Religiões

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Géscica João Alfredo

Liberdade Religiosa, a relação entre o Estado e as Instituições religiosas, direito


humanos e Religiosos e litígios Religiosos
Géscica João Alfredo

Liberdade Religiosa, a relação entre o Estado e as Instituições religiosas, direito


humanos e Religiosos e litígios Religiosos

Trabalho de carácter avaliativo, da cadeira de Direito das Religiões, a ser entregue


ao docente: Metzama

Universidade Rovuma
Nampula
Abril

Índice
Introdução
O presente trabalho tem como tema, Liberdade Religiosa, a relação entre o Estado e as
Instituições religiosas, direitos humanos e Religiosos e litígios Religiosos, em que
dentro do mesmo far-se-a um estudo acerca da liberdade Religiosa em países laicos,
como é o caso de Moçambique e outros estados de língua portuguesa, uma dos quais,
Angola, Brasil, e Portugal, saber qual é o nível de relação existente entre as instituições
religiosas e o estado, e quais os conflitos emergentes na prática da religião. Dito isto
imposta dizer que, o trabalho em alusão, detém seus objectivos, designadamente:
Objectivos
Objectivo geral

 Analisar a Liberdade Religiosa, a relação entre o Estado e as Instituições


religiosas, direito humanos e Religiosos e litígios Religiosos
Objectivos específicos

 Perceber até que ponto vai a relação entre as instituições religiosas e o estado.
 Compreender a motivação para origem dos conflitos religiosos.
 Verificar os limites das liberdade Religiosa.
 Indagar acerca dos direitos humanos no seio da religião.

1. Liberdade Religiosa
Atendo e considerando a natureza do presente trabalho, importa referir primeiramente
definições chaves que irão conduzir o desenrolar do mesmo.
Estado laico ou, no âmbito religioso, Estado secular é aquele que não adota religião
oficial, não interfere nos assuntos religiosos – a menos que esses estejam relacionados
diretamente com questões jurídicas – e não se deixa ser influenciado por nenhum viés
unilateral religioso, ou seja, é independente de qualquer religião. ¹
A palavra secular também é utilizada para designar algo que é laico. Secular vem do
latim saeculare, que significa mundano, ou seja, o que é do mundo físico e “não
pertencente a Deus”.
Estado religioso: É aquele em que a religião interfere de alguma forma na legislação ou
gestão pública e é também chamado de Estado confessional. Na atualidade, está
presente especialmente no mundo islâmico, no entanto, pode ser identificado também na
África e na Ásia. ²
A liberdade religiosa deriva da liberdade de pensamento, uma vez que quando é mantida
exteriorizada torna-se uma forma de manifestação do pensamento. Ela compreende
outras liberdades: liberdade de crença, liberdade de culto, liberdade de organização
religiosa e liberdade de expressão. Ela abrange a liberdade de escolha da religião,
liberdade de mudar de religião, liberdade de não aderir a religião alguma e liberdade de
ser ateu. A liberdade de culto, abrange a liberdade de orar e a de praticar atos próprios
das manifestações exteriores em casa ou em público.³
1. Liberdade religiosa nos países de língua portuguesa
Angola
A Constituição de Angola garante a liberdade religiosa e o Estado normalmente respeita
este direito:
O artigo 10° desta lei suprema, estatui de forma clara e inequívoca, nos seus números 1,
2 e 3 o seguinte: A República de Angola é um Estado laico, havendo separação entre o
Estado e as igrejas, nos termos da lei; O Estado reconhece e respeita as diferentes
confissões religiosas, as quais são livres na sua organização e no exercício das suas
atividades, desde que as mesmas se conformem à Constituição e às leis da República de
Angola; O Estado protege as igrejas e as confissões religiosas, bem como os seus
lugares e objetos de culto, desde que não atentem contra a Constituição e a ordem
pública e se conformem com a Constituição e a lei. ⁴
Os grupos religiosos devem registrar-se no Ministério da Justiça e dos Direitos
Humanos. O Governo proibiu as manifestações de atividades de numerosos grupos não
oficializados. Em março do ano 2005 foi aprovada uma lei que restingue os critérios a
adotar para o reconhecimento das associações religiosas, entre os quais é determinante o
número de fiéis, que devem ser pelo menos 100 mil adultos, residentes no país e
distribuídos em pelo menos dois terços das províncias. Esses requisitos foram exigidos
para evitar a proliferação de novas Igrejas e para impedir ritos contrários à integridade e
à dignidade pessoal, assim como à ordem pública e à segurança nacional.⁵ No final de
2004 tinham sido reconhecidas 83 associações e 880 estavam à espera de registro,
muitas delas grupos cristãos evangélicos. Não obstante a nova lei confirmar a liberdade
de professar a fé, fora dos locais de culto só é possível a prática de atividades religiosas
mediante autorização prévia das autoridades. No ano 2005 foram proibidas 17 grupos
religioso, acusados de terem celebrado cerimonias religiosas em habitação sem estarem
legalizados para esse efeito. ⁶
Brasil
Desde a Constituição de 1824 o culto de outras religiões já era permitido porém, deveria
ser feito de maneira doméstica, não podendo haver a identificação oficial de igreja ou
centro religioso de qualquer grupo que não fossem católicos.
A Constituição Federal consagra como direito fundamental a liberdade de religião,
prescrevendo que o Brasil é um país laico, ou seja, nosso Estado não pode adotar,
incentivar ou promover qualquer deus ou religião, embora propicie a seus cidadãos uma
perfeita compreensão religiosa, tanto para quem acredita em deus(es) como para quem
não acredita neles, proscrevendo a intolerância e o fanatismo. ⁷
Assim, o Estado presta proteção e garantia ao livre exercício religioso, mas deve existir
uma divisão muito acentuada entre o Estado e a Igreja (religiões em geral), de forma
que suas decisões não sejam norteadas por doutrinas religiosas; portanto, não pode
existir nenhuma religião ou deus oficial, qualquer que sejam. Em seu artigo 19, a
Constituição Federal proíbe ainda a todos os entes federativos brasileiros o
estabelecimento de cultos religiosos. A Constituição Federal, no artigo: 5° VI, estipula
ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos
cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas
liturgias. ⁸
Moçambique
Moçambique não é alheio a está situação pois, é um estado secular que consagra a
separação entre o Estado e as confissões religiosas (artigo 12.º, 1 e 2 da Constituição de
2004). A Constituição reconhece a liberdade de organização das confissões religiosas, a
sua liberdade de exercer as suas funções e a liberdade de culto, em conformidade com a
legislação estatal (artigo 12.º, n.º 3), bem como o seu “direito de prosseguir livremente
os seus objetivos religiosos e de possuir e adquirir bens para a realização dos seus
objetivos” (artigo 54.º, n.º 3).² O Estado “reconhece e valoriza as atividades das
confissões religiosas, a fim de promover um clima de compreensão, tolerância e paz, o
reforço da unidade nacional, o bem-estar material e espiritual dos cidadãos e o
desenvolvimento econômico e social” (artigo 12.º, n.º 4). ⁹

A Constituição reconhece a igualdade de todos os cidadãos perante a lei e a sua


igualdade de direitos, sem discriminação por motivos religiosos (artigo 35.º), e proíbe
qualquer discriminação, perseguição, preconceito ou privação de direitos, benefícios ou
isenções de deveres “com base na sua fé ou convicção ou prática religiosa” (artigo 54.º,
n.º 2).¹⁰ Todos os cidadãos são livres de “praticar ou não praticar uma religião” (artigo
54.º, n.º 1).O direito à objeção de consciência é garantido por lei (artigo 54.º, n.º 5). O
acesso à função pública não pode ser impedido por motivos de religião (artigo 251.º, n.º
1). Os dados pessoais relativos às convicções filosóficas ou ideológicas ou à fé religiosa
são protegidos, sendo proibida a utilização de meios informáticos para o seu registro e
tratamento individual (artigo 71.º, n.º 1). Os partidos políticos não podem usar nomes
“que contenham expressões diretamente relacionadas com quaisquer confissões
religiosas ou igrejas, nem usar emblemas que possam ser confundidos com símbolos
nacionais ou religiosos” (artigo 76.º), e as associações profissionais e sindicatos devem
ser independentes de Igrejas ou confissões religiosas (artigo 86.º, n.º 3). O artigo 39.º
prevê a punição por lei de “todos os atos destinados a prejudicar a unidade nacional, a
perturbar a harmonia social ou a criar divisões ou situações de privilégio ou
discriminação” com base, entre outros motivos, na religião. A proteção dos locais de
culto deve ser assegurada pelo Estado (artigo 54.º, n.º 3). O ensino público não pode ser
confessional (artigo 113.º, n.º 3) e o Estado não pode seguir quaisquer diretrizes
religiosas ou ideológicas específicas (artigo 113.º, n.º 5). Os efeitos civis do casamento
religioso e os requisitos para o seu registro são estabelecidos por lei (artigo 119.º, n.º
4).¹¹As organizações não governamentais, incluindo as religiosas, devem registrar-se no
Ministério da Justiça.
Portugal
A Constituição do Portugal consagra a liberdade de religião e o Governo respeita este
direito na prática. O Governo tenta proteger este direito a todos os níveis, não tolerando
o seu desrespeito, quer por agentes governamentais quer por agentes privados. A
Constituição proíbe a discriminação com base na religião. O Governo é secular (laico).
Para além da Constituição, os dois documentos mais relevantes relacionados com a
liberdade de religião são a Lei da Liberdade Religiosa de 2001 e a Concordata com a
Santa Sé.

A Lei da Liberdade Religiosa, de 2001, instituiu um enquadramento legal para as


religiões estabelecidas há pelo menos 30 anos no país, bem como para aquelas
reconhecidas internacionalmente há pelo menos 60 anos. Está lei demora pontos
importantes referentes a liberdade religiosa em que ira se arrolar alguns,
designadamente: Artigo 1.º( Liberdade de consciência, de religião e de culto): A
liberdade de consciência, de religião e de culto é inviolável e garantida a todos em
conformidade com a Constituição, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o
direito internacional aplicável e a presente lei. Artigo 2.º( Princípio da igualdade):
Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, perseguido, privado de
qualquer direito ou isento de qualquer dever por causa das suas convicções ou prática
religiosa. O Estado não discriminará nenhuma igreja ou comunidade religiosa
relativamente às outras. Artigo 3.º(Princípio da separação): As igrejas e demais
comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no
exercício das suas funções e do culto.¹³
Esta lei atribui às religiões abrangidas benefícios anteriormente reservados para a Igreja
Católica: estatuto de isenção total de impostos, reconhecimento do casamento e outros
ritos, visitas dos capelães às prisões e hospitais e respeito pelos feriados tradicionais.
Permite a cada religião negociar, ao estilo da Concordata, o seu próprio acordo com o
Governo, apesar de não assegurar a aceitação de qualquer acordo desse tipo. A lei
também estipula a criação dentro do Ministério da Justiça de uma comissão consultiva
independente para monitorizar a sua implementação. ¹⁴
E por vezes a liberdade Religiosa acarreta consigo certos hábitos negativos alguns dos
quais plasmados no artigo 9 da lei de liberdade religiosa na qual dita que: a) inguém
pode ser obrigado a professar uma crença religiosa, a praticar ou a assistir a actos de
culto, a receber assistência religiosa ou propaganda em matéria religiosa; b) Ser coagido
a fazer parte, a permanecer ou a sair de associação religiosa, igreja ou comunidade
religiosa, sem prejuízo das respectivas normas sobre a filiação e a exclusão de
membros; c) Ser perguntado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou
prática religiosa, salvo para recolha de dados estatísticos não individualmente
identificáveis, nem ser prejudicado por se recusar a responder; d) Ser obrigado a prestar
juramento religioso. 2 - A informática não pode ser utilizada para tratamento de dados
referentes a convicções pessoais ou fé religiosa, salvo mediante consentimento expresso
do titular ou para processamento de dados estatísticos não individualmente
identificáveis. ¹⁵

Relação entre o Estado e as instituições religiosas


Instituições religiosas são entidades de direito privado, formadas pela união de
indivíduos com o propósito de culto, por meio de doutrina e ritual próprios, envolvendo,
em geral, preceitos éticos.

Atendo e considerando ao plasmado no artigo 6 da lei de liberdade Religiosa, referente


ao princípio da cooperação, o Estado cooperará com as igrejas e comunidades religiosas
radicadas,, tendo em consideração a sua representatividade, com vista designadamente à promoção
dos direitos humanos, do desenvolvimento integral de cada pessoa e dos valores da paz, da
liberdade, da solidariedade e da tolerância. No sentido de que deverão se apoiar mutuamente de
modo que cada um garanta a prossecução de seus intentos.
Alguns pensadores afirmam a não existência da separação do estado e as instituições religiosas, na
medida em que como é possível se falar que não existe uma religião oficial quando ao abrir-se
qualquer folhinha nota-se a existência de feriados oficiais de caráter religioso. E mais, de caráter
santo para apenas uma religião. Se existe uma separação entre o Estado e a Religião, será
que seria constitucionalmente possível a existência desses feriados? E como ficam as
datas santificadas das outras religiões: o ano novo judaico, o ano novo chinês. ¹⁶
Porém é bom que se ressalte que Konvitz, citando o Justice Douglas, afirma que a
separação entre o Estado e a Igreja não é absoluta. Ela é limitada pelo exercício do
poder de polícia do Estado ¹⁷ (e por outros poderes constitucionalmente atribuídos a
este) e pelas práticas amplamente aceitas como símbolos ou tradições nacionais e que
não seriam abolidas pela população mesmo que não gozassem de apoio estatal.¹⁸
Portanto, se a existência desses feriados é de constitucionalidade duvidosa, tal realidade
é plenamente defensável face ao apego que a maioria da população tem a essas
tradições, sendo que, provavelmente, grande parte da população não iria trabalhar
mesmo que não fosse determinado o feriado. Creio não ser inconstitucional a existência
dos feriados religiosos em si. O que reputo ser inconstitucional é a proibição de se
trabalhar nesse dia, por outras palavras, não reputo ser legítima a proibição de abertura
de estabelecimentos nos feriados religiosos. Cada indivíduo, por sua própria vontade,
deveria possuir a faculdade de ir ou não trabalhar.
Pode-se ir mais além nesse raciocínio. Qual é a lógica da proibição de abertura de
estabelecimento aos domingos? Com certeza existe uma determinação religiosa por trás
da lei que proibiu a abertura de estabelecimentos nos domingos (dia de descanso
obrigatório para algumas religiões). Como ficam os adeptos de outras religiões que
possuem o sábado como dia de descanso obrigatório (v.g., os judeus e os adventistas)?
Dever-se-ia facultar aos estabelecimentos a abertura aos sábados ou aos domingos,
sendo que a ratio legis estaria assim atendida, ou seja, possibilitar o descanso semanal
remunerado. ¹⁹
Portanto, creio que alargando o calendário de feriados e dias santificados para incluir as
datas das maiores religiões existentes no nosso país e tornando estes feriados e dias
santificados facultativos (no sentido de ser feita a opção entre ir trabalhar ou não),
qualquer resquício de inconstitucionalidade estaria sanado. Um problema muito mais
grave está na descoberta de qual deve ser a exata postura do Estado frente às religiões
(minoritárias e majoritárias).²⁰
O Estado pode cooperar com as instituições religiosas na busca do interesse público, ou
seja, ele não pode manter relações de dependência ou aliança, porém pode firmar
convênios com as entidades religiosas quando tais convênios atendam ao interesse
público (e não ao interesse dos governantes). Aliás, pode e deve ter tal postura.
Direitos humanos e Religiosos
Comecemos a discussão com o seguinte pensamento:” Ninguém nasce odiando outra
pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as
pessoas precisam aprender; e, se pode aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”
(Nelson Mandela)
O Artigo 18º da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) afirma que “toda
pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito
implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de
manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em
privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.²¹
A palavra religião é muitas vezes usada como sinônimo de fé ou sistema de crença das
pessoas na medida em que tem um aspecto público. Entretanto, é importante destacar:
religião é também um assunto pessoal, entre o ser, sua consciência, seu espírito e o
Criador; e aos outros seres deveria caber apenas o respeito dessas escolhas e a liberdade
que cada um tem de escolher.
A religião é uma atividade humana que caracteriza-se por ser muito diversificada e
caracteriza-se pelos seus valores. A religião é um templo sagrado, e as ações é que
determinam o que somos então, somos a religião de acordo com nossas emoções.
Pensar criticamente religião e direitos humanos é abordar com seriedade esses grandes
temas cheios de valores que constitui a nossa condição existencial. Portanto a palavra
chave para a religião é o respeito que temos com os outros e quando cultivamos esse
respeito, a igualdade e a dignidade, nas pessoas humanas encontramos nelas suas raízes,
também suas tradições religiosas.²²
Por fim podemos dizer que a religião é considerada entre os povos um dos fenômenos
mais respeitáveis em toda a humanidade bem como de sua influência na vida das
pessoas e a tolerância seria o resultado de todo esse fenômeno. Alguns pesquisadores
dizem que a religião é apenas nomenclatura direcionada a esse fenômeno a ser
respeitado e que os direitos humanos estão vinculados diretamente ao sujeito principal –
ou seja o ser carnal.
Litígios Religiosos

O conflito é inerente à existência da natureza, do Homem, da sociedade, das


instituições, do Estado e do Sistema Internacional. O consiste numa situação social em
que duas ou mais partes lutam, conscientemente, para a obtenção, ao mesmo tempo, de
recursos escassos. No conflito, cada parte tenta enfraquecer, ferir ou eliminar a parte
adversária para conseguir materializar seus intentos. O conflito pode se originar a partir
das diferenças económicas, da mud social, da formação cultural, do desenvolvimento
psicológico e da organização política, traduzindo-se na formação de partes que possuem
mutuamente objectivos ou interesses incompatíveis. ²³
Por muito tempo a religião foi conotada como uma fonte de conflito, uma base de apoio
ao terrorismo, guerras civis, etc., e estudos têm sido desenvolvidos neste âmbito,
focando-se no processo de de-secularização e origem de conflitos com teor religioso.²⁴
Os ataques em Mocímboa da Praia, província nortenha de Moçambique, iniciados em
2017 por supostos grupos de militantes islâmicos radicais, não só com percepções de
que estabelecem ligações com o Al-Shabaab como também se auto-intitulam membros
desse movimento, são um caso claro de como um conjunto de aspirações pessoais e
psicológicas, quando bem mobilizadas, podem conduzir a uma radicalização. Como
mostram Habibe, Forquilha e Perreira ²⁵ Morier Denoud²⁶, a religião é uma variável
importante para compreender a insurgência em desenvolvimento em Cabo Delgado,
bem esse é um claro exemplo de um conflito que envolve uma religião.
A religião não pode ser vista única e exclusivamente como uma dimensão social que
propicia a eclosão de conflitos nos Estados. Como fora dito anteriormente, a religião,
sobretudo as suas lideranças, têm um papel importante no processo de resolução de
conflitos e manutenção da paz. A religião e suas lideranças têm desenvolvido
percepções que oferecem ao mundo um compromisso com a paz, pela sua participação
activa em processos de resolução de conflitos e estabelecimento da paz. ²⁷
De acordo com os dados da ACLED, mais de 4.000 pessoas foram mortas desde o início
do conflito no Norte de Moçambique, em outubro de 2017. Só em 2021, 384 ataques
resultaram em 1.127 mortes de civis.58 O ACNUR registra 1.028.743 deslocados no
Norte de Moçambique devido à violência jihadista (935.130 em Cabo Delgado).

As vítimas são tanto cristãos como muçulmanos que não aceitam a agenda radical dos
jihadistas. O porta-voz da Diocese católica de Pemba, no Norte do país, o Pe. Kwiriwi
Fonseca, confirmou que, em zonas predominantemente muçulmanas, os jihadistas
obrigam os cristãos a converterem-se ao Islamismo ou a enfrentarem a morte: “os
jovens que aceitam converter-se são treinados para combater nas suas fileiras e as
meninas são violadas e obrigadas a tornar-se suas ‘noivas’”.

Em março de 2021, os jihadistas do ASWJ atacaram a cidade costeira de Palma, no


Norte do país, matando dezenas de civis e destruindo grande parte das infraestruturas da
cidade, incluindo bancos, uma esquadra de polícia e armazéns de ajuda alimentar. Na
sequência do ataque, a empresa francesa de energia Total encerrou o seu projeto Afungi,
“um dos maiores projetos energéticos da África Austral”.61 No dia 4 de agosto, uma
igreja e uma escola primária no Niassa, incluindo todo o equipamento escolar, foram
incendiadas por terroristas.62 Em 15 de dezembro de 2021, os jihadistas decapitaram
uma pessoa, incendiaram várias cabanas e saquearam cinco aldeias em Macomia (Cabo
Delgado) durante um ataque.
A liberdade religiosa está gravemente ameaçada devido à insegurança permanente,
sendo visados tanto os cristãos como os muçulmanos. O Governo, apoiado pela
assistência militar de 24 países80 e com o apoio de tropas mercenárias estrangeiras, tem
enormes dificuldades em eliminar os grupos terroristas jihadistas e garantir a segurança
dos seus residentes, em particular na província de Cabo Delgado. O risco de extensão do
IS-Moçambique aos países vizinhos, como a Tanzânia, é também motivo de
preocupação.
Embora os líderes cristãos e muçulmanos continuem denunciando a violência e
promovendo o diálogo inter-religioso, em um esforço de deslegitimação do jihadismo,
tal será insuficiente se não forem abordadas as desigualdades sociais e econômicas
subjacentes que afetam os jovens, especialmente nas regiões mais pobres. Isto é
especialmente verdade nas províncias do Norte, onde as empresas internacionais
extraem enormes riquezas de recursos com benefícios mínimos para a economia e as
populações locais, fomentando um ciclo vicioso de pobreza, frustração e violência. As
perspectivas para a liberdade religiosa continuam desastrosas.²⁸
Conclusão
Chegado a este ponto, marca-se ponto final ao presente trabalho, no qual concluiu-se
que, O Estado pode cooperar com as instituições religiosas na busca do interesse
público, ou seja, ele não pode manter relações de dependência ou aliança, porém pode
firmar convênios com as entidades religiosas. E qua a religião não pode apenas ser vista
como um factor desencadeador de conflitos, mas também como um objecto de
resolução dos mesmos.
E que a laicidade nos países falantes da língua portuguesa, não é no entanto diferente,
na medida em que os preceitos constitucionais determinam o mesmo corpus.
Referências bibliográficas
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e%20%251%24s&aoh=17125598856973&referrer=https%3A%2F
%2Fwww.google.com&ampshare=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttps%2Fbrasilescola.uol.com.br
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²https://brasilescola.uol.com.br/geografia/estado-laico-estado-religioso.htm?
_gl=1*wqnma0*_ga*ZTFqOUQ0a3dKd0RDRmpCc0JfS3BHaUFIYnZMM3NXWGs2
NFJnaFByYUFjdXZiQlR4aDdtQUVaVk1NU3dDNEhyVA..*_ga_HX4GLN26SF*MTc
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³https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Liberdade_religiosa
⁹,¹⁰,¹¹ MOCAMBIQUE, República de Moçambique, Constituição da República de
Moçambique (2004), que inclui a Lei de Revisão Pontual da Constituição (Lei nº
1/2018, de 12 de Junho, publicado no Boletim da República, 1ª Série –nº 115, 2º
Suplemento, de 12 de Junho de 2018.
⁴ ANGOLA, República de Angola, Constituição da República de Angola.
⁵,⁶,⁷ , ¹²,¹⁴https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Liberdade_religiosa
⁸BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional
promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações determinadas pelas Emendas
Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/94, pelas Emendas Constitucionais nos 1/92 a
91/2016 e pelo Decreto legislativo 186/2008.

¹³, ¹⁵Lei n.º 16/2001, de 22 de junho aprova a lei de liberdade


Religiosa

¹⁶,¹⁹,²⁰,²⁸https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.htm
A legitimidade do exercício do poder de polícia já foi declarada nas Apelações Cíveis
ns. 146.692-1/6 e 152.224-¹⁸1/10, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, cujo
relator foi o Desembargador Andrade Marques. Nos acórdãos mencionados ficou
demonstrada a possibilidade da Municipalidade fechar templos que não estejam
cumprindo as posturas municipais para o seu funcionamento (falta de alvará, horário,
barulho etc.)
¹⁷ KONVITZ, Milton R., ob. Cit., p. 56
²¹Declaração Universal dos Direitos Humanos
²²https://usinadevalores.org.br/religiao-e-direitos-humanos/
²³,²⁷BENE, Timóteo Avelino Monografia: Processo de Resolução de Conflitos em
Moçambique: análise da participação da Igreja Católica na mediação de conflitos
político-eleitorais (1994-2019)
²⁴SVENSOON, Isak. Fighting with faith: religion and conflict resolution in civil wars.
The journal of conflict resolution, v. 51, nº 6, 2007, pp. 930949
²⁵HABIBE, Saide; FORQUILHA, Salvador; PEREIRA, João. A radicalização islâmica
no norte de Moçambique: o caso de Mocímboa daPraia. Cadernos IESE. Nº 17, 2018.
²⁶MORIER-GENOUD, Eric.The Jihadi Insurgency in Mozambique: origins, nature and
beginning. Journal of Easten African Studies, 2020.

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