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ATROPOLOGIA

O documento discute a cultura Ndau em Moçambique, incluindo suas origens étnicas e a formação de sua identidade. Aborda conceitos como cultura, mitos, ritos e tribos, e examina as origens históricas dos Ndau e o surgimento do próprio etnônimo.
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ATROPOLOGIA

O documento discute a cultura Ndau em Moçambique, incluindo suas origens étnicas e a formação de sua identidade. Aborda conceitos como cultura, mitos, ritos e tribos, e examina as origens históricas dos Ndau e o surgimento do próprio etnônimo.
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INSTITUTO SUPERIOR MUTASA

DELEGAÇÃO DE CHIMOIO

ANTROPOLOGIA

MANIFESTAÇÃO DA CULTURA NDAU

MARTA JÕAO TOMÁS

LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

Chimoio, Julho de 2023


INSTITUTO SUPERIOR MUTASA

DELEGAÇÃO DE CHIMOIO

ATROPOLOGIA

MANIFESTAÇÃO DA CULTURA NDAU

DOCENTE:

dr.

REALIZADO POR:

MARTA JÕAO TOMÁS

LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

Chimoio, Julho de 2023

Índice
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO.............................................................................3

1. Introdução....................................................................................................3

1.2. Objectivos....................................................................................................4

1.2.1. Objectivo geral.....................................................................................4

1.3. Metodologias...............................................................................................4

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...............................................5

CAPÍTULO II: CONCLUSÃO E REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........11

3.1. Conclusão...............................................................................................11

3.2. Referências Bibliográficas.....................................................................12

ii
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

1. Introdução

Este texto apresenta algumas ideias sobre o processo de formação de uma identidade
étnica, e de uma praxis política, entre os vaNdau. O universo de análise é essencialmente o das
populações rurais e o modo como a formação de uma identidade étnica se articula com a
formação de uma identidade política e vice-versa.

O etnónimo Ndau designa actualmente o conjunto de populações de origem Shona


Caranga, que ocupam, em Moçambique, uma faixa territorial compreendida entre os rios Save, a
Sul, e o rio Pungué, a Norte. É igualmente utilizado pelas populações que vivem no Zimbabwe,
nomeadamente na região de Mount Silinda e no distrito de Melstter. Os vaNdau alcançaram uma
enorme visibilidade social e política na história recente moçambicana, fruto da sua ligação ao
movimento armado rebelde da Renamo.

Antes de nos debruçarmos sobre a formação de uma identidade étnica Ndau e das
consequências políticas, torna-se imperioso, ainda em jeito de introdução, esclarecer desde logo
algumas ideias conceptuais fundamentais, tais como a de identidade social, de grupo social e de
identidade étnica.

1.2. Metodologias

Para a materialização do presente trabalho, efectuou-se a pesquisa Bibliográfica e a


consulta na internet.

3
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Cultura

Segundo Tylor, Pai da Antropologia Moderna (1871) Cultura – conjunto complexo que
envolve conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e várias outras aptidões e hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade;

Ou é um conjunto de actividades e modo de agir, costumes e instruções de um povo, ou


meio pela qual o homem se adapta as condições de existência transformando a realidade.

2.2. Mitos

Segundo Mircea Eliade – uma história exemplar que tem por fim estabelecer normas para
comportamento humano.

Para K. Marx – é uma alienação, uma projecção; ou São narrativas utilizados pelos povos
gregos antigos para explicar factos da realidade e fenómenos da natureza.

conjunto de cidadãos de um pais ou seja, as pessoas que estão vinculadas a um


determinado regime jurídico, a um estado.

2.3. Rito

é um conjunto de cerimónias religiosas diferentemente reguladas, segundo as diversas


comunhões ou em diversas sociedades.

2.4. Tribo

é o nome que - se dá a cada uma das divisões dos povos antigos, possuindo um território
e com algum tipo de comando, possuindo em comum a mesma ancestralidade.

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2.5. Etnologia

é o estudo ou ciência que estuda os factos ou documentos levantados pela etnografia no


âmbito da antropologia cultural e social, buscando uma apreciação analítica e comparativa das
culturas.

Em sua interpretação original, era o estudo das sociedades primitivas, todavia, com o
desenvolvimento da antropologia, o termo primitivo, foi abandonado por se acreditar que
exaltaria o preconceito étnico.

Assim actualmente se diz que etnologia é o estudo de características de qualquer etnia,


isto é, agrupamento Humano- povo ou grupo social que apresenta alguma estrutura sócio
económica identificável, onde em geral os membros têm interacções cara a cara, e há uma
comunhão de cultura e de língua.

2.6. Os vaNdau de Moçambique: origens de um etnónimo

No entanto, é necessário tomar em atenção que a etnicidade não é a única forma de


identificação conducente à acção política em África e por vezes nem sequer é a forma que aporta
mais sentido à mobilização política, perdendo significado face a formas de mobilização em torno
de simbologias raciais, religiosas, regionais, ou outras. Nesse sentido, a etnicidade, ou a
expressão de uma identidade social de base étnica, não constituí um valor em si, ou por si, mas
sim uma variável que pode mudar de significado, conteúdo e contornos, e não a expressão de
uma solidariedade primordial, intrínseca, monolítica, ao estilo da solidariedade mecânica
durkheimiana.

Por outro lado, a etnicidade não é necessariamente causa de conflitos violentos ou de


disrupção social, como bastas vezes se depreende da análise dos conflitos em África.

Como defendeu John Lonsdale, «moral ethnicity creates communities from within
through domestic controversy over civic virtue». Neste sentido, o conceito de etnicidade surge
como um processo de construção ideológica de um determinado grupo social e não como uma
força de divisão e destabilização social, força essa a que o autor denomina de political tribalism.

Devido à insuficiência de fontes escritas não é fácil traçar as origens históricas do povo
Ndau. Contudo parece seguro afirmar que as suas origens se encontram ligadas à fragmentação
5
dos reinos de Mwenemutapa e de Mbire e aos ciclos expansionistas de grupos Shona-Caranga,
denominados Rozvi30, dos planaltos centrais do Zimbabwe na direcção da costa litoral do
Índico. Este movimento esteve na origem da criação de vários reinos, dos quais se destacam os
de QuiTeve, Danda e Sanga.

É comum as actuais populações vaNdau identificarem a sua origem a partir da região de


Mbire, no planalto central zimbabeano. Segundo algumas informações, no século XV/XVI
existia nesta região um pequeno reino, denominado de Mbire, que esteve ligado ao grande reino
de Mwenemutapa, mas que se teria tomado independente. A independência do reino Mbire
estaria relacionada com uma cisão no reino dos Mutapa, que ocorreu provavelmente em 1490, e
que teria sido provocada por Changamire, que era um alto dignatário do reino, membro do
mutupu33 Moio. Segundo Rennie Keith, no século XVII já o reino Mbire estava ocupado por
soberanos Rozvi, também eles pertencentes ao mutupu Moio.

O reino de QuiTeve surge igualmente nos finais do século XV e representa mais uma
cisão no reino de Mwenemutapa. Os novos soberanos passaram a ostentar o título deSachiteve,
nome do soberano fundador. Este reino veio a assumir uma certa importância, sobretudo durante
o século XVII, devido às relações que desenvolveu com mercadores árabes e portugueses, em
tomo do comércio de marfim e da exploração das minas de ouro, assim como à sua posição de
charneira com o hinterland. O reino de Quiteve chegou a controlar toda uma vasta região, que se
estendia desde o planalto central da zona de Chimoio até às terras baixas do Búzi, perto de
Sofala. O reino de QuiTeve viria a perder esta importância a partir do século XVIII, em parte
devido às constantes lutas internas entre os membros da família real, mas também face ao
desinteresse dos árabes e portugueses, quando se aperceberam que a exploração mineira não era
atractiva. De acordo com Rita-Ferreira, o declínio do reino de QuiTeve está também intimamente
relacionado com o declínio de Sofala.

O próprio termo Ndau não aparece referido em nenhum documento até ao início do
século XX. No primeiro documento conhecido sobre esta região, o trabalho de Frei João dos
Santos, Ethiopia Oriental, as populações aparecem designadas apenas pelo termo pejorativo de
cafres. Em José Fialho Feliciano pode ler-se que estas populações eram designadas por Mujaos,
ou por Mataos. Por vezes estas populações apareciam referenciadas na documentação sob a

6
designação de Landins ou Vátuas, que era o nome que os portugueses atribuíam aos invasores
Nguni, confundindo conquistadores e conquistados.

A origem do termo Ndau é pois ela própria bastante nebulosa. De acordo com vários
autores, o termo Ndau teria sido aplicado a estas populações pelos invasores Nguni, que
ocuparam esta região durante a 2.ª metade do século XIX. O termo relacionar-se-ia com a forma
tradicional como estas populações saúdam um chefe, ou um estrangeiro importante, que é a de se
ajoelharem, baterem as palmas repetida e ritmicamente e gritarem «ndau ui ui, miau ui ui». Deste
modo os invasores Nguni teriam atribuído a estas populações a designação de Ndau que,
segundo Henri Junod, servia simultaneamente para designar uma população e a sua condição de
subserviência e submissão face aos senhores Nguni. As fontes de onde estes autores retiram esta
preposição não são citadas, contudo esta hipotética origem do termo Ndau é hoje amplamente
aceite pelas próprias populações e encontra-se enraizada na sua história oral, não se sabendo se
foi a história oral Ndau que influenciou estes autores, ou se foram as suas propostas que foram
aceites e interiorizadas pelas populações.

As origens do povo Ndau não são fáceis de traçar devido a escassez de fontes e as
contradições existentes. Contudo, parece seguro afirmar que as origens do grupo se encontram
ligadas é fragmentação dos reinos do Muenemutapa e Dom Pire aos ciclos expansionistas de
grupos linhageiros Shonas-Caraga, os Rozvi, dos planaltos centrais do Zimbabwe na direcção da
costa litoral do indico.

2.7. A organização Social Tradicional Ndau

Os Ndau são um grupo éticos que habitam o vale do Zambeze, do centro de Moçambique
ate ao seu litoral, e leste do Zimbabwe ao sul do Mutare.

Os ancestrais dos Ndaus eram guerreiros da Suazilândia que se juntaram com a população
local, constituída etnicamente por Manikas, Tewes, Barwes nas províncias de Manica e Sofala. A
população local do Zimbabwe, antes da chegada dos Nguni, descenderia primordialmente de
Mbire próxima actual Hwadza.

Os ndaus falam um idioma que pertencem a família linguística xona, o ndau.

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2.8. Localização Geográfica e Número de Falantes da língua Ndau

A língua Ndau é falada nas províncias de Sofala, Manica e na zona Setentrional de


Inhambane. Também é falado na República de Zimbabwe. Segundo Martinho (2004) o povo
Ndau localiza-se na região sul do continente africano na região central de Moçambique, pois, na
província de Sofala encontram se mais aglomerados nos distritos de Chibabava, Buzi, Machanga,
Gorongosa, Nhamantada, cidade da Beira, Dondo.

Na província de Manica estão nos distritos de Machazi, Mussorizi e na Cidade de


Chimoio e parte setentrional da província de Inhambane vão desde de Machacama à Mambone.

Quanto ao número de falantes é de referir que: há cerca de 581.000 falantes de Ndau em


Moçambique segundo os dados do Censo populacional de 1997.

2.9. A organização sócia -política Tradicional

Os primeiros estudos aprofundados e de carácter sistemático sobre esta população, conhecido


por etnónimo Ndau, só seriam efectuados na primeira metade do Século XX.

São vários os autores que postulam que o nome Ndau foi atribuídas a estes populações
pelos invasores Nguni e deriva da observação da forma de saudação costumeira perante um rei
Chefe, ou mesmo um estrangeiro desta e populações Ndau, que é a de se sentar no chão, ou
ajoelharem, e bater as palmas gritando “Ndau ui ui, Ndau ui ui” (Junod, 1934,Rita Ferreira,
1982).

Esta forma tradicional de saudação foi descrita pela primeira vez por Frei João dos Santos
na sua obra ethiopia oriental, de 1609. Não é claro, a partir de que fonte este autor retirou esta
informação ou se ela não passa de especulação; contudo, é certo que esta concepção sobre a
origem do etnónimo Ndau esta na actualidade amplamente enraizada e aceite por estas
populações.

Segundo Vijfhuizen (1998) o termo Ndau significaria literalmente, “lugar” associado a


uma forma tradicional de saudação.

No entanto, segundo esta autora o termo Ndau já teria utilizado muito antes da chegada
dos europeus, informação essa que a autora retira da obra de Rennie Keith (1987).

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Os diferentes estudos elaborados sobre os Ndau apresentam uma estrutura social bastante
homogénea para o conjunto das populações desde a fronteira com o Zimbabwe ao litoral do
indico.

2.10. Ritos de Iniciação

Ritos de iniciação são cerimónias de carácter tradicional e cultural praticado nas


sociedades africanas que visa preparar o adolescente para encarar a outra fase da vida, isto é, a
fase adulta.

Visam essencialmente a integração pessoal, social e cultural do indivíduo, permite ao


indivíduo reunir múltiplas influências do seu meio para em seguida integrá-la na sua maneira de
pensar, de agir e de si comportar, o indivíduo participa activamente nas actividades e na vida do
grupo que pertence.

Na sociedade moçambicana, os ritos de iniciação não se manifestam de maneira


homogénica. Eles variam de província para província, de região para região, de religião para
religião, e de sexo para sexo. O objectivo destas cerimónias é de preparar os rapazes e as
raparigas para a vida matrimonial e social e com o rito de iniciação os rapazes e as raparigas têm
o acesso a participação e ao conhecimento de certos mistérios.

2.11. Descrição de algumas Cerimónias


2.11.1. Fase de Menstruação

Quando a mãe descobre na filha os sinais de menstruação ou tende certificar-se bem da


verdade se é real a suposição. Acordam a menina e esta, por tudo ter sido preparado em segredo,
assusta-se. Mandam-na pôr de pé e molham-na toda três ou 4 vezes. Depois tiram-lhe toda a
roupa para só lhe colocar uma pequena tira de pano que -lhe passa por entre as pernas.

Todas as mulheres se sentam, a madrinha senta-se no meio delas, estende as pernas e


manda sentar a rapariga com a cabeça levantada e encostada a si.

Nesta atitude começam a cantar, explicando a rapariga que não tenha medo que aquela
doença é normal; dão-lhes norma de higiene e ensinam-lhe como ela deve fazer acto sexual com
o seu homem. A madrinha vai lhe explicando tudo com gesto no corpo.

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Seguidamente uma Tia ou Prima levanta a rapariga, prende-lhe as pernas agarram-lhe os
braços, deita a por terra e cai sobre ela. Levanta-a, agarram-lhe pelo corpo e atira-a de novo ao
chão com toda a forca. Isto repete-se vária vez as vezes seguidas para que a menina pague e sofra

desta maneira pelo mal que fez com as suas maldades passadas.

Vestem-lhe um pano grande que a cobre totalmente e obrigam a ficar uma semana inteira
dentro de casa sem tomar banho.

Durante este período de tempo deve abster-se de comer certas comidas e não pode provar
alimento com sal.

Passada a semana, a madrinha vem-lhe dar banho e dão-lhe também licença para sair fora
de casa. Contraem-lhe uma palhota ao lado da casa e ela não se pode ausentar daqui sem licença
da mãe, nem ver homens ou mulher casados, nem o noivo.

Quando depara com alguém deve cobrir-se e, ordinariamente, anda acompanhada de uma
criança para a avisar da proximidade das pessoas.

Esta temporada pode demorar 2 meses ou ate mais de 1 ano conforme a dificuldade que a
família encontrar em arranjar dinheiro para acabar a festa.

Depois reúnem-se as mulheres nuas batucam, todo o dia e todo a noite ensinando a
rapariga a dançar são severas e rigorosas nestes exercícios e se a rapariga não sabe ou lhe custa
aprender alem dos castigos que sofre, é uma grande vergonha para a mãe.

Durante a noite chegam os rapazes cerimoniados e os homens casados. Vem todos para
ouvir os conselhos dado a rapariga, administrado em estilo de advinha ou representadas ao vivo
por figuras alegóricas.

Tudo isso é cantado ao som de dois bambus postos em paralelos onde todos podem tocar.
Todas estas advinham, que aparentemente nos parecem inocentes e desprovidas de qualquer
sentido com a vida matrimonial.

2.11.2. Mathunya/Mathindji

É a dilatação dos pequenos lábios do aparelho sexual feminino. A rapariga, desta tenra
idade, é levada pela mãe ao mato, para lhe ensinar a fazer esta operação que ela depois repetira

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todos os dias, até no casamento. Chegam a delata-los tanto que conseguem dar-lhe um nó mas se
a mulher exagerar esta operação, os homens não a querem, por ela ter alargado demasiado e não
lhes causar prazer sexual.

É este um costume social, hoje os rapazes estão já em não se importarem com o assunto,
mas é frequente encontrar raparigas que não arranjam casamento ou são abandonadas e
difamadas por não terem isso.

O seu fim é alargar a entrada da vagina para facilitar o acto sexual. Na sua ostentação
sente o homem prazer. Quando ele esta triste ou cansado, no fim de um dia de trabalho, ou de
uma viagem a mulher despe-se para lhe mostrar isso e assim lhe dar alegria.

2.11.3. Casamento dos Ndau

Os Ndau estão organizados em grandes unidades sociais, com base no sistema de


descendência patrilinear. As unidades mais vastas são os grupos familiares mais extensos, clãs
totémicos, designados por bvumbu ou dzinza, em que o totem é designado por mutupu.

Os Ndau praticam o casamento exogamico entre bvumbu, pois “as pessoas não podem
casar dentro do mesmo mutupu”. No entanto, actualmente, esta regra é frequentemente
desrespeitada, sobre tudo entre a população mais urbanizada das vilas-sede de distrito, e
casamento entre indivíduos com o mesmo mutupu, ou pertencendo ao mesmo bvumbu.

No que respeita ao casamento Ndau, este é oficializado quando evolve o pagamento do


lobolo. Denominado kulola em Cindau, que actualmente consiste numa quantia monetária que
pode variar entre 1 e 15 mil mts, enquanto na época pré-colonial consistia maioritariamente em
capulanas.

No período pré-colonial, os Ndau praticavam também uma forma de casamento directo,


que não implicava o uso do lobolo. Exemplo: Quando alguém pretendesse uma mulher levava a
sua filha para fazer tipo troca. Deixava a sua filha e levava a filha do outro como esposa. Isto por
falta de dinheiro.

Ou no casamento a forma predominate de residência e a de virilocal; contudo,


ocasionalmente, era possível optar por uma forma uxorilocal temporário, ou seja, quando um
homem não podia lobolar uma mulher prestava serviços durante um tempo em casa dos sogros
11
antes de constituírem o seu agregado familiar nas terras do pai, costume que ainda hoje e
praticado.

Os ndau praticam ainda hoje o levirato, ou seja, um homem pode tomar a (s) esposa (s) e
filhos do seu falecido irmão.

2.12. O lugar Social dos Espíritos


2.12.1. Seres Espirituais

Segundo Martinez (2007), através da actividade religiosa a sociedade exprime o seu


relacionamento com o mundo espiritual: com o transcendente, o ser supremo, com os restantes
seres espirituais e com as forcas invisíveis. De facto há um ser supremo, cuja existência é
reconhecida universalmente, apesar das formas e ideologias até hoje existentes no mundo o ser
supremo nunca é confundido com os seres espirituais e entre todos eles dá-se sempre uma
determinada hierarquização. Sem eles não haveria ritos, pois é a eles que os ritos são dirigidos.

Um dos aspectos mais relevantes no processo de sucessão é a inuciação da consulta aos


espíritos dos falecidos mambos, como, de resto, acontecem na maioria dos grupos de origem
Shona (Land, 1987).

Neste sentido, torna se necessário, no primeiro momento, compreender as representações


que as populações Ndau concebem sobre os aspectos da vida e da morte.

Franz Boas, antropólogo que usou como informate k”amba Simango, escrevia em 1920
que a vida para os Ndaus designa-se por Vgomi. Sobre o conceito de pessoa, ela é constituído
por duas partes:

- O corpo, muvili, e o espírito, bvuli.

O muvili é uma espécie de sombra, ou o reflexo/imagem de um ser. Após a morte só o


bvuli é que se mantém vivo e transforma-se no espírito, murugo.

O murugo tem o carácter e a forma do falecido. Não fica no túmulo como o corpo, mais
fica a viver com a família, é imortal, e os Ndaus não acreditam na reencarnação.

Os Ndaus utilizam o termo Mudzimu para designarem o espírito de uma família. Os


vadzimu (plural) são os espíritos de musi e ficam a habitar junto dos restantes membros que é
Nhamussoro: Exemplo: Quando morrer a pessoa vai se a enterrar, depois aquele espírito, se a

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pessoa tiver filhos vão para filho ou para filha, caso não tiver vão para outra família daquele
falecido(a).

Os Vadzimu são, pois, os varungu dos falecidos de determinado grupo familiar, e a sua
função é de proteger os membros desse agregado contra todo e qualquer infelicidade que seja
provocado por outros espíritos.

Uma vez que os Ndaus não existe a noção de acaso e todos os acontecimentos da vida
individual e colectiva são interpretados como manifestações dos varungu. Esta função protectora
dos vadzimu é sublinhada por S, para que “os vadzimu são bons porque ajudam a cuidar da vida
aos que ainda não morreram como se fossem Deus, os vadzimu andam junto de Deus”, “ou
também por AI, segundo o qual os vadzimu” é para a protecção da própria família são eles que
podem, por exemplo proteger a família de outros espíritos maus. “Os vadzimu da casa fazem luta
com aqueles espíritos maus que estiverem a sair da outra casa, para não entrarem na quela casa”.

Tem um papel social de enorme ambivalência. Eles são simultaneamente protectores de


seu Musi, e nesta estância constituem-se como Vadzimu para os seus parentes, enquanto para
todos os outros indivíduos podem significar uma enorme ameaça. Quando os vadzimu actuam no
exterior do seu Musi são conhecidos como Nbvuri.

Entre os Ndaus de Moçambique não existem a crença, comum entre os povos Shona do
Zimbabwe, sobre o espírito de Nhandhoro, espírito de falecido mambo que encarna num médium
(Land 1987). Para os Ndaus o espírito Nhandhoro, é um espírito que sai num leão e esta liga do
aos trabalhos de médium, Nhamussoro.

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CAPÍTULO II: CONCLUSÃO E REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

3.1. Conclusão

Terminado o trabalho, esperamos ter conseguido alcançar o que propusemos desde o


inicio deste trabalho, isto é, criar nos leitores o desejo de entender melhor a etnologia ndau, e
facilitar o esforço na compreensão dos conteúdos que foram explicadas.

Ao longo trabalho falamos do povo Ndau, que habita desde o vale do Zambeze em Sofala
até na parte litoral da República de Zimbabwe. Esse povo quanto a sua origem e história não
foram fáceis de traçar devido a escassez de fontes.

Em jeito de conclusão, pode dizer-se que, mais do que pela identidade étnica, é a
identidade regional que atribui a estas populações o leitmotiv para a acção e para a identificação
política na Renamo. Nesse sentido, a identidade regional, no caso desta região central de
Moçambique, sobrepõe-se às diferentes identidades étnicas e recebe o apoio da Renamo, cujos
líderes locais têm contribuído para sedimentar entre as populações a ideia de que fazem parte de
uma identidade cultural, política e económica, diferente das populações a sul do rio Save, e
dominada por estas. Em certos casos, minoritários é certo, essa identidade regional é por vezes
equiparada a uma pretensa identidade étnica Shona, o ideal da reconstrução do grande império
do Monomotapa, num discurso que não tem ampla divulgação, ainda, mas que se pode escutar
em certos estratos políticos e económicos, pelo menos nas cidades de Chimoio e Tete, que não
participam no Estado, e do Estado.

Cremos que apresentamos os elementos suficiente para o leitor ter agora uma
compreensão adequada da vida e cultura dos povos africanos e em particular dos Ndaus.

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3.2. Referências Bibliográficas

ADAS, Melhem, Geografia Geral: Quadro político e Económico do Mundo Actual, 8ᵃ série 1º
grau são Paulo ed. Moderna, 1979

BICA, Ismael A. Ismael Firoza, Tempos e espaços, Porto editora, 6ᵃ classe, porto editora.
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Cadernos de Estudos Africanos. DOI: 10.4000/cea.4997

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www.Google.com

FLORÊNCIO, Fernando, Ao Encontro dos Mambos, 1ᵃ edição, imprensa de ciências sociais,


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e XIX, textos de João Julião da Silva, Zacarias Herculano da Silva e Guilherme Ezequiel da
Silva,

Lisboa, CNCDP, 1998.

MARTINEZ, Francisco Lerma, Antropologia Cultural, 5ᵃ edição, Maputo, 2007

Patrício, Marta. (2014) A Fronteira Moçambique-Zimbabué e os ndau: Práticas e representações


transfronteiriças no distrito moçambicano de Mossurize (de 1975 à actualidade). Cadernos de
Estudos Africanos. DOI: 10.4000/cea.1480

Posse, Lúcio Dionísio Pitoca. (2020) Heróis da luta de libertação nacional e a ideia de nação nos
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Ciências Sociais. DOI: 10.4000/rccs.10682

Temudo, Marina Padrão. (2005) Campos de batalha da cidadania no Norte de Moçambique.


Cadernos de Estudos Africanos. DOI: 10.4000/cea.1064

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