Apostila PATOLOGIA E REFORÇO DE FUNDAÇÕES

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PATOLOGIA E REFORÇO DE FUNDAÇÕES

Profª Neusa Maria Bezerra Mota


[email protected]

A ocorrência de patologias nas fundações em obras civis tem sido observada e reportada
com freqüência no Brasil e no exterior. Alguns casos clássicos como a Torre de Pisa
(Itália) e a Cidade do México fizeram a fama de determinados monumentos e locais,
tendo sido extensivamente estudados e apresentados em publicações técnicas como por
exemplo Lizzi (1982).
.
No Brasil, destacam-se as edificações da cidade de Santos (São Paulo) e do litoral de
Santa Catarina pelos desaprumos apresentados, também com referências em inúmeras
publicações especializadas. Estudo de casos podem ser encontrados em Cunha, et al.
(1996).

As patologias são decorrentes das incertezas e riscos inerentes à construção e a vida útil
de uma edificação e que devido aos inconvenientes causados pelo seu aparecimento fica
claro a importância de serem evitadas, nas várias etapas da vida de uma fundação.

No entanto, o reforço se faz necessário nas situações extremas, em que as fundações


existentes se mostrem inadequadas para o suporte das cargas ou, ainda, quando ocorre
aumento no carregamento e este novo valor não pode ser absorvido sem riscos e
reduções consideráveis nos coeficientes de segurança. Em geral, a execução de reforço
em fundação é um trabalho oneroso e causador de transtornos aos usuários da obra,
exigindo que se realizem estudos e orçamentos cuidadosos para uma avaliação
adequada da viabilidade e conveniência de tais serviços.

A presente apostila mostra, de forma bastante resumida, os problemas de fundações que


costumam ocorrer e suas origens. Também apresenta a natureza e tipos de intervenções
existentes para o sistema solo-fundação-estrutura, com vistas a modificar seu
desempenho.

O tema é bastante amplo e esta apostila deverá servir apenas como roteiro de estudo.
Mais detalhes sobre o tema pode ser obtido nas bibliografias recomendadas, que
serviram como referência na elaboração deste trabalho.
1.0 PROBLEMAS RELATIVOS A ANÁLISE E PROJETO

A análise de um problema de fundações ocorre a partir da determinação das solicitações


ou cargas de projeto e da adoção de um modelo de subsolo, obtidos com base em
investigações geotécnicas. Essas informações são interpretadas à luz do conhecimento
estabelecido sobre o comportamento do solo sob carga, ou transmissão de esforços à
massa de solo. Freqüentemente os principais problemas que ocorrem na fase relativa à
análise e elaboração de um projeto de fundação envolvem (Milititsky et al. 2005):

 O comportamento do solo;
 Os mecanismos de interação solo-estrutura;
 O desconhecimento do comportamento real das fundações;
 A estrutura de fundação;
 As especificações construtivas;
 Fundações sobre aterros.

A seguir apresenta-se as etapas de projeto de fundações e as possíveis causas de


patologias (Figura 1.1).

Conceitos básicos da Recalques: efeitos e


Capacidade de carga
mecânica dos solos valores admissíveis

Comportamento do solo
Ausência Patologia de
fundações Interação solo x estrutura
Falha ou insuficiência Análise e cálculo
Interpretação inadequada Especificações

Investigação Análise e
do subsolo projeto

Execução Eventos pós-


conclusão

Alteração de uso e carregamento


Tipo de fundação:
Movimentos de massa:
Superficiais e profundas
Fatores externos
Vibrações e choques
Degradação

Figura 1.1 - Fluxograma das etapas de projeto e possíveis causas de patologias


(Milititsky et al. 2005).
2.0 INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

A investigação do subsolo é a causa mais freqüente de problemas de fundações. Na


medida em que o solo é o meio que vai suportar as cargas, sua identificação e a
caracterização de seu comportamento são essenciais à solução de qualquer problema.

Patologias decorrentes de incertezas quanto às condições do subsolo:

 Ausência de investigação;
 Investigação insuficiente
 Investigação com falhas (má qualidade);
 Interpretação inadequada dos dados do programa de investigação.
 Casos especiais: influência da vegetação, colapsividade, expansibilidade, zonas
de mineração, zonas cársticas (rochas calcárias ou dolomíticas) e ocorrência de
matacoes.

2.1 PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO

a) Programa Preliminar: normalmente desenvolvido com base no SPT, segundo a


NBR 6484 (ABNT, 2001).
b) Programa Complementar: depende das condições geotécnicas e estruturais do
projeto, podendo envolver tanto ensaios de campo (cone, piezocone,
pressiômetro, palheta, sísmica superficial, etc) como de laboratório
(adensamento, triaxiais, cisalhamento direto, dentre outros).

Mais detalhes sobre estas técnicas e procedimentos pode ser obtido em Schnaid (2000) e
Souza Pinto (2001).

3.0 PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES

3.1 MANIFESTAÇÕES DE MAU DESEMPENHO

Quando há mau desempenho de uma fundação, aparecem manifestações decorrentes


deste fato através de danos que podem ser verificados nas peças de fundação e na obra
como um todo.

NAS PEÇAS DE FUNDAÇÃO:

i. Deterioração dos materiais que as compõem, com a conseqüência perda de


resistência.
ii. Ocorrência de deformações excessivas, perda de recobrimento da armadura,
oxidação das barras de aço, esmagamentos, rupturas e fissuras nas peças em
concreto armado.
iii. Degradação das superfícies de concreto, sendo os principais mecanismos de
degradação a carbonatação, lixiviação, retração, fungos e concentração salina.
iv. Reação álcali-agregado que ocorre entre os álcalis ativos disponíveis no concreto e
alguns minerais presentes em certos tipos de rocha que, em condições particulares
ambientais, provocam a deterioração do concreto (fissuras, deslocamentos e perda
de resistência mecânica) pela ação de reações expansivas.
v. Oxidações e/ou corrosões nas estacas metálicas.
vi. Ocorrência de apodrecimento e a degradação da madeira (ataques biológicos,
mudanças físicas e químicas) principalmente na região do topo, com perda de
material nas estacas de madeira.

NA OBRA:

i. Recalques.
ii. Desaprumos.

3.2 TIPOS DE DANOS

DANOS ARQUITETÔNICOS – comprometem a estética da edificação.

 Trincas em paredes e acabamentos;


 Recalques em pisos;
 Rompimento de painéis de vidro ou mármores;
 Desaprumo de edifícios;
 Desaprumo de murros de arrimo, etc.

O reforço é opcional, pois não há risco de segurança (estabilidade da construção).

DANOS FUNCIONAIS – comprometem a utilização da edificação.

 Desgaste excessivo dos trilhos-guia de elevadores;


 Inversão de declividades de pisos;
 Refluxo ou ruptura de tubulações de rede de esgotos e/ou águas pluviais;
 Mau funcionamento de portas e janelas (emperramento);
 Aparecimento de trincas por onde pode passar umidade;
 Em pisos industriais prejuízos na operação de máquinas, empilhadeiras,
estocagem de materiais, etc.

A partir de certos limites, será necessário o reforço, uma vez que podem advir
transtornos no uso da construção.

DANOS ESTRUTURAIS – comprometem a estabilidade da estrutura.

 Vigas;
 Lajes;
 Pilares.

O reforço é sempre necessário, pois sua ausência implica instabilidade da construção,


podendo até mesmo levá-la ao colapso.

3.3 CAUSAS DOS DANOS

Causas prováveis (fatores de grande risco) para o mau desempenho de uma fundação:

 Incertezas quanto às condições do subsolo, conforme item 2.0;


 Avaliação errônea dos valores dos esforços provenientes da estrutura (sub-
dimensionamento);
 Adoção inadequada da tensão admissível do solo ou da cota de apoio das
fundações;
 Modelos inconvenientes de cálculo das fundações;
 Cálculo estrutural incorreto;
 Má execução por imperícia ou má-fé da mão de obra, seqüência construtiva
inadequada, má qualidade dos materiais empregados;
 Influências externas (escavações ou deslizamentos não previsíveis, agressividade
ambiental, enchentes, construções vizinhas, descalçamento das fundações por
escavações vizinhas);
 Modificação no carregamento devido a mudança de utilização da estrutura
(acréscimos – ampliação de áreas), efeito piscina (entupimento de drenos),
sobrecargas não previstas;
 Ventos em galpões industriais;
 Falha de manutenção em obras críticas.

4.0 CONCEITOS BÁSICOS RELATIVOS A RECALQUES

Segundo Teixeira e Godoy (1998) na maioria dos problemas práticos, o projeto de


fundação é governado por considerações de recalques. Os valores limites citados na
literatura são variáveis de acordo com o tipo e função da superestrutura.

O problema é complexo e envolve: características do subsolo, tipo e porte da estrutura e


os materiais empregados.

Os recalques têm sido estabelecidos de maneira empírica; sendo baseados em casos de


obra em que os recalques da fundação foram observados.

4.1 TIPOS DE MOVIMENTOS EM FUNDAÇÕES

As Figuras 4.1 e 4.2 apresentam pontos quaisquer de uma fundação, podendo


representar pontos ao logo de uma sapata corrida, sob um radier ou quatro pilares de
uma estrutura sendo monitorada. Com base nas figuras defini-se os seguintes
movimentos de uma fundação:

Recalque (S) – é o deslocamento total sofrido por qualquer ponto de fundação: (SA, SB,
SC = Smáx, SD);
Inclinação (ω) – descreve a rotação em corpo rígido de toda a estrutura;

Recalque Diferencial (δ) – diferença de recalques entre dois pontos, após eliminação do
recalque uniforme e da rotação: (δAB, δCD , δBC);
Distorção angular (β) – é a rotação da linha ligando dois pontos, depois de descontado o
desaprumo:
βAB = δAB/LAB
βCD = δCD/LCD
βBC = (δCD – δAB) /LBC
w

A B C D
SA Recalque Uniforme

w SD
Inclinação
SB
SC

Figura 4.1 – Perfil dos recalques totais.

LAB LBC LCD

A β AB D
δAB
δCD

B βCD

Figura 4.2 – Perfil dos recalques diferenciais após eliminação do recalque uniforme e da
inclinação.

RECALQUE UNIFORME:
 Típico de estruturas rígidas e terreno uniforme;
 A estrutura praticamente não sofre;
 Danos funcionais e estéticos;
 Ruptura das redes externa;
 Alteração nos passeios e calçadas.

INCLINAÇÃO UNIFORME:
 Típico de estruturas rígidas e terrenos linearmente desuniforme;
 Recalques linearmente desuniforme;
 Estrutura sofre pequenos danos;
 Desaprumos.

RECALQUES DIFERENIAIS – DISTORÇÕES ANGULARES


 Solos heterogêneos;
 Recalques distorcionais;
 Estrutura sofre danos e fissurações.
4.2 MOVIMENTOS LIMITES DE FUNDAÇÕES

A fixação dos limites aceitáveis para os movimentos de uma fundação esbarra na


enorme dificuldade de se avaliar a interação fundação-estrutura e na quantidade de
materiais envolvidos nas construções.

Os valores apresentados a seguir devem ser interpretados como indicativo e foram


baseados em um número limitado de casos.

Na Figura 4.3 são apresentados os critérios de Bjerrum (1963) apud Teixeira & Godoy
(1998), que procuram estabelecer limites para a distorção angular em função de vários
tipos de danos.

 β = 1/500: limite seguro para evitar danos em paredes de edifícios.


 β = 1/300: limite a partir do qual começam aparecer trincas em paredes de
edifícios.
 β = 1/150: limite a partir do qual pode esperar danos estruturais em edifícios
correntes.

δ
Distorção Angular β=
L
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Limite para o qual deve-se temer


problemas com máquinas sensíveis a
recalque

Limite de perigo para estruturas


aporticadas com diagonais

Limite seguro para edifício para o qual não é


permitido o aparecimento de fissuras

Limite onde deve-se esperar a primeira trinca


em paredes de alvenaria
Limite onde são esperados problemas com
pontes rolantes

Limite onde o desaprumo de edifícios altos


pode se tornar visível

Trincas consideráveis em paredes de alvenaria de tijolos


Limite seguro para paredes flexíveis de alvenaria com H/L<1/4
Limite onde deve-se temer danos na estrutura de edifícios comuns

Figura 4.3 – Critérios de danos (Bjerrum 1963 apud Teixeira & Godoy, 1998).
4.3 CONTROLE DE RECALQUES

O controle de recalque é recomendado quando:

 Existem dúvidas referentes ao comportamento de uma fundação;


 O projeto apresenta aspectos especiais;
 É necessário acompanhar seu desempenho, em razão de escavação de grande
porte próxima.

O procedimento consiste na medida de forma regular, com equipamento topográfico de


precisão ligado a um bench mark ou marco de referência, da evolução dos recalques
com o tempo ou com os estágios de carregamento (ABNT NBR 9061/1981). As
medidas são realizadas, sendo os resultados apresentados em gráficos tempo versus
recalque.

4.4 CONTROLE DE VERTICALIDADE

O controle de verticalidade dos prédios é comum quando se executam escavações nas


proximidades de edificações, como forma de acompanhar os efeitos produzidos. Refere-
se à leitura periódica de verticalidade realizada com aparelho topográfico de precisão,
sempre nos mesmos pontos, resultando em planilhas e gráficos.

No monitoramento devem ser considerados os efeitos da temperatura nos elementos da


obra, sendo preferível que as leituras sejam sempre realizadas pelo mesmo operador, na
mesma hora, podendo haver caso contrário uma superposição de efeitos de difícil
avaliação.

4.5 CONTROLE DE TRINCAS

O controle de trincas é outra forma usual de acompanhamento de patologias e consiste


no controle sistemático de abertura e extensão de trincas, como forma de caracterizar a
gravidade do problema e seu aspecto ativo ou estabilização. As medidas podem ser
realizadas com paquímetro ou fissurômetros.

Segundo Milititsky, et al. (2005) é importante acompanhar a progressão das trincas e


sua dimensão utilizando várias propostas de descrição de sua severidade, como
apresentado nas Tabelas 4.1 e 4.2.
Tabela 4.1 – Classificação de danos em paredes (National Coal Board, 1975; Boscardin
e Cordingm 1989; Burland, 1995; CIRIA, 2003 apud Milititsky, et al., 2005).
LARGURA LIMITE DE
CLASSE DE APROXIMADA DEFORMAÇÃO
DESCRIÇÃO DE DANOS
DANOS DAS TRINCAS POR TRAÇÃO
(mm) (%)
Desprezíveis Trincas capilares. < 0,1 0 – 0,05
Trincas estreitas de fácil reparo
Muito
Trincas na alvenaria externa, visíveis sob <1 0,05 – 0,075
pequenos
inspeção detalhada.
Trincas facilmente preenchidas.
Várias fraturas pequenas no interior da
edificação.
Pequenos Trincas externas visíveis e sujeitas à <5 0,075 – 0,15
infiltração.
Portas e janelas emperrando um pouco nas
esquadrias.
O fechamento das trincas requer
significativo preenchimento. Talvez
necessária a substituição de pequenas áreas de 5 a 15 mm ou
Moderados de alvenaria externa. várias trincas com 0,15 – 0,3
Portas e janelas emperradas. mais de 3 mm
Redes de utilidade podem estar
interrompidas.
Necessidade de reparos envolvendo
remoção de pedaços de parede,
de 15 a 25 mm e
especialmente sobre portas e janelas
também em função
Severos substancialmente fora do esquadro. > 0,3
do número de
Paredes fora do prumo, com eventual
trincas
deslocamento de vigas de suporte.
Utilidades interrompidas.
Reparos significativos envolvendo recons- Usualmente > 25
trução parcial ou total. Paredes requerem mm, mas depende
Muito severos -
escoramento. Janelas quebradas. Perigo de do número de
instabilidade. trincas

Tabela 4.2 – Classificação inglesa de danos em edifícios (Thornburn e Hutchinson,


1985 apud Milititsky, et al., 2005).
GRAU DE DANO EFEITO NA
ABERTURA
ESTRUTURA E
DE FISSURA COMERCIAL OU
RESIDENCIAL INDUSTRIAL USA DA
(mm) PÚBLICO
EDIFICAÇÃO
< 0,1 Insignificante Insignificante Insignificante Nenhum
0,1 a 0,3 Muito leve Muito leve Insignificante Nenhum
0,3 a 1 Leve Leve Muito leve Estético apenas
Estético; acelera
1a2 Leve a moderado Leve a moderado Muito leve efeitos da ação
climática externa
2a5 Moderado Moderado Leve O uso da edificação
Será afetada; valores
5 a 15 Moderado a severo Moderado a severo Moderado
no limite superior
Severo a muito Severo a muito Podem pôr em risco a
15 a 25 Severo a muito severo
severo severo estabilidade
Cresce o risco da
Muito severo a
> 25 Severo a perigoso Severo perigoso estrutura torna-se
perigoso
perigosa
5.0 VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO DAS
FUNDAÇÕES

Os principais objetivos do controle de qualidade das fundações consistem:

a) Na integridade da fundação e sua resistência como elemento estrutural;


b) Na rigidez e a resistência do sistema solo-estrutura de fundação.

As questões básicas referem-se aos critérios de escolha, tipos e número de ensaios a


realizar durante e após a construção.

A verificação de desempenho é mais difícil de ser realizada nas fundações do que em


qualquer outra etapa da obra. As principais causas dessa dificuldade são: a
complexidade e a heterogeneidade dos solos e de suas características; a impossibilidade
de visualização das fundações após sua execução; e as incertezas e dificuldades
inerentes a ensaios de campo.

Esses fatores que dificultam a verificação do desempenho das fundações servem


também para comprovar sua necessidade, pela incerteza que existe, em maior ou menor
grau, nos métodos executivos dos diferentes tipos de fundações. (Niyama et al., 1998).

A NBR 6122 (ABNT 1996) descreve detalhadamente as características que devem


apresentar os diferentes tipos de fundações, advindo daí controle, verificações e
observações a serem realizados durante a execução das fundações. Para fundações
profundas recomenda-se, ainda, a publicação da Associação Brasileira de Empresas de
Fundações e Geotecnia, ABEF (2004).

5.1 PROVAS DE CARGA ESTÁTICAS

A finalidade do ensaio de carregamento estático é a determinação da carga de ruptura do


sistema. A prova de carga, principalmente a estática, é o meio mais confiável e
indiscutível de avaliar esta carga, apesar do progresso alcançado nos métodos semi-
empíricos. O ensaio consiste no carregamento do elemento de fundação em incrementos
progressivos de carga aplicada no topo com a medida dos deslocamentos
correspondentes, obtendo-se a curva carga-deslocamento, conforme NBR-12131
(ABNT, 1991).

A realização de provas de carga em elementos de fundações profundas instrumentados


com extensômetros de resistência tem contribuído para o conhecimento dos regimes de
tensão e deformação ao longo do fuste e na base. Com as leituras da instrumentação da
fundação, determina-se a carga correspondente em cada seção instrumentada, e os
gráficos de transferência de carga em função da profundidade, para cada estágio de
carga e descarga. Conhecidos os valores da carga de cada nível da seção instrumentada,
determina-se sua tensão lateral em cada trecho, a resistência lateral e a curva da
mobilização da resistência em função de seu deslocamento. Obtém-se também a curva
mobilizada da resistência de ponta da estaca em função do deslocamento. Resultados de
prova de carga instrumentada podem ser obtidos em Mota (2003).

A forma da curva carga-deslocamento depende da geometria (comprimento e diâmetro


do elemento de fundação e das espessuras das camadas de solo) e da reologia dos
diferentes materiais componentes deste sistema. A reologia é caracterizada pela forma
da curva tensão-deformação-tempo obtida em laboratório.

5.2 PROVAS DE CARGA DINÂMICAS EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A prova de carga dinâmica é um ensaio em que, a partir da aplicação de um


carregamento dinâmico axial, de qualquer espécie, pretende obter a estimativa da
capacidade de carga estática do sistema estaca-solo. A análise do processo é feita com
base nos fundamentos da teoria da equação da onda, aplicada à cravação ou à
recravação de uma estaca.

O ensaio de carregamento dinâmico tradicional consiste na aplicação de um ciclo de


impactos com energia constante, ou seja, com um peso caindo de uma mesma altura
sobre um conjunto de amortecimento colocado sobre o sistema fundação-solo. Neste
ensaio, registram-se os sinais de força e velocidade para cada golpe com o equipamento
PDA (Pile Driving Analyser). A análise é feita para um carregamento, ou seja, um
impacto que seja considerado representativo do ensaio cíclico.

Em 1989 o Prof. Aoki iniciou uma nova metodologia denominada de ensaio de


carregamento dinâmico de energia crescente. Este ensaio é realizado com a aplicação de
impactos do martelo de alturas crescentes de queda (bate-estacas), e registros em campo
com o equipamento PDA.

Obtém-se a resistência estática mobilizada em cada golpe (RMX) e o deslocamento


máximo descendente (DMX), na seção onde foram instalados os transdutores. Dessa
forma, determina-se uma curva de RMX versus DMX similar à curva carga-recalque
obtida em uma prova de carga estática. Maiores detalhes podem ser obtidos na NBR-
13208 (ABNT, 1994) e Foá (2001)

A interpretação do ensaio pode ser feita pelo Método Case (teoria de impacto de dois
corpos rígidos) e Métodos com base na teoria da equação de onda (problema inverso).

5.3.VERIFICAÇÃO DA INTEGRIDADE EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS

O ensaio de carregamento dinâmico, como visto anteriormente, além de promover a


avaliação da capacidade de carga de fundações profundas permite a verificação da
integridade do elemento ensaiado. O conhecimento das condições físicas do elemento
embutido é tão importante quanto a sua capacidade de carga, já que a existência de
trincas, alargamentos, estrangulamentos ou seccionamentos, influi de maneira decisiva
no bom desempenho de uma fundação profunda. Isto se torna da maior importância
quando o tipo de fundação são estacas moldadas in loco, já que o próprio método
executivo não proporciona a padronização das dimensões da seção do fuste.

No caso de estacas pré-moldadas, o processo de embutimento no maciço de solo


provoca tensões de tração elevadas no topo da estaca, devido ao impacto do martelo.
Estas tensões podem gerar danos estruturais no elemento, que são detectados quando se
executa o ensaio com o PDA (Foá, 2001).
No entanto, na prática, não é operacional e economicamente viável ensaiar todo um
estaqueamento com o PDA. Uma alternativa usada é o ensaio de integridade de baixa
deformação ou, simplesmente, ensaio de integridade de estacas, PIT (Pile Integrity
Test).

O PIT tem a vantagem de ser um ensaio não-destrutivo, ganhando larga utilização na


engenharia, permitindo a realização de vários ensaios no mesmo local ou em locais
próximos, de modo a analisar imperfeições nas determinações das características das
fundações ou variações destas com o tempo. Desta forma, pode-se avaliar a condição
estrutural em qualquer estágio de sua vida útil.

Em virtude da facilidade de movimentação em campo, o PIT surge como uma


alternativa para análise da integridade física de fundações profundas, como comprovado
em Cunha & Costa (1998), Foá (2001) e Mota (2003), em ensaios da integridade de
fundações escavadas assentes na argila porosa do Distrito Federal.

Em casos de reforço de estruturas, esta técnica revelou-se muito útil para avaliar as
características estruturais e geométricas (desconhecidas) de fundações preexistentes,
indicando o largo potencial de uso do ensaio de PIT em toda a sorte de problemas de
fundações profundas. O ensaio é viável devido a sua fácil e rápida execução,
caracterizando-se como uma excelente ferramenta na avaliação da performance de
fundações profundas em serviço (Foá et al., 2000).

O ensaio consiste na instalação de um acelerômetro de alta sensibilidade no topo da


fundação a ser ensaiada, fixado através de uma cera adesiva especial. Em seguida, são
aplicados sucessivos golpes com um martelo manual. Cada golpe gera uma onda de
compressão que se propaga pelo fuste e sofre reflexões ao encontrar uma variação nas
características do material (área da seção, peso específico, ou módulo de elasticidade),
pela presença de atrito lateral ou resistência de ponta, ou pela própria ponta da estaca.
Após um certo tempo, a onda retorna ao topo, onde é captada pelo acelerômetro.

Como a onda trafega com uma velocidade fixa, conhecendo-se esta velocidade e o
tempo transcorrido entre o golpe e a chegada da reflexão, pode-se determinar a exata
localização da variação de impedância na base da fundação.

A verificação da integridade é feita por meio da interpretação da forma do sinal de


velocidade medido. Qualquer variação das características de impedância do elemento de
fundação, resistência desenvolvida no fuste ou na ponta desta resulta em mudanças na
forma do sinal. Estas variações permitem estabelecer conclusões com relação à
qualidade do concreto da fundação profunda, bem como quanto à localização de alguma
trinca ou vazio no fuste.

Segundo Globe et al. (1998), o ensaio PIT possui vantagens que o tornaram popular:

 Execução extremamente rápida. Pode-se ensaiar até 30 fundações por dia;


 Capacidade de detectar danos na superfície do fuste;
 Equipamento leve e portátil, exigindo um mínimo de recursos durante os
ensaios;
 Forma rápida e barata para analisar a integridade das fundações.
Segundo o mesmo estudo, o PIT tem algumas desvantagens e limitações:

 Pouca precisão na análise da intensidade do dano;


 Dificuldade de detecção de um segundo dano no fuste abaixo de uma grande
variação de impedância do material da fundação;
 Difícil interpretação, em alguns casos, dos sinais obtidos por influência do atrito
lateral que também provoca reflexões da onda;
 Impossibilidade de distinguir entre variação de geometria da seção e variação de
qualidade do concreto (peso específico e/ou módulo de elasticidade);
 Limitação de comprimento da estaca (30 vezes o diâmetro equivalente);
 Dificuldade de detecção de dano muito próximo da ponta.

Existem histórias de sucessos e fracassos deste ensaio, embora tenha uma boa
aplicabilidade prática. É um ensaio útil para detectar falhas que, de outra maneira,
passariam despercebidas, por vezes comprometendo a construção.

Sobre esse assunto, é interessante o que diz a norma americana, ASTM D-5882-96
(ASTM, 1996) citada por Gonçalves et al. (2000): "O teste de integridade pode não
identificar todas as imperfeições, mas pode ser uma ferramenta útil para identificar
grandes defeitos dentro do comprimento efetivo. Também, o teste pode identificar
pequenas variações de impedância que talvez não afetem a capacidade de carga da
estaca. Para estacas que têm pequenas variações de impedância, o engenheiro deve usar
seu julgamento quanto à aceitabilidade das mesmas, considerando outros fatores como
redistribuição de carga para estacas adjacentes, transferência de carga ao solo acima do
defeito, fatores de segurança aplicados e requisitos de carga estrutural".

Entretanto o PIT ainda é o melhor ensaio desenvolvido até o presente momento para
testar uma grande quantidade ou até mesmo todas as estacas de uma obra. Nas estacas
moldadas in loco, aumenta-se indiscutivelmente a confiabilidade das fundações, que, de
outra maneira, teriam que ser avaliadas apenas por meio do controle da execução. Uma
prova disto é a utilização satisfatória dos ensaios de PIT em diversas obras do Distrito
Federal, onde havia dúvidas com relação à integridade física de estacas escavadas.

6.0 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do problema é fundamental para permitir uma diretriz adequada na


decisão da necessidade ou não da aplicação de reforços.

Procedimentos:

 Levantamento de documentação – projetos;


 Inventário de danos ocorridos para quantificar e interpretar o direcionamento dos
movimentos;
 Investigação geotécnica complementar – campo e laboratório;
 Instrumentação da obra para avaliar a magnitude e a velocidade das
deformações.
7.0 REFORÇO DE FUNDAÇÕES

Os reforços de fundações representam uma intervenção no sistema solo-fundação-


estrutura existente, visando modificar seu desempenho, de tal forma a fazer com que ele
volte a garantir as condições mínimas de estabilidade e funcionalidade que uma
determinada obra exige Gotlien (1998).

Tipos de Reforço:

a) Reforço Corretivo: tem por objetivo corrigir ou adequar uma fundação


aumentando-se suas dimensões ou profundidade, proporcionando maior
capacidade de carga para correção de recalques excessivos ou prevenir contra
provável colapso da estrutura.
b) Reforço Preventivo: é aquele executado para prever acréscimo de carga,
execução e escavação em obras adjacentes, falhas detectadas durante a
construção e variações das condições geotécnicas do solo, etc.
c) Reforço Substitutivo: é aquele executado para substituição de uma fundação
danificada ou como ocorre na maioria dos casos a modificação de uma fundação
por outra, para criar ou aumentar por exemplo o número de subsolos.
d) Reforços Provisórios: utilizado para execução dos reforços permanentes –
normalmente não são desfeitos, mas são dispensáveis.
e) Reforços Permanentes: necessário em função do mau desempenho das
fundações, ou aumento do nível de carga. Atua como complemento à capacidade
de carga.
f) Reforço com Levantamento: apesar de raro, é possível levantar nivelando uma
estrutura. O levantamento normalmente se faz através de macaqueamento muito
bem controlado, desligando as fundações antigas da estrutura e apoiando-as
sobre as novas já reforçadas.
g) Reforço com Abaixamento: o abaixamento da estrutura se faz por corte,
saturação (enfraquecimento do terreno do lado resistente) ou através do
fechamento de uma bateria de pequenos furos horizontais, chamados de furos de
alívio, executados no terreno, apoiando a estrutura nas novas fundações
previamente executadas em cotas mais baixas.

As soluções para os serviços de reforços são variadas e dependem dos condicionantes


do problema: tipo de solo, urgência, fundações existentes, nível de carregamento,
espaço físico disponível, técnica, fatores econômicos e acesso. Os métodos mais
comuns:

a) Diretos: intervém diretamente sobre a fundação existente;


b) Indiretos: execução de novos elementos de fundações;
c) Reforço no Terreno de Apoio: intervém no terreno de apoio das fundações;
d) Mistos: um ou mais métodos simultaneamente.

A seguir alguns tipos de soluções:

a) Reparo ou Reforço dos Materiais (problema estrutural);


b) Enrijecimento das Estruturas;
c) Aumento da Área de Assentamento;
d) Estacas Prensadas (Mega);
e) Estacas Injetadas ou Escavadas;
f) Estacas Convencionais;
g) Sapatas, Tubulões e Estacas Adicionais;
h) Melhoria das Condições do Solo (injeção de pasta de cimento, injeção de resinas
químicas e cogelamento).

Segundo Gotlien (1998) a escolha do tipo de reforço a ser adotado vem em decorrência
do diagnóstico alcançado e da experiência e julgamento dos profissionais envolvidos no
problema. A seguir as diversas condicionantes:

 Técnicas;
 Econômicas;
 Exeqüibilidade;
 Segurança.

Para se obter bom desempenho dos reforços projetados deve ser dado atenção as
seguintes condições:

 Continuidade e ação estrutural;


 Garantir transferência de carga;
 Garantir boa conexão entre o concreto velho e novo;
 Considerar diferença de inércia causada pelo novo elemento no bloco de
fundação;
 Verificar o dimensionamento estrutural das peças.

LIVROS RECOMENDADOS E BIBLIOGRAFIA

ABEF (Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações). Manual de


Especificações de Produtos e Procedimentos – Engenharia de Fundações e Geotecnia. 3ª
edição. São Paulo: PINI, 2004. 410p.

ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 9061/1985. Segurança de


Escavação a Céu Aberto. Rio de Janeiro, 1985. 31p.

______. NBR 6122/1996. Projeto e Execução de Fundações. Rio de Janeiro, 1996. 56p.

______. NBR-12131/1991. Estacas – Prova de Carga. Rio de Janeiro, 1991. 12 p.

______. NBR-6502/1993. Estacas – Prova de Carga. Rio de Janeiro, 1993. 12 p.

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