVER, 2009).
O discurso sobre a infância pobre e, principalmente, sobre crianças em situação
de rua evidenciou este perigo e, ao mesmo tempo, configurou a figura do menor como
perigoso e delinquente, demandando ações e intervenções estatais para a sua tutela
(GENTILE, 2011b; LENTA, 2013; LITICHEVER; MAGISTRIS, 2013; LLOBET,
2013b).
160
a partir da adesão argentina, em 1990, à Convenção Internacional dos
Direitos das Crianças, e de sua incorporação na Reforma Constitucional
de 1994 - penetrou no discurso político posto na ações dos governos a
anunciação das necessidades e obrigações do Estado em relação à
infância (CARLI, 2010, p.369).
161
discurso de ao menos duas vozes: as instituições que, dirigidas à
infância formam parte do mundo adulto; e a voz das próprias crianças
e adolescentes. Mas isso apresenta o desafio [...] de recuperar a ideia de
que a voz se constrói em contextos institucionais, relacionais, e
interacionais, que como tais são inerentemente conflitivas (LLOBET,
2011a., p.14).
62
De acordo com a descrição feita no capítulo 2 da metodologia, as autoras selecionadas foram: Gentile,
Llobet, Litichever, Macri, Milsten, Padawer, Szulc.
162
Gráfico 7: Distribuição dos temas consagrados na Argentina.
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
163
disciplinas que se ocuparam da infância, e a elaboração de políticas públicas e programas
sociais na Argentina durante o período.
De acordo com seus textos, contudo, o surgimento de debates sobre os direitos
das crianças, a perspectiva de considerar as suas vozes, entendê-las como atores sociais e
promover sua participação social, provocaram mudanças nos processos investigativos, os
quais levantam tópicos e temáticas para repensar as relações geracionais e estipular um
espaço próprio, no campo dos estudos da infância, para visibilizar as crianças.
Igualmente, estão presente esforços das investigadoras para mudar conceitos
historicamente construídos sobre a infância, considerando-a como construção social e
parte da estrutura social, e reconhecendo as crianças como interlocutoras competentes
para as investigações científicas.
As crianças envolvidas nas investigações tinham entre 7 e 17 anos de idade, mas
a maior parte dos textos não especifica sua idade, sendo que apenas algumas publicações
as descrevem e caracterizam.
Os textos focalizam principalmente crianças e adolescentes à margem, ou seja,
crianças trabalhadoras, em situação de rua, em extrema pobreza e risco. São encontradas
também publicações sobre as crianças indígenas, as crianças na escola, e estudos sobre
gênero e idade.
A prioridade das produções relacionadas às crianças em situação de
vulnerabilidade impacta na regularidade dos conceitos sociológicos influenciados pelo
debate, pois, como se observa na tabela a seguir, agência (65,5%), políticas para infância
(36%), crianças trabalhadoras (50,8%), participação infantil (47,5%), crianças em
situação de rua (47,5%), direitos (45,9%), institucionalização da infância (40,9%),
desenvolvimento (40,9%), e ator social (39,3%) aparecem com maior frequência nas
produções analisadas.
164
Quadro 35: Conceitos relacionados ao campo da sociologia da infância nas produções da
Argentina.
Adultocentrismo 7
Agência 40
Ator social 24
Bem-estar 8
CDC 18
Cidadania 13
Competência 7
Construção social 17
Criança 39
Criança focalizada nas pesquisas/pesquisas com
crianças 30
Crianças como pesquisadoras 6
Crianças de rua 29
Cultura Infantil 3
Delinquência 17
Desenvolvimentismo 25
Direitos 28
Escolarização e escolas 10
Estudos da infância 45
Estrutura Social 3
Etnia 21
Gênero 15
Geração 21
Grupo de pares 12
Grupo minoritário 4
Idade e maturidade 11
Infância 43
Institucionalização da infância 25
Jogo 4
Menoridade 18
Necessidades 11
Participação 29
Pobreza 12
Políticas culturais da infância 35
Ponto de vista das crianças 23
Protagonismo 7
Proteção 22
Socialização 14
Trabalho e crianças trabalhadoras 31
Vozes das crianças 29
Vulnerabilidade 18
165
Em relação aos conceitos da sociologia, os textos apontam a questão do controle
sobre as crianças como um fator presente nas políticas públicas, principalmente pela
implantação de programas institucionais que visam atender crianças em situação de risco.
Nota-se a influência de políticas neoliberais intervindo na vida das crianças, pois
com o aumento da desigualdade social, as políticas de inclusão pretendem retirá-las da
rua e da marginalidade, oferecendo assistência em instituições de proteção integral.
Além disso, a produção da época destaca as relações geracionais estabelecidas,
começando a questionar as relações de poder. Dessa forma, demanda maior participação
das crianças nas investigações e valoriza sua agência social. A seguir, verifica-se a
frequência dos conceitos sociológicos nas produções:
Assistência 2
Campo científico 5
Capitalismo 3
Classe social 6
Controle 11
Democracia 3
Desigualdade 7
Disciplina 15
Divisão social do trabalho 10
Dominação 16
Estereótipo 8
Estudos Feministas 3
Exclusão Social 7
Globalização 9
Inclusão social 6
Neoliberalismo 8
Norma 14
Ordem social 7
Relações de poder 8
Violência 14
166
4.3.1.1. OS TEMAS CONSAGRADOS
INVESTIGAÇÕES
SOCIOANTROPÓLOGICAS SOBRE
INFÂNCIA 25 40,98%
Investigações sobre infância na antropologia 11 18,03%
Investigações com as crianças 8 13,11%
Investigações sobre infância em ciências sociais 6 9,84%
167
Importante dizer que os temas consagrados foram localizados pelas frequências
dos temas por ano, ou seja, em um mesmo ano, poderia haver mais de um tema, e por isso
não foram incluídos no manual de análise, pois este possui códigos padrão para realizar
a análise dos conteúdos, de forma a serem encontrados os indicativos da configuração do
campo nos países. Optou-se, assim, por realizar a frequência, o agrupamento e a
porcentagem dos temas consagrados de forma separada para cada país, tendo em vista,
ainda, que eles estão relacionados ao cenário social, político e econômico da Argentina e
do Chile, o que torna, uma vez mais, inviável contabilizá-los pelos mesmos códigos no
manual de análise elaborado para esta pesquisa.
A seguir será exposta a análise de cada um dos temas.
Neste item foi possível identificar, nas publicações, os avanços dos estudos da
infância na Argentina numa perspectiva socioantropológica. Para melhor compreensão
da abrangência dessas publicações, elas foram separadas em duas perspectivas de análise:
a primeira se refere à configuração do campo dos estudos sociais da infância no país, e a
segunda diz respeito ao desenvolvimento de pesquisas com crianças.
Sobre o primeiro aspecto, cabe mencionar: (1) as publicações que discutem as
disciplinas que tradicionalmente se ocuparam da infância na Argentina (GENTILE,
2008b, 2010, 2012a; GENTILE; MEDAN; LLOBET, 2013; LLOBET, 2010, 2011b,
2012b, 2013c; MILSTEIN, 2008; PADAWER, 2010d; SZULC; COHN, 2012; SZULC
et al, 2012); (2) que apontam a construção da imagem da infância por meio de ‘rótulos’ e
discursos que configuraram a infância no âmbito acadêmico e na relação Estado-Infância
(GENTILE, 2011b; LLOBET, 2009, 2011a, 2013a, 2013b; LLOBET; LITICHEVER;
MAGISTRIS, 2012; MACRI; FORD; BERLINER, 2005; PADAWER, 2010b; SZULC,
2006); (3) que discorrem sobre a instituição do campo científico para estudar as crianças
e a infância a partir de uma perspectiva social e antropológica (LLOBET, 2011a, 2012a;
MILSTEIN, 2010b; SZULC, 2008a; SZULC; COHN, 2012; SZULC et al, 2009, 2012);
(4) que apresentam as disputas sobre a legitimidade para falar sobre a infância
(GENTILE, 2008b, 2011a, 2012; LITICHEVER; MAGISTRIS, 2013; LLOBET, 2010,
2011b, 2013a, 2013b; MACRI, 2005; PADAWER, 2010b, 2010d; SZULC, 2012); (5) as
abordagens/temáticas das pesquisas (LLOBET, 2011b; SZULC; COHN, 2012); e (6) as
168
demais contribuições que permitiram dar visibilidade ao grupo tradicionalmente
marginalizado nesses campos.
As produções indicam que, até o final dos anos 1990, o campo que
predominantemente se ocupou da infância foi a psicologia, desenvolvendo uma
concepção universal, naturalizada e normativa da infância, na qual as crianças são vistas
em espera, ou seja, a infância como tempo de preparação para a vida adulta, que
influenciou a formulação de programas, as políticas e demais ações voltadas para elas na
sociedade. Essa concepção reforçou a dependência e a visão de incompletude e
incapacidade das crianças, que foram submetidas a um processo de institucionalização
hegemônico, por meio de políticas de assistência, prevenção e proteção.
Cabe dizer que os estudos também estiveram pautados em inspirações
culturalistas sob o discurso da cidadania, e em inspirações foucaultianas, que focalizam
mecanismos geradores de práticas de controle social. Dessa maneira, o paradigma da
normalização foi responsável pela criação de estereótipos e controles simbólicos sobre a
infância.
Com a ratificação da CDC e a mudança do paradigma da infância, que concebe as
crianças como sujeitos de direitos, as autoras (GENTILE, 2010; GENTILE; MEDAN;
LLOBET, 2013; LLOBET, 2011a, 2011b, 2012a; MILSTEIN, 2008, 2010a; SZULC;
COHN, 2012; SZULC, 2008a, 2008b) destacam que houve uma aproximação de diversos
campos do conhecimento, na Argentina, para dialogar sobre a infância a partir de uma
perspectiva social, que concentrou pesquisadores das ciências sociais, da psicologia
social, da comunicação, do direito, da história, da educação, da antropologia, entre outros,
para compor o campo dos estudos da infância no país.
Segundo Llobet (2011b), o campo dos estudos da infância na Argentina é um
espaço complexo e caracterizado por uma abordagem interdisciplinar, que “pretende
articular múltiplos recortes, perspectivas teórico-epistemológicas de difícil reunião, e de
tradições investigativas diversas” (p.2). Além disso, aponta que a infância ocupa um
espaço multifocal nas investigações científicas.
As publicações, então, começaram a centrar-se em temas como a revisão do
discurso de institucionalização da infância; as problemáticas advindas da exclusão social;
as contribuições e modificações de implementações políticas pós CDC; o paradigma da
proteção integral e os direitos das crianças; as trajetórias institucionais de crianças sem
amparo familiar; as contribuições da sociologia e da antropologia para os estudos da
infância, e a participação das crianças em pesquisas científicas.
169
Assim, entre os anos 2000 e 2006, as publicações ressaltam temáticas como
crianças em situação de rua, políticas sociais para infância, trabalho infantil e problemas
sociais relacionados à infância, numa perspectiva crítica aos aportes da teoria de
socialização e da psicologia do desenvolvimento.
No período de 2007 a 2010, as produções apresentam maior preocupação com o
campo dos estudos da infância a partir da ótica da sociologia e, de forma mais frequente,
sob a perspectiva da antropologia, englobando temas como infância indígena, experiência
infantil, trajetórias institucionais das crianças em situação de rua, direitos das crianças,
inclusão social das crianças, participação infantil e antropologia da infância.
Nos anos de 2011 a 2013 é notório o aumento das publicações que discutem a
investigação científica com a participação das crianças, a ética na pesquisa com crianças,
as crianças como copesquisadoras e coautoras, os grupos de pares, os direitos das
crianças, as políticas sociais para a infância sob a perspectiva dos direitos, os pontos de
vista das crianças sobre a situação de rua e o trabalho infantil, o mapeamento dos estudos
sociais e antropológicos da infância na Argentina, as narrativas de crianças na etnografia,
as metodologias de pesquisa com crianças e a sociologia da infância.
Constatam-se, também, os debates sobre a geografia da infância, a influência dos
aspectos sociodemográficos e culturais para conhecimento da infância, as implicações
dos estudos feministas para os estudos da infância, a constituição de um campo
interdisciplinar para pensar teórica e metodologicamente as crianças e a infância no
âmbito social.
Para o fortalecimento do campo dos estudos sociais da infância na Argentina,
nota-se grande contribuição da abordagem etnográfica e da antropologia da educação nas
investigações com as crianças, visando retratar a perspectiva das crianças como atores
sociais, descrever suas trajetórias institucionais, mapear as experiências formativas das
crianças (indígenas), examinar práticas escolares, e compreender a vida das crianças.
Algumas autoras (PADAWER, 2010d; SZULC, 2008a, 2013; SZULC; COHN, 2012)
referem-se à necessidade de investigar a pluralidade de infâncias na Argentina, indicando
as diversas maneiras como as crianças vivem a infância, o que demanda compreender os
contextos culturais em que estão inseridas, assim como os aspectos demográficos,
políticos e econômicos.
É nessa linha que se inicia a segunda abordagem da análise, as pesquisas com
crianças, cujas produções indicam os cuidados com os processos de investigação
(GENTILE; MEDAN; LLOBET, 2013; MILSTEIN, 2010a; SZULC, 2008; SZULC et al,
170
2009, 2012); a postura e a posição do investigador (GENTILE; MEDAN; LLOBET,
2013; MILSTEIN et al, 2011; SZULC et al, 2012); a ética para realizar a investigação,
bem como para escrita e publicação (LLOBET, 2011b; MILSTEIN 2008, 2010a, 2010b;
SZULC et al, 2012); o processo de ir a campo com as crianças (GENTILE, 2010;
GENTILE; MEDAN; LLOBET, 2013; SZULC et al, 2009); as crianças como
informantes etnográficos (PADAWER 2010c, 2010d; SZULC, 2008a, SZULC et al,
2009); a competência das crianças (LLOBET 2006, 2012b); a perspectiva das crianças
(GENTILE, 2010, 2011b, 2012; LLOBET, 2006, 2009; MACRI, 2013; PADAWER,
2008; SZULC; COHN, 2012; SZULC, 2008b); a escrita com as crianças (MILSTEIN
2006, 2008, 2010a, 2010b); as negociações, a participação nas etapas de pesquisa, as
relações geracionais (GENTILE, 2008, 2011b, 2012; LLOBET, 2006, 2009, 2012, 2013a;
MACRI, 2013; MILSTEIN, 2010b; PADAWER, 2009, 2010b, 2010c; SZULC, 2008a,
2013); a agência das crianças (GENTILE, 2008, 2011b; LLOBET, 2006, 2010a, 2011b,
2012b, 2013c; MACRI, 2013; MACRI; UHART, 2012; MILSTEIN, 2010a, 2010b;
PADAWER, 2008); as discussões em torno do adultocentrismo, as relações de poder e a
proteção (GENTILE, 2011b; LLOBET, 2006, 2010a, 2011b; MACRI, 2013; SZULC,
2006, 2008b).
Nesta segunda perspectiva, as produções posicionam-se contra o conceito
tradicional de socialização, formulado pelo campo da sociologia, no qual as crianças são
receptoras passivas de um agente socializador, que é o adulto. Nota-se, nas discussões
dos trabalhos, que a agência das crianças é destacada a todo momento como fundamental
para o processo de pesquisa, ou seja, os textos apontam as crianças como importantes
para a reprodução cultural (MILSTEIN, 2006; PADAWER et al, 2009; PADAWER;
ENRIZ, 2009; PADAWER, 2010b, 2010c, 2010d, 2011; SZULC, 2012; 2013), e
ressaltam a necessidade da criação de relações horizontais entre adultos e crianças
(HECHT; SZULC, 2006; MILSTEIN, 2010a; SZULC, 2006; SZULC et al, 2012)
revisitando as relações intergeneracionais (LLOBET, 2011b).
Pensar nos estudos sociais da infância nesta perspectiva supõe considerar a
perspectiva relacional para o desenvolvimento dos estudos no campo, examinando as
relações das crianças estabelecidas com os adultos. Conforme Szulc (2008), falar das
crianças de uma forma isolada seria um erro, pois não se deve negar sua vinculação com
os outros grupos etários, uma vez que a infância é um produto sócio-histórico decorrente
de um processo relacionado a contextos complexos, imprecisos e heterogêneos nas
distintas sociedades (LLOBET, 2011a; MILSTEN, 2008; SZULC, 2006).
171
Outro forte indicativo nas produções é a utilização da etnografia com crianças,
principalmente com as indígenas. As produções das autoras (PADAWER et al, 2009;
PADAWER, ENRIZ, 2009; PADAWER, 2010b, 2010c, 2010d, 2011; SZULC et al,
2009; SZULC, 2008a, 2011b, 2012, 2013, 2013) indicam elementos da antropologia,
ressaltando as contribuições teóricas e metodológicas deste campo para estudar a infância.
Assim como as publicações de Szulc (2008b, 2008c, 2011, 2011b, 2012, 2013) apontam
a etnografia como essencial para compreender a aprendizagem entre pares e a agência das
crianças indígenas como ativas no processo de construção de identidade, as de Padawer
(2010a, 2010b, 2010c, 2010d, 2011) pontuam a importância da antropologia para
compreender a participação das crianças indígenas no processo de apropriação da cultura,
e as de Milstein (2006, 2008, 2009, 2010a, 2010b) ressaltam as contribuições etnográficas
e antropológicas para o estudo do âmbito escolar, trabalhando com as crianças como
coprodutoras e coautoras das investigações.
Nesse sentido, os textos afirmam que as crianças são importantes informantes de
investigação, além de interlocutoras competentes, que articulam de diversas maneiras a
apresentação sobre si mesmas, sobre suas relações e frente aos diversos aspectos em que
convivem diariamente. Destaca-se, entretanto, a necessidade de repensar as condições
estruturais em que estão inseridas estas crianças, e que favorecem ou limitam sua agência
(SZULC, 2006, 2008a; SZULC; COHN, 2012).
Em relação às metodologias de pesquisa, as autoras indicam que, para além dos
aportes da etnografia, a busca por novas estratégias de investigação, pautadas nas diversas
disciplinas, tendem a contribuir para este aspecto, assim como a possibilidade de construí-
las com as crianças.
Cabe mencionar o desafio metodológico lembrado pelas autoras (LLOBET,
2011b; SZULC et al, 2009) sobre a ilusão de dar ‘voz’ para as crianças nas investigações
científicas, pois a incorporação de suas falas implica em contextualizar suas experiências
e discursos. Sobre as discussões que fazem uso dessa voz como expressão para ilustrar o
texto, estas estão, na verdade, desrespeitando as crianças como interlocutoras
etnográficas, não as considerando, de fato, no meio acadêmico. Além disso, o desafio se
coloca em efetivar a voz das crianças por meio de práticas sociais, com sua participação
ativa, voltada para a cidadania.
Dentre as técnicas de pesquisa frequentemente mencionadas, destacam-se:
observação participante, entrevistas, produção de materiais para conduzir as entrevistas,
desenhos, diagramas, textos escritos, jogos, materiais audiovisuais, narrativas (orais,
172
imagéticas, escritas), grupos de colaboração, crianças como entrevistadoras, produção de
textos coletivos, registros fotográficos, filmagens, conversas grupais, notas de campo,
crianças como interlocutoras, pesquisadoras e escritoras (MILSTEN, 2006, 2008, 2010a,
2010b; MILSTEIN et al, 2011; SZULC et al, 2012), as quais facilitam o levantamento
das práticas e representações dos contextos que constituem a infância, assim como
proporcionam a compreensão da percepção e interpretação das crianças sobre o mundo
social e os modos de vida por elas experimentados e vivenciados.
Sobre a proteção, as produções indicam que a principal dificuldade em realizar
pesquisas com as crianças refere-se ao consentimento, sendo que a autorização
geralmente é obtida junto às famílias ou instituições responsáveis pelas crianças. As
questões éticas são a todo o tempo relembradas como questões presentes para refletir e
garantir que as crianças não sofram com o impacto das investigações científicas.
A prática reflexiva se coloca como um exercício para objetivar as condições das
produções científicas, principalmente para não dispor as crianças em uma posição
subordinada, de forma a pensar se a autorização dos adultos se faz suficiente para
divulgação, e se os modos de usar o material coletado valorizam as contribuições e
colocações das crianças em todo processo de investigação e produção acadêmica.
A abordagem deste tema nas produções das autoras, por um lado, permite
compreender as discussões conceituais e ideológicas que definiram as estratégias e a
implementação de políticas dirigidas à infância e, por outro, anuncia que há um longo
caminho a se percorrer para efetivação dos direitos das crianças na Argentina.
As produções também evidenciam problemáticas relacionadas à infância e aos
enfoques políticos dos últimos anos, formulados a partir de duas representações distintas
sobre as crianças e a infância: a menoridade e a criança como sujeito pleno de direitos.
São estas que constituem as análises na abordagem deste tema.
Em relação à primeira representação, a menoridade, esta compõe as discussões
sobre a percepção da infância, principalmente nos anos 1980, e refere as crianças em
termos de desenvolvimento, veiculando a formulação de políticas tuteladas e assistidas
pelo Estado, num modelo paternalista.
Os fenômenos sociais ocorridos na Argentina no início da década de 1990, a
fragilidade do Estado, a abertura financeira e a fragilidade econômica apontam o aumento
173
da desigualdade e dos níveis de pobreza no país. Nesse contexto, as crianças em situação
de rua (GENTILE, 2007; LITICHEVER, 2009, 2012; LLOBET, 2009) se tornaram um
fenômeno preocupante para a segurança das cidades, ao lado de outros problemas que
foram se agravando no país, como a exploração do trabalho infantil, o abuso sexual, as
crianças em situação de vulnerabilidade, expostas à violência e aos maus-tratos, o tráfico
de crianças, dentre outros, que configuraram a emergência de políticas assistenciais,
institucionais e paternalistas voltadas para a infância (GENTILE, 2008b; LITICHEVER,
2009; LLOBET, 2011a, 2013; LLOBET; LITICHEVER, 2008; MACRI, 2006).
As autoras (GENTILE, 2010; LLOBET; LITICHEVER, MAGISTRIS, 2012;
LLOBET, 2010, 2011a, 2011b) ressaltam que a teoria sobre o desenvolvimento humano,
o conceito de criança universal e a criança como devir influenciaram na elaboração e
desenvolvimento da Doutrina de Situação Irregular do Menor, segundo a qual as crianças
são vistas como objeto do Estado, de acordo com a Lei do Patronato de Menores de 1919,
que se refere à necessidade da elaboração de sistemas tutelares para crianças e
adolescentes
Nesta linha, os discursos políticos indicavam a emergência do controle da
infância, o que reforçou a dependência das crianças, e resultou em uma série de
implicações para a vida das que não tinham amparo familiar, com o estabelecimento de
instituições para lidar com os menores em “risco moral e material” (LLOBET, 2011b,
p.5), assim como para elaborar políticas tutelares preventivas e punitivas para as crianças
consideradas “perigosas” para a sociedade.
As análises dos textos (GENTILE, 2008b, 2010; LLOBET, 2006, 2009, 2010,
2011a, 2013c; SZULC, 2006, 2008a, 2013) permitem compreender a influência do campo
da psicologia na elaboração de ações políticas voltadas à menoridade e indicam a
predominância do discurso orientado a práticas institucionais e estratégias de intervenção
como dispositivos para o governo da infância (LLOBET, 2011a, 2013a, 2013b). Tais
ações expressam relações de dominação, numa perspectiva geracional, e invisibilizam a
agência das crianças, colocadas em uma situação de marginalidade e frente a situações
desiguais de poder.
Sob a segunda representação, a criança como sujeito pleno de direitos, estão as
políticas elaboradas após a ratificação da CDC na Argentina, em 1990, que estabelece a
Doutrina de Proteção Integral dos Direitos das Crianças e Adolescentes, considerando
todas as crianças como sujeitos de direitos, com destaque para a proteção, provisão e
participação na sociedade. Nessa representação, é reconhecido o direito das crianças de
174
se expressarem, de serem escutadas, de participarem ativamente no âmbito social,
contrariamente à visão da política anterior, que as considerava objetos passivos de
assistência e tutela.
Nesta ótica, observa-se um aumento das publicações, principalmente entre os anos
de 2006 e 2013, nas quais se destacam investigações preocupadas em analisar as
propostas de gestão no país, o desenvolvimento de políticas para a infância sob o enfoque
dos direitos. Os textos enfatizam demandas para a elaboração de uma agenda política
voltada à garantia dos direitos das crianças e adolescentes.
As autoras (LITICHEVER; MAGISTRIS, 2013; LLOBET, 2013a, 2013b;
LLOBET; LITICHEVER; MAGISTRIS, 2012) notam que essas estratégias políticas
expressam os modos pelos quais se reproduzem as diferenças sociais e as relações de
dominação, principalmente no que se refere às crianças pobres. Além disso, ressaltam que
o Estado apenas se preocupa com as crianças quando estas estão relacionadas a algum
tipo de problema, deixando de lado questões ligadas à cidadania e à efetivação dos seus
direitos.
A partir dos anos 2000, emergem discussões sobre políticas para redução da
pobreza, embasadas nos direitos e na inclusão social como dispositivo central do modelo
neoliberal, articulando as políticas com o enfoque da inclusão para o futuro, mantendo o
conceito de criança como devir. Assim, suas necessidades subsidiam um projeto que vai
propor as crianças como a modernidade da nação, sendo necessário um maior
investimento na infância para o desenvolvimento econômico do país.
Entretanto, por meio de algumas produções (LITICHEVER, 2012;
LITICHEVER; MAGISTRIS; GENTILE, 2013; LLOBET; LITICHEVER, 2008;
LLOBET, 2012a, 2013a, 2013c) é possível notar avanços nos processos estruturais das
políticas sociais para a infância na Argentina, depois da aprovação da Lei 26.061, Lei de
Proteção Integral, em 200563, em nível nacional, por meio da Secretaria Nacional da
Infância, Adolescência e Família; em âmbito federal, pelo Conselho Federal da Infância,
Adolescência e Família; e no setor provincial por meio de agência de planejamento e
execução designada (LITICHEVER; MAGISTRIS, 2013, p.57). Essas modalidades se
propõem a unir a institucionalidade, a proteção dos direitos das crianças e a inclusão
social.
63
ARGENTINA. Ley n. 26.061, del 21 de octubre de 2005. Ley de Protección Integral de los Derechos de
las Niñas, Niños y Adolescentes. Disponível em: http://www.desarrollosocial.gob.ar/ leyes/152. Acesso em:
2 jan. 2017.
175
Ao conceber a cidadania como direito das crianças, o discurso institucional
também se modifica, no sentido da concretização dos direitos, das experiências e das
trajetórias das crianças como elementos importantes para o percurso institucional, o que
vai demandar investigações com base na sua perspectiva de compreender as
características, as representações e as relações estabelecidas entre adultos e crianças em
diferentes espaços. Observe-se que, nas pesquisas consultadas, as instituições são
compostas por um campo de forças no qual prevalecem as relações de poder
(LITICHEVER; MAGISTRIS; GENTILE, 2013; LITICHEVER; LLOBET, 2008;
LITICHEVER, 2012; LLOBET, 2006, 2010, 2011b).
Mas em que medida o discurso sobre os direitos promove melhorias para a vida
das crianças nas instituições e fora delas? As produções destacam que, para além das
mudanças nas ações e estratégias políticas para a infância, as relações geracionais,
estabelecidas entre o poder e a dependência, precisam ser revistas, num desafio para que
elas possam participar da sociedade e não apenas de discursos teóricos e em documentos
oficiais. De acordo com Llobet (2006), o trabalho para a ampliação da cidadania supõe
“tipo de discurso que permita o desenvolvimento das experiências das crianças e
adolescentes, que as inclua em sua construção de necessidades, demandas e direitos”
(p.156).
c) Trabalho infantil
No campo científico, Llobet (2012b) afirma que as áreas que se ocuparam do tema
trabalho infantil na Argentina foram principalmente a antropologia, a sociologia e a saúde
pública, mas nas publicações analisadas foi possível observar também a presença do
campo da psicologia social. As investigações deste tema se desenvolvem em abordagens
micro e macrossociais, pautadas por discussões sobre os direitos das crianças.
Entre as diversas formas de trabalho infantil, as autoras destacam: tarefas
domésticas (GENTILE, 2008b; LLOBET, 2001, 2011a, 2012b; MACRI, 2006, 2005,
2010c; MACRI; FORD; BERLINER, 2005); cuidado dos irmãos menores (LLOBET,
2012b; MACRI, 2005, 2006; MACRI et al, 2005; PADAWER; ENRIZ, 2009;
PADAWER, 2010b, 2010c); atividades escolares (LLOBET, 2012b; MACRI, 2006,
2010c; PADAWER et al 2009; PADAWER, 2010c; SZULC, 2006, 2008c, 2012, 2013);
ajuda no ambiente de trabalho dos pais (LLOBET, 2012b; PADAWER, 2010c); ajuda
não remunerada no estabelecimento comercial/empresa do qual os pais são proprietários
176
(LLOBET, 2012b); atividades laborais agrícolas (MACRI, 2013; PADAWER, 2009,
2010c, 2010d; PADAWER; ENRIZ, 2009); atividades de artesanato (PADAWER,
2010c); tarefas relacionadas à criação de animais de pequeno porte (PADAWER; ENRIZ,
2009); atividades de caça de animais pequenos (PADAWER; ENRIZ, 2009; PADAWER
2010b, 2010c, 2011); trabalhos urbanos assalariados (GENTILE, 2008b; LLOBET,
2011a, 2012b; MACRI, 2005, 2010a, 2010b, 2013); exploração sexual (prostituição),
trabalhos na rua (GENTILE, 2008b; LLOBET, 2011a, 2012b; MACRI, 2004, 2005,
2006); e atividades relacionadas ao tráfico de drogas (LLOBET, 2012b; MACRI, 2010c).
A análise dos textos levou a duas vertentes sobre o tema: a primeira considera o
trabalho infantil como uma prática econômica laboral das crianças para ajudar as famílias,
decorrente do aumento da pobreza, e afetada pelos impactos da crise no país, situação em
que as famílias tiveram que contar com o trabalho de seus filhos para a sobrevivência
(GENTILE, 2008b; LLOBET, 2011a; 2011b; 2012b; MACRI, 2005, 2006, 2010c, 2013;
MACRI; FORD; BERLINER, 2005); e a segunda vê o trabalho infantil como uma
atividade formativa das crianças, considerando a importância de sua participação social
no ambiente familiar, em suas atividades escolares e para a apropriação da cultura
(LLOBET, 2012b; PADAWER, 2009, 2010c; PADAWER; ENRIZ, 2009; SZULC,
2006, 2008c, 2011, 2013).
Na primeira perspectiva, o trabalho infantil é tratado como um problema social e
foco de políticas públicas em busca de proteção e de sua erradicação. As autoras
reconhecem a complexidade presente na abordagem do tema, pois o fenômeno segue no
país, principalmente no setor rural, mas também no urbano, vinculado à marginalidade e
às situações laborais precárias (LLOBET, 2012b; MACRI, 2013). Nesse sentido, a luta é
direcionada pelos direitos das crianças à proteção, segurança e educação, tendo em vista
a abolição do trabalho infantil.
De acordo com os textos, as repercussões da crise argentina seguem afetando as
crianças, pois com o aumento do desemprego e consequente crescimento da desigualdade
e da situação de pobreza, as famílias tiveram que contar com os esforços laborais infantis,
para a sobrevivência e sustento das casas e delas mesmas. Segundo Macri (2006), as
estruturas normativas políticas e econômicas permitiram o surgimento desse fenômeno e
de sua continuidade ao longo dos anos, sendo que as intervenções políticas e os programas
sociais para a sua erradicação ainda são insuficientes para solucionar o problema.
Em termos conceituais, os textos (GENTILE, 2008b; LLOBET, 2011a, 2011b,
2012b; MACRI, 2004, 2005, 2006, 2010a, 2010b, 2010c, 2013) destacam as crianças
177
como exploradas, em situação de vulnerabilidade, vítimas de uma estrutura social
desigual que se manifesta na sua atividade laboral em precárias condições de trabalho e
sob baixos salários. O discurso sobre o trabalho infantil na Argentina vai pautar-se pela
noção de criança como sujeito de direitos e pela demanda de políticas públicas para a
atenção da infância.
Mesmo com a elaboração de leis e com a instauração de uma Comissão Nacional
para Erradicação do Trabalho Infantil (CONAETI), a partir do ano 2000, nota-se, nos
textos, que o fenômeno, no país, é considerado naturalizado e invisibilizado (GENTILE,
2008b; LLOBET, 2012b; MACRI, 2005, 2006, 2010c). Além disso, a temática do
trabalho infantil vem associada às crianças em situação de rua (GENTILE, 2008b;
LLOBET, 2012b; SZULC; COHN, 2012), que demanda por estudos e intervenções
políticas e sociais que considerem as diversas formas pelas quais o trabalho infantil se
manifesta, e procurem solucionar as questões sociais que o ocasionam (MACRI, 2005,
2010c, 2013), reforçando não apenas o discurso, mas a efetivação dos direitos das
crianças (LLOBET, 2011a, 2011b, 2012b; MACRI, 2005, 2010c; PADAWER, 2009,
2010c).
Em relação à segunda perspectiva, o trabalho infantil é visto como um direito das
crianças, o de poder trabalhar, pois por meio das experiências formativas, elas participam
da sociedade, aprendem a cultura, têm mais responsabilidade e autonomia. Além disso,
trata-se de uma boa oportunidade para as transmissões geracionais (LLOBET, 2012b;
PADAWER 2009, 2010c, 2011; SZULC, 2006; 2013).
Os textos nesta perspectiva estão relacionados às atividades laborais realizadas
pelas crianças indígenas que, além de serem valorizadas na comunidade social na qual
estão inseridas, são consideradas uma apropriação da tradição indígena, possibilitando a
participação gradual na sociedade, por meio das atribuições de tarefas às crianças e
valorizando seu papel social.
Nesta linha, Llobet (2012b) afirma que pensar no trabalho infantil é refletir sobre
as condições de trabalho e sobre os limites estabelecidos para que este se realize, ou seja,
compreender e considerar as diversas formas em que este fenômeno pode se manifestar.
Paralelamente, é válido pensar que a contribuição laboral das crianças não é apenas um
esforço para a acumulação de capital para o lar, mas uma ‘interação social vital”
(LLOBET, 2012b, p.323) e pode produzir benefícios para os participantes desta interação
social, ao mesmo tempo em que valoriza o protagonismo e a agência social das crianças
como atuantes nas estruturas sociais.
178
Aqui se nota a preocupação de algumas autoras em destacar a pluralidade da
infância, pois as crianças têm diferentes experiências interculturais (PADAWER, 2010c)
e diversos pertencimentos étnicos, de identidade e de espaço (SZULC; COHN, 2012),
havendo a necessidade de analisar o contexto geográfico, econômico e cultural onde estão
inseridas para pensar as relações estabelecidas com o trabalho (LLOBET, 2012b;
MACRI, 2010c).
O trabalho infantil no contexto indígena, na Argentina, reconhece as crianças
como agentes ativos no processo de definição de suas identidades (SZULC; COHN,
2012) e participantes ativos no cuidado com outras crianças. Além disso, as famílias e a
comunidade atribuem às crianças responsabilidades, distribuídas de acordo com a idade
e gênero (SZULC, 2011c, 2013; PADAWER et al, 2009; PADAWER; ENRIZ, 2009),
permitindo-lhes desfrutar de certa autonomia no ambiente rural.
As publicações de Padawer (2009, 2010b, 2010c, 2010d) apresentam o trabalho
infantil como a participação das crianças em atividades produtivas e reprodutivas no
âmbito familiar e agrário, sendo compreendido como uma experiência formativa por si
própria, entendida como processo de socialização em ações situadas e por meio de
relações intergeracionais.
Se, em relação ao trabalho infantil, alguns textos (GENTILE, 2008b; LLOBET,
2011a; 2011b; MACRI, 2005, 2006, 2010b, 2013; PADAWER, 2009, 2010c)
recomendam que as políticas de erradicação devem priorizar o acesso e a permanência
das crianças nas escolas e a garantia de seus direitos, principalmente o de proteção, as
produções de Padawer (2009, 2010a, 2010b, 2010c, 2011) destacam que a participação
das crianças em atividades laborais não vinculadas à extração do valor e à exploração
pelos adultos deve ser considerada como o direito de participação das crianças na cultura
em que estão inseridas. Considerar os trabalhos feitos por elas - que não implicam em
riscos, mas que se configuram por um caráter participativo - é, segundo as autoras,
possibilitar situações de aprendizagem situadas, habilidades, apropriação de atividades
coletivas, contribuição e atuação direta na divisão de tarefas domésticas, as quais são
experiências formativas que também compõem modalidades de trabalho infantil
(LLOBET, 2012b; PADAWER 2009, 2010c).
179
d) Crianças em situação de rua
180
com maior frequência refere as crianças que se encontram em situação de rua, devido à
preocupação de não as estigmatizar e dar conta de algumas características que configuram
a temática (GENTILE, 2008b, 2010, 2011b; LITICHEVER, 2009; LLOBET, 2006, 2010,
2011a; SINGLAU, 2015; SZULC; COHN, 2012).
Assim, o fenômeno das crianças em situação de rua é multicausal e
frequentemente abordado pelas produções científicas relacionadas a temas como políticas
sociais da infância e trabalho infantil. As produções analisadas, em sua maioria, eram de
caráter socioantropológico, em diálogo com elementos da psicologia social em algumas
investigações.
A análise das produções das autoras resultou em duas perspectivas para
abordagem do tema: a primeira se refere às crianças em situação de rua, descrevendo as
visões, experiências, e conceptualizações entre as crianças e o espaço social rua,
apontando principalmente a questão da vulnerabilidade e as condições de vida das
crianças; a segunda se refere às crianças nas instituições, quando as autoras discutem
elementos como controle, governo da infância e processo de institucionalização.
Na primeira perspectiva, podem-se reconhecer estudos sobre: situação de rua e
vulnerabilidade (GENTILE, 2008b; LLOBET, 2006, 2013a; LITICHEVER;
MAGISTRIS; GENTILE, 2013; SZULC, 2008a, 2013); discriminação (GENTILE,
2008a, 2008b, 2011; LLOBET, 2013a, 2011a, 2011b); situação de desigualdade
(GENTILE, 2008b; LITICHEVER; MAGISTRIS; GENTILE, 2013; LLOBET;
LITICHEVER; MAGISTRIS, 2012; LLOBET, 2013b); exposição a riscos (GENTILE,
2008b; LLOBET, 2006, 2013c; SZULC, 2008a); problema social (GENTILE, 2008b;
LLOBET, 2013c; SZULC; COHN, 2012); exploração (GENTILE, 2008b; LLOBET,
2013c); infância interrompida ou desviante (GENTILE, 2008a, 2008b; LLOBET, 2013c).
Entretanto, apesar dessas vertentes, as autoras criticam a concepção de infância normal e
universal e discutem aspectos, como: as crianças e a relação que estabelecem com as ruas;
sua agência na contribuição para a renda familiar; as relações estabelecidas entre pares;
sua organização de acordo com idade e gênero; a rua como espaço de socialização; e a
perspectiva/experiência das crianças em situação de rua.
Nestas pesquisas, os artigos apontam para a predominância de meninos (71%) em
relação a meninas (22,9%), segundo investigação realizada em 2001 (GENTILE, 2008b),
sendo que a idade das crianças vai variar entre 5 e 19 anos de idade, resultando em 14.675
crianças e adolescentes sem cuidados familiares (UNICEF, 2012), as quais se encontram
em situação de rua, ou sendo atendidas por programas sociais e/ou em instituições
181
destinadas à proteção das crianças (LITICHEVER; MAGISTRIS; GENTILE, 2013;
LLOBET; LITICHEVER, 2008; LLOBET, 2010, 2011a, 2011b, 2013b).
Em relação ao gênero, as meninas geralmente são identificadas como frágeis,
vulneráveis, dependentes e emotivas, assumindo condutas masculinizadas para se
proteger e evitar situações de agressão e abuso sexual nas ruas. Já a imagem dos meninos
de rua é mencionada nas publicações como definidora da pobreza, caracterizando o
fenômeno como aparentemente neutro e como realidade predominantemente do sexo
masculino (GENTILE, 2008b, p.1). Outro fator ligado ao gênero relaciona-se com a idade
de sair de casa para as ruas: segundo Gentile (2008b, 2012, 2013), as meninas saem mais
tarde de casa e possuem experiências mais curtas nas ruas em relação aos meninos.
As conceptualizações sobre as crianças em situação de rua se dividem em
discursos sobre a vitimização das crianças, seja pela família e/ou sociedade, por meio de
abusos físicos, sexuais, psicológicos, além da exposição, consumo e uso de drogas; e
sobre a construção da imagem como crianças perigosas, delinquentes e infratoras.
Nomeadas por Gentile (2008, 2013, 2014) como migrantes urbanos, as relações
das crianças com a rua são apresentadas nos trabalhos da autora como formas de obtenção
de recursos diversos, de contato com outros setores sociais, de busca por entretenimento,
além de espaço de socialização.
Em relação à participação das crianças nas ruas, as publicações (GENTILE,
2008b, 2010, 2011a, 2011b; LLOBET, 2010) indicam a divisão social, geracional e de
gênero sobre questões relacionadas ao trabalho nas ruas, à organização de práticas
relacionadas ao tráfico de drogas, à formação de grupos de pares para garantir as
necessidades de sobrevivência e proteção.
Na segunda perspectiva encontrada, as produções apontam as crianças em
situação de rua atendidas em programas sociais e/ou instituições em período integral ou
parcial. Destacam-se a proteção das crianças (LLOBET, 2006; MACRI, 2005; SZULC,
2008a) e as necessidades das crianças relacionadas ao processo de institucionalização
(GENTILE, 2010, 2012; LITICHEVER, 2009; LITICHEVER; MAGISTRIS, 2013;
LLOBET, 2010, 2011a, 2013a, 2013c), as intervenções normativas para prevenir e evitar
a delinquência (GENTILE, 2011a, 2011b, 2012; LITICHEVER, 2009; LLOBET, 2010,
2013a; SZULC; COHN, 2012). Com o discurso sobre a restituição dos direitos das
crianças após a ratificação da CDC, em 1990, destaca-se, ainda, a atuação das instituições
pautadas pela doutrina da proteção integral. As produções também apontam que as
interpretações hegemônicas sobre a infância, do ponto de vista da psicologia do
182
desenvolvimento, traçaram uma relação das instituições com as crianças a partir do
controle e do governo da infância, o que vai reforçar sua dependência dos adultos
(LLOBET, 2006, 2011a).
Nota-se que, nas publicações a partir de 2006, as investigações começam a se
preocupar com a trajetória institucional das crianças, de forma a ressaltar o ponto de vista
daquelas em situação de rua que frequentam as instituições. Nessa perspectiva, as
investigações apontam a participação das crianças, o estado de bem-estar social, os seus
direitos e as políticas de inclusão social (GENTILE, 2011b; LITICHEVER;
MAGISTRIS; GENTILE, 2013). Também é possível identificar estudos sobre os motivos
pelos quais as crianças buscam pelas instituições, os motivos para deixá-las, as suas
relações com a polícia e demais situações de violência (GENTILE, 2010).
As análises sobre as perspectivas e experiências das crianças nas instituições
estiveram mais presentes a partir da separação do campo dos estudos da infância dos
estudos da juventude, o que veio a reforçar as investigações com as crianças para
compreensão de problemas sociais presentes na Argentina na ótica da sociologia e da
antropologia. Segundo as autoras (GENTILE, 2010; LLOBET, 2011b; MILSTEN, 2006,
2008, 2010b; SZULC, 2008a), o reconhecimento das crianças como atores sociais
proporcionou entendê-las como informantes científicos competentes, na investigação de
questões sociais que envolvem a infância, de maneira que analisar as trajetórias de vida
de crianças em situação de rua se tornou um modo de investigar os processos sociais
inscritos nesse fenômeno.
Ressalta-se, também, que as investigações sobre crianças em situação de rua
centravam-se anteriormente nos discursos de especialistas sobre a menoridade
(psicólogos, médicos, juízes, pedagogos etc.), relacionando as investigações aos
processos de judicialização, tutela e intervenções institucionais.
As publicações de Llobet (2006, 2009, 2011a, 2011b, 2013a, 2013b) discutem
principalmente como as instituições produzem as crianças, pensando na relação dessas
instituições com as políticas para a infância. Ou seja, a autora investiga as formas pelas
quais as crianças aparecem no discurso institucional, levando em consideração as
representações, significações, imagens, por exemplo, e os modos pelos quais as
instituições ‘fabricam’64 (LLOBET, 2006, 2009) as crianças. As publicações de Gentile
64
O foco analítico da autora foi identificar os processos de subjetivação e relações intersubjetivas possíveis
nos espaços institucionais, reconhecendo as formas como as instituições moldam as crianças, as quais se
relacionam com a transmissão da herança cultural, distribuição de materiais de reprodução da vida.
183
(2008a, 2008b, 2010, 2011a, 2011b, 2012), por sua vez, discorrem sobre práticas e
interações de trabalho nas instituições, a fim de fornecer e reconstruir a perspectiva dos
atores envolvidos neste processo, apresentando o ponto de vista das crianças e a descrição
de suas experiências nas instituições. Além disso, indica que as crianças buscam nelas a
resolução de suas necessidades imediatas, como alimentação, higienização e um espaço
seguro para dormir, refúgio para não entrarem em conflito com a polícia, espaço para
socialização e possível construção de vínculos, para participação em atividades de
recreação, entre outros motivos.
A participação das crianças nas instituições se dá por interpretação e negociação
das regras impostas pelos adultos; sua socialização nessas instituições configura e
modifica as ações e as práticas naquele espaço, o que influencia sua frequência, ou não,
nesses locais (GENTILE, 2008b, 2012). Sobre a agência das crianças, Llobet (2006)
ressalta que esta pode ser identificada em situação de fugas, recusas nas instituições, em
“resistências passivas (como as que se costumam verificar nas escolas e nas famílias) ou
ativas, que forçam as possibilidades de prosseguimento institucional” (LLOBET, 2006,
p.154).
184
Gráfico 8: Distribuição das publicações da Argentina que se fundamentam e fazem
referência ao campo.
14
12
10
8
6
4
2
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Dentre os autores mais citados estão James e Prout (em 21% das publicações),
Jenks (10%), Zelizer (9%), Qvortrup (8%), Angela Nunes (8%); Hendrick (6%); Gaitán
Muñoz (5%), Corsaro (5%), seguidos por Alanen (4%), Mayall (4%), Sarmento (4%).
Destes, destacam-se os três primeiros, ao lado de Angela Nunes, como os mais frequentes
nos anos posteriores a 2006.
Entre os mais citados autores que compõem o campo hispano-falante da América
do Sul, destacam-se as obras de Llobet (20%); Szulc (17%); Florencia Gentile (11%);
Carli (10%); Macri (7%); Fonseca (7%); Hetch (6%); Enriz (5%); Litichever (5%), além
de autores citados em menor proporção, mas de forma frequente nos anos da investigação,
tais como: Guemureman (4%), Palacios (3%), Cosse (2%), Unda (1%) e Alvarado (1%).
As cinco primeiras, além de compor o maior número de citações, também foram mais
frequentes no período posterior a 2004.
Percebe-se uma grande contribuição dos estudos feministas para as discussões
sobre a infância, pautadas principalmente nas obras de Fraser, algo em torno de 2% de
frequência no total de artigos analisados.
Como referido anteriormente, os campos da antropologia e da sociologia
destacam-se pela grande influência na Argentina para o desenvolvimento dos estudos
sociais da infância. Dentre os sociólogos tidos como referência nas publicações, estão
Bourdieu (somando 31% das citações) e seus conceitos, abordados de variadas formas;
Castel (17%), majoritariamente para discutir temas como políticas sociais, exclusão social
e vulnerabilidade; Goffman (17%), para ampliar debates sobre a organização social da
experiência, as instituições e a interação social; Foucault (16%), utilizado principalmente
185
para tratar o processo de institucionalização das crianças na Argentina; Giddens (11%),
sobretudo para referir os conceitos de agência e estrutura; Wacquant (5%), para
discussões do âmbito de gestão pública e neoliberalismo; e Mannheim (2%), para tratar
o conceito de geração. Também foram observados autores clássicos sobre a teoria da
socialização, tais como Durkheim e Parsons.
Entre os antropólogos mais citados estão Rockwell (48%), presente
principalmente para tratar aspectos da antropologia e educação, as culturas escolares e a
educação indígena; Mead (30%), referenciada principalmente por seu estudo em Samoa
e a transição da infância para a idade adulta; Geertz (19%), utilizado especialmente para
os estudos sobre a cultura.
Com relação aos enfoques que situam teoricamente o campo da sociologia da
infância, foram analisadas as produções de acordo com a organização elaborada por
Gaitán Muñoz (2006), chegando-se a resultados aproximados, pois havia publicações que
mesclavam as abordagens. Cabe mencionar que a abordagem relacional foi identificada
com maior frequência no corpus, confirmando, como foi visto na análise dos temas
consagrados, a preocupação das pesquisadoras em estudar a infância a partir de discussões
intergeracionais, examinando as relações das crianças estabelecidas com os adultos.
35
30
25
20
15
10
5
0
Estrutural Construcionista Relacional
186
destacando sua pluralidade, além das discussões sobre a transição da infância para a idade
adulta e das críticas às formas convencionais de compreensão da infância nas ciências
sociais e na antropologia; e o terceiro enfoque, que trata da abordagem relacional, foi
encontrado em 31 publicações que enfatizam a importância da perspectiva relacional para
estudar a infância e discutem aspectos geracionais e o ponto de vista das crianças nas
pesquisas realizadas.
No gráfico seguinte, é possível observar a frequência e a quantidade dos enfoques,
ao longo dos anos, que vão explicitar a tendência de os estudos realizados caminharem
pelas perspectivas relacional e estrutural, sem deixar de lado, contudo, a importância da
discussão construcionista, a qual manteve certa estabilidade nos últimos anos analisados
e foi facilmente identificada na produção das autoras, contribuindo significativamente
para o desenvolvimento do campo dos estudos sociais da infância no país.
Gráfico 10: Distribuição dos enfoques do campo nas produções analisadas na Argentina.
10
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
187
4.3.1.3 OS CAMINHOS METODOLÓGICOS
estudos socioestatísticos
perspectiva microssociológica
pesquisa macrossociológica
pesquisa qualitativa
pesquisa etnográfica
0 5 10 15 20 25 30 35 40
188
Gráfico 12: Distribuição dos tipos de pesquisa na Argentina.
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Cabe mencionar que, ainda que a pesquisa etnográfica tenha sido predominante
nas produções investigadas, é possível observar que, a partir de 2012, houve um
crescimento significativo de todos os tipos de pesquisa.
Destaca-se que as produções etnográficas estão relacionadas majoritariamente às
pesquisas de enfoque teórico relacional, de acordo com a organização de Gaitán Muñoz
(2006) e, em parte, pelo enfoque construtivista. Os estudos socioestatísticos e as pesquisas
macrossociológicas configuram as produções da abordagem estrutural, também
caracterizada pelas pesquisas qualitativas. Sobre o enfoque construtivista, notou-se uma
mescla de pesquisas de tipo etnográfico, qualitativa e microssociológica.
Em relação aos métodos de pesquisa, foram identificados diversos tipos,
nomeados de várias formas pelos autores, os quais reuniram-se em 17 grupos: entrevistas
(18,5%); observação participante (17,9%); conversas grupais (9,9%); notas de campo
(9,3%); grupos de colaboração (8,6%); desenhos (6,6%); registros fotográficos (6%);
narrativas (4,6%); crianças como entrevistadoras (4%); textos escritos (4%); jogos
(3,3%); crianças como escritoras (2%); filmagens (1,3%); materiais audiovisuais (1,3%);
produção de texto coletivo (1,3%); diagramas (0,7%); teatro (0,7%). Esses grupos foram
analisados pela frequência temporal, a fim de que se pudesse contabilizar a quantidade de
instrumentos/métodos utilizados durante o período proposto por esta investigação.
189
Tabela 2: Métodos e procedimentos de pesquisa com as crianças na Argentina.
entrevistas 28 18,5%
observação participante 27 17,9%
conversas grupais 15 9,9%
notas de campo 14 9,3%
grupos de colaboração 13 8,6%
desenhos 10 6,6%
registros fotográficos 9 6,0%
narrativas 7 4,6%
crianças como entrevistadoras 6 4,0%
textos escritos 6 4,0%
jogos 5 3,3%
crianças como escritoras 3 2,0%
filmagens 2 1,3%
materiais audiovisuais 2 1,3%
produção de textos coletivos 2 1,3%
diagramas 1 0,7%
teatro 1 0,7%
190
Tabela 3: Frequência dos métodos por ano, nas produções da Argentina.
Ano
Método 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
conversas grupais 3 2 2 1 2 1 4
crianças como entrevistadoras 1 2 1 2
crianças como escritoras 1 1 1
desenhos 2 2 1 3 2
diagramas 1
entrevistas 3 1 3 6 2 4 9
filmagens 1 1
grupos de colaboração 3 2 1 1 6
jogos 1 1 1 1 1
materiais audiovisuais 2
narrativas 2 1 1 3
notas de campo 1 4 1 2 2 3
observação participante 4 2 4 5 3 4 6
produção de textos coletivos 1 1
registros fotográficos 2 1 1 1 1 3
teatro 1
textos escritos 1 1 1 3
Total 20 0 18 16 19 10 23 45
191
As publicações que se caracterizam como pesquisa qualitativa fizeram referência aos
autores do campo, mas não citaram os estudos sociais da infância no corpo do texto.
Sobre os procedimentos de pesquisas, 30% das publicações apresentam
informações que descrevem as formas como a investigação foi desenvolvida com as
crianças. Em 24% das produções observa-se preocupação com a ética, porém nenhuma
delas reporta como foram feitos os procedimentos éticos, tampouco informam a
submissão, ou não, a comitês de ética em pesquisa ou a elaboração de qualquer termo de
consentimento livre e esclarecido. Foram observadas, ainda, em 7% das publicações,
reflexões sobre a postura do pesquisador antes, durante e depois da pesquisa com crianças,
destacando-se as preocupações com as relações de poder, o adultocentrismo e os cuidados
com a escrita dos resultados de investigação, de forma a não sobressair a visão adulta.
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
processo de ética nas pesquisas posição do
investigação investigador
As crianças foram retratadas nas pesquisas por meio de suas perspectivas (31%),
suas vozes (22%), como informantes (24%), e como participantes (23%). Também foram
descritas como interlocutoras transparentes, qualificadas e competentes para falar sobre a
dimensão social em que estão inseridas. Em apenas seis artigos do corpus deste trabalho,
as crianças não são caracterizadas por um dos termos mencionados, embora sejam
conceituadas como atores ou agentes sociais. Elas também foram caracterizadas como
indígenas (23%), em situação de rua (19,6%), menores (19%), trabalhadoras (18,3%) e
alunas (18%).
192
Gráfico 14: Perspectiva sobre as crianças nas pesquisas argentinas.
Observa-se que Llobet (2011b) e Szulc et al (2009) indicam que as vozes das
crianças não podem ser apenas um recurso para ilustrar as publicações, o que seria um
desrespeito.
Cabe dizer, também, que praticamente ficaram ausentes informações sobre idade
e sexo/gênero das crianças envolvidas nas pesquisas, sendo que somente sete artigos
apresentaram parte desses dados. Quanto à classe social, oito produções, principalmente
as que tratavam sobre crianças em situação de rua, trouxeram essa informação. Em
relação à raça/etnia, essa variável apareceu apenas nas investigações com crianças
indígenas.
Em relação a outras ausências, constata-se que os artigos que informam o tempo
de inserção na pesquisa de campo representam 22% dos textos, todavia a frequência desta
inserção não foi mencionada, tampouco o número de crianças participantes, enquanto o
motivo de sua escolha foi descrito em apenas 8% das produções. Em 25% das publicações
está indicada a obtenção de financiamento para realização da pesquisa.
Para encerrar a abordagem deste país, uma reflexão de Szulc (2008) sobre a
participação das crianças nas pesquisas científicas:
193
4.3.2 AS PRODUÇÕES DO CHILE
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
194
Gráfico 16: Publicações por área de conhecimento dos periódicos no Chile.
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Ciências Educação Psicologia História Antropologia Direito
Sociais
Gráfico 17: Distribuição das publicações por área dos periódicos no Chile.
6
Antropologia
5
Educação
4
Direito
3
História
2
Psicologia
1
Ciências
0 Sociais
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
No que diz respeito aos temas mais frequentes nas publicações, nota-se relação
com o contexto sócio-histórico chileno e com as mudanças políticas e econômicas, por
meio das quais se podem verificar representações sobre as crianças e a infância associadas
a discussões sobre a infância moderna, em situação de risco e de irregularidade com a lei,
e pelo campo dos estudos sociais da infância, no qual as crianças são consideradas
portadoras de direitos e atores sociais.
195
Após o regime militar, as políticas dirigidas para a infância foram reconfiguradas
pelo contexto neoliberal, que direcionou ações para as crianças em situação de
vulnerabilidade e de proteção do menor. Foram criados centros para a infância em risco,
de proteção à infância em situação irregular, e houve a criação do Serviço Nacional de
Menores (Servicio Nacional de Menores - Sename), em 1979, para assistir e corrigir
crianças e adolescentes.
Os anos 1980 foram marcados pela pobreza e pela marginalidade das crianças, em
decorrência da crise econômica de 1982, que imprimiu no país altas taxas de desemprego,
redução de salários, aumento do trabalho informal, contexto em que o trabalho infantil
tornou-se visível. A insatisfação social e a crise econômica e política resultaram em
manifestações e marchas de protesto, nas quais as crianças tiveram significativa
participação e agência ativa (ROJAS FLORES, 2010).
Segundo autores como De la Cuadra (2008) e Oliveira (2011), o complexo
processo de abertura democrática consolidou políticas públicas orientadas pelo enfoque
dos direitos, e colocou em pauta a proteção e a cidadania para os menores de dezoito anos.
Neste cenário, a partir da ratificação da CDC no país, as crianças deixam de ser objetos
de proteção para se tornarem sujeitos de direitos (GAITÁN MUÑOZ, 2014; IMHOFF et
al, 2012).
No início da década de 1990, foram formulados planos e programas nacionais a
favor da infância, com a intenção de dar conta dos principais problemas sociais que
envolviam as crianças, como maus-tratos, drogas, abandono, abusos, conflitos com a
justiça, violência, crianças com necessidades educacionais especiais, além da
preocupação com o desenvolvimento e com a educação. Nota-se que o trabalho infantil
não foi pautado nesses programas, sendo objeto de discussão somente no final da década,
o que gerou ações para sua erradicação e para proteção das crianças.
Neste período, houve grande difusão da participação e do protagonismo infantil.
De acordo com De la Cuadra (2008), os anos 1990 foram marcados por algumas
iniciativas das crianças, embasadas pelo discurso dos direitos. Mesmo contidas pelo
adultocentrismo e pelas relações paternalistas, elas convocavam movimentos com vistas
a tratar seus interesses. A partir de então, foram iniciados programas que impulsionaram
a participação infantil, consistindo em marchas e movimentos estudantis, resultando na
criação do Parlamento Juvenil para representar os estudantes.
O protagonismo das crianças também ficou visível nos processos de erradicação
do trabalho infantil, a partir dos quais o discurso protecionista pretendia retirar as crianças
196
do mercado de trabalho. O movimento das crianças, entretanto, foi direcionado para a
obtenção de direitos trabalhistas, pois elas afirmavam que queriam maior “participação e
não compaixão” (ROJAS FLORES, 2010, p.719). Ao longo do período investigado, as
produções acadêmicas voltadas para o discurso dos direitos e da participação pouco
trataram do trabalho infantil.
As mudanças legislativas também provocaram vários efeitos nas vidas das
crianças do Chile. Segundo Vergara (2004) e Rojas Flores (2010), os princípios de
autonomia progressiva e de interesse superior das crianças fundamentaram leis e ações
para assegurar a proteção e o desenvolvimento integral das crianças.
Importante mencionar que o princípio de interesse superior das crianças é um
termo jurídico frequentemente mencionado nas produções sul-americanas e que
197
brinquedos e guloseimas, reforçando, também, estereótipos de gênero e influenciando as
relações geracionais.
Esse fenômeno esteve associado à independência das crianças em relação às
decisões sobre seu próprio consumo e em termos culturais. Vergara e Vergara (2008,
2011, 2012) apontam que a televisão e a influência da publicidade associaram condutas
das crianças a aspectos sociais, sensoriais, emocionais e autônomos na escolha e uso de
determinados produtos.
Nos últimos anos, evidencia-se no país outro movimento, este referente ao
processo migratório, que tem despertado interesse científico sobre a participação das
crianças. As mulheres principiaram o movimento migratório, atraídas principalmente
pelas oportunidades de trabalho no terceiro setor. Vista também como projeto familiar,
para uma melhora da qualidade de vida, a imigração infantil foi observada continuamente
nos estudos e pesquisas durante o período abordado por este trabalho. Dessa forma, as
temáticas gênero e relações intergeracionais foram facilmente identificadas nas
produções, por retratarem as experiências das crianças nos processos migratórios e na
inserção escolar e social.
Os temais mais constantes identificados nas produções foram a conceptualização
de infância (90,6%), as relações intergeracionais (75%) e as representações de gênero
(65,6%), presentes em diversas abordagens, como: infância e cultura, consumo, direitos,
migração e imigração infantil, cidadania e participação, educação e contexto
rural/campesino.
8
7
6
5
4
3
2
1
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Conceitualizações sobre infância Relações intergeracionais Representações de gênero
198
Como se pode observar, no início dos anos 2000, há uma presença isolada dos
temas considerados consagrados (BOURDIEU, 2004, 2008) no campo deste país. Ainda
que se possa verificar produção no ano de 2004, será apenas a partir de 2008 que essas
temáticas vão se tornar mais evidentes nas publicações, com predominância de discussões
sobre conceptualizações da infância e relações intergeracionais.
Estas informações referem-se à análise de 32 produções chilenas, selecionadas
para compor o corpus desta pesquisa e que configuram os temas com maior relação com
os estudos sociais da infância. Assim, embora tenham sido categorizados três aspectos,
cabe dizer que os temas aparecem relacionados nas discussões realizadas pelas autoras,
uma vez que estas abordam a infância e as crianças por meio de diversas problemáticas e
contextos históricos, principalmente pela ótica das ciências sociais.
Outra ressalva a se fazer é em relação ao desenvolvimento do campo da sociologia
da infância, constantemente presente para fundamentar as produções sobre a infância.
Apesar de ser recente no Chile e de haver uma pequena quantidade de pesquisadoras que
nele se inserem, as discussões apresentadas nos textos foram consistentes e embasadas
pelos elementos que configuram o campo, pelos aportes teóricos, pelas abordagens
metodológicas e por valorizar a perspectiva das crianças nos textos.
As crianças são reconhecidas, principalmente, como atores sociais, agentes ativos,
participantes e protagonistas, configuradas como grupo minoritário, visibilizadas nas
produções não somente pela ausência, repressão e relações de poder, mas, principalmente,
pelo foco nas perspectivas infantis, nas suas vozes e nas relações estabelecidas com os
adultos.
Os textos trazem as disciplinas que tradicionalmente se ocuparam da infância,
como a psicologia e a medicina, porém apresentam, de forma frequente, a releitura feita
pelo campo da sociologia da infância, retratam as experiências e discutem a socialização
das crianças a partir das relações geracionais e de gênero, em diversas situações do âmbito
social.
Os processos investigativos consideram as crianças como atores sociais e
informantes competentes da realidade em que vivem e destacam o conceito de geração
como essencial para se pensarem as relações estabelecidas com as crianças.
As publicações focalizam as crianças no meio rural; os menores; as crianças na
publicidade, as crianças na escola e as migrantes. Em relação à faixa etária, foram
realizadas investigações com crianças entre 6 e 18 anos de idade, sendo que, em dois
199
textos, a idade não foi informada, embora as autoras tenham feito referência à etapa
escolar em que estavam inseridas.
Pode-se observar, no quadro seguinte, que as principais discussões e abordagens
em relação às crianças e à infância nos textos estavam relacionadas aos conceitos de
geração (90,6%), participação (78,1%), agência (75%), socialização (75%), direitos
(75%), gênero (71,9%), proteção (65,6%) e vulnerabilidade (62,5%). Ressalta-se que o
ponto de vista das crianças (87,5%) e a pesquisa com crianças (81,3%) também
prevalecem nas produções analisadas.
Quadro 37: Conceitos relacionados ao campo da sociologia da infância nas produções do Chile.
Adultocentrismo 18
Agência 24
Ator social 21
Bem-estar 6
CDC 11
Cidadania 12
Competência 17
Construção social 22
Criança 16
Criança focalizada nas pesquisas/pesquisas com crianças 26
Crianças como pesquisadoras 0
Crianças de rua 3
Cultura Infantil 8
Delinquência 6
Desenvolvimentismo 16
Direitos 24
Escolarização e escolas 16
Estudos da infância 26
Estrutura Social 16
Etnia 10
Gênero 23
Geração 29
Grupo de pares 6
Grupo minoritário 18
Idade e maturidade 19
Infância 22
Institucionalização da infância 13
Jogo 2
Menoridade 11
Necessidades 9
Participação 25
Pobreza 16
Políticas culturais da infância 18
200
Ponto de vista das crianças 28
Protagonismo 18
Proteção 21
Socialização 24
Trabalho e crianças trabalhadoras 6
Vozes das crianças 22
Vulnerabilidade 20
Como visto anteriormente, os textos trazem gênero, geração e classe social como
fatores importantes para estudar a infância, e apresentam discussão sobre dominação,
autoridade e poder adulto como questões para se examinar e rever nas relações com as
crianças, principalmente na elaboração de políticas públicas e no exercício dos direitos.
Justamente por trazer as contribuições e a configuração da sociologia da infância
como campo, que tem contribuído para aumentar a visibilidade das crianças como grupo
minoritário e que constitui a categoria infância na estrutura social, esta temática aparece
também com frequência nas produções investigadas.
Pelo fato de os textos reportarem as perspectivas das crianças nos contextos em
que estão inseridas, conceitos como controle e desigualdade estão presentes nas análises,
apontados como impedimento e fator de insatisfação das crianças, colocadas em condição
de subordinação à autoridade adulta.
A globalização e as políticas neoliberais constituem assuntos que auxiliam a
compreensão dos impactos sobre a categoria infância nas vidas das crianças, sobretudo
no que se refere à discriminação e à exclusão social.
As produções que enfatizam as experiências das crianças em relação a gênero
discorrem sobre a socialização no contexto familiar e escolar, assim como trazem os
conceitos de estereótipo e estigma para demarcar a desigualdade de oportunidades das
meninas em relação aos meninos. Esses conceitos sociológicos e outros mais, abordados
nos textos, podem ser visualizados no seguinte quadro:
201
Quadro 38: Principais conceitos da sociologia nas produções do Chile.
Assistência 3
Campo Científico 17
Capitalismo 10
Classe Social 19
Controle 15
Democracia 7
Desigualdade 15
Disciplina 9
Divisão Social do Trabalho 4
Dominação 9
Estereótipo 11
Estudos Feministas 7
Exclusão Social 13
Globalização 14
Inclusão Social 9
Neoliberalismo 12
Norma 10
Ordem Social 8
Relações de Poder 17
Violência 10
202
das crianças (5 produções), idade e maturidade (4 produções), discurso publicitário sobre
a infância (3 produções).
O segundo tema, relações intergeracionais, é composto por produções que
remetem à participação (9 textos), ao adultocentrismo (6 textos), aos processos
migratórios (5 textos) e ao consumo (4 textos).
O terceiro, denominado representações de gênero, inclui a perspectiva das
crianças (5 produções), a família (5 produções), o contexto escolar (5 produções), os
meios de comunicação (3 produções) e a comunidade rural (3 produções). Destaque-se
que os três temas estão conectados entre si e são comumente associados pela frequência
nas publicações, conforme se observa na próxima tabela:
203
e) Conceptualização da infância
204
Desta forma, reconhece-se que este discurso foi predominante na elaboração de
políticas públicas que pensavam as crianças no futuro, como modelo idealizado do adulto,
focalizando seu potencial enquanto capital humano, numa educação direcionada para o
progresso da sociedade (PEÑA OCHOA, 2010). Assim, as crianças foram confinadas aos
espaços domésticos e privados, numa associação entre infância e lar, e responsabilidade
das mulheres e escolarização (PAVELIC; SALINAS, 2012; PEÑA OCHOA, 2004;
VERGARA, 2001). Segundo as autoras, a infância no Chile continua sendo considerada
um assunto privado, regida por uma lógica adultocentrada e paternalista, na qual
prevalece a preocupação com a proteção.
Nessa mesma linha, as produções ressaltam a escolarização das crianças como
importante para a socialização, proteção e preparação para o mercado de trabalho,
necessitando de atenção e controle, o que configura o papel da escola como espaço
normativo, moralizador e unificador. Esta racionalidade, que sustentou a visão moderna
de infância, pautou as ações do Estado, promovendo regulamentação política,
principalmente para as crianças que fogem à norma da infância, consideradas à margem
(VERGARA, 2001, 2004, 2008, 2009).
Deste modo, a institucionalização das crianças esteve vinculada à Doutrina da
Situação Irregular chilena, que se propôs a guardar e proteger as crianças sob
responsabilidade do Estado, para garantir um espaço em que os menores pudessem ser
corrigidos e disciplinados. Esta doutrina define os menores como desviantes, risco social,
perigosos, delinquentes, incapazes, desajustados, inadequados, em situação irregular
(PAVEZ SOTO, 2007; PEÑA OCHOA, 2004, 2010, 2011; VERGARA, 2001, 2004,
2008, 2009), além de defender o controle social sobre as crianças de camadas populares,
criminalizando e judicializando prematuramente a pobreza. Além disso, reforçou a
exclusão social e a segregação das crianças, desrespeitando a condição humana, tratando-
as por meio de medidas sociojudiciais, contendo-as por meio de ações políticas, tutela,
normas de controle e opressão diante do poder adulto.
No segundo grupo, a infância é abordada como fenômeno social (JAMES;
PROUT, 1990; PROUT, 2010; QVORTROUP, 2011; SARMENTO, 1997), configurada
nas publicações chilenas como autonomia conceitual da infância, categoria social
independente e analisável em suas relações com agência e estrutura (PAVELIC;
SALINAS, 2012; PAVEZ SOTO, 2010a, 2010b, 2012b, 2012c; QVORTROUP, 2011;
VERGARA, 2008).
205
A partir dessa perspectiva, a infância tem características específicas de acordo
com seu espaço geográfico, social e histórico, devendo ser estudada como categoria
social, ao lado de gênero, classe e etnia (PAVEZ SOTO, 2010a, 2010b, 2012b, 2012c;
PEÑA OCHOA, 2010). Assim, as produções conceituam a infância a partir da perspectiva
da sociologia da infância e dos estudos sociais da infância, nas regulamentações políticas,
nos direitos, e nos discursos publicitários.
Ao compreender a infância como campo científico e as crianças como informantes
sociais competentes, as publicações abordam a autoria, a agência e o protagonismo por
meio de investigações e estudos realizados com as crianças, para entender as relações
intergeracionais, representações de gênero, processos migratórios, consumo, reprodução
social e o próprio conceito de infância a partir de suas características (maturidade/idade).
Os textos indicam a necessidade de resgatar as crianças da subordinação à
sociologia da família e/ou da educação, a fim de superar as noções tradicionais e
unilaterais de socialização, bem como de questionar o adultocentrismo, além de pontuar
a importância de estudá-las por seu próprio direito e torná-las visíveis no campo científico
e social (CHÁVEZ; FUENTES, 2010; PAVEZ SOTO, 2010a, 2010b, 2012b, 2012c;
PEÑA, 2010; VERGARA, 2004, 2008, 2010; VERGARA et al, 2012; VERGARA;
CHÁVEZ; PAVELIC; SALINAS, 2011, 2012, 2013; VERGARA; VERGARA, 2008,
2011, 2012). Para isso, as autoras chilenas se apoiam nas contribuições do campo da
sociologia da infância e nos estudos sociais da infância, os quais integram novos aportes,
estabelecendo interlocução entre variados campos para estudar a posição da infância
como categoria na estrutura social.
Cabe mencionar que o enfoque relacional, do campo da sociologia da infância, foi
considerado fundamental para os estudos da infância no país, uma vez que as publicações
destacam que as crianças estão em relação permanente com outras gerações e grupos
sociais e sublinham que sua posição subordinada na estrutura geracional faz com que não
sejam consultadas sobre as decisões que as afetam, reafirmando as relações desiguais de
poder a que estão submetidas. A sociologia da infância, nesse sentido, contribui para a
realização de investigações com as crianças, de forma a entender como elas percebem e
incorporam as relações que as envolvem na sociedade chilena, analisando elementos da
vida cotidiana, para que elas possam se expressar e demonstrar seus pontos de vista.
206
Em, ao menos, sete publicações, os três enfoques da sociologia da infância65 são
apresentados e diferenciados, assim como verifica-se que, em 18 produções, foram
citadas ou explicitadas as contribuições do campo, juntamente com as contribuições que
advêm dos estudos sociais da infância, numa perspectiva mais interdisciplinar e flexível
do que o proposto pelo campo nos países anglo-saxões.
Os textos consideram a infância como período da vida no qual são atribuídas às
crianças as características culturais, sociais e econômicas que acompanham este período
(FRØNES, 1994; PAVEZ SOTO, 2012), respeitam sua dimensão histórica e a definem
como grupo social ao qual pertencem as crianças. As autoras também a descrevem como
fenômeno social complexo, com múltiplas dimensões, e argumentam que sua explicação
pelo desenvolvimento biológico é insuficiente para compreender a amplitude da infância.
A revisão dos conceitos de socialização e a perspectiva de um modelo espiral (e
não linear) deste processo, no qual as crianças são importantes para a reprodução e a
produção da cultura em que estão inseridas, completam as contribuições da sociologia da
infância.
A infância também é explicitada como grupo heterogêneo (PAVEZ SOTO, 2012a,
2012b, 2013b; VERGARA, 2008b; VERGARA;VERGARA, 2012), que se diferencia de
acordo com a configuração de cada sociedade (PAVEZ SOTO, 2012b, 2012c ; PEÑA,
2010; VERGARA, 2001), grupo no qual as crianças são protagonistas sociais (CHÁVEZ;
FUENTES, 2010; PAVEZ SOTO, 2010a, 2010b, 2012d, 2013b; PAVEZ SOTO;
ALCADE, 2013b; SALINAS; PAVELIC, 2011, 2012, 2013; VERGARA et al., 2012;
VERGARA;VERGARA, 2008, 2012), onde sofrem os mesmos impactos que outras
categorias geracionais em relação às mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais
no meio em que vivem (PAVEZ SOTO, 2007, 2012b; VERGARA, 2004, 2008a), além
de estarem submetidas a relações adultocentradas (CHÁVEZ; FUENTES, 2010; PAVEZ
SOTO; LEWIN, 2011; PEÑA, 2004, 2010; VERGARA, 2009), o que inviabiliza suas
competências e agência social (PAVEZ SOTO, 2011; SALINAS, 2012; SALINAS;
PAVELIC, 2009, 2013; VERGARA, 2004). Essas características apresentadas pelas
autoras vão ao encontro das nove teses elaboradas por Qvortrup ([1993] 2011) que
demarcam a infância como um fenômeno social.
No âmbito dos direitos, com a ratificação da CDC, os textos apontam certa
inovação sociocultural a respeito das crianças, que passam de objetos de proteção para
65
As abordagens estrutural, construcionista e relacional presentes nos textos referem-se à organização
proposta pela autora Gaitán Muñoz (2006), apresentada no primeiro capítulo deste trabalho.
207
sujeitos de direitos. Nesse âmbito, integralidade, autonomia, igualdade e interesse
superior das crianças são indicados como principais pontos, ao lado do reconhecimento
do direito à proteção, à participação e à provisão. Postos como desafio político, os direitos
contribuem para o reconhecimento de suas capacidades, liberdades e responsabilidades
(PAVEZ SOTO, 2007).
A Doutrina da Proteção Integral incorporou a noção dos direitos e legitimou a
competência e a participação, contribuindo para a integração social das crianças.
Entretanto, a possibilidade do papel ativo de meninos e meninas esbarra na noção de
proteção, que continua funcionando pela lógica do controle. Outra crítica, neste aspecto,
é a consideração das crianças como sujeitos vulneráveis, pois, segundo Pavez-Soto
(2007), esta é uma condição humana presente em todas as fases da vida, sendo que seria
uma interpretação arbitrária, exclusiva e discriminatória pensar a fragilidade relacionada
a uma idade definida.
Em relação ao discurso publicitário, as crianças são consideradas por meio de
imagens e estereótipos, o que, segundo as autoras (VERGARA; CHÁVEZ IBARRA;
VERGARA, 2010), indica o reflexo dos discursos da sociedade sobre a infância. As
crianças são apresentadas nas propagandas como espertas, boas, responsáveis, possuindo
uma autonomia relativa, a qual sempre é posta em negociação com os adultos.
A publicidade representa a infância a partir da visão de consumo, atribuindo
autonomia econômica às crianças mediante a escolha dos produtos que desejam consumir.
Elas são referidas como importantes para produção e reprodução de cultura e receptivas
para o mercado de consumo infantil cultural e alimentício em expansão. Além disso, as
produções (VERGARA; VERGARA, 2008, 2011, 2012) indicam que as crianças são
representadas como agentes sociais e não apenas como objetos subordinados à decisão
adulta.
Sobre a idade, os textos relatam as interpretações das crianças sobre os benefícios
e atribuições dadas de acordo com a maturidade, escolaridade e responsabilidades
domésticas. As crianças indicam o que pensam sobre a infância, como a ausência de
responsabilidades, a autonomia para fazer coisas que adultos não podem, questionam as
relações de poder que os adultos assumem para tomar decisões sobre suas vidas e a
diminuição do tempo para brincar devido às atividades escolares.
De acordo com as publicações, quanto menor idade as crianças tiverem, mais
tempo livre elas terão para brincar, sendo importante considerar que o início da
escolarização diminui esse tempo, fato apontado como nostálgico pelas crianças, época
208
em que não tinham excesso de tarefas e atividades extraescolares. Elas também pontuam
as abundantes demandas para o seu crescimento, para que deixem de ser irresponsáveis e
imaturas, sendo sempre comparadas com as características atribuídas à vida adulta
(VERGARA et al, 2012).
Cabe dizer que as concessões de liberdade, confiança e autonomia dadas pelos
adultos estão relacionadas à idade e aos critérios escolares, ou seja, quanto mais
responsável na realização de atividades domésticas e melhores forem seus rendimentos
escolares, mais são permitidas às crianças as autorizações solicitadas por elas. As
produções (CHÁVEZ IBARRA; FUENTES, 2010; PAVELIC; SALINAS, 2013;
PAVEZ SOTO, 2010b, 2012b; PAVEZ SOTO; LEWIN, 2011; VERGARA et al, 2012)
indicam que as reclamações se referem à dificuldade de serem escutadas, e ressaltam que
as falas das crianças se mantiveram desencorajadas no âmbito científico, político e social,
destacando a incompreensão e a repressão diante de suas manifestações.
Ao questionar as relações de poder entre crianças e adultos, os textos indicam a
emergência da superação das relações marcadas pelo adultocentrismo e da invisibilidade
das crianças no aspecto relacional, pontuando também a necessidade de compreender os
discursos colonizados e os pontos de vista, a fim de modificar as relações intergeracionais.
Com as contribuições dos estudos sociais da infância e, principalmente, da
sociologia da infância, bastante referenciada nas produções, a infância começa a ser
reconhecida nos estudos chilenos como espaço sócio-histórico e objeto de estudo por si
mesma, sendo redefinida no âmbito teórico e metodológico, o que encoraja a visibilização
do discurso das crianças, elementos que reclamam por mudanças, oportunidades e
desafios, para a continuidade dos estudos no campo, no Chile.
f) Relações intergeracionais
209
com outras gerações e grupos sociais, de forma que a geração se torna um conceito
fundamental para compreender a infância (GAITÁN MUÑOZ, 2006).
Passando por abordagens como socialização (PENÃ, 2004; SALINAS;
PAVELIC, 2009, 2011), cidadania (CHÁVEZ; IBARRA, 2010; PAVEZ SOTO, 2007;
SALINAS, 2012; SALINAS; PAVELIC, 2013), participação (CHÁVEZ; IBARRA,
2010; SALINAS; PAVELIC, 2013), consumo (VERGARA et al, 2010;
VERGARA;VERGARA, 2008, 2011, 2012), processos migratórios (ALCALDE;
PAVEZ SOTO, 2013a, 2013b; PAVEZ SOTO, 2010a, 2010b, 2011, 2012d, 2013a,
2013b; PAVEZ SOTO; LEWIN, 2011), relações entre pais e filhos (PAVEZ SOTO,
2011; SALINAS; PAVELIC, 2009; VERGARA, 2008b) e procedimentos investigativos
com as crianças (PAVELIC; SALINAS, 2012; PEÑA, 2010; VERGARA, 2008a;
VERGARA; VERGARA, 2008), as publicações questionam o adultocentrismo e refletem
sobre as relações construídas entre as crianças e os adultos.
A partir da perspectiva relacional, os textos apresentam resultados de pesquisas
em plano macrossocial, retratando os pontos de vista dos adultos e, principalmente, das
crianças, estas consideradas participantes competentes do mundo social compartilhado
com os adultos. Assim, para a compreensão deste tema, propõe-se pensar na abrangência
das relações geracionais no contexto familiar, escolar e científico.
Sobre o âmbito familiar, as produções indicam que a relação entre pais e filhos
está demarcada por conflitos, relações de poder, dependência e passividade das crianças
em relação às decisões adultas.
Os discursos das crianças indicam que o controle e o poder de decisão sobre as
coisas que as afetam são os principais pontos de convergência intergeracional, e afirmam
que costumam ser perdoadas pelas coisas que fazem de errado pelo fato de ainda serem
crianças e pela inocência atribuída à infância (VERGARA et al, 2012). Dizem, ainda, que
as sanções, nesses casos, são constituídas pela redução e/ou proibição do brincar e pelo
aumento de tarefas domésticas e escolares. Reclamam por não poderem realizar
atividades sozinhas, porém reconhecem que a demanda por independência se torna maior
conforme aumenta a idade escolar, o que ocasiona um sentimento de solidão e pouca
liberdade.
De acordo com os textos (VERGARA, 2008; VERGARA; CHÁVEZ;
VERGARA, 2010; VERGARA et al, 2012), as crianças constatam um menor controle do
adulto no acesso a mídias eletrônicas, isto é, costumam passar o tempo livre usando a
internet, brincando com jogos no computador e/ou assistindo a programas na televisão. O
210
consumo televisivo foi foco de investigações das autoras Vergara, Chávez e Vergara entre
os anos 2008 e 2012, que destacam a relação das práticas de uso da TV com as decisões
das crianças sobre o tempo livre no espaço doméstico, quando elas podem transgredir as
regras adultas, ou seja, elas têm autonomia relativa até os pais chegarem do trabalho,
quando ocorrem conflitos por conta de horários, tipos de programa e influência da
propaganda no consumo.
Cabe mencionar que a concepção da infância como estrutura social pressupõe um
sistema de relações entre posições e grupos sociais, no qual se observa, em nível
microssocial, a família como unidade estruturada e estruturante das relações
intergeracionais (ALANEN, 2014; BOURDIEU, 1983, 2002; GAITÁN, 2006; PAVEZ
SOTO, 2012b). Nesse sentido, a estrutura social afeta as relações entre as posições, sendo
necessário considerar as conexões internas no âmbito familiar, bem como as relações
estabelecidas com o mundo social.
As relações entre pais e filhos foram expressas por Vergara (2008) a partir de três
perspectivas: como expressão de relações geracionais; como representação de relações
etárias; e como espaço de articulações múltiplas a partir de compreensões de gênero,
idade, raça e outros. Para a autora, o conflito intergeracional relaciona-se ao aumento
progressivo da idade dos pais na decisão de ter filhos, o que distancia e dificulta o
entendimento entre as gerações; a configuração das famílias implica na divergência das
decisões sobre a vida das crianças, assim como as possíveis complicações surgidas com
o divórcio, afetando as relações familiares. Ela acrescenta que as diferenças econômicas,
culturais e educacionais modificam a experiência da parentalidade e da condição de ser
filho, de acordo com a estrutura e a situação das famílias, o que interfere na participação,
na dependência, no cuidado e na proteção das crianças.
Tempo familiar reduzido, negociação, subordinação, adultocentrismo, hierarquia
geracional, controle e supervisão adulta pautada pelo interesse superior das crianças
também foram pontos de destaque na relação entre pais e filhos, nas publicações chilenas
(PAVEZ SOTO, 2010b, 2011, 2012a, 2012d, 2013a, 2013b; SALINAS, 2013;
VERGARA, 2008; VERGARA et al, 2012; VERGARA; VERGARA, 2008, 2011, 2012).
Os textos apontam, ainda, que trocas e entendimentos foram observados diante das
mudanças nas estruturas familiares, as quais demandam maiores graus de autonomia das
crianças e oportunidades de agência, principalmente no que se refere a situações de
dificuldade econômica e/ou situações de separação familiar, por divórcio ou processos
211
imigratórios, as quais exigem negociações mais abertas, atribuição de responsabilidades
e reconstrução das relações entre adultos e crianças.
As produções de Pavez-Soto (2010a, 2010b, 2011, 2012a, 2012d, 2013a, 2013b)
exploram as relações intergeracionais nos processos migratórios das famílias de países
vizinhos, principalmente do Peru, para o Chile, indicando as relações desiguais e abusivas
de poder sobre a vida das crianças, na tomada de decisões que afetam e modificam suas
vidas, sem que sejam ao menos consultadas.
Esta autora aborda os discursos das crianças diante das experiências em fluxos
migratórios e reagrupamento familiar. A partir de investigações macrossociais,
complementadas com dados estatísticos, os estudos com as crianças demarcam sua
posição subordinada na estrutura geracional e a participação invisibilizada nestes
movimentos.
A separação das famílias inicia-se com a ida das mães para o Chile, atraídas pelas
oportunidades de trabalho no terceiro setor, principalmente o doméstico, modificando as
relações intergeracionais familiares, até mesmo quando ocorre a reunificação da família,
com a ida das crianças para aquele país. Em relação aos estudos exploratórios e aos dados
do contexto histórico da migração peruana no Chile, os assuntos familiares, os cuidados,
a proteção e a inserção escolar e social das crianças permaneceram ocultos nas
investigações, indicando uma condição de dependência da estabilidade econômica
familiar, um protagonismo pouco reconhecido e uma passividade das crianças nas
decisões de migração e imigração.
As crianças investigadas revelam incômodo em se separar dos amigos e da
família, ao afirmarem que, mesmo não sendo consultadas, elas sabem o que acontecerá
com suas vidas em longo prazo, e destacam que o reencontro familiar demanda
reorganização e acomodação doméstica, em que se reestabelecem os papéis e as relações
intergeracionais (PAVEZ SOTO, 2010a, 2010b). A fragilidade afetiva demanda a
recuperação do vínculo entre pais e filhos, por meio de maiores oportunidades de
participação, diálogo e negociação de novos acordos de convivência.
Além de sofrerem com a desigualdade intergeracional, as crianças lidam com a
discriminação entre os grupos de pares no contexto escolar, relatada a partir da
desvalorização pela cor da pele e pela nacionalidade, o que dificulta o desempenho
escolar e a integração das crianças peruanas na sociedade chilena. Esta dupla posição
social, idade/hierarquia geracional e imigrante/ordem étnico-nacional, reduz ainda mais
212
as crianças imigrantes nas relações geracionais e intergeracionais no Chile (PAVEZ
SOTO, 2010a, 2010b, 2012a, 2013b).
No contexto escolar, a participação foi identificada como ponto forte nas
discussões intergeracionais, ressaltando a necessidade de se recuperar a voz das crianças
nas escolas. A partir de críticas ao modelo tradicional escolar e à visão das crianças como
sujeitos dominados e que devem obediência, as produções (CHÁVEZ; FUENTES, 2010;
PEÑA, 2010; VERGARA, 2008a) destacam a escuta como dispositivo inicial para
repensar as relações entre adultos e crianças no ambiente escolar, de modo a poder
reexaminar o lugar por elas ocupado nesse ambiente e contexto social, de forma a que o
discurso da proteção não seja mais um impeditivo para sua participação e protagonismo.
Embora o sistema educativo chileno tenha passado por processos demarcados pela
privatização e pela descentralização, a participação das crianças não foi desestimulada;
ao contrário, a história deste país é marcada por movimentos de protestos estudantis para
a revisão destas ações, o que assinalou a agência social das crianças (VERGARA, 2001,
2008a). As produções confirmam que as novas gerações, no Chile, têm expressado sua
resistência frente às segmentações do mundo adulto, sendo críticas a respeito de seus
modos de vida e queixando-se de sua escassa participação. Mesmo diante da autoridade
imposta pelos professores, as crianças rompem as normas e participam de um universo
distinto e distante daquele imposto pelos adultos, exercendo capacidade de tomada de
decisões e delineando relações entre os estudantes que extrapolam a dominação adulta
(VERGARA, 2001, 2004).
Segundo as publicações (PAVELIC; SALINAS, 2013), a participação das
crianças é construída nos ambientes, sendo que as escolas, assim como as famílias,
configuram-se como instâncias de participação. Associada à compreensão de cidadania,
as autoras sustentam que a relação das crianças com os adultos deve fortalecer
conhecimentos, habilidades, valores e atitudes para o exercício da cidadania responsável,
ao lado da formação ética, moral e da autoafirmação pessoal (CHÁVEZ, IBARRA, 2010;
PAVEZ SOTO, 2007; SALINAS, 2012; SALINAS; PAVELIC, 2013).
O papel dos adultos, nesse sentido, pode facilitar e favorecer a participação por
meio da recriação e da reconstrução das relações estabelecidas com as crianças, de forma
a compartilhar responsabilidades e compromissos com elas (PAVELIC; SALINAS,
2013). As investigações foram realizadas por meio da escuta das crianças, colocando em
pauta as relações intergeracionais e os seus pontos de vista sobre a participação.
213
O texto de Chávez e Fuentes (2010) indica as narrativas das crianças como
possibilidade de participação e de integração não apenas no âmbito escolar, mas na
extensão dos demais contextos sociais. A partir da experiência de atuação em projeto
avaliativo escolar, as crianças atribuíram a este conceito o sentido de pertencimento,
apropriação, associação, autonomia e expressão de suas perspectivas nas trocas realizadas
com os adultos. Os espaços criados possibilitaram a realização de intercâmbio e a
mobilização entre os grupos de crianças, de forma que estas pudessem ser reconhecidas
pelos compromissos assumidos, pela negociação com os adultos e pela distribuição de
responsabilidades. Este estudo exemplificou a possibilidade de as crianças saírem do
anonimato institucional para participar de espaços coletivos, nos quais puderam usar suas
diversas linguagens para expressar e reconfigurar o sentimento de pertencimento ao
contexto escolar.
Algumas publicações (CHÁVEZ; FUENTES, 2010; PAVES SOTO, 2010a,
2010b, 2012b, 2012c; SALINAS; PAVELIC, 2013; VERGARA, 2008b; VERGARA et
al, 2012) defenderam que a perspectiva relacional é fundamental para que adultos e
crianças estejam lado a lado, de modo a construir sentidos de pertencimento e de espaço
coletivo, oportunizando, assim, que estas exerçam controle sobre os assuntos que as
afetam, principalmente no que se refere ao âmbito familiar e escolar, condição que
estimula não apenas o seu protagonismo mas também o posicionamento sociopolítico e a
reflexão ativa sobre o mundo que as rodeia e sobre as relações que estabelecem com os
diversos grupos sociais.
No âmbito científico, autoras (PEÑA, 2010) destacam as relações entre adultos e
crianças nos processos investigativos, refletindo sobre a posição do investigador e os
cuidados com ações adultocêntricas automatizadas. Segundo alguns textos (PAVELIC;
SALINAS, 2012; PEÑA, 2010; VERGARA, 2008a; VERGARA; VERGARA, 2008), a
posição do investigador deve estimular e facilitar o protagonismo infantil, evitando
posturas que demonstrem a hierarquia geracional, para que as crianças se sintam à
vontade nas entrevistas e demais etapas de pesquisa.
Para as pesquisadoras (PEÑA, 2010; PAVEZ SOTO; SALINAS; VERGARA,
2004, 2008a), as escolhas das técnicas de pesquisa devem evitar que as crianças vejam os
adultos como autoridade, para que possam sair do anonimato e se sentir confortáveis e
comprometidas na sua participação em investigações com as quais decidiram contribuir.
Os textos trazem reflexões sobre as relações estabelecidas com as crianças,
relatando seu entusiasmo por serem ouvidas ou por terem algo a oferecer, bem como por
214
experienciar a articulação da prática de pesquisa, cotidiana ou não, preparada, em algumas
situações, junto com os adultos.
O reconhecimento e a coconstrução do conhecimento foram pontos também
destacados nesta relação pesquisador(es)/crianças, assim como os desafios que
demandam as estratégias de resistência e de negociação com a ordem geracional e as
estruturas de poder.
Dessa maneira, identifica-se que os cuidados e a revisão da postura adulta, pautada
em boas intenções com as crianças, demandam esforços, para que haja possibilidade de
legitimação do protagonismo infantil, no sentido de se estabelecerem relações simétricas
entre as gerações.
Percebe-se, nas produções, que a cidadania se restringe à vida adulta, embora as
discussões se centrem nos aportes da sociologia da infância, em busca de participação e
empoderamento das crianças. De acordo com Chávez Ibarra e Fuentes (2010), dialogar
sobre novos papéis sociais, novos espaços, redescobrir e reformular as relações entre
adultos e crianças são passos iniciais para transformar as relações intergeracionais e
repensar os conceitos de participação e de cidadania.
Segundo Pavelic e Salinas (2013), a abordagem epistemológica da infância
determina que a forma de ver condiciona a maneira de ser, e assim
fato que constrói as formas de ser crianças e adultos na sociedade, por meio de um
conjunto de práticas que atribuem sentidos para a ordem hierárquica geracional
(GAITÁN MUÑOZ, 2006).
Cabe mencionar que cada sociedade apresenta uma organização particular de
relações geracionais que, de acordo com Vergara et.al (2012), no caso chileno, se constitui
por um nível intermediário de aceitação de mudanças culturais nos padrões de
relacionamento entre idade e gênero (VERGARA; VERGARA; PEÑA; CHAVEZ,
2012). Assim as produções analisadas indicam que as intervenções, a partir de projetos e
ações políticas, podem contribuir com discussões a fim de modificar os elementos
estruturantes na convivência social e na qualidade das relações com as crianças.
215
g) Representações de gênero
216
PAVELIC, 2012). Em contrapartida, as mulheres são vistas como frágeis, vulneráveis,
sensíveis, responsáveis pelas tarefas domésticas e pelo preparo dos alimentos, ressaltada
a posição secundária das meninas na sociedade, bem como sua restrição nas atividades
de lazer, por terem que ajudar nas tarefas da casa.
O discurso das crianças reduz e desvaloriza as mulheres por meio da atribuição
de valores negativos às ações relacionadas ao seu papel social, além de reforçar os
estereótipos de fragilidade da mulher e de homem provedor e protetor. Neste aspecto, as
crianças ainda acrescentam que os homens podem fazer tudo e as mulheres não, e
aprendem que demonstração de afeto ou de sofrimento é incoerente com as formas de
dominação masculina. Entretanto, destacam a importância de conversar com as meninas,
pois são boas conselheiras e compreensivas (SALINAS; PAVELIC, 2011, 2012).
As publicações (PAVEZ SOTO, 2010b, 2012d; SALINAS; PAVELIC, 2011,
2012) ressaltam a construção da masculinidade em âmbito relacional, associado à forma
como os homens se relacionam com as mulheres, com as condições de trabalho e com as
demais atividades atribuídas para os sexos, o que reafirma a desigualdade de
oportunidades, reforça estruturas de domínio masculino, configura a hierarquização entre
os gêneros e a identidade estabelecida por meio de conceitos estereotipados.
No meio familiar, nota-se, claramente, nas produções chilenas, a desigualdade de
gênero na divisão sexual do trabalho e pela submissão e inferioridade das meninas no
âmbito doméstico. Segundo Pavez-Soto (2007, 2012d, 2013a, 2013b), a família é um
espaço de controle e socialização das crianças, em que os papéis de gênero são
internalizados de acordo com a posição que assumem os pais e as mães neste ambiente.
Os textos (PAVEZ SOTO 2011, 2012a, 2012d; SALINAS; PAVELIC, 2009,
2012) indicam que as meninas participam de atividades domésticas e agrícolas sem
remuneração, uma vez que as famílias entendem esses trabalhos como tarefas naturais,
próprias do gênero, considerando-os mecanismos de aprendizagem de valores sociais. As
meninas são responsáveis por maior quantidade de atividades em relação aos meninos, o
que reforça a subordinação e o paternalismo permanente. Os meninos, por sua vez,
contribuem com as atividades remuneradas dos pais e são liberados das atividades
domésticas, possuindo maiores ‘regalias’ que as meninas e tempo ocioso para brincar.
Em relação às meninas imigrantes, elas são segregadas em função do gênero,
classe social e nacionalidade. Em pesquisa realizada com as crianças, as meninas
demonstram dificuldades de integração social, tendo suas experiências marcadas por
discriminação, controle, inferioridade e submissão, tanto no âmbito doméstico, quanto no
217
escolar do país em que são imigrantes, o que afeta sua autoestima e construção identitária
(PAVEZ SOTO, 2011).
Além disso, a vulnerabilidade dessas meninas relaciona-se ao sofrimento de
violência física, verbal, sendo vítimas de abuso sexual e tornando-se mão de obra barata
para contribuir com a renda familiar. As meninas relatam receber menos alimentos,
possuir maior carga de trabalho e ter menos tempo para recreação (PAVELIC; SALINAS,
2012; PAVEZ SOTO, 2007, 2012a, 2013b;).
Sobre os padrões de gênero, as publicações de Pavez-Soto e Alcade Campos
(2013a, 2013b) destacam que, no caso de famílias imigrantes, a separação das famílias,
ou o divórcio, acarreta a adoção de novos papéis para as mulheres que, além de cuidadoras
dos filhos e da casa, assumem a responsabilidade pela manutenção econômica da família,
modificando as relações com as crianças e distribuindo tarefas para a vida doméstica.
Neste caso, modifica-se o conceito de mulheres frágeis e vulneráveis para responsáveis,
fortes, lutadoras, atribuindo-lhes uma imagem positiva, bem como o reconhecimento pelo
apoio e não abandono do lar. Consequentemente, a imagem masculina se altera para essas
crianças, que não encontram nela segurança, o que desperta sentimentos de ansiedade,
abandono e fragilidade nos vínculos afetivos.
Essas situações familiares, segundo as autoras, agravam a situação de pobreza e
precariedade, o que impacta desfavoravelmente as relações de gênero e geracionais,
mesmo em famílias com melhor situação econômica. As modificações das relações
familiares também provocam confusão nos papéis de gênero, seja pela distância física
entre os membros da família, pelos problemas de comunicação entre os adultos, ou pela
ausência de contato com o pai (PAVEZ SOTO; ALCADE CAMPOS, 2013b).
No contexto escolar, a ótica das crianças aponta para a discriminação e
desigualdade de gênero, a partir da forma como identificam, constroem e reconstroem o
mundo social em que estão inseridas, muitas vezes reproduzindo a representação
universal sobre a subordinação feminina e o empoderamento masculino em suas
produções textuais. Segundo investigações realizadas por Salinas e Pavelic (2011), as
crianças são socializadas no âmbito escolar de forma a reproduzir o sistema patriarcal e
aprender normas socialmente definidas para os sexos. A representação de gênero
identificada nos discursos das crianças destaca as relações de poder entre os sexos, com
maior controle sobre as meninas, reservando-as ao espaço privado, à fragilidade, à
docilidade, acrescentando múltiplas tarefas sociais: mãe, trabalhadora assalariada,
responsável pelas tarefas domésticas e esposa.
218
Assim, políticas de igualdade de gênero, orientações educativas, empoderamento
de grupos minoritários, descolonização do sistema educativo e práticas educativas não
sexistas são alguns caminhos apontados pelas publicações para promover a imagem
positiva da mulher e reduzir as qualidades binárias entre os sexos.
Em relação às representações de gênero pelos meios de comunicação, as autoras
(VERGARA; CHÁVEZ; VERGARA, 2010; VERGARA; VERGARA, 2008, 2011,
2012) indicam que, no discurso publicitário e televisivo, ressalta-se o protagonismo dos
meninos, apresentados na propaganda como espertos, sedutores, responsáveis, exitosos
em suas ações, enquanto as meninas são mostradas como reconhecedoras desse êxito
masculino, sendo representadas como facilitadoras e contribuidoras das conquistas dos
meninos, bem como carinhosas, bondosas e afetivas com eles, de forma a consolá-los
diante dos fracassos, fazer com que se sintam bem e presenteá-los com afeto quando são
bem-sucedidos.
O protagonismo dos meninos foi observado principalmente em relação à
publicidade, principalmente de produtos alimentícios e bebidas gasosas, enquanto as
meninas aparecem em papéis secundários, reforçando a atuação dos meninos. Além disso
as autoras (VERGARA; CHÁVEZ; VERGARA, 2010; VERGARA; VERGARA, 2008)
apontam que a mídia também tende a reforçar esta ideia por meio de programas
televisivos infantis nos quais as meninas são vistas como frágeis e vulneráveis, e os
meninos como salvadores, defensores e solucionadores dos ‘problemas’ das meninas.
Cabe destacar que a lógica da propaganda, conforme posto nas publicações, está
caracterizada por estereótipos de gênero e geracionais, por meio da dimensão conotativa
das mensagens, imagens e papéis associados ao consumo dos produtos, o que reforça as
desigualdades e reafirma condutas discriminativas (VERGARA; VERGARA, 2011,
2012).
As formas de ser mulher ou homem também estão presentes nas novelas chilenas,
as quais remetem a histórias com valores morais, estéticos e sociais das personagens
femininas, atribuindo posturas cotidianas aos comportamentos dos membros das famílias
(VERGARA; CHÁVEZ; VERGARA, 2010).
Assim como pontuam Salinas e Pavelic (2011, 2012), a construção de gênero está
presente e é significada cotidianamente na cultura de cada sociedade. As pesquisadoras
sublinham as práticas discursivas, que devem ser revistas para descontruir a imagem de
uma identidade de gênero demarcada, arraigada e imutável.
219
No âmbito dos direitos, as produções indicam a necessidade de proteger os
direitos das crianças, mas principalmente o das meninas. Levando em consideração as
relações desiguais e abusivas de poder com o gênero feminino, os textos (PAVEZ SOTO,
2007, 2010a, 2010b, 2012b, 2012c; SALINAS; PAVELIC, 2013; VERGARA, 2004,
2008) argumentam que o reconhecimento das crianças como sujeitos de direitos foi um
grande avanço para suas vidas, mas afirmam que o enfoque de gênero torna-se necessário
para considerar as condições econômicas, culturais, e sociais, de forma a promover
iniciativas públicas que garantam o exercício do direito, especialmente pelos grupos
minoritários.
Segundo Pavez-Soto (2007), as mudanças históricas no contexto da sociedade
chilena, principalmente em períodos pós-ditadura, afetaram o direito das populações
minoritárias e consideradas mais vulneráveis, entre as quais povos indígenas, imigrantes
e do sexo feminino. Os direitos das crianças, segundo a CDC, foram elaborados para que
sejam exercidos de maneira igualitária, independentemente de sexo, raça e/ou classe
social. No entanto, este exercício está condicionado por elementos geracionais, condições
socioeconômicas, políticas e culturais que facilitam e/ou dificultam sua efetivação,
principalmente no que se refere ao gênero feminino.
As publicações destacam preocupação com as meninas por estas estarem
associadas a características como fragilidade, inocência e ausência de voz nos contextos
familiares e sociais. Sabe-se que elas são as que mais sofrem com a violação de seus
direitos, sendo vítimas frequentes de abuso, exploração e tráfico sexual, violência física
e verbal, além de encontrarem dificuldades para exercício da cidadania, garantia de bem-
estar, saúde, educação, lazer e apoio em casos de gravidez precoce.
Os textos de Pavez Soto (2007, 2010a, 2010b, 2012a) referem os âmbitos social,
econômico e familiar, nos quais as meninas sofrem por serem mão de obra barata e
mantidas em permanente situação de risco, sendo responsáveis pelo trabalho doméstico.
As meninas são socializadas de acordo com estereótipos dominantes que as minimizam,
o que resulta em menor exercício dos direitos, menos descanso e menos alimentos em
relação aos meninos, (PAVEZ SOTO, 2007, 2010a, 2010b, 2012a, 2013a, 2013b;
SALINAS; PAVELIC, 2011, 2012), como já se salientou anteriormente.
No âmbito moral, as meninas também são as mais prejudicadas por serem
educadas de acordo com padrões sociais que estimulam a dependência, a subordinação, a
sensualidade, a feminilidade e a obediência, sendo vistas universalmente como objetos
sexuais e não como sujeitos de direitos (PAVEZ SOTO, 2007, 2010a, 2010b, 2012a).
220
A participação social e o uso do espaço público são diferenciados entre os gêneros;
do mesmo modo, os direitos associados ao âmbito político e social também são distintos.
Os discursos das crianças destacam aspectos educacionais e familiares
discriminatórios, o que demanda estudos sobre gênero na infância, para questionar as
formas preestabelecidas de participação, as quais envolvem a reprodução de práticas
sociais e culturais, que fazem com que as crianças internalizem papéis e comportamentos
que acabam por moldar as experiências corporais, pessoais e identitárias (CONNELL,
2005; SALINAS; PAVELIC, 2011, 2012).
221
Gráfico 19: Distribuição das publicações do Chile que se fundamentam e fazem
referência ao campo.
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
222
Durkheim, Parsons, Berger e Luckmann, foram identificadas na discussão sobre a
socialização das crianças, mas em menor quantidade.
No que se refere aos enfoques do campo da sociologia da infância, conforme a
organização proposta por Gaitán Muñoz (2006), observa-se que o enfoque relacional é
tido como importante para o desenvolvimento dos estudos da infância no país. De acordo
com as publicações analisadas, a infância é compreendida como processo relacional, ou
seja, que apenas existe a partir do estabelecimento de relações com outras gerações e
grupos sociais, sendo importante considerar suas perspectivas para compreender como
ocorrem as ações cotidianas das vidas das crianças e dos adultos.
Gráfico 20: Presença dos enfoques do campo da sociologia da infância nas produções do
Chile.
20
15
10
0
estrutural construcionista relacional
223
construcionista, o que parece indicar tendências teóricas e metodológicas para o
desenvolvimento dos estudos da infância nesse país.
Outra ressalva refere-se à frequência da perspectiva construcionista ao longo dos
anos que, embora apresente uma queda nas publicações em 2013, manteve-se crescente
durante o período considerado pela pesquisa.
Gráfico 21: Distribuição dos enfoques do campo nas produções analisadas no Chile.
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
224
4.3.2.3 OS CAMINHOS METODOLÓGICOS
Pesquisa qualitativa
Perspectiva microssociológica
Pesquisa macrossociológica
Estudos socioestatísticos
Pesquisa etnográfica
0 5 10 15 20 25
225
Gráfico 23 - Distribuição dos tipos de pesquisa no Chile.
7
6
5
4
3
2
1
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
226
Esses métodos foram citados a partir de 2008, momento em que começam a surgir
as publicações resultantes das pesquisas com as crianças, embora, em 2009, seja
registrado apenas um estudo realizado com elas. Como se verifica na próxima tabela, em
2010, as autoras recorreram a diversos procedimentos de investigação para a realização
de seus estudos, assim como, em 2012 e 2013, também se percebe maior quantidade de
procedimentos empregados.
Ano
227
modo geral, a preocupação das publicações foi demonstrar a importância da participação
das crianças nas pesquisas científicas, de forma a perceber suas experiências, seus pontos
de vista, trazer visibilidade para discursos colonizados, para as maneiras pelas quais as
relações eram estabelecidas com os pesquisadores, adultos, a fim de estabelecer posturas
não autoritárias que evitassem a hierarquia entre as gerações.
Os estudos sociais da infância foram mencionados em 22 publicações, sendo que
as demais faziam referência aos autores, mas não discutiam aspectos do campo no texto.
Apesar de mencionarem a sociologia da infância como campo importante para visibilizar
as crianças na estrutura social e estudá-las de forma relacional, junto a gênero, classe
social e etnia, as autoras argumentam sobre a necessidade de romper com as fronteiras
disciplinares para avançar nas discussões e produções sobre a infância no país.
Os procedimentos de pesquisa foram descritos em 59% das publicações
analisadas; em 22% das pesquisas, foram mencionadas ou apresentadas preocupações
com a postura do investigador frente às crianças, reforçando a importância da utilização
de técnicas que evitem que elas vejam os pesquisadores como autoridade, mas como
favorecedores do protagonismo infantil. Reflexões sobre o adultocentrismo e a criação e
recriação de relações horizontais com as crianças também foram destacadas, e a
preocupação ética esteve presente em 19% dos estudos, indicando que as crianças
interessadas em participar das pesquisas tinham que ser autorizadas pelos pais e/ou
responsáveis.
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Processo de Posição do Ética nas pesquisas
investigação investigador
228
sujeitos de direitos e agentes. Importante dizer que, em todas as publicações, as crianças
foram conceituadas como atores sociais.
229
produções), em situação de rua (26%), menores (16%), indígenas (15%), trabalhadores
(12%), imigrantes (12%) e rurais (3%), considerando que as indígenas foram
apresentadas nas produções argentinas, e as imigrantes nos textos chilenos.
Sobre as autoras que estão produzindo conhecimento no campo, destaca-se que a
maior parte delas tem formação em sociologia e psicologia, seguidas pelas áreas da
antropologia e do trabalho social, sendo que a psicologia é mais frequente no Chile, e
sociologia e antropologia, na Argentina.
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
Sociologia Psicologia Antropologia Trabalho social
66
A CAPES utiliza o sistema Qualis para avaliar os periódicos científicos e atribui qualidade em níveis A,
B e C. Para consulta ao Qualis-Capes, utiliza-se a Plataforma Sucupira, disponível no seguinte endereço
eletrônico: <https://sucupira.capes.gov.br/>.
230
Ciencias Sociales, Niñez y Juventud, as quais também são bem avaliadas e reconhecidas
no campo.
Em relação ao idioma das publicações analisadas, predominou o espanhol,
contabilizando 95% das produções; os 5% restantes foram publicações em inglês.
Quanto à estruturação do campo nos dois países, a Argentina destaca-se por maior
quantidade de grupos de pesquisa, publicações e pesquisas financiadas. As universidades
nas quais as autoras estão inseridas são públicas e bem conceituadas nos rankings
mundiais e latino-americanos67, conferindo maior prestígio ao campo e contribuindo para
a obtenção de financiamentos de pesquisa.
Na Argentina, destaca-se a Universidade de Buenos Aires - UBA, que está na 85ª
posição em nível mundial e 11ª no contexto latino-americano, sendo caracterizada pelo
alto nível em pesquisas. As demais universidades em que as autoras estão inseridas
ocupam nível médio em termos de investigação científica.
No Chile, as autoras inserem-se em universidades privadas, no entanto quase
metade das produções publicadas no período analisado contaram com financiamento.
Destaque é dado para a Universidade Diego Portales, que está entre as 50 de melhor
posição no ranking latino-americano.
67
O ranking das universidades foi consultado por meio de busca ao website QS World University Rankings,
do período de 2016-2017. Disponível em: <https://www.topuniversities.com/university-rankings/world-
university-rankings/2016>.
231
Tabela 7: Frequência por país dos grupos de pesquisa, produção bibliográfica e caracterização das
universidades em que as autoras da Argentina e do Chile estão inseridas.
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
232
menor se comparada à Argentina, a qual apresenta valores semelhantes para artigos e
capítulos de livros.
total
Chile
Argentina
0 10 20 30 40 50 60 70
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Ciencias Antropologia Educação Psicologia Direito História
sociais
233
Gráfico 31: Distribuição das publicações da Argentina e do Chile que se fundamentam e
fazem referência ao campo.
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
234
Gráfico 32: Presença dos enfoques do campo da sociologia da infância nas produções da
Argentina e do Chile.
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
estrutural construcionista relacional
Neste sentido, o tipo de pesquisa realizada com as crianças vai ao encontro das
compreensões teóricas e enfoques do campo, demonstrando, uma vez mais, a
predominância do enfoque relacional em ambos os países, por meio da pesquisa
qualitativa e microssociológica, de acordo com organização proposta por Gaitán Muñoz
(2006). No próximo gráfico, nota-se que as pesquisas qualitativas possuem frequência
aproximada na Argentina e no Chile, e que a quantidade de investigações
microssociológicas se iguala nos dois países. Destaca-se o número significativo de
pesquisas etnográficas na Argentina, devido ao caráter socioantropológico das produções
do campo no país, demarcando também o enfoque construcionista como tendência de
pesquisa.
Estudos socioestatísticos
Pesquisa macrossociológica
Perspectiva microssociológica
Pesquisa etnográfica
Pesquisa qualitativa
0 10 20 30 40 50 60
235
O alcance do paradigma da infância também pode ser visto pela frequência dos
conceitos do campo presente nas produções, conforme se observa no gráfico seguinte.
236
os autores peruanos Cussianóvich e Figueroa não constam nas produções argentinas, mas
foram citados de maneira frequente nas produções do Chile.
Dentre os sociólogos mais citados em ambos países estão Bourdieu, Foucault,
Castel e Giddens e, entre os antropólogos, se sobressaem as produções de Mead e Geertz,
que apesar de citados nos dois países, são constantemente referenciados no Chile.
Adiante, verifica-se a frequência das citações nos contextos argentino e chileno.
Geertz
Unda
Corsaro
Giddens
Mead
Alanen
Castel
Foucault
Jenks
Mayall
Aries
Qvortrup
Carli
Gaitan Muñoz
Bourdieu
James e Prout
237
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pierre Bourdieu
Para concluir este trabalho, são retomadas algumas considerações sobre campo
científico em Bourdieu, de forma a relacionar o conceito às etapas desenvolvidas na
pesquisa, fazendo uso de algumas categorias explicativas. Em seguida, recuperam-se
elementos da sociologia da infância, do campo interdisciplinar dos estudos sociais da
infância, para comentar dados e aspectos da pesquisa realizada, focalizando a Argentina
e o Chile, mas buscando a América do Sul como horizonte.
68
Elaboração própria, a partir da leitura das obras de Bourdieu.
238
Para pensar esses elementos, deve-se levar em consideração que eles não se
findam em si próprios, não estão estanques nessas categorias, pois se mesclam o tempo
todo num movimento constante, entrelaçados pelo próprio sentido do campo, pois para
que ele exista, são necessárias estruturas que o sustentem, bem como um funcionamento
pautado por propriedades objetivadas nas relações entre as posições dos agentes e as
instituições que o ocupam. Desse modo, estudar o campo significa tomá-lo como lugar
de poder, ou seja, suas propriedades - primeira categoria interpretativa - fornecem
elementos para ponderar as forças existentes (BOURDIEU; WACQUANT, 2008),
delimitando suas fronteiras a partir das relações de força estabelecidas com outros
campos.
Os agentes do campo são detentores de diversos tipos de capital, adquiridos por
meio do contato com leis de funcionamento, regras, regularidades que determinam a luta
científica, presente quando há agentes que acreditam no jogo, na doxa69 do campo, que
Bourdieu (1983, 1997, 2000, 2004a, 2004b, 2004c, 2008) denomina illusio. Por meio do
jogo, os agentes, novatos e dominantes, estabelecem relações de forças para se apropriar
dos meios de produção e reprodução do campo, assim como da autoridade e da
competência científica. Por meio dessas relações de poder estabelecem-se as hierarquias
entre os agentes e conformam-se as estruturas do próprio campo, bem como os fenômenos
de concentração de capital científico.
Nesse sentido, caminha-se para a segunda categoria interpretativa, a estruturação
do campo, que abrange as instâncias responsáveis pela reprodução das relações de poder,
e que estão dispostas por meio de alguns elementos essenciais, a saber: os agentes e a
relação com as posições que ocupam no campo; as instituições onde os agentes estão
inseridos (sendo necessário levar em consideração a história delas); e as instâncias de
consagração para que seja possível o mercado dos bens simbólicos.
Considerando que as reproduções dos espaços das posições, na estrutura do
campo, são constitutivas do campo do poder, Bourdieu (2013) faz referência a instâncias
- universidade, periódicos e demais centros de divulgação científica - como espaços no
69
Doxa se refere “àquilo sobre o que todos os agentes estão de acordo. Bourdieu adota o conceito tanto na
forma platônica — o oposto ao cientificamente estabelecido —, como na forma de Husserl (1950) de crença
(que inclui a suposição, a conjectura e a certeza). A doxa contempla tudo aquilo que é admitido como
“sendo assim mesmo”: os sistemas de classificação, o que é interessante ou não, o que é demandado ou não
(BOURDIEU, 2003, p.82)”. Ver Pierre Bourdieu: a teoria na prática (2006).
239
campo do poder, e argumenta que as relações entre os agentes novatos e dominantes
podem ser interpretadas como uma das dimensões do poder. Em sua obra Razões Práticas
(1997), o sociólogo indica que o campo do poder é um “espaço de relação de forças entre
os diferentes tipos de capital, ou, mais precisamente, entre os agentes suficientemente
providos de um dos diferentes tipos de capital, para poderem dominar o campo
correspondente” (BOURDIEU, 1997, p.52). Cabe dizer que a dominação se dá por meio
de um conjunto complexo de ações que engendram, na estrutura do campo, o exercício
dominante (BOURDIEU, 1997).
Bourdieu (2004b) afirma que a posição dos agentes é constituinte das estruturas
do campo, que podem ser modificadas de acordo com os caminhos traçados e resultantes
do jogo, ou seja, a trajetória dos agentes é, ao mesmo tempo, estruturante do campo e
forma de aquisição de capital, sendo que, para considerar a determinação das estruturas,
faz-se necessário ponderar o peso do capital de todos os agentes inseridos no campo.
Assim, as universidades se colocam como instituições principais nas quais
ocorrem as lutas e onde são determinadas as condições, como também os critérios de
pertencimento às hierarquias do campo. Em Homo Academicus (2013), Bourdieu aponta
essas instituições como espaços eficientes para produzir e adquirir capitais, os quais
asseguram benefícios no campo, isto é,
70
Importante mencionar que o habitus científico constitui-se como um tipo particular de disposição à
adesão às regras do jogo, além disso leva inscritas consigo as heranças históricas, depositadas nos corpos
individuais sob a forma de esquemas mentais e corporais de percepção, de apreciação e de ação
(BOURDIEU, 2009; CARVALHO, 2015).
240
raciocinar sobre ele, por já terem sido incorporadas. Os agentes se orientam no campo por
meio de estratégias, segundo seus interesses, e se movimentam em seu interior de acordo
com as posições ocupadas neste espaço. A posição dos agentes define suas possibilidades
e impossibilidades de exercer forças sobre o campo, sendo que a adesão, os ajustes ou
resistências/oposições a essas forças do campo dependem do habitus desses agentes
(BOURDIEU, 2004b).
São os pesquisadores dominantes que definem, em um determinado momento, o
conjunto de objetos importantes sobre os quais os agentes devem concentrar seus esforços
(BOURDIEU, 1983, 2004), ou seja, estabelecem o direcionamento de pesquisas, os
objetos científicos consagrados, as publicações em determinados periódicos. Esse poder
adquirido vem do acúmulo de capital, uma vez que este atribui poder para o
funcionamento do campo, o que é dizer que o capital científico consagra pesquisadores
(BOURDIEU, 1983, 2004b, 2013).
Além disso, este capital contribui para definir regras do jogo e suas regularidades,
e, por isso, torna-se um elemento importante para o funcionamento do campo, pois sua
acumulação permite fazer um nome no campo, resultando no conhecimento e no
reconhecimento entre os pares. É o que vai determinar a reputação do pesquisador,
fundamental para a obtenção de financiamento para a realização de pesquisas. Cabe dizer
ainda que o acúmulo de capital se torna um conjunto de propriedades distintivas, que
funciona como um capital simbólico de reconhecimento e facilita a obtenção de êxito no
jogo ao seu possuidor. Dessa forma,
As forças que estão ativas no campo – e por onde são relacionadas pelos
analistas como pertinentes devido a produzir as diferenças mais
relevantes – são as que definem o capital específico. Um capital não
existe nem funciona, salvo em relação com um campo. Confere poder
ao campo, aos instrumentos materializados ou encarnados de produção
ou reprodução, cuja distribuição constitui a estrutura mínima do campo
e as regularidades e regras que definem o funcionamento ordinário do
campo, e os benefícios engendrados nele. (BOURDIEU;
WACQUANT, 2008, p. 139, grifo do autor).
71
Este capital pode ser de diversos tipos: capital de poder universitário, capital de poder científico, capital
de prestígio científico, capital de notoriedade intelectual, capital de poder político ou econômico etc. Ver
Homo Academicus (2013) e Os usos sociais das ciências (2004).
241
estratégias dos agentes para conservar suas posições e autoridade conquistadas.
Entretanto, o campo não é estável, está em constante movimento, com agentes que
seguem acreditando no jogo, nos espaços possíveis de conservação ou de transformação
da distribuição do capital científico, para modificar as estruturas, de maneira que novos
agentes possam ser inseridos, ao mesmo tempo em que os dominantes são mantidos.
Parece interessante destacar que o conhecimento da estrutura do campo permite
adquirir meios para compreender o estado das posições e de tomadas de posição no seu
interior, além de prever ações futuras e evoluções prováveis destas últimas (BOURDIEU,
2004c, p.87). Percebe-se, assim, que as propriedades, a estrutura e o funcionamento do
campo estão interligados, são dependentes entre si e acontecem em um movimento
interacional constante, que inscreve e funda as relações estabelecidas em seu interior.
Esse breve panorama das categorias interpretativas do conceito do campo
científico permite reconhecer que este estudo se deu, principalmente, a partir da segunda
categoria interpretativa, a estruturação do campo, lembrando que isolá-la das demais é
um exercício. Esse foi o fundamento para levantar, identificar e compreender os
elementos que estruturam o campo científico da sociologia da infância na América do
Sul.
242
influências externas. Assim a autonomia vai se constituindo nas lutas, nas relações de
força, no peso/volume do capital dos agentes inseridos no campo.
Ainda que a sociologia da infância seja um campo de conhecimento, considera-se
que a complexidade dos estudos da infância requer um campo interdisciplinar (ALANEN,
2012; JAMES; PROUT, 1990; JAMES et al, 1998; QVORTRUP et al, 2009;
WOODHEAD, 2004), justamente por reconhecer a dificuldade em utilizar conceitos,
perspectivas e metodologias de uma única disciplina para compreender a infância como
fenômeno social. Além disso, o reconhecimento da existência de diversas formas de ser
criança tem constituído uma abordagem contemporânea do campo dos estudos da
infância, possibilitando o entendimento de que a infância não é universal, e sim produto
da cultura, o que pode fazê-la variar de acordo com a época e a sociedade em questão
(KEHILY, 2015).
Woodhead (2004, p.21) aponta elementos que contribuem para o reconhecimento
de um campo interdisciplinar, os estudos sociais da infância:
▪ o desenvolvimento das crianças é um processo social e cultural;
▪ a infância é um fenômeno social;
▪ a infância é um problema abertamente político, marcado pela distribuição desigual
de recursos, provisões e oportunidades, moldado tanto pelas forças globais quanto
locais;
▪ as culturas da infância são profundamente sociais;
▪ as crianças crescem cercadas por crenças e representações familiares e
desconhecidas de infâncias;
▪ a infância tem sido diferentemente entendida, institucionalizada e regulamentada
em diferentes sociedades e em diferentes pontos da história - e experienciada de
maneiras distintas pelas crianças;
▪ a infância é um status ambíguo, mesmo dentro de um determinado momento e
lugar;
▪ ser uma criança é uma experiência intensamente pessoal, faz parte da experiência
de todas as pessoas;
▪ estudar as crianças e a infância também é uma atividade social, fundada em uma
relação entre pesquisador e pesquisado.
Segundo este autor, a abordagem interdisciplinar tem provocado um alto nível de
debates, análises críticas e inovações metodológicas dentro do campo. De fato, vários
pesquisadores (ALANEN, 2012; GAITÁN MUÑOZ, 2014; JAMES et al, 1998;
243
NASCIMENTO, 2015; PUNCH, 2016; SARMENTO, 2013; WELLS, 2009; WYNESS,
2006) têm discutido a dificuldade da manutenção das fronteiras disciplinares e a
possibilidade de interlocução entre diversas disciplinas - como sociologia, antropologia,
psicologia, geografia, história, entre outras - na pesquisa e nos estudos da infância.
Sobre a interdisciplinaridade, Alanen (2012) argumenta que
Geografia da
Infância
História da
Infância
ESTUDOS
SOCIAIS DA
Sociologia
da Infância
INFÂNCIA
Psicologia
Antropologia
da Infância
244
A ideia de representar os campos por círculos tracejados ocorre justamente em
função de os campos não serem estruturas fechadas em si, conforme Bourdieu (2004c),
que indica que “é na relação entre os diferentes agentes que se engendra o campo e as
relações de força que o caracterizam”(p.52), ou seja, os campos são relativamente estáveis
e delimitados, mas é por meio dos agentes, definidos pelo volume e pela estrutura do
capital específico que possuem, que será determinada sua estrutura e o nível de forças
exercidas sobre a produção científica e a prática dos pesquisadores. De acordo com o
autor, as fronteiras das disciplinas são protegidas por condições de acesso mais ou menos
codificadas, restritivas e definidas, tendo em vista que, muitas vezes, podem ser
contestadas por disciplinas afins (BOURDIEU; WACQUANT, 2008).
Nessa linha, pode-se dizer que ‘estudos sociais da infância’ se tornou um campo
científico descrito pelo conjunto de disciplinas, com princípios próprios e interesses
comuns, sem perder de vista que cada campo que o constitui possui uma realidade
específica (um nomos particular). Esta intersecção entre as disciplinas permite a
circulação e o processo de consagração de trabalhos que compartilham das mesmas
premissas, como por exemplo, conceber a infância como categoria permanente na
estrutura geracional, considerá-la como fenômeno construído socialmente e perceber as
crianças como atores sociais. Sarmento (2013) reforça a ideia de que a sociologia da
infância assume um papel essencial na composição desse campo mais amplo dos estudos
sociais da infância, ao assinalar o lugar social das crianças e anunciar uma orientação
epistemológica que difere dos conhecimentos hegemônicos construídos historicamente
sobre a infância e as crianças.
Dessa forma, a sociologia da infância constitui uma disciplina ou campo, uma vez
que, concorde à definição de Bourdieu (2004c, p73-75), oferece indicativos que permitem
compreender a sua composição, a saber: (a) existência de uma prática de investigação;
(b) institucionalização de investigações nas universidades; (c) constituição de grupo
reconhecido, por meio de associações científicas, corporações, reuniões, revistas etc; (d)
nomos (cada disciplina é definida por um nomos particular); (e) illusio (crença no jogo);
e (f) circulação e processo de consagração e de universalização dos trabalhos72.
72
A Sociologia da Infância está presente em diferentes associações europeias, como RC53 – Sociology of
Childhood, na Internacional Sociological Association (ISA); RN04 – Sociology of children and childhood,
na European Sociological Association (ESA); o recentemente criado GT17 - Sociología de la infancia, na
Federación Española de Sociología (FES), por exemplo, o que também a identifica como campo científico.
245
A exposição realizada até aqui justifica e sustenta a pesquisa realizada sobre a
configuração do campo na América do Sul, particularmente em dois países, Argentina e
Chile, em razão, principalmente, do tempo e dos limites do financiamento da pesquisa.
Isso posto, cabe sintetizar aspectos que caracterizam o campo nos países da América do
Sul, propósito do estudo, mais particularmente na Argentina e no Chile, países
focalizados.
73
O desenvolvimento do campo nos países focalizados observa profunda relação com as mudanças políticas
e econômicas que impactam nas condições de vida das crianças, e, neste sentido, as contribuições do
sociólogo dinamarquês Qvortrup tiveram influência, por ele considerar a infância como parte da estrutura
social. A influência dos textos de Mayall e Alanen, por exemplo, acontece principalmente pela abordagem
da infância como processo relacional, no qual se inscrevem as produções que analisam as formas de
participação e agência das crianças no âmbito doméstico, rural, institucional e nos processos migratórios.
246
da Sociologia, como Bourdieu, Foucault, Castel e Guiddens, e à História da Infância de
Phillipe Àries, referência presente na maioria dos textos de origem do campo na Europa.
Entretanto, como verificado no capítulo anterior, autores latino-americanos têm
produzido material também utilizado como referência, trazendo aspectos do contexto do
continente. Nessa linha, as escolhas temáticas indicam preocupação com as políticas
sociais para a infância, o trabalho infantil, as crianças em situação de rua, as relações
intergeracionais e as representações de gênero.
Importante destacar que os temas se aproximam das questões de pesquisa
europeias no que se refere ao direito das crianças, ao adultocentrismo e a modelos de
competência, ao fator idade, à institucionalização da infância, à aproximação com os
estudos feministas, à metodologias de pesquisas com as crianças e ao panorama
conceitual da infância, e diferem destas em razão de problemáticas sociais presentes no
contexto latino-americano, principalmente quanto ao aspecto da vulnerabilidade a que as
crianças estão expostas, temática quase tradicional nos estudos do continente, como
esclarece a pesquisadora argentina Ana Padawer, ao reforçar a ideia de que a “realidade
latino-americana tem uma particularidade que, digamos, onde a infância majoritária é
uma infância pobre, uma infância indígena, e então dá-lhe como uma impressão e certos
interesses que talvez nos Estados Unidos ou na Europa não tiveram” (Entrevista com
Ana Padawer, 20/03/15).
As pesquisadoras que compuseram o corpus desta investigação demonstram
interesse, esforço e investimento em favor do desenvolvimento do campo dos estudos
sociais da infância/ da sociologia da infância em seus respectivos países, por meio da
institucionalização de grupos de estudos/pesquisas74, da obtenção de recursos das
agências financiadoras75 para investigações; da publicação de trabalhos em revistas
reconhecidas no campo76; da participação em eventos científicos77 e de propostas de
mesas de trabalho/grupos de trabalho/comitês de investigação em associações de
74
Ver o Capítulo 3, p.126- 135 e p. 141- 145.
75
CONICET, FONDECYT, Ministério da Ciência e Inovação da Espanha.
76
Ver Capítulo 4, p.230.
77
Bourdieu (1983, 1996, 2004b, 2013) demonstrou a importância dos eventos científicos para produção de
conhecimento e estruturação do campo, afirmando que o encontro dos pesquisadores contribui para
movimentar o mercado dos bens simbólicos, por meio das trocas que opera, de articulações com outros
campos, apropriação do poder de consagração e legitimação que eles detêm, estimulação e propagação do
interesse pelo jogo e o consumo do material produzido.
247
sociologia, dentre outras ações que demonstram sua crença no jogo e a luta por
visibilidade científica/acadêmica das crianças como atores sociais, e da infância enquanto
categoria permanente na estrutura social. Acrescente-se que, nos países investigados, a
Associação Chilena de Sociologia e a Associação Argentina de Sociologia, nos últimos
anos, incluíram a infância78 nos grupos de trabalho, ora relacionada à juventude, ora aos
grupos de educação, abrindo espaço para a proposição de mesas79 para apresentação de
trabalho em congressos, conferências e jornadas.
Os debates sobre a infância nos países investigados foram iniciados no final dos
anos 1980 e início dos anos 90, a partir de campos disciplinares distintos como
antropologia da educação, sociologia da educação e da família, direitos humanos, estudos
de religião, estudos rurais, psicologia social, história social e sociologia da juventude. A
militância em relação aos direitos das crianças e à CDC foram fatores marcantes para a
estruturação do campo dos estudos sociais da infância nos países sul-americanos.
Nessa linha, o balanço das produções das pesquisadoras sul-americanas ressalta
que a infância é reconstruída pelos processos investigativos como objeto sociológico, por
meio de estudos socioantropológicos, pela revisão de políticas públicas, da
conceitualização das crianças na sociedade, e na consideração das crianças como atores
sociais de pleno direito. Verificou-se a necessidade de rever as relações adultocêntricas
estabelecidas com as crianças, não somente durante os processos de pesquisa, mas
também na forma de apresentação das informações fornecidas por elas, o que convocou
os adultos “a desafiarem barreiras do seu próprio adultocentrismo” (FERREIRA, 2002,
p.20). As relações intergeracionais foram analisadas e descritas nas produções das
autoras, de forma a problematizar as relações de poder, imposições e espaços de
78
Em âmbito latino americano, o Conselho Latino Americano de Ciências Sociais (CLACSO) possui um
grupo de trabalho intitulado “GT-Juventudes e Infancias”, o qual está vigente entre os anos de 2016 e 2019;
a Associação Latino Americana de Sociologia contém um grupo de trabalho denominado “GT 21-
Sociologia de la niñez, juventude y envejecimiento”; a Bienal Ibero-americana de infâncias e juventude
também convoca mesas de trabalho para discussões interdisciplinares no campo dos estudos da infância,
sendo mais um exemplo da configuração dos eventos científicos engajados em promover discussões e a
visibilidade das crianças não apenas no âmbito científico, mas também social. Menciona-se, ainda, o comitê
de investigação “CI-17 Sociología de la Infancia” da Federação Espanhola de Sociologia, como
representativo das produções em língua espanhola e que demarca a presença do campo ao lado de
associações e comitês científicos que funcionam em âmbito internacional.
79
Além desses, existem eventos científicos realizados no interior das universidades na Argentina, menores
no que se refere à quantidade de participantes e extensão, que propõem mesas com temáticas da sociologia
da infância, de acordo com as pesquisadoras entrevistadas.
248
negociações com as crianças, em que as pesquisas etnográfica e microssociológica se
fizeram presentes na maioria das produções analisadas.
Observou-se que o movimento do campo no Chile e na Argentina não apenas
trouxe visibilidade para as crianças e a infância no campo acadêmico/científico, mas
principalmente esteve relacionado às reflexões sobre os espaços que as crianças têm
ocupado na sociedade, para além da família e da escola, ressaltando problemas sociais
com estas transformações e/ou demandas para as políticas públicas, o que remete a
Sarmento (2013), quando aponta que estudos sociais da infância se tornou um campo
científico não apenas legítimo, mas “influente na produção do conhecimento sobre as
crianças e, por consequência, fundante de uma renovada reflexividade institucional sobre
a infância” (p.14).
Pode-se dizer que a literatura europeia contribui para a configuração do campo na
América do Sul, mas não a determina. As trajetórias e problemáticas sociais específicas
da infância sul-americana demandam a necessidade de teorização da infância pelos
agentes deste continente, os quais possuem uma compreensão muito maior sobre o
contexto do hemisfério sul, sobre as especificidades de cada país e as problemáticas
comuns, desigualdade social, pobreza, vulnerabilidade social, por exemplo. Pode-se
destacar, também, a ênfase política que configura os estudos sociais latino-americanos80.
Reconhecer a potencialidade que os pesquisadores sul-americanos possuem para
compreender os contextos em que estão inseridos, teorizar o hemisfério sul e aprender a
partir do Sul e com o Sul, conforme propõem Santos e Meneses (2010), parecem ser
indicativos para a consolidação e manutenção do campo na América do Sul, bem como
na América Latina. Entretanto, para além da problemática da colonização teórica, cabe
indagar as implicações referentes ao idioma, pois a consagração de pesquisadores em
âmbito mundial demanda a publicação em língua inglesa, para que os agentes sejam
conhecidos e reconhecidos no campo.
Em função da forte tradição linguística da língua inglesa, a língua espanhola,
assim como a portuguesa acabam ocupando “um lugar subalterno na difusão científica”
(SARMENTO, 2013, p.23). Além disso, o fato de o campo da sociologia da infância de
língua inglesa ter sido construído e consolidado de maneira autônoma (SIROTA, 2001)
80
O que movimenta a teorização no campo são os diferentes enfoques e as diferentes maneiras de
compreender o objeto científico, no caso deste estudo as crianças e a infância, porém é necessário considerar
a subordinação da produção científica às demandas do campo e a suas exigências (BOURDIEU, 1996,
2004b).
249
atribui legitimidade para as produções81 nesse idioma, e, consequentemente, mais
reconhecimento aos pesquisadores anglófonos, fato que demanda maiores esforços dos
agentes sul-americanos.
Outro ponto a considerar refere-se aos processos que estruturam o campo na
América do Sul, pois, se em um primeiro momento, as produções europeias e norte-
americanas tiveram grande influência para a realização de investigações científicas neste
continente, os movimentos do campo podem estruturar outros caminhos para as
produções e teorizações da infância no hemisfério sul. Como afirma Bourdieu (1996),
Muitas das questões apresentadas nos textos consultados ou nas falas das
pesquisadoras nas entrevistas, embora importantes, não cabem no contexto desta
pesquisa. Porém cabe mencionar que, para além da institucionalização no âmbito
científico, foram encontradas produções que indicam espaços no quais as crianças são
protagonistas e modificam, a partir de sua agência, o meio em que vivem, reivindicam
seus direitos e se organizam politicamente para fazer prevalecer suas vozes no contexto
social e político. Olhar para esses movimentos, para os conhecimentos produzidos e que
não estão institucionalizados no âmbito científico, constitui possíveis abordagens futuras,
para contribuir com elementos para a teorização e o desenvolvimento do campo da
sociologia da infância no hemisfério sul.
Para finalizar, é válido lembrar que o campo científico funciona como “um jogo
no qual as regras do jogo estão elas próprias em jogo” (BOURDIEU, 2004b, p.29),
estando em constante movimento e relacionado a conquistas construídas em um contexto
histórico, sendo que a força de cada campo está na sua capacidade de produção, difusão
81
Cabe dizer que não apenas o idioma, mas também a escolha do lugar de publicação se torna importante
porque “a cada autor, a cada forma de produção e de produto, corresponde um lugar natural [...] no campo
de produção e porque os produtores ou os produtos que não estão em seu devido lugar - que são como se
diz, “deslocados”- ficam mais ou menos condenados ao fracasso” (BOURDIEU, 1996, p. 190).
250
e preservação de determinados capitais, que apenas têm valor no interior dos limites do
campo. Assim, esta investigação buscou identificar, mapear e compreender o
desenvolvimento do campo na América do Sul, entretanto a forma como a sociologia da
infância e os estudos sociais da infância neste continente irão se consagrar, adquirir maior
(ou menor) autonomia, bem como lutar por maior visibilidade das produções de línguas
não hegemônicas, somente o próprio movimento do campo irá dizer.
251
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p.292-308, mar. 2010.
261
APÊNDICE A - ROTEIRO DE QUESTÕES PARA A ENTREVISTA
262
26) ¿Hay otras áreas en que el grupo trabaja?
27) ¿El grupo hace un diálogo con otras áreas para pensar en la infancia?
28) ¿Cuáles son las investigaciones en curso?
29) ¿Conoces a otros investigadores de la infancia en la Argentina? ¿Podría indicar algunos?
30) ¿Conoces a otros investigadores que trabajan en la Argentina con perspectiva social o
antropológica de la infancia? ¿Podría indicar?
31) ¿Hay centros de investigación en la Argentina que - están centrados en estudios de la
infancia?
32) ¿Te gustaría añadir informaciones que considera relevantes en los estudios de la infancia?
263
APÊNDICE B- RELAÇÃO DE REFERÊNCIAS DAS PUBLICAÇÕES ENCONTRADAS
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COSSE, I. et al. (Org.). Infancias: políticas y saberes en Argentina y Brasil, siglos XIX
y XX. Buenos Aires: Teseo, 2011.
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rural. Polis, n.34, 2013.
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nuevos contextos familiares. Santiago: LOM y Universidad Diego Portales, 2008.
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280
APÊNDICE C- RELAÇÃO DAS UNIVERSIDADES CONSULTADAS
ARGENTINA
❖ BUENOS AIRES:
➢ Públicas:
▪ Colégio Nacional de Arte
▪ Escola Naval
▪ Faculdade Latino-Americana de Cs. Sociais
▪ Inst. Universidade da Policia Federal Arg.
▪ Instituto de Ensino Superior no Exército
▪ Instituto de Gendarmaria Nacional
▪ Universidade de Buenos Aires (UBA)
▪ Universidade de Segurança Marítima
▪ Universidade Nac. do Noroeste de Buenos Aires
▪ Universidade Nacional de A. Matanza
▪ Universidade Nacional de A. Plata (UNLP)
▪ Universidade Nacional de Gral. San Martín
▪ Universidade Nacional de Lanús
▪ Universidade Nacional de Luján (UNLU)
▪ Universidade Nacional de Mar del Plata
▪ Universidade Nacional de Quilmes
▪ Universidade Nacional de Tres de Febreiro
▪ Universidade Nacional do Centro da Prov. Bs. As.
▪ Universidade Nacional do Gral. Sarmiento
▪ Universidade Nacional do Sul
▪ Universidade Nacional Lomas de Zamora (UNLZ)
▪ Universidade Provincial de Sudoeste
▪ Universidade Tecnológica Nacional (UTN)
➢ Privadas:
▪ Escola de Negócios na Argentina
▪ IAE Business School
▪ IDEA Instituto
▪ Inst. Tecnológico Bs. As. (ITBA)
▪ Instituto CEMIC
▪ Instituto ESEADE
▪ Instituto ISEDET
▪ Instituto Univ. da Cs. da Salude
▪ Instituto Universitário Aeronáutico
▪ Univ. Católica Argentina (UCA)
▪ Universidade Atlântida Argentina
▪ Universidade Austral
▪ Universidade Blas Pascal
281
▪ Universidade CAECE
▪ Universidade Católica de A. Plata
▪ Universidade Católica de Córdoba
▪ Universidade da Empresa (UADE)
▪ Universidade da Marina Mercante
▪ Universidade de Belgrano (UB)
▪ Universidade de Cs. Empre. e Soc. (UCES)
▪ Universidade de Flores (UFLO)
▪ Universidade de Morón (UM)
▪ Universidade de Palermo (UP)
▪ Universidade de San Andrés
▪ Universidade de Saúde Mental
▪ Universidade do CEMA
▪ Universidade do Cinema
▪ Universidade do Museo Social Argentino
▪ Universidade do Salvador (USAL)
▪ Universidade Empresarial Siglo XXI
▪ Universidade FASTA
▪ Universidade Favaloro
▪ Universidade ISALUD
▪ Universidade J. F. Kennedy (UK)
▪ Universidade Maimónides
▪ Universidade Medicina Hospital Italiano
▪ Universidade Nacional de A Pampa
▪ Universidade Nacional de Córdoba
▪ Universidade Nacional de Rio Quarto
▪ Universidade Nacional de Vila María
▪ Universidade Notarial
▪ Universidade Oberta Interamericana
▪ Universidade Popular do Madres do Plaza de Mayo
▪ Universidade Tecnológica Nacional (UTN)
▪ Universidade Torcuato Di Tella
❖ CUYO
➢ Públicas:
▪ Universidade Nacional de Cuyo
▪ Universidade Nacional de San Juan
▪ Universidade Nacional de San Luis
▪ Universidade Provincial do Ponto
▪ Universidade Tecnologica Nacional (UTN)
➢ Privadas:
▪ Universidade Católica de Cuyo
▪ Universidade Champagnat
▪ Universidade de Congreso
282
▪ Universidade de Mendoza
▪ Universidade do Aconcagua
▪ Universidade Juan Agustín Maza
❖ REGIÃO OESTE
➢ Públicas:
▪ Universidade Nacional de Rosário
▪ Universidade Nacional de Santiago do Estero
▪ Universidade Nacional do Litoral
▪ Universidade Tecnológica Nacional (UTN)
➢ Privadas:
▪ IDEA Instituto
▪ Instituto Universitário del Gran Rosário
▪ Instituto Universitário Italiano de Rosário
▪ Universidade Católica de Santa Fé
▪ Universidade Católica de Santiago do Estero
▪ Universidade do Centro Educativo Latino-americano
▪ Universidade Aberta Interamericana
❖ MESOPOTAMIA
➢ Públicas:
▪ Universidade Autônoma de Entre Rios
▪ Universidade Nac. de Concepção do Uruguay
▪ Universidade Nacional de Entre Rios
▪ Universidade Nacional de Misiones
▪ Universidade Nacional do Nordeste
▪ Universidade Tecnológica Nacional (UTN)
➢ Privadas:
▪ Instituto Universitário Gastón Dachary
▪ Universidade Adventista do Plata
▪ Universidade da Cuenca do Plata
❖ NOROESTE
➢ Públicas:
▪ Universidade Nacional de A. Rioja
▪ Universidade Nacional de Catamarca
▪ Universidade Nacional de Chilecito
▪ Universidade Nacional de Jujuy
▪ Universidade Nacional de Salta
▪ Universidade Nacional de Tucumán
▪ Universidade Tecnológica Nacional (UTN)
➢ Privadas:
▪ Universidade Católica de Salta
▪ Universidade do Norte Santo Tomás de Aquino
283
▪ Universidade Sao Pablo
❖ NORTE
➢ Públicas:
▪ Univ. Tecnológica Nacional (UTN)
▪ Universidade Nacional de Formosa
▪ Universidade Nacional do Chaco Austral
▪ Universidade Nacional do Nordeste
❖ PATAGONIA
➢ Públicas:
▪ Univ. Nac. da Patagônia San Juan Bosco
▪ Universidade Nacional da Patagônia Austral
▪ Universidade Nacional do Comahue
▪ Universidade Nacional do Río Negro
▪ Universidade Tecnológica Nacional (UTN)
➢ Privadas:
▪ Instituto Balseiro
BOLÍVIA
❖ BENI/ CHUQUISACA
➢ Públicas:
▪ Universidade Autónoma del Beni José Ballivián (UABJB) (Trinidad)
▪ Universidade Mayor de San Francisco Xavier (USFX) (Sucre)
▪ Universidade Andina Simón Bolívar (UASB) (Sucre)
➢ Privadas:
▪ Universidade Privada del Valle (UNIVALLE) (Trinidad)
▪ Universidade Privada del Valle (UNIVALLE) (Sucre)
▪ Universidade Boliviana de Informática (UBI) (Sucre)
❖ COCHABAMBA
➢ Públicas:
▪ Universidade Mayor de San Simón (UMSS) (Cochabamba)
➢ Privadas:
▪ Escuela Militar de Ingeniería (EMI) (Cochabamba)
▪ Uni. Priv. de Cs. Administrativas y Tecnológicas (UCATEC) (Cochabamba)
▪ Universidade Adventista de Bolivia (UAB) (Cochabamba)
▪ Universidade Católica Boliviana San Pablo (UCB) (Cochabamba)
▪ Universidade Central (UNICEN) (Cochabamba)
▪ Universidade de Aquino Bolivia (UDABOL) (Cochabamba)
▪ Universidade Privada Abierta Latinoamericana (UPAL) (Cochabamba)
▪ Universidade Privada Boliviana (UPB) (Cochabamba)
284
▪ Universidade Privada del Valle (UNIVALLE) (Cochabamba)
▪ Universidade Privada Franz Tamayo (UNIFRANZ) (Cochabamba)
▪ Universidade Simón I. Patiño (USIP) (Cochabamba)
▪ Universidade Técnica Privada Cosmos (UNITEPC) (Cochabamba)
❖ LA PAZ
➢ Públicas:
▪ Universidade Mayor de San Andrés (UMSA)
▪ Universidade Pública de El Alto (UPEA)
➢ Privadas:
▪ Escuela Militar de Ingeniería (EMI)
▪ Universidade Boliviana de Informática (UBI)
▪ Universidade Católica Boliviana San Pablo (UCB)
▪ Universidade Central (UNICEN)
▪ Universidade de Aquino Bolivia (UDABOL)
▪ Universidade de la Cordillera (UCORDILLERA)
▪ Universidade de los Andes (UDELOSANDES)
▪ Universidade La Salle (ULS)
▪ Universidade Loyola
▪ Universidade Nur
▪ Universidade para la Investig. Estratégica en Bolivia (UPIEB)
▪ Universidade Privada Boliviana (UPB)
▪ Universidade Privada del Valle (UNIVALLE)
▪ Universidade Privada Franz Tamayo (UNIFRANZ)
▪ Universidade Privada Nuestra Señora de La Paz (UNSLP)
▪ Universidade Privada San Francisco de Asis (USFA)
▪ Universidade Real (UREAL)
▪ Universidade Saint Paul
▪ Universidade Salesiana de Bolivia (USALESIANA)
▪ Universidade Tecnológica Boliviana (UTB)
▪ Universidade Unión Bolivariana
❖ ORURO/ PANDO
➢ Públicas:
▪ Universidade Amazónica de Pando (UAP) (Cobija)
▪ Universidade Técnica de Oruro (UTO) (Oruro)
➢ Privadas:
▪ Universidade de Aquino Bolívia (UDABOL) (Oruro)
▪ Universidade Privada Abierta Latinoamericana (UPAL) (Oruro)
▪ Universidade Privada De Oruro (UNIOR) (Oruro)
❖ SANTA CRUZ
➢ Pública:
▪ Univ. Autónoma Gabriel Rene Moreno (UAGRM)
285
➢ Privadas:
▪ Escola Militar de Ingeniería (EMI)
▪ Univ. Nac. Ecológica Santa Cruz (UECOLOGICA)
▪ Univ. Priv. de Sta. Cruz de la Sierra (UPSA)
▪ Univ. Salesiana de Bolivia (USALESIANA)
▪ Univ. Tecnológica Priv. de Sta. Cruz (UTEPSA)
▪ Universidade Bethesda (UNIBETH)
▪ Universidade Católica Boliviana San Pablo
▪ Universidade Cristiana de Bolivia (UCEBOL)
▪ Universidade Empresarial Mateo Kuljis
▪ Universidade Evangélica Boliviana (UEB)
▪ Universidade Nacional del Oriente (UNO)
▪ Universidade Nur
▪ Universidade Priv. de Aquino Bolivia (UDABOL)
▪ Universidade Priv. Franz Tamayo (UNIFRANZ)
▪ Universidade Privada Cumbre
▪ Universidade Privada Domingo Savio (UPDS)
❖ POTOSÍ/ TARIJA
➢ Públicas:
▪ Universidade Autónoma Juan Misael Saracho (UAJMS) (Tarija)
▪ Universidade Autónoma Tomás Frías (UATF) (Potosí)
▪ Universidade Nacional Siglo XX (UNSXX) (Llallagua)
➢ Privada:
▪ Universidade Católica Boliviana San Pablo - Tarija (Tarija)
CHILE
❖ REGIÃO METROPOLITANA
➢ Públicas:
▪ Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais
▪ Universidade de Santiago
▪ Universidade Metropolitana de Cs. da Educação
▪ Universidade no Chile
▪ Universidade Tecnológica Metropolitana
➢ Privadas:
▪ Academia Técnico-Militar
▪ Pontifícia Universidade Católica no Chile
▪ Univ. Ibero-americana de Ciências e Tecnologia
▪ Universidade A. República
▪ Universidade Academia de Humanismo Cristiano
▪ Universidade Aconcagua
286
▪ Universidade Alberto Hurtado
▪ Universidade Bernardo O'Higgins
▪ Universidade Bolivariana
▪ Universidade Católica
▪ Universidade Católica Cardenal Silva Henríquez
▪ Universidade Central de Chile
▪ Universidade Chileno - Britânica de Cultura
▪ Universidade de Arte e Ciências Sociais, ARCIS
▪ Universidade de Artes, Ciências e Comunicação
▪ Universidade de As Américas
▪ Universidade de Ciências da Informática, UCINF
▪ Universidade de Os Andes
▪ Universidade Diego Portales
▪ Universidade do Desarrollo
▪ Universidade do Pacífico
▪ Universidade Finis Terrae
▪ Universidade Gabriela Mistral
▪ Universidade Internacional SEK
▪ Universidade Malhor
▪ Universidade Mariano Egaña
▪ Universidade Miguel de Cervantes
▪ Universidade Nacional Andrés Bello
▪ Universidade Santo Tomás
▪ Universidade Tecnológica de Chile
❖ QUARTA/QUINTA REGIÃO
➢ Públicas:
▪ Universidade de A. Serena
▪ Universidade de Valparaíso
▪ Univ. de Praia larga de Ciencias da Educação
➢ Privadas:
▪ Aconcagua Universidade
▪ Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso
287
▪ Universidade Adolfo Ibáñez
▪ Universidade Bolivariana
▪ Universidade Católica
▪ Universidade de Viña do Mar
▪ Universidade do Mar
▪ Universidade Marítima de Chile
▪ Universidade Tecnica Federico Santa Maria
❖ NONA/DÉCIMA/DUODÉCIMA REGIÃO
➢ Públicas:
▪ Universidade Católica de Temuco
▪ Universidade de A Fronteira
▪ Universidade de Magallanes
▪ Universidade de Os Lagos
➢ Privadas:
▪ Aconcagua Universidade
▪ Universidade Austral de Chile
▪ Universidade Autônoma de Chile
COLÔMBIA
❖ ANTIOQUÍA/ ATLÁNTICO
➢ Públicas:
▪ Faculdade de Antioquía
▪ Instituição Universidade de Envigado
▪ Metropolitan Instituto de Tecnologia
288
▪ Politécnica da Colômbia Jaime Isaza Cadavid
▪ Universidade de Antioquia
▪ Universidade do Atlântico
▪ Universidade Nacional de Colômbia
➢ Privadas:
▪ Autônomo Universidade do Caribe
▪ Corporação Universitária de Medellin
▪ Corporação para a Pesquisa Biológica
▪ Corporação da Universidade Adventista
▪ Costa Corporação Universitária
▪ Escola de Engenharia de Antioquia
▪ Fundação Universitária Luís Amigó
▪ Instituto de Tecnologia Pascual Bravo
▪ Instituto Tecnológico de Antioquia
▪ Norte da Fundação Universidade Católica
▪ Pontifícia Universidade Bolivariana
▪ Universidade Autônoma da América Latina
▪ Universidade Católica do Oriente
▪ Universidade CES
▪ Universidade Cooperativa da Colômbia
▪ Universidade de Medellín
▪ Universidade do Norte
▪ Universidade EAFIT
▪ Universidade Esumer Instituição
▪ Universidade Metropolitana do Barranquilla
▪ Universidade Simón Bolívar
❖ BOLÍVAR/BOYACÁ/CALDAS
➢ Públicas:
▪ Univ. da Colômbia Pedagógica e Tecnológica
▪ Universidade de Cartagena
▪ Universidade do Caldas
▪ Universidade Nacional da Colômbia
➢ Privadas:
▪ Inst. Univ. de Belas Artes e Ciências de Bolívar
▪ Universidade Autônoma de Manizales
▪ Universidade Católica de Manizales
▪ Universidade de Boyacá
▪ Universidade de Manizales
▪ Universidade de San Buenaventura
▪ Universidade Tecnológica de Bolívar
❖ CAQUETÁ/CAUCA
➢ Públicas:
289
▪ Faculdade de Cauca
▪ Nacional do Desporto Escolar
▪ Universidade da Amazônia
▪ Universidade de Cauca
▪ Universidade do Pacífico
▪ Universidade do Vale
➢ Privadas:
▪ Centro Internacional de Formação e Medicina
▪ Fundação Universitária de Popayán
▪ Instituição Universidade José Antonio Camacho
▪ Instituto de Belas Artes
▪ Universidade Autônoma do Ocidente
▪ Universidade de Santiago de Cali
▪ Universidade ICESI
❖ CESAR/CHOCÓ/CÓRDOBA
➢ Públicas:
▪ Universidade de Córdoba
▪ Universidade Popular de Cesar
▪ Universidade Tecnológica de Chocó
➢ Privadas:
▪ Fundação Faculdade Área Andina
▪ Universidade de Sinú
❖ DISTRITO CAPITAL
➢ Públicas:
▪ Faculdade de Cundinamarca
▪ Faculdade de Função Pública
▪ Universidade Distrital Francisco Jose de Caldas
▪ Universidade Nacional Aberta e à Distância
▪ Universidade Nacional da Colômbia
▪ Universidade Nueva Granada Militar
▪ Universidade Pedagógica Nacional
➢ Privadas:
▪ Escola Colombiana de Engenharia Julio Garavito
▪ Escola de Estudos de Gestão Avançada
▪ Escola Industrial da Colômbia
▪ Fundação Faculdade Área Andina
▪ Fundação Universidade Juan N. Corpas
▪ Inter. Corp. para o Desenvolvimento da Educação
▪ Politécnico Grancolombiano
▪ Pontifícia Universidade Javeriana
▪ Universidade Antonio Nariño
▪ Universidade Autônoma da Colômbia
290
▪ Universidade Católica da Colômbia
▪ Universidade Central
▪ Universidade Corporativa Minuto de Dios
▪ Universidade de América
▪ Universidade de Bogotá "José Tadeo Lozano"
▪ Universidade de Ciências Aplicadas e Ambientais
▪ Universidade de Rosário
▪ Universidade de Sabana
▪ Universidade de Salle
▪ Universidade dos Andes
▪ Universidade EAN
▪ Universidade El Bosque
▪ Universidade Externado da Colômbia
▪ Universidade Gran Colombia
▪ Universidade Incca da Colômbia
▪ Universidade Livre
▪ Universidade Manuela Beltrán
▪ Universidade Piloto da Colômbia
▪ Universidade San Martín
▪ Universidade Santo Tomás
▪ Universidade Sergio Arboleda
291
▪ Popular da Universidade Católica de Risaralda
▪ Fundação Faculdade Área Andina
▪ Universidade Autônoma de Bucaramanga
▪ Universidade de Santander
▪ Universidade Manuela Beltrán
▪ Instituto de La Paz
❖ SUCRE/ TOLIMA
➢ Públicas:
▪ Universidade de Sucre
▪ Universidade de Tolima
➢ Privadas:
▪ Conservatório de Tolima
▪ Universidade de Ibague
EQUADOR
❖ AZUAY/ BOLÍVAR
➢ Públicas:
▪ Universidade de Cuenca (UCUENCA) (Cuenca)
▪ Universidade Estatal de Bolívar (UEB) (Guaranda)
➢ Privadas:
▪ Universidade Católica de Cuenca (UCACUE) (Cuenca)
▪ Universidade del Azuay (UAZUAY) (Cuenca)
▪ Universidade Panamericana de Cuenca (Cuenca)
▪ Universidade Politécnica Salesiana (UPS) (Cuenca)
❖ CARCHI/ CHIMBORAZO
➢ Públicas:
▪ Universidade Politécnica Estatal del Carchi (UPEC) (Tulcán)
▪ Escuela Sup. Politécnica de Chimborazo (ESPOCH) (Riobamba)
▪ Universidade Nacional de Chimborazo (UNACH) (Riobamba)
➢ Privada:
▪ Univ. Interamericana del Ecuador (UNIDEC) (Riobamba - Cumandá)
❖ COTOPAXI/ EL ORO
➢ Públicas:
▪ Universidade Técnica de Cotopaxi (UTC) (Latacunga)
▪ Universidade Técnica de Machala (Machala)
➢ Privadas:
▪ Universidade Tecnológica S. A. de Machala (UTSAM) (Machala)
▪ Universidade Metropolitana (UMETRO) (Machala)
292
❖ ESMERALDAS/ IMBABURA
➢ Públicas:
▪ Univ. Técnica L. V. T. de Esmeraldas (UTELVT) (Esmeraldas)
▪ Universidade Técnica del Norte (UTN) (Ibarra)
➢ Privada:
▪ Universidade de Otavalo (Otavalo)
❖ GUAYAS
➢ Públicas:
▪ Escuela Sup. Politécnica del Litoral (ESPOL) (Guayaquil)
▪ Univ. Estatal Península de Santa Elena (UPSE) (Guayaquil - Playas)
▪ Universidade Agraria del Ecuador (Guayaquil)
▪ Universidade de Guayaquil (UG) (Guayaquil)
▪ Universidade Estatal de Milagro (UNEMI) (Guayaquil - Milagro)
➢ Privadas:
▪ Universidade Casa Grande (Guayaquil)
▪ Universidade Cat. de Sgo. de Guayaquil (UCSG) (Guayaquil)
▪ Universidade San Francisco de Quito (USFQ) (Guayaquil)
▪ Universidade Santa María (USM) (Guayaquil)
▪ Universidade del Pacifico Escuela de Negocios (Guayaquil)
▪ Univ. Laica Vicente Rocafuerte de Guayaquil (Guayaquil)
▪ Universidade Metropolitana (UMETRO) (Guayaquil)
▪ Univ. Naval Rafael Moran Valverde (UNINAV) (Guayaquil - Milagro)
▪ Univ. de Especialidades Espíritu Santo (UEES) (Samborondón)
▪ Universidade Tecnológica Ecotec (Guayaquil)
▪ Univ. Tecnológ. Empresarial de Guayaquil (UTEG) (Guayaquil)
▪ IDE Business School (Guayaquil)
❖ NAPO/ MANABI
➢ Públicas:
▪ Esc. Sup. Pol. Agropecuaria de Manabi (ESPAM) (Calceta)
▪ Universidade Estatal del Sur de Manabi (Jipijapa)
▪ Universidade Laica E. Alfaro de Manabi (ULEAM) (Manta)
▪ Universidade Técnica de Manabi (UTM) (Portoviejo)
293
➢ Privadas:
▪ Esc. Sup. Politéc. Ecológica Amazónica (ESPEA) (Tena)
▪ Universidade San Gregorio de Portoviejo (Portoviejo)
❖ QUITO / PICHINCHA
➢ Públicas:
▪ Escuela Politécnica del Ejercito (ESPE) (Sangolquí)
▪ Escuela Politécnica Nacional (EPN) (Quito)
▪ Escuela Sup. Politécnica del Litoral (ESPOL) (Quito)
▪ Facultad Latinoamericana de Cs. Soc. (FLACSO) (Quito)
▪ Instituto de Altos Estudios Nacionales (IAEN) (Quito)
▪ Universidade Andina Simón Bolívar (UASB) (Quito)
▪ Universidade Central del Ecuador (UCE) (Quito)
➢ Privadas:
▪ Esc. Politécnica Javeriana del Ecuador (ESPOJ) (Quito)
▪ Esc. Sup. Politéc. Ecológica Amazónica (ESPEA) (Quito)
▪ IDE Business School (Quito)
▪ Pontificia Univ. Católica del Ecuador (PUCE) (Quito)
▪ Univ. Iberoamericana del Ecuador (UNIBE) (Quito)
▪ Univ. Interc. de las Nac. y Pueblos Indig. A. Wasi (Quito)
▪ Universidade Alfredo Pérez Guerrero (UNAP) (Quito)
▪ Universidade Cristiana Latinoamericana (UCL) (Quito)
▪ Universidade de Especialidades Turísticas (UCT) (Quito)
▪ Universidade de las Américas (UDLA) (Quito)
▪ Universidade de Los Hemisferios (Quito)
▪ Universidade del Pacifico Escuela de Negocios (Quito)
▪ Universidade Internacional del Ecuador (UIDE) (Quito)
▪ Universidade Metropolitana (UMETRO) (Quito)
▪ Universidade Og Mandino (UOM) (Quito)
▪ Universidade Particular Internacional Sek (UISEK) (Quito)
▪ Universidade San Francisco de Quito (USFQ) (Quito)
▪ Universidade Tecnológica América (UNITA) (Quito)
▪ Universidade Tecnológica Equinoccial (UTE) (Quito)
▪ Universidade Tecnológica Indoamerica (UTI) (Quito)
▪ Universidade Tecnológica Israel (UTI) (Quito)
❖ PASTAZA/ TUNGURAHUA
➢ Públicas:
▪ Universidade Estatal Amazónica (UEA) (Puyo)
▪ Universidade Técnica de Ambato (UTA) (Ambato)
➢ Privadas:
▪ Universidade Regional Autónoma de Los Andes (Ambato)
▪ Universidade Tecnológica Indo América (UTI) (Ambato)
294
PARAGUAI
❖ BOQUERÓN/ CAAGUAZÚ
➢ Privada:
▪ Instituto Técnico Superior de Enfermería (Boquerón)
▪ Universidade San Carlos (Caaguazú)
❖ ASUNCIÓN – CAPITAL
➢ Pública:
▪ Universidade Nacional de Asunción (UNA)
➢ Privadas:
▪ Centro de Educ. Sup. San Sebastián (CESSS)
▪ Centro de Estudios Bancarios CEBANC
▪ Inst. Prof. de Artes y Cs. de la Comunicación (IPAC)
▪ Inst. Sup. Salesiano de Estudios Filosóficos (ISSEF)
▪ Instituto de Administración Bancaria INABANC
▪ Instituto de Ciencias de Computación (ICC)
▪ Instituto de Derecho y Economía Ambiental (IDEA)
▪ Instituto Desarrollo
▪ Instituto IDIPAR Idiomas en Paraguay
▪ Instituto Nacional de Salud (INS)
▪ Instituto Paraguayo de Protocolo y Ceremonial
▪ Instituto Superior de Educ. Dr. Raul Peña (ISE)
▪ Instituto Técnico Superior Gamma
▪ Instituto Técnico Superior Maria Serrana
▪ Instituto Técnico Superior Unisoft System
▪ Universidade Americana
▪ Universidade Autónoma de Asunción (UAA)
▪ Universidade Autónoma del Paraguay (UAP)
▪ Universidade Autónoma del Sur (UNASUR)
▪ Universidade Autónoma San Sebastián
▪ Universidade Católica Ntra. Señora de la Asunción (UC)
▪ Universidade Central del Paraguay
295
▪ Universidade Columbia del Paraguay
▪ Universidade Comunera (UCOM)
▪ Universidade de Desarrollo Sustentable (UDS)
▪ Universidade de la Integración de las Américas (UNIDA)
▪ Universidade del Cono Sur de las Américas (UCSA)
▪ Universidade del Norte (UNINORTE)
▪ Universidade del Pacífico
▪ Universidade Española
▪ Universidade Evangélica del Paraguay
▪ Universidade Iberoamericana (UNIBE)
▪ Universidade Internacional Tres Fronteras (UNINTER)
▪ Universidade Metropolitana de Asunción (UMA)
▪ Universidade Nihon Gakko
▪ Universidade Politécnica y Artística del Paraguay (UPAP)
▪ Universidade San Carlos
▪ Universidade San Lorenzo (UNISAL)
▪ Universidade Serrana
▪ Universidade Téc. de Comercialización y Desarrollo (UTCD)
▪ Universidade Tecnológica Intercontinental (UTIC)
❖ CONCEPCIÓN/ GUAIRÁ
➢ Públicas:
▪ Universidade Nacional de Concepción (UNC) (Concepción)
▪ Universidade Nacional de Villarrica (UNVES) (Villarrica)
➢ Privadas:
▪ Universidade San Carlos (Horqueta)
▪ Universidade Privada del Guairá (UPG) (Villarrica)
❖ ITAPÚA/ ÑEEMBUCU
➢ Públicas:
▪ Universidade Nacional de Itapúa (UNI) (Encarnación)
▪ Universidade Nacional de Pilar (UNP) (Pilar)
➢ Privadas:
▪ Universidade Autónoma de Encarnación (UNAE) (Encarnación)
▪ Universidade San Carlos (Bella Vista)
296
PERU
❖ UNIVERSIDADES DE LIMA
❖ BELLAVISTA/ CHORRILLOS/ EL CERCADO
➢ Federais:
▪ Universidade Nacional do Callao
▪ Universidade Nacional Mayor de San Marcos
➢ Privadas:
▪ Universidade Inca Garcilaso da Vega
▪ Universidade Peruana de As Americas
▪ Universidade Privada San Juan Bautista
▪ Universidade Tecnologica do Peru
297
▪ Universidade Nacional Federico Villarreal
➢ Privadas:
▪ Pontifícia Universidade Católica do Peru
▪ Universidade de Piura - Sede Lima
▪ Universidade Peruana Cayetano Heredia
❖ UNIVERSIDADES DE PROVINCIA
❖ ANCASH/ APURIMAC/ AREQUIPA
➢ Públicas:
▪ Universidade Nac. Santiago Antunez de Mayolo
▪ Universidade Nacional de San Agustín
▪ Universidade Nacional do Santa
➢ Privadas:
▪ Universidade Católica de Santa María
▪ Universidade Católica San Pablo
▪ Universidade Esan
▪ Universidade Privada San Pedro - Chimbote
▪ Universidade Tecnologica de Os Andes
298
▪ Universidade Os Angeles de Chimbote
▪ Universidade Privada Os Angeles
❖ LA LIBERTAD/ LAMBAYEQUE
➢ Públicas:
▪ Universidade Nacional de Trujillo
▪ Universidade Nacional Pedro Ruiz Gallo
➢ Privadas:
▪ Univ. Católica Santo Toribio de Mogrovejo
▪ Universidade Cesar Vallejo - Chiclayo
▪ Universidade Cesar Vallejo - Trujillo
▪ Universidade de Chiclayo
▪ Universidade Os Angeles de Chimbote - Trujillo
▪ Universidade Privada Antenor Orrego - UPAO
▪ Universidade Privada do Norte
▪ Universidade Senhor de Sipan
299
➢ Privada:
▪ Universidade Privada de Tacna
❖ TUMBES/ UCAYALI
➢ Públicas:
▪ Universidade Nacional de Tumbes
▪ Universidade Nacional de Ucayali
URUGUAI
❖ MONTEVIDEO
➢ Pública:
▪ Escola de Ciências da Biblioteca e Afins
▪ Escola de Música
▪ Instituto Militar de Estudos Avançados
▪ Instituto Superior de Educação Física
▪ Universidade da República
➢ Privadas:
▪ Escola de Hotelaria e Gastronomia Del Plata
▪ Escola de Psicologia Social de Montevideo
▪ Escola Superior de Turismo Hotelaria e Gastronomia
▪ Instituto ACJ
▪ Instituto Agro Veterinario
▪ Instituto Aldey
▪ Instituto Bios
▪ Instituto CLAEH
▪ Instituto Universitário Autonomo do Sul
▪ IPEP Escola de Jornalismo
▪ ISEDE Centro de Treinamento Corporativo
▪ Pontifícia Universidade Católica do Uruguay
▪ Universidade da Negócios
▪ Universidade de Montevideo
▪ Universidade do Trabalho do Uruguay
▪ Universidade ORT
❖ COLONIA/ DURAZNO
➢ Privadas:
300
▪ Centro Politécnico do Cone Sul
▪ Instituto Universitario de Punta del Este
❖ MALDONADO
➢ Pública:
▪ Instituto Superior de Educação Física
➢ Privadas:
▪ Escola de Formação de Turismo
▪ Instituto Universitario de Punta del Este
▪ Universidade Francisco de Asis
❖ PAYSANDÚ/ RIVERA
➢ Públicas:
▪ Instituto Superior de Educação Física
▪ Universidade da República
▪ Universidade da República
➢ Privada:
▪ Instituto Universitario de Punta del Este
VENEZUELA
301
❖ BARINAS/ BOLÍVAR/ CARABOBO
➢ Públicas:
▪ Univ. Politécnica da Força Armada Bolivariana
▪ Universidade Bolivariana da Venezuela
▪ Universidade de Carabobo
▪ Universidade Nacional Exp. A. J. de Sucre
▪ Universidade Nacional Exp. das Planícies Occ.
▪ Universidade Nacional Exp. Simon Rodriguez
▪ Universidade Nacional Experimental Guayana
➢ Privadas:
▪ Instituto de Estudos de Gestão Avançada
▪ Universidade Americana de Puerto
▪ Universidade Arturo Michelena
▪ Universidade Jose Antonio Paez
▪ Universidade Politécnica de Valencia
▪ Universidade Santa Ines
▪ Universidade Santa Maria
▪ Universidade Tecnológica do Centro
302
▪ Universidade Monteavila
▪ Universidade Nacional Exp. Francisco de Miranda
▪ Universidade Nacional Exp. Simon Rodriguez
▪ Universidade Santa Maria
▪ Universidade Virtual da América Latina
❖ TRUJILLO/ VARGAS
➢ Públicas:
▪ Univ. Politécnica da Força Armada Bolivariana
303
▪ Universidade Nacional Exp. Marítima do Caribe
▪ Universidade Nacional Exp. Simon Rodriguez
➢ Privada:
▪ Universidade Vale do Momboy
❖ YARACUY/ ZULIA
➢ Públicas:
▪ Instituto Universitário de Agro Industrial
▪ Univ. Politécnica da Força Armada Bolivariana
▪ Universidade Bolivariana da Venezuela
▪ Universidade de Zulia
▪ Universidade Nac. Experimental do Yaracuy
▪ Universidade Nacional Exp. Rafael Maria Balat
▪ Universidade Nacional Experimental Lago Sul
➢ Privadas:
▪ Instituto de Estudos de Gestão Avançada
▪ Universidade Alonso de Ojeda
▪ Universidade Católica Cecilio Acosta
▪ Universidade Jose Gregorio Hernandez
▪ Universidade Rafael Belloso Chacin
▪ Universidade Rafael Urdaneta
304
APÊNDICE D - RELAÇÃO DAS PRODUÇÕES DAS PESQUISADORAS QUE COMPÕEM O
CORPUS DA PESQUISA
ARGENTINA - PRODUÇÕES
ANA PADAWER
305
PADAWER, A.; THISTED, S. Proyectos de Futuro, escuela y desigualdad social:
formas de sociabilidad y socialización de la transición entre la infancia y la juventud en
dos localidades periurbanas de la Argentina. Buenos Aires: Fe y Alegria, 2010.
306
______. La niñez mapuche en el Neuquén. Sentidos de pertenencia en tensión. Buenos
Aires: Biblos, 2015. (Colección Culturalia).
______. Pici zomo y pici wenxu, alumnas y alumnos. Definiciones de género en disputa
en torno a niñas y niños mapuce del Neuquén.In: HIRSCH, S. (Comp.) Mujeres
Indígenas en la Argentina. Cuerpo, trabajo y poder. Buenos Aires: Biblos, 2008c. p.
179-204.
______. Yo peleo con la maestra. Experiencias escolares de los niños mapuche del
Neuquén. In: PALADINO, M.; GARCÍA, S. M. (Comp.) La escolarización en los
Pueblos Indígenas Americanos: Impactos y Desafíos.Quito; Abya Yala Año: 2011c; p.
405 – 429
SZULC, A. et al. La investigación etnográfica sobre y con niños y niñas: una mirada
desde la antropología. XXVII Congreso de la Asociación Latinoamericana de Sociología,
Buenos Aires, 2009.
SZULC, A; COHN, C. Anthropology and Childhood in South America: Perspectives
from Brazil and Argentina. AnthropoChildren; v. 1, p. 1 – 17, 2012.
CECILIA LITICHEVER
307
DIANA MILSTEIN
______. ¿Estos chicos ‘tienen’ familia? Situación económica de los hogares de los niños,
niñas y adolescentes en situación de calle”. In: POJOMOVSKY, J. (Org). Cruzar la
calle. TOMO 1: Niñez y adolescencia en las calles de la ciudad, Buenos Aires, Espacio,
2008a.
308
______. ‘Estar en la calle’. Análisis de la experiencia de chicos y chicas en situación de
calle. La calle como sistema de incertidumbre”. Actas del XXVI Congreso de la
Asociación Latinoamericana de Sociología (ALAS) – Guadalajara-México, 2007.
______. En el CAINA te habla la boca. La interacción cotidiana en un centro de atención
para niños y adolescentes en situación de calle, desde la experiencia de los chicos que la
frecuentan. In: CHAVES, M. (Coord.), Estudios en Juventudes en Argentina I. Hacia
un estado del arte. Buenos Aires: Editorial Universidad Nacional de la Plata (EdULP),
2009, p. 227-267.
______. Ser niña o niño y ‘estar’ en la calle. Género y sociabilidad. In: POJOMOVSKY,
J. (Org). Cruzar la calle. TOMO 2: Vínculo con las instituciones y relaciones de género
en niños, niñas y adolescentes en situación de calle, Buenos Aires, Espacio, 2008b.
GENTILE, M. F. et al. “¿Qué hiciste todo este tiempo que no tuviste hijos?”.
Intersecciones entre género, clase y edad en las investigaciones con niños, niñas y jóvenes
de sectores populares. In: LLOBET, V. (Coord.). Sentidos de la exclusión social.
Beneficiarios, necesidades y prácticas en políticas sociales para la inclusión de niños/as
y jóvenes en el área metropolitana bonaerense. Buenos Aires: Teseo, 2013. p. 161-184.
309
MARIELA MACRI
310
______. Trabajo Infanto-juvenil en Argentina. In: ENTEL, A. (Org.). Infancias: Varios
mundos. Acerca de la inequidad en la infancia argentina. Buenos Aires: Unicef-
Fundación Arcor, 2004.
______. El trabajo Infantil no es juego. Estudios e investigaciones sobre trabajo-infanto
adolescente en Argentina entre 1900-2003. Buenos Aires: Editorial La Crujía, 2005.
MACRI, M.; UHART, C. (Coord.). Trabajos infantiles e infancias. Investigaciones en
territorio (Argentina, 2005-2010). Buenos Aires: La Cruja, 2012.
______. Infancias y trabajos Infantiles. Buenos Aires: La Crujía, 2012.
MACRI, M; FORD, M.; BERLINER, C. Historia y Actualidad del trabajo infantil en
Argentina: Acontecimiento y proceso. Boletín Encuentros, Año V, n.37, OIT nov., 2005.
MIRANDA JUÁREZ, S; MACRI, M. Patrones de género en la práctica del trabajo
infantil: el caso de las niñas jornaleras en la región florícola del estado de México. Revista
Facultad de Ciencias Económicas: Investigación y Reflexión, v. XXIII, n. 1, p. 7-21
junio, 2014.
VALERIA LLOBET
LLOBET, V. et al. “¿Qué hiciste todo este tiempo que no tuviste hijos?”. Intersecciones
entre género, clase y edad en las investigaciones con niños, niñas y jóvenes de sectores
populares. In: LLOBET, V. (Coord.). Sentidos de la exclusión social. Beneficiarios,
necesidades y prácticas en políticas sociales para la inclusión de niños/as y jóvenes en el
área metropolitana bonaerense. Buenos Aires: Teseo, 2013. p. 161-184.
LLOBET, V. (Org.). Sentidos de la exclusión social: Beneficiarios, necesidades y
prácticas en políticas sociales para la inclusión de niños y jóvenes en el área
metropolitana. Buenos Aires: Bonaerense, 2013c.
______. Pensar la infancia desde América Latina. Un estado de la cuestión. Buenos
Aires: CLACSO, 2013.
LLOBET, V. ¿Fábricas de niños? Instituciones y políticas para la infancia. Buenos
Aires: Editorial Novedades Educativas, 2009.
______. ¿Retratos de niño? Políticas sociales y derechos de niñas/os en situación de calle.
In: CARLI, S. La cuestión de la infancia. Entre la escuela, la calle y el shopping. Buenos
Aires: Paidós, 2006.
______. “La implementación de políticas sociales para la infancia: las instituciones y la
ciudadanía de niños y adolescentes”. Revista Ensayos y Experiencias. Año 8, n. 41,
Buenos Aires –México, Novedades Educativas, 2001.
______. Estado, categorización social y exclusión de niños, niñas y jóvenes. Aportes de
los debates sobre la exclusión social a los estudios de infancia y juventud. In: LLOBET,
V. (Coord.). Sentidos de la exclusión social. Beneficiarios, necesidades y prácticas en
políticas sociales para la inclusión de niños/as y jóvenes en el área metropolitana
bonaerense. Buenos Aires: Teseo, 2013a. p. 23-50.
311
______. La producción de la categoría “niño-sujeto-de-derechos” y el discurso psi en las
políticas sociales en Argentina. Una reflexión sobre el proceso de transición institucional.
In: LLOBET, V. (Org). Pensar la infancia desde América Latina. Un estado de la
cuestión. Buenos Aires: CLACSO, 2013b.
______. Las políticas para la infancia y el enfoque de derechos en América Latina:
algunas reflexiones sobre su abordaje teórico. Fractal: Revista de Psicología, v. 23 – n.
3, p. 447-460, set./dez. 2011a.
______. Las políticas sociales para la infancia, la psicología y el problema del
reconocimiento. Revista de Investigaciones en Psicología. 2010.
______. Políticas sociales y ciudadanía. Diálogos entre la teoría feminista y el campo de
estudios de infancia. Frontera norte, v. 24, n. 48, jul-dic, 2012a.
______. Reflexões sobre um mal-entendido: produção de necessidades infantis nas
políticas de proteção. Psicologia em Estudo.Maringá, v. 19, n. 3, p. 369-380, jul./set.
2013c.
______. Un mapeo preliminar de investigaciones sobre infancia y adolescencia em las
ciencias sociales en Argentina desde mediados de la decada de 1990. KAIROS, v.15,
n.28, p. 1-20, 2011b.
______. Una lectura sobre el trabajo infantil como objeto de estudio. A propósito del
aporte de Viviana Zelizer. Desarrollo económico – Revista de ciencias sociales. Buenos
Aires, v. 52, n. 206, pp. 311-328, jul-set, 2012b.
LLOBET, V. et al. “Este espacio es para que ustedes hablen”. La legitimación de la
intervención en los programas sociales. In: LLOBET, V. (Coord.). Sentidos de la
exclusión social. Beneficiarios, necesidades y prácticas en políticas sociales para la
inclusión de niños/as y jóvenes en el área metropolitana bonaerense. Buenos Aires: Teseo,
2013.
LLOBET, V.; LITICHEVER, C. Desigualdad e inclusión social ¿Qué proponen los
programas de atención a niños, niñas y adolescentes? In: LLOBET, V. (Coord.). Jóvenes
y desigualdades sociales. Ciudad de México: Porrúa, 2008.
LLOBET, V.; LITICHEVER, C.; MAGISTRIS, G. La construcción del “beneficiario” en
los programas sociales dirigidos a niñas, niños y adolescentes en el área metropolitana
bonaerense. Rev. Ciencias Sociales, v. 138, p. 77-92, 2012.
VILLALTA, C.; LLOBET, V. Resignificando la protección. Los sistemas de protección
de derechos de niños y niñas en Argentina. Rev. latinoam. cienc. soc. niñez. y juv. v.12
n.1, p. 65-76, 2014.
312
CHILE - PRODUÇÕES
313
VERGARA, A; BUSTOS, J. Esa Oscura Vida Radiante. Juventud, Infancia y Nuevas
Identidades Culturales. Chile: Ediciones Escaparate, 2003.
VERGARA, A. D. S.; CHÁVEZ, P; VERGARA, E. Televidencia y vida cotidiana de la
infancia. Un estudio de casos con niños y niñas de Santiago. Polis, v.9 n.26, Santiago:
2010.
______. Los derechos de las niñas y niños peruanos en Chile: La infancia como un nuevo
actor migratorio. Revista Enfoques, v. VIII, n. 12, p. 27-51, 2010b.
______. Reseña del Libro “Los niños como actores en los procesos migratorios.
Implicaciones para los proyectos de cooperación”. Autora: Lourdes Gaitán, Madrid:
UCM. Papers. Revista de Sociologia, v. 92, p. 273-276, 2010.
______. Infancia y división sexual del trabajo: visibilizando a las niñas trabajadoras en
el servicio doméstico de Perú, Revista Nomadías, n. 17,2013.
______. La participación infantil en los procesos migratorios. Las niñas y los niños de
familias peruanas en Barcelona. Papers, Revista de Sociología, v. 95, n. 2, p.441-455,
2010.
______. Los derechos de las niñas y los niños peruanos migrantes en Chile. Revista El
Observador, Servicio Nacional de Menores (SENAME), Gobierno de Chile. n. 6, p. 62-
80, 2010a.
______. Los derechos humanos de la infancia desde una perspectiva de género. Revista
Política Publica. v.1, sep., 2007.
314
______. Los significados de “ser niña y niño migrante”: conceptualizaciones desde la
infancia peruana en Chile. POLIS. Revista Latinoamericana, n. 35, 2013b.
______. Social Mobility and Catalan Language: Analysis of Second Generation Migrants
from Colombia. In: ALARCÓN, A.; GARZÓN, L. (Ed.). Language, Migration and
Social Mobility in Catalonia. Leiden: Brill, 2011. p. 63-94.
______. Sociología de la Infancia y Derechos: las niñas y los niños como actores sociales.
Revista “Señales”, Servicio Nacional de Menores (SENAME), Gobierno de Chile, año
5, n. 10, p. 40- 57, 2012c.
______. Sociología de la Infancia: las niñas y los niños como actores sociales. Revista
de Sociología. Departamento de Sociología, Universidad de Chile, n. 27, p. 81-102,
2012b.
______. Yo quería conocer más mundo: La migración infantil vista por las niñas y los
niños peruanos en Santiago de Chile. Cuadernos de Trabajo Social. Departamento de
Trabajo Social, Universidad Tecnológica Metropolitana, n. 5, p. 67-81, 2012d.
PAVEZ SOTO, I. ; LEWIN, K. Infancia e inmigración en Chile: hacia un estado del arte.
Revista AMMENTU. Bollettino Storico, Archivistico e Consolare del Mediterraneo,
Monográfico Colección “Storia e Memoria”, n.14, p. 254-267, 2014.
PAVEZ SOTO, I.; LEWIN, K . Infancia e inmigración en Chile: hacia un estado del arte.
Revista AMMENTU, n.14, p. 254-267, 2011.
315
MONICA PEÑA OCHOA
______. Análisis crítico de discurso del decreto 170 de subvención diferenciada para
necesidades educativas especiales: El diagnóstico como herramienta de gestión.
Psicoperspectivas, v. 12, n.2, p. 9-103, 2013.
PEÑA OCHOA, P.; PEÑA OCHOA, M. A. El Saber y las Tic: ¿Brecha Digital O Brecha
Institucional? Revista iberoamericana de educación. n.45, p. 89-106, 2007.
______. Los niños como sujetos sociales: El aporte de los Nuevos Estudios Sociales de
la infancia y el Análisis Crítico del Discurso. Psicoperspectivas, v.14, n.1, p. 55-65,
2015.
______. Los niños como sujetos sociales: El aporte de los Nuevos Estudios Sociales de
la infancia y el Análisis Crítico del Discurso. Psicoperspectivas, v. 14, n.1, p. 55-65,
2015.
316
VERGARA, A. D. S.; CHÁVEZ, P.; VERGARA, E. Televidencia y vida cotidiana de la
infancia. Un estudio de casos con niños y niñas de Santiago. Polis, v.9 n.26, Santiago:
2010.
317
APÊNDICE E- MANUAL DE ANÁLISES
2. Ano de publicação
Trata-se do ano de publicação de cada produção.
Código
1) 2000 5) 2004 9) 2010
2) 2001 6) 2005 10) 2011
3) 2002 7) 2006 11) 2012
4) 2003 8) 2008 12) 2013
318
1) Espanhol
2) Inglês
3) Português
319
MANUAL DE ANÁLISE – POR PAÍS
3.Ano de publicação
Refere-se ao recorte temporal desta pesquisa, ou seja, o ano de publicação de cada
produção no período de 2000 a 2013.
Código
1) 2000 5) 2004 9) 2010
2) 2001 6) 2005 10) 2011
3) 2002 7) 2006 11) 2012
4) 2003 8) 2008 12) 2013
6. Conceitos sociológicos
Refere-se à predominância dos conceitos sociológicos que aparecem nas produções de
cada país.
Código
1) Assistência
2) Campo Científico
3) Capitalismo
4) Classe Social
5) Controle
6) Democracia
7) Desigualdade
8) Disciplina
9) Divisão Social do Trabalho
10) Dominação
11) Estereótipo
320
12) Estudos Feministas
13) Exclusão Social
14) Globalização
15) Inclusão Social
16) Neoliberalismo
17) Norma
18) Ordem Social
19) Relações de Poder
20) Violência
321
37) Socialização
38) Trabalho e crianças trabalhadoras
39) Vozes das crianças
40) Vulnerabilidade
322
2) Allison
3) Alvarado
4) Angela Nunes
5) Ariès
6) Bauman
7) Bourdieu
8) Carli
9) Castel
10) Christensen
11) Corsaro
12) Cosse
13) Cussianovich
14) Deleuze
15) Donzelot
16) Enriz
17) Figueroa
18) Florencia Gentile
19) Fonseca
20) Foucault
21) Fraser
22) Frønes
23) Gaitán Muñoz
24) Garcia Mendes
25) Geertz
26) Giddens
27) Goffman
28) Guemureman
29) Hendrick
30) Hetch
31) James e Prout
32) Jenks
33) Liebel
34) Litichever
35) Llobet
36) Macri
37) Mannheim
38) Mayall
39) Mead
40) Moran-Ellis
41) Palacios
42) Pavez Soto
43) Qvortroup
44) Rockwell
45) Rodrigues Pascual
46) Salinas
47) Sarmento
48) Stefoni
49) Szulc
50) Unda
51) Vergara
323
52) Wacquant
53) Wintersberger
54) Woodhead
55) Zelizer
324