Timoleon Jaubert - A Biografia de Um Medium Espirita

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TIMOLÉON JAUBERT

A BIOGRAFIA DE UM MÉDIUM ESPÍRITA

MÉDIUM TIPTÓLOGO

AUTORES ESPÍRITA CLÁSSICOS


www.autoresespiritasclassicos.com
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TIMOLÉON JAUBERT
A BIOGRAFIA DE UM MÉDIUM ESPÍRITA
MÉDIUM TIPTÓLOGO

MATERIAIS

COMPILADOS DA
REVISTA ESPÍRITA

PUBLICADOS POR
ALLAN KARDEC

AUTORES ESPÍRITA CLÁSSICOS


www.autoresespiritasclassicos.com

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Data da publicação: 26 de março de 2017

CAPA: Irmãos W.
TRADUTORA: Fabiana Rangel
REVISÃO: Irmãos W. e Jorge Hessen
PUBLICAÇÃO: www.autoresespiritasclassicos.com
São Paulo/Capital
Brasil

Dedicatórias

Conhecem-se os verdadeiras espíritas pelas suas obras ao próximo e a


Fabiana Rangel demonstra pela grandeza e cultura da sua alma na tradução
de obras espíritas clássicas que serve como alimento aos espíritas
desconhecedores da imortalidade da alma. (Irmãos W.)

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(Tiptologia [do grego tiptó + logos + -ia] - (Do grego, tipto, eu bato, e logos,
discurso.) Linguagem por pancadas, ou batimentos: modo de comunicação
dos Espíritos. Tiptologia alfabética.
A Terminologia também é empregada para mencionar o estudo dos raps
(plural da palavra inglesa rap /pancada). É a forma de comunicação obtida
pela sucessão de pancadas e ou batidas curtas em material rígido, mormente
madeira, produzindo ruídos provocados pelos Espíritos com a intenção de
expressarem os seus pensamentos.)
Tiptólogo - Gênero de médiuns aptos à tiptologia. Médium Tiptólogo.
Sematologia - (Do grego, sema, sinal, e logos, discurso.) Linguagem dos
sinais. Comunicação dos Espíritos pelo movimento dos corpos inertes.

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"[...] Sou espírita, é sempre declaro que os mortos entram em comunicação
direta com os vivos.
Eu o declaro porque sei.
Eu o sei porque há vinte anos estudo este fenômeno. Eu o estudo não no
livro dos outros, mais em meu livro, o livro dos fatos. Os fatos são
indispensáveis a verdadeira ciência.
E estes fatos há vinte anos, tanto só, quanto com os outros, eu os constato
prudentemente, sem preconceitos, e sempre sob o controle de uma fria e
sabia razão.
Eu estou, portanto, certo, mil vezes certo do que afirmo.
Esses fenômenos, são, portanto tão inverossímeis?
[...] Eu creio que os mortos se comunicam com os homens - mas sem
milagre - sem privilégio, porque Deus e justo -, e sem virtude de uma lei
tão velha como o mundo.
[...] Até hoje caluniou-se o Espiritismo, e este não foi refutado.
Espero um livro digno é sério que o refute.
Não... O Espiritismo não passará.
Deus não quer isso.
Ele prova... moraliza... consolada... eleva a alma"
Carcassonne, 07 de junho de 1875
T. Jaubert
(Carta ao Sr. Leymarie por ocasião do Processo dos Espíritas

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ÍNDICE

Prefácio (Jorge Hessen) .......................................................................... 07


I - Timoléon Jaubert (Biografia 01)
A tiptologia alfabética ............................................................................ 10
Poesias ditadas por um Espírito .............................................................. 10
Efeitos físicos impressionantes ............................................................... 14
Um notável que tem a coragem de suas opiniões .................................... 16
Magistratura e Espiritismo...................................................................... 17
II - Timoléon Jaubert (Biografia 02) ....................................................... 19
III - Fábulas e Poesias Diversas (Timoléon Jaubert).................................23
IV - Apêndice
Allan Kardec - O Livros Dos Médiuns - Cap. 11 – Sematologia e Tiptologia
Linguagem dos Sinais e das Pancadas - Tiptologia Alfabética.................29

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PREFÁCIO

A Doutrina Espírita, como princípio de uma Nova Ordem mundial, no


campo dos projetos espirituais, é inexpugnável em qualquer quadrante do
Orbe. Porém, lamentavelmente, o movimento Espírita é muito fracionado.
Cada qual quer fazer um “espiritismo particular”.
Muitas lideranças doutrinárias complicam conteúdos que deveriam ser
simples. Coincidentemente, o Cristianismo, durante os três primeiros
séculos, era, absurdamente, diferente do Cristianismo oficializado pelo
Estado Romano, no Século V. O brilho translúcido, nascido na Galiléia,
aos poucos, foi esmaecendo, até culminar nas densas brumas medievais. O
que observamos, no movimento Espírita atual, é a reedição da
desfiguração do projeto inicial, de 1857. Os comprometidos com o
princípio unificacionista brasileiro precisam manter cautela para não
perderem o foco do Projeto Espírita Codificado por Allan Kardec,
engendrando motivos à separatividade entre os adeptos da doutrina.
Recordemos que a alma do Cristianismo puro estava estuante nas cidades
de Nazaré, Jericó, Cafarnaum, Betsaida, dentre outras, e era diferente
daquele Cristianismo das querelas e intrigas de Jerusalém.
O Espiritismo está sendo invadido pelo joio, extremamente prejudicial
à realidade que a doutrina encerra, uma vez que vários pretensos
seguidores/dirigentes introduzem perigosos modismos à prática Espírita,
com inócuas terapias desobsessivas e, como se não bastasse, por mera
vaidade, ostentam a insana idéia de superioridade sobre Kardec, alegando
que o Codificar está ultrapassado. Será crível que Kardec imaginou esse
tipo de movimento Espírita? Ah! Que falta nos fazem os baluartes da
simplicidade kardeciana, Bezerra, Eurípedes, Zilda Gama, Frederico
Junior, Sayão, Bitencourt Sampaio, Guillon Ribeiro, Manoel Quintão!
Estamos convencidos de que o Espiritismo sonhado por Kardec era o
mesmo Espiritismo que Chico Xavier exemplificou por mais de setenta
anos, ou seja, o Espiritismo do Centro Espírita simples, muitas vezes
iluminado à luz de lampião; da visita aos necessitados, da distribuição do
pão, da “sopa fraterna”, da água fluidificada, do Evangelho no Lar. Sim! O
grande desafio da Terceira Revelação deve ser o crescimento, sem perder a

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simplicidade que a caracteriza como revelação.
O evangelho é a frondosa árvore fornecedora dos frutos do amor. Urge
entronizar a força da mensagem de Jesus, sem receio dos “kardequiólogos
de plantão”, os chamados “intelectuais” de nossas fileiras, sem medo das
críticas dos espíritas de “gabinete”, dos patrulheiros ideológicos que
pretendem assumir ou assenhorear as rédeas do movimento
Espírita na Pátria do Cruzeiro do Sul. O movimento Espírita não
deveria se organizar à maneira dos movimentos sociais de hoje, sob pena
de incentivar hierarquização com recaídas na pretensão vaticanista de
infalibilidade. O que os Espíritas precisam é atentar, com mais critério,
para os fundamentos doutrinários que nos impele à íntima reforma moral.
Nessa tarefa, individual, intransferível e impostergável, está a nossa
melhor e obrigatória colaboração para com o avanço moral do Planeta em
que vivemos, pois, moralizando-se cada unidade, moraliza-se o conjunto.
Um grande exemplo de espírita anti-burocrático foi Chico Xavier,
considerado ultrapassado por muitos pretensos cientificistas ressurgidos
das cinzas, do Século XIX, que tiveram, em Torterolli, a enfadonha
liderança. Atualmente, jactam-se quais pretensos inovadores, porém, não
conseguem acrescentar, sequer, uma palavra nova à Codificação. É
urgente, pois, que preservemos o Espiritismo tal qual nos entregaram os
Mensageiros do amor, bebendo-lhe a água pura, sem macular-lhe a
cristalina fonte. A maior frustração do “Convertido de Damasco” se deu,
exatamente, no Aerópago de Atenas, quando os intelectóides, de então, o
dispensaram, alegando que haveriam de ouvi-lo em outra oportunidade.
O Espiritismo desejável é aquele das origens, o que nos faz lembrar
Jesus, ou seja, o Espiritismo Consolador prometido, o Espiritismo em sua
feição pura e simples, o Espiritismo do povo (que hoje não pode pagar
taxas e ingressar nos pomposos Congressos que só aguça vaidades), o
Espiritismo dos velhos, o Espiritismo das crianças, o Espiritismo da
natureza, o Espiritismo “céu aberto”. Que tal?
A rigor, a Doutrina Espírita é o convite à liberdade de pensamento, tem
movimento próprio, por isso, urge deixar fluir naturalmente, seguindo-lhe
a direção que repousa, invariavelmente, nas mãos do Cristo. Chico Xavier
já advertia, em 1977, que “É preciso fugir da tendência à elitização‟ no

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seio do movimento espírita (…) o Espiritismo veio para o povo. É
indispensável que o estudemos junto com as massas mais humildes, social
e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos (…). Se não nos
precavermos, daqui a pouco, estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas,
falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por
títulos acadêmicos ou intelectuais (…).” (1)
(1) Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no
jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e
publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C.
Arantes, Editora IDE/SP/1979.
Louvemos os congressos, simpósios, seminários, encontros necessários
à divulgação e à troca de experiências, mas nunca nos esqueçamos de que a
Doutrina Espírita não se tranca nos salões luxuosos, não se enclausura nos
anfiteatros acadêmicos e nem se escraviza a grupos fechados. À
semelhança do Cristianismo dos tempos apostólicos, o Espiritismo é dos
Centros Espíritas simples, localizados nos morros, nas favelas, nos
subúrbios e não nos venham com a retórica vazia de que estamos propondo
o “elitismo às avessas”!
Graças a Deus (!), há muitos Centros Espíritas bem dirigidos em vários
municípios do País. Graças a esses Espíritas e médiuns humildes, o
Espiritismo haverá de se manter simples e coerente, no Brasil e, quiçá, no
Mundo, conforme os Benfeitores do Senhor o entregaram a Allan Kardec.
São Paulo, 26 de Março de 2016
Jorge Hessen - O Combativo Escritor Espírita

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Timoléon Jaubert
Contemporâneo de Allan Kardec
(1806 - 1893)

1º BIOGRAFIA

A tiptologia alfabética

As primeiras manifestações inteligentes foram obtidas a partir de batidas.


Os Espíritos se serviram delas por meio de médiuns de efeitos físicos, que
são mais aptos a produzir esses fenômenos materiais. Timoléon Jaubert fez
parte do grupo desses médiuns.
Percurso desse homem incomum...
Sua função de vice-presidente do tribunal civil de Carcassonne e seu
grau de Cavaleiro da Legião de Honra não o impediram de tomar um bom
assento entre os pioneiros do Espiritismo. Contemporâneo de Allan
Kardec, de quem ele não tem mais que dois anos de diferença, Jaubert
tornou-se presidente honorário da Sociedade Espírita de Bordeaux, onde se
distingue pelas faculdades mediúnicas grandiosas e por sua dedicação
moral e física à Doutrina Espírita, nos seus primórdios.

Poesias ditadas por um Espírito

"Mr. Jaubert era daqueles homens inspiradores, um legítimo espírita,


carregado de simplicidade, modéstia, bondade, dignidade e abnegação;
pacato e ajuizado; sem orgulho e entusiasta, predicados essenciais para o
apostolado doutrinário abraçado. Esses fatos ligam o seu nome às

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corajosas profissões de fé que fortalecem os fracos e oferece audácia aos
tímidos. "Esta caracterização, obtida a partir de uma carta reproduzida na
íntegra na Revista Espírita, em junho de 1863, ilustra o artigo intitulado
“Um Espírito, coroado com jogos florais” onde consta que a Academia de
Jogos Florais de Toulouse tinha emitido o seu juízo sobre o mérito de
poesias recebidas no concurso de 1863. Sessenta e oito concorrentes se
apresentaram para fábula; duas fábulas foram notadas: uma recebeu o
primeiro prêmio (a Primavera); o outro foi mencionado com louvor no
relatório. Agora, estas duas poesias, disse Jaubert, pertencem a seu espírito
familiar. O surpreendente é que os poemas foram obtidos não
psicograficamente, porém tiptologicamente, isto é, por meio de batidas,
muito mais em voga naquela época.
Sobre o evento Allan Kardec comenta na Revista Espírita de junho de
1863:"Algumas pessoas podem se surpreender pelo Sr. Jaubert não ter
constrangido os adversários do Espiritismo proclamando, ali, diante da
multidão reunida, a verdadeira origem das fábulas premiadas.
Se ele não fez isso, foi por uma razão muito simples: o Sr. Jaubert é um
homem modesto, que não busca confusão, e que, acima de tudo, tem boas
maneiras. Agora, entre os juízes, havia provavelmente quem não
compartilhasse de suas opiniões a respeito dos espíritos. Isso lhe teria sido,
portanto, publicamente dito, como uma espécie de desafio, uma negação,
procedimento indigno de um cavalheiro.
Dizemos mais: de um verdadeiro espírita que respeita todas as opiniões,
mesmo aquelas que não são as suas. O que teria produzido esse
estardalhaço? Protestos de alguns expectadores, o escândalo, talvez.
O Espiritismo ganhou? Não, ele teria comprometido sua dignidade. Mr.
Jaubert, e os muitos espíritas que assistiram à cerimônia, deram prova de
uma grande sabedoria, abstendo-se de qualquer manifestação pública. Era
um sinal de deferência e respeito seja à academia ou à assembleia. Eles
provaram, mais uma vez, nesta ocasião, que os espíritas sabem manter a
calma no sucesso como sabem mantê-la diante dos insultos de seus
oponentes, e que não é com eles que devemos esperar a excitação e a
desordem.
O fato não perde em nada a sua importância, pois em pouco tempo ele

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vai ser conhecido e aclamado em uma centena de países diferentes.".
Ainda na R.E de junho de 1863 Kardec narra em “Considerações sobre o
Espírito Batedor de Carcassonne. Aí se permite que o Sr. Sabô, presidente
do grupo espírita de Bordeaux, relate uma experiência com o Espírito de
Jaubert, onde as comunicações obtidas superam claramente o
conhecimento pessoal do médium.
Allan Kardec conclui o artigo dizendo: "Vamos fazer sobre esse capítulo
uma última observação quanto à qualificação de batedor, que
consideramos errônea, dada ao Espírito que se comunica com o Sr. Jaubert.
Esta qualificação convém apenas, como já dissemos em outro ponto, aos
espíritos que podemos dizer batedores de profissão, e que ainda pertencem,
pela pouca elevação de suas ideias e de seus conhecimentos, às categorias
inferiores. Esse não seria o caso deste espírito, que demonstra a
superioridade das suas qualidades morais e intelectuais.
A tiptologia não é um divertimento para ele; é um meio de transmissão
de pensamento do qual ele se serve por não ter encontrado em seu médium
a faculdade necessária para fazê-lo de outro modo. Sua finalidade é séria,
enquanto que a dos ditos Espíritos batedores é quase sempre inútil, mesmo
que seja mal intencionada. Podendo a qualificação de Espírito batedor ser
tomada erroneamente, nós preferimos a de Espírito tiptor, termo que se
refere à linguagem da tiptologia."
A Sociedade Espírita de Paris, em seguida, concede o título de membro
honorário a Jaubert, cuja carta de agradecimento, publicada na Revista
Espírita de agosto 1863, atesta a sua adesão ao Espiritismo: "Eu acredito na
imortalidade da alma, na comunicação dos mortos com os vivos, como
creio no sol. Eu gosto do Espiritismo como a afirmação mais legítima da
lei de Deus: a lei do progresso. Eu a confesso abertamente, porque
confessá-la é o certo. Eu aceitei a Primavera da Academia de Toulouse
como uma resposta vívida para aqueles que não querem ver nos textos
reais ditados pelos espíritos nada além de percepções equivocadas ou
elucubrações ridículas.
Eu recebo o título de membro honorário da Sociedade, da qual você é o
líder, como o mais honroso entre os que eu obtive das mãos dos homens.
Mais uma vez, recebam os senhores e todos os membros da sociedade

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parisiense meus mais sinceros agradecimentos. Seu relato da reunião dos
Jogos Florais interpretou fielmente os meus sentimentos e minha conduta.
Eu não poderia, declarando que a história coroada era trabalho do meu
espírito familiar, expor-me a ofender o público e os juízes. Você exprimiu
perfeitamente, em sua Revista, o respeito que tenho por mim mesmo e
pelas opiniões alheias. E agora, se em tudo isso eu ainda não tomei a
iniciativa, se não fiz mais que responder-lhe, é porque seria preciso falar de
mim, e associar meu nome a um evento do qual sem dúvida estou feliz,
mas que outros se negaram a considerar bem-sucedido".
Assim que anunciado por Allan Kardec, Jaubert e Espírito tiptor passam
a ter sucesso.
Lemos na Revista Espírita, de novembro 1863, sob o título Novo
sucesso do Espírito de Carcassonne: "O Espírito tiptor de Carcassonne
mantém sua reputação, e prova, pelo sucesso que alcançou em várias
competições onde ele é candidato, o mérito incontestável de suas
excelentes fábulas e poesias. Depois de ganhar o primeiro prêmio, o
Eglantina de Ouro, na Academia dos Jogos Florais de Toulouse, ele vai
obter uma medalha de bronze no concurso de Nîmes.
O Correio de Aude disse: "Este prêmio é particularmente lisonjeiro, pois
o concurso não foi restrito apenas a fábulas e poemas, mas contemplava
todas as obras literárias." Esse novo triunfo certamente é um presságio de
outros para o futuro, pois é provável que este Espírito não pare por aí.
Decididamente, ele se tornou um concorrente formidável. Que dirão os
incrédulos? O que eles já disseram na ocasião do sucesso de Toulouse: Mr.
Jaubert é um poeta que tem a fantasia de se esconder sob o manto de um
Espírito.
Mas aqueles que conhecem o Sr. Jaubert sabem que ele não é um poeta e,
além disso, ainda que ele o fosse, o modo de obtenção, pela tiptologia, na
presença de testemunhas, leva embora todas as dúvidas, a menos que se
suponha que ele está escondido, não embaixo da mesa, mas na mesa."
A fim de avaliar a qualidade de seus poemas encantadores, você os pode
ler em nossa revista número 39, que ganhou o primeiro prêmio nos Jogos
Florais de Toulouse, sob o título "O leão e o corvo". As almas poetas, que
querem um pouco mais, poderão ir ao volume intitulado Fábulas e Poesias

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Diversas pelo Espírito batedor de Carcassonne, onde estão reunidas.

Efeitos físicos impressionantes

As capacidades do médium tiptólogo Jaubert não o impedem de ser um


médium desenhista de qualidade, produzindo mediunicamente quadros
dignos de um pintor de renome. Mas ele foi também, o que é raro nos
nossos dias, um excelente médium de efeitos físicos.
Por falta de espaço, relataremos apenas duas anedotas sobre isso.
A primeira se deve a seu amigo J. Chapelot que, em seu Dicionário
Humorístico, conta: "Cinco amigos jantam juntos em um hotel de
Toulouse. Um dos cinco é médium. Na sobremesa, o Espírito que se
comunica comumente com esse médium anuncia espontaneamente, por
meio de batidas na mesa, que um bolo que lhes é destinado está em uma
bandeja de prata no escritório do hotel. O médium pediu ao garçom que
trouxesse o bolo.
O garçom vai até o escritório, vê, de fato, a bandeja de prata, mas não
nota nada dentro dela. Mesmo assim, ele leva a bandeja e diz, rindo, que a
única coisa que brilha do bolo ali é a sua ausência. E os cinco amigos
começam a rir também. O médium se contenta a dizer: - O que vocês
querem, meus amigos, nós fomos tapeados. Mas isso me surpreende muito,
pois é a primeira vez que esse Espírito me engana. Isso é tão surpreendente
que foi ele que acabou de ser coroado hoje pela Academia de Jogos Florais.
No mesmo instante, vimos aparecer gradualmente o bolo que acabou por
preencher exatamente o prato".
A segunda anedota é contada por Gabriel Delanne que testemunhou
surpreso uma chuva de doces, como escreveu a Kardec, em uma carta
publicada na Revista Espírita de maio 1865, de onde extraímos esta
passagem: "... Poucos dias depois, eu assistia em Carcassonne a emoções
de um tipo diferente. Eu visitei o presidente Jaubert: temos muitos aportes
há algum tempo, ele me disse. Vou levá-lo até a senhora que é o objeto
dessas manifestações.
Por azar, esta senhora estava indisposta; seu estômago estava inchado a

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ponto de não ser capaz de abotoar seu vestido. Seus guias consultados, a
sessão foi adiada para a próxima noite às oito horas. M. C..., capitão
aposentado, colocou sua sala de estar a nossa disposição. É uma grande
sala vazia, havia somente o tapete por toda a sala; apenas ornamento sobre
a lareira, uma cômoda e cadeiras; não há quadros ou cortinas ou panos: um
verdadeiro apartamento masculino. Estávamos num total de nove pessoas,
todos adeptos convictos.
Tão logo entramos, eis que uma chuva de doces caiu ruidosamente em
um canto da sala! Dizer qual foi minha emoção seria difícil, porque aqui a
reputação honorável dos assistentes, este quarto nu e escolhido, ao que
parece, de propósito pelos espíritos para remover quaisquer dúvidas, nada
poderia fazer suspeitar de uma manobra fraudulenta e, apesar de este
prodígio, eu não parei de olhar, de examinar estas paredes, e de
perguntar-lhes se eles não seriam cúmplices de um arranjo qualquer.
A médium doente toma o lápis e escreve: "Diga a Delanne para colocar a
mão na boca do estômago e o inchaço desaparecerá. Ore antes". Todos
oramos. Eu estava no fundo da sala, quando, em meio a concentração geral,
uma nova chuva de bombons ocorre no canto oposto àquele em que ela
veio pela primeira vez. Imagine nossa alegria. Eu me aproximo da doente;
o inchaço era muito mais forte do que no dia anterior. Eu coloco minha
mão, e inchaço desaparece como mágica.
- Estou curada, disse ela. Seu vestido, antes muito justo, torna-se muito
grande. Todos constataram o fato. Unimo-nos com o pensamento de
agradecer aos bons espíritos tanta bondade. Em seguida, aconteceu uma
terceira chuva de doces. Jamais esquecerei esses fatos em toda minha vida.
Estes senhores ficaram encantados, mais por mim do que por eles, porque
estão acostumado a esses tipos de eventos.
Cada um deles tem algum objeto trazido pelos espíritos. Mr. Jaubert me
disse que várias vezes ele viu a sua mesa se revirar e se levantar sozinha,
sem a ajuda das mãos; seu chapéu ser levado do canto de um cômodo a
outro. Um fato semelhante de cura também aconteceu há alguns meses sob
a mão do Sr. Jaubert ".

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Um notável que tem a coragem de suas opiniões

Jaubert era então, como vimos, um médium de grande qualidade. Ora,


não ignoramos de que as boas habilidades mediúnicas são, em geral,
acompanhadas por uma moralidade excelente e um grande investimento.
Jaubert não é exceção a esta regra. Na verdade, ele não hesita em desbotar
sua reputação de magistrado para limpar as provocações de seus
contemporâneos proporcionando um testemunho determinante no
julgamento Hillaire.
A Revista Espírita, de março 1865, dedica um artigo sobre isso, em que
lemos: "Nesta carta, o Sr. Jaubert percebe que ele e seus amigos,
ocupando-se de manifestações físicas, viram e viram bem, sob a luz de
lâmpadas tão bem como na luz do dia, fatos semelhantes aos obtidos por
Hillaire, o qual ele relata nos menores detalhes.
Esta leitura, seguida daquela, em um tom solene, da profissão de fé do
mesmo Sr. Jaubert, um magistrado, vice-presidente em funções de um
tribunal civil, chefe de departamento, essa leitura emocionou todo o
auditório. (O Diário de Saint Jean d'Angely, de 12 de fevereiro, dá uma
análise desse argumento notável. Veja também a Revista de l'Ouest, de
Niort, 18 de fevereiro)".
No "Os pioneiros do Espiritismo na França", de Malgras, encontramos
outra carta de Jaubert, servindo como testemunha no relatório dito
"espíritas", datado de 7 de junho de 1875, 10 anos após o caso Hillaire: "Eu
sou espírita e, como sempre, declaro que os mortos entram em
comunicação direta com os vivos. Digo isso porque sei. Eu sei porque
estudei durante vinte anos esse fenômeno. Eu o estudei, não no livro dos
outros, mas no meu livro: o livro de fatos.
Os fatos são essenciais para a ciência verdadeira. E esses fatos, há vinte
anos, seja sozinho, seja com os outros, eu os tenho observado
cuidadosamente, sem tomar partido, e sempre sob o controle de uma razão
fria e sábia. Então, eu tenho certeza, mil vezes tenho certeza do que eu digo.
Esses fenômenos são tão improváveis? (...) Mas eu creio que os mortos se
comunicam com os homens - mas sem milagre, mas sem privilégio, pois
Deus é justo - e em virtude de uma lei tão antiga quanto o mundo. (...) Até

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a data de hoje o Espiritismo tem sido caluniado. Não se refuta. Eu espero
um livro digno e sério que o refute. Não ... o Espiritismo não vai passar.
Deus não quer isso. Ele prova ... Ele moraliza... Ele consola ... Ela eleva a
alma".

Magistratura e Espiritismo

A elevada posição social de Jaubert jamais o impediu de proclamar em


voz alta suas convicções, melhor, de escrevê-las, para defender aqueles
que foram processados. Outros magistrados, então, puderam encontrar
coragem para seguir o seu exemplo.
Este é particularmente o caso Bonnamy, juiz, cuja carta de
reconhecimento ilustra o artigo "Magistratura e Espiritismo" na Revista
Espírita de Março de 1866, onde em Kardec diz: "O Espiritismo se infiltra
cada vez mais e mais nas idéias, e já toma lugar entre as crenças recebidas.
Não está longe o tempo em que não será permitido a nenhum homem
esclarecido ignorar o que é exatamente essa doutrina, como hoje não pode
ignorar os primeiros elementos da ciência.
Ora, como toca a todas as questões científicas e morais,
compreenderemos melhor um monte de coisas que, de primeira vista,
parecem estranhas. E assim, por exemplo, que a medicina descobrirá a
verdadeira causa de certas afetações, que o artista possuirá vários objetos
de inspiração, que será em muitas circunstâncias uma fonte de luz para o
magistrado e para o advogado".
É nesse sentido que é apreciado o sr. Jaubert, o honorável
vice-presidente do tribunal de Carcassonne. Nele, é mais do que um
conhecimento acrescentado aos que ele possui, é uma questão de
convicção, porque ele compreende sua aplicação moral. Mesmo que
jamais tenha escondido sua opinião quanto ao assunto, convencido de ser
verdadeiro, e da potência moralizante da doutrina, hoje que a fé se estende
ao ceticismo, ele quis dar o apoio da autoridade de seu nome no momento
em que ela era mais violentamente atacada, desafiada em zombarias, e
mostrando a seus adversários o pouco caso que ele fazia de seus sarcasmos.

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Em sua posição, e tendo em vista as circunstâncias, a carta que ele nos
pediu para publicar, e que nós inserimos no número de janeiro último, é um
ato de coragem que todos os espíritas sinceros guardarão preciosamente na
memória. Ela ficará marcada na história do estabelecimento do
Espiritismo".
Vamos deixar a palavra final a Allan Kardec, que em uma carta de 21 de
Janeiro de 1865, graças aos espíritas dedicados ao caso Hillaire: "Eu venho,
em meu nome pessoal e em nome da Sociedade Espírita de Paris, fazer
uma justa homenagem a todos aqueles que, na triste circunstância em que
todos nós temos sido atingidos, têm sustentado a sua fé e defendido a
verdade com coragem, dignidade e firmeza. Um brilhante e solene
testemunho solene foi dado pelos órgãos de justiça.
O de seus irmãos na crença não podia falhar. Eu pedi a mais exata e
completa lista possível, a fim de inscrever seus nomes ao lado daqueles que
são merecedores do Espiritismo. De modo algum será para levá-los a uma
publicidade que abençoará sua modéstia e será, mais ainda, neste momento,
mais prejudicial do que útil, mas nosso século está preocupado em fazer
com que eles sejam esquecidos. É preciso que a memória dos verdadeiros
votos, livres de qualquer segunda intenção, não seja perdida por aqueles
que virão depois de nós. Os arquivos do Espiritismo lhes contarão sobre
aqueles que têm um direito legítimo a seu reconhecimento".
Tradutora: Fabiana Rangel
Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec - Bulletin 43
Allan Kardec - Revista Espírita de 1863

18
Timoléon Jaubert
Contemporâneo de Allan Kardec
(1806 - 1893)

2º BIOGRAFIA

Sr. Jaubert, antigo vice-presidente do Tribunal Civil de Carcassonne,


cavaleiro da Legião de Honra, obteve, com as poesias que ditaram os
espíritos, prêmios no concurso dos jogos florais (*) em Toulouse.
(*) Jogos florais, certamente poéticos e literários nos quais se distribuem diversos
prêmios representado geralmente flores de ouro e de prata. (D. de Azevedo, Grande
Dicionário).
Essas poesias foram reunidas em um volume intitulado Fabulas e Poesias
Diversas pelo espírito percuciente de Carcassonne.

UM PERU NO TRIBUNAL CRIMINAL


Fábula

Não sei em que terra nem qual foi o delito que levou um peru à presença de
dona Justiça. Aí ele não mostrou nem medo, nem rancor, nem desgosto,
como se aquilo não fosse com ele. Doze capões cabeçudos, que eram os
jurados, iam pronunciar-se sobre a sorte do bicho. Algumas galinhas
maduronas piscavam os olhos ao pato velho que presidia o tribunal. Os
debates correram como ordinariamente. – Silêncio! rústicos – bradou um

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melro encolerizado –, silêncio! Um papagaio, empoleirado em um pau,
tomou a palavra em nome da sociedade. Ele reconheceu facilmente, em
estilo da Sorbona, “que o peru era a inocência em pessoa. Mas o Adão dos
perus desobedeceu aos deuses e seus filhos eram responsáveis por aquele
crime odioso”. O orador animava-se; e, cheio de veemência, afogava os
jurados em ondas de retórica. Na peroração, ele foi sublime. Confesso que
seu discurso comoveu-me. O peru teve a palavra para defender-se: –
Senhores! – disse ele –, a minha surpresa é extrema por ver-me aqui; o
primeiro dos perus procedeu mal, é certo, mas condenarem filhos por
crimes dos pais é, com perdão da palavra, uma iniqüidade. O acusado foi
absolvido e dizem que levou palmas. Para demonstrar a todos uma coisa
tão clara, foi suficiente um peru.
Sr Jaubert, o autor de segunda mão, desta fabula, ficou muito feliz, outrora,
disse o doutor Paul Gibier, em encontrar um defensor na própria pessoa de
Napoleão III, que era espírita (*), porque ele teria tido, parece, contas a
ajustar com os seus superiores do Ministério da Justiça, de que suas
faculdades mediúnicas tinham alertado.
(*) Espírita no Século XIX, era todo aquele que se comunicasse com os espíritos ou
apenas acreditasse nessa comunicação.
***
Sr. Jaubert não era somente um médium tiptólogo (*), mas também um
médium de efeitos físicos e um médium desenhista: não sabendo desenhar,
ele produziu mediunicamente paisagens e figuras que um pintor de renome
não teria desaprovado.
(*) Tiptólogo: Médium que provoca ruídos, pancadas ou batidas.
Como exemplo de sua mediunidade de efeitos físicos (*), eis uma anedota
que seu amigo J. Chapelot conta em seu Dictionnaire Humoristique, no
artigo "Reflexions sur le "Spiritisme":
(*) Atualmente e mais comum o termo "Efeitos Físicos", pois que as causas são
psíquicas, mas as consequencias (ou efeitos) são físicas.
"Cinco amigos jantam juntos num hotel de Toulouse. Uma das cinco
pessoas e médium. Durante a sobremesa, o espírito que se comunica com
esse médium lhe anuncia espontaneamente, por meio de golpes desferidos
na mesa, que um doce, que lhes e destinado, encontra-se numa bandeja de

20
prata depositada na despensa do hotel.
O médium chama o garçom pede que traga o doce. O garçom vai a
despensa, vê de fato a bandeja de prata, mas não percebeu absolutamente
nada nela. Contudo, ele leva a bandeja e manda observarem, rindo que o
doce brilha apenas pela sua ausência.
E os cincos amigos se põem a rir também.
O médium se contenta em dizer: Meus amigos, nos fomos enganados; mais
isso me espanta grandemente; porque foi a primeira vez que esse espírito
me engana. É tanto mais espantoso, quanto foi aquele que me ditou as
quatro fábulas que acabam de ser premiadas hoje pela Academia dos Jogos
Florais.
No mesmo instante vemos aparecer o doce que acaba exatamente por
encher a bandeja, e nós nos pusemos no dever de comer (o doce,
entenda-se não a bandeja).
***
(O Srs. T. Jaubert vice-presidente do Tribunal Civil de Carcassonne,
cavaleiro da Legião de Honra; Dombe, poeta de Marmande, Sabó
Presidente do Grupo Espírita Bordeaux; Guipon empregado das estradas
de ferro do Mídi e J. Chapelot, seu servidor).
"[...] Sou espírita, é sempre declaro que os mortos entram em comunicação
direta com os vivos.
Eu o declaro porque sei.
Eu o sei porque há vinte anos estudo este fenômeno. Eu o estudo não no
livro dos outros, mais em meu livro, o livro dos fatos.Os fatos são
indispensáveis a verdadeira ciência.
E estes fatos há vinte anos, tanto só, quanto com os outros, eu os constato
prudentemente, sem preconceitos, e sempre sob o controle de uma fria e
sabia razão.
Eu estou, portanto, certo, mil vezes certo do que afirmo.
Esses fenômenos, são, portanto tão inverossímeis?
[...] Eu creio que os mortos se comunicam com os homens - mas sem
milagre - sem privilégio, porque Deus e justo -, e sem virtude de uma lei
tão velha como o mundo.

21
[...] Até hoje caluniou-se o Espiritismo, e este não foi refutado.
Espero um livro digno é sério que o refute.
Não... O Espiritismo não passará.
Deus não quer isso.
Ele prova... moraliza... consolada... eleva a alma"
Carcassonne, 07 de junho de 1875
T. Jaubert
(Carta ao Sr. Leymarie por ocasião Processo dos Espíritas

J. Malgras - Os Pioneiros do Espiritismo

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Fables et poésies diverses par sprit frappeur
Didier et Compagnie, Ledoyen
Paris (1862)

Apresentação de Allan Kardec

Fábulas e Poesias Diversas (*)

POR UM ESPÍRITO BATEDOR

Embora a tiptologia seja um meio muito lento de comunicação, com


paciência é possível obter trabalhos de fôlego. O Sr. Jaubert, de
Carcassonne, houve por bem remeter-nos uma coleção de fábulas e de
poesias obtidas por ele através daquele processo. Se nem todas são
obras-primas, com o que o Sr. Jaubert não se sentiria ofendido, pois não lhe
dá a menor importância, algumas são notáveis, abstração feita à fonte de
onde procedem. Eis uma que, a despeito de não fazer parte da coleção,
pode dar uma idéia do espírito daquele Espírito batedor. É dedicada à
Sociedade Espírita de Bordeaux, pelo próprio Espírito.
(*) Um vol. in-18. - Preço: 2 fr. - Em Carcassonne, L. Labau; em Paris,
Ledoyen, Palais-Royal.

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O LEÃO E O CORVO
(Primeiro prêmio)

Percorria um leão seus domínios imensos,


Por um nobre orgulho dominado;
Sem raiva a devorar vassalos indefensos;
Bom príncipe afinal, desde que bem jantado!
E nunca andava só; de sua juba em volta
Apressados se vêem lobos, tigres, panteras,
Leopardos, javalis; uma faminta escolta;
E até raposas longe das feras.
Ora, o monarca quis certo dia
Aos campônios falar e à corte com alegria:
“ – Companheiros, sois vós apoio à minha glória
E submissos fiéis a uma gula notória,
Por entender-me bem que viestes vós,
Que por graça de Deus sou rei! Ouvi-me a voz:
Eu poderia... Mas, por que o poder citar?”
Logo o leão sem se embaraçar,
Qual melhor não fizera experiente advogado
Ou bom procurador de inteligência astuta,
Dos deveres falou nos encargos do Estado,
Dos pastores, dos cães, da nova carta arguta,
Do mal que muita vez dele um tolo afirmou;
E cheio de emoção, matreiro terminou:
“Se o meu palácio deixo é pra vos dar prazer;
Vossas mágoas falai; verei o que fazer;

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Touros, ovelhas... ouvirei com bondade.
Eu espero; falai com toda a liberdade.
Pois que! Todo o reino aqui reputo,
Sem um só infeliz! Nenhuma queixa escuto!...”
Velho corvo então o interrompeu,
E já livre no ar respondeu:
“Satisfeitos os crês; seu silêncio te toca,
Grande rei!... É o terror o que lhes fecha a boca.”

MONÓLOGO DE UM BURRO
Fábula

Um burro, sim, – não confundir,


Eu nunca digo mal de alguém de qualidade, –
Um Asno bem peludo, um burro de verdade,
Bem arreiado, é bom convir
Ralhava na estação com uma locomotiva.
O seu olhar brilhava a uma palavra viva.
“És tu, gritava então, tu que estás em repouso!
“Do carneiro vizinho ouvi atencioso,
“Que andas tu sem cavalo, ou asno, sem manobra;
“Que ruges a arrastar qual uma imensa cobra
“Esses caixotes, como aldeia de madeira;
“Um milagre que outrora eu crera, uma besteira!
“Chegados finalmente os tempos são! sem troça!
“Eu por trigo não tomo a alfafa de uma roça;
“Sei o cardo deixar por feixe de capim.

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“Ninguém tão longe vai com os pés de ferro assim.
“Eu tenho a minha regra; e na razão confio.
“Sem cavalos marchar? Só tu? Eu desafio.”
Um asno, vede vós, invocava a razão,
Chama que, muita vez, ao néscio faz perder.
Ah! quantos sábios que como um jerico são!
Doutores, vós negais do Espírito o poder;
Negai o movimento, a força do motor.
Do nada o homem tirou a elétrica energia?
Toda locomotiva exige, enfim, vapor;
Aos mortos evocar... só à prece que irradia
De um coração pleno de amor.

O MÉDIUM E O DR. IMBRÓGLIO

Correi, correi, doutor Imbróglio


A mesinha anda só: é patente, tangível
– Que nada! vou provar num infólio
Que a coisa não é possível.

Faremos uma observação sobre a qualificação dada ao Espírito que ditou


as poesias acima citadas. Os Espíritos sérios rejeitam com razão o
qualificativo de batedores: este título convém apenas àqueles que
poderiam ser chamados de batedores profissionais, isto é, Espíritos
levianos ou malévolos, que se servem de pancadas para se divertirem ou
atormentarem; as coisas sérias não são da sua conta. Mas a tiptologia,
como qualquer outro, é um meio para comunicações inteligentes, de que se
podem servir os Espíritos mais adiantados, em falta de outro meio, embora

26
prefiram a escrita, porque responde melhor à rapidez do pensamento. É
certo dizer que, neste caso, não são eles próprios que batem; limitam-se a
transmitir a idéia, deixando a execução material a Espíritos subalternos,
como um escultor deixa ao aprendiz o cuidado de talhar o mármore.
Fontes: Allan Kardec - Revista Espírita de Novembro de 1862

O OSSO PARA ROER


(Menção honrosa)

Ornado de um chapéu e com benevolência,


Um discípulo do extinto Vatel, No pátio de seu grandioso hotel, A seus
cães ele dava audiência.
“Em vós, ele dizia, estou sempre a pensar; Eu vos amo muito e é uma ação
minha Destinar-vos sobras da cozinha,
Este osso, este belo osso eu vou dar!
Mas só um vai gozar de meu grande favor;
Por justiça o darei ao mais merecedor.
Está aberto o concurso; atentai nos acertos.”
Um cão d‟água famoso e dentre os mais espertos,
De uma tropa canina era outrora o primeiro,
Logo o dono saudou como alegre rafeiro,
Passeou ante os demais de olhar triunfador,
Latiu, morto se fez, mostrou-se ao imperador.
Eis que um dogue exclamou: “Que importa tal jactância!
Da casa e sem cessar cuido da vigilância.
Senhor, não esqueçais que um ladrão imprudente

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Caiu, no ano passado, em meu dente.”
Disse um cãozinho então: “Valente e sem censura,
Anos, já faz uns dez, vos sirvo com finura;
E sempre, para vós, com este pequeno saco,
Só para vos comprar no empório um bom tabaco.”
“ – Eu amo, uivou Tayant, a fanfarra sonora
Já me vistes na caça entre os retardatários?
Ao menos me deveis raposas, coelhos vários;
Eu sou sóbrio e submisso; e nunca o que devora
A perdiz encontrada no laço.”
E o osso enfim quem roeu? Foi um bassê já baço!
Como o teria feito, outrora, um deputado,
E que sem mais rubor, fará de novo, então,
Diante do chefe pois, ventre ao piso colado,
Lambeu-lhe alegre os pés e... o fez abrir a mão.
Vós, bassês dos Chefões, de condição notória,
Eis, ó vis bajoulos, vossa história.
Fontes: Allan Kardec - Revista Espírita de Novembro de 1862

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Allan Kardec - O Livros Dos Médiuns

Cap. 11 – Sematologia e Tiptologia

Linguagem dos Sinais e das Pancadas

Tiptologia Alfabética

139. As primeiras manifestações inteligentes foram obtidas por meio de


pancadas ou tiptologia. Esse meio primitivo, que se ressentia das condições
iniciais da arte, só oferecia recursos muito limitados. As comunicações por
esse meio reduziam-se às respostas monossilábicas por sim ou por não;
através de um número convencionado de golpes. Mais tarde, como
dissemos, foi aperfeiçoado. Os golpes são produzidos de duas maneiras, por
médiuns especiais. É necessário, geralmente, para essa forma de operar,
certa aptidão para as manifestações físicas.
A primeira, que se poderia chamar tiptologia basculante, consiste no
movimento do mês que se eleva de um lado e cai batendo um pé. Basta, para
isso, que o médium pouse as mãos na borda da mesa. Se ele quiser
conversar com determinado Espírito, é necessário fazer a evocação. Caso
contrário, manifesta-se o que chegar primeiro ou o que estiver habituado a
fazê-lo. Convencionando-se, por exemplo, um golpe para o sim e dois para
o não, o que é indiferente, dirigem-se as perguntas ao Espírito. Veremos
depois quais as que devem ser evitadas. O inconveniente está na brevidade
das respostas e na dificuldade de formular a pergunta de maneira a permitir
a resposta de sim ou não. Suponhamos que se pergunte ao Espírito: Que
desejas? Ele só poderia responder com uma frase. Temos então de perguntar.
Desejas isto? – Não. – Aquilo? – Sim. E assim por diante.
140. É curioso que ao se empregar esse meio o Espírito costuma
acrescentar-lhe uma espécie de mímica, exprimindo a energia da afirmação
ou da negação pela força dos golpes. Exprime ainda a natureza dos seus
sentimentos: a violência, por movimentos bruscos; a cólera e a impaciência,

29
dando fortes pancadas repetidas, como alguém que batesse os pés com raiva,
às vezes jogando a mesa no chão. Se for um Espírito bondoso e delicado, no
começo e no fim da sessão inclina a mesa em forma de saudação. Se quiser
dirigir-se diretamente a uma das pessoas presentes, leva a mesa até ela com
suavidade ou violência, conforme queira lhe testemunhar afeição ou
antipatia. É essa, propriamente falando, a sematologia ou linguagem dos
sinais, como a tiptologia é a linguagem das pancadas.
Eis um notável exemplo do emprego espontâneo da sematologia:
Um senhor nosso conhecido estava um dia na sua sala de visitas, onde
muitas pessoas se ocupavam de manifestações, quando recebeu uma carta
nossa. Enquanto a lia, a mesinha de sala, de três pés, que servia para as
experiências (1) dirigiu-se subitamente para ele. Finda a leitura da carta ele
a foi colocar numa mesa da outra extremidade da sala. A mesinha o seguiu e
se dirigiu para a mesa em que a carta fora depositada. Surpreso com a
coincidência, ele pensou em alguma relação entre esse movimento e a carta.
Interrogou o Espírito, que respondeu dizendo ser um nosso Espírito familiar.
Tendo o senhor nos informado do que se passara, interpelamos o Espírito
sobre o motivo da visita que lhe fizera.
Respondeu: “É natural que eu visite as pessoas com as quais estás em
relação, para poder, quando for o caso, dar a ti e a elas os avisos
necessários”.
141. A tiptologia não demorou a se aperfeiçoar e se enriquecer com uma
forma de comunicação mais completa, a da tiptologia alfabética, que
consiste em fazer indicar as letras por meio de pancadas. Foi então possível
obter palavras, frases e mesmo discursos inteiros. Segundo o método
adotado, a mesa bate as pancadas correspondentes a cada letra, ou seja: uma
pancada para a, duas para b e assim por diante, enquanto alguém vai
registrando as letras indicadas. Chegando ao fim, o Espírito adverte por
meio de sinal convencionado.
Esse procedimento, como se vê, é muito demorado e demanda longo
tempo para as comunicações de maior extensão. Não obstante, houve quem
tivesse paciência de usá-lo para obter ditados de numerosas páginas. Mas a
prática levou à descoberta de meios mais rápidos. O mais em uso consiste
no emprego de alfabeto e uma série de números, que uma pessoa percorre
apontando enquanto o médium movimenta a mesa. Esta indica por uma
pancada a letra ou o número necessário, que são anotados. Se houver
engano, o Espírito adverte por vários golpes ou movimentos da mesa e
então se recomeça. Com o hábito, faz-se isso com rapidez. Mas consegue-se
abreviar mais adivinhando a palavra iniciada, o que o sentido da frase

30
auxilia. Em caso de dúvida consulta-se o Espírito, que responde por sim ou
não.
142. Todos esses efeitos podem ser obtidos de maneira ainda mais
simples pelos golpes dados no interior da madeira da mesa, sem qualquer
movimento exterior, conforme relatamos no capítulo sobre manifestações
físicas, nº 64: é a tiptologia interna (2) Nem todos os médiuns são
igualmente aptos para essa última forma de comunicação, havendo os que
só obtém as pancadas da mesa basculante. Entretanto, com o exercício,a
maioria pode consegui-lo. Essa forma tem a dupla vantagem de ser mais
rápida e prestar-se menos à suspeição do que a basculante, que se pode
atribuir a pressões voluntárias. É verdade que os golpes internos poderiam
também ser limitados por médiuns de má fé. As melhores coisas estão
sujeitas à imitação. O que nada prova contra elas. (Ver no fim do volume, o
capítulo intitulado: Fraudes e Superstições).
Quaisquer que sejam os aperfeiçoamentos que se possam introduzir nesse
sistema, ele jamais pode atingir a rapidez e a facilidade da escrita, pelo que é
hoje pouco usado. Não obstante, às vezes interessa quanto ao aspecto
fenomênico, principalmente para os novatos e tem sobretudo a vantagem de
provar, de maneira peremptória,a absoluta independência do pensamento do
médium. Freqüentemente se obtêm, com ele, respostas tão imprevistas, tão
surpreendentemente certas, que seria preciso muita prevenção para se
recusar à evidência. Assim ele oferece, para muitas pessoas, poderoso
motivo de convicção. Mas por esse meio, ainda mais que pelos outros, os
Espíritos não gostam de submeter-se ao capricho de curiosos que desejam
pô-los à prova com perguntas fora de propósito.
143. Com o fim de melhor assegurar a independência do pensamento do
médium, imaginaram-se diversos instrumentos como quadrantes com letras,
à maneira dos usados nos telégrafos elétricos. Uma agulha móvel que se
movimenta sob a influência do médium, com a ajuda de um fio condutor e
uma polia; indica as letras.
Só conhecemos esses instrumentos por desenhos e descrições publicados
na América. Não podemos, pois, dizer do seu valor. Mas nos parece que a
sua própria complicação é um inconveniente.
Achamos que a independência do médium é perfeitamente provada pelos
golpes internos e mais ainda pelo imprevisto das respostas do que todos os
meios materiais. Por outro lado, os incrédulos que estão sempre dispostos a
ver por toda parte cordéis e arranjos, desconfiarão muito mais de um
mecanismo especial do que de uma mesinha desprovida de qualquer
acessório.

31
144. Um aparelho mais simples, mas do qual a má fé pode facilmente
abusar, como se verá no capítulo referente às fraudes, é o que designaremos
pelo nome de Mesa-Girardin, em lembrança do uso que dele fazia madame
Emílio de Girardin, nas numerosas comunicações que obtinha como
médium. Porque madame de Girardin, embora fosse mulher de espírito,
tinha a fraqueza de acreditar nos Espíritos e nas suas manifestações.
O instrumento consiste numa tábua redonda de mesinha de salão, de
quarenta centímetros de diâmetro, girando livre e facilmente em torno de
um eixo, à maneia da roleta. Na superfície e em circunferência ao gravados
as letras, os números e as palavras sim e não. No centro há uma agulha fixa.
O médium põe os dedo na borda da tábua redonda, que gira e pára a letra
desejada sob a agulha. As letras são anotadas, formando palavras e frases
rapidamente.
Deve-se notar que a tábua redonda não desliza sob os dedos pois estes se
afirmam na borda da tábua e acompanham o seu movimento. É possível que
um médium poderoso consiga produzir o movimento independente, mas
nunca o presenciamos. Se a experiência pudesse ser feita dessa maneira
seria infinitamente mais concludente, porque afastaria toda possibilidade de
embuste.
145. Resta-nos desfazer um erro muito divulgado, que consiste em
confundir todos os Espíritos que se comunicam por pancadas com os
Espíritos batedores. A tiptologia é um meio de comunicação como qualquer
outro, não sendo mais indigno dos Espíritos elevados que a escrita e a
palavra. Todos os Espíritos, bons ou maus, podem servir-se dele como dos
demais. O que caracteriza os Espíritos superiores é a elevação do
pensamento e não o instrumento de que se servem para transmiti-lo. Sem
dúvida eles preferem os meios mais cômodos e rápidos, mas, na falta de
lápis e papel não terão escrúpulos em servir-se da vulgar mesa-falante. A
prova é que se obtêm por esse meio as comunicações mais sublimes. Se não
nos servimos dele não é por desprezá-lo, mas somente porque, como
fenômeno, já nos ensinou tudo quanto poderíamos saber, nada mais
podendo acrescentar às nossas convicções, sendo ainda que a extensão das
comunicações que recebemos exige uma rapidez que a tiptologia não
oferece.
Todos os Espíritos que se comunicam por pancadas não são pois,
Espíritos batedores. Essa designação deve ser reservada para os que se pode
chamar de batedores profissionais e que por esse meio se divertem a
atormentar uma família ou contrariá-la com suas importunações. De sua
parte podemos esperar às vezes ditos espirituosos,mas nunca frases
profundas. Seria, pois, perder tempo dirigir-lhes questões de certo interesse

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científico ou filosófico. Sua ignorância e sua inferioridade lhe valeram,
justamente, de parte dos demais Espíritos, a qualificação de Espíritos
pelotiqueiros ou saltimbancos do mundo espírita. Acrescentemos, porém,
que eles não agem sempre por sua própria conta,sendo também,
freqüentemente, instrumentos de que se servem os Espíritos superiores
quando querem produzir efeitos materiais. (3)
(1) Trata-se da mesinha de salão guéridon, redonda, com um eixo central
como pé, de cuja extremidade inferior saem três recurvos. Muito usada nos
salões parisiense da época para o passatempo das mesas girantes. (N. do T.)
(2) Em francês: tiptologie intime. Trata-se do mesmo fenômeno dos raps
ingleses. O zelo de Kardec leva-o a indicar as possibilidades de fraude nesse
fenômeno, que realmente existem, mas que numa sessão bem organizada
não poderiam ocorrer. Aliás, as imitações sempre fracassam em trabalhos
sérios. (N. do T.)
(3) Muitos outros meios de comunicação foram inventados na Europa e
na América, o que atesta a naturalidade e constância relações entre os
Espíritos e os Homens. Aparelhos complicados foram e continuam a serem
inventados. Alguns cientistas e curiosos procuraram descobrir meios
mecânicos, elétricos, eletrônicos e outros de comunicação direta com os
Espíritos.Mas, como Kardec acentua no capítulo acima, essas complicações
têm utilidade relativa e aumentam a desconfiança dos céticos. Dispensar a
mediunidade, excluir o intermediário humano é outra preocupação de
pessoas interessadas no aspecto puramente científico do Espiritismo. Mas
as comunicações dependem, como a doutrina esclarece, da inter-relação, de
Espírito a Espírito, através dos elementos constitutivos do perispírito. As
máquinas só podem servir como instrumentos acionados por médiuns. E a
independência do Espírito comunicante se prova melhor através dos meios
naturais de comunicação, como acentua Kardec no item 143. É o
aperfeiçoamento do homem, como médium, e não aprimoramento dos
processos ou a invenção de máquinas para comunicação, o que tornará cada
vez mais evidente a existência e comunicabilidade dos Espíritos. (N. do T. )

Allan Kardec - O Livros Dos Médiuns


Cap. 11 – Sematologia e Tiptologia

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