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Revista GeSec

São Paulo, SP, Brasil

v. 14, n.2, p. 2424-2436,

ISSN: 2178-9010 2023

DOI: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i2.1722

Ergonomia e sustentabilidade nas empresas: a construção de um


framework de avaliação

Ergonomics and sustainability in businesses: the construction of an


assessment framework

Maria Fernanda Kuhnen Dutra1


Ana Regina de Aguiar Dutra2

Resumo
Este artigo trata de uma revisão da literatura para sistematizar os conhecimentos acerca da
ergonomia em prol da sustentabilidade em empresas, objetivando desenvolver um framework
de avaliação ergonômica. Para alcançar o objetivo, empregou-se o método da revisão
sistemática com buscas nas bases web of science e scopus, com o seguinte termo (ergonomics
or "ergonomic analysis") and sustainability, no período de 2014 a 2022. Após seguir todas as
etapas de uma revisão sistemática, o portfólio final resultou em 13 artigos científicos com
importante fator de impacto. Os resultados teórico e prático deste estudo destacam a interação
entre as abordagens ergonômica e da sustentabilidade, em forma de um framework, e a
aplicação deste para ampliar as avaliações ergonômicas em empresas, incluindo as dimensões
social, ambiental e econômica.
Palavras-chave: Ergonomia. Sustentabilidade. Organizações Sustentáveis. Condições de
Trabalho.

1
Mestranda em Administração pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Rua Acelon Eduardo da
Silva, 77, Córrego Grande, Florianópolis - SC, CEP: 88037-408. E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4685-2060
2
Doutorado em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Santa Catarina. Av. Pedra Branca, 25,
Cidade Universitária, Palhoça - SC, CEP: 88137-270. E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0337-5639
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Abstract
This article discusses a literature review to systematize the knowledge about ergonomics in
favor of sustainability in companies, aiming to develop an ergonomic evaluation framework.
To achieve the objective, the systematic review method was used with searches in the web of
science and scopus databases, with the following term (ergonomics or "ergonomic analysis")
and sustainability, in the period from 2014 to 2022. After following all the steps of a
systematic review, the final portfolio resulted in 13 scientific articles with an important impact
factor. The theoretical and practical results of this study highlight the interaction between
ergonomic and sustainability approaches, in the form of a framework, and its application to
expand ergonomic assessments in companies, including social, environmental and economic
dimensions.
Keywords: Ergonomics. Sustainability. Sustainable Organizations. Working Conditions.

Introdução

Diversas pesquisas abordam que as organizações têm prestado mais atenção às


questões de sustentabilidade, incluindo não só aos aspectos econômicos, mas também
ambientais e sociais (BOLIS et al., 2014; MOREA et al., 2021). Nesta direção, Ehnert et al.
(2014) trouxeram o conceito de organizações sustentáveis como um sistema que funciona para
alcançar seus objetivos operacionais e desenvolvimento de recursos humanos e sociais,
através do trabalho e da aprendizagem, garantindo assim bem-estar e regeneração dos recursos
ecológicos.
Uma organização sustentável atinge objetivos sociais e empresariais. Isso é possível
se os trabalhadores puderem identificar quais são esses objetivos organizacionais, e
trabalharem de forma sustentável para alcançá-los (EHNERT et al., 2014). Os autores, ainda,
destacam que esses objetivos podem ser representados pela manutenção da saúde e qualidade
de vida, com investimentos no desenvolvimento de competências e aprendizagem ao longo
da vida, preservando o equilíbrio entre trabalho, vida e família.
A partir disso, Ehnert et al. (2014) destacam que a sustentabilidade encontrada em um
sistema de trabalho, deve satisfazer as necessidades não somente dos acionistas ou
proprietários, mas também dos diversos stakeholders. Assim, surge então a necessidade da
ergonomia no contexto, que tem como objetivos principais o bem-estar, a segurança, a
produtividade e a qualidade no trabalho (ABRAHÃO et al., 2009). Considerando todas as

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ações relacionadas a ergonomia, pode-se considerar sua aparição na pré-história, a partir do


homem pré-histórico que escolhia uma pedra ou qualquer outro objeto de formato que melhor
se acomodava à forma e movimentos de sua mão, para usá-la como arma (IIDA, 2005;
CORREA, 2015).
Com isso, pode-se destacar como auxílio nas questões sobre a promoção e proteção da
saúde física e mental dos trabalhadores, a norma ISO 45000. Ela tem como objetivo gerar uma
estrutura para administrar os riscos e oportunidades identificados na empresa, com o intuito
de prevenir lesões e problemas de saúde ocupacional, gerando ambientes de trabalho seguros
e saudáveis. Além dela, uma outra ferramenta que complementa essa preocupação com a
saúde dos trabalhadores, é a Norma Regulamentadora 17 (NR17), que propõe as diretrizes e
os requisitos que admitam a adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, gerando conforto, segurança, saúde e desempenho
eficiente no trabalho.
Coelho (2012) afirma que a ergonomia tem um papel de destaque para alcançar a
sustentabilidade, contribuindo para a prevenção das consequências de acidentes, bem como,
no aumento a conscientização sobre os benefícios potenciais da ergonomia, colheremos os
benefícios que ela trará para a promoção do desenvolvimento sustentável. O autor também
complementa que os especialistas em ergonomia contribuem para ajudar a alcançar reduções
nos impactos ambientais por meio de intervenções comportamentais, ajudando na mudança
em direção ao consumo sustentável de recursos.
Para Nascimento (2011), as dimensões da sustentabilidade podem ser explicadas da
seguinte forma: a primeira, ambiental, fala que a produção e o consumo devem garantir que
os ecossistemas possam manter sua auto reparação e capacidade de resiliência; a segunda,
econômica, supõe a eficiência na produção e consumo em relação aos recursos naturais,
levando em consideração a ecoeficiência; e a terceira, social, diz que todos os cidadãos
necessitam de uma vida digna, com erradicação da pobreza e desigualdade, obtendo justiça
social.
Portanto, “existe, ao que parece, uma sinergia natural entre essas áreas de
sustentabilidade e ergonomia, com o objetivo de compreender e otimizar os resultados das
interações homem-sistema” (HASLAM; WATERSON, 2013, p. 343). Assim, o presente
artigo buscará explorar a abordagem ergonômica para tornar as organizações mais
sustentáveis, tendo como objetivo a identificação de sinergias e benefícios mútuos entre
ergonomia e sustentabilidade, por meio de pesquisas, descobertas e práticas nas duas
vertentes. Nesta direção, propõe-se a pergunta de pesquisa: Quais são os elementos a serem

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considerados no desenvolvimento de um framework para a avaliação ergonômica de


empresas, com base na teoria da sustentabilidade?

Metodologia

Para responder à pergunta de pesquisa, foi realizada uma revisão sistemática nas bases
Web of Science e Scopus, empregando a seguinte estratégia de busca: (ergonomics OR
"ergonomic analysis") AND sustainability. A busca foi realizada nos meses de abril e maio de
2022, nas bases de dados anteriormente citadas, no período de 2014 a 2022. Um total de 666
registros foram encontrados, e após a seleção por artigos de revisão e artigos de pesquisa, nos
restaram 319 registros. A partir disso, foram excluídos 84 artigos duplicados, permanecendo
235 registros.
Assim, para a realizar a seleção dos artigos mais relevantes foram utilizados critérios
de inclusão e exclusão na leitura dos títulos e resumos. Os artigos que possuíam um
direcionamento à temática de ergonomia e sustentabilidade, bem como suas relações com
conceitos como ecologia, desenvolvimento sustentável e trabalho, foram selecionados. Os
critérios de seleção priorizaram artigos escritos em inglês, publicados em journals com fator
de impacto maior que 1.5, e com pelo menos seis citações para artigos publicados até 2019.
Com isso, após a leitura completa dos 18 artigos, seguindo os critérios de inclusão e exclusão
já apresentados, foram selecionados 13 artigos para a composição do portfólio final da
pesquisa, conforme representado na figura 1.

Figura 1 – Visão geral revisão sistemática.


Fonte: Elaborada pelo autor.

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Apresentação dos Resultados e Discussão

3.1 Apresentação dos Resultados

A partir da revisão sistemática realizada e apresentada na seção de metodologia, foram


selecionados 13 artigos para o portfólio final, com o objetivo de responder à pergunta de
pesquisa. Com isso, foi possível observar que o país com o maior número de publicações
selecionadas foi o Brasil, com 4 artigos; logo em seguida a Turquia com 2 artigos; e com 1
artigo apenas os países a seguir: Alemanha, Sérvia, Reino Unido, Malásia, Coreia do Sul,
Chile e África do Sul, conforme apresentado na figura 2.

Figura 2 – Países das publicações.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Ivan Bolis, Claudio M. Brunoro, Laerte I. Sznelwar foram os autores que mais
publicaram, com um total de 4 artigos cada. Irem Sarbat e Seren Ozmehmet Tasan, bem como
Andrew Thatcher, publicaram 2 e 3 artigos, respectivamente; e autores como Klaus J. Zink,
Ayubkhon Radjiyev, Felipe Meyer e Sonja Pavlovic-Veselinovic, também são encontrados
no portfólio. Em relação aos anos dessas publicações, pode-se concluir que o maior número
de artigos foi publicado em 2014, com o total de 5 publicações. O segundo ano com maior
número de publicações foi o de 2020, com 3. Os anos de 2015, 2017 e 2021 possuem 1
publicação para cada ano, e em 2016 foram obtidos 2 artigos. Em 2018, 2019 e 2022 não foi
encontrada nenhuma publicação que se encaixava ao tema da pesquisa. A partir disso, pode-
se avaliar o número de citações de cada artigo com seus respectivos autores e anos a partir do
quadro 1. Ele informa que os artigos dos anos de 2014 e 2015 são os mais citados, concluindo

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que o número médio de citações por artigo é de 16,85.

ARTIGO AUTOR ANO CITA- %


ÇÕES
Designing sustainable work systems: The need for a Klaus J. Zink 2014 66 30,14
systems approach
Ergonomics and sustainable development in the past two Ayubkhon Radjiyev, 2015 37 16,90
decades (1992 e 2011): Research trends and how Hai Qiu, Shuping
ergonomics can contribute to sustainable development Xiong, KyungHyun
Nam
Mapping the relationships between work and Ivan Bolis, Claudio M. 2014 28 12,79
sustainability and the opportunities for ergonomic action Brunoro, Laerte I.
Sznelwar
A sustainable system of systems approach: a new HFE Andrew Thatcher e 2016 23 10,50
paradigm Paul HP Yeow
Towards a sustainable world through human factors and Karen Lange-Morales; 2014 22 10,05
ergonomics: it is all about values Andrew Thatcher and
Gabriel Garcia-Acosta
Human factors and ergonomics systems-based tools for Andrew Thatcher; 2020 11 5,02
understanding and addressing global problems of the Rounaq Nayak and
twenty-first century Patrick Waterson
Work for sustainability: Case studies of Brazilian Ivan Bolis, Claudio M. 2016 9 4,11
companies Brunoro, Laerte I.
Sznelwar
Ergonomics as a missing part of sustainability Sonja Pavlovic- 2014 8 3,65
Veselinovic
Work in corporate sustainability policies: The Ivan Bolis, Claudio M. 2014 6 2,74
contribution of ergonomics Brunoro, Laerte I.
Sznelwar
Ergonomics as a tool to improve the sustainability of the Felipe Meyer, Gabriel 2017 6 2,74
workforce Eweje and David
Tappin
The centrality of workers to sustainability based on Ivan Bolis, Sandra N. 2020 2 0,91
values: Exploring ergonomics to introduce new Morioka, Claudio M.
rationalities into decision-making processes Brunoro, Paulo C. Z.
De Souza, , Laerte I.
Sznelwar
A structural framework for sustainable processes in Irem Sarbat & Seren O. 2020 1 0,46
ergonomics Tasan
Ergonomics indicators: A proposal for sustainable Irem Sarbat & Seren O. 2021 0 0
process performance measurement in ergonomics Tasan
Quadro 1 – Artigos, autores, anos e citações.
Fonte: Elaborado pelo autor

Em relação aos journals que foram publicados os artigos, a “Ergonomics” e a“Applied


Ergonomics” possuem 5 publicações cada, e a “Work- A JournalofPrevention Assessment &
Rehabilitation”, possui 3 artigos. A “Ergonomics” é uma revista Inglesa, criada em 1997,
com o fator de impacto 2.778 (2020), que possui diversos artigos sobre o campo da ergonomia,
e ainda considerada de média relevância. A “Applied Ergonomics” segue a mesma linha de
assunto, revista inglesa, também criada em 1997, com o fator de impacto 3.661 (2020), sendo
então mais conceituada que a anterior, considerada relevante. Já a “Work- A Journal of
Prevention Assessment & Rehabilitation” é uma revista holandesa, criada em 2010, que possui

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um fator de impacto 1.505, sendo considerada uma revista de menor relevância temática.
Por fim, fazendo uma análise acerca dos termos dos artigos selecionados, a partir da
revisão sistemática, pode-se observar que ergonomia e sustentabilidade estão presentes em
todas as publicações, trazendo assuntos como: bem-estar, saúde, fatores humanos,
desenvolvimento sustentável, sistemas de trabalho, sustentabilidade corporativa, ergonomia
verde, indicadores, entre outros. A seguir, na figura 3, é apresentada a imagem da análise dos
termos conforme os anos de 2014 a 2022 a partir da plataforma do VOSviewer.

Figura 3 – Análise VOSviewer


Fonte: Elaborada pelo autor.

Como pode-se observar, a figura traz a divisão dos clusters dos artigos selecionados a
partir da pesquisa, sendo eles representados pelos termos: desenvolvimento sustentável,
sustentabilidade corporativa, ergonomia e sustentabilidade. Assim, o capítulo seguinte
apresentará as ideias principais sobre os termos chaves dessa pesquisa, baseado nos autores
das publicações da revisão.

3.2 Discussão dos Resultados

3.2.1 Ergonomia e sustentabilidade nas empresas

Para Sarbat e Tasan (2020) durante o processo de geração de lucro, geralmente não há
preocupação com as necessidades dos funcionários, principalmente em questões de saúde e
segurança. Com isso, a prioridade merecida de saúde e segurança, muitas vezes não é

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fornecido por diversas organizações, mesmo que haja uma necessidade explícita de gestão
deles. Assim, proporcionar o bem-estar humano torna-se mais desafiador hoje, havendo então
a necessidade de a ergonomia propor soluções para a promoção desse desafio (LANGE-
MORALES, 2014; SARBAT; TASAN, 2020; THATCHER et al., 2020).
A organização com uma cultura mais aberta e diversificada, que é apresentada por
Bolis et al. (2014), é voltada principalmente para a satisfação no trabalho, a partir de um
ambiente agradável e estimulante, proporcionando melhores atuações. Pessoas e seu trabalho
são fundamentais para o sucesso ou fracasso das atividades econômicas das organizações.
Com isso, projetar sistemas de trabalho sustentáveis deve levar em consideração o bloqueio
de ações que possam ser prejudiciais à saúde, física e mental, de uma equipe, uma área ou até
mesmo uma organização (BOLIS et al., 2014; ZINK, 2014; THATCHER et al., 2016).
Para Radjiev et al. (2015) o impacto social e econômico de um sistema na ergonomia
inicia e está relacionado diretamente a sustentabilidade, principalmente pelo cenário atual, em
que a disciplina de ergonomia busca contribuir para a sociedade global. Assim, é necessária
uma abordagem colaborativa entre diversos setores da sociedade e governo, lidando então
com problemas globais, com o objetivo de melhoria dos padrões de trabalho, melhor decisão
operacional em um local com ambiente amigável, redução de barreiras comportamentais e
culturais, melhorando então a estratégia para o desenvolvimento da sustentabilidade (MEYER
et al., 2017; RADJIEV et al., 2015).
Conforme Zink (2014) ergonomia e sustentabilidade compartilham o interesse
conjunto sobre a satisfação das necessidades humanas, tendo uma perspectiva sistemática que
abrange as interdependências e inter-relações das atividades humanas com seus sistemas
circundantes. A ergonomia pode influir no desenvolvimento sustentável, e para isso requer
um equilíbrio complexo entre o capital natural, econômico e social, integrando metas
ecológicas (ZINK, 2014; LANGE-MORALES et al., 2014; THATCHER et al., 2016).
Para Bolis et al. (2020), em termos de ação humana, o reconhecimento, a
autorrealização, o conteúdo do trabalho e as decisões organizacionais podem promover ou
afetar diretamente a saúde no trabalho. Os autores ainda abordam que o trabalho sustentável
deveria conduzir para a felicidade, ser agradável, fazer sentido, ter significado e promover
uma relação ganha-ganha entre o trabalhador e a empresa. Muitas empresas procuram uma
abordagem abrangente, visão multidimensional da saúde, com reflexos positivos para seus
trabalhadores e a sociedade em geral. Com isso, essas empresas precisam desenvolver práticas
que sejam capazes de compreender as complexidades da realidade de trabalho, que incluem,
mas não se limitam a indivíduos e questões de liderança (SARBAT; TASAN, 2021).

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Na abordagem da sustentabilidade, acredita-se que o trabalho seja o elemento central


que junto com seu significado e suas relações de confiança e cooperação, melhora o
desempenho da organização, agenciando o desenvolvimento profissional, promovendo a
saúde do trabalhador e facilitando o desenvolvimento da criatividade e a mobilização da
inteligência, influenciando assim, o desenvolvimento da cultura e da sociedade (BOLIS et al.,
2020; THATCHER et al., 2020).
De acordo com Sarbat e Tasan (2020) os elementos para a eficácia da sustentabilidade
são representados por padrões ergonômicos, e um processo bem projetado ergonomicamente
deve estar dentro das capacidades e limitações individuais, bem como a satisfação das
necessidades e aspirações sociais. Com isso, a ergonomia tem evoluído nas suas atuações,
preservando a centralidade nas interações entre as pessoas e os sistemas (MEYER et al., 2017),
ao trazer contribuições para a sustentabilidade das organizações, buscando tornar as
organizações espaços mais seguro, saudáveis e eficiente (BOLIS et al.; 2014; PAVLOVIC-
VESELINOVIC, 2014). Os autores apontam ainda que embora os conceitos de ergonomia e
de sustentabilidade tenham sido criados em contextos diferentes, contudo, compartilham os
mesmos princípios de compreensão e objetivos gerais para melhorar a relação entre pessoas e
os sistemas.
De acordo com Meyer (2017) a abordagem ergonômica pode ser uma ferramenta
influente para apoiar estratégias da organização e muito útil para elas possam trabalhar sob o
guarda-chuva dos princípios de sustentabilidade. Ele ainda acrescenta que a ergonomia pode
fornecer suporte sobre questões da dimensão social interna da sustentabilidade corporativa, a
partir da identificação de elementos que levam o bom desempenho e a garantia da saúde à
longo prazo, trazendo benefícios não só de gestão, mas também para os trabalhadores e,
portanto, para a sociedade.
Para Bolis et al. (2014), a principal contribuição da ergonomia no contexto da
sustentabilidade no trabalho, é impulsionar o desempenho da organização a partir das
condições de trabalho promovendo o bem-estar dos trabalhadores, buscando a eficiência
organizacional. Assim, os autores ainda mostram que a ergonomia surge como uma disciplina
vital para aumentar conjuntamente o desempenho da organização e bem-estar do trabalhador
a partir do ponto de vista da sustentabilidade corporativa. Na ergonomia centrada na atividade,
o trabalho é o protagonista da produção e é um elemento essencial para ser considerado na
análise do processo produtivo, a partir do ponto de vista da sustentabilidade (BOLIS et al.,
2014; PAVLOVIC-VESELINOVIC, 2014).

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3.2.2 Framework teórico

A partir de todas as características apresentadas acercados principais termos da


pesquisa, pode-se observar que o trabalho é considerado o elemento central das abordagens,
que junto com seu significado e suas relações de confiança e cooperação, melhora o
desempenho da organização, agenciando o desenvolvimento profissional, promovendo a
saúde do trabalhador e facilitando o desenvolvimento da criatividade e a mobilização da
inteligência, influenciando assim, o desenvolvimento da cultura e da sociedade (BOLIS et al.,
2020).
Com isso, a figura 4 apresenta um framework teórico que abrange e explica as duas
abordagens: ergonomia e sustentabilidade. Então, mostra-se as dimensões e os indicadores da
ergonomia, representadas pelas condições técnicas (equipamentos, ferramentas, layout,
bancadas etc.), ambientais (ruído, temperatura, iluminação etc.) e organizacionais (tarefas,
turnos, horário e jornada de trabalho, número de trabalhadores etc.). Após os elementos da
ergonomia, são apresentados as dimensões e indicadores da sustentabilidade: econômica,
ecológica e social, bem como seus indicadores.

Figura 4 – Framework teórico


Fonte: Adaptado de Sarbat e Tasan (2020).

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Considerações Finais

Transformar os processos de trabalho a partir uma compreensão e envolvimento mais


profundos da vida dos trabalhadores é um dos principais objetivos da ergonomia. Ela então
“pode fornecer suporte para mudar os processos de tomada de decisão dos trabalhadores para
otimizar o desempenho, considerando objetivos de sustentabilidade mais amplos, como metas
sociais ou ambientais”. (BOLIS, et al., 2020, p. 10) Assim, essa contribuição central auxiliou
no entendimento da conexão entre ergonomia e sustentabilidade que vem sendo discutida
teoricamente na literatura.
A relevância prática é a utilização do framework para a realização de uma avaliação
ergonômica em empresas, incluindo os princípios de sustentabilidade. A partir disso, o
framework está alinhado ao ODS 8, buscando a melhoria de saúde e segurança no trabalho,
vislumbrando o crescimento econômico por meio da rentabilidade, geração de renda e
respeitando a biodiversidade.
Quanto à importância da proposta, a relevância teórica, que também é a originalidade,
se concentra na interação entre as abordagens ergonômica e da sustentabilidade, em forma de
um framework. A ergonomia e a sustentabilidade têm seus conceitos já consolidados na
literatura, porém a interação entre eles possui poucos achados teóricos e práticos. A partir de
2013, inicia-se um esforço para que os estudos ergonômicos das organizações também levem
em conta os princípios da sustentabilidade em suas ações (BOLIS, et al. 2014; MEYER et al.
2017), reforçado no ano de 2015, com a instituição dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, da Agenda 2030 da ONU.
Não considerar as pessoas no contexto da sustentabilidade, pode representar um risco,
sendo necessário o engajamento delas para que o caminho de uma empresa continue sendo
sustentável ao longo do tempo, em termos de soluções implementadas e sucesso econômico,
social e ambiental no mercado.
Nesse contexto, acredita-se que o trabalho sustentável é aquele que melhora o
desempenho da organização e promove o desenvolvimento profissional e a saúde do
trabalhador de forma ampla e positiva. Assim, promove o respeito e o desenvolvimento da
inteligência e da criatividade ao realizar um trabalho que tenha sentido e significado,
compreendendo a profunda importância das questões físicas, cognitivas e organizacionais e,
sobretudo, a importância do trabalho para o desenvolvimento da cultura.
Uma proposta para pesquisas futuras seria a aplicação do framework, que será
utilizado para a coleta de todas as informações e percepções, assegurado pelas características

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essenciais da pesquisa qualitativa. A coleta de dados poderá ser feita através de visitas em
uma empresa, com observações in loco para estudar as condições de trabalho, com o objetivo
de identificar os itens de condições técnicas (equipamentos, ferramentas, layout, bancadas,
entre outros), condições ambientais (ruído, temperatura, iluminação, entre outros) e condições
organizacionais (tarefas, turnos, horário e jornada de trabalho, número de trabalhadores, entre
outros). Após essa primeira análise, será possível conhecer o fluxo de produção e levantar os
dimensionamentos das condições de trabalho. O uso de entrevistas também é necessário para
levantar a opinião dos trabalhadores quanto às condições de trabalho, as quais serão as
dimensões fundamentais da ergonomia.
Além disso, entrevistas relacionas as dimensões fundamentais da sustentabilidade
(econômica, ecológica e social) também serão válidas para a organização e construção da
pesquisa. Com isso, estudos futuros são necessários para aprofundar a investigação da
ergonomia como forma de potencializar a sustentabilidade no dia a dia das empresas.

Referências

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Submetido em: 30.01.2023


Aceito em: 28.02.2023

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 2, 2023, p. 2424-2436.

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