Apostila Captação de Som Direto
Apostila Captação de Som Direto
Apostila Captação de Som Direto
Brasília – 2018
SUMÁRIO
EMENTA
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
Fica a dica !
Que tal assistir ao filme O Artista (2011), dirigido por Michel Hazanavicius? O filme
retrata justamente o período de transição do cinema mudo para o cinema falado.
Tudo bem, mas e daí? Daí que, já que vamos lidar com captação de som direto, é bom
que tenhamos ouvidos atentos às possibilidades outras que vão além do diálogo. É
comum no desenvolvimento de um projeto de um filme, assim como na direção e
análise com as equipes de produção, uma preocupação exclusiva com a captação de
som direto, dos diálogos mais especificamente. A mixagem de som é uma das últimas
etapas da realização de um filme, e acontece geralmente quando não se tem mais
tempo, nem orçamento para fazer. Desse modo é comum a realização de um som que
preencha as ambiências, e tenha diálogos claros. Mas é possível ir muito além disso.
Uma sugestão lançada aqui. Assista ao filme “Som ao redor”, dirigido por Kleber
Mendonça Filho e reflita sobre o som do filme. Pense se você gosta ou não, e tente
explicar por que.
Representar o som como uma onda significa que ele ocorre no tempo com uma
periodicidade, qual seja, uma ocorrência repetida dentro de certa frequência.
1.2.1 FREQUÊNCIA
A frequência de um som está relacionada aos padrões oscilatórios e suas respectivas
velocidades. Quanto maior o número de vibrações em um intervalo de tempo, maior
sua frequência. Do mesmo modo, quando menor o número de vibrações em um
intervalo de tempo, menor sua frequência.
Quanto menor a frequência de um som, mais grave ele é. Quanto maior a frequência,
mais agudo. Mas ao tratamos do som e de seus parâmetros é importante que
relativizemos estes, para que façam sentido. Por exemplo, ao ouvir um determinado
som, só é possível dizer que ele é grave ou agudo, se tormarmos algum outro valor
como referência. Um som emitido em uma frequência de 80 Hz, poderia ser
considerado um som grave, mas se compará-lo a um som emitido em frequência
menor, posso afirmar que ele é mais agudo que o primeiro.
Faixa Região
20 a 60 Hz Subgraves (subwoofer)
60 a 250 Hz Graves
250 Hz a 2kHz Médio-Graves
2 a 6 kHz Médio-Agudos
6 a 20 kHz Agudos
Tabela 01. Faixas de frequência e sua relação com as regiões sonoras.
1.2.2 INTENSIDADE
1.2.3 TIMBRE
1.2.4 RUÍDO
Um exemplo: Imagine que você esteja conversando com amigos, sentados na mesa de
um bar, quando de repente alguém coloca uma música em um volume alto que
interfere diretamente na conversa. Naturalmente os amigos começarão a falar mais
alto, ou irão para um lugar mais tranquilo. A música, neste contexto é um som
indesejado, dificulta o entendimento dos diálogos entre os amigos.
Vamos considerar uma outra situação. Quatro amigos estão sentados em uma mesa. O
ambiente é silencioso. Eles conversam sem problemas até o momento em que duas
conversas cruzadas se iniciam. Dois amigos falam de um assunto em espaços opostos
na mesa, enquanto os outros dois conversam sobre outro assunto totalmente
diferente. Considere-se em uma situação como esta. É comum tentarmos nos
concentrar no assunto em que estamos conversando, assim temos um diálogo que é o
foco para um grupo, passa a ser ruído para o outro, e vice-versa.
“E, assim, os ruídos estão presentes em todos os sons...” (LIGNELLI, 2014, p. 113).
1.2.5 REVERBERAÇÃO
Existem vários tipos de microfones, como microfones de fita e PZM (Pressure Zone
Microphone) , mas são de uso muito específicos, a grande maioria dos microfones
utilizados em cinema e TV, podem ser colocados em duas categorias: dinâmico e
condensador.
1.3.1 DINÂMICO
O microfone dinâmico rejeita sons que estejam fora do ângulo de captação, assim
como sons não tão próximos do microfone. Isso porque para uma boa captação é
necessária uma pressão sonora mais intensa. Por isso ele é ótimo para situações ao
vivo em que é necessário eliminar outros ruídos ambientes. Um repórter realizando
uma matéria de rua, por exemplo, sempre utilizará um microfone dinâmico, pois os
sons ambientes, de pessoas, carros, são praticamente anulados. Também é muito
utilizado em shows ao vivo, pois é bom quando você não quer que outros sons de
outros instrumentos sejam captados por ele.
1.3.2 CONDENSADOR
Os microfones condensadores são muito mais sensíveis que os dinâmicos. Outro ponto
que diferencia um microfone dinâmico de um microfone condensador é a necessidade
de energia para o funcionamento deste último. A esta energização do microfone,
chamamos de Phantom Power.
Fig. 05. Estrutura de um microfone dinâmico.
Devido ao fato de sua alta sensibilidade, ou seja, sua capacidade de captar sutilezas
sonoras, assim como as nuances de um instrumento, ou de uma voz, este tipo de
microfone é o mais utilizado em gravações para cinema, TV, e gravações em home
studio. Boom, lapela, microfones de diafragma grande, são do tipo condensador. Em
um Home Studio, recomenda-se utilizar um microfone de diafragma grande, pois ele é
capaz de captar as mais diversas nuances, sendo portanto muito fiel ao som original.
Fig. 06. microfone de lapela com conector do tipo P2.
Por isso esse microfone é tão utilizado em palcos. Para se realizar uma apresentação
ao vivo, o músico precisa conseguir se ouvir, e ouvir a banda. Para isso, são utilizados
os retornos, que nada mais são do que caixas de sons, posicionadas o chão,
retornando para os músicos aquilo que está sendo projetado para a plateia. Ao colocar
um retorno na frente do vocalista, por exemplo, este ficará exatamente no ângulo
oposto ao microfone, diminuindo drasticamente a possibilidade de retroalimentação
do som gerado pelo microfone, evitando assim a microfonia.
Um microfone cardioide é portanto um microfone direcional. O nome cardioide se dá
exatamente devido ao desenho do gráfico que se assemelha a um coração.
Se liga aí !
Portanto é bem comum quando se pretende utilizar um microfone ultracardioide,
perguntar por um microfone tipo boom ou shotgun. O boom é o equipamento que
permite colocar o microfone em uma vara, com redutores de impacto e protetores
contra vento. E o shotgun é o equipamento que se assemelha a uma pistola, também
utilizado para fixar o microfone. No entanto, o microfone propriamente dito é um
ultradirecional.
Outro muito comum é o omnidirecional. Significa que ele tem boa captação de todos
os ângulos igualmente. Há também o padrão polar bidirecional, representado por uma
figura 8, que capta pela frente e por trás do microfone.
1
Especificações do microfone Sennheiser modelo ME-66 estão disponíveis em
https://en-uk.sennheiser.com/directional-microphone-shotgun-film-broadcast-me-66?Open=&row=2,
acessado em 09 de abril de 2018.
Fig. 11. Gráfico de curva de resposta de frequência (Sennheiser ME-66)
Os diversos microfones são projetados para diversos usos, e escolher aquele com a
resposta de frequência certa é um aspecto importante.
Quando lidamos com áudio digital, e captamos sons diretos, lidamos com um processo
de conversão de um sinal analógico para um sinal digital (conversão AD). Isso significa
que quando o diafragma de um microfone vibra em função do som que lhe chega,
essas vibrações são convertidas em sinais elétricos. Esses sinais elétricos e suas
variações de intensidade, representam a onda sonora, mas para que este possa ser
interpretado pelo computador, em um DAW (Digital Audio workstation – E stação
digital de áudio), precisa ser convertido para um formato digital, ou seja, sequencias
de zeros e uns.
2.1 Organização
As câmeras fotográficas que passaram a gravar vídeos, tinham e ainda têm limitação
no que diz respeito à captação de som. Assim, os pequenos gravadores de mão,
passaram a fazer parte do single system quando se utiliza câmeras DSLR para
filmagem. Os microfones são conectados ao gravador e o sinal é enviado para a
câmera. Utilizar um gravador acoplado à câmera permite ter outros controles, como
ajuste de ganho durante a gravação, utilização de filtros, redutores de ruído, entre
outros. Mas esta é uma solução paliativa, pois quando se coloca um gravador acoplado
a outro (a entrada de áudio da câmera), o som passa por dois processos de
pré-amplificação, podendo aumentar a quantidade de ruído. Também há a limitação
para gravação de múltiplas pistas de áudio, uma vez que a entrada de áudio da câmera
irá permitir a gravação de apenas dois canais (esquerdo e direito), na banda de áudio
estéreo.
Ainda assim este sistema já é mais robusto e permite maior controle e monitoramento
por parte do técnico de som. Os gravadores de mão, como os Modelos H4N e H6N da
Zoom, têm diversos filtros, equalizadores, controles individuais de ganho, permitindo
muito mais controle dos sinais captados em relação à gravação com um microfone
direto na câmera DSLR.
Em uma situação de gravação com câmeras DSLR, a opção mais barata, e também a
mais arriscada, consiste em plugar o microfone diretamente na câmera. É arriscado
pois não é possível monitorar o sinal de áudio pelo visor da câmera quando se está
gravando. Também não é possível realizar o monitoramento por meio de fones de
ouvido.
O gravador Zoom H4n apresenta-se como uma excelente opção para gravação, pois
possui quatro entradas de áudio, que podem ser gravadas separadamente o que
permite um controle e a edição futura do som captado. Além disso, o gravador
permite um controle de ganho em cada canal individualmente. Por ser pequeno e leve,
pode ser conectado à câmera de vídeo, ou câmera fotográfica, facilmente. Em relação
ao seu custo x benefício o Zoom H4n é um dos melhores nesse sentido, por isso, foi tão
difundido nas produções tanto para cinema quanto publicidade.
O Zoom H6n destaca-se por ser um equipamento que evoluiu a partir da sua edição
anterior o Zoom H4n. A partir das dificuldades encontradas no equipamento anterior,
foram feitas adaptações e melhorias neste. Uma delas é a possibilidade de trocar o
microfone em padrão Y que na versão anterior era fixa. Com o microfone
intercambiável, diversas outras opções de microfones podem ser acopladas ao
equipamento, como microfones bidirecionais, shotgun, entre outros. O visor permite o
monitoramento durante a gravação de todos os canais de áudio simultaneamente. O
equipamento possui mais opções de filtros, além de botões analógicos para o controle
de ganho de cada canal individualmente com acesso fácil e rápido. Os botões de
ganho foram uma das mais importantes melhorias neste equipamento.
No cabo há uma capa externa, uma malha de blindagem que reveste o cabo, evitando
a entrada de ruído.
Fig. 22. 1- cabo XLR fêmea conectado ao microfone. 2. cabo XLR macho conectado ao
gravador. 3. Cabo TS conectado na saída do gravador. 4. Cabo TS conectado na entrada de
áudio da câmera.
E agora, qual sistema escolher? Que tipo de microfone? Quantas pessoas irão compor
a equipe? Estas escolhas devem ser tomadas antes da gravação e por isso é tão
importante a etapa de pré-produção, em que faremos um planejamento preciso para
que não haja imprevistos na hora de gravar as cenas.
UNIDADE III
3.1 Planejamento
Via de regra, o que todo técnico de som deseja são locações com baixo ruído e pouca
reverberação.
Quando uma análise prévia das locações não é feita, pode implicar na necessidade de
realizar a redublagem de partes do filme em pós-produção, o que implica em custos
adicionais. Por mais óbvio que pareça, e por mais que soe amador cometer tal
equívoco, estes ocorrem inclusive em grandes produções. Também existem casos em
que a equipe de som informa da complicação de determinada escolha de uma locação,
e ainda assim em termos de custo x benefício, fica mais barato redublar as vozes em
estúdio, do que escolher outra locação menos ruídosa. Sempre haverá esse jogo entre
o que se pode fazer em termos de captação de som e eventuais custos para
tratamento de som ou regravação posterior.
Um ponto importante a ser considerado durante a captação de som de uma cena, diz
respeito à direcionalidade do som e à sua variação de timbre. O Boom, por ser um
microfone ultradirecional, tem decaimentos quando a fonte sonora está fora do
ângulo de foco do microfone, isso significa que torna-se perceptível a diferença entre
uma fonte sonora que se posiciona na área de foco em relação a uma que não se
encontra nesta área. Assim, é possível perceber pelo som captado, se uma pessoa
encontra-se próxima ou distante da área em que o microfone está apontando. Por
exemplo: Uma cena em que dois atores conversam e um deles resolve ir até a cozinha
pegar algo. Lá de dentro da cozinha, ele pergunta por alguma coisa para o ator que
permaneceu no lugar. A intensidade da voz será mais baixa, o timbre sofrerá
alterações, assim como a reverberação de sua voz no espaço. Estas variações no som
ajudam o espectador a construir a imageticamente o espaço no qual a voz se insere,
mesmo que esteja fora do quadro. Essas características sonoras, captadas, dão o crivo
de realidade para aquele som.
Quando um ator utiliza um microfone de lapela, a relação entre a distância do
microfone e a fonte sonora, no caso a voz do ator, permanece a mesma. Portanto, por
mais que o ator se mova em cena, e transite por ambientes diversos em um mesmo
som captado pelo microfone não apresenta as variações, ou a dinâmica que o
take, o
boom propicia. Ou seja, a percepção de espacialidade e direcionalidade do som, são
reduzidas, quando não, totalmente anuladas, ao se escolher o uso do microfone de
lapela.
Mas há situações em que não há outra opção a não ser o uso do lapela. Cenas de
diálogo aliadas a uma direção que índica a escolha de planos abertos, são algumas das
cenas que demandam o uso deste tipo de microfone, uma vez que, neste caso, o boom
precisaria ficar disposto a uma distância relativamente grande da fonte sonora,
prejudicando a captação.
No entanto, não significa que ao se utilizar o lapela, a direcionalidade e ambiência do
som, não podem ser inseridas posteriormente. Na etapa de mixagem e edição é
possível trabalhar com filtros e efeitos, a fim de se obter um som próximo aquele
captado pelo boom.
É importante que saibamos que determinadas escolhas na captação de som, podem
implicar em um trabalho maior nas etapas seguintes. E isso tem um custo que deve ser
mensurado.
3.5 Estratégias.
Se dois microfones boom estiverem sendo utilizados, estes podem ser mixados e
enviados para um único canal do gravador. Canais de backup também podem ser
mixados, para a redução de inputs no gravador. Da mesma maneira, canais diversos
capturados pelos microfones de lapela também podem ser reduzidos por meio do
mixer. Cabe ao técnico de som escolher quais canais podem ser mixados, sem que
prejudique a gravação, e quais canais necessariamente precisam ser gravados em
canais separados.
Um mixer também possui filtros diversos, assim com medidores de pico (VU meter),
que apesar de existirem nos gravadores, é mais uma opção para controle e
monitoramento do som (figura 25).
Fig. 25 VU Meter (volume unit meter)
O mixer também pode ser utilizado quando se deseja enviar o sinal do gravador para a
câmera de vídeo. Neste caso, os canais de entrada são reduzidos para uma saída mono
ou estéreo enviada para a câmera. Quando o mixer é utilizado com este intuído, vale
lembrar que voltamos ao sistema simples, limitando a mobilidade do cinegrafista.
UNIDADE 4 - AJUSTES E EFEITOS
4.1 – Filtros
Na etapa de captação de som, há diversos filtros que podem ser utilizados para reduzir
ruídos, assim como para melhorar a captação da voz.
4.1.3 – Limiter
O Limiter é similar ao Compressor, no entanto, enquanto o compressor diminui o
volume a partir de um nível definido, o limiter reduz todo som com intensidade maior
do que a estabelecida para aquele patamar.
ADR é a sigla em inglês para Automated Dialog Replacement. Portanto uma técnica de
regravar o áudio para substituição ao áudio original gravado no set. Isso ocorre por
diversos motivos. O motivo mais comum é a impossibilidade de utilização do som
original em função de algum ruído que não pode ser retirado, ou em decorrência de
mal funcionamento do equipamento durante a gravação, ou até em função de algum
arquivo de áudio que tenha sido corrompido. Também pode ocorrer a redublagem,
para se obter outra interpretação do ator, sem que necessariamente seja gravada toda
a cena novamente. O ator pode repetir o texto com outras nuances e intenções,
melhorando sua performance, ou produzindo sentidos outros do que aqueles
alcançados na gravação original.
Por mais que o técnico de som faça um planejamento cuidadoso, há sempre a
possibilidade de imprevistos interferirem na captação de som. E quando esses
imprevistos impedem a captação do som de maneira plena, uma opção é recorrer ao
ADR.
4.4 Foley
Muitas vezes quando realizamos uma gravação de som em um set, alguns sons
eventualmente ficam muito menos presentes do que o desejado. Passos, objetos
manipulados em cena, como espadas, armas, ou objetos menos letais, como xícaras,
isqueiros, um cigarro sendo tragado, eventualmente precisam ter seus sons realçados,
pois numa situação seus sons são sutis quando não, imperceptíveis. A função do foley
é recriar determinados sons que não foram captados durante a filmagem, ou que
foram captados, mas não apresentam o destaque necessário. Portanto, o foley cria
sons, dando destaque a eles.
O Foley também pode ser utilizado para encobrir sons indesejados durante uma
filmagem, como por exemplo o som de uma avião. Desse modo, o foley contribui para
a experiência sonora do espectador, dando mais nuances à sonoridade do filme. Isso
porque como eventualmente na captação de som direto há uma preocupação
excessiva com a gravação das vozes, outros sons que não foram gravados no set de
filmagem, fazem-se necessários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Bibliográficas
Dacynger, Ken. Técnicas de edição para cinema e vídeo. Ed. Campus. São Paulo. 2007
Godoy, João. O método de trabalho do som direto. Mnemocine Editorial. Salto. 2014.
Disponível em
http://www.mnemocine.com.br/index.php/downloads/cat_view/99-som-no-cinema
Sítios da internet