1722 Gesec
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DOI: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i2.1722
Resumo
Este artigo trata de uma revisão da literatura para sistematizar os conhecimentos acerca da
ergonomia em prol da sustentabilidade em empresas, objetivando desenvolver um framework
de avaliação ergonômica. Para alcançar o objetivo, empregou-se o método da revisão
sistemática com buscas nas bases web of science e scopus, com o seguinte termo (ergonomics
or "ergonomic analysis") and sustainability, no período de 2014 a 2022. Após seguir todas as
etapas de uma revisão sistemática, o portfólio final resultou em 13 artigos científicos com
importante fator de impacto. Os resultados teórico e prático deste estudo destacam a interação
entre as abordagens ergonômica e da sustentabilidade, em forma de um framework, e a
aplicação deste para ampliar as avaliações ergonômicas em empresas, incluindo as dimensões
social, ambiental e econômica.
Palavras-chave: Ergonomia. Sustentabilidade. Organizações Sustentáveis. Condições de
Trabalho.
1
Mestranda em Administração pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Rua Acelon Eduardo da
Silva, 77, Córrego Grande, Florianópolis - SC, CEP: 88037-408. E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4685-2060
2
Doutorado em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Santa Catarina. Av. Pedra Branca, 25,
Cidade Universitária, Palhoça - SC, CEP: 88137-270. E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0337-5639
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Abstract
This article discusses a literature review to systematize the knowledge about ergonomics in
favor of sustainability in companies, aiming to develop an ergonomic evaluation framework.
To achieve the objective, the systematic review method was used with searches in the web of
science and scopus databases, with the following term (ergonomics or "ergonomic analysis")
and sustainability, in the period from 2014 to 2022. After following all the steps of a
systematic review, the final portfolio resulted in 13 scientific articles with an important impact
factor. The theoretical and practical results of this study highlight the interaction between
ergonomic and sustainability approaches, in the form of a framework, and its application to
expand ergonomic assessments in companies, including social, environmental and economic
dimensions.
Keywords: Ergonomics. Sustainability. Sustainable Organizations. Working Conditions.
Introdução
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Metodologia
Para responder à pergunta de pesquisa, foi realizada uma revisão sistemática nas bases
Web of Science e Scopus, empregando a seguinte estratégia de busca: (ergonomics OR
"ergonomic analysis") AND sustainability. A busca foi realizada nos meses de abril e maio de
2022, nas bases de dados anteriormente citadas, no período de 2014 a 2022. Um total de 666
registros foram encontrados, e após a seleção por artigos de revisão e artigos de pesquisa, nos
restaram 319 registros. A partir disso, foram excluídos 84 artigos duplicados, permanecendo
235 registros.
Assim, para a realizar a seleção dos artigos mais relevantes foram utilizados critérios
de inclusão e exclusão na leitura dos títulos e resumos. Os artigos que possuíam um
direcionamento à temática de ergonomia e sustentabilidade, bem como suas relações com
conceitos como ecologia, desenvolvimento sustentável e trabalho, foram selecionados. Os
critérios de seleção priorizaram artigos escritos em inglês, publicados em journals com fator
de impacto maior que 1.5, e com pelo menos seis citações para artigos publicados até 2019.
Com isso, após a leitura completa dos 18 artigos, seguindo os critérios de inclusão e exclusão
já apresentados, foram selecionados 13 artigos para a composição do portfólio final da
pesquisa, conforme representado na figura 1.
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Ivan Bolis, Claudio M. Brunoro, Laerte I. Sznelwar foram os autores que mais
publicaram, com um total de 4 artigos cada. Irem Sarbat e Seren Ozmehmet Tasan, bem como
Andrew Thatcher, publicaram 2 e 3 artigos, respectivamente; e autores como Klaus J. Zink,
Ayubkhon Radjiyev, Felipe Meyer e Sonja Pavlovic-Veselinovic, também são encontrados
no portfólio. Em relação aos anos dessas publicações, pode-se concluir que o maior número
de artigos foi publicado em 2014, com o total de 5 publicações. O segundo ano com maior
número de publicações foi o de 2020, com 3. Os anos de 2015, 2017 e 2021 possuem 1
publicação para cada ano, e em 2016 foram obtidos 2 artigos. Em 2018, 2019 e 2022 não foi
encontrada nenhuma publicação que se encaixava ao tema da pesquisa. A partir disso, pode-
se avaliar o número de citações de cada artigo com seus respectivos autores e anos a partir do
quadro 1. Ele informa que os artigos dos anos de 2014 e 2015 são os mais citados, concluindo
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um fator de impacto 1.505, sendo considerada uma revista de menor relevância temática.
Por fim, fazendo uma análise acerca dos termos dos artigos selecionados, a partir da
revisão sistemática, pode-se observar que ergonomia e sustentabilidade estão presentes em
todas as publicações, trazendo assuntos como: bem-estar, saúde, fatores humanos,
desenvolvimento sustentável, sistemas de trabalho, sustentabilidade corporativa, ergonomia
verde, indicadores, entre outros. A seguir, na figura 3, é apresentada a imagem da análise dos
termos conforme os anos de 2014 a 2022 a partir da plataforma do VOSviewer.
Como pode-se observar, a figura traz a divisão dos clusters dos artigos selecionados a
partir da pesquisa, sendo eles representados pelos termos: desenvolvimento sustentável,
sustentabilidade corporativa, ergonomia e sustentabilidade. Assim, o capítulo seguinte
apresentará as ideias principais sobre os termos chaves dessa pesquisa, baseado nos autores
das publicações da revisão.
Para Sarbat e Tasan (2020) durante o processo de geração de lucro, geralmente não há
preocupação com as necessidades dos funcionários, principalmente em questões de saúde e
segurança. Com isso, a prioridade merecida de saúde e segurança, muitas vezes não é
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fornecido por diversas organizações, mesmo que haja uma necessidade explícita de gestão
deles. Assim, proporcionar o bem-estar humano torna-se mais desafiador hoje, havendo então
a necessidade de a ergonomia propor soluções para a promoção desse desafio (LANGE-
MORALES, 2014; SARBAT; TASAN, 2020; THATCHER et al., 2020).
A organização com uma cultura mais aberta e diversificada, que é apresentada por
Bolis et al. (2014), é voltada principalmente para a satisfação no trabalho, a partir de um
ambiente agradável e estimulante, proporcionando melhores atuações. Pessoas e seu trabalho
são fundamentais para o sucesso ou fracasso das atividades econômicas das organizações.
Com isso, projetar sistemas de trabalho sustentáveis deve levar em consideração o bloqueio
de ações que possam ser prejudiciais à saúde, física e mental, de uma equipe, uma área ou até
mesmo uma organização (BOLIS et al., 2014; ZINK, 2014; THATCHER et al., 2016).
Para Radjiev et al. (2015) o impacto social e econômico de um sistema na ergonomia
inicia e está relacionado diretamente a sustentabilidade, principalmente pelo cenário atual, em
que a disciplina de ergonomia busca contribuir para a sociedade global. Assim, é necessária
uma abordagem colaborativa entre diversos setores da sociedade e governo, lidando então
com problemas globais, com o objetivo de melhoria dos padrões de trabalho, melhor decisão
operacional em um local com ambiente amigável, redução de barreiras comportamentais e
culturais, melhorando então a estratégia para o desenvolvimento da sustentabilidade (MEYER
et al., 2017; RADJIEV et al., 2015).
Conforme Zink (2014) ergonomia e sustentabilidade compartilham o interesse
conjunto sobre a satisfação das necessidades humanas, tendo uma perspectiva sistemática que
abrange as interdependências e inter-relações das atividades humanas com seus sistemas
circundantes. A ergonomia pode influir no desenvolvimento sustentável, e para isso requer
um equilíbrio complexo entre o capital natural, econômico e social, integrando metas
ecológicas (ZINK, 2014; LANGE-MORALES et al., 2014; THATCHER et al., 2016).
Para Bolis et al. (2020), em termos de ação humana, o reconhecimento, a
autorrealização, o conteúdo do trabalho e as decisões organizacionais podem promover ou
afetar diretamente a saúde no trabalho. Os autores ainda abordam que o trabalho sustentável
deveria conduzir para a felicidade, ser agradável, fazer sentido, ter significado e promover
uma relação ganha-ganha entre o trabalhador e a empresa. Muitas empresas procuram uma
abordagem abrangente, visão multidimensional da saúde, com reflexos positivos para seus
trabalhadores e a sociedade em geral. Com isso, essas empresas precisam desenvolver práticas
que sejam capazes de compreender as complexidades da realidade de trabalho, que incluem,
mas não se limitam a indivíduos e questões de liderança (SARBAT; TASAN, 2021).
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Considerações Finais
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essenciais da pesquisa qualitativa. A coleta de dados poderá ser feita através de visitas em
uma empresa, com observações in loco para estudar as condições de trabalho, com o objetivo
de identificar os itens de condições técnicas (equipamentos, ferramentas, layout, bancadas,
entre outros), condições ambientais (ruído, temperatura, iluminação, entre outros) e condições
organizacionais (tarefas, turnos, horário e jornada de trabalho, número de trabalhadores, entre
outros). Após essa primeira análise, será possível conhecer o fluxo de produção e levantar os
dimensionamentos das condições de trabalho. O uso de entrevistas também é necessário para
levantar a opinião dos trabalhadores quanto às condições de trabalho, as quais serão as
dimensões fundamentais da ergonomia.
Além disso, entrevistas relacionas as dimensões fundamentais da sustentabilidade
(econômica, ecológica e social) também serão válidas para a organização e construção da
pesquisa. Com isso, estudos futuros são necessários para aprofundar a investigação da
ergonomia como forma de potencializar a sustentabilidade no dia a dia das empresas.
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