MULHERES BRASILEIRAS NA DISPUTA DO
LEGISLATIVO MUNICIPAL
Simone BOHN1
RESUMO: O objetivo deste artigo é entender o padrão de
participação das mulheres brasileiras na competição para o
legislativo municipal, sobretudo no que se refere ao volume de
candidaturas femininas, ao seu sucesso, à integração das mulheres
aos partidos e à eficácia da política de cotas. Os dados mostram
que, ao contrário do que acontece na disputa para a Câmara dos
Deputados e a despeito da ascensão dos partidos de esquerda, a
maioria das mulheres concorre ao cargo de vereadora e se elege em
partidos de direita. A política de cotas, por sua vez, não se mostra
eficaz nos planos nacional e subnacional e nem tampouco quando
a unidade de análise é o município. Por fim, o principal problema
para o aumento da presença feminina na arena política formal
permanece o mesmo: o baixo estoque de mulheres engajadas na
competição eleitoral.
PALAVRAS-CHAVE: Mulheres. Eleições. Cotas. Gênero.
Legislativo. Município. Partidos.
No ano de 2008 teve lugar o sexto ciclo eleitoral municipal
desde a redemocratização do país em 19852. Da perspectiva das
mulheres, aquela foi a terceira eleição consecutiva em que vigorou
a política facultativa de reserva de um terço da lista partidária
para candidaturas femininas. Tal como em diversos países, o
objetivo dessa medida foi aumentar o acesso da mulher brasileira
aos cargos de representação política formal.
1
YU – York University. Departamento de Ciência Política. Toronto – Ontário – Canadá. M3J 1P3 –
[email protected]
2
Este trabalho foi realizado com o apoio financeiro da International Development Research Centre
(IDRC), Ottawa, Canadá.
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 63
Estudos anteriores, no entanto, mostraram que a política
de cotas no Brasil, na comparação com outros países, não foi
particularmente exitosa. O sistema eleitoral (com listas abertas),
a não-obrigatoriedade do preenchimento das cotas, o fato de a
política de reserva de um terço das vagas não vir acompanhada
da alocação mandatória de recursos de campanha e sobretudo
o baixo estoque de mulheres que se apresentam à competição
eleitoral são alguns dos principais fatores na explicação da baixa
taxa de sucesso da política de cotas no Brasil e em outros países
(ARAÚJO, 2001a, 2001b; BOHN, 2007; DIAZ, 2003).
Este estudo busca verificar se o ciclo eleitoral de 2008
introduziu modificações no padrão de participação feminina na
competição para o legislativo municipal, principalmente no que
se refere aos resultados da política de reserva de um terço das
candidaturas para as mulheres. Três grupos de questões serão
analisadas. Em primeiro lugar, é necessário verificar se houve
aumento na quantidade de mulheres disputando uma cadeira
nas câmaras municipais e na quantidade de eleitas. Além disso,
é também importante investigar em maiores detalhes seu padrão
de integração aos partidos. Ou seja, não só em quais agremiações
partidárias elas são mais freqüentemente lançadas como
candidatas e eleitas, assim como quais partidos implementam
a política de cotas de maneira mais sistemática. Finalmente, e
talvez mais importante, é imperativo entender se o cumprimento
da taxa de reserva de 30% das vagas de fato resulta em maior
número de mulheres vereadoras.
Este tópico – o envolvimento da mulher no legislativo
municipal – constitui um tema difícil de pesquisa em virtude
não só da diversidade da política local nas diferentes regiões
do país, mas sobretudo devido à quantidade de municípios
existentes na federação brasileira. Há, no Brasil, 5.563 cidades.
Em 2008, por exemplo, 330.630 candidatos disputaram 51.989
vagas de vereador. Isso significa que uma análise completa da
implantação da política de cotas pelos partidos brasileiros em
funcionamento implica no estudo de cerca de 150.201 casos –
assumindo que todas as vinte e sete agremiações partidárias
lancem candidatos (homens e/ou mulheres) em cada uma das
cidades brasileiras. Diante dessa enormidade de dados, esse
artigo utiliza dados eleitorais agregados em diferentes níveis.
A análise da evolução do estoque de candidaturas femininas
utiliza os números agregados no plano nacional. Também ao nível
64 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
federal é realizada a análise de quais partidos lançam e elegem
mulheres. Para melhor entender o avanço da competitividade
de candidaturas femininas (em relação a dos homens), os dados
são desagregados no plano dos estados. Finalmente, o estudo
da implementação da política de cotas dá-se no âmbito dos
municípios. Em virtude de sua diversidade no que se refere ao
tamanho dos distritos eleitorais (ou seja, à quantidade de vagas
nas câmaras municipais), os 645 municípios do estado de São
Paulo serão o foco da análise. Além disso, o desempenho de
apenas quatro dos maiores partidos políticos brasileiros será
analisado: um de direita, o DEM; dois de centro, o PMDB e o
PSDB; e um de esquerda, o PT.
O artigo está dividido em cinco unidades. A próxima seção
resume o debate acerca do papel da política local na ampliação
do acesso de segmentos sociais sub-representados no universo
político formal. A segunda seção centra-se no desempenho
das mulheres na eleição de 2008 em comparação com os
três ciclos eleitorais anteriores – os de 1996, 2000 e 2004. Na
terceira unidade, os partidos aparecem como os protagonistas
principais. Neste caso, o objetivo é verificar quais partidos ou
blocos ideológicos vêm oferecendo maiores oportunidades às
mulheres e em quais agremiações elas obtêm maior sucesso
eleitoral. A unidade subseqüente foca-se no estudo da política
de cotas nos munícipios paulistas. Por fim, a última seção
pontua que, embora a política de cotas ainda não apresente
resultados positivos no Brasil, o principal obstáculo ao aumento
da quantidade de mulheres no parlamento parece ser de
outra natureza: o baixo volume de mulheres participantes da
competição eleitoral.
Competição para o legislativo municipal
Nos mais diferentes contextos nacionais, as eleições locais
representam uma importante chave de acesso da mulher à
representação política. Uma vez que ocorrem numa das menores
unidades políticas existentes na maioria dos países3, essas eleições
tendem a ser comparativamente menos custosas, sobretudo em
termos financeiros. Do ponto de vista dos candidatos, o menor
3
Em países que se utilizam de fórmulas eleitorais majoritárias com uma única cadeira em disputa, como
nos Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha, a menor unidade eleitoral, o distrito, no caso das eleições
locais, tende a ser menor do que as cidades (COX, 1997).
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 65
tamanho dos distritos facilita a tarefa de divulgação de seu nome
e plataforma – o que também tende a diminuir os custos de
informação para o eleitor (JACOBSON, 1980). Por essas razões,
o legislativo municipal representa o primeiro passo na escada
de ambição política da maior parte dos indivíduos interessados
em perseguir uma carreira política e uma grande oportunidade
para grupos sociais tradicionalmente subrepresentados na arena
política.
Apesar de oferecer boas chances para segmentos excluídos
ou cuja integração ao sistema política é precária, o acesso ao
legislativo municipal pode se tornar mais difícil em determinados
contextos. Em primeiro lugar, em virtude do tamanho da
localidade. Evidentemente, em regiões metropolitanas em
que as cidades contêm vastos conglomerados de habitantes,
as vantagens mencionadas – menor quantidade de votantes
e, usualmente, menor espaço geográfico a ser percorrido
pelos candidatos – deixam de existir. Nesses casos, a disputa
pode ser tão ou mais dispendiosa do que a competição para o
legislativo estadual em unidades subnacionais menos populosas
(JACOBSON, 1980).
Em segundo lugar, o sistema eleitoral também exerce
um impacto importante sobre a probabilidade de as minorias
políticas – como as mulheres, por exemplo – obterem um cargo
político eletivo. Dois são os fatores primordiais: a fórmula eleitoral
e o sistema de lista. O acesso a uma cadeira no legislativo se
torna mais difícil em contextos eleitorais baseados em fórmulas
majoritárias, sobretudo em sistemas de maioria simples com
uma única cadeira em disputa. Nesses casos, “o vencedor leva
tudo”: ou seja, o candidato com o maior número de votos elege-
se, mesmo que sua vantagem sobre o segundo colocado seja
de poucos pontos percentuais4. Como sabemos, esses tipos de
sistemas eleitorais garantem que cada eleito assuma sua cadeira
carregando o manto da maioria dos votos e, portanto, funciona como
um importante antídoto para a prevenção da “tirania da minoria”
(TOCQUEVILLE, 1994) – ou seja, atua como uma barreira contra a
ascensão ao parlamento (seja municipal, estadual ou federal) de
partidos políticos ou causas extremistas. No longo prazo, esses
contextos eleitorais convergem para a produção de sistemas
bipartidários, dado que, na prática, impossibilitam a entrada, no
4
A eleição para o Senado brasileiro segue este padrão nos ciclos de renovação de um terço das cadeiras.
Evidentemente, nos outros momentos, há duas cadeiras em disputa. A diferença fundamental em relação
ao descrito acima é que, no caso das eleições senatoriais, o distrito é o estado, e não cidades.
66 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
parlamento, de partidos menores, alternativos às agremiações
dominantes. Por outro lado, uma das principais desvantagens
dessas contextos eleitorais consiste no fato de eles dificultarem
a entrada de minorias (clânicas, raciais, étnicas, religiosas ou
de gênero) e mulheres ao parlamento. Como o “vencedor leva
tudo”, o eleitor – no efeito psicológico das fórmulas eleitorais
notado por Duverger (1964) – se sente desencorajado a votar para
candidatos com menores chances de êxito. Esse comportamento
do eleitor leva à produção do chamado “voto estratégico” – o
eleitor não vota no seu candidato preferido, mas naquele com
chances reais de vitória (ABRAMSON, et. al., 1992; CAIN, 1978) –,
o que, na maioria das vezes, se dá em detrimento dos candidatos
desafiantes: os que são novos na política ou aqueles que, embora
não sejam novatos exatamente, concorrem contra políticos com
um longo histórico de cargos públicos eletivos.
Os sistemas proporcionais, por outro lado, facilitam a
conquista de cadeiras por parte de segmentos subrepresentados.
Nesses casos, a distribuição dos assentos no parlamento reflete,
ainda que com algumas distorções, os ganhos eleitorais da maior
parte dos partidos, mesmo os que recebem frações pequenas do
total de votos. Uma vez que o princípio do “vencedor leva tudo”
está ausente, por detrás desses sistemas eleitorais subjaz a idéia
de que o acesso à representação política não deve se limitar aos
partidos políticos ou candidatos que obtêm maiorias nos seus
distritos, mas deve se estender a todos que recebem uma certa
proporção de votos5. Essa inclusividade típica dos sistemas
proporcionais os torna uma solução atraente para países com
profundas divisões sociais (sejam clânicas, étnicas, raciais,
religiosas ou de outra natureza), na medida em que concede voz
política e, desse modo, incorpora uma gama maior de segmentos
sociais que, de outra maneira, estariam à margem do sistema
político.
Os sistemas proporcionais revelam-se particularmente
positivos para o incremento da participação feminina nos
parlamentos. Estudos mostram que a porcentagem de mulheres
eleitas em parlamentos cuja eleição se baseia em sistemas
proporcionais é bem maior do que em congressos eleitos através
de fórmulas majoritárias (INGLEHART; NORRIS, 2003). Isso
porque nos sistemas majoritários, os partidos políticos tendem
a lançar candidatos que apelem à maioria dos eleitores, o que
5
Essa cláusula de barreira varia de acordo com cada sistema político.
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 67
usualmente ocorre em detrimento das mulheres e de minorias.
Nos sistemas proporcionais, devido às menores barreiras para
a conquista de uma cadeira no parlamento, elas têm maiores
chances de obter representação política, sobretudo em países
nos quais os distritos possuem uma grande magnitude, isto é, em
que há um número expressivo de cadeiras a serem preenchidas
(IPU, 1997, 2000).
Um outro fator que concorre para o aumento da presença
feminina nos parlamentos é o sistema de lista fechada. Este
se refere a sistemas de votação nos quais os eleitores votam
em partidos políticos e não em candidatos diretamente. Os
candidatos são ordenados na lista pelas autoridades partidárias,
em consulta ou não aos membros e filiados ao partido. Quando
os partidos fazem um esforço concentrado para colocação
de mulheres no topo de suas listas partidárias, usualmente
ocorre um grande aumento na proporção de parlamentares
mulheres eleitas. Esse foi o caso da Argentina. Quando este país
adotou a cota de 30% para candidaturas femininas nas listas
partidárias, o número de mulheres que obtiveram cadeiras no
parlamento argentino aumentou consideravelmente (JONES,
1996, 1998). Evidentemente, o sistema de lista fechada apresenta
resultados bastante diferentes no caso de países nos quais os
partidos políticos ou não implementam uma política de cotas ou
explicitamente discriminam contra mulheres candidatas6.
Fatores independentes dos arranjos institucionais
também moldam as chances de as mulheres aumentarem sua
representação nos parlamentos. Em primeiro lugar, há questões
sócio-econômicas, que vão desde a presença da mulher no
mercado formal de trabalho, sua escolarização até seu grau
de acesso à creche ou escola infantil (INGLEHART; NORRIS,
2005). Em segundo lugar, fatores culturais e valorativos também
exercem um impacto importante. Estudos detalham que, em
sociedades tolerantes ao princípio da igualdade de gênero,
torna-se menos difícil às mulheres se lançarem na esfera política
formal, do que em contextos sociais nos quais a prevalência
da visão tradicional sobre o papel da mulher a confina ao
ambiente doméstico (BOHN, 2008; INGLEHART; BAKER, 2001;
INGLEHART; NORRIS, 2003).
6
Portanto, o sistema de lista fechada atua como uma condição necessária, mas não suficiente. Seu
sucesso na ampliação do número de mulheres no parlamento depende da ação simultânea de outros fatores
(ARAÚJO; ALVES, 2007).
68 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
Por fim, elementos como a qualidade das candidaturas
influem sobre as chances de representação feminina. Estudos
demonstram que um fator decisivo na entrada da mulher nos
parlamentos é a força de suas candidaturas, algo que pode estar
ou não associado ao seu gênero – ou seja, à sua condição de
mulher7. Desse modo, se o(a) candidato(a) concorre à reeleição,
seu nível educacional e, sobretudo, seu portfólio pretérito
de posições políticas eleitas e não-eleitas, entre outras, são
características que tornam cada candidatura mais ou menos
competitiva. Sob esse ponto de vista, a política de cotas – de
reserva de vagas nas listas partidárias para mulheres – só
ganha sentido se acompanhada por candidaturas femininas
competitivas. Do contrário, a menos que haja um sistema de
lista fechada, as cotas tenderão a não funcionar, uma vez que as
mulheres serão derrotadas nas urnas.
Como esses fatores se expressaram no Brasil na eleição
de 2008? Como sabemos, o caso brasileiro caracteriza-se pela
utilização de fórmulas proporcionais para a seleção de candidatos
não só ao legislativo municipal, como também estadual e federal.
Uma vez que é menos difícil para as mulheres se elegerem
nesses contextos, deveríamos esperar um grande número de
mulheres (e outras minorias) concorrendo ao posto de vereador
que, na comparação com os outros postos eletivos, tende a ser
menos custoso. O ano de 2008, além disso, representou – como
mencionado acima – o terceiro ciclo eleitoral após a legislação
brasileira sugerir aos partidos que implementem a política
de reserva de 30% das vagas nas listas partidárias. Resta-nos
saber, em primeiro lugar, em que medida os principais partidos
brasileiros o fizeram e, sobretudo, qual o grau de êxito dessa
medida? Em segundo lugar, como não há sistema de listas
fechadas no país, deveríamos, neste caso, esperar uma pequena
proporção de mulheres eleitas em comparação com as mulheres
lançadas pelos partidos?
O que os números da eleição de 2008 revelam?
7
Em eleições específicas, as candidaturas femininas ganham vantagem pelo fato de as mulheres –
justamente por serem novas na política – serem vistas como menos corruptas, menos envolvidas com
interesses privados e mais comprometidas com o bem-estar geral da nação. Portanto, o contexto da
eleição é muito importante para as possibilidades de vitória das candidaturas de mulheres (FINAMORE;
CARVALHO, 2006; GROSSI; MIGUEL, 2001; KAHN, 1996; KIM, 1998).
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 69
As eleições de 2008: candidatas e eleitas
As eleições de 2008 trouxeram um resultado mixto no
tocante à participação feminina no processo eleitoral no plano
municipal. Por um lado, não houve um aumento significativo do
número absoluto de mulheres engajadas na disputa por uma
cadeira nas Câmaras Municipais. Mais de 76,900 mulheres
disputaram o posto de vereadora nesta eleição (Tabela 1).
Esse número representa um aumento pequeno (de 0.37%) em
relação à quantidade de 2004. Entre 2000 e 2004, o incremento
no estoque de mulheres participantes das eleições para o
legislativo municipal foi bem maior: de 8.93%. Esses percentuais
têm que ser relativizados, no entanto, uma vez que houve uma
diminuição da quantidade de vagas em disputa: elas passaram
de mais de 60 mil em 2000 para pouco menos de 52 mil em 2004 e
2008 – uma redução de cerca de 14%. Isso significa que, embora
o número absoluto de mulheres competindo por uma vaga de
vereador não tenha apresentado um aumento considerável
em 2008, o número de mulheres por cadeira em disputa vem
aumentando desde 2004.
Tabela 1 – Candidatos ao legislativo municipal e eleitos (2000-2008).
Eleição Candidatos Eleitos
Ano Homens Mulheres % mulheres Homens Mulheres % mulheres
2000 297,297 70,395 19.15 53,235 6,987 11.60
2004 269,665 76,684 22.14 45,256 6,548 12.64
2008 271,730 76,972 22.07 45,415 6,505 12.53
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
Por outro lado, entre 1996 e 2008, houve uma diminuição da
razão homem/mulher no que se refere ao número de candidaturas.
Ao passo que, em 1996, para cada mulher disputando o cargo
de vereador havia 4.56 homens, em 2008, essa razão diminuiu
para 3.44. Em 2000 foi 4.00 e em 2004, 3.41. Ou seja, as mulheres
vêm gradativamente diminuindo o gender gap em termos de sua
participação no processo eleitoral na condição de candidatas
(INGLEHART; NORRIS, 2003).
Além disso, quando os mesmos dados são observados no
plano dos estados, constata-se o decréscimo, a partir de 2004,
da lacuna – que continua grande – entre o número de mulheres
candidatas e homens candidatos na maioria dos estados (Figura
70 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
1)8. Com as exceções do Acre em 2008, Piauí em 2004 e 2008 e
Santa Catarina em 2008, há, desde 2004, menos de quatro homens
para cada mulher candidata em todos os demais estados. Isso
sugere que o crescimento, mesmo que extremamente reduzido,
do estoque de mulheres engajadas na competição para o cargo
de vereadora vem ocorrendo de maneira mais ou menos uniforme
na maioria das unidades da federação. Para o movimento de
mulheres, essa constatação indica que gradativamente as
mulheres brasileiras estão se envolvendo na política formal em
todos os estados, independentemente do grau de desenvolvimento
sócio-econômico destes9.
Figura 1 – Razão homem/mulher entre os candidatos
6.00
5.50
PE SC
BA ES
RS
5.00
MG
PI
PI SE
AM BA
GO
PB PR
4.50 CE PE ES MG RJ
PB SC
PA RO
RS
MT RN 1996
GO MS
MT AC AM TO
AL MA PI RN SC 2000
4.00 AC RR
RR SP 2004
PE SE SC ES MG
AP 2008
AC AM PA
GO AL BA
MA PE PR ES MG
MT
MT AP RN PR RS
MS AC CE RS
PB RJ
3.50 GO RO
RO RR
RR TO CE RN SE SP
TO
PA AL
AP
AP MA RJ SP
MS MA SE
3.00 MS RJ
2.50
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
O cenário apresenta diferenças consideráveis no tocante
ao montante de mulheres eleitas. Em primeiro lugar, não há
grandes flutuações quando os números nacionais são analisados.
As mulheres continuam representando aproximadamente 12%
do eleitos. Essa proporção é maior do que o números para a
Câmara dos Deputados. Nessa casa, as mulheres representam
9% dos eleitos. Portanto, tal como observado anteriormente, o
legislativo municipal parece oferecer uma grande oportunidade
8
Os dados do TSE para as eleições de 1996 não estão completos no caso de alguns estados, como São
Paulo.
9
Autores como Inglehart e Norris (2003) pontuaram que o maior desenvolvimento sócio-econômico se
correlaciona com o maior envolvimento da mulher na política.
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 71
para as mulheres iniciarem suas carreiras políticas10. Por outro
lado, a manutenção desse valor de 12% após o terceiro ciclo
eleitoral consecutivo de vigência da política de cotas revela que
essa iniciativa não tem apresentado resultados no que se refere
também à competição eleitoral no âmbito municipal. Voltaremos
a esse ponto adiante.
Em segundo lugar, também não houve mudanças
significativas na razão homem/mulher no caso dos eleitos. Em
1996, para cada mulher eleita, 6,81 homens obtiveram o cargo
de vereador. Nos ciclos eleitorais subseqüentes, essa razão
manteve-se praticamente estável: 7,15 em 2000, 6,58 em 2004
e 6,56 em 2008. Portanto, ao passo que há cerca de quatro
homens para cada mulher candidata, seis vereadores assumem
seus postos para cada vereadora eleita. Ou seja, a lacuna
homem/mulher no que tange ao seu sucesso eleitoral não vem
diminuindo. Pelo contrário, permanece estável no patamar de
mais de seis para um.
Além disso, os números estaduais sugerem que, tal como
notado por outros autores (MIGUEL; QUEIROZ, 2006), continua
sendo muito mais difícil para as mulheres se elegerem em algumas
regiões do país do que em outras. Como pode ser observado
na Figura 2, o número de homens para cada mulher eleita é
consideravelmente maior nas regiões sudeste e sul. Este padrão
tem sido uma constante desde pelo menos 1996 e pouco se alterou
nos ciclos eleitorais posteriores. Com pouquíssimas exceções, o
descompasso entre o número de homens e mulheres vereadores
é menor no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Resta-nos saber se,
nessas três regiões, há um maior número de mulheres competindo
ou se as candidaturas de mulheres são mais competitivas nessas
áreas do que no Sul e no Sudeste11.
10
Para podermos afirmar categoricamente que é mais fácil para uma mulher obter uma cadeira no
legislativo municipal do que no estadual ou federal, teríamos que contrastar a taxa de sucesso das
candidaturas femininas nesses três tipos de pleito, controlando pela qualidade das candidaturas, o número
de cadeiras em disputa, a quantidade de candidatos por vaga, o número de mulheres em competição, o
cumprimento da política de cotas, entre outros elementos.
11
De fato, essa é uma questão pendente para a literatura sobre gênero e política no Brasil. De acordo com
Miguel e Queiroz (2006), nem o voto presumidamente mais conservador nas regiões menos desenvolvidas
do país, nem a hipótese de uma maior qualificação educacional das candidaturas femininas nem o postulado
de que mulheres votam em mulheres explicam essas diferenças.
72 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
Figura 2 – Razão homem/mulher entre os eleitos
16.00
RJ
14.00
RJ
12.00 ES
ES
SC
10.00 RS RJ
ES
PE SC MG
RR PE SC 1996
AP PE PR SP
RO RS MG 2000
RR PR MG SP
8.00 SC 2004
GO AM RR PR
RO BA SE RS
BA PE 2008
GO MS MT AC
GO PA RS
MS MT AM
AM RR AL BA CE
BA CE PB
PI
PI
GO AM PA
MT AC TO PB PI
6.00 MS AP PA MA
MA SE
PA TO AL RN
RN
TO PB
TO AL CE
CE MA PB SE
RN SE
AC RN
4.00 AP
AP
2.00
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
Partidos políticos e mulheres
A integração das mulheres aos partidos políticos na
condição de candidatas e eleitas constitui um tópico importante
na análise das relações entre gênero e política, na medida
em que funciona como um indicador, mesmo que mediato, do
perfil ideológico das mulheres. Desse modo, a integração aos
partidos de direita usualmente é interpretada como evidência
do perfil conservador das mulheres e de seu apoio à plataformas
de defesa da tradição e da moral. Por outro lado, a presença
nas agremiações de esquerda é tomada como mostra do seu
comprometimento com valores sociais progressistas e com
causas feministas, como a defesa do aborto (INGLEHART;
NORRIS, 2003; KAHN, 1996).
No caso específico das eleições para a Câmara dos
Deputados, alguns estudos, como Araújo (2001 a, 2001b) e Araújo
e Alves (2007), indicam que o maior número de candidatas e
de eleitas encontra-se entre os partidos de esquerda e que a
direita do espectro partidário elege uma quantidade menor de
mulheres. Os dados para a disputa do legislativo municipal,
contudo, apontam noutra direção (Figura 3). No que se refere às
mulheres candidatas, a maioria concorre ao cargo de vereadora
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 73
no interior de partidos de direita12. Entre quatro e cinco em cada
dez mulheres disputam o legislativo municipal em uma das
agremiações direitistas. Isso indica que as mulheres brasileiras
encontram refúgio nas mais diferentes agremiações partidárias
e não se concentram nos partidos de esquerda no tocante à
política local13.
Figura 3 – Mulheres candidatas por bloco ideológico
60.00
50.00
40.00
(porcentagem)
30.00
Esquerda
Centro
20.00 Direita
10.00
0.00
1996 2000 2004 2008
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
A preponderância da direita no que tange ao volume de
candidaturas femininas lançadas no nível local – conforme
também notado por Miguel e Queiroz (2006) – é inegável: cerca
de 33 mil candidatas foram apresentadas ao eleitorado por esses
partidos a cada eleição desde pelo menos 2000. No entanto, o
crescimento da esquerda também é digno de nota. Enquanto
que, em 2000, 29% das mulheres (20,512 candidatas) concorreram
ao posto de vereadora por partidos esquerdistas, em 2008, 38%
o fizeram (29,596 mulheres). Os números para os partidos de
centro estão estabilizados ao redor de 22% (15 mil candidatas).
Como conseqüência do crescimento da esquerda, a direita vem
gradativamente perdendo espaço no que se refere à porcentagem
12
Os seguintes partidos politicos participantes das eleições municipais de 1996, 2000, 2004 e 2008 foram
considerados de direita: DEM (PFL), PAN, PGT, PL, PP, PTC (PRN), PRONA, PR, PRP, PRTB, PSD,
PSL, PSDC, PST, PTB e PTN. A esquerda está composta por PC do B, PCB, PDT, PHS (PSN), PMN, PPS,
PSB, PSOL, PSTU, PT, PT do B e PV. Finalmente, o centro está composto por PMDB e PSDB. Os nomes
dos partidos são apresentados no anexo.
13
Esse dado vai de encontro com a visão implícita em parte do movimento feminista (CNMB, 2002),
segundo a qual as mulheres ativistas pertencem necessariamente à esquerda do espectro político
brasileiro.
74 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
de mulheres lançadas: foram 48.23% em 1996, 47.12% em 2000,
43.28% em 2004 e 41.57% em 2008.
Os cinco partidos originais do atual sistema partidário
(PMDB, PP, PDT, PTB e PT) e suas principais cisões (DEM e PSDB)
são responsáveis pelo lançamento do maior número absoluto e da
maior porcentagem de candidaturas de mulheres. Neles também
se concentra – conforme veremos a seguir – a maior massa de
mulheres eleitas. No entanto, a novidade é que alguns desses
partidos políticos vêm perdendo espaço no mercado eleitoral.
Desse modo, enquanto que o DEM (PFL) lançou 11.47% (8,072)
das mulheres candidatas em 2000, em 2008 foram 7.29% (5,612)
do total (Tabela 7 em anexo). Para o PP, os mesmos números
são 8.91% (6,270 em 2000) e 6.99% (5,380 em 2008). A tendência
também afeta os partidos de centro: o PMDB concentrou das
candidaturas femininas 13.37% (9,412) em 2000 e 11.03% (8,492)
em 2008. No caso do PSDB, os números são 10.38% (7,304) e 8.95%
(6,890), respectivamente. O PT, pelo contrário, experimentou um
crescimento no mesmo período: de 7.26% (5,108 em 2000) para
9.52% (7,325 em 2008).
Esses dados sugerem a ocorrência de diversos fenômenos.
Por um lado, podem ser evidência de um esforço maior dos
partidos de esquerda no sentido de recrutar mais mulheres para
suas listas ou mesmo de uma implementação mais intensa da
política de cotas. Por outro lado, podem indicar também que
um volume cada vez maior de mulheres busca uma cadeira
no legislativo municipal através de agremiações situadas à
esquerda do espectro partidário. Esse maior interesse pelas
agremiações esquerdistas pode advir tanto da identificação com
a plataforma programática desses partidos quanto de um estrito
cálculo eleitoral. A ascensão eleitoral da esquerda ocorrida nos
últimos anos pode ser vista, do ponto de vista dos candidatos,
como uma melhor oportunidade eleitoral: como uma maneira de
aumentar as chances de sucesso nas urnas. Este trabalho não
pode sistematicamente testar todos esses cenários. No entanto,
o caso do PT nos municípios será analisado na seção seguinte – o
que pode fornecer uma indicação do esforço das agremiações de
esquerda quanto à implementação da política de cotas.
O que os dados revelam a respeito das mulheres eleitas?
Neste caso, pelo menos três fatos são dignos de nota. Em primeiro
lugar, novamente a preponderância da direita deve ser notada. A
cada cem mulheres eleitas, 44 advêm de partidos de direita, 33
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 75
de partidos de centro e 23 de agremiações de esquerda. Neste
caso, no entanto, o crescimento do último grupo é bem mais
visível (Figura 4). A esquerda elegeu 18.91% (20,512) do total de
mulheres em 2000 e 30.22% (29,596) em 2008.
Figura 4 – Mulheres eleitas por bloco ideológico
60.00
50.00
40.00
(porcentagem)
30.00
Esquerda
Centro
Direita
20.00
10.00
0.00
1996 2000 2004 2008
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
Em segundo lugar, uma vez mais, entre as sete agremiações
partidárias listadas acima, os de direita e centro vêm perdendo
espaço – tanto em termos absolutos, quanto percentuais. O DEM
(PFL), por exemplo, conseguiu eleger 1,163 vereadoras (16.65%
do total de mulheres eleitas) em 2000, mas caiu para 604 (9.29%)
em 2008. No PP, o movimento de queda não foi tão brusco: passou
de 838 mulheres (11.99%) em 2000 para 649 (9.98%) em 2008. O
PMDB também sofreu perdas: 1,326 peemebistas (18.98%) foram
eleitas em 2000 e 1,115 (17.14%) em 2008. Similarmente, o PSDB
experimentou o mesmo processo: elegeu 1,006 mulheres (14.40%)
em 2000 e 747 (11.48%) em 2008. O Partido dos Trabalhadores, ao
contrário, vivenciou um boom: aumento seu contingente em cerca
de 62%. Emplacou 349 vereadoras (4.99%) em 2000 e 567 (8.72%)
em 2008.
Em terceiro lugar, os dados sobre candidatas e eleitas
revelam um aparente paradoxo. Os partidos de esquerda vêm
oferecendo aos eleitores um volume bem maior de mulheres
candidatas do que os partidos de centro. Entretanto, os últimos
elegeram uma quantidade bem maior de vereadoras do que as
agremiações esquerdistas em 1996, 2000 e 2004. Foi somente em
76 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
2008, quando a esquerda apresentou praticamente o dobro de
candidatas do que o centro – foram 29 mil da esquerda e 15 mil
do centro –, que esse bloco de partidos ultrapassou, ainda que
por uma margem estreita, o centro no que se refere ao número
de eleitas. Essa diferença indica que, embora os partidos
de esquerda estejam em ascensão no que se refere à atração
de contingentes cada vez maiores de mulheres concorrendo
ao posto de vereadora, as candidatas por eles lançadas são
menos competitivas do que as mulheres lançadas pelo PMDB
e PSDB. Isso significa, em última instância, que, dada a atual
configuração do sistema eleitoral brasileiro – em que inexiste
um sistema de lista fechada –, a política de reserva de vagas
para mulheres só surtirá efeitos a partir do momento em que
candidaturas competitivas sejam ofertadas ao eleitor. Do
contrário, dificilmente um aumento do número de candidatas se
traduzirá automaticamente na presença de um número maior de
mulheres no legislativo.
Resta saber, além disso, se, no futuro, o PT e os demais
partidos de esquerda continuarão a apresentar essa tendência de
crescimento – sobretudo se houver mudanças no bloco ideológico
que controla a Presidência da República. Embora essas questões
não possam ser inteiramente resolvidas no escopo desse trabalho,
podemos observar as principais tendências no que tange à
implementação da política de reserva de vagas para mulheres
nas listas partidárias.
Política de cotas nos municípios paulistas
Com o objetivo de examinar se e quão freqüentemente os
partidos políticos implementam a política de cotas no plano dos
municípios brasileiros, este estudo foca-se no caso das cidades
do estado de São Paulo. Essa unidade da federação foi escolhida
devido a três fatores principais. Em primeiro lugar, a grande
quantidade de municípios: são 645 cidades, mais de 10% do total
de municípios. Em segundo lugar, sua diversidade no que se refere
ao tamanho dos distritos eleitorais – ou seja, a quantidade de
cadeiras em disputa em cada Câmara Municipal. Nesse estado,
a magnitude dos distritos varia entre o mínimo de 9 cadeiras
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 77
e o máximo de 55 (Tabela 2)14. Em terceiro lugar, há também
considerável variação no que tange ao número de candidatos por
vaga em disputa: oscila desde 1.55 candidatos por cadeira (no
município de Itajú) até 24.91 (na cidade de Garulhos)15. Os dois
últimos elementos são importantes, na medida em que, como
mencionado anteriormente, em disputas proporcionais, o maior
número de cadeiras em disputa tende a favorecer a entrada de
minorias políticas no parlamento. O número de candidatos por
cadeira em competição, por sua vez, dá a medida do grau de
competitividade de cada cadeira nos diferentes municípios.
Tabela 2 – Características dos municípios do estado de São Paulo (eleição de
2008).
Municípios paulistas Média Desvio-padrão Mínimo Máximo
Número de candidatos 88.22 83.23 14 1077
Número de cadeiras 9.76 2.84 9 55
Razão candidato por cadeira 8.38 4.49 1.55 24.91
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
Em virtude da grande quantidade tanto de municípios
quanto de partidos políticos em atuação, a análise acerca
do cumprimento da política de cotas limita-se aos seguintes
partidos: DEM, PMDB, PSDB e PT. Eles foram escolhidos não
só porque são algumas das principais agremiações partidárias
em atuação no país, mas também porque sua presença garante
que o estudo contemple pelo menos um partido pertencente a
cada um dos pólos do espectro político-partidário brasileiro:
direita (DEM), centro (PMDB e PSDB) e esquerda (PT). Além
disso, como vimos na seção anterior, esses partidos concentram
uma grande porcentagem do total de mulheres candidatas e
eleitas. Portanto, embora a análise não retrate o desempenho
de todos os partidos em todas as unidades da federação, ela
ajuda a entender as dificuldades e características mais gerais do
processo de implementação da política de reserva de vagas nas
listas partidárias para mulheres.
14
Esta é a distribuição dos municípios de acordo com o seu número de cadeiras: 515 (9 cadeiras); 50
(10 cadeiras); 27 (11 cadeiras); 10 (12 cadeiras); 13 (13 cadeiras); 4 (14 cadeiras); 4 (15 cadeiras); 6
(16 cadeiras); 7 (17 cadeiras); 2 (20 cadeiras); 4 (21 cadeiras); 1 (33 cadeiras); 1 (34 cadeiras) e 1 (55
cadeiras).
15
O município com o menor número de candidatos também foi Itajú – 14 candidatos. Na cidade de São
Paulo – com 55 cadeiras em disputa – concorreu a maior quantidade de postulantes ao cargo de vereador:
1,077.
78 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
Antes de iniciar a análise propriamente partidária dos
dados, é importante fazer uma consideração. Tal como visto com
os números agregados ao nível nacional, a política de reserva de
um terço das listas partidárias para as mulheres também não
surtiu efeitos no caso específico dos municípios paulistas. As
mulheres continuam representando cerca de 11% dos eleitos para
as Câmaras Municipais (Tabela 3). Ou seja, apesar de 2008 ser a
terceira eleição após a passagem da lei de cotas, essa eleição não
produziu alterações de grande monta na proporção e quantidade
de mulheres eleitas16.
Tabela 3 – Candidatos e eleitos nos municípios do estado de São Paulo (2000-
2008).
Candidatos Eleitos
Eleição
mulheres total % candidatas mulheres total % eleitas
2000 13,319 66,383 20.06 828 8,018 10.33
2004 14,673 60,900 24.09 686 6,248 10.98
2008 13,645 56,900 23.98 694 6,298 11.02
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
Apesar dessa consideração – a de que as cotas ainda não
surtiram resultado no estado de São Paulo –, resta-nos saber se
e em que extensão os partidos vêm implementando essa medida
e quais são as dificuldades que enfrentam para guarantir que as
listas partidárias de fato contenham um terço de mulheres.
Qual foi o desempenho do DEM, PMDB, PSDB e PT em 2008
nos municípios paulistas no que se refere à política de cotas? Em
primeiro lugar, apesar de essas quatro agremiações partidárias
figurarem entre os maiores partidos do país, elas não lançaram
candidatos em todos os municípios paulistas (Tabela 4). O mais
próximo de alcançar a totalidade das cidades do estado de São
Paulo em 2008 foi o PSDB, que lançou candidatos em 98.76%
das localidades17. Dentre os partidos analisados, o PT é o mais
distante – embora não esteja muito longe – da marca dos 100%:
apresentou candidatos em 89.30% dos municípios.
16
Note que o número de cadeiras passou de 828 em 2000 para 694 em 2008.
17
Limongi e Mesquita (2008) analisam a força eleitoral do PSDB no município de São Paulo e mostram
o papel decisivo desempenhado pelos eleitores peessedebistas na determinação dos resultados eleitorais
nessa cidade. São necessárias mais pesquisas para se verificar se isso também se estende ao restante do
estado.
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 79
Tabela 4 – Implementação da política de cotas nas cidades paulistas em 2008.
Número de cidades em que partido DEM PMDB PSDB PT
lançou candidatos 615 612 637 576
lançou mulheres 470 440 535 450
cumpriu a cota de 30% 199 177 214 194
elegeu mulheres 66 74 126 68
Total de mulheres eleitas por partido 70 75 140 74
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
Em segundo lugar, os partidos não lançaram mulheres em
todas as cidades em que apresentaram candidatos. O PSDB foi a
agremiação que mais o fez: listou mulheres em 84% das localidades
em que apresentou candidatos (ou 535 cidades). Em seguida,
vieram o PT, com a proporção de 78.13 % (ou 450 cidades); o DEM,
76.42% (ou 470 cidades) e o PMDB, 71.90% (440 cidades). Ou seja,
a política partidária continua predominantemente masculina em
várias cidades do país.
Em terceiro lugar, as agremiações partidárias alcançaram
a política de cotas em somente aproximadamente 40% dos
munícipios em que lançaram mulheres. O PT reservou um terço
da sua lista de candidatos às mulheres em 43.11% das cidades
em que lançou candidatas. Para os demais partidos, os números
são os seguintes: DEM, 42.34%; PMDB, 40.23%; e PSDB, 40%.
Portanto, nesse quesito, praticamente não há muita variação entre
esquerda, centro ou direita. No caso específico dos municípios
paulistas e, exclusivamente, com base no desempenho do Partido
dos Trabalhadores, conseqüentemente, não se pode afirmar que
a esquerda seja o pólo ideológico que mais implemente a política
de cotas para mulheres no Brasil.
A análise do caso dos municípios paulistas revela ainda
outras informações importantes a respeito da política de
reserva de vagas para mulheres nas listas partidárias. Todos os
partidos examinados tiveram dificuldade para cumprir a cota de
30% nas maiores cidades paulistas, aqueles com mais de trinta
cadeiras em disputa (Tabela 5). Obviamente, nessas localidades
a maior quantidade de mulheres necessária para se chegar a
um terço da lista parece ser um dos fatores explicativos chave.
São necessárias 10 candidatas nas cidades de Campinas (33
vagas) e Garulhos (34 vagas) e 16 candidatas na cidade de São
Paulo (55 vagas) para os partidos colocarem as cotas em prática
nessas três cidades.
80 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
Tabela 5 – Cidades em que partidos lançaram mulheres e cumpriram a cota de
30%*
Partidos DEM PMDB PSDB PT
Cadeiras a b c a b c a b c a b c
por cidade
9 350 158 45.14 322 135 41.93 412 158 38.35 328 151 46.04
10 47 12 25.53 44 20 45.45 47 22 46.81 43 18 41.86
11 25 9 36.00 23 9 39.13 24 12 50.00 27 11 40.74
12 9 6 66.67 8 2 25.00 10 6 60.00 10 3 30.00
13 12 5 41.67 13 4 30.77 12 3 25.00 12 2 16.67
14 4 2 50.00 4 2 50.00 4 3 75.00 4 2 50.00
15 3 0 0 4 1 25.00 4 0 0 4 0 0
16 6 0 0 6 1 16.67 6 6 100 6 1 16.67
17 5 4 80.00 7 3 42.86 7 3 42.86 7 2 28.57
20 2 2 100 2 0 0 2 0 0 2 0 0
21 4 1 25.00 4 0 0 4 1 25.00 4 4 100
33 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0
34 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0
55 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0
Total 470 199 42.34 440 177 40.23 535 214 40.00 450 194 43.11
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
* Notas: a = número de cidades em que partido lançou mulheres; b = número de cidades em
que partido cumpriu a cota de 30%; c = porcentagem de cidades em que o partido lançou
mulheres e cumpriu a cota de 30%.
Além disso, nos pequenos municípios paulistas (com 9
cadeiras no legislativo municipal), os partidos conseguem lançar
um terço de mulheres em suas chapas em somente cerca de
43% dos casos. Esse número surpreende, uma vez que, nesses
distritos, ao contrário das cidades de Campinas, Garulhos e São
Paulo, um terço das vagas equivale a apenas três mulheres. Essa
inabilidade dos partidos em alcançar a cota nessas localidades
sugere pelo menos dois cenários. Por um lado, pode simplesmente
haver uma escassez de mulheres interessadas em, ou em
condições de, obter um cargo no parlamento local. Por outro, pode
ser que as lideranças partidárias dessas localidades se mostrem
menos interessadas em atrair mulheres para compor suas listas
ou menos dispostas a aceitá-las18.
Até aqui vimos que a política de cotas somente é posta em
prática em quatro a cada dez cidades do estado de São Paulo.
Vimos também que os números totais para o estado de São Paulo
18
Para testar essa última hipótese, são necessários estudos de caso que se foquem na política de
cidades específicas e que elucidem, entre outros elementos, as características do processo de decisão de
candidaturas por parte das mulheres.
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 81
não mostram aumentos na entrada das mulheres nas Câmaras
Municipais. Pelo contrário, o número está estacionado em 11%.
Resta saber, no entanto, se a implementação da política de
reserva de cotas, quando observada a partir das listas partidárias
em cada município, de fato resulta em mais mulheres eleitas.
A Tabela 6 contém essas informações. Como pode ser
observado, o PSDB foi o partido que elegeu a maior proporção das
candidatas que lançou: 8.69%. Neste quesito, o desempenho do
DEM foi o mais negativo: 5.92% de suas candidatas se tornaram
vereadoras. Esses percentuais, no entanto, não revelam nenhuma
informação a respeito da eficácia da política de cotas. Para isso,
é necessário contrastar a porcentagem de mulheres eleitas em
cidades nas quais os partidos lançaram 30% de mulheres em
suas listas com as proporções nas localidades em que eles não
alcançaram esse patamar. Esses duas informações encontram-se
na terceira e quarta colunas da Tabela 6.
Tabela 6 – Porcentagem de eleitas sobre o total de mulheres lançadas.
Partido Total Partido alcançou cota Não alcançou cota
DEM 5.92 5.62 6.25
Chi2(16)=30.0742l Chi2(22)=164.9337
Pr=0.018 Pr=0.000
PMDB 6.69 7.76 5.60
Chi2(16)=11.0597 Chi2(8)=13.3856
Pr=0.806 Pr=0.099
PSDB 8.69 8.29 9.15
Chi2(22)=34.5345 Chi2(20)=90.7867
Pr=0.043 Pr=0.000
PT 5.98 6.18 5.75
Chi2(20)=71.0895 Chi2(16)=150.2329
Pr=0.000 Pr=0.000
TOTAL 6.97 7.03 6.88
Chi2(24)=88.3518 Chi2(28)=210.7397
Pr=0.000 Pr=0.000
Fonte: cálculos da autora a partir de dados do TSE.
Os dados revelam que, também quando vista a partir desse
nível de análise, a política de cotas não é – ou ainda não se
tornou – eficaz. O DEM e PSDB, por exemplo, elegeram uma maior
proporção de mulheres em cidades que não alcançou o piso de
um terço do total da lista partidária do que em municípios em que
alcançou esse valor. No caso do PMDB, o inverso é verdadeiro,
mas os dados não são estatisticamente significativos – portanto,
82 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
a diferença pode ser aleatória. No caso do PT, as mulheres tiveram
mais sucesso nas cidades onde o partido alcançou a cota. No
entanto, a diferença em relação às cidades com menos de 30% de
mulheres nas chapas petistas é bastante reduzida: somente 0.43.
O mesmo é válido para os dados totais – quando o desempenho
dos quatro partidos é analisado em conjunto. Neste caso, a
diferença é de apenas 0.15 pontos percentuais.
Como essas diferenças são extremamente pequenas – menos
de 1% em ambos os casos –, fica difícil afirmar que, mesmo quando
a unidade de análise é a lista de cada partido em cada município
do país, a política de cotas traga resultados positivos no que se
refere ao aumento da presença da mulher nas instituições de
representação formal no Brasil.
Considerações finais
Este artigo mapeou a dinâmica geral da participação da
mulher brasileira na disputa por uma cadeira no legislativo
municipal à luz dos resultados da eleição de 2008. Seu objetivo foi
verificar, em primeiro lugar, se, nesse pleito em especial, houve
um aumento do volume de mulheres concorrendo ao cargo de
vereadora, uma vez que a escassez de candidatas é normalmente
apresentada como um óbice à ampliação da representação
política do segmento feminino brasileiro. Buscou-se ainda não
somente verificar quais partidos oferecem oportunidades para
as mulheres e cumprem a política de cotas, mas também quão
eficazes essas últimas se mostram no contexto brasileiro.
Os dados revelam informações importantes a respeito da
relação entre política e gênero no Brasil. Em primeiro lugar,
a integração das candidatas aos partidos na disputa para o
legislativo municipal apresenta muitas diferenças em relação à
competição para a Câmara de Deputados. Na última, segundo
a literatura, os partidos de esquerda lançam e elegem o maior
número de mulheres. No caso das eleições para vereadora,
no entanto, essa não é a situação. Pelo contrário, as maiores
proporções de mulheres candidatas e eleitas encontram-se nos
partidos de direita. As mulheres brasileiras ativas politicamente,
portanto, pertencem aos mais diferentes espectros ideológicos –
e não almejam obter cadeiras no legislativo somente através de
agremiações partidárias de esquerda.
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 83
Em segundo lugar, os dados revelaram que os partidos
pertencentes ao bloco de esquerda vêm, no decorrer dos últimos
ciclos eleitorais, atraindo um volume cada vez maior de candidatas
para suas listas na competição para o legislativo municipal.
Também vêm aumentando o número de eleitas de maneira
considerável. No entanto, elegeram um montante bem menor de
mulheres do que os partidos de centro – que lançaram quase a
metade do total de candidatas. Como assinalado anteriormente,
essa discrepância em termos da taxa de sucesso eleitoral provê
importantes lições a respeito das cotas no Brasil, uma vez que
indica que o mero aumento do número de candidatas não se
traduz facilmente no incremento da quantidade de eleitas.
No que se refere especificamente a esse último tópico, o artigo
mostrou que o Partido dos Trabalhadores – no caso específico
dos 645 municípios paulistas – é a agremiação partidária que
mais põe em prática a política de reserva de vagas. Entretano,
não há grandes diferenças entre direita, centro e esquerda a
esse respeito: partidos pertencentes a cada um desses blocos
lançaram, em 2008, um terço de mulheres em cerca de 40% das
cidades do estado de São Paulo.
Tabela 7 – Porcentagem de eleitas e candidatas a vereadora no país (1996-
2000)
Candidatas Eleitas
Partido 1996 2000 2004 2008 1996 2000 2004 2008
PAN 0.34 0.42 0.96 — 0.00 0.03 0.20 —
PCdoB 0.58 0.59 1.31 2.29 0.28 0.29 0.46 1.17
PCB 0.07 0.05 0.12 0.20 0.00 0.00 0.02 0.03
PCO 0.01 0.01 0.08 0.01 0.00 0.00 0.00 0.00
PDT 8.68 6.47 5.98 6.38 7.02 5.31 5.35 6.13
DEM (PFL) 10.28 11.47 8.66 7.29 18.15 16.65 12.77 9.29
PGT 0.22 0.43 0.00 — 0.02 0.04 0.00 —
PHS (PSN) — 0.80 1.67 1.59 — 0.17 0.69 0.88
PL 6.61 5.21 6.73 — 4.30 4.61 6.34 —
PMDB 13.96 13.37 10.81 11.03 24.11 18.98 16.51 17.14
PMN 2.57 1.43 1.85 1.84 0.85 0.59 0.86 1.29
PP 11.58 8.91 7.27 6.99 12.65 11.99 10.84 9.98
PPS 2.31 5.42 5.86 4.52 1.20 4.06 4.90 3.43
PR — — — 5.53 — — — 6.47
PRB — — — 2.82 — — — 1.60
PTC (PRN) 0.23 0.34 1.43 1.54 0.05 0.09 0.61 0.49
PRONA 0.00 0.40 0.83 — 0.00 0.07 0.26 —
84 Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009
Candidatas Eleitas
PRP 1.41 1.28 1.73 1.54 0.64 0.60 1.11 0.97
PRTB 0.32 0.79 1.21 1.22 0.09 0.27 0.63 0.45
PSB 4.04 4.23 4.63 5.71 2.37 2.78 3.45 5.64
PSC 3.00 2.28 2.43 3.31 1.08 0.86 1.16 2.08
PSD 3.70 3.07 0.00 — 2.00 2.43 0.00 —
PSDB 9.11 10.38 9.08 8.95 15.00 14.40 13.10 11.48
PSDC 0.58 1.05 1.85 1.51 0.05 0.27 0.79 0.54
PSL 1.12 1.46 1.86 1.88 0.53 0.62 0.92 0.97
PSOL — — — 0.71 — — — 0.08
PSN 0.14 0.00 0.00 — 0.00 0.00 0.00 —
PST 0.89 1.47 0.00 — 0.14 0.77 0.00 —
PSTU 0.22 0.11 0.13 0.06 0.00 0.00 0.00 0.00
PT 7.80 7.26 10.51 9.52 3.89 4.99 8.51 8.72
PTdoB 1.02 0.93 1.33 1.44 0.12 0.29 0.75 0.77
PTB 7.51 7.97 7.06 6.52 5.20 8.32 8.03 7.73
PTN 0.45 0.57 1.26 1.42 0.05 0.10 0.23 0.60
PV 1.27 1.84 3.34 4.18 0.23 0.43 1.53 2.09
Total 100 100 100 100 100 100 100 100
Além disso, a implementação de cotas – pelo menos no caso
das cidades paulistas – não cumpre seu objetivo fundamental, que
é aumentar a presença de mulheres no legislativo. Pelo contrário,
vimos que alguns partidos elegeram uma maior porcentagem de
mulheres em cidades em que, quaisquer que sejam as razões,
não alcançaram o patamar de um terço da lista reservada às
mulheres. Nos casos de partidos que elegem uma maior proporção
de mulheres eleitas nas cidades em que cumpriram a lei de cotas,
a diferença com os demais municípios ou são minímas ou não
alcançaram significância estatística.
Por fim, os dados mostram que todos os partidos encontram
muita dificuldade em implementar a política de reserva de vagas
em distritos com grande magnitude (acima de trinta cadeiras).
Nos municípios pequenos, por sua vez, os partidos conseguem
implementar as cotas em somente cerca de 40% do total – o
que é surpreendente dado que essas cidades possuem apenas
nove cadeiras em disputa. Essa dificuldade reintroduz mais uma
vez aquele que é um dos principais problemas ao aumento do
acesso da mulher à arena política formal: o número diminuto de
mulheres engajadas na competição eleitoral. Como sabemos que
as candidaturas das mulheres podem ser tão ou mais exitosas do
que a dos homens em disputas eleitorais altamente competitivas
Perspectivas, São Paulo, v. 35, p. 63-89, jan./jun. 2009 85
(BOHN, 2007), resta-nos estudar o processo de decisão que leva
as mulheres a lançarem candidaturas. Talvez, como mostram
Fox e Lawless (2004) e Fox, Lawless e Feeley (2001) no caso dos
Estados Unidos, hajam centenas ou mesmo milhares de mulheres
lá fora que, embora não se considerem competitivas, na verdade
o são.
BOHN, S. Brazilian women competing for a seat in the local
legislative. Perspectivas, São Paulo, v.35, p.63-89, Jan./June,
2009.
ABSTRACT: The goal of this article is to understand the pattern
of the Brazilian women’s participation in the election for the
local councils, especially when it comes to the volume of female
candidacies, their success, the integration of women into the
political parties and the efficacy of the quotas for women. The data
show that, contrary to the election for the Câmara dos Deputados
and despite the rise of the leftist parties, most women run for
councilwomen and get elected in rightist parties. Furthermore, the
quotas for women are not effective at the national and subnational
levels, neither are they when the level of analysis is the city. Finally,
the key deterrent to the increase in the female presence in the
formal political arena remains the same: the low supply of women
involved in the electoral process.
KEYWORDS: Women. Elections. Quotas. Gender. Legislative. City.
Parties.
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