Analise Imaginario Solas Flaviagasi-Vhszoo
Analise Imaginario Solas Flaviagasi-Vhszoo
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BR/LOJA 1
Sumário
Dedicatória ....................................................................................................... 4
Agradecimentos ............................................................................................... 5
Sem eles, o livro não seria possível ......................................................... 5
Uma breve introdução ao universo da franquia Dragon Age ....................... 6
Elfos .............................................................................................................. 8
Elgar'nan: Deus da Vingança .................................................................. 9
Mythal: a Grande Protetora..................................................................... 9
Falon'Din: Amigo dos Mortos, o Guia ................................................... 9
Dirthamen: Guardião de Segredos........................................................ 10
Andruil: Deusa da Caça ......................................................................... 10
Sylaise: a Guardiã do Coração ............................................................... 10
June: Deus da Arte ................................................................................. 10
Ghilan'nain: Mãe do Halla .................................................................... 10
Fen'Harel: O Lobo Temido ................................................................... 10
Magia .......................................................................................................... 11
Solas ................................................................................................................ 13
Análise do Imaginário Solas .......................................................................... 16
1. Solas, em suas palavras ..................................................................... 16
1a. Will: Desejo / Determinação ............................................................ 18
1b. World: Mundo .................................................................................. 21
1b. Fade: Imaterial .................................................................................. 25
2. Solas, para os jogadores brasileiros ................................................. 29
2a. Traidor .............................................................................................. 30
2b. Manipulador / Arrogante ................................................................ 32
2c. Lobo .................................................................................................. 35
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3. Solas, como peregrino, na minha escolha ...................................... 38
Bibliografia ..................................................................................................... 43
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Dedicatória
FLAVIAGASI.COM.BR/LOJA 4
Agradecimentos
Gustavo Nacao
Helber Fernandes
Deborah Novais
Dyana Barlavento
Erik Volpert
Lin de Mann
Thiago Leite
Érika Santana
Rebeca Prado
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Uma breve introdução ao universo da franquia
Dragon Age
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corrompidas por Deuses Antigos. Estas crias, chamadas de Darkspawn (ou
Criaturas Sombrias). Quando realizam ataques organizados à superfície, os
Darkspawn agem como Podridão, sendo necessário matar o mandante daquela
excursão específica para que o restante desbande. Ninguém sabe exatamente como
as Podridões começaram a ocorrer, já que as criaturas eram vistas normalmente de
forma menos concentrada ou menos tática.
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Elfos
Para tal, será preciso verificar com mais intimidade uma das raças da série:
os elfos. Em tempos remotos, foram eles que dominaram Thedas, eram imortais e
tinham uma cultura rica focada no entendimento da natureza e da magia.
Elvhenan, o nome da sua civilização pode ser traduzido como “o lugar de nosso
povo”; enquanto sua capital, Arlathan seria o “local de amor”. Enquanto estavam
no ápice de seu progresso, elfos se encontraram com humanos, que ainda vagavam
as terras em povos nômades. Há quem diga que o declínio dos elfos se deu por conta
desse convívio, que passaram a adoecer e morrer por conta desse contato.
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humanos escravizaram os elfos, que, com o passar dos anos, esqueceram de como
florescia sua antiga vida e se tornaram uma raça marginalizada.
Em Dragon Age: Origins, eles são apresentados como elfos que habitam nas
cidades, e elfos valeanos. Os elfos urbanos se amontoam em guetos pobres ao redor
de grandes cidades humanas. Lá, experienciam uma vivência muito próxima à de
qualquer pessoa que vive às margens do sistema e da sociedade. Deixados de lado,
com problemáticas como fome, ausência de saneamento básico, e, basicamente,
sem direito real de ir a vir, ou sem direito verdadeiro à vida.
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Dirthamen: Guardião de Segredos
Dirthamen é o irmão gêmeo de Falon'Din e é o deus élfico dos segredos e
do conhecimento, e mestre dos corvos Medo e Engano. Dirthamen deu aos elfos o
dom do conhecimento e ensinou-lhes lealdade e fé na família.
Magia
Apesar de ser um fenômeno
físico considerado natural (como
magnetismo, por exemplo), a
magia em Dragon Age pode ser
exercida por aqueles que tem o
controle deste fenômeno, podendo
moldá-lo. O império de Tevinter
registra as famílias mais
reconhecidas por seu talento, o que
nos faz compreender que lançar
feitiços está ligado algum traço de
nascença. Ninguém sabe
exatamente como um mago tem
este poder.
Outra característica da
magia é que ela se origina no
Imaterial, e existem mais
consequências para magos que
passeiam por lá do que para outros
seres, já que eles podem acabar
possuídos por algum espírito que
deseja sair. O Imaterial não é tão
desprovido de matéria assim, já
que é possível para um ser modelar
Figura 4 - Dorian, mago companheiro de Dragon Age
o Imaterial, e que para este seja
Inquisition
despejado do mundo substancial.
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Qualquer criatura que extraia poder do Imaterial pode chamar a atenção de
espíritos. Para o mago, é necessário aprender a controlar e dominar a magia, e não
se deixar levar pelas tentações das almas que lá habitam. Há alguns que são
conhecidos por sua habilidade de falarem com demônios e espíritos.
Contudo, a magia não é onipresente, ela tem um custo, tem limitações como
o teletransporte, a ressurreição (em casos regularizados) e a entrada no Imaterial de
forma física. Há um modo de entrar no Imaterial distinguindo sonhos de realidade:
através de uma substância viciante chamada lírio. Uma ordem especial, chamada
Templários, usa do lírio para negar a magia e neutralizar magos que tenham tomado
um caminho mais sombrio. Eles podem dissipar a magia, o que faz da ordem uma
forma de guardiã das boas práticas mágicas. Em Dragon Age: Inquisition, o espírito
Cole diz que, na verdade, por ingerir lírio, os templários ficam com corpos
incompletos e tentam se conectar com algo mais antigo do que eles, esta outra coisa
é o quê barraria a magia.
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Solas
Solas não se reconhece como um elfo das cidades, tampouco como valeano
. Ele diz ser de uma pequena vila nos campos, que passou a maior parte da sua vida
vagando pelo deserto. Ele sempre foi um Apóstata, sem Círculo dos Magos ou
outros professores. Solas aprendeu a manejar suas habilidades mágicas sozinho, e
passou muito tempo sonhando – uma forma de sonho lúcido – em ruínas antigas
para entrar em contato com o Imaterial.
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Apesar disto, ele é considerado uma pessoa educada, de ensinamentos e
magias úteis. Seu conhecimento sobre o passado levou a Inquisição para uma nova
fortaleza, e ajudou o(a) protagonista a fechar Brechas – rasgos nos Véu que separa
o mundo corpóreo do Imaterial – ele mesmo quem se voluntariou para o papel.
Também professorou o protagonista sobre o uso da Âncora, poder imbuído
involuntariamente a/o Inquisidor/a que pode fechar as Brechas. Ele explica que o
orbe que criou a Brecha é de origem élfica, e que isso pode ter consequências
negativas para seu povo. Caso opte por realizar um romance com Solas, ele também
discorre que as tatuagens comuns no povo valeano são uma marca de servidão e
escravidão a um determinado tipo de deus.
Em sua missão pessoal, a/o Inquisidor/a pode escolher entre ajudá-lo ou não
a salvar um espírito acorrentado por magos. Por conta das correntes e por estar
forçadamente no mundo corpóreo, o espírito de sabedoria se tornou um demônio
de orgulho. O quanto Solas conta sobre o Imaterial, o Véu e sobre sabedoria antiga
élfica depende das ações e das conversas da/o Inquisidor/a.
Ele diz que os deuses élficos são apenas elfos muito antigos, e que eles
assassinaram Mythal. Independentemente do tom da conversa (amigável, amável
ou seco), ele explica que ele quem ergueu o Véu separando os Evanuris (os tais elfos
antigos) do mundo corpóreo, e, por consequência, dividiu o Imaterial do mundo
real. Por conta disso, os elfos perderam sua imortalidade e outras tantas coisas que
dependiam do Imaterial cessaram de existir. Ele informa que pretende destruir o
Véu e o mundo como os jogadores conhecem, e trazer o retorno do mundo élfico.
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Fen’Harel parte, informando a/o Inquisidor/a que aproveite seus últimos
dias, antes do mundo inteiro ser alterado (e tira o poder da âncora da/o
Inquisidor/a), juntamente com seu braço. Assim, ele se torna o (ou um dos)
oponente do próximo game de Dragon Age.
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Análise do Imaginário Solas
1
https://daitranscripts.tumblr.com/
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mitos somente é possível de ser feita por seus fragmentos. Os mitemas são vistos pelos
dois autores como uma unidade homogênea que se repete, e vai além do específico da
imagem mítica Para Durand, no livro “Estruturas Antropológicas do Imaginário” os
mitemas: são os átomos das constelações, que nos permitem entender parte da galáxia
ao olhar para as homologias. O mito seria a galáxia do sistema, as moléculas seriam os
símbolos e arquétipos, e os átomos seriam os mitemas.
Assim, uma nuvem de palavras nos remete aos pontos fortes, repetitivos, das respostas
dos jogadores, e auxiliam na pesquisa e na busca de estruturas de pensamento. No
processo de tentar explicitar uma cartografia, estaremos sempre buscando uma possível
mitohermenêutica, através da busca de mitemas, para que estes possam ser estudados
com mais profundidade, e, quem sabe, generalizados.”
(Gasi, 2016)
Assim, desta forma, a nuvem de palavras com falas de Solas nos mostra os
tópicos que o personagem está mais interessado, além de como trata seus
companheiros de aventura. Infelizmente, o site ainda não terminou de transcrever
todas as falas do game. Contudo, imaginando que Solas tem uma grande revelação
de narrativa ao final da obra, podemos olhar para esta cartografia de forma mais
inocente. Vamos a ela:
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As palavras que Solas mais usa durante a primeira metade de Dragon Age
Inquisition são: will, world, fade/magic. Will é uma expressão que pode denominar
desejo, vontade, determinação; e todos estes termos fazem bastante sentido para o
personagem. Além disso, temos “mundo” e “imaterial/magia”. Não se preocupe que
vamos explorar palavra por palavra.
Neste sentido, desejo e determinação, ou “ter a vontade de” pode ser ótimo
para o aventureiro com quereres solares. Contudo, todo herói heroico, aquele que
acredita que pode transcender a materialização e destruir o monstro devorador, tem
o problema da verticalidade: no desejo de subir, ele pode cometer alguma injustiça
e cair. De herói, virar o monstro. Esta verticalização de personagens é bem utilizada
em contos de fantasia onde bem existe separadamente de mal. Assim, o trajeto do
herói deve ser ascender, enquanto do vilão, deve ser cair, criando uma cartografia
de imagens catarmórficas e ascensionais.
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“A imaginação, em nós, fala, nossos sonhos falam, nossos pensamentos falam. Toda
atividade humana deseja falar. Quando essa palavra toma consciência de si, então a
atividade humana deseja escrever, isto é, agenciar os sonhos e os pensamentos. A
imaginação se encanta com a imagem literária. A literatura não é, pois, o sucedâneo de
nenhuma outra atividade. Ela preenche um desejo humano. Representa uma emergência
da imaginação.” (Bachelard, (1997) [1977]), págs 283-284.
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conflito no que ele acredita precisar fazer, e que a inquisidora pede para que façam
juntos.
Vale a pena notar que essas vivências do game como potencial agenciador
de devaneios poéticos é algo que trato no meu doutorado. Afinal, “O emprego da
vontade pode ser simplesmente imaginado, o objeto levantado pode ser
simplesmente imaginário, mas as imagens são necessárias para que as virtualidades
de nossa alma se distingam e se desenvolvam.” (Bachelard, (1991a.) [1948]) pág 357.
Através do jogo podemos (e esta potência depende de muitas variáveis)
compreender melhor sobre como nossos afetos e vontades se desenrolam. Por
consequência, os afetos que sentimos no jogo serão reapresentados ao falarmos
sobre o game, coisa que veremos mais para a frente.
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De qualquer maneira, a vontade, para Bachelard, vem da união de vontade
e imaginação. E isso, tanto Solas quanto os jogadores têm de sobra. A questão,
porém, é que o desejo e a determinação podem ganhar características solares.
Quando acreditamos que algo é certo, sem sombra de dúvida, podemos usar da
nossa vontade para tentar minar a vontade alheia. E este é o real problema de Solas.
Seu desejo não é necessariamente compartilhado por todos de seu grupo, ele
acredita que sabe o que faz e que sua vontade é melhor. Assim, deveria ser imposta.
O que nos leva à questão narcísica do personagem.
Há um bom narcisismo, aquele que nos faz olhar para nós mesmos e ver
beleza. Mas, também o espelho sem fundo:
“O “espelho sem fundo”, que é um céu azul, desperta um narcisismo especial, o
narcisismo da pureza, da vacuidade sentimental, da vontade livre. No céu azul e vazio, o
sonhador encontra o esquema dos “sentimentos azuis”, da “clareza intuitiva”, da
felicidade de ser claro em seus sentimentos, seus atos e seus pensamentos. O narcisismo
aéreo mira-se no céu azul.” (Bachelard, (1997) [1977]), pág. 195
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Solas acredita em um mundo em que não exista um véu que separe as
realidades materiais e Imateriais, e esta crença vem de seu passado, quando
realmente não existia um véu. Ela também foi reforçada ao longo dos anos pela sua
contemplação do mundo. No caso, do mundo Imaterial. E, por fim, o desejo de
romper o véu ganha determinação quando contempla o mundo material. Para
Solas, o Imaterial, a magia, os espíritos são uma forma pancalista de viver. Para
quem não conhece, o pancalismo é uma filosofia que admite que o belo (ou o que
nos afeta como beleza) seja o valor mais importante de todos.
Sua vontade é retornar a um mundo mais belo, e esta missão se torna, como
vimos no estudo da palavra anterior, uma necessidade espiritual, um desejo de céu
azul, um narcisismo verticalizado, aéreo. Ele sonha com isto em profundidade, seus
desejos se tornam hinos, um tipo de composição musical para louvar algo que seja
de natureza divina. Por isso, cria-se uma separação de valores: ou você acredita que
a destruição do véu serve como um objetivo pancalista para uma vida melhor, ou
não. Nem toda religião acredita em meio termo, e o discurso de Solas parece seguir
a mesma linha.
A água, para Solas, é uma escolha natural, pois ele se considera envolvido
por ela. Acredito que o uso do imaginário aquático faz muito para aprofundar o
personagem. Primeiramente porque a água suplica o mundo. Quando estamos em
frente a uma fonte de água, podemos ver o mundo inteiro em seu reflexo. O que
transforma a pessoa que vê também em um duplo: aquela que existe dentro e aquela
que existe fora d’água. São, claro, a mesma pessoa, mas que pode existir ao mesmo
tempo em dois locais diferentes, em reflexo. Solas existe como parte de seu grupo,
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mas tem suas próprias intenções. Ele existe no mundo como reflexo, e no Imaterial
como aquilo que realmente deseja ser.
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genocídio. A morte cotidiana não tem a ver com isso, seria algo muito mais leve. É
a pureza que foi perdida para uma profundidade mais tenebrosa – afinal,
complexidade é ótimo, e nem sempre tenebrosa.
Porém, o sonho de água profunda de Solas nos revela a sua intimidade: uma
necessidade de alteração do mundo, doa a quem doer. Nas imagens profundas pode-
se perder a noção do todo, já que o devaneio se afunila: “Permite-nos ficar distantes
diante do mundo. Diante da água profunda, escolhes tua visão; podes ver à vontade
o fundo imóvel ou a corrente, a margem ou o infinito; tens o direito ambíguo de
ver e de não ver”. (Bachelard, (1989a.) [1942]), pág. 71.
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mesmo, correntes negras e lodosas, Estiges de ondas pesadas, carregadas de mal. E
nosso coração é agitado por essa dinâmica (...)”. (Bachelard, (1989a.) [1942]) págs.
190 e 191.
O mundo para Solas se escoa como água, e precisa ser resolvido como água
profunda, como água pesada. Do Estige para o Estige. Estige personificava o ódio e
representava a fronteira entre o céu e o inferno na mitologia grega. E era o rio para
onde eram enviados os coléricos e mal-humorados para se afogarem pela
eternidade. Da queda dos elfos para a queda dos outros, em um mergulho
vertiginoso.
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inconsciente, o que acho uma imagem interessante e acertada. Seguindo a linha
fenomenológica de Gaston Bachelard, e o pensamento de Antunes, gostaria de
propor o Imaterial como uma morada onde o ser pode acessar arquétipos.
Figura 11 - O Imaterial, como visto em Dragon Age: Inquisition
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que teve, parentagem etc. o Imaterial, então, seria um local para acessar essas
imagens. Como uma casa para as suas lembranças. “Essa casa está distante, está
perdida, não a habitamos mais, temos certeza, de que nunca mais a habitaremos.
Então ela é mais do que uma lembrança. É uma casa de sonhos, a nossa casa
onírica.”, (Bachelard, (1990a.) [1948]), pág. 95
Para ele, a casa como imagem de integração, aquela que podemos nos
sentirmos seguros é “A casa da lembrança, a casa natal, é construída sobre a cripta
da casa onírica. Na cripta está a raiz, o apego, a profundidade, o mergulho dos
sonhos. Nós nos ‘perdemos’ nela. Há nela um infinito”. (Bachelard, (1990a.)
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[1948]), pág. 98. Gosto desta imagem ligada ao Imaterial, pois ele pode ser uma casa
muito visitada, como para Solas; uma casa mal arrumada para o viajante que não
sabe navegá-la; ou um labirinto para aqueles que tem receio de viajar, ou se
encontram com sonhos e devaneios mais sombrios. Vale notar que para a poética
do imaginário, toda casa é um labirinto que foi resolvido.
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2. Solas, para os jogadores brasileiros
A segunda parte do estudo será focada nas palavras que os jogadores
brasileiros trouxeram para descrever o personagem. A pesquisa foi feita,
principalmente, na rede social Twitter, e teve 122 palavras. A nuvem ficou assim:
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Antes de prosseguir, contudo, acho importante comentar rapidamente sobre
a questão do “racismo”. O próprio Solas afirma que quando retornou para o
mundo, sua visão sobre seus habitantes era preconceituosa – como se olhasse para
criaturas menos evoluídas. Esta noção será mudada dependendo das ações do
jogador; no pior dos cenários, ele apenas acha que elfos são interessantes sim; no
melhor, ele inclui todos os seres – talvez menos os qunari (e aqui cabe uma acusação
de racismo, sim). Em um contexto em que Solas despreza qualquer criatura,
realmente ele pode ser considerado bem preconceituoso. Contudo, assumir que
Solas é racista por querer o melhor para sua espécie – considerando que elfos foram
escravizados e vivem em regime de servidão em DAI (Dragon Age: Inquisition) – é
a mesma coisa que concordar com racismo reverso. Assim, importante notar que
vale se questionar de que tipo de racismo estamos falando – contra os qunari, ou se
o foco é de um revolucionário extremista. Acho que não custava deixar estas aspas.
2a. Traidor
O que realmente coloca Solas como um traidor ou um tipo de antivilão é a
relação do jogador com o personagem. Caso não sejam amigos, Solas realmente trai
o grupo e revela que está determinado a realizar um genocídio. Caso sejam amigos,
contudo, ele explica que quer consertar um de seus grandes erros (criar o véu), mas
que espera que a Inquisição consiga encontrar uma solução melhor que a dele. De
qualquer maneira, existe muita mentira em seu discurso, especialmente via
omissão.
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verdadeiras na história estavam erradas... porque eu vi... ‘no Imaterial’. (...) Por um
lado funcionou, por outro o tornou menos trágico, mais idiota quando chegamos à
revelação. Então foi assim que chegamos ao que o transformamos: esse personagem que
é inteligente, sábio ... Solas pensará com muito cuidado antes de dizer a você qualquer
coisa e qualquer coisa que ele disser é exatamente o que ele quer que você saiba.”
(Weekes, 2019)
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protagonista ter esses poderes, mas tem a ver com a rebeldia apesar das
impossibilidades que Medeia enfrenta: traída e descartada, ela pode ser a “antítese
da figura materna e transgressora da ordem social” (ESPINOZA, 2004, pág. 76). Ou
seja, Medeia opta por atuar, e a ação, como vimos, tem muito a ver com o poder, a
potência de ser.
Medeia, então, não apenas sente a dor de ser criaturada, mas pode agir. Em
nome de vingança e justiça, a personagem “invoca Hécate, deusa do submundo, da
noite, da obscuridade, da lua, da encruzilhada e da magia” (ESPINOZA, 2004:79),
e seus crimes se tornam seu protagonismo. De acordo com Brandão (1987:85-91),
Medeia cometeu diversos assassinatos antes de chegar a seu maior impasse: a decisão
de matar os próprios filhos.
Solas parece, assim, ecoar para os jogadores brasileiros uma Medeia que parte
por justiça, e encontra a vingança, de forma que os dois conceitos ficam
completamente separados, como bem e mal. Mas sem necessariamente o final mais
complexo de Medeia, dependendo das ações dos jogadores no game. E é nesta
diferença que se encontra a traição: o amigo que deveria ser companheiro e leal,
porém foca-se na sua própria justiça ou vingança. Vale contar o valor de construção
em gamedesing aqui: quando temos um personagem amigo que podemos controlar
em batalhas, que pode servir como um interesse amoroso, não esperamos que ele
tenha agência própria, mas que sirva apenas aos propósitos do jogador.
FLAVIAGASI.COM.BR/LOJA 33
imortalidade. A primeira criatura a morrer é o filho do Coiote. Desta forma, ele
também fica associado tanto à felicidade como à tristeza.
Outra lenda Maidu diz que enquanto o Criador moldava diversas criaturas
no barro, o Coiote ria – já que tentou fazer o mesmo, mas suas criaturas não ficaram
tão boas. Quando o Criador pede que o Coiote pare de rir, ele disse que nunca tinha
feito algo assim, a primeira mentira já contada.
Solas pode não ser necessariamente uma divindade, mas é tratado como uma
pelo seu povo, e certamente faz coisas incríveis e horrendas. Sua parcela mais
divertida talvez não seja vista por todos os jogadores, mas há um lado jocoso do
personagem que pode ser visto por aqueles que se aproximam mais. Porém, o ponto
real de conexão entre Solas e o Coiote Maidu é certamente a arrogância: ambos
acreditam que sabem o que é melhor para as criaturas que habitam o mesmo
mundo do que eles, e agem de acordo com as suas vontades. Mesmo que isto
signifique o sofrimento de muitos.
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2c. Lobo
A representação mais pictórica de Solas por ser o próprio Fen'Harel, semi-
divindade associada ao lobo. Mas não há apenas uma variação icônica do signo,
como também possibilidades simbólicas. Comecemos pela representação de
Fen'Harel dentro da mitologia de Dragon Age: Inquisition. O elfos valeanos o
consideram uma divindade maléfica, mas ainda o reverenciam, porque se lembram
de que, no passado, o Lobo Temido era chamado para ajudar os elfos, mesmo que
sempre pedisse algo em troca, e cumprisse suas promessas de modos um tanto
distorcidos.
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Em Inquisition, aparecem evidências de que o conto da traição realmente
aconteceu, mas de forma mais complexa do que narrado. Em conversas entre Solas
e Cole, eles comentam que Fen’Harel realmente selou os deuses, mas que a decisão
foi tomada com muito pesar para minimizar as vítimas civis no conflito entre as
divindades. Solas fica chocado em saber que os elfos permaneciam em guerras,
internas e externas, pois eles deveriam ter evoluído de outra forma.
Figura 16 - O lobo e o elfo ficam associados na figura de Fen'Harel em Dragon Age: Inquisition
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3. Solas, como peregrino, na minha escolha
De todas as palavras que vi em todas as nuvens criadas, a que mais me
chamou a atenção foi citada apenas uma vez. Assim, peço licença a leitora/o/e para
que eu também possa fazer um pequeno estudo com a imagem que eu escolhi:
peregrino.
Figura 17 - Minha palavra escolhida, citada apenas uma vez nas nuvens de palavras
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Figura 18 - Uma concha de vieira
“"A imaginação", escreve Bachelard, "não só nos convida a reentrar na nossa concha,
como também a esgueirarmo-nos em qualquer concha para viver aí o verdadeiro
isolamento, a vida enroscada, a vida dobrada sobre si mesma, lodos os valores do
repouso." Daqui resulta uma primeira interpretação simbólica da concha, muito
diferente da que reencontraremos a propósito do simbolismo cíclico: aqui é a concha
esconderijo, refúgio, que se sobrepõe às meditações sobre o seu aspecto helicoidal ou
sobre o ritmo periódico do aparecimento e desaparecimento do gastrópode.” (Durand,
2002, p. 253)
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A carta mostra a figura de um homem localizado acima do abismo. Ele se
dirige para a beira, mas não olha para onde está indo. O cão pequeno ao seu pé tenta
alertá-lo do perigo iminente, mas o homem está tranquilo, ele sabe que sua jornada
pode o levar à queda, e não tem medo disto. Solas começa com todo o mistério de
um andarilho, do Louco, relevando a sua jornada como mística, farta, sem
obstáculos. Contudo, na verdade, a jornada já foi realizada – o Louco indica o
começo dela. E de andarilho, Solas torna-se peregrino.
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Bibliografia
Anônimo, cerca de 2100 A.C.. The Epic of Gilgamesh. s.l.:Assyrian
International News Agency.
Bachelard, G., (1989a.) [1942]. A água e os sonhos. São Paulo: Martins Fontes.
Candido, M. R., 2007. Medeia, mito e magia: a imagem através do tempo. Rio
de Janeiro: Nea/UERJ.
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Kerven, R., 2018. Native American Myths collected 1636 - 1919. s.l.:Talking
Stone.
Weekes, P., 2019. The Story Behind Solas with Dragon Age Lead Writer Patrick
Weekes - Dialogue Wheel. [Online]
Available at: https://planesofduality.tumblr.com/post/189815925266/the-story-
behind-solas-with-dragon-age-lead-writer
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