RECICLAGEM – PEQUENOS GRUPOS 2020 – (Resumo do livro “Pequenos Grupos: Para a igreja
crescer integralmente”. Valberto da Cruz e Fabiana Ramos- Ultimato)
Yone Rodrigues Junior
O Dr. Russel Shedd disse o seguinte “Acredito que não há maneira melhor de formar
líderes dedicados, humildes e amorosos do que no ambiente do pequeno grupo que segue o
modelo bíblico...Pequenos grupos promovem mutualidade e convívio de família.”
O que é um Pequeno Grupo?
Quando falamos de Pequenos Grupos, fazemos distinção entre Igreja “templo” e PG. A
igreja “templo” é chamada assim pois reúne as pessoas em um local público para adoração
coletiva em um prédio. Não se trata de um templo porque somos cristãos, mas o modelo é de
um templo quando observamos o que havia no Templo de Jerusalém e no modelo de igreja
“Templo”.
O templo tem local fixo. Assim como os judeus iam ao templo de Jerusalém, assim os
crentes vão à igreja (embora a palavra igreja se refira às pessoas, entende-se aqui
igreja como o prédio onde as pessoas se reúnem).
O culto do templo possuía uma estrutura assim como a igreja.
No templo haviam sacerdotes e o povo, na igreja existe o pastor e o povo.
No templo somente os levitas e sacerdotes desempenham uma função, assim como na
igreja templo, muitos apenas assistem e não desempenham nenhum papel no culto da
igreja.
O Sábado do templo judeu como dia do Senhor passa a dominar as igrejas templos
com o Domingo e fazendo a igreja trabalhar apenas para este dia dentro do templo.
Vale lembrar que a igreja trabalha fora, com as pessoas, nas ruas, nas casas, no
trabalho etc.
PG um grupo pequeno de pessoas que tem como motivação um objetivo em comum.
Ele é formado por crentes e não-crentes reunindo-se nos lares geralmente semanalmente. Os
PGs propiciam a comunhão, afinidade, amor pelo próximo, discipulado e evangelismo. Estas
áreas não são contempladas na igreja modelo “templo”.
As igrejas adotam vários tipos de Pequenos Grupos:
PG evangelístico – O objetivo principal é ganhar pessoas para Cristo. O encontro dura
em torno de 1h.
o Dinâmica – Quebra-gelo, louvor, estudo e oração. Lanche opcional
PG de discipulado – Esse é um grupo mais fechado e visa o aperfeiçoamento das
pessoas, desenvolvimento do caráter cristão e habilidades ministeriais. O ingresso de
pessoas é feito por convite a cada um ano ou semestralmente. Duração de 2h.
o Dinâmica – Louvor, prestação de contas de tarefas aplicadas no encontro
anterior, compartilhamento e oração.
PG Híbrido – Este grupo tem tanto o discipulado como o evangelismo. É aberto a todos
e sua única restrição é volume de pessoas. Tem 1h de duração.
o Dinâmica – apresentação, louvor, estudo bíblico, compartilhamento de
necessidades e oração.
PG de restauração – Esse grupo trata pessoas feridas: abuso sexual, vícios, divórcio etc.
Este grupo necessita da presença de profissionais como psicólogos e pastores.
Base Bíblica
PG não é modismo, não é uma descoberta ou uma invenção, ele aparece como modelo
tanto no AT como no NT. Um dos exemplos mais marcantes no AT de cuidado e liderança é o
conselho de Jetro à Moisés sobre como aliviar sua carga de líder e lideras com mais eficácia o
povo de Deus:
“E tu dentre todo o povo procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que
odeiem a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de
cinqüenta, e maiorais de dez; Para que julguem este povo em todo o tempo; e seja que todo o
negócio grave tragam a ti, mas todo o negócio pequeno eles o julguem; assim a ti mesmo te
aliviarás da carga, e eles a levarão contigo. Se isto fizeres, e Deus to mandar, poderás então
subsistir; assim também todo este povo em paz irá ao seu lugar.” (Êx 18.21-23).
Além disto, se olharmos para Jesus veremos que Ele se apropriou de um grupo
pequeno para discipular. Este grupo foi responsável pelo progresso da igreja depois de sua
morte. Jesus pregou tanto nas sinagogas como nas casas e ao ar livre.
Jesus dando instruções em casa (Mc 4.10-20;7.17;9.28, 33-37;10.10-12; 14.17-
25;16.14-18), também na casa de fariseus e amigos (Mc 14.3-9; Lc 7.36-50; 10.38-42;
14.1-14) além de ensinar na casa de pecadores (Mt 8.14; Mc 1.29-31; Lc 15.1-31; 19.5-
10).
Devemos olhar para o PG como uma forma de facilitar o evangelho às pessoas bem
como o discipulado de forma eficaz. O PG não pode ser visto como uma obrigação ou
imposição, do contrário nunca será um instrumento de discipulado e evangelismo.
Foi na casa de Jairo que Jesus ressuscitou sua filha e só estavam Jesus, Pedro, Tiago,
João e os pais da menina (Mc 5.37-43). Foi nas casas que Jesus também ministrou às mulheres
que eram dominadas por uma cultura machista (Lc 8.36-50; 10.38-41; Mc 14.3-9; Jo 12.3).
Jesus usou as casas como centro de ensino, discipulado, evangelismo, cura, intimidade e
serviço.
A igreja do NT começou a separar cada vez mais do judaísmo começando por seu líder
ter morrido na cruz como um bandido. A circuncisão foi sendo abandonada bem como os
sacrifícios. Enquanto os judeus ainda desfrutavam da proteção do império romano, os cristãos
cada vez mais eram marginalizados e vistos como um grupo diferente, inclusive o império
passou a ver como uma ameaça esse grupo de pessoas. As reuniões nos lares foram a única
alternativa da igreja primitiva e sem as casas talvez não teríamos a igreja de hoje.
Além disto, temos os relatos históricos que mostram o uso de Pequenos Grupos:
No século 17, Philip Jakob Spener (1635-1705) criou um grupo chamado “reunião
piedosa” (collegia pietatis) onde os membros se reuniam duas vezes por semana para
orar e estudar a Bíblia.
Logo depois temos John Wesley, líder do movimento metodista que começou grupos
liderados por pessoas leigas (as famosas reuniões de classe). Wesley criou uma
estrutura que promoviam comunhão genuína, assistência social e a comunicação do
evangelho.
Paul Yonggi Cho criou os “grupos familiares” tento uma das igrejas mais famosas no
mundo dentro deste modelo
Como as pessoas entendem o que é igreja:
Nos dias de hoje, igreja é ter terreno e um prédio. É guardar o Domingo ou concentrar
a vida da igreja à este dia dentro do prédio. É ali que as pessoas esperam que os outros sejam
convertidos, é ter um clero, sacerdotes que nos levam a Deus e traz Ele até nós. O pastor é o
profeta, sacerdote e está praticamente entre a igreja e Deus. Isto é um conceito errado de
igreja.
A palavra igreja (ekklesia) tem a ideia de “chamar”, “chamar para fora”, “convocar”.
São as pessoas e não o prédio. Esta igreja não funciona só de Domingo, mas o tempo todo. Ela
não possui um sacerdote, mas todos os crentes são sacerdotes. Ela não se limita ao culto, ela
ensina, encoraja, ajuda, exorta, ora entre seus participantes. Todos são instrumentos de Deus
na vida do outro.
A igreja templo é incapaz de mover-se, falta comunhão, promove muitas vezes o
orgulho e divisões de classe na igreja. O PG promove evangelização, comunhão e discipulado.
Deve ficar claro que não estamos dizendo que a igreja templo é errado, de forma alguma. A
igreja templo reúne os cristãos para adoração coletiva e a ministração de forma homogênea da
Palavra. Errado é dizer que foi só para este tipo de igreja que Jesus nos chamou.
Vantagens do PG
Já falamos muito sobre as vantagens, mas vamos resumir aqui as principais:]
O PG proporciona real comunhão entre as pessoas, fortalece vínculos de amizade e
gera um sendo de responsabilidade de uma para com outro. A igreja templo não é
feita para isto.
O PG revela dons espirituais, treina, capacita e promove o crescimento de cada cristão.
No PG a reunião tem por objetivo adorar a Deus, compartilhar a fé e encontrar apoio
no grupo para suas dificuldades.
O PG é o elo entre a igreja do Senhor e o não-crente. É muito mais fácil convidar
alguém para um estudo e bate-papo em uma casa do que ao ambiente religioso de
uma igreja.
O pastoreio pode ser compartilhado como vimos no exemplo de Jetro.
É o único modelo de igreja capaz de suportar perseguições. A igreja templo se fecha,
mas a igreja viva continua atuando nos lares.
O objetivo do PG
A igreja precisa crescer em quantidade e também em qualidade. Chamamos de
crescimento integral quando ela atinge as duas dimensões. O PG não pode ser entendido com
mais uma atividade na agenda da igreja mas como a reunião dos santos, como organismo
espiritual com o propósito de consolidar o Reino de Deus e a restauração da criação em
Cristo Jesus.
Seja sincero: Se apenas frequentamos os cultos aos Domingos estas coisas são feitas?
Você acredita que ser igreja é apenas ter um endereço, um prédio, um pastor, e participar de
um culto? Essa é a missão da igreja? Como ela alcança os perdidos? Como ela realiza a missão
de Deus?
A igreja precisa crescer integralmente em 4 áreas:
Crescimento numérico – este crescimento vem pelo trabalho do povo de Deus ao
proclamar o evangelho.
Crescimento orgânico – este crescimento é o desenvolvimento da comunidade, ele é
interno. Ele se refere ao desenvolvimento de líderes, recursos, talentos e comunhão.
Crescimento conceitual – fala da consciência da razão de ser da igreja, sua
compreensão das Escrituras e qual seu papel enquanto igreja na sociedade.
Crescimento diaconal – fala do envolvimento da igreja com os problemas do mundo
(questões sociais) e sua prática que demonstra o amor de Deus à sociedade.
Uma igreja deve crescer quantitativamente e qualitativamente. O crescimento é
integral quando pode atingir às quatro áreas que mencionamos aqui. Se estivermos de olho
apenas em número, poderemos fazer campanhas e outros chamarizes para encher a igreja,
porém, isso não fará com que estas pessoas tenham um relacionamento sincero com Deus e
possivelmente nem a certeza da salvação.
Uma igreja que prioriza o ensino pode formar crentes maduros na Palavra, mas sem a
dimensão diaconal. Uma igreja cresce de forma sadia se levar o povo de Deus a entender o seu
papel enquanto igreja, compreender com profundidade o seu Deus e descobrir o que precisa
fazer ou desenvolver enquanto servo de Deus. Os PGs tem condições de levar a igreja a
desenvolverem estas áreas.
O PG que faz a igreja crescer integralmente
A primeira coisa que devemos pensar é “qual é nosso objetivo”? Um PG que ajuda sua
igreja crescer quantitativamente e qualitativamente é uma igreja que prioriza a evangelização
e o discipulado. Esse tipo de grupo não deve passar de 15 pessoas para que não seja
comprometido o discipulado.
Se a intenção é desenvolver os crentes em um ambiente acolhedor, levando a
participação e envolvimento, um grupo muito grande prejudicará este desenvolvimento. A
multiplicação é uma benção e mostra que a igreja está com saúde espiritual. As pessoas não
precisam olhar para a multiplicação como “divisão” ou perder os amigos. Quando olhamos
apenas a kononia nos esquecemos da missão da igreja “Ide e fazei discípulos, ensinando e
batizando”.
O PG precisa ser um local acolhedor, de confiança e comprometimento um para com
os outros. É uma reunião de amigos. Não podemos tornar a reunião mecânica “agora isso,
agora aquilo, agora é a vez”, vamos ser naturais. Quem está liderando o PG apenas dá um sinal
para quem vai fazer o quebra-gelo e deixe a reunião seguir seu curso.
Estratégias que podemos repensar:
Evangelização. Ao convidar uma pessoa para o seu PG, lembre a pessoa uma hora
antes, não fique triste se a pessoa lhe disser não. No final, faça um pratinho com os alimentos
que os irmãos levaram no PG e leva ao vizinho. Diga para ele que vocês oraram por ele e
entregue o pratinho. Faça isto quantas vezes precisar.
Quebra-Gelo. Sempre temos problemas com o quebra-gelo pois acabamos
transformando este momento em dinâmica de grupo e não é este o propósito. A Dinâmica de
grupo serve para ensinar algo ao grupo, o quebra-gelo é as “boas vindas”, pode ser feita
qualquer pergunta ao grupo.
Pense comigo, se você recebe uma visita em sua casa, você não fará um dinâmica de
grupo, certo? As vezes perguntamos “como você está?”. Em um PG, podemos fazer perguntas
simples “como foi a semana de vocês?”. Ou usar algum evento ou acontecimento comum a
todos “O que vocês acharam do chá de mulheres?” ou “Vocês viram a enchente de São
Paulo?”.
Claro, quem faz o quebra-gelo não deve omitir uma opinião, mas deixar as pessoas
falarem. Não seria legal dizer “vocês viram o Lula? Ele merece ir preso!”. Este tipo de opinião
divide o grupo e situações que causam divisão não é bom comentarmos. O quebra-gelo serve
unicamente para aquietar e nivelar os ânimos de cada um.
As dinâmicas de grupo podem ser usadas na edificação ou em PGs de jovens, crianças
e adolescentes. Mas Quebra-gelo é uma pergunta ou comentário comum que espera uma
opinião ou relato das pessoas. Em um quebra-gelo que se pergunta “como foi a semana de
vocês” podemos descobrir necessidades que precisamos agir.
Perguntas simples como “o que você gosta de fazer nas horas vagas?” fará com que os
membros do grupo tenham mais intimidade. Pense em perguntas que um crente e um não-
crente possa responder. Uma pergunta do tipo “resuma em uma frase o que é felicidade” pode
mostrar pessoas que estão sofrendo. O PG precisa ser sensível e ir de encontro ao sofrimento
e necessidade.
Louvor. O louvor é uma tarefa importante, adorar a Deus com qualquer coisa de
qualquer forma é um desrespeito ao Senhor. Um visitante pode aprender algo muito errado
sobre Deus. Mesmo que não se tenha instrumentos, pode-se cantar a capela e batendo
palmas.
É possível adquirir um aparelho de som e conseguir playbacks, mas as músicas devem
ser pensadas, devem ser escolhidas com oração. O PG está formando o caráter cristão nas
pessoas, está desenvolvendo dons e desenvolvendo ministérios, não podemos permitir que o
momento do louvor seja feito de qualquer forma.
Deve-se encarregar uma pessoa com esta responsabilidade
A pessoa deve orar e pedir a orientação do Espírito Santo para escolher as canções
A pessoa pode falar, caso queira, a razão de ter escolhido a música. Claro que a razão
não pode ser porque ela tem um ritmo bacana ou porque a voz do cantor lhe agrada.
Se a pessoa orou, deve ter suas razões e se quiser compartilhar, ela pode fazê-lo desde
que não demore.
Não é necessário cantar 3 cânticos, pode ser 2. Se houve um visitante e pedir para uma
música (cristã, claro) não há nada demais em fazê-lo, afinal, vocês estão reunidos para
compartilharem a fé, é um grupo de amigos, irmãos em Cristo, não é um culto rígido, é
uma casa.
Peça sempre para igreja levantar no momento do louvor, estimule dar as mãos, ou
bater palmas, fechar os olhos (claro que cada ação tem que ter relação com o
propósito da música escolhida).
Façam um repertório com as músicas, tenham as letras para os visitantes. No Youtube
existem os playbacks.
Edificação. Sobre o assunto a ser ensinado, podemos ainda adotar a pregação, mas ela
precisa ser colocar em forma de estudo e envolvendo as pessoas do PG. Para isto, teremos um
treinamento aos líderes e auxiliares (futuros líderes) sobre o Método de estudos Indutivo,
onde se ensina através de perguntas ao invés de ler um conteúdo.
O método indutivo leva as pessoas a participarem mais e a construírem juntas as
respostas, ajudando assim o aprendizado a aplicação das verdades bíblicas em suas vidas. Essa
transformação na vida leva à evangelização e a evangelização leva ao discipulado.
No método indutivo se pode estudar os textos da Bíblia de modo a levar os
participantes do grupo a descobrir o significado do texto e como ele se aplica a vida da pessoa.
A princípio, vamos selecionar literaturas especificas par PG para ir pegando o jeito, mas depois,
selecionaremos os textos diretamente da bíblia. Veja como ficaria um estudo indutivo:
Texto: Lc 19.1-9
Assunto: Arrependimento
Tema: O verdadeiro Arrependimento
Perguntas:
1. O que você sente quando se arrepende de algo que fez?
2. Segundo o texto, como se evidenciou o arrependimento na vida de Zaqueu?
3. Que resultados o arrependimento produziu na vida de Zaqueu?
Os PGs só estarão usando a Bíblia como estudos quando os líderes tiverem feito curso
de método indutivo. Enquanto isto, usaremos livros próprios pra PG com temas focados em
cada realidade do grupo. Os membros podem escolher que tipo de assunto gostariam de
discutir e então é preparado este material para o estudo.
Quem vai fazer o estudo deve ter compromisso com a Bíblia, ter hábito de leitura e
oração.
As casas. Um dos grandes problemas que temos enfrentado nos PGs é a dificuldade
de ter uma casa aberta. Irmãos, na igreja primitiva era um privilégio entrar em uma casa ou
abri-la para o Senhor Jesus.
Quando visitarmos uma casa, devemos oferecer ajuda para lavar uma louça, recolher o
lixo e arrumar as cadeiras. A visita do PG deve ser prazerosa.
A alimentação deve ser de obrigação de que visita e não de quem recebe. As vezes
uma pessoa pode não abrir sua casa por não ter o que oferecer. Se os irmãos levam, além de
não ser um peso para a pessoa ainda será uma benção em sua casa. Aliás, se o PG perceber
estas necessidades, devem se reunir e ajudar esta família.
Jovens e adolescentes. O certo seria termos um PG apenas para eles, com dinâmicas e
ajudando-os a crescer como cristãos, mas infelizmente não é a nossa realidade. Por enquanto,
podemos fazer os dois encontros ao mesmo tempo, mas quando os grupos de adultos e
adolescentes se separarem os jovens e adolescentes que forem aos PGs de adultos deverão
participar com os adultos.