Homem e o Processo Civilizatorio - Antropologia e Filosofia

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Homem e

Processo
Civilizatório -
Antropologia
e Psicologia
PROFESSORA
Me. Gisele Cristina Mascagna

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EXPEDIENTE
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação
Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head
de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie Medeiros Vilela Daros Head de Tecnologia e
Planejamento Educacional Tania C. Yoshie Fukushima Head de Recursos Digitais e Multimídias Franklin Portela
Correia Gerência de Planejamento e Design Educacional Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção Digital
Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Recursos Educacionais Digitais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Design
Educacional e Curadoria Yasminn T. Tavares Zagonel Supervisora de Produção Digital Daniele Correia

FICHA CATALOGRÁFICA

Coordenador(a) de Conteúdo C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Priscilla Campiolo Manesco Paixão Núcleo de Educação a Distância. MASCAGNA, Gisele Cristina.
Projeto Gráfico e Capa Homem e Processo Civilizatório - Antropologia e Psico-
André Morais, Arthur Cantareli e logia.
Gisele Cristina Mascagna.
Matheus Silva
Editoração
Produção Digital Maringá - PR.: Unicesumar, 2021. Reimpresso em 2022.
Fotos 208 p.
Shutterstock “Graduação - EaD”.
1. Homem 2. Civilizatório 3. Antropologia. 4. EaD. I. Título.

Impresso por: CDD - 22 ed. 342.08


CIP - NBR 12899 - AACR/2
ISBN 978-65-5615-571-5

Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

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A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história
avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade,
ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria-
mente para que nossa educação à distância continue
Tudo isso para honrarmos a
como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre
nossa missão, que é promover
quatro pilares que consolidam a visão abrangente
a educação de qualidade nas
do que é o conhecimento para nós: o intelectual, o diferentes áreas do conhecimento,
profissional, o emocional e o espiritual. formando profissionais
A nossa missão é a de “Promover a educação de cidadãos que contribuam para
qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, for- o desenvolvimento de uma
mando profissionais cidadãos que contribuam para o sociedade justa e solidária.
desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”.
Neste sentido, a UniCesumar tem um gênio impor-
tante para o cumprimento integral desta missão: o
coletivo. São os nossos professores e equipe que
produzem a cada dia uma inovação, uma transforma-
ção na forma de pensar e de aprender. É assim que
fazemos juntos um novo conhecimento diariamente.

São mais de 800 títulos de livros didáticos como este


produzidos anualmente, com a distribuição de mais
de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nos-
sos acadêmicos. Estamos presentes em mais de 700
polos EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina,
Ponta Grossa e Corumbá), o que nos posiciona entre
os 10 maiores grupos educacionais do país.

Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima


história da jornada do conhecimento. Mário Quin-
tana diz que “Livros não mudam o mundo, quem
muda o mundo são as pessoas. Os livros só
mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportu-
nidade de fazer a sua mudança!

Reitor
Wilson de Matos Silva

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Me. Gisele Cristina Mascagna

Professora Gisele Cristina Mascagna formada em Psicolo-


gia pela Universidade Estadual de Maringá- UEM, Especia-
lista em Teoria Histórico-Cultural pelo Departamento de
Psicologia da UEM e Mestre em Psicologia pelo Departa-
mento de Pós-Graduação de Psicologia da UEM.

Atuou como psicóloga durante oito anos de uma Abrigo/


Casa Lar para crianças e adolescentes vítimas de violência
doméstica, auxiliando o Poder Judiciário, Ministério Públi-
co e Conselho Tutelar. Atua na área clínica e como pro-
fessora Universitária. Já ministrou a disciplina Psicologia
do Desenvolvimento no curso de Psicologia e atualmente
é docente do curso de Administração e ministra aulas
de Recursos Humanos e Clima e Cultura Organizacional.

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REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS

Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA

Professores especialistas e convi-


NOVAS DESCOBERTAS
dados, ampliando as discussões
sobre os temas. Enquanto estuda, você pode aces-
sar conteúdos online que amplia-
ram a discussão sobre os assuntos
de maneira interativa usando a tec-
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
nologia a seu favor.
Uma dose extra de conhecimento
é sempre bem-vinda. Posicionando
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go, você terá acesso aos vídeos que
Neste elemento, você encontrará di-
complementam o assunto discutido.
versas informações que serão apre-
sentadas na forma de infográficos,
esquemas e fluxogramas os quais te
ajudarão no entendimento do con-
teúdo de forma rápida e clara

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Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store

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CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

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23
CONCEITUANDO ANTROPOLOGIA
ANTROPOLOGIA JURÍDICA

3
37 4
47
CONCEPÇÕES DE GRUPOS SOCIAIS
CULTURA

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57
RAZÃO E EMOÇÃO

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CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

6
67 7
79
EMPATIA E VIOLÊNCIA E
PRECONCEITO SOCIEDADE

8
91 9
105
ASPECTOS PSICOLOGIA
HISTÓRICOS E JURÍDICA
EPISTEMOLÓGICOS
DA RELAÇÃO ENTRE
PSICOLOGIA E
DIREITO

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121
MORFOLOGIA
DO SER:
DESENVOLVIMENTO
HUMANO

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CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

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133 12
143
PSICOLOGIA DO PSICOLOGIA DO
DESENVOLVIMENTO: DESENVOLVIMENTO
CRIANÇA II: ADOLESCENTE

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153 14
163
PSICOLOGIA DO ESTUDO DA
DESENVOLVIMENTO PERSONALIDADE
III: ADULTO E IDOSO

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177 16
191
SAÚDE E PERÍCIAS E
TRANSTORNOS INSTRUMENTOS DE
MENTAIS AVALIAÇÃO

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1 Conceituando
antropologia
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade serão abordados os conceitos de Antropologia como

ciência e suas principais correntes de pensamento, introduzindo o estu-

dante a assuntos específicos da antropologia.

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UNIDADE 1

Caro estudante, você deve estar se questionando: por que estudar antropo-
logia? O que essa disciplina tem a ver com direito? Muitos são os motivos pelos
quais você necessita ter o conhecimento de antropologia, uma vez que estudos
antropológicos e campo jurídico estão totalmente interligados. O conhecimento
antropológico, que será estudado nesta apostila, vai permitir que você seja um
profissional consciente da relação entre dogmas do estudo jurídico e alternativas
antropológicas em distintas sociedades.

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UNICESUMAR

O que é antropologia

De acordo com Shirley (1987), antropologia tem como função o estudo do


homem e de culturas distintas. Seu campo de estudo é enorme podendo ser no
campo genético, fisiológico, biológico, físico e social. Uma de suas subdivisões,
conhecida em filmes como os do Indiana Jones, é a arqueologia. Esta pesquisa a
gênese e toda a evolução do homem desde os primórdios da humanidade.
Laplantine (2007) define antropologia como sendo o estudo de todas as
culturas de todos os tipos de sociedade, primitivas ou modernas, em toda sua
diversidade.
Também não podemos deixar de apontar a importância da antropologia mar-
xista que teve como seus precursores Marx e Engels, no livro a Ideologia Alemã
escrito entre 1845 e 1846. Nesta obra ambos estudam os modos de produção de
comunidades “primitivas” que no inicio havia como princípio os laços sanguíneos
e culminando no sistema feudal. Marx e Engels estudaram as sociedades pré-
-capitalistas. Os estudos antropológicos sempre negaram o trabalho, a produção
e a própria história. A antropologia marxista pelo contrário foca nas condições
objetivas de produções. Assim, as comunidades apareceriam como condições
econômicas.
Deste modo, a antropologia tem como campo de pesquisa todas as sociedades
humanas abarcando suas culturas, períodos históricos, territórios geográficos e
sua biodiversidade. Com estes conceitos acima fica claro a importância de co-
nhecer esta ciência para compreendermos nossa própria sociedade.

O campo antropológico

Em todas as sociedades e em todos os períodos históricos podemos afirmar


que a curiosidade do homem em conhecer o próprio homem sempre existiu.
“conhece-te a ti mesmo” já dizia Sócrates na antiguidade. Contudo, uma ciência
que pudesse estudar o homem somente apareceu no final do século XVIII. A
antropologia como rascunho, vai atribuir seus objetos de estudos empíricos, isto
é, os estudos das sociedades denominadas “primitivas”. “A antropologia acaba,
portanto, de atribuir-se um objeto que lhe é próprio: o estudo das populações que
não pertencem à civilização ocidental” (LAPLANTINE, 2007, p.15).

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UNIDADE 1

Entretanto, a antropologia vai superar essa dicotomia do “homem civilizado”


com o “homem primitivo”, o qual era seu objeto de estudo, uma vez que estas
sociedades primitivas vão desaparecendo com a evolução socioeconômica e cul-
tural no inicio do século XX. E como fica o objeto de estudo da antropologia?
O antropólogo começa a focar seus estudos na sociologia, no camponês, já
que este é como um “selvagem” interno e principalmente, inicia um estudo do
homem em sua totalidade: todas as épocas, todas as sociedades e em todos os
seus estados, típicos, ilimitadamente.

Áreas do campo antropológico

Agora você aprenderá as cinco áreas principais da antropologia:

Antropologia biológica:

É o estudo dos caracteres biológicos do homem em sua evolução em relação


com o meio ambiente, seja o meio ecológico, o social ou geográfico. Neste tipo
de ciência estudam, também, os ossos, a anatomia, as raças, enfim a maturação
dos indivíduos. É a genética das populações (LAPLANTINE, 2007).

Antropologia pré-histórica:

Este ramo da antropologia visa o estudo do homem que viveu em sociedades


desaparecidas, por meio de materiais encontrados, como ossadas, símbolos, etc.
Esta área está muito próxima da arqueologia, por isso muitas pessoas acreditam
erroneamente que o papel do antropólogo é apenas investigar sociedades extintas
por meio de técnicas de escavação, por exemplo.

Antropologia linguística:

É a área que estuda as línguas, isto é toda e qualquer linguagem de uma so-
ciedade. Por meio do estudo das línguas o antropólogo pode compreender como
pensavam, viviam e sentiam certas sociedades. Compreende-se linguagem não
somente a falada, mas os signos e símbolos. A antropologia linguística também

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se interessa pelos estudos das novas formas de comunicação: tecnologia.

Antropologia psicológica:

É o estudo dos processos mentais do homem. Processos psíquicos conscientes


ou inconscientes. Por meio dos estudos psicológicos o antropólogo pode com-
preender os comportamentos individuais de uma dada sociedade.

Antropologia social e cultural (etnologia):

É o estudo de tudo que abrange uma sociedade, isto é, seus aspectos jurídi-
cos, políticos, econômicos, comportamentos, religiões, cultura, etc. É o estudo
da diversidade que compõe uma sociedade. Esta área é a mais utilizada pelos
antropólogos modernos.

Estas cinco grandes áreas, citadas acima, constituí os principais segmentos


que um pesquisador antropólogo pode seguir para estudar e apreender as diver-
sas sociedades de diversos tempos históricos.

Saiba mais

A Universidade de São Paulo (USP) possui uma Revista de Antropologia


cujos artigos podem ser encontrados no site www.scielo.br . Artigos diversos
sobre os itens trabalhados nesta unidade.

A pré-história da antropologia

Toda ciência possuí sua própria história. A antropologia não é diferente!


Pensemos juntos: ninguém é igual a ninguém e nenhuma sociedade é igual a
qualquer outra, portanto, seria natural um indivíduo estranhar o outro que é
tido como diferente! Porém, ao mesmo tempo em que estranhamos o diferente
também temos fascínio pelo mesmo. Ora quando os portugueses chegaram ao
Brasil, alguns descreveram os nativos como fascinantes, já outros como “animais

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UNIDADE 1

selvagens sem conduta civilizada, verdadeiros bárbaros”.

Sugestão de vídeo

Para melhor compreensão de aspectos antropológicos assista o filme ameri-


cano Instinto (1999) de Jon Turteltaub com Anthony Hopkins, Cuba Gooding
Jr e grande elenco.
Continuando Laplantine (2007) discorre sobre a figura do mau selvagem e
do bom civilizado em contrapartida com a figura do bom selvagem e do mau
civilizado. No primeiro, as pessoas das diferentes sociedades eram chamadas de
selvagens pelos europeus. Estes eram quem definiam os critérios (religiosos) se
um índio era humano ou não. Como os mesmos não respondiam os critérios da
sociedade européia eram considerados animais e bestas.
De acordo com Laplantine (2007, p.42), Stanley, no século XIX, comparou
os africanos aos “macacos de um jardim zoológico”. Desta forma, o diferente era
considerado um mau selvagem e em contrapartida o europeu civilizado era o
exemplo de bondade.
No segundo caso, isto é, o bom selvagem e o mau civilizado, durante o sé-
culo XX, já não se apresentam mais como bestas, mas romanticamente, como
explicitou Américo Vespúcio e Cristóvão Colombo dizendo que eram pessoas
bonitas, com corpos elegantes, não matavam uns aos outros discorrendo assim
um verdadeiro paraíso.
Assim, o selvagem foi percebido como monstro, miserável, infeliz, anarquista,
estúpido, ignorante, mas contraditoriamente, trabalhador, belo, digno do paraí-
so, religioso, enfim, um indivíduo que teria muitas coisas a ensinar ao homem
civilizado.
O antropólogo teria que aprender que o outro, o considerado primitivo, não
era melhor e não era o pior, mas apenas diferente da sua cultura. A história da
antropologia vem mostrar que os homens em algum momento se perceberam
como diferentes. Uma sociedade se enquadra em um sistema de valores e para se
mantiver fixa-se esses valores culturais e sociais passando de geração a geração.
Contudo, essa legitimação não se justifica para explorar e até exterminar outras
formas de viver em sociedade, outras culturas. Neste sentido, a antropologia é
imprescindível para manter e restaurar distintas sociedades e culturas. O civili-

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zado não pode simplesmente impor sua cultura aos considerados nativos sim-
plesmente porque acreditam que a deles é a melhor. Nada justifica o massacre e
o extermínio de índios e sociedades tribais.

Reflita

O infanticídio indígena no Brasil é uma prática que vem sendo criticada e


por outro lado apoiada, principalmente por antropólogos há muitos anos e é um
ato que sempre está na pauta do dia. O infanticídio indígena é uma polêmica
que gira em torno da religião, da cultura e das leis. Tribos indígenas como da
etnia Suruwahá da amazonas praticam tal conduta. A grande questão é: O go-
verno brasileiro deve aceitar tal conduta, ou seja, permitir que recém-nascidos,
que nasçam com algum tipo de deficiência, que sejam gêmeos ou filhos de mãe
solteira sejam mortos? Ou deve abolir esses princípios, uma vez que vai contra
o direito a vida? Discuta com seus amigos e Reflita sobre!
A antropologia, ao longo de sua historia, foi modificando o olhar sobre seu
objeto de estudo saindo de uma visão do selvagem, primitivo para um olhar de
alteridade e compreensão do diferente.

A antropologia como ciência

Como qualquer outra profissão a antropologia teve que lutar para se firmar
como ciência. Os esboços do que poderia se constituir, mais tarde, como antro-
pologia, discorria um olhar sobre o homem, de forma especulativa, mas foi na
modernidade que a ciência sobre o homem ganha força. De acordo com Laplan-
tine (2007), a antropologia, ainda como projeto, supunha que deveriam existir
certos conceitos, como uma concepção de homem como sendo um sujeito e ao
mesmo tempo objeto de estudo; a construção de um conhecimento que vai além
da reflexão, mas passaria também para a observação; também deveria ter uma
questão central: a diferença; e por fim, a proposta do método indutivo, isto é, de
observação e análise a partir de observações de fatos.
Nascia um conhecimento positivo do homem como um ser que deveria ser
estudado em sua existência, isto é, empiricamente. A antropologia teve dois obs-

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UNIDADE 1

táculos que dificultaram sua validade como ciência: 1) A diferença entre saber
científico e o saber filosófico não eram motivos de reflexão, já que o conceito
de homem ainda era muito abstrato; 2) a visão de um conceito de uma história
natural, como era típica da época.
Mas foi somente no século XIX que a antropologia apresenta-se como uma
possível ciência das sociedades primitivas em sua totalidade, ou seja, econômica,
política, cultural, biológica, etc. Um período antes a sociedade sofria grandes
mudanças com a revolução industrial inglesa e a revolução política francesa.
Havia um crescente progresso na civilização e, portanto, o “atrasado”, primitivo
não acompanhava tal progresso. Entretanto, um século posterior ocorre um novo
contexto geopolítico. Era a conquista colonial. (LAPLANTINE, 2007). Por meio
dessas conquistas, a partilha da África entre potências européias, que o novo
antropólogo acompanha os colonos. Os emigrantes europeus se instalam em
lugares como Índia, África, Austrália, Nova Zelândia.
Vários pesquisadores vão às metrópoles pesquisarem e daí surge os primeiros
materiais da antropologia. O autor François Laplantine cita alguns exemplos
dessas obras:

Em 1861, Maine publica Ancient Law; em 1861, Bachofen, Das Mutterrecht;


em 1864, Fustel de Coulanges, La cite antique; em 1865, MacLennan, O casamen-
to primitivo; em 1871, Tylor, A cultura primitiva; em 1877, Morgan, a sociedade
antiga; em 1890, Frazer, os primeiro volumes do Ramo de ouro (LAPLANTINE,
2007, p.65).

Nestas obras os indígenas não são mais considerados selvagens, mas tornam-
-se um primitivo, um ser que nos reporta a nossa origem, isto é, as formas mais
simples de organização social e cultural que remetem aos primórdios da nossa
evolução.
Os antropólogos do século XIX darão especial atenção aos estudos do paren-
tesco e da religião. Também focaram suas pesquisas nos estudos dos chamados
aborígines australianos.

Ciências Naturais

As ciências naturais diferente das ciências sociais porque possuem como

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centro os estudos de eventos simples e isoláveis. Esses fatos simples se repetem


sistemicamente e podem, inclusive, serem repetidos em laboratórios. O problema
é sempre de testar e (re)testar. Quando se podem repetir infinitamente os testes
garante a objetividade dando-lhe o caráter de ciências naturais. Tais testes podem
ser realizados por pesquisadores distintos (DAMATTA, 2010).
Assim, as ciências naturais estudam a natureza e todo seu universo poden-
do ser classificado e mensurado em laboratório por diversos pesquisadores em
diversos lugares. Como é o caso da biologia no qual o pesquisador pode estudar
diversos tipos de bactérias.

Ciências Sociais

Diferente das ciências naturais às chamadas ciências sociais não podem ser
mensuradas em laboratórios, uma vez que estudam fenômenos complexos já
que suas causas não são facilmente detectáveis. Por exemplo, na psicologia não
é possível isolar uma única causa para um mesmo fenômeno, um sujeito pode
cometer um crime, pedofilia, porque era abusado na infância, outro porque é per-
verso e outro simplesmente porque é mau, mesmo tendo uma infância adorável.
Nas ciências sociais os diversos fenômenos dependem do autor, das relações
existentes, da historia, do momento socioeconômico. Não podemos reproduzir
fenômenos da mesma forma que nas ciências naturais. Mesmo na reconstrução
de uma cena de crime, jamais será o mesmo clima, o mesmo tempo, o dia e o
mesmo horário, enfim nem tudo é igual do dia do ocorrido. Se o crime ocorreu
em 2005 não é o mesmo em 2012.
DaMatta discorre que “os fatos sociais são irreproduzíveis em condições con-
troladas e, por isso, quase sempre fazem parte do passado. São eventos a rigor
históricos e apresentados de modo descritivo e narrativo, nunca na forma de uma
experiência” (DAMATTA, 2010, p.23).
Desta forma, a antropologia é uma ciência social e, portanto, estuda fenôme-
nos complexos, uma vez que objeto de estudo e o investigador se confundem,
já que os homens somente se diferenciam por meio de suas culturas, historias e
experiências e não por espécies diferentes, como é o caso de estudos de animais.
Agora caro estudante, discorreremos nossos dois últimos tópicos sobre an-
tropologia, mas não menos importantes que os explicitados acima.

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UNIDADE 1


“(...) foi somente no século XIX que a antropologia
apresenta-se como uma possível ciência das sociedades
primitivas em sua totalidade (...)”

Pensamento antropológico

Antes de nos adentrarmos nas correntes de pensamento denominadas Evo-


lucionismo e Difusionismo não podemos deixar de discorrer sobre dois grandes
pesquisadores elaboradores da etnologia contemporânea: Franz Boas e Bronislaw
Malinowski.

Franz Boas (1858-1942):

Americano de origem alemã Franz foi um dos pioneiros da antropologia


do século XIX e XX. Era um pesquisador de campo. Para ele tudo deveria ser
anotado. Para Boas o antropólogo é o único que pode estudar uma microssocie-
dade. Ele discorre que todo o objeto é digno da ciência. O pesquisador mostrou
a importância de o etnólogo saber a língua da cultura que está estudando.

Bronislaw Malinowski (1884-1942)

O livro Os argonautas do Pacífico Ocidental foi a primeira obra de Malino-


wski. Ele foi um dos primeiros a viver junto as populações que estudava. Co-
lheu vasto material e demonstrou que a partir de um único objeto ou costume
pode-se chegar a totalidade de uma sociedade. Este antropólogo transforma o
pensamento da antropologia em uma ciência da alteridade. Malinowski elabora
a teoria do funcionalismo tirando o modelo das ciências da natureza. Ele vivencia
os sentimentos dos outros, uma vez que a observação participante vai além vira
uma participação psicológica, no qual o investigador experiência as emoções do
pesquisado (LAPLANTINE, 2007).

Evolucionismo

Quando falamos em evolucionismo é impossível não pensar em Charles Dar-


win, entretanto, na antropologia, foi com Herbert Spencer que a visão, um pouco

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diferente de Darwin, ganhou força no século XIX.


Acreditava-se que a sociedade europeia era a mais desenvolvida, uma vez
que para o evolucionismo havia uma espécie humana inicial e que as outras
sociedades, atrasadas, deveriam alcançar, dentro da evolução, as sociedades que
estavam a frente. O caminho para a sociedade mais evoluída era apenas um: o
homem saia do comportamento selvagem para o civilizado. É o principio do
movimento unilinear. Os evolucionistas recolhem material para demonstrarem
esses estágios que a sociedade deve passar. Por exemplo, culto aos antepassados
(LAPLANTINE, 2007).
Outro pensador que representou o movimento evolucionista foi Sir James
Fraser. Segundo DaMatta( 2010, p.103),

Fraser e outros evolucionistas do seu tempo colecionaram milhares de fatos


etnográficos de todo o mundo, construindo uma verdadeira historia da huma-
nidade vista pelo prisma dos deuses, dos rituais, dos sacrifícios, das magias e da
religião. Mas neste processo de classificação de costumes primitivos eles separa-
vam os fatos do contexto onde surgiam.

Assim, os evolucionistas não comparavam os costumes com o contexto e


nem com outras sociedades. Apenas comparavam os costumes com os próprios
costumes, sem a noção da totalidade como um todo, eles apenas colecionavam
objetos típicos da trajetória da humanidade, postos em museus.
Deste modo, conforme DaMatta (2010), o evolucionismo possuí quatro tó-
picos fundamentais:

1)A compreensão de sociedades humanas deveria ser comparada por seus


costumes. Totalmente fora do contexto e das relações sociais. Como era vista
fora do contexto de outras sociedades cada costume seria apenas um estágio
sociocultural especifico. Todos os costumes seriam definidos pelo investigador,
que certo do que acreditava, classificava-a em um estágio específico.
2)Todo costume possuí uma origem e um fim. O fim, para eles, com certeza,
era a civilização. Os evolucionistas não iam a campo, portanto criavam ideais
sobre o que passava nas mentes dos nativos.
3)Toda a sociedade se desenvolve de forma linear ocorrendo o progresso e
determinação. A evolução é inevitável. O determinismo move a sociedade de

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UNIDADE 1

forma oculta. São forças que estão além dos indivíduos da sociedade.
4)Todas as formas sociais estão sujeitas ao tempo, de forma classificatória,
uma vez que depende do desenvolvimento da sociedade em que vivo. Aquilo que
é novo, na verdade é velho já que outras sociedades mais avançadas já passaram
por esse mesmo processo antes de serem a mais evoluída. O presente é explicado
pelo passado.
O evolucionismo tinha como interesse principal a religião, sistemas fami-
liares, parentescos e as organizações sociais. Contudo, sempre em uma ideia de
evolução do primitivo para o mais civilizado.
Percebe-se um julgamento de valores na teoria evolucionista. Obviamen-
te, que não devemos aqui, condenar tal corrente já que sem ela a antropologia
contemporânea não teria nascido. Vários são os pesquisadores fundamentais
que contribuíram na antropologia evolucionistas. Citaremos dois deles: Edward
Burnett Tylor; Lewis H. Morgan

Difusionismo

O difusionismo foi uma corrente antropológica que veio como reação à teoria
evolucionista. Eles não acreditavam em uma sociedade unilinear, no qual todas
devem passar pelos mesmos estágios. Ao contrário da evolucionista o difusionis-
mo acreditava que o desenvolvimento cultural ocorria de forma difusa de uma
cultura para outra. Cada sociedade toma “emprestado” aspectos culturais de
outra sociedade ocorrendo assim uma difusão das culturas e consequentemente
a evolução da mesma. Foram os difusionistas que modificaram o conceito de raça
pelo conceito cultural, tirando assim os aspectos biológicos.
De acordo com Laplantine (2007), três escolas se destacam na divulgação do
difusionismo: a escola Inglesa, a escola alemã e a americana. Na escola Alemã
acreditavam que essa difusão ocorria em círculos, denominados kulturKreise.
Seus principais representantes eram o Wilhelm Schimdt, Fritz Graebner, Frie-
drich Ratzel.
A escola inglesa era representada por G. Elliot Smith e Willian J. Perry. Para
estes estudiosos todos os traços culturais vieram de um único lugar, o antigo
Egito. Ali era o centro cultural de toda a humanidade.
Os difusionistas, independentemente da corrente, realizavam um vasto tra-

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balho de campo colhendo materiais. Acreditavam que a diversidade cultural se


devia ao fato da apropriação dos aspectos culturais de outras sociedades expli-
cando inclusive as diferenças.
Franz Boas foi o principal pesquisador da escola americana. Para ele todo
objeto e fenômeno são dignos da ciência, inclusive uma piada. Seu foco principal
foi à reconstituição histórica e um vasto trabalho de campo.
Após o difusionismo deu-se outras teorias entre elas o funcionalismo, asso-
ciado à obra de Malinowski no qual em uma sociedade ocorre um sistema inte-
grado de relações sociais. A Europa deixa de ser o centro do universo e as tribos,
as culturas passam a ser a nova referência. Foi com a revolução funcionalista que
o homem pode se ver no outro.
Com o advindo das novas correntes de pensamento a antropologia pode
se firmar como ciência e mostrar como esta profissão é imprescindível para a
compreensão dos homens em suas diferenças biológicas, geográficas, políticas,
econômicas, psicológicas e sociais.

Considerações finais

Querido estudante nesta unidade você aprendeu alguns conceitos funda-


mentais sobre antropologia. Resumidamente você apreendeu que a antropologia
estuda o homem e suas culturas diversas em distintas sociedades. O homem em
sua totalidade sem esquecer-se de suas particularidades. Seu campo antropoló-
gico abrange a antropologia biológica, a antropologia pré-histórica, antropologia
linguística, a antropologia psicológica e a antropologia social ou cultural. Nos pri-
mórdios a antropologia compreendia os homens diferentes de diferentes culturas
como um mau selvagem e a civilização era uma evolução no qual os “selvagens”
deveriam se transformar. Por outro lado, outros pesquisadores, como Cristovão
Colombo, via os selvagens como bons, sendo pessoas bonitas que moravam em
verdadeiros paraísos. Também compreendeu as diferenças entre ciências natu-
rais e sociais na perspectiva da antropologia. Abordamos as principais correntes
como o evolucionismo e o difusionismo. Deste modo, você percebeu como foi se
desenvolvendo o olhar antropológico sobre os homens considerados por muito
tempo como selvagens, primitivos, mas hoje sabemos que são indivíduos que
vivem de forma diferente, nem melhor, nem pior.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Diante dos textos estudados nesta unidade conceitue Antropologia.

2. Quais são as cinco áreas principais da Antropologia?

3. Explicite sobre os conceitos do bom selvagem e do mau selvagem.

4. Discorra sobre o Evolucionismo e sobre o Difusionismo.

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2 Antropologia
jurídica
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade serão abordados os conceitos e a história da antropo-

logia jurídica, as questões das regras nas sociedades consideradas primi-

tivas, um breve relato da historia da antropologia no Brasil e os principais

pontos sobre as relações entre direito e antropologia para que você estu-

dante compreenda melhor essa ligação.

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UNIDADE 2

Na primeira unidade você compreendeu o conceito de antropologia. Nesta


unidade você compreenderá o significado da antropologia jurídica. Não pode-
mos negar a importância desta disciplina na apreensão do significado antropo-
lógico do diferente. Antropologia legal teve e ainda tem que lutar para efetivar
sua importância nos aspectos legais. Anarquia e harmonia são conceitos que
fazem parte de uma sociedade que, distintas umas das outras, cada qual deve
possuir suas regras, suas leis, mesmo que não documental, para tentar preservar
as relações existentes entre um mesmo povo.

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O que é antropologia jurídica

A antropologia é a área que estuda o homem em todas as suas dimensões.


Antropologia jurídica estuda as leis (regras) de sociedades distintas e compara
umas as outras. Por exemplo, estudar as normas de uma tribo e comparar com
as leis da sociedade brasileira contemporânea. As sociedades sofreram desen-
volvimento histórico-cultural ao longo dos anos e consequentemente houve um
desenvolvimento de leis e transformações culturais.
A antropologia clássica legal estudava o direito do “primitivo” no qual não
havia Estado e as sociedades eram simples. Já antropologia jurídica atual, vai além
das sociedades consideradas primitivas, estuda todas as formas de leis, incluindo
as sociedades que não possuí Estado e as que são dirigidas pelo mesmo, uma
vez que todas as regras são estabelecidas por meio da vida social e econômica
(SHIRLEY, 1987).

Leitura complementar

Para melhor entendimento sobre a relação entre Antropologia e Direito leia


o livro: Antropologia e Direito: Temas Antropológicos para Estudos Jurídicos.
Organizado por Antonio Carlos de Souza Lima.

A história da antropologia legal

De acordo com Shirley (1987), existem três escolas de antropologia legal: a


escola britânica, a escola holandesa e a escola americana.

A escola Britânica:

A forma de vida dos Britânicos contribui para a visão da antropologia jurídica


no país: Os britânicos, na época do Império tinham mais interesses em garantir
seus monopólios comerciais e suas industriais (garantir a matéria prima) e com
isto não tinham tanto interesse em cobrar impostos dos povos dominados. As-
sim, “tinham pouco interesse em mudar as leis dos povos que controlavam ou

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UNIDADE 2

impor-lhes sua religião, porém desejavam manipular sua base econômica para
a produção comercial” (SHIRLEY, 1987, p.15-16). Contudo, havia um interesse
que era o direito consuetudinário, isto é, direitos que surgem dos costumes de
certas sociedades. A escola Inglesa e a antropologia tomam novos rumos, por
volta de 1930, devido a influencia do antropólogo Malinowski que influenciou
nas questões sobre filosofia legal e ciências sociais preocupando-se com questões
legais como a posse de terra, o casamento, os juízes, etc.

A escola Holandesa:

Esta escola também teve como objetivo melhorar seu império colonial, prin-
cipalmente as leis da Indonésia e as leis consuetudinárias das ilhas. Contudo, eles
também fundaram um centro de pesquisa nos quais vários antropólogos estuda-
vam essas leis consuetudinárias. O instituto era dirigido por C. van Vollenhoven.

A escola Americana:

Os Estados Unidos estavam mais preocupados em conquistar terras do que


pessoas. Assim, tornou-se um país imperialista expandindo e conquistando tri-
bos nativas de vários lugares inclusive do México.
Os americanos utilizaram como mão-de-obra pessoas da Europa, África e
Ásia, uma vez que poucos lhes interessavam o trabalho do indígena.
Os estudiosos americanos estavam mais preocupados com as questões teóri-
cas do que com a dominação pratica dos povos. Roy Barton escreveu o primeiro
livro importante sobre antropologia legal denominado Direito Ifugao, publicado
em 1919, discorrendo sobre um povo, Ifugao Law, Filipino (SHIRLEY, 1987).

A antropologia jurídica:

Também não podemos deixar de discorrer outro ramo da antropologia legal:


a antropologia jurídica, nesta observa-se as instituições jurídicas e as sociedades
como um todo. Um dos primeiros estudos antropológico foi realizado por Mi-
chael Banton denominado O policial na comunidade de 1964. Aqui já começa o
interesse pelas instituições jurídicas modernas. Um dos papeis da antropologia
jurídica é estudar as regras de convívio social das chamadas sociedades primitiva

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e comparar umas com as outras. Lembrando que o método do antropólogo é a


observação participante.

Sugestão de vídeo

Assista ao Simpósio: Perícia Antropológica e a defesa dos direitos sociocul-


turais no Brasil (2008) organizado por Cristhian Teófilo da Silva diretamente do
site da Associação Brasileira de Antropologia (www.abant.rg.br).

Direito comparado

Sir Henry Maine estudou a evolução do direito, por isso o mesmo é um dos
precursores do direito comparado. Nesta ramificação o estudo e a comparação
dos distintos sistemas jurídicos são à base do mesmo. Cabem ao antropólogo
estes estudos já que o mesmo possui uma vasta compreensão multicultural das
sociedades distintas.

A ordem nas sociedades simples

Vejamos essa citação de Shirley (1987, p.38):

O direito é fundamentalmente uma série de regras primárias, desenvolvidas


para permitir que uma sociedade funcione, para solucionar disputas entre gru-
pos e entre indivíduos, e também uma série de normas secundárias, estabelecidas
para cercear aqueles que ameaçam a ordem social sob controle.

Você estudante consegue conceber uma sociedade sem nenhuma lei, normas
ou regras escritas e estabelecidas no qual não houvesse nenhum tipo de conflito?
Como seria possível manter a ordem vigente? Incrível mas existem vários antro-
pólogos que afirmam que seria possível manter uma ordem mesmo a sociedade
sendo simples e sem Estado. Vejamos: as próprias comunidades simples faziam
vários papeis de “autoridade” uma vez que eles não tinham nenhuma forma de

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UNIDADE 2

administração profissional cabendo a família e a comunidade esse papel. Ambos


exerciam um poder legal no controle social, principalmente a família. Shirley
(1987) conta uma historia ocorrida com o povo indígena Cheyenne cujo perso-
nagem principal é um rapaz denominado Pawnee.

A história de Pawnee

Esta história que apresentaremos resumida foi apresentada por Llewellyn e


Hoebel contada por Lobo Negro.
Lobo Negro conta que um jovem Pawnee roubava carne das prateleiras, des-
respeitava as pessoas, ofendia-as pessoalmente e roubava cavalos. Um dia Pawnee
roubou dois cavalos de uma família, depois de dias vagando com os mesmos,
ele se viu cercado por um grupo de pessoas. Quando estas pessoas o alcançaram
eram soldados Corda-de-Arco procurando-o. Bateram muito nele, estragaram
as armas, as roupas, cobertores e tudo o que lhe pertencia. O jovem ficou sem
possibilidade de ficar em pé. Os soldados partiram levando os cavalos roubados.
No outro dia depois de andar vagarosamente ele sentou-se na colina aguardando
a morte foi quando apareceu um caçador. Este era Lobo-do-Dorso-Alto que des-
ceu de seu cavalo abraçou o jovem e chorou ao ver sua situação. Era um chefe.
Levou-o para sua casa. Lá ele se alimentou. O chefe falou a sua comunidade que
não esperaria nada deles em relação ao jovem e que também não perguntaria
nada a ele enquanto o mesmo não se estabelecesse. Assim o fez. Quando o jo-
vem estava melhor o chefe queria saber a verdade o que havia ocorrido. Pawnee
contou tudo inclusive que havia roubado. O chefe o repreendeu e falou que ele
poderia ficar ali, contudo o jovem não quis assim, o chefe o equipou com armas
e cavalo. O jovem partiu, mas não retornou a sua sociedade, uma vez que lá
ele sabia que sempre seria um homem sem valor. E o chefe disse: “lembrem-se
você pode fugir, porém seu povo sempre lembrará. Apenas obedeçam as leis do
acampamento e vocês farão tudo certo” (SHIRLEY, 1987).
Esta história verdadeira nos mostra como sociedades simples possuem suas
leis. O próprio povo da aldeia fez justiça representada como soldados. O Lobo-
-do-Dorso-Alto como chefe fez papel de juiz e conselheiro. Assim, não é neces-
sário ter leis escritas e documentadas para se fazer valer uma regra em uma dada
sociedade. A própria comunidade e a própria família faz o papel das autoridades.
Toda a comunidade possuí uma interdependência econômica da comunida-

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de na sociedade. Todos possuem obrigações e direitos econômicos para manter


a sobrevivência da comunidade como um todo.
As comunidades desenvolveram várias sanções tanto sociais como psicoló-
gicas para manter a ordem e dar uma advertência àquele que cometer a infração.
Antes de tomarem uma atitude mais severa como expulsão ou morte os infratores
passam por penalidades mais leves. Daremos um exemplo da atitude do povo
esquimó para aqueles que infringem as normas do Escárnio:
Escárnio: os esquimós adoram zombar e se divertirem com os defeitos dos
outros, assim a vítima pode, dependendo da gravidade do escárnio, acionar uma
das seis penalidades: 1- ridicularizar essa pessoa em público com o apoio de toda
a comunidade. 2- convidá-lo a uma competição com musica publicamente; Na
terceira etapa a vitima recorre a um ancião, parente do acusado, e convencê-lo do
problema; 4- Caso a situação seja mais grave ainda pode ocorrer a destruição das
armas e dos alimentos do acusado; 5- pode desafiá-lo a um duelo de boxe e por
fim, 6- a morte, isto é, a vitima pode matar o acusa com o apoio da comunidade.
Essas sanções possuem o apoio geral de todos e da comunidade. Nas comu-
nidades agrícolas, como possui mais riquezas acumuladas, as sanções são mais
severas. Foram nessas sociedades que ocorreram os primórdios das instituições
jurídicas (SHIRLEY, 1987).

Antropologia jurídica no Brasil

A ciência jurídica no Brasil é bem desenvolvida. Entretanto, é na aplicação


das mesmas que a coisa fica mais complicada. Há uma divisão entre a teoria e
a prática. Toda a filosofia jurídica do Brasil está nitidamente relacionada com a
elite. Doutrina de braços dados com o Liberalismo.

Algumas leis no Brasil são escritas para atingir o objetivo tencionado pelo
legislador ou pelo governo, e para fazer cumpri-las é montado um sistema de
aplicação de leis adequado. Outras são escritas com fins de propaganda, para
satisfazer oficialmente a alguns grupos de interesses; “para inglês ver”, como diz
o velho ditado (SHIRLEY, 1987, p.89).

A execução da lei, muitas vezes ocorre somente a poucas pessoas e a popula-

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UNIDADE 2

ção não acredita mais nas leis e na justiça. Quem nunca ouviu alguém dizer que
a lei só funciona para os pobres e os “ricos” ficam livres? Sabemos que muitas
pessoas de classe social alta pagam penas por seus crimes, mas por outro lado,
também sabemos que muitos escapam, dando o famoso “jeitinho”. Como discorre
Shirley (1987, p.89) “A lei lá está para ser usada seletivamente: para nossos amigos,
a amizade; para nossos inimigos, a lei”.

Reflita

Imagine um rapaz que, acusado de cometer homicídio qualificado contra sua


suposta namorada, constitui um bom advogado de defesa. Este em suas alegações
busca afastar o jovem do motivo utilizando para isso uma descrição detalhada
da vida do réu como: estudante de medicina exemplar, jogador de hóquei, edu-
cado, residente em um bairro nobre, etc.; Ao discorrer sobre a vítima a classifica
como “garota de vida fácil”, semianalfabeta, moradora de bairro desfavorecido
e sem emprego fixo. Tal discurso está impregnado de aspectos culturais no qual
eleva uma pessoa e rebaixa outra. Colocando uma distância entre a vítima e o
acusado. Cria-se um preconceito no qual o fator cultural e antropológico está
presente o tempo todo. Dá a entender que pessoas como a vítima só poderiam ter
esse fim, mas que o réu não poderia ter cometido já que não pertence a mesma
classe socioeconômica.
Deste modo, pensem, reflitam: a antropologia está ou não em todos os âm-
bitos sociais? Quanto às alegações nos processos estes estão ou não repletos de
preconceito culturais e sociais?
No Brasil observamos como as pessoas evitam enfrentar qualquer instituição
judiciária, uma vez que perderam sua fé na justiça e na lei e não é para menos,
a morosidade do Poder Judiciário é relativamente alta. As consequências dessa
espera são devastadoras para qualquer cidadão que está aguardando a justiça para
se sentir literalmente justiçado! Muitos dão um “jeitinho” informal para resol-
verem seus problemas, uma vez que acreditam que as possibilidades de perder
são grandes. Contudo, há exceções, um juiz que julga uma causa, por exemplo,
do direito de posse da terra dos pobres da zona rural, em uma pequena cidade
é considerado um bom juiz e a legitimação passa a ser pessoal, isto é, é um juiz
“exceção”, mas na verdade é a legitimação da instituição. Entretanto, essa legiti-

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mação é diferente em grandes metrópoles no qual o juiz desconhece totalmente


sua população, por exemplo, na grande São Paulo, que possuem muitas varas.
Neste sentido, cabe ao Estado trazer a justiça para seu povo. Entretanto, ao
mesmo tempo, que pode libertar pode também ser instrumento de repressão. É
o caso da Polícia. (SHIRLEY, 1987). O Poder Judiciário não fica atrás: Este não
pode ser somente de condenação. O poder judiciário no papel do Juiz deve hu-
manizar e aplicar a lei. Como um juiz deve agir perante o infanticídio de crianças
indígenas praticada na amazonas? Existe réu ou é apenas a expressão de uma
cultura diferente?
Pensando no Ministério Público o mesmo pode trabalhar em função de uma
elite ou legitimar, fiscalizar a defesa da ordem jurídica, da democracia e dos di-
reitos dos indivíduos.
Essa dicotomia repressão versus legitimação da justiça existe. Infelizmente os
próprios agentes, muitas vezes perpetuam tais atitudes e, dentro do preconceito,
muitos condenam os de baixa renda, do morro, e enaltecem a elite dominante.
A antropologia jurídica existe justamente para compreender e pesquisar a
aplicação das leis nas sociedades e demonstrar a arbitrariedade e a contradição
existente nos sistemas e na sociedade contemporânea. Vejam que no Brasil exis-
tem “culturas” distintas dependendo do Estado e da região que o indivíduo mora.
No Rio Grande do Sul existe uma cultura gaúcha com rituais típicos: músicas,
vestimenta, sotaque, etc. diferente da vida diária de um paulista. Essas diferenças
devem ser levadas em consideração.
Cabe à antropologia estudar os comportamentos, as atitudes e as vidas da
população, seja nas cidades, nos campos, nos sistemas prisionais, nas tribos, en-
fim, em qualquer contexto a antropologia deve levar seu conhecimento científico
para que todos compreendam o verdadeiro significado de alteridade. Lembrando,
caros estudantes, que alteridade nada tem a ver com aceitar todo e qualquer tipo
de comportamento só porque é diferente! Por exemplo: aceitar os neonazistas
porque fazem parte de um grupo com pensamentos e comportamentos diferen-
tes. Até porque no Brasil nazismo é crime!

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UNIDADE 2

Método de investigação antropológica

Diante do que foi discorrido acima, você pode estar se perguntando qual
método um antropólogo pode utilizar para compreender um sistema jurídico
e/ou qualquer outro fenômeno. Desta forma, descreveremos resumidamente
os principais polos teóricos do pensamento antropológico contemporâneo que
pode ser utilizado para trabalhar a antropologia jurídica.

Antropologia simbólica

A antropologia simbólica estuda uma das linguagens mais utilizadas: o sím-


bolo. Os símbolos são expressos principalmente por meio das religiões, das mi-
tologias e dos cosmos. Isto significa que o antropólogo questiona, por exemplo,
o que significa tal imagem em tal religião? Ele apreende o objeto por meio do
sentido (LAPLANTINE, 2007). A antropologia simbólica indaga sobre os dis-
cursos realizados nas sociedades. Quer saber o significado do discurso. Em um
sistema jurídico seria de extrema relevância o estudo e a compreensão do discur-
so e dos símbolos, já que cada indivíduo, apesar de expressar uma época e uma
sociedade histórica, leva em seus lábios discursos datados que expressam seus
comportamentos e atitudes. Os símbolos por sua vez possui representatividade
e atua também como controle de conduta, por exemplo, as placas de transito.

Antropologia social

Já na antropologia social seu objeto está nitidamente focado dentro da eco-


nomia. Muito próximo da sociologia e do pensamento de Émile Durhkeim e
Malinowski, está ligado à questão da função, isto é, da normatização, principal-
mente da organização interna dos grupos. Os antropólogos questionam para que
serve a instituição judiciária? Estudando os grupos pode-se chegar ao estudo do
pensamento, dos sentimentos, da linguagem, etc. (LAPLANTINE, 2007).

Antropologia Cultural

Na antropologia cultural os estudos são totalmente empíricos, mas que estão


ligados mais em relação ao sentido do que em relação às normas e sistemas. Para

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essa teoria a continuidade e a descontinuidade entre a natureza e a cultura e entre


as culturas. Lévi-Strauss (do sentido para o sistema) vai ser um dos representan-
tes que pensa a continuidade, ou seja, a diferença de cada cultura e a coerência
interna é denominada de culturalistas.

Antropologia Estrutural e Sistêmica

Alguns representantes desta teoria utilizam o modelo psicanalítico (Sigmund


Freud foi o pai da psicanálise) o inconsciente explica o consciente, e outros uti-
lizam o modelo linguístico, matemático, etc., como Lévi-Strauss e Bateson. In-
dependentemente do modelo utilizado o conhecimento antropológico se rees-
trutura depois do pensamento Freudiano, uma vez que o inconsciente vai fazer
parte das dúvidas. Por exemplo, qual seria as estruturas inconscientes que estão
atuando na arte? Já que existe uma inconsciente universal.

Antropologia dinâmica

Na antropologia dinâmica foca-se o campo sociológico, porém rompe com


o pensamento de Durkheim e Malinowski e neste sentido esta teoria não nega
as contradições, as mudanças históricas. Na análise social deve-se compreender
que a mudança existe. As sociedades não são atemporais, mas estão em mutação.
Laplantine (2007) cita o caso das mudanças que ocorreram devido ao fato das
transformações religiosas como a católica e a protestante.

Saiba mais

Fique por dentro dos temas de Antropologia acessando o site da Associação


Brasileira de Antropologia (www.abant.org.br ).

Considerações finais

Nesta unidade você apreendeu que a antropologia jurídica estuda as leis de


várias sociedades e compara umas as outras. Abordamos a historia da antro-

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UNIDADE 2

pologia jurídica inclusive no Brasil. Compreendeu que as normas existem em


sociedades consideradas simples ou “primitivas” independentemente de terem
um Estado. Também apreendeu que o sistema jurídico contemporâneo pode
fazer um papel repressor ou de legitimação da instituição. Por fim, refletimos
sobre as abordagens teóricas que o antropólogo pode se embasar para estudar
e analisar qualquer sociedade. Você compreendeu que a antropologia jurídica é
imprescindível para o campo jurídico já que, apesar do período histórico ser o
mesmo, existem distintas sociedades com diferentes culturas.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Discorra sobre o conceito de Antropologia Jurídica.

2. Diante de tantas “culturas” distintas existentes no Brasil como funciona a Antropo-


logia Jurídica?

3. Nas sociedades denominadas simples as leis e as regras são distintas das sociedades
consideradas desenvolvidas. Assim, diante dos estudos da unidade discorra sobre
a questão central da história do índio Pawnee e sua relação como campo jurídico.

4. Quais são os métodos de investigação antropológicos? Discorra sobre as cinco for-


mas.

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3 Concepções de
cultura
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade será abordada a definição de cultura, as teorias que

versam sobre como a cultura opera diretamente no homem e como ocor-

re a dinâmica cultural. Este estudo permite ao profissional de direito fazer

uma leitura critica da relação entre cultura e o comportamento humano.

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UNIDADE 3

Quando falamos em cultura as pessoas, de certa forma, compreendem sobre


o que estamos falando, mas seu significado real nem sempre é entendido. Alguns
creem que quando alguém diz: aquela pessoa não tem cultura estão dizendo
que não possuem conhecimento daquilo que elas consideram como bom, como
um filme de arte, uma opera, etc., como erudito. Por outro lado, outras pessoas
podem crer que quem não tem cultura é justamente as pessoas que gostam de
música clássica, por exemplo. Entretanto, não existem pessoas sem cultura, todos
estão inseridos em uma cultura.
A cultura vai depender do período histórico-social no qual o indivíduo está
inserido, por exemplo, a cultura do período medieval era completamente dife-
rente da cultura contemporânea. Mas qual a definição de cultura? Existe apenas
um conceito? É o que veremos a seguir.

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Conceituando cultura

O primeiro antropólogo a definir o conceito de cultura foi Edward Tylor


(1832-1917). Ele sintetizou o termo Kultur (germânico) com o conceito Frances
civilization. Kultur significava os aspectos espiritualizantes de uma comunidade
e Civilization significava as realizações materiais de uma sociedade (LARAIA,
1986).
O conceito de cultura até o século XVI estava relacionada ao ato de cultivar
algo, como um alimento, uma colheita. A partir do século XVIII este conceito
vai se modificar e se relacionar ao conceito de progresso social, relacionada ao
pensamento iluminista.
A cultura para os alemães, portanto era manter a cultura alemã. Já para os
franceses a cultura era universal. Assim, no século XIX, cultura passou a ter um
significado próximo às artes, práticas religiosas, educação, etc.
Mas para Tylor cultura é “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este
todo complexo que incluí conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de
uma sociedade” (LARAIA, 1986, p.25).
Tal conceito abarca todas as possibilidades de realizações da humanidade
em todos os âmbitos.
A cultura não é algo inato ou natural, mas uma construção humana conforme
a vida objetiva que independe de transmissão genética. É transmitido de geração
em geração por meio da linguagem e pela mediação entre os homens. “O homem
é o único ser possuidor de cultura” (LARAIA, 1986).
Toda a cultura é passível de estudos e pesquisas para se compreender os com-
portamentos de um determinado povo.
Taylor teve toda a influencia do livro de Darwin, Origem das espécies, em
relação à evolução das espécies. Assim, acreditava-se na uniformidade do de-
senvolvimento da cultura, isto é, que todas as culturas percorressem o mesmo
caminho das sociedades consideradas avançadas não havendo um relativismo
cultural, os multicaminhos, já que Taylor acreditava que a humanidade tinha uma
unidade psicológica. Taylor foi muito criticado por pensar desta forma, mas ele
expressava uma época no qual o evolucionismo estava no auge.
A cultura varia de uma a outra e os comportamentos humanos também.
Todo o comportamento é aprendido e não possui nada de genético em seus

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UNIDADE 3

pensamentos ou formas de agir na sociedade.


O homem pode se inspirar na natureza e até imitá-la, mas suas formas de
produção são totalmente humanas e não naturais. Como criar o avião para voar,
sem ter asas como os pássaros. O antropólogo Kroeber estudou muito as dife-
renças do orgânico e do cultural.


“O conceito de cultura até o século XVI estava rela-
cionada ao ato de cultivar algo, como um alimento, uma
colheita.”

Kroeber contribui para o conceito de cultura discorrendo que: a cultura jus-


tifica o comportamento humano; as pessoas atuam conforme seus padrões cul-
turais; com a cultura o homem se adapta a diferentes ambientes; com a cultura o
homem transformou seu habitat; com a cultura o homem independe do biológi-
co; o comportamento humano é determinado pela aprendizagem, ou endocultu-
ração; a cultura passa de geração a geração; com a cultura o gênio tem a chance
de utilizar seus conhecimentos e criar por meio de seus pares e de sua cultura.
Laraia (1986) discorre que o homem ao adquirir a cultura perde sua pro-
priedade animal. Por exemplo, um cachorrinho criado por uma gata, mesmo
convivendo não miará quando crescer, mas vai latir normalmente. Já uma criança
japonesa criada no Brasil vai crescer como uma criança brasileira e nada terá, em
termos comportamentais, de uma criança japonesa com exceção de seu físico.

Discorreu que o homem liberta-se da natureza se expandindo


por todos os lugares do planeta. O humano pode criar modificando
a natureza a seu favor.

Para os marxistas a cultura tem um significado diferente dos antropólogos.


Alguns intelectuais, por volta de 1960, como Raymond Williams e Edward P.
Thompson, eram “novos esquerdistas” que voltaram seus estudos para a “cultura
dos trabalhadores”, preocupados em reformar o conceito de cultura. Williams
estou Bakhtin para compreender que a cultura estava relacionada a linguagem.
Para Bakhtin a linguagem é uma atividade produtiva

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Deste modo, a cultura para Williams é uma força produtiva que constrói a
sociedade e as próprias pessoas. Ele também retomou o pensamento de Gramsci
em relação a seus estudos sobre hegemonia. Assim, a cultura de uma determinada
classe social, a dominante, subordine os valores e as crenças das outras classes e
essas seguem, sem nenhum processo consciente da situação.
Demonstrando tais concepções podemos afirmar que a cultura é uma consti-
tuinte social, pois constrói valores e significados de uma determinada sociedade
em um determinado período histórico.
A origem da cultura está totalmente relacionada ao desenvolvimento huma-
no, que discorremos na unidade XI, isto é, quando ocorreu a hominização por
meio dos instrumentos, da linguagem e do trabalho em sociedade.

Leitura complementar

Para uma reflexão sobre cultura indicamos o livro: Cultura, Percepções e


Ambientes: diálogos com Tim Ingold de Carlos Alberto Steil e Isabel Cristina de
Moura Carvalho. O livro discorre sobre a dicotomia entre cultura e natureza. O
livro é um diálogo com um importante pensador contemporâneo da área Tim
Ingold.

Teorias sobre cultura

Muitas teorias vêm tentando superar o conceito de cultura desde sua formu-
lação. Laraia (1986) cita o antropólogo Roger Keesing, em seu artigo, Theories
of Culture para discorrer a cerca das modernas teorias. Assim, utilizaremos os
mesmos conceitos para explicitar tais concepções.
A teoria do sistema adaptativo, fundada e difundida pelos neoevolucionistas
como Leslie White e por Sahlins, entre outros, discorre que:

1) Toda cultura é um sistema que adaptam as pessoas. “Esse modo de vida das
comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de
estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas
religiosas, e assim por diante” (LARAIA, 1986, p.59).

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UNIDADE 3

2) A mudança cultural está ligada a adaptação natural com o meio que o ho-
mem, já que é como animal, precisa sobreviver. Essa adaptação se dá pela seleção
natural, de forma biológica.
3) O domínio mais adaptativo da sociedade é os elementos da organização
social.
4) Todo componente ideológico pode contribuir para o controle das pessoas,
da ecologia, etc.

As teorias idealistas de cultura são subdivididas em três:

1) A cultura é um sistema cognitivo, ou seja, “análise dos modelos construídos


pelos membros da comunidade a respeito de seu próprio universo” (LARAIA,
1986, p.60-61). Pela linguagem as pessoas acreditam naquilo que conhecem.
2) A segunda teoria discorre a cultura como sistemas estruturais, isto é, um
sistema simbólico que é criado na mente dos homens. Esta teoria foi elaborada
por Claude Lévi-Strauss. Para ele o pensamento é submetido ao inconsciente e
controlam concretamente o comportamento de um grupo social.
3) A última teoria compreende a cultura como sistemas simbólicos que teve
como fundadores Clifford Geerts e David Schneider. De acordo com esses teóri-
cos, os homens possuem uma estrutura para receber uma cultura, qualquer que
seja, como um programa de computador, e poderiam viver em várias culturas
distintas, mas não vivem porque nascem em uma cultura especifica. Assim, refuta
a ideia de que a cultura está na mente das pessoas.

Deste modo, muitas são as teorias que discorrem o conceito cultural, como
a marxista, discorrida no item acima, mas as teorias conceituais não terminam
por aqui, como explicita Laraia (1986, p. 63) “Os antropólogos sabem de fato o
que é uma cultura, mas divergem na maneira de exteriorizar este conhecimento”.

A cultura e o homem

O homem expressa sua cultura em seus comportamentos. A cultura de países


muçulmanos é completamente diferente da cultura brasileira. A forma de tratar
uma mulher, os homoafetivos, etc., vai depender das normas, éticas e valores de

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UNICESUMAR

determinada cultura. Em algumas tribos norte-americanas, o homoafetivo era


visto como uma pessoa mágica, com relação com o mundo espiritual, portanto
era respeitado por essa tribo. Os esquimós, por respeito a seus idosos o deixam
e eles querem para morrer no gelo e ser devorado pelo urso. Depois eles matam
o urso e o comem acreditando que a espiritualidade do idoso é incorporado ao
ser ingerido (LARAIA, 1986).
A cultura não pode ser condenada simplesmente porque é diferente de outra,
contudo devemos nos atentar para o fato de a cultura não justificar barbáries
contra a vida humana. O infanticídio é uma dessas questões que se deve levar
em conta.

Sugestão de vídeo

Para aprender sobre culturas diferentes assista o canal fechado Discovery ou


Discovery Home&Health. Tais canais passam documentários sobre culturas e
hábitos diferentes.
Outro ponto importante de lembrar é que mundialmente estamos vivendo a
revolução tecnológica e super produção. Todos querem ter acesso, inclusive nas
tribos indígenas que muitos já possuem celulares, roupas de marca conhecida,
televisão, etc. Portanto, devemos refletir se temos direito de manter uma cultura
que está impregnada da cultura capitalista somente porque é “bonito” é para
“inglês ver” está correto, uma vez que muitos indígenas desejam ter acesso aos
bens materiais produzidos, e eles tem direito assim como todo indivíduo de ter.
Fica um questionamento: mudar a cultura usufruindo de tênis de marcar, celular,
televisão, parabólica e fazer comércio pode? Mas mudar a cultura milenar de
matar crianças gêmeas ou que nascem com deficiência não pode porque nesse
caso é interferir na cultura alheia?
Devemos respeitar a cultura diferente, mas também devemos ter bom senso
e pensamento crítico ao analisarmos as questões culturais de um povo para não
cairmos em um relativismo no qual tudo é aceito inclusive a barbárie.

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UNIDADE 3

Mudança cultural

O homem considera sua cultura como a melhor. É compreensível uma vez


que ele nasceu naquela cultura que lhe foi transmitida como natural. Esta é uma
visão etnocêntrica, isto é, crer que sua cultura seja a mais correta. Contudo de
natural não tem nada, uma vez que a cultura é uma construção humana. A de-
sigualdade social, por exemplo, não tem nada de natural ou divino, mas é fruto
da ação do homem.

Reflita

Quando nos deparamos com culturas distintas agimos de forma defensiva


e muitas vezes com desprezo. Temos uma cultura alimentar no Brasil que não
nasceu com a gente, isto é, não é natural gostar de churrasco de boi, por exem-
plo. Entretanto, na China se alimentar de cachorro é considerado normal. Mas
não aceitamos esse tipo de gastronomia. Quem está correto: os chineses ou os
brasileiros? Reflita sobre!
Muitos conflitos ocorreram e ocorrem devido a estas questões de diferenças
culturais. Laraia (1986, p.73) discorre que “tais crenças contêm o germe do ra-
cismo, da intolerância e, frequentemente são utilizadas para justificar a violência
praticada contra os outros”. Em um país católico como o Brasil não é de se sur-
preender de ouvir relatos de agressões contra praticantes da religião candomblé,
por exemplo.
O que devemos lembrar é que a humanidade deveria ser o ponto de referên-
cia da humanidade e não apenas o grupo que o indivíduo pertence. A cultura é
tão impregnada no indivíduo que influencia inclusive nos aspectos biológicos e
psicológicos. Vejamos alguns exemplos: alguns indivíduos acreditam que comer a
fruta manga e tomar leite podem até vir a falecer e o indivíduo caso ingira começa
a passar mal, entretanto motivado pela cultura, uma vez que leite com manga é
uma delicia e não faz mal. Outro exemplo são as sugestões psicológicas e às ve-
zes até histérica, no qual um sujeito começa a passar mal, em uma determinada
igreja, cuja religião ele somente havia escutado alguns boatos, na qual ele não
pertence, em sua primeira visita.
A cultura não é estática, pelo contrário, é totalmente dinâmica. De acordo

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UNICESUMAR

com Laraia (1986) há dois tipos de mudança cultural:

1- Mudança interna, isto é, modifica-se devido ao próprio sistema interno


da cultura. Geralmente é um processo lerdo, mas que pode vir a ter maiores
proporções caso ocorra, por exemplo, uma catástrofe.
2- Mudança que advêm da interferência de um sistema cultural com outro. A
maioria das culturas é afetada pelas culturas alheias. Veja o exemplo dos índios,
muitos se apresentam em vestimentas com a cultura americana.

O segundo tipo é o mais estudado e o que mais ocorre, denominado de acul-


turação, pelos alemães no inicio do século XX. As diferenças entre pais e filhos
no qual os pais não conseguem compreender a nova geração e vice versa.
Deste modo, a cultura é elástica e dinâmica. Transforma-se tanto interna-
mente como por meio de outras culturas. Nos dias atuais podemos dizer que
estamos próximos de uma cultura universal, diante do capitalismo, no qual todos
se comportam de forma muito parecida, isto é, como verdadeiros consumidores.

Saiba mais

Para se familiarizar sobre a cultura e o direito leia o artigo O reconhecimen-


to, entre a justiça e a identidade de Patrícia Matos. Lua Nova, São Paulo, n. 63,
2004. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102- 64452004000300006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 27 fev. 2013.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-64452004000300006.

Considerações finais

Nesta unidade você apreendeu o conceito de cultura e as teorias que discor-


rem sobre cultura. Abordamos a cultura e a relação direta com o homem. Mos-
tramos como ela é dinâmica e relativa, mas ao mesmo tempo, você apreendeu
que devemos ter um olhar critico sobre o relativismo cultural. Tais questões são
fundamentais para o profissional de direito que vai trabalhar diretamente com
distintas culturas.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Diante do exposto nesta unidade conceitue cultura discorrendo sobre a diversidade


deste tema.

2. Explicite sobre teoria do sistema adaptativo e as teorias idealistas.

3. Em relação ao tópico Homem e a Cultura reflita e discorra sobre o impacto da cultura


no comportamento e no pensamento do homem.

4. Explicite sobre os dois tipos de mudanças culturais que o indivíduo pode passar.

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4 Grupos sociais
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade será abordado o conceito de grupo, suas caracte-

rísticas e como ocorre o processo grupal. Você apreenderá como é im-

portante os grupos sociais em relação à individualidade de cada sujeito.

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UNIDADE 4

Vivemos em grupos, isto ninguém duvida. Mesmo aquele indivíduo que é iso-
lado socialmente necessita dos grupos para sobreviver. Grupos são distintos, mas
existem porque não conseguimos viver sozinhos. Somos um “animal” coletivo.
Em todas as épocas históricas o homem vive em grupos. Dos primatas ao
homo sapiens o homem sempre anda em bandos com algum objetivo em co-
mum. Todo grupo tem um objetivo, alguma identificação entre os pares para que
consigam se encontrarem em algumas características ou metas.
Todos nós de alguma forma vivemos em instituições e estas convivem em
grupos. Seja no trabalho, na igreja, na família, nas escolas, etc.; vivemos e convi-
vemos em grupos. Estes podem ser saudáveis ou não, podem nos fazer bem ou
nos prejudicar.
Mas afinal o que é um grupo? É o que apreenderemos no tópico a seguir.

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Conceituando grupos

De acordo com Zimerman (2008), muitas são as características que definem


um grupo. O conceito de grupo abarca tais pontos sendo elas:
• O grupo não significa uma somatória de indivíduos isolados; o grupo possui
mecanismos próprios;
• Todas as pessoas partilham algo em comum a todos os membros. Um ob-
jetivo de interesse coletivo;
• O grupo é uma totalidade, cada peça é importante para que o grupo coe-
xista;
• Apesar dessa totalidade cada pessoa tem sua individualidade preservada,
sendo imprescindível uma vez que cada individualidade é importante no grupo;
• Todos os grupos possuem hierarquia e distribuições de papéis. “Os papéis
mais comuns são os de bode expiatório; porta-voz; líder, tanto positivo, quanto
negativo, o bonzinho; o agressor, etc.”. (ZIMERMAN, 2008, p.149).
• Os integrantes dos grupos possuem algum vinculo afetivo;
• No campo grupal dinâmico sempre tem fantasias, emoções reprimidas,
transferências, etc.

Sugestão de vídeo

Para reflexão sobre grupos veja o filme Escritores da Liberdade (2007) de


Richard Lagravenese. O filme conta a história de uma jovem professora que tem
que lidar com um grupo de jovens que possuem culturas e etnias distintas.

Características dos grupos

Os processos que compreendem o conceito grupal fazem parte da dinâmica


psíquica de todo campo grupal, isto é, estão em distintos grupos podendo ser, por
exemplo, militar, empresa, entidades não governamentais, governamentais, etc.
Para o autor (2008) muitas são as características do processo grupal e cita
outros processos que fazem parte do grupo e que acreditamos ser importantes:
• O grupo possui duas forças contraditórias: a coesão e a desintegração, isto

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UNIDADE 4

é, um impulso de vida e outro impulso de destruição;


• Existem no grupo os processos conscientes (intencional) e os processos
inconscientes (como afetos, raiva, inveja, ciúmes, etc.);
• O grupo de pressupostos básicos existe em cada indivíduo e em todos do
grupo e significa que esses pressupostos estão na mente dos indivíduos, que pré-
-existem desde os estados mais primitivos e são denominados de: dependência;
luta e fuga e o acasalamento. No primeiro existe uma dependência durante certo
tempo; no segundo ocorre luta ou fuga dos dominantes e por ultimo a possibili-
dade de acasalamento. (ZIMERMAN, 2008). Alguns autores acreditam que estes
processos estão na mente das pessoas e acreditam que isso vai se manifestar em
algum momento.
• Fatores inconscientes e pulsões estão presentes nas relações grupais como
pulsões libidinais, agressivas, narcisistas e de ansiedades. Questões relaciona-
das com desejos; sentimentos persecutórios, agressividade, desamparo, etc.; nas
narcísicas o indivíduo como melhor, mais importantes, mais inteligentes, etc.
• Devido as ansiedades cada membro do grupo se arma com mecanismos de
defesa, ou seja, nega o que está acontecendo, projeta nos outros seus sentimentos,
racionaliza os fatos, etc.
• Nos processos grupais existem os jogos de identificações, isto é, aparecem
como projeções e identificações. Os indivíduos podem projetar seus conteúdos
inconscientes em alguém do grupo ou se identificar com outra pessoa. O autor
denomina tais identificações como galeria de espelhos. Um se espelhando no
outro.

Outros aspectos das características grupais devem ser levados em conta (ZI-
MERMAN, 2008):

• Cada pessoa tem uma percepção de si mesmo e dos outros membros, por-
tanto é importante saber se a percepção de si mesmo vai de encontro coma per-
cepção do outro;
• Como o indivíduo pensa e conversa em relação a algum assunto;
• Os jogos de papeis, isto é, qual papel o indivíduo representa e se é fixo e
estereotipado;
• A socialização dos indivíduos no grupo;
• A comunicação verba ou não-verbal de cada membro do grupo;

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• A cultura é importante de ser observada uma vez que está na relação do


indivíduo com o grupo. Apesar das pessoas estarem na mesma cultura, seus
valores podem variar.

Todo grupo possuí suas características, contudo as citadas acima podem ser
verificadas em sua grande maioria já que explicita as dinâmicas psíquicas.
Tais concepções, discorridas acima, é para apreendermos os processos dentro
de grupos pequenos que visam um objetivo comum, que possuem suas relações
contraditórias e que é imprescindível para a compreensão das relações interpes-
soais no trabalho, na escola, etc. Entretanto, tais concepções por si só não são
suficientes para explicar as relações humanas e a compreensão do indivíduo no
contexto social. Deste modo, discorreremos a seguir uma compreensão das rela-
ções sociais e grupais para a superação das contradições existentes no cotidiano
de cada cidadão.

Processo grupal

Silvia Lane (2012) ao discorrer sobre a concepção de homem, com os pres-


supostos do materialismo histórico, explicita que para conhecermos o indivíduo
dois aspectos é fundamental:

1) O homem desde o momento que nasce está inserido em um grupo social.


2) Toda a participação do indivíduo em grupo depende da linguagem, que
é produto histórico da humanidade, que o sujeito aprende na relação mediada
por outros homens.

Assim, o indivíduo concreto, inserido nas relações grupais, nos processos de


linguagem e nos processos de pensamento deve ser compreendido nas relações
sociais.
Pensar em uma atividade realizada por alguém é considerar as ações que o
sujeito realizou, é pensar em si mesmo e pensar nas pessoas envolvidas para que
essa atividade pudesse acontecer. Vejamos um exemplo:
É comum ouvirmos jovens dizendo que não vê a hora de ser livre e não de-
pender de ninguém. Mas independência e liberdade é uma utopia. Não tem como

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UNIDADE 4

não depender de ninguém. O alimento que você compra precisou ser plantado,
colhido e produzidos por pessoas desconhecidas, mas que você não conhece e
provavelmente, nem vai conhecer. As roupas, os calçados, etc., tudo é produzido
pelos homens e fazem parte das relações sociais.

Reflita

É possível uma pessoa viver sozinha e isolada de todos? É comum ouvirmos


os indivíduos dizerem: Quero ser livre e não depender de ninguém! Mas será que
liberdade realmente existe? Pense sobre!
Esta consciência de atividade realizada pelo grupo social e de reflexões sobre
si mesmo e do mundo ao redor é que possibilita a consciência do homem. De
acordo com Lane (2012, p.17),

A consciência da reprodução ideológica inerente aos papéis socialmente de-


finidos permite aos indivíduos no grupo superarem suas individualidades e se
conscientizarem das condições históricas comuns aos membros do grupo, levan-
do-os a um processo de identificação e de atividades conjuntas que caracterizam
o grupo como unidade.

Esta consciência grupal, que Lane está discorrendo, não é de um pequeno


grupo de uma empresa, por exemplo, mas de um processo grupal maior, da
humanidade. Todo esse processo, que é grupal, ocorre com todos os membros
do grupo e pode permitir uma consciência de classe, isto é, quando os grupos
percebem que fazem parte do processo de produção material e mais, consegue
perceber as contradições inerentes e presentes em sua vida.
Neste sentido, a mudança de consciência e do mundo ao redor só é possível
com um processo de conscientização grupal, de todos. Quando os indivíduos se
tornam agentes sociais tornam-se capazes de superar as dificuldades dadas do
sistema e consegue compreender as relações dentro dos pequenos grupos com
suas questões conscientes e inconscientes e sua linguagem.

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Saiba mais

Para compreensão do Homem em sua totalidade leia o livro Filosofia de


Marilena Chauí: da editora Ática (2000).

Identidade: eu e o outro

A nossa identidade é definida a partir dos outros indivíduos, isto é, eu so-


mente sei quem sou a partir do momento que me diferencio do outro. Quando
bebê não nos diferenciamos de outra pessoa, tanto que quando um bebê começa
a chorar os que estão perto tendem a chorar também porque o choro do outro é
o choro dele mesmo. Apenas quando criança é que começamos a nos separar dos
outros e passamos a nos identificar como únicos, com sentimentos e vontades
próprios.
Portanto, a identidade está relacionada com outras pessoas e com os distintos
grupos. Por exemplo, se me identifico com um grupo de cowboy, logo quando
me perguntam quem sou eu digo: um cowboy.
Ciampa (2012) discorrendo sobre o processo de identidade explica que quan-
do alguém pergunta quem sou eu? Está em busca de sua identidade. Caso te
perguntarem quem é você, provavelmente esta resposta não será tão simples
assim, provavelmente você responderá com descrição de sua profissão, de seus
gostos ou de seus parentescos. Questões de identidade fazem parte do dia a dia
das pessoas. Nos tribunais de justiça é imprescindível o juiz saber quem é o réu, a
testemunha, etc.; assim como na escola, no trabalho e nas relações interpessoais.
Será que uma pessoa pode ter mais de uma identidade? Pensemos: nas no-
velas, no cinema e na literatura dupla identidade são questões rotineiras. Um pai
que oculta de sua família que tem outra família; um rapaz que oculta de sua futura
esposa que possui um trabalho ilegal; um jovem que oculta uma vida de travesti
nas noites metropolitanas; um filho que é matador de aluguel; são tantas as inú-
meras possibilidades de diversas identidades que fica difícil elencarmos todas
aqui. Identidades ocultas ou visíveis fazem parte da vida cotidiana. De alguma
forma escondemos aspectos de nossa personalidade, mas nenhuma identidade
se constrói sozinha.
A identidade do filho está imbricada na identidade do pai; a identidade de

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UNIDADE 4

esposa junto com a do marido, etc.; Nossa identidade é mutável, quantas vezes
falamos: não reconheço mais o fulano! Mas todos nós estamos em constante
movimento e contradição. Somos o que negamos e negamos aquilo que somos.
“Por mais contraditório, por mais mutável que seja, sei que sou eu que sou assim,
ou seja, sou uma unidade de contrários, sou uno na multiplicidade e na mudança”
(CIAMPA, 2012, p.61).
Deste modo, a identidade é um fenômeno social, isto é, está em relação a
outras pessoas de forma social, grupal, coletiva. A criança antes de nascer, de
ser o fulano, já é filho do “seu Zé”, ou seja, sua identidade está relacionada com
a identidade de outra pessoa. Podemos ser muitos sendo únicos, isto é, quando
estou em sala de aula, sou o professor, quando estou em casa sou mãe e assim
por diante. “Então, eu – como qualquer humano – participo de uma substância
humana, que se realiza como história e como sociedade, nunca como indivíduo
isolado, sempre como humanidade” (CIAMPA, 2012, P.68).
Um jovem envolvido em um grupo de marginais significa que ele se identi-
ficou com alguma característica desse grupo e por conta desta identificação, eles
vão lutar por um objetivo em comum. Neste grupo ele tem uma identidade que,
às vezes satisfaz outras não.

Leitura complementar

Caro aluno para que você possa aprender um pouco mais sobre processo
grupal e identidade leia o livro: Psicologia Social: o Homem em Movimento de
Silvia T.M.Lane e Wanderley Codo (2012).

Considerações finais

Nesta unidade abordamos as questões relativas aos grupos. Você apreendeu o


conceito de grupos e suas características conscientes e inconscientes. Abarcamos
o processo grupal como social e histórico e como superação da ideologia. Tam-
bém discorremos sobre o processo de identidade intrinsecamente relacionado
ao processo grupal e social.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Quais os pontos de abarca o conceito de grupos?

2. De acordo com os textos estudados discorra sobre as características grupais.

3. Reflita e explicite sobre as duas principais características que a autora Silvia Lane
(2012) aborda para compreender o homem.

4. Diante dos textos estudados nesta unidade analise a frase: “A identidade do indivíduo
está imbricada na identidade do outro”.

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5 Razão e emoção
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade você vai conhecer os processos do desenvolvimento

da razão, focando no pensamento. Vamos abordar o conceito e os tipos

de emoção bem como suas manifestações.

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UNIDADE 5

Razão e emoção sempre foram tratadas como dicotomias, entretanto, uma


não exclui a outra, somos razão e emoção. Quando pensamos estamos usando
a razão, quando sentimos estamos usando as emoções. O tempo todo estamos
pensando e sentindo, portanto, compreender esses conceitos é imprescindível
para qualquer profissional que atue diretamente com as pessoas. Mas como se
dá o processo de pensamento? Quando usar as emoções? Veremos estas questões
agora nos próximos itens.

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Conceituando razão

São Tomás de Aquino, durante a Idade Média, aprofundou seus estudos em


relação a educação, mas privilegiou a razão juntamente com a teologia. Para ele
não havia contradição entre a fé e a razão. Neste sentido, os estudos filosóficos
para compreender a razão se faz presente há séculos.
A razão surge da função de pensar, um processo que se chega a um raciocínio.
O ser humano é capaz de identificar conceitos e refletir sobre eles, isto é razão.
Assim, todo esse processo ocorre por meio de uma função psicológica superior
denominada de pensamento.

Leitura complementar

Para aprofundamento sobre o tema Pensamento leia Pensamento e Lingua-


gem de L.S. Vygotsky, da editora Martins Fontes.

Estágios do pensamento

O pensamento já foi estudado por várias ciências e foi concebido como in-
divisível, cujas ações seriam mecânicas. Contudo, Luria (1981) discorreu que
alguns psicólogos estudaram o processo de pensamento e elencaram alguns es-
tágios:

1) O primeiro estágio ocorre quando a pessoa tem alguma atividade para


resolver. Por exemplo, um indivíduo está numa festa e seu carro quebra e ele tem
que resolver como vai embora, já que são três horas da madrugada.
2) No segundo estágio o indivíduo investiga o problema e analisa todas as
questões envolvidas nele. Por exemplo, o indivíduo da festa pode raciocinar:
posso chamar um taxi, ir com o fulano ou pedir para o sicrano vir me buscar.
3) Neste estágio o indivíduo vai escolher uma das alternativas para resolver
seus problemas, no caso do exemplo, escolhe ir de taxi.
4) Por último o indivíduo escolhe a operação ideal para pode solucionar a
questão. No indivíduo da festa escolhe emprestar do fulano o celular e ligar para

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UNIDADE 5

um taxista conhecido. Pronto problema resolvido.

Contudo, para Luria (1981) esses estágios, discorridos acima, seriam as ope-
rações básicas do raciocínio, para ele existe uma relação entre o pensamento e a
linguagem e o estagio em si,

[...] começa com uma série expandida de ações externas sucessivas (tentativas
e erros), progride para uma fala interna expandida, na qual se fazem as necessá-
rias buscas, e termina com a contração e condensação dessas buscas externas e
com a transição para um processo interno específico. Neste, o indivíduo é capaz
de obter auxílio a partir de sistemas já prontos de códigos (lingüísticos e lógicos,
no pensamento verbal discursivo; numéricos, na solução de problemas aritmé-
ticos) que ele aprendeu (Luria, 1981, p. 289).

Neste sentido, antes de conseguir usar a razão, o indivíduo teve que se apro-
priar da linguagem, isto é, os sistemas de signos e símbolos criados pela humani-
dade e transmitidos de geração a geração. O autor quer dizer que sem a linguagem
não conseguiríamos ter um raciocínio concreto e nem abstrato.

Pensamento racional

O pensamento racional parte dos conhecimento adquiridos ao longo da vida.


Todas as problemáticas que um indivíduo encontra ao longo de sua rotina diá-
ria não conseguem ser resolvidas por meio da sensação ou da percepção, mas
necessita da razão por meio do pensamento para solucioná-los. O autor Men-
chinskaia (1969) estudou profundamente como se dá o pensamento e discorre
que o pensamento

É a atividade racional, que consiste em buscar a solução a um problema uti-


lizando os conhecimentos previamente adquiridos, recordando fatos concretos. O
pensamento resolve os problemas, por caminhos indiretos, mediante conclusões
derivadas dos conhecimentos que já se tem (Menchinskaia, 1969, p. 232).

Assim, não é por meio das emoções que conseguimos resolver nossos proble-

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mas, mas através do pensamento. Por meio deste o indivíduo consegue visualizar
a realidade, fazer generalizações e abstrações. Por exemplo, consegue separar as
partes do todos (análise) e unir as partes (síntese).
Deste modo, “A análise é a divisão mental do todo em suas partes ou a separa-
ção mental de algumas de suas qualidades ou aspectos isolados” (Menchinskaia,
1969, p. 236). Já a síntese “é a unificação, a reunião mental das partes do objeto,
ou a combinação mental de seus sintomas, qualidade e aspectos” (Menchinskaia,
1969, p. 237).
Contudo, o homem não muda sua realidade, por meio do pensamento, mas
é por meio dele que consegue conhecer melhor essa realidade para conseguir
transformá-la na prática.
Por meio do pensamento racional o indivíduo consegue realizar abstrações,
por exemplo, ele não precisa estar com o livro presente para analisar sobre um li-
vro. A abstração é o concreto pensado. Assim, podemos resolver muitas questões
com base em teorias. A criança ainda não consegue realizar soluções por meio
do pensamento racional, somente por meio do concreto, contudo, com o tempo,
mais tarde conseguirá realizar abstrações sem a presença do objeto.
A razão, ou o pensamento racional é a forma com o homem reflete sua vida
intima seus problemas pessoais, as questões do trabalho, os conflitos sociais,
enfim todos os problemas do cotidiano e da vida acadêmica.

Saiba mais

A autora Menchiskaia faz uma análise crítica sobre a formação do pensamen-


to dando ênfase na capacidade cognitiva de fazer análise e na síntese, portanto,
fica a dica de uma ótima leitura:
MENCHISKAIA, N. A. El pensamiento. In: SMIRNOV, A.; LEONTIEV, Alé-
xis. E.; RUBINSHTEIN, SERGEI L.; TEIPLOV, B. M. (Org.). Psicologia. México:
Grijalbo, 1969.

Definindo emoção

De acordo com Fiorelli; Mangini (2010, p.30), citando Kaplan e Sadock (1993,

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UNIDADE 5

p.230), a emoção é “um complexo estado de sentimentos, com componentes


somáticos, psíquicos e comportamentais, relacionados ao afeto e ao humor”.
O afeto é expresso pelo indivíduo, é visível, é uma emoção observável, por
exemplo, nos gestos e no comportamento. O humor já é uma experiência sub-
jetiva, interior.
É por meio da emoção que o indivíduo utiliza a razão. De acordo com os
autores, a emoção estabelece os parâmetros para a razão agir com eficiência.
Cada emoção faz parte da cultura e do período histórico que o indivíduo está
inserido. Por exemplo, o que é repugnante em uma cultura em outra é bom, causa
boa impressão. Por exemplo, na Índia a vaca uma entidade religiosa, já no Brasil
é um alimento considerado delicioso.
Fiorelli; Mangini (2010, p.30) cita o autor Damásio (2000, p.75) para escla-
recer que as emoções também estão relacionadas com questões biológicas e não
somente culturais:

Mesmo sendo verdade que o aprendizado e a cultura alteram a expressão


das emoções e lhes conferem novos significados, as emoções são processos de-
terminados biologicamente, e dependem de mecanismos cerebrais estabelecidos
de modo inato...

Assim, sabemos que existem aspectos biológicos que estão envolvidos nas
emoções, isto é, para se sentir ou não, entretanto o conteúdo das emoções é que
são determinadas socialmente e culturalmente. Por exemplo, se emocionar em
uma peça de teatro, não é natural, é aprendido e construído.

Sugestão de vídeo

O filme Razão e Sensibilidade de Ang Lee, narra a história de uma viúva e


três filhas com dificuldades financeiras. Uma das filhas usa a razão para resolver
os conflitos enquanto a outra é pura emoção.

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UNICESUMAR

Tipos de emoção

Os autores (2010) discorrem que existem seis emoções básicas que são viven-
ciadas pelo homem em qualquer cultura:
1) Felicidade: é a emoção que sentimos quando estamos em estado de alegria,
de bem estar e pode ocorrer em qualquer situação sem tempo determinado para
durar, pode ter o tempo de meia hora, um dia, etc. Por exemplo, ser sorteado para
ganhar um grande prêmio.
2) Surpresa: é a emoção que sentimos quando somos surpreendidos por al-
guma coisa, uma fato, uma pessoa, etc. a emoção de surpresa pode gerar alegria
ou tristeza. Por exemplo, rever uma pessoa na qual o indivíduo não esperava.
3) Raiva: a raiva é um sentimento contra alguém ou algum objeto ou situação.
A raiva é um sentimento de frustração. Por exemplo, sofrer uma traição por parte
de um ente querido.
4) Tristeza: é um sentimento de mal estar, angústia, inquietação e por vezes
melancólico. A tristeza tem inúmeras causas, conscientes e inconscientes. Por
exemplo, perder um ente querido ou entrar em depressão sem causa aparente-
mente conhecida.
5) Medo: O medo é uma emoção que devemos respeitar muito, apesar das
brincadeiras, o medo é um estado de desespero, apreensão, angustia. O medo se
dá perante alguma situação de ameaça, podendo ser real ou até imaginária. Por
exemplo, uma pessoa sofre um assalto e fica com muito medo na hora; Outro
exemplo, só que imaginário: um indivíduo tem medo de ser sequestrado e nem
consegue sair de casa, porém não existem indícios de que ele poderia sofrer um
sequestro.
6) Repugnância: Este é a ultima emoção básica que qualquer pessoa pode
sentir. O indivíduo sente asco, uma antipatia por alguma coisa, podendo ser um
alimento, uma pessoa ou um objeto. Por exemplo, um indivíduo pode sentir
repugnância em relação a um alimento enquanto para outra é o prato preferível.
Fora essas emoções básicas existem outras emoções, denominadas por Da-
másio (2000, p.74) apud Fiorelli; Mangini (2010, p.31) de emoções sociais, isto
é, “simpatia, compaixão, embaraço, vergonha, culpa, orgulho, ciúme, inveja, gra-
tidão, admiração, espanto, indignação e desprezo”.
As emoções são separadas em positivas e negativas. As emoções positivas
estão relacionadas com o prazer; já as negativas com a sensação de desagrado

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UNIDADE 5

ou dor.
Diante dos sentimentos, das emoções as pessoas podem apresentar diversos
comportamentos podem ter diversas reações, podendo ser explosivas, agressivas,
amáveis, etc. Também podem agir com fortes emoções, perder o senso da razão,
agir impulsivamente, e como diz o ditado popular ficar “cego” de tanta emoção.
Um indivíduo pode apresentar uma emoção denominada pelo autor de pre-


“(...)as pessoas podem apresentar diversos compor-
tamentos podem ter diversas reações, podendo ser ex-
plosivas, agressivas, amáveis, etc. (...)”

disposição perceptiva, isto é, o indivíduo tem a convicção de que viu algo que na
verdade não viu. Por exemplo, uma testemunha afirma que viu o réu cometer o cri-
me, isto porque a pessoa acredita que essa pessoa estaria propensa a praticar tal ato.
O indivíduo sob forte emoção pode ter problemas de memória, isto é, esquecer
os fatos, pode apresentar falhas na dicção, o pensamento pode se tornar confuso,
pode sentir sofrimento psicológico. O contrário também pode ocorrer diante
de uma forte emoção o indivíduo pode se concentrar, lembrar-se dos fatos e
raciocinar plenamente.

A emoção é a causa desse tipo de percepção e não uma aluci-


nação ou problema mental.

Deste modo, as emoções fazem parte do nosso dia-a-dia. É inerente sentir


emoções e se comportar diante delas de várias formas, positivamente ou negati-
vamente. Por meio das emoções os homens expressam seus sentimentos e atuam
na sociedade.

Reflita

Quando uma pessoa recebe uma intimação para depor em uma audiência
no Poder Judiciário seu coração acelera e a ansiedade toma conta do indivíduo.
Na hora da audiência a pessoa pode se comportar com extrema emoção, por
exemplo, nervosismo, e isto atrapalhar na recordação dos fatos, ou tranquila-

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UNICESUMAR

mente sendo totalmente racional em suas respostas. Caso você já tenha passado
por uma situação assim como se sentiu? Como agiu? Caso não tenha vivenciado
como você se comportaria: com emoção ou racionalização? Pense sobre!

Considerações finais

Nesta unidade você pode apreender os conceitos de razão e emoção. Aborda-


mos que é por meio do pensamento racional que o homem resolve seus proble-
mas diários. Também abarcamos que é por meio das emoções que expressamos
nossos comportamentos e as emoções interferem em nossos atos e em nossos
julgamentos em relação a fatos ou pessoas. Assim, querido estudante, com tais
informações e conceitos você pôde compreender como se dá o pensamento e as
emoções dos indivíduos.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Quais são os quatro estágios de pensamento de acordo com o autor Luria?

2. Defina pensamento racional (razão) conforme os autores estudados.

3. Conceitue emoção conforme os estudos acima.

4. De acordo com os textos estudados aborde os tipos de emoções básicas vivenciadas


pelo homem.

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6 Empatia e
preconceito
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade serão abordados os conceitos de empatia e sua im-

portância nas relações interpessoais e a questão do preconceito/discri-

minação nas relações sociais e culturais.

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UNIDADE 6

Caro estudante você provavelmente já deve ter passado por algum tipo de
preconceito ou presenciou alguém que já tenha sofrido desse mal. O sentimento
de discriminação é uma das causas do sofrimento psíquico de muitas pessoas.
Motivos para ações desagradáveis e até criminais. Muitos já mataram ou morre-
ram devido a motivações discriminatórias. A incapacidade de empatia, de muitos
indivíduos, pode levar a preconceitos e banalização da dor alheia. Nesta unidade
você apreenderá um pouco mais sobre estes conceitos tão antigos, mas ao mesmo
tempo atuais.

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Conceiturando empatia

De acordo com Zimerman (2008), a empatia é a capacidade que a pessoa tem


de se por no lugar do outro e de se sentir junto com a pessoa e não pela pessoa.
“A textura da palavra empatia (em+patia) sugere claramente essa condição de
poder sintonizar, de entrar dentro (em) do sofrimento (pathos) do outro” (ZI-
MERMAN, 2008, p.137).
Ao contrário da simpatia, que é superficial, que significa agradar a outra pes-
soa, não ser antipática, isto é, desagradável, a empatia é essa capacidade que o
homem possui de compreender a dor do outro, o sofrimento, mesmo que seja
de pessoas que ele não conheça.
Quando estamos diante da dor de um conhecido, sofremos juntos com a
pessoa, ficamos pensativos e ao mesmo tempo impotentes, pois pouco se pode
fazer, mas o pouco que se pode já é o suficiente para amenizar o sofrimento do
outro. Quando nos deparamos com tragédias que comovem um país inteiro e
sentimos dor junto aos parentes, que tiveram seus entes queridos mortos, tragi-
camente, estamos falando de empatia.
Infelizmente algumas pessoas não tem a capacidade de se colocar no lugar
do outro, isto é, não consegue sentir empatia pelo sofrimento de outras pessoas.
Ter empatia é fundamental para conseguirmos viver em sociedade.
Algumas profissões tem a priori a importância do profissional ter empatia
pela situação de seu cliente ou/e paciente. O médico, por exemplo, o psicólogo,
o assistente social, etc. Imaginemos um psicólogo atendendo um paciente com
profundo sofrimento psíquico e o psicólogo ser incapaz de compreender a dor
do outro, daria certo? Obviamente que não. Empatia é uma das exigências da
profissão de psicologia.

Saiba mais

Em relação à empatia saiba como atitudes positivas podem contribuir na


formação da capacidade de empatia no indivíduo. Para tanto, leia o artigo de
Danielle da Cunha Motta e et al: Práticas educativas positivas favorecem o desen-
volvimento da empatia em crianças. Psicol. Estudo., Maringá, v. 11, n. 3, dez.
2006. Disponível em http://www.scielo.br. Acesso em 28 fev. 2013.

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UNIDADE 6

O lugar do outro: mudança de atitude

Compreender e sentir a dor e o sofrimento mental de outra pessoa exige


uma atitude, ou seja, ter um sentimento pró em relação à pessoa. Nos dias atuais
ninguém se sente responsável por ninguém diz: é problema dele! Assim, o so-
frimento do outro não é problema de ninguém também. Colocar-se no lugar do
outro exige um posicionamento e muitas vezes, mudança de atitude.
Segundo Rodrigues (2009, p.81), “atitudes são sentimentos pró ou contra
pessoas e coisas com quem entramos em contato”. Durante nosso processo de
socialização quando crianças é que as atitudes vão se formando. Os elementos
essenciais das atitudes são (...) “(a) uma organização duradoura de crenças e
cognições em geral; (b) uma carga afetiva pró ou contra um objeto social; (c)
uma predisposição à ação”.
O componente cognitivo significa que o indivíduo deve ter uma represen-
tação cognitiva do objeto, de nada adiante perguntar a um jovem que reside
no ambiente rural, como é morar na cidade metropolitana. Já o componente
afetivo é aquele sentimento negativo ou positivo em relação ao objeto ou a uma
pessoa. A ação ou o componente comportamental é resultado da combinação
do cognitivo e do afeto.


“(...) mudar de comportamento é possível caso o indi-
víduo queira e supere suas questões preconceituosas.”

A mudança de comportamento requer uma reflexão sobre suas próprias atitu-


des e sobre seus próprios comportamentos. Portanto, mudar de comportamento
é possível caso o indivíduo queira e supere suas questões preconceituosas.
O tempo todo somos massacrados por informações pelas redes de comu-
nicação em massa. Com tantas informações é comum as pessoas mudarem de
opinião e com a mudança de pensamento pode ocorrer a modificação da atitude
frente algumas situações. Por exemplo, em uma telenovela, em horário nobre,
apresentam um estilo musical e não demora muito os telespectadores começam
a ouvir e muitos nem gostavam do estilo.
Quando ocorre uma mudança no componente cognitivo, pode correr uma
mudança também nas atitudes. Por exemplo, um indivíduo com preconceito
contra negros, ao conviver em um ambiente onde a maioria das pessoas são ne-

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gras ele pode mudar seus preceitos a partir do momento que descobre que eram
falsas suas crenças em relação aos negros.
Também podemos mudar nossas atitudes devido a mudança nos componen-
tes afetivos. Por exemplo, passar a gostar de uma pessoa que antes não gostava
por preconceitos.
Deste modo, quando olharmos o outro de fato, em sua essência como huma-
no, podemos deixar nossos preconceitos e discriminações e passar a ter empatia
para com o sofrimento das demais pessoas.
Nos dias atuais a capacidade de empatia está cada vez mais ausente já que
estamos vivendo em um sistema e uma cultura individualista no qual os valores
estão alicerçados no consumismo imediato, no prazer acima de tudo, na incapa-
cidade de reflexão, na indisposição para o trabalho, entre outras características.
Ficando difíceis as mudanças de atitudes mais humanizadas e humanitárias.

O indivíduo como humano

Quando falamos que uma pessoa não é humana, estamos dizendo que não
tem comportamentos humanizados para com outras pessoas, isto é não tem
capacidade para se colocar no lugar de outro indivíduo. Mas como fazer isso se
o homem tem mantido relações com seus pares como se fossem mercadorias?
Os homens não se reconhecem em seus produtos e são alienados. O homem
alienado surge do sistema capitalista. A divisão social do trabalho foi responsável
pela alienação. Esta ocorreu devido a apropriação privada dos meios de produção
no qual algumas pessoas detém os meios de produção e as outras são exploradas
pelos proprietários. O homem ao invés de se reconhecer em suas produções ele as
estranha. As coisas passam a ter vida e a vida passa a ser coisa. Com isto a cons-
ciência sofre uma transformação aos se separarem de suas produções separam
também de suas relações (LEONTIEV, 1959).

Assim, as propriedades da consciência humana se fazem, a partir da divisão


do trabalho, no processo econômico e social. Ao ser convertido em mercadoria,
mercantis tornam-se as suas relações, e, desprovido de sua essência humana,
incapaz torna-se para apreender a essência do outro (Martins, 2007, p.57).

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UNIDADE 6

A incapacidade de apreender a essência do outro indivíduo dificulta a pos-


sibilidade da relação mais humanizada para com os seres humanos, mas não é
impossível. Como discorreu Lane (2012) quando os homens passam a ter cons-
ciência de classe passam a enxergar criticamente a realidade em sua essência po-
dendo transformar a realidade em sua volta. Vendo o outro como pessoas e não
como mera mercadoria as relações podem vir-a-ser mais saudável mais humana.

Reflita

O documentário Blue Ayed -Olhos Azuis- (1996) é um trabalho realizado


pela professora Jane Elliot que realiza em sala de aula um experimento sobre o
preconceito racial. Tal experiência é chocante e nos faz refletir sobre o precon-
ceito que temos, inclusive inconscientemente. O documentário está disponível
na internet. Assista e reflita com os colegas de estudo.

Preconceito

Quando discorremos sobre empatia e capacidade de se relacionar de forma


mais humana a sua contrapartida também é o preconceito. Os estereótipos são a
base cognitiva do preconceito, de acordo com Rodrigues (2009).
Os estereótipos são as características que atribuímos às pessoas ou grupos.
Características que acreditamos serem reais. Estereótipo é uma palavra grega,
stereo e túpos que significa rígido e traço respectivamente. Assim, utilizamos
os estereótipos para abreviarmos nosso pensamento e nossa reflexão diante do
mundo ou de uma pessoa. Apreendemos o comportamento dos outros, muitas
vezes de forma equivocada, diante das crenças e dos valores que estão introjeta-
dos em nossa mente.

O fato de, num primeiro momento, facilitarem suas reações frente ao mun-
do, esconde a realidade de que, na maioria das vezes, estereotipar pode levar a
generalizações incorretas e indevidas, principalmente quando você não consegue
“ver” um indivíduo com suas idiossincrasias e traços pessoais, por trás do véu
aglutinador do estereótipo (RODRIGUES, 2009, 141).

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Assim, incorremos no erro de julgar as pessoas por meio dos estereótipos


e com isso nosso preconceito vem à tona. Por exemplo, quando há um furto
em uma loja e duas pessoas são suspeitas: uma pessoa negra e pobre e um rico
branco. A probabilidade das pessoas acharem que foi o pobre é maior do que a
pessoa branca, já que estão introjetadas os estereótipos de que bandido é pobre
e geralmente negro.
Outro processo parecido com o ato de colocar estereótipo nas pessoas é o
rotulo. Rotular faz parte do estereótipo. Por exemplo, quando rotulamos uma
pessoa de preguiçosa, porque ele não fez o dever. Rótulos e estereótipos podem
estar relacionados com o gênero da pessoa. Por exemplo, quando alguém dirige
mal no transito a tendência é dizer que é uma mulher, mas poderia ser um ho-
mem. Quando o estereótipo condiz com o comportamento ele é reforçado por
todo, inclusive pela própria pessoa. De acordo com o autor (2009),

Se o estereótipo é sua base cognitiva, os sentimentos negativos em relação


a um grupo constituíram o componente afetivo do preconceito, e, as ações, o
componente comportamental. Em sua essência o preconceito é uma atitude: uma
pessoa preconceituosa pode desgostar de pessoas de certos grupos e comportar-se
de maneira ofensiva para com eles, baseado em uma crença segundo a qual
possuem características negativas (RODRIGUES, 2009, p.150).

O preconceito está próximo do afeto, isto é, são sentimentos envolvidos no


processo do preconceito. Na psicologia psicanalítica o preconceito vai direto com
o desejo inconsciente da pessoa e, como não pode vivenciar tal desejo, reprime
o sentimento e vivencia a repulsa, o desgostar. Contudo, não podemos esquecer
que a cultura faz parte da apropriação do conceito do preconceito, isto é, em
uma cultura um comportamento pode ser aceito, enquanto em outra o mesmo
comportamento é rejeitado.

Alguns estereótipos podem ser corretos outros não, podem ser


positivos e outros negativos.

Os comportamentos são aprendidos e não são naturais, os preconceitos tam-


bém. A criança vai introjetar os preconceitos desde pequena por meio das pala-
vras e dos comportamentos dos pais ou daqueles que ela convive. Caso os pais

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UNIDADE 6

demonstrem preconceito para com uma pessoa, por exemplo, um homoafetivo,


a criança provavelmente vai crescer com preconceito. Mas ao contrário disso, os
responsáveis tratam com naturalidade tal assunto e respeitam os homoafetivos
a criança não terá preconceito algum.
A atitude hostil em relação a uma pessoa ou a um grupo pode ter por trás
o preconceito. Contudo, preconceito não é sinônimo de violência. Isto significa
que uma pessoa pode ter preconceito, mas não ter atitudes hostis ou agressivas
em relação à pessoa ou ao grupo no qual ela rejeita. O termo discriminação é
utilizado quando o indivíduo atua com um tratamento diferenciado, desprezo
ou comportamentos agressivos.

Leitura complementar

O livro Preconceito, indivíduo e cultura de J. L. Crochík (1995), faz uma


análise crítica sobre o preconceito.

Causas do preconceito

O autor Rodrigues (2009), classifica as causa do preconceito em quatro ca-


tegorias:

1) Competição e conflitos econômicos

Competição e conflitos em relação à classe social, ao status social são uma


das causa dos preconceitos. Por exemplo, pessoas de classe social de alto poder
aquisitivo não gostam que seus filhos casem com pessoas de classe baixa. Outro
conflito é em relação ao poder político e econômico. Por exemplo, pessoas que
discriminam imigrantes em seus países.

2) Bode expiatório

Quando os indivíduos ficam com raiva sua hostilidade e suas frustrações


devem ter direção, isto é, geralmente alguém ou um grupo vira bode expiatório

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para descarregarem seus conflitos. A raiva pode ser descontada em grupos mino-
ritários ou, por exemplo, em um líder. Uma pessoa perde o emprego e culpabiliza
o presidente pelas suas mazelas.

3) Fatores da personalidade

Adorno e seus colaboradores acreditavam que uma pessoa poder ser mais
propensa a ter preconceitos do que outras. Ele partia do principio de que de-
pendendo da educação com que a pessoa foi criada estariam predispostas a se
tornarem preconceituosas. Os traços que um indivíduo teria adquirido durante
sua educação a se tornar uma pessoa intolerante, os autores denominaram de
personalidade autoritária. O indivíduo com tais caraterísticas é desconfiado, não
tolera fraquezas em si nem nos outros, adota valores convencionais e rejeição as
pessoas que não pertencem ao seu ciclo de relações.

4) Causas sociais do preconceito: aprendizagem social, conformidade


e categorização social

Este item parte do principio que o preconceito tem como causa forças sociais
e culturais. A aprendizagem social discorre que os valores e as crenças de uma
determinada comunidade, por exemplo, é tida como correta e aceitável, como
alimentação, praticas religiosas, vestimentas, etc. Em Dubai (Emirados Árabes)
se uma pessoa sair às praias de biquíni é presa automaticamente. Não se admite
a exposição do corpo, faz parte da cultura, dos valores e lá não é preconceito, no
Brasil seria.
Já a conformidade é quando as pessoas naturalizam tais preconceitos e este-
reótipos. Acreditam que é assim mesmo e não fazem nada para mudar a situa-
ção. Por exemplo, mulheres receberem menos em cargos iguais aos dos homens.
Muitas pessoas e mulheres, inclusive acreditam que é normal e natural.
Portanto, a empatia e o preconceito andam juntos, mas sua superação é pos-
sível. Em nossas atitudes, em nossos comportamentos, independentemente de
valores apropriados, devemos refletir antes de atuar e principalmente, enxergar
o outro com empatia, caso contrário, não conseguiremos nos aproximar de uma
relação mais humana e mais saudável.

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UNIDADE 6

Sugestão de video

Para refletir sobre preconceito assista o filme de Steven Spilberg, A Cor Púr-
pura (1986). O filme narra o drama de uma jovem negra que reside na Geórgia,
em 1909, que é violentada pelo pai e se torna mãe de duas crianças.

Considerações finais

Nesta unidade você apreendeu o conceito de empatia e de preconceito. Abor-


damos a importância da empatia para tornarmos pessoas melhores e mais com-
petentes. Viram que as causas do preconceito variam, mas podemos afirmar que
sua fonte está nas relações sociais e econômicas.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Conforme os estudos do capítulo conceitue empatia citando um exemplo.

2. Explicite sobre a incapacidade de apreender a essência do outro, conforme reflete


a autora Martins (2007).

3. Conforme os autores, a mudança de atitude é possível. Assim, discorra sobre a mo-


dificação do comportamento.

4. Quais são as causas do preconceito?

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7 Violência e
sociedade
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade serão abordados os conceitos e os tipos de violência

e seus impactos na sociedade; Você vai aprender a problemática da

violência sob o prisma da psicologia e da antropologia.

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UNIDADE 7

Violência: não existe ninguém que não saiba explicar o que esta palavra sig-
nifica, uma vez que a violência está presente no cotidiano das pessoas, seja pes-
soalmente, simbolicamente ou virtualmente. Todos os dias assistimos nas mídias
histórias de violência contra pessoas ou grupos. Violência contra criança, contra
mulher, contra idosos, contra grupos minoritários como gays, travestis, negros,
etc. Tais agressões crescem dia-a-dia, conforme estatísticas, e para superá-las
precisamos primeiramente entendê-las.

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O que é violência

A violência muitas vezes é confundida coma agressão. Conforme Fiorelli;


Mangini (2010, p.263), “a agressividade traz em si algo de força combativa, com-
portamento adaptativo e instinto de vida”. Isto significa que a agressividade é uma
das características da personalidade do indivíduo. Uma pessoa pode ser agressiva
sem manifestar qualquer violência física ou psicológica contra outrem. Tudo
isto porque ela está lutando por seus interesses pessoais vitais. A agressividade
se manifesta como irritação, como personalidade desagradável, mau humor, etc.
Contudo, continua os autores, quando esses interesses já não estão relacionados
com necessidades vitais, ai está próximo da violência. Esta está relacionada com
a desnutrição dos outros seres humanos. “A violência contém, pois, a marca da
agressão física e ou psíquica e ultrapassa o aceitável legal ou socialmente” (FIO-
RELLI; MANGINI, 2010, p.264).
A agressividade é diferente porque todos os indivíduos possuem, uma vez que
faz parte do instinto de preservação da vida. Ao contrário, a violência é quando
o sujeito não consegue realizar em suas atividades essa agressividade impulsiva.
Toda a agressividade deve ser canalizada em algo produtivo e bom. Essa incapaci-
dade de canalização advém da fragilidade dos mecanismos de defesa do ego (eu).
Os mecanismos de defesa ajudam a conter a impulsividade, a baixa tolerância e
as frustrações no decorrer da vida.
Todo o agressor possui impulsividade, isto é, ele é dominado por uma emo-
ção negativa e seu egocentrismo prevalece sobre os demais sentimentos. Este
egocentrismo faz com o mesmo acredite que não exista punição, ou ela é muito
baixa, e que o outro também inexiste. O outro não tem direito. Exemplificando
essas intolerâncias:

1) Agressão no transito: um indivíduo em seu veículo anda lentamente pela


esquerda atrasando o trânsito, outro motorista irritado passa por ele, freia o
carro, buzina, ofende e desce. O motorista do carro mais devagar não entende,
mas o irritado já lhe quebrou o nariz.
2) Agressão no ônibus: Um passageiro ao entrar no ônibus descobre que tem
alguém sentado em sua poltrona, sem medir palavras ofende o outro passageiro
sem lhe dar chances para explicações.
3) Agressão gratuita: Um jovem homoafetivo está passeando na calçada

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UNIDADE 7

quando um grupo de jovens, ao perceberem sua orientação sexual, simplesmente


bate no rapaz e fogem.

Os exemplos acima foram apenas para ilustrar a baixa tolerância e a impul-


sividade de algumas pessoas.
A agressividade em ação faz parte da violência. Esta está intimamente ligada
a incapacidade de se colocar no lugar do outro e de conter frustrações diárias.
No mundo contemporâneo muitas situações levam as pessoas a se frustrarem e
a atuarem de formas muitas vezes “animalescas”.

Sugestão de vídeo

Para refletir sobre violência nos mundo contemporâneo assista o filme Pulp
Fiction: tempo de violência (1995) de Quentin Tarantino com John Travolta,
Samuel Jackson e Uma Thurman. O filme narra a história de dois assassinos
profissionais que trabalham realizando cobranças para um gangster.

Comportamento agressivos e seus impactos na


sociedade

O comportamento agressivo sempre existiu, alguns não se transformam em


violência, contudo, conviver com a agressividade diariamente pode facilitar essa
transição entre uma simples agressividade interior para uma violência social.
Fiorelli e Mangini (2010) destacam oito conceitos teóricos para compreender
o comportamento agressivo sendo eles:

1- Mecanismo de defesa inconsciente:

A psique do indivíduo, ao se deparar com uma frustração, reage e desloca


toda a energia, que seria utilizada na realização do desejo, para a agressividade
(WINNICOTT, 1999) apud Fiorelli; Mangini (2010). Neste caso o mecanismo
de defesa do ego atuou podendo ser, por exemplo, com sublimação. Para você
compreender melhor citaremos um exemplo: uma criança é proibida de sair de

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carro com seu pai, seu desejo é impedido de ser realizado, sua energia é deslocada
para a agressividade, isto é, a criança fica agressiva, entretanto, seu mecanismo de
defesa atua, isto é, a criança não pode sair com o pai de carro, portanto vai brincar
de carrinho. Neste caso ela sublimou, ou seja, de certa forma realizou seu desejo.

2- Descarga de energia psíquica:

A agressividade é percebida como saudável caso esteja dentro dos limites. A


agressividade seria uma fonte de energia do indivíduo no qual o sujeito utiliza
para realizar alguma atividade (WNNICOT apud FIORELLI; MANGINI, 2010).

3- Fenômeno da percepção

Diante da visão da teoria gestáltica a agressividade seria resultado da falta de


discriminação dos detalhes que diferencia um comportamento agressivo de um
que seria aceitável. O sujeito que convive frequentemente com agressividade a
percebe como normal e não consegue discriminar dos que realmente são acei-
táveis. Fiorelli; Mangini (2010, p.268) discorrem que:

De maneira similar, a percepção influencia na discriminação de estilos de


comportamentos. O caso clássico, já analisado por muitos estudiosos, são os
“desenhos do Pica-Pau”, caracterizados pela violência gratuita e continuada.
As experiências conduzidas demonstraram, ad nauseam, que as crianças que os
assistem mostram-se ansiosas e agitadas, envolvem-se em brigas e comportam-se
de modo mais violento do que aquelas que assistem a desenhos que pacificam
e tranquilizam.

Desta forma, os estímulos deformam a percepção do indivíduo fazendo com


que o mesmo seja predisposto a seguir modelos inadequados.

4- Condicionamento operante por reforço positivo

Para a teoria comportamental (behaviorismo) todo o comportamento é


aprendido. A agressividade pode ser reforçada por meio um reforço positivo.
Por exemplo, a criança chora e grita porque deseja ganhar o brinquedo e a mãe

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UNIDADE 7

compra o brinquedo e dá a criança. A criança retorna a agredir para ganhar outras


coisas, uma vez que generalizou o comportamento. Por meio dessa generalização
o indivíduo vai cada vez mais, diante da falta de limites, evoluindo para uma ação
agressiva podendo chegar a violência de fato.

5- Aprendizagem pela observação de modelos

Nesta teoria da aprendizagem o indivíduo aprende por meio de modelos.


Estes modelos são seus pais, seus colegas, seus ídolos. Pessoas da família e pessoas
do âmbito social. Outras formas de contribuir na aprendizagem por meio de mo-
delos são através da mídia, isto é, o indivíduo fica exposto a diversos programas
sobre drogas, violência, armas, conflitos, etc. com estas exposições os indivíduos
se acostumam com a agressividade e com a violência.

6- Efeito Motivacional

De acordo com os autores (2010), a glorificação da violência pelos meios de


comunicação faz com que os indivíduos percebem as vantagens e os benefícios
da violência na conquista de status.
Esse massacre de informações de violência realizada pela mídia, denominada
pelos autores de coleção de vírus, entram na psique dos indivíduos e faz parte do
cotidiano das pessoas. Inúmeros são os exemplos: jogos de vídeo games: o Plays-
tation 2, da Sony, tem um jogo denominado Bullying no qual o jogador ganha
quanto mais bullying realizar na escola; filmes de violência extrema; noticiários
regados a sangue, desprezo pela pessoa humana, etc.

7- Transformação de valores

Para os autores (2010, p.271) os valores se transformam para acolher a vio-


lência em sua amplitude. As relações estão pautadas no consumo desenfreado,
no imediatismo das relações. As relações humanas estão vazias de conteúdo, de
amor e solidariedade. As expressões humanas, por exemplo, nas artes, são falidas,
são individualistas e grosseiras.

Os valores passam a ser, senão incômodos, meras curiosidades acadêmicas

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UNICESUMAR

com as quais apenas as grandes organizações se preocupam – afinal, garantem


a produtividade – ou, ainda, preocupação de intelectuais, o que, para a grande
maioria da população, não traz resultados práticos, de acordo com a urgência
do “ficar”.

Tal teoria aponta as questões sociais e econômicas para explicar tanta violên-
cia literalmente gratuita nos dias atuais.

8- Expectativas

Nesta última visão teórica sobre violência que trata sobre as expectativas da
impunidade, autores como Murray, Allport discorrem sobre o reforço positivo da
certeza de que nada irá ocorrer com aquele que quebras as regras. “a impressão
que se tem é que, apesar de todo o aparelhamento legal, aquele que burla as regras
não sente especial controle e certeza da punição” MANGINI ( 2008, p.99 )apud
FIORELLI; MANGINI( 2010, p. 271).
Diante das diversas visões da psicologia sobre violência, podemos destacar
que elas não se divergem, apenas somam com todos os critérios que poderíamos
abarcar acerca das causas da violência e de seu reforço constante.
A violência causa grande impacto na sociedade, porém a violência advém
dessa sociedade, portanto, é uma relação dialética e contraditória, ambas se
criam. Pânico geral é o resultado de tanta violência. As pessoas já não passeiam
as ruas como antes, não confiam mais umas nas outras e se tratam como meras
mercadorias. Os mecanismos de defesa psicológico de cada indivíduo já não é o
suficiente para barrar a violência, além das questões individuais existem outras
causas como os processos econômicos e socioculturais.

“ “(...) conviver com a agressividade diariamente pode


facilitar essa transição entre uma simples agressividade
interior para uma violência social. “

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UNIDADE 7

Reflita

A violência está crescendo cada vez mais, basta lermos os jornais ou assistir-
mos os noticiários. Mas o que vem causando esse crescimento? Por que a vida se
tornou tão banalizada? Filho que assassina os pais, pai que mata filha, violência
no trânsito, violências nas escolas, nas famílias, enfim, pessoas conhecidas ou
famosas, envolvidas em agressões e violências. Como contribuir para prevenir
ou diminuir os atos violentos? Reflita sobre!

Violência física

A violência física é um comportamento que faz parte da história da humani-


dade. No contexto histórico e cultural são inúmeras as violências realizadas pela
humanidade. Atrocidades coletivas como o Holocausto durante a segunda gran-
de guerra mundial, inúmeras morte coletivas dos medievais considerados hereges
pela Igreja católica e várias guerras civis como estamos presenciando nos dias
atuais. A violência física choca por sua visibilidade. É fato que todos podem ver.
Uma mulher espancada pelo marido, uma criança que sofre maus-tratos,
uma jovem violentada sexualmente, todos enxergam, é visível. O que levaria
uma pessoa cometer tais crimes? São inúmeros fatores, como vimos acima, en-
tretanto, podemos afirmar que as formas concretas atuais dos homens viverem,
seus valores e sua percepção do outro, constituem a grande parte desses motivos.
A nova forma do capital se apresentar, isto é, neoliberalismo fez ocorrer mu-
danças na política, na economia e na sociedade capitalista, transformando o papel
do Estado. Responsabilidade zero, isto é, a sociedade é responsável por si mesma,
cada vez mais cresce o chamado terceiro setor. Com todas essas transformações
aumentou a desigualdade social, ocultando ainda mais a luta de classes, a pobreza
dos indivíduos, exacerbando o individualismo e consequentemente aumentando
a violência social.
Entretanto, queremos expor que pobreza não é sinônimo de violência. Basta
refletirmos nos comportamentos dos jovens de classe média, médio-alta, não
difere do comportamento do indivíduo de classe baixa. Todos, independente-
mente da classe, estão expressando comportamentos violentos, seja fisicamente
ou psicologicamente.

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Violência psicológica

“A violência psicológica é aquela por meio do qual a capacidade da vítima de


se opor a qualquer violência reduz-se gradativamente, ao mesmo tempo em ela
se torna predisposta a outros tipos de violência” (FIORELLI; MANGINI, 2010,
p.272).
Tal violência, mais difícil de ver, contudo mais destruidora do que a violência
física, estão em todos os âmbitos, em todas as classes e ocorre em todas as idades.
Uma mãe que sempre diz ao seu filho que ele é “burro”, que nunca vai “dar em
nada na vida” ofende-o, dizendo inclusive que não o ama, está cometendo violên-
cia psicológica porque causará traumas e sofrimento profundo no psiquismo do
indivíduo. Isto se dá, principalmente, porque quem está cometendo a violência
é uma pessoa na qual o indivíduo tem afeto e vinculo emocional. Alguém que
ele deveria poder confiar.
A violência psicológica pode ser realizada por pessoas que o indivíduo não
tem afeto algum, por exemplo, um chefe no trabalho. Isto significa que o assédio
moral é um tipo de violência psicológica.

A violência psicológica pode ser:

Ofensas, palavras de baixo calão, fofocas demasiadas, assédio moral, rejeição,


humilhação, depreciação, punições exacerbada e ameaça de morte. Tais violên-
cias podem causar grandes danos no desenvolvimento psicológico do indivíduo,
pode levar a vitima a se utilizar de drogas (lícitas ou ilícitas) ou a desenvolver
transtornos ou doenças mentais como depressão, insônia, fobia, paranoia entre
outros distúrbios.
É visível quando uma pessoa está sofrendo violência física ou psicológica,
deixa marcas, seja no corpo seja no psicológico. O indivíduo muda de compor-
tamento, se isola, se deprime e sua autoestima fica baixa, sente-se por muitas
vezes culpado pelo o que está ocorrendo com ele. Um bom exemplo é a violência
psicológica conjugal.
Desta forma, a agressividade pode fazer parte do instinto humano para lutar
pela sobrevivência, contudo, a violência não tem nada de natural e não devemos
aceitá-la como parte da conduta humana.

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UNIDADE 7

Saiba mais

Acesse o site da ONU (www.onu.org.br) e fique sabendo das estatísticas sobre


violência no Brasil e no Mundo.

Faces da violência

Para fecharmos o assunto sobre a violência vamos citar uma síntese da visão
psicossocial da violência pelos autores Fiorelli; Mangini (2010, p.286):

• Aprendem-se comportamentos violentos por observação;


• Copiam-se comportamentos de heróis na TV, nos jornais e revistas e tenta
reproduzi-los;
• Inúmeras atividades sociais são dirigidas para estimular e produzir vio-
lência, sob o olhar apático das possíveis entidades repressoras, multiplicando os
focos de geração dos comportamentos inadequados;
• Amplia-se a economia da violência, cujo produto midiático é de baixo
custo e promove o consumo dos germens dos comportamentos que engendra;
• A arte incumbe-se de sacramentar a percepção para a violência, através
de uma estética contemporânea tão vulgar e esdrúxula quanto provocativa e
perigosa;
• As praças, pontos de encontro, tornam-se locais perigosos; nas ruas, ine-
vitáveis, as pessoas transformam-se em indefesos alvos móveis. Há sempre algo
para o fotógrafo da ocasião.

Considerações finais

Nesta unidade, caro estudante, você aprendeu os conceitos de violência físi-


ca e violência psicológica. Abordamos os comportamentos agressivos, como se
manifesta e qual as consequências para a sociedade.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Discorra sobre o conceito de violência.

2. Qual é o impacto da violência para a sociedade?

3. Explicite resumidamente o que é violência física e violência psicológica.

4. De acordo com o texto estudado, quais são os fatores psicossociais que influenciam
na aprendizagem da violência?

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8
Aspectos
históricos e
epistemológicos
da relação entre
psicologia e
direito
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade serão abordadas as relações históricas entre Psicolo-

gia e Direito bem como as direções filosóficas e metodológicas na aplica-

ção da Psicologia Jurídica.

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UNIDADE 8

A Psicologia como ciência vem garantindo a investigação dos fenômenos


psíquicos, ou seja, os fatos subjetivos dos indivíduos e suas manifestações no
comportamento humano. Como profissão tem contribuído significamente em
várias áreas e em conjunto com outras profissões como Serviço Social, Medicina,
Empresarial, Militar, Esporte, etc. No campo do Direito a psicologia é expressi-
va, já que ambas as profissões atuam diretamente com a pessoa humana e seus
conflitos.
Compreender a psique e o comportamento humano é função da Psicologia,
contudo, é imprescindível na área do Direito. Exemplificando: advogados devem
conhecer o comportamento humano, “normal” e “patológico” para trabalhar em
defesa de seus clientes; Promotores, Juízes, Delegados, etc.; todos, sem exceção,
devem aprender o homem em sua essência, em suas contradições. Neste sentido,
a Psicologia vem contribuir para esse olhar mais aguçado em relação aos seres
humanos e para tal temos que compreendê-la como ciência. “Muitos são os
preconceitos em relação a essa profissão: geralmente é considerada de “louco”“.
Entretanto, de loucura pouco se tem. Citando Carl Gustave Jung: Quem olha
para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta.

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UNICESUMAR

Definindo Psicologia Jurídica

Segundo Lopez (2000, p.17) “a Psicologia Jurídica é a Psicologia aplicada ao


melhor exercício do Direito”. A Psicologia analisa e o Direito regula o compor-
tamento humano. Assim, a relação entre essas duas disciplinas é indispensável.
A Psicologia é muito ampla, assim, a Psicologia Jurídica tem seus limites a
determinados aspectos no Direito não podendo abarcar tudo tendo que focar
em alguns aspectos como: 1°, a Psicologia do testemunho; 2°, a obtenção da
evidencia delituosa (confissão com provas); 3°, a compreensão do delito, isto
é, a descoberta da motivação psicológica do mesmo; 4°, a informação forense
a respeito do mesmo; 5°, a reforma moral do delinquente, prevendo possíveis
delitos ulteriores (LOPEZ, 2000, p.17).
Muitos são os métodos que a Psicologia pode se valer para resolver os proble-
mas citados acima podendo ser: Introspectivo (estudo da subjetividade); extros-
pectivo (estudo objetivo, podendo ser biológico); observação (direta e indireta
do sujeito); Experimentação (direta e indireta do comportamento); Individual;
coletivo; Método quantitativo, por exemplo, por meio de estatística; Método
Qualitativo, por exemplo, buscar as causas.
Independentemente do método utilizado a Psicologia Jurídica estudo o
comportamento e a leis que regulam as condutas humanas. Nos Estados Unidos
da América o psicólogo há anos faz parte do corpo legal do FBI e dos Fóruns,
contribuindo na descrição de perfis de indivíduos psicopatas e serial killers, por
exemplo. No Brasil essa relação da Psicologia e do Direito de forma legal é mais
recente, contudo na pesquisa e na busca do conhecimento, a relação sempre
existiu muito antes da regulamentação da profissão de Psicologia, como veremos
no item abaixo.

Reflita

O caso da jovem Suzane Von Richthofen, condenada por parricídio e matricí-


dio, é um ótimo exemplo como a Psicologia Jurídica pode contribuir na tomada
de decisão de um julgador. Suzane já teve o pedido de liberdade negado várias
vezes pela Justiça cujo parecer psicológico foi negativo. Agora reflita: você utili-
zaria um laudo psicológico, neste caso, para te ajudar a tomar uma difícil decisão?

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UNIDADE 8

História da relação entre Psicologia e Direito

A relação entre Psicologia e Direito é velha, contudo foi na época de 1990


que houve uma mobilização Nacional para a regulamentação da prática nas ins-
tituições jurídicas. De acordo com o site da Associação Brasileira de Psicologia
Jurídica (ABPJ), o marco foi a criação da Associação Ibero-Americana de Psi-
cologia Jurídica (AIPJ) na Argentina fazendo com que os psicólogos se mobili-
zassem e em 1992 os psicólogos das penitenciárias de São Paulo se organizaram
internamente. O Conselho Regional da capital interviu discutindo a integração
dos psicólogos nas Varas de Família e da Infância e Juventude.
Em 1995 ocorreu no Chile o I Congresso Ibero-Americano de Psicologia
Jurídica no qual vários psicólogos participaram, entre eles Fátima França e Rosa-
lice Lopes, representantes da Secretaria da Administração Penitenciária e Dayse
César Franco Bernardi do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Vários
outros encontros ocorrem desde então inclusive no Brasil. No ano de 1998 ocor-
reu a formalização da Associação Brasileira de Psicologia Jurídica marcando o
desenvolvimento dessa área em todo território nacional.
A relação entre Psicologia e Direito é analisada, de acordo com Muñoz (1980)
apud Bernal (2008, p.21), em três perspectivas sendo:

1) A Psicologia do Direito, que estuda os componentes psicológicos do mes-


mo, analisando as leis com um produto intencional e propositivo de um consenso
coletivo. Aqui entraria o estudo de uma série de temas como a idade da respon-
sabilidade penal, a segregação racial e a função social do castigo;
2) A Psicologia no Direito, que estuda as normas jurídicas como estímulos
sociais que geram determinadas condutas;
3) A Psicologia para o Direito, que considera a Psicologia como uma disci-
plina auxiliar do Direito, proporcionando-lhe a este informação sobre a conduta
humana. Esta perspectiva se identificaria, em grande medida, com a Psicologia
Forense.

Deste modo, a Psicologia estaria atuando nestas três possíveis relações com
o Direito contribuindo de alguma forma com a ciência jurídica.
O psicólogo pode contribuir, por meio de métodos científicos, para desven-
dar a verdade sobre alguns aspectos do comportamento dos indivíduos. Muitas

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das técnicas são universais independentemente da cultura e dos aspectos sociais,


por exemplo, testes projetivos de personalidade. O teste HTP (House-Tree-Per-
son) é uma técnica no qual o sujeito desenha em uma folha em branco, uma casa,
em outra folha uma árvore e por último uma pessoa. Por meio dos desenhos o
indivíduo projeta sua personalidade e seus conteúdos conscientes e inconscientes
e o psicólogo ao analisá-los consegue averiguar conflitos negados pela pessoa.
Assim, a Psicologia pode contribuir muito na busca pela verdade em pro-
cessos judiciais, por meio do estudo e da pesquisa dos comportamentos e da
subjetividade humana. Citando um exemplo fictício: um adolescente comete
um homicídio culposo, contra um travesti, confessa o crime, mas não consegue
explicar e nem compreender como aconteceu. O jovem está em desespero e arre-
pendimento profundo. O psicólogo, por meio de sessões psicoterapêuticas, e por
meio de instrumentos, consegue penetrar no inconsciente do jovem trazendo a
tona seus conflitos ocultos. Ambos descobrem que o próprio adolescente apre-
sentava comportamentos homoafetivos reprimidos na infância e, de certa forma,
matar, eliminaria qualquer possibilidade de exposição afetiva. Conscientemente
não houve nenhuma intenção de cometer o crime.

Saiba mais

A Psicologia Jurídica tem levantado vários debates em relação a sua prática.


Para entender a história e algumas práticas desenvolvidas inicialmente leia o
artigo Anotações sobre Psicologia Jurídica de Leila Maria Torraca de Brito. Pu-
blicado pelo site www.scielo.br .

Direções metodológicas da Psicologia na aplicação


do Direito

Como citado anteriormente muitas são as possibilidades de aplicação da


Psicologia Jurídica. A Psicologia, como ciência, mantém um leque de Teorias e
Métodos para compreender o mesmo fenômeno psíquico e social. Todos váli-
dos cientificamente! Citando Skinner (1992, p.50) apud Fiorelli; Mangini (2010,
p.46): O comportamento humano é, talvez, o objeto mais difícil dentre os que já

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UNIDADE 8

foram alvo dos métodos da ciência...


A psicologia estruturou-se a partir do século XIX por meio de estudiosos
como Wilhelm Wundt, Ivan Pavlov, John B. Watson, estudiosos experimentais,
e Sigmund Freud e Carl Gustav Jung advindos da medicina. Todos esses pensa-
dores tiveram contribuições inegáveis em busca da compreensão do comporta-
mento e da mente humana. Teorias que se superpõe e se complementam.
Nos próximos tópicos trataremos de quatro perspectivas teóricas que são
mais utilizadas pela Psicologia Jurídica.

PSICANÁLISE (O Inconsciente)

Sigmund Freud (1856-1939), criador da psicanálise, estudou as manifestações


do inconsciente e afirmou que toda manifestação do comportamento tem uma
razão para acontecer, mesmo que inconscientemente. Assim, não existiria sem
querer, isto é, tudo tem uma razão de ser. “O indivíduo pode agir sem perceber
o que faz (...)” (FIORELLI, MANGINI, 2010, p.47).
Freud explorou as forças motivadoras inconscientes, os conflitos entre as for-
ças e os efeitos destes conflitos no comportamento do ser humano. Os instintos
são fatores que motivam a dinâmica da personalidade e as forças biológicas que
liberam energia mental. O termo instinto conforme Freud significa impulso ou
pulsão. O instinto não é herdado e o objetivo deste é reconduzir a estimulação
através de atividades como comer, beber e satisfação da necessidade sexual.
Agrupou os instintos em duas categorias: Instinto de vida e instinto de morte.
Instinto de vida ou Eros incluem a fome, sexo, ou seja, busca a auto preservação
da vida ou sobrevivência da espécie. São forças criadoras da própria vida e a for-
ma de energia a que elas se manifestam é a libido. O instinto de morte Thanatos
é uma força destrutiva. E pode ser dirigida para dentro como no masoquismo
ou suicídio. Ou para fora como no ódio e na agressão. Conforme Freud, somos
impelidos para a morte e que o “objetivo de toda vida é a morte”.
Reconheceu que tanto a hostilidade e a agressão, assim como o sexo são forças
importantes da personalidade.
Para Freud a estrutura psíquica se caracteriza da seguinte forma (FIORELLI;
MANGINI, 2010, P.48):

ID: a parte mais primitiva e menos acessível da personalidade, constituída de

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conteúdos inconscientes, inatos ou adquiridos, que buscam a continua gratifica-


ção (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.10-11). (...) é o princípio de prazer.

EGO: responsável pelo contato do psiquismo com a realidade externa, con-


tém elementos conscientes e inconscientes (FREUD, 1974, p.11). Ele atua sob o
principio da realidade (FREUD, 1974, p.39), por meio do pensamento realista.
O ego não existe sem o id e o superego.

SUPEREGO: atua como sensor do ego. Tem a função de formar os ideais, a


auto-observação etc. (FREUD, 1974, p.70-71). Constitui a força moral da perso-
nalidade; representa o ideal, mais do que o real, busca a perfeição mais do que o
prazer e foi formado pela criança por meio das contribuições recebidas dos pais.
(...) A justiça pode apresentar-se como um “superego externo”, ao atuar expondo
e exigindo o cumprimento de normas éticas e morais na sociedade.

A estrutura mental atuaria o tempo todo por meio dessas três instancias psí-
quicas. Vejamos alguns exemplos:
Um adolescente, sabendo que ainda não lhe é permitido dirigir um automó-
vel, um dia na madrugada pega o carro do pai, sem esse perceber, participa de um
racha e atropela uma pessoa. Foi impulsionado pelo id. Este não conhece valor
de juízo moral, busca apenas a satisfação imediata. No momento o adolescente
só queria dirigir.
Uma jovem amante de um rapaz casado ao confidenciar suas experiências
com sua amiga, esta perde a cabeça e a ofende, dizendo que seu ato é uma sem-
-vergonhice! Não admite tal atitude e rompe com a amiga. Ao contar seus segre-
dos fulana não sabia que iria acionar o superego rigoroso da amiga e esta agiria
moralmente e religiosamente a respeito de seu comportamento.
Outra manifestação do inconsciente foi denominada por Freud de atos falhos.
Estes se manifestam quando o indivíduo expõe, sem querer, aquilo que deveria
ocultar. Por exemplo: em um reconhecimento na policia, a vitima é colocada
de frente a alguns suspeitos para apontar quem a atacou. Após ter identificado
o agressor este argumenta ao delegado dizendo que era impossível a jovem ter
o reconhecido já que ele estava de touca na hora do ataque. Isto é um ato falho.
Assinou a culpa sem querer, mas querendo.

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UNIDADE 8

Mecanismos de Defesa

Os mecanismos de defesas são negações ou distorções inconscientes da rea-


lidade. Citaremos alguns deles:

• Identificação: o indivíduo se identifica com uma pessoa ou grupo. Assim,


assume modos, de agir de falar e vestimentas igual a de um ídolo.
• Negação da realidade: não reconhece os fatos reais da realidade. Por exem-
plo, uma mãe se recusa a acreditar que seu filho é traficante de drogas.
• Racionalização: são falsas desculpas para explicar um fato inaceitável. Por
exemplo, meu filho não é bandido, são as influencia dos amigos.
• Projeção: o sujeito atribui à outra pessoa aquilo que é dele mesmo. O indi-
víduo diz: ele me odeia, ao invés de dizer: eu o odeio. Na verdade o outro nem
lembra que ele existe. É comum projetarmos nos outros nossos desejos e nossas
ansiedades. Outro exemplo: o indivíduo sente o tempo todo que sua esposa vai
traí-lo, contudo a esposa nem pensa nessa possibilidade. Na verdade o desejo é
dele e não dela. É comum entre os paranóicos.

Os autores Fiorelli e Mangini (2010) discorrem que na área jurídica, os advo-


gas, juízes e os promotores devem ficar atentos aos seus próprios mecanismos de
defesa, uma vez que, podem manifestar diante de uma audiência. Por exemplo:
uma testemunha que desperte atração sexual pode despertar o mecanismo de
defesa no qual tudo o que ela disser já de antemão é considerado verdade.
Deste modo, a psicanálise de Freud, é a teoria mais utilizada para explicar
os fenômenos psíquicos e comportamentais dos indivíduos. Investigar como se
processa tal comportamento consciente e principalmente inconsciente é a chave
para compreender a conduta humana.

Leitura complementar

Caro estudante para uma introdução a teoria psicanalítica leia o livro Intro-
dução a Psicanálise de Luiz Hornstein.

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O condicionamento (Teoria comportamental)

O B. Frederick Skinner (1904-1990) elaborou a teoria da aprendizagem no


qual o comportamento é resultado da interação do sujeito com o ambiente. Isto
porque é passível de percepção, mensuração e descrição por meio da utilização
de instrumentos experimentais. Para Skinner o comportamento condicionado
se dá de duas formas (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.68):

1- Existe um estímulo desencadeador e o indivíduo comporta-se para res-


ponder a ele: assim se estabelece o condicionamento respondente; e
2- O indivíduo comporta-se de determinada maneira para que ocorra um
estímulo posterior, percebido por ele como benéfico; é o condicionamento ope-
rante.

No primeiro caso, condicionamento respondente, ocorre da seguinte ma-


neira: um determinado estímulo provoca certo comportamento. Por exemplo, a
visão de uma pessoa bonita causa aceleramento dos batimentos cardíacos. De-
pois causa um pareamento deste estímulo com outro estímulo: a pessoa bonita
estava ao lado de um carro maravilhoso. Por ultimo ocorre o condicionamento
respondente, isto é, ao ver o mesmo carro, o coração do indivíduo acelera uma
vez que associou com a pessoa bonita.
No condicionamento operante a pessoa realiza uma ação e obtém uma res-
posta ou um estímulo. Assim, o comportamento antecede o estímulo. Por exem-
plo: a criança toda vez que chora ganha um brinquedo, assim, para ganhar outro
brinquedo ela chora de novo. Entretanto, no caso acima, foi um reforço positivo.
Já no reforço negativo quando há uma punição o comportamento pode ser ex-
tinto. Quando a criança chora e sua punição é não ganhar mais o brinquedo, ela
deixa de chorar porque tem uma consequência.
Dependendo da frequência e da intensidade do estimulo o indivíduo per-
manece condicionado. Por exemplo, o adolescente não recebe carinho e apoio
em casa, mas recebe do traficante que o condiciona por meio da frequência e da
intensidade.
Para Skinner é o ambiente que o sujeito convive que modela o comporta-
mento da pessoa. Um indivíduo que convive desde criança com um pai agressivo
pode repetir a ação ou fugir de pessoas que apresentam o mesmo padrão do pai.

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UNIDADE 8

Skinner deu especial atenção ao condicionamento por punição. Vejamos na


nossa sociedade a punição é uma forma de condicionar as pessoas ao bom com-
portamento. Por exemplo, as leis de trânsito. Contudo, a punição somente valerá
se for: exemplar, advertência, imediata e que possa ser compreendida pela pessoa
e que esta possa discriminar as ações que são merecedoras de punição.
O criador do condicionamento elencou alguns aspectos negativos da aplica-
ção da punição como: o indivíduo pode repetir o comportamento na próxima
oportunidade; mesmo eliminando o comportamento inadequado, por exemplo,
usar drogas, não significa que o indivíduo vá desejar trabalhar; o comportamen-
to se extingue somente enquanto há punição; não há nenhuma garantia que o
sujeito seja punido em outras situações indesejadas.
Desta forma, a aplicação da punição deve ser utilizada com bom senso para
não gerar magoas e discórdias entre as pessoas.
A teoria comportamental pode ser bem aplicada na Psicologia Jurídica, por
meio de recompensas ou punições. Por exemplo, a pena do detento é amenizada
por bom comportamento.

Sugestão de vídeo

Sobre condicionamento assista o filme Laranja Mecânica (1972) de Stanley


Kubrick. O filme narra a história de uma gangue de jovens violentos no qual um
dos membros é capturado pela polícia e entra em um programa de condiciona-
mento comportamental.

Abordagem cognitiva

Nesta abordagem o conceito que o indivíduo possui de mundo é que vai


determinar seu comportamento. O sujeito seria totalmente adaptativo, livre dos
traumas da infância, em pleno desenvolvimento. Flexível e envolto de suas cren-
ças. O pensador Albert Ellis (1913-2008) acredita que o comportamento humano
é “consequência de eventos ativadores sobre pensamentos, cognições e ideias do
indivíduo” (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.74).
As crenças irracionais serem os motivos dos problemas humanos. Os indi-

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víduos se comportam inadequadamente em seu meio devido às falsas crenças.


Por exemplo, um homem que mata sua esposa, devido a uma traição conjugal,
porque acredita que o verdadeiro homem lava sua honra.
O mundo fica distorcido dependendo da visão que o indivíduo tem do mes-
mo. Abala sua estrutura física e mental. Por exemplo, uma pessoa que come a
fruta manga e depois toma leite, passa mal. Não porque a mistura de fato faz
mal, mas seu emocional induziu ao mal estar devido a sua crença. O caráter do
indivíduo expressa sua crença e seus valores. Muitas vezes o indivíduo expressa
comportamentos de desejo oi inveja inconscientes devidos suas crenças. Por
exemplo, um rapaz condena seu amigo e termina a amizade ao descobrir que
ele tinha uma amante. Meses depois o rapaz que rejeitou o amigo é visto em
companhia de uma amante.

Dissonância cognitiva

Conceito elaborado por Leon Festinger (1919-1990) a dissonância cognitiva


ocorre quando o indivíduo apresenta duas crenças inconsistentes ou inconsistên-
cia entre crença e comportamento. Ocorre uma tensão. A pessoa profetiza uma
coisa, mas seu comportamento revela outro e a pessoa vai fazer de tudo para
eliminar essa incoerência. Por exemplo, uma pessoa religiosa se diz paciente,
mas todos os dias briga com os filhos sem motivo.

Esquemas rígidos de pensamento

De acordo com Aaron Temkin Beck (1921), pai da Terapia Cognitiva, os


esquemas de pensamento ou as regras são as interpretações que o sujeito faz do
mundo que o rodeia. Quando o indivíduo se depara com um problema a resol-
ver ele ativa os esquemas de pensamento economizando energia e tempo para
solucionar as questões da vida.
Esses esquemas utilizados de antemão são perigosos a partir do momento que
o indivíduo utiliza de forma estereotipada e generalizada tornando-se esquemas
rígidos de pensamento. Pessoas fanáticas, políticos e religiosos são exemplos de
pessoas com pensamentos rígidos detentores da verdade absoluta.
Os preconceitos e os pensamentos automáticos são consequências do esque-

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UNIDADE 8

ma de pensamento rígido. Geralmente os indivíduos preconceituosos negam a


realidade. Por exemplo, o pai que “desconhece” o comportamento homossexual
do filho. Quando descobre o agride.
Os pensamentos automáticos consistem em reações imediatas do indivíduo
frente a situações. Podem ocorrer interpretações e julgamentos errados. Por
exemplo, quando o pai citado acima cruza com um rapaz afeminado o agride
sem pensar.
Os modelos também possuem importância para a Teoria Cognitiva. Albert
Bandura (1925) desenvolveu a teoria cognitivo-social da aprendizagem. Para ele
a observação de um modelo é que conduz ao comportamento. Assim, os pais,
os responsáveis, os avós, os irmãos, os amigos, professores, etc.; são modelos
que contribuem para a emissão dos comportamentos. O indivíduo reproduz o
comportamento observado, tanto positivo como negativo.
Assim, filhos de pais alcoólatras podem tornar-se alcoolistas devido ao mo-
delo familiar. Outro exemplo são crianças que convivem com o trafico de drogas
diariamente. O filme brasileiro Cidade de Deus (2002) de Fernando Meirelles
retrata bem o caso da criança “dadinho” cujo sonho era ser um grande traficante.

Considerações finais da unidade

Nesta unidade você aprendeu a relação entre Psicologia e Direito e seus fun-
damentos. Abordamos as linhas teóricas mais utilizadas como a Psicanálise, com-
portamental e a Cognitiva. Caro estudante, nesta unidade você compreendeu a
importância da psicologia para a compreensão dos comportamentos humanos.

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1. Diante do texto acima defina Psicologia Jurídica.

2. Quais são as três perspectivas da relação entre Psicologia e Direito?

3. Para a Psicanálise o psiquismo humano possui três instancias: Id, Ego e Superego.
Discorra sobre os mesmos.

4. Por que os julgadores devem estar atentos aos seus próprios mecanismos de defesa?

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9 Psicologia
jurídica
Me. Gisele Cristina Mascagna

Em suma, segue os objetivos de aprendizagem a serem obtidos ao fim

deste capítulo:

Nesta unidade serão abordados alguns dos principais temas trabalha-

dos na Psicologia Jurídica em relação à prática com o Direito. Aborda-

remos os julgadores, as vítimas e a Psicologia do testemunho sob o ponto

de vista psicológico.

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UNIDADE 9

A Psicologia Jurídica tem crescido muito nos últimos tempos devido às ne-
cessidades que tem surgido no âmbito do Direito. Garrido y Herrero (2006 a,
p.9) apud Bernal (2008, p. 35-36) definem a Psicologia Jurídica como “os supos-
tos psicológicos em que se fundamentam as leis e quem as aplicam, bem como
sejam os juristas bem como sejam os psicólogos, com a finalidade de explicar,
prever e intervir”. Psicologia Jurídica atuaria em dois âmbitos: intencional, isto
é, o estudo do comportamento das pessoas e de grupos em ambientes regulados
juridicamente e operativa, ou seja, é a disciplina que estuda temas como as tes-
temunhas, os jurados, as vítimas, condutas legais, investigações, etc. Neste item
discorreremos a definição operativa.
Quando nos deparamos com notícias impactantes, divulgadas pelos meios de
comunicação, ficamos pasmos e estarrecidos. Crimes contra a vida são os princi-
pais: filhos que matam os pais e vice versa, crimes em séries, médicos que tiram a
vida de pacientes intencionalmente, profissionais que deveriam defender a vida

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UNICESUMAR

tiram-na inconsequentemente, entre outros. Quando crimes como o da família


Nardoni (caso da criança Isabella Oliveira Nardoni defenestrada do edifício no
qual residia pelo pai Alexandre Nardoni e a madrasta Anna Carolina Jatobá) e da
família Richthofen (caso da jovem Suzane Louise Von Richthofen condena por
parricídio e matricídio juntamente com seu namorado Daniel Cravinhos) para-
lisa toda a população que acompanha diariamente o desfecho da história. Todos
passaram a serem percebidos, entre eles, os réus, jurados, juristas e testemunhas.
Compreender os papéis e os comportamentos sob a ótica da psicologia da-
queles que julgam das vítimas e das testemunhas é o principal objetivo deste
capítulo.

Os julgadores

Hà os que“Julgam juízes e jurados; julgam os que acusam e os que defendem.


Julgam os que opinam. Entretanto, todos trabalham antes com a realidade dos
relatos do que com os fatos” (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.171).
As pessoas julgam perante a perspectiva que adquiriu socioculturalmente ao
longo de sua vida. O cognitivo, o pensamento e as emoções estão impregnados
de valores e conceitos, experiências, expectativas e da época histórica e cultural
que o sujeito está inserido.
Julgamos por meio de comparações cujas referências advêm do social e da
sociedade. O homem é prisioneiro de sua própria mente muitas vezes julga por
estereótipos que foram introjetadas no cotidiano. Todos são julgados inclusive
quem julga (FIORELLI; MANGINI, 2010).
Julgar é um desafio para quem julga. Delegados de polícia, promotores, juízes
e advogados examinam detalhadamente cada exposição. O confronto entre a
linguagem e o pensamento entre quem questiona e quem responde compreende
a investigação.
O examinador deve ter minimamente conhecimentos científicos e técnicos
na arte de entrevistar. Há uma metodologia no qual depende a qualidade dos
resultados. A utilização da técnica de entrevista é o alicerce para a interpretação
dos dados, seja de qualquer crime. Para utilizar a metodologia adequadamente
o examinador deve ter o domínio de dois conhecimentos: dominar os procedi-
mentos de entrevistas e estabelecer sintonia emocional com o entrevistado. O

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UNIDADE 9

primeiro e o segundo não se excluem. Sem sintonia não ocorre à obtenção da


informação já que a fala será vazia.
Assim, os autores (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.173) trazem algumas dicas
a respeito da técnica da sintonia emocional. Quando ocorre a sintonia o entre-
vistador:

1.Percebe e interpreta sinais do estado de tensão do indivíduo, de emoções


que o dominam e efeitos que possam ocasionar em seu comportamento, no seu
entendimento do quadro que cerca o conflito e na sua capacidade de elaborar
as respostas;

2.Identifica as informações relevantes para entender o percurso histórico dos


acontecimentos, na quantidade e na profundidade necessárias para interpretar
as respostas;

3.Ajusta a linguagem, para torná-la compreensível pelo entrevistado, evitan-


do a ocorrência de falhas de entendimento comprometedoras da interpretação;

4.Identifica esquemas de pensamento do entrevistado, ajusta o questiona-


mento, elimina ambiguidades capazes de interferir nas repostas e no sentido
destas;

5.Compreende a idade de desenvolvimento mental do entrevistado (por


exemplo, segundo as concepções de Piaget ou Erik Erikson), com o objetivo de
formular as questões de maneira adequada à elaboração mental do indivíduo.
Perguntas abstratas, dirigidas a pessoas no estágio operatório-concreto, produ-
zirão respostas com pouco sentido, inconsistentes ou, até mesmo, falsas.

Neste quinto item explicitaremos resumidamente o estágio operatório-con-


creto de Piaget para facilitar a compreensão do item. O estágio operatório-con-
creto ocorre do 7 aos 11 anos de idade, fase que a criança não possui ainda
capacidades hipotético-dedutivo ou pensamento matemático lógico. É o período
que a criança consolida as noções de número, volume, substância e peso. Nesta
fase a criança não consegue ter capacidade mental de abstrações, segundo a teoria
de Piaget.

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Exemplificando: O entrevistador ao perguntar a um jovem, rapaz com idade


mental abaixo da idade cronológica, idade mental 11 anos, idade cronológica
19 anos, porque ele jogou a lixeira pela janela do 13° andar ocasionando assim
ferimentos graves a um pedestre, ele responderá que sua mãe mandou: jogue o
lixo fora! Entretanto, a mãe se referia aos papeis que ele utilizava ao desenhar, ou
seja, para jogar fora, no lixo. Sua compreensão é concreta, sem abstrações. Jogar
o lixo fora tem significado literal!
De acordo com os autores (2010), a sintonia emocional colabora para ter
entre entrevistado e entrevistador um clima de atenção concentrada no sujeito
julgado e nos procedimentos adotados. Muitos são os fatores que podem desviar
a atenção dos julgadores como:

Cansaço físico

Relaxa a atenção de forma involuntária, principalmente em audiências e en-


trevistas prolongadas. Deve-se tomar muito cuidado já que tal cansaço permite
a desatenção de detalhes importantes;

Mecanismos psicológicos de defesa

Devido ao sofrimento psíquico, que alguns assuntos podem trazer a tona do


julgador, por confrontar valores pessoais, como preconceitos, os mecanismos de
defesa são acionados inconscientemente e a atenção pode deixar passar detalhes
importantes, o esquecimento na hora de elaborar a perguntar, entre outras des-
considerações é um bom exemplo de defesa;
Pensamentos automáticos: tais pensamentos podem ser acionados por uma
simples palavra, por um gesto e desviar a atenção em relação ao assunto tratado
podendo conduzir os pensamentos a conclusões errôneas e inadequadas;


As pessoas julgam perante a perspectiva que adqui-
riu socioculturalmente ao longo de sua vida.

Crenças arraigadas

Quando um juiz, advogado, promotor, delegado ou jurado, possui fanatismo

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UNIDADE 9

em relação a uma determinada ideia ou conceito, incorre no risco de cometer


erros graves, uma vez que tais crenças não permitem ao julgador concentrar-se
nos argumentos e nas palavras, julgando por meio de ideais morais e culturais.
Esquemas de pensamento:

Tais esquemas fazem com que os julgadores desenvolvam seu julgamento a


partir de ideias dele mesmo, do seu próprio pensamento, não permitindo a de-
vida consideração critica. A distância de questões pessoais de perde-se durante
o processo.
Deste modo, a sintonia emocional permite uma atenção seletiva e concentra-
da na entrevista e em quem está sendo entrevistado ou julgado.

A emoção

Todos possuem emoções, positivas ou negativas, fortes ou suaves. Contudo,


reconhecer e controlar as próprias emoções são imprescindíveis para os julga-
dores em questão.
O profissional deve se emocionar, porém sem se contaminar pelas emoções
dos outros participantes e muito menos pelas próprias. Não existe bom profis-
sional que não se emocione na atuação, caso contrário não ocorreria a sintonia
emocional. Entretanto, ao se emocionar o julgador não deve levar para si e nem
misturar com suas próprias emoções, caso contrário além de correr o risco de
cometer um erro no julgamento, também poderá ser levado para um pronto-a-
tendimento, já que se deixou dominar pelas emoções.
Outro exemplo é a raiva. O julgador ao sentir a presença de raiva, deve saber
aproveitá-la para compreender melhor o que ela ocasiona entre os litigantes e
não deixar ser contaminado pela mesma já que impediria a neutralidade. “O
mesmo raciocínio vale para bons sentimentos, como a piedade; se não identifi-
cá-la quando tomado por ela, aquele que julga poderá tornar-se franco protetor
de uma das partes” (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.176).
Deixar-se levar pelas emoções significa comprometer o raciocínio, princi-
palmente o pensamento, a percepção, a atenção e a memória. Quando tomados
pelas emoções os indivíduos se sujeitam as crenças inadequadas a respeito das
pessoas e das atitudes. Imaginem na hora do julgamento, em um caso de homi-
cídio triplamente qualificado, o juiz chorar junto aos parentes da vítima; seria no

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UNICESUMAR

mínimo constrangedor e o julgamento, anulado.


Mas não podemos deixar de focar que as emoções são fundamentais para que
os julgadores atuem como pessoas de fato, e não como meras máquinas julgado-
ras. Sentir emoções não significa se deixar levar por elas ao extremo da emoção,
isto é, sentir raiva quando alguém está sentindo, sentir mágoa quando a vítima
se expressa, etc.; sentir emoções é ser capaz de tê-las sem perder a neutralidade
profissional.

Valores sociais

A influência dos valores sociais sobre as pessoas é inegável. Os valores muitas


vezes levam as pessoas a agirem com condutas que não condizem com o melhor
para elas e também para a sociedade que ela vive. Nos julgamentos isso é muito
comum. Às vezes a vítima é penalizada devido aos valores sociais introjetados
pelas pessoas.
A complacência está arraigada em crenças envolvidas na subjetividade e nos
direitos individuais, principalmente em torno daqueles que são considerados
“normais” ou “desviantes”. Tudo isso reluz no ambiente jurídico principalmente
quando o réu é alguém da “nobreza” social. A complacência é muito comum prin-
cipalmente quando as vítimas são mulheres. O autor de antemão já é condenado
pela sociedade como um assassino sexualmente pervertido.
Os autores (2010, p.177) deixam claro como a complacência aparece nos
crimes de trânsito. Um local onde os pecados são camuflados.

Esses crimes escondem, em primeiro lugar, o absoluto desrespeito ao cidadão;


o veículo e seu condutor ocupam, na realidade, espaço preferencial, e tudo o que o
circunda torna-se fundo indiferenciado na paisagem de menosprezo aos direitos
humanos. Em segundo lugar, ratificam a inoperância dos mecanismos de garantia
da ordem pública, frágeis no punir para desestimular, hábeis na colocação de
dissuasivos econômicos (a multa) sem valor significativo a ponto de produzir
efeitos visíveis e, além do mais, inúteis quando se trata de vidas.

Tal citação demonstra que ainda existe um distanciamento visível entre o


social e a justiça em relação a diversos crimes. A relação entre pobreza e crimi-
nalidade continua, como estímulo e resposta, isto é, ser pobre é ser marginal.

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UNIDADE 9

Tal pensamento advêm de crenças sociais arraigadas e reflete diretamente nos


julgamentos.
Dois crimes iguais cometidos no mesmo dia recebem relatos distintos: o pri-
meiro que envolve classe média alta ganha dimensão nacional, o segundo de bai-
xa renda no máximo no noticiário local; O primeiro é inocente até que se prove
o contrário, o pobre é culpado até que provem a inocência; Infelizmente o olhar
diante dos casos acima é a percepção intencional do observador. Assim, aquele
que tem o papel de julgar deve se abstrair do julgamento dos valores sociais, que
desprotegem os desprotegidos socialmente.
Não podemos nos esquecer dos conteúdos inconscientes que compreendem
vários fatores entre eles os mecanismos de defesa e as características da perso-
nalidade. Tudo influencia no julgamento de quem está julgando e de quem está
sendo julgado.

Reflita

A Psicologia Jurídica auxilia os julgadores na tomada de decisão. Entretanto,


julgar requer neutralidade e contraditoriamente, saber trabalhar as próprias emo-
ções. Assim, em relação aos jurados, tanto a defesa como a acusação, “trabalham”
no psicológico do júri. É possível influenciá-los por meio das emoções? Reflita
sobre!

A vítima

Toda vítima quer que seus problemas sejam resolvidos. Portanto transfere a
figura do juiz tal responsabilidade.
A vitimologia é uma ciência que estuda a vítima de várias perspectivas, psico-
lógica e social, buscando o diagnóstico e a proteção da mesma. Toda vítima sofre
um impacto psicológico mais o dano material ou físico. Por um longo tempo a
vítima vivencia a situação do delito, revive e acredita que vai revivê-la novamente.
A vítima pode desenvolver ansiedade, angústia, fobias e até depressão diante de
tais revivências. A vitimologia se interessa por (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.
185-186):

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Prevenção do delito: estuda o comportamento do delinquente em relação à


vítima e vice versa; a influencia do comportamento da vítima para a ocorrência
do crime e os fatores que leva a vítima a reagir ou não diante do delito.
Desenvolvimento metodológico-instrumental: obtenção das informações
em relação ao delito, como o local, a idade, o sexo, nível econômico, etc.; tanto
da vitima como do autor do delito.
Formulação de propostas de criação e reformulação de políticas sociais: tal
formulação deve ser condizente com a atenção e a reparação a vitima. Por exem-
plo, restauração de danos econômicos, sociais e psicológicos.
Desenvolvimento continuado do modelo de Justiça Penal: atualização cul-
tural, social, tecnológico e econômico em relação ao sistema, já que as vitimas
querem justiça independentemente do local, dos costumes e das leis vigentes do
local no qual o crime se realizou.
Os autores Benjamim Mendelsohn (Romênia, 1900-Israel, 1998) apud Fio-
relli; Mangini (2010, p.186-187) discorrem que existem cinco tipos de vítimas
sendo:

1-Vitima completamente inocente

A situação o qual ocorreu o crime não teria como a vítima se proteger, seria
uma fatalidade. Por exemplo, vitima de “bala perdida”, trabalhadora que é vitima
na lotação do metrô de um indivíduo que nela se esfrega com atitudes lascivas,
de nascituro em relação ao aborto, etc.

2-Vítima menos culpada que o delinquente

A vítima se comporta de maneira distinta chamando a atenção para si mesma.


Por exemplo, ostentação de joias: uma mulher que passeia na favela do Rio de
Janeiro demonstrando suas joias com certeza Zé expõe, inconscientemente, para
vivenciar o papel da vítima.

3-Vítima tão culpada quanto o delinquente

Pessoas que são vítimas, mas agem sabendo o que está ocorrendo por trás da
situação. Por exemplo, comprar de uma loja conhecida por seus objetos contra-

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UNIDADE 9

bandeados um tênis; um relacionamento que evolui para chantagem;

4-Vítima mais culpada que o delinquente

É o caso do assaltante que invade uma residência, mas ao encontrar resistên-


cia acaba sendo morto pela própria vítima.

5-Vítima unicamente culpada

Estes são casos de falsas vítimas que cometem o delito para culpar outrem,
por exemplo, “esconde” o carro para receber o dinheiro do seguro; se auto agride
para culpar o namorado; etc.

As pessoas são vítimas por vários motivos, contudo algumas delas permane-
cem nessa condição devido a alguns fatores psíquicos, como a glorificação do
sofrimento, por exemplo, um homem sozinho entra na favela da rocinha para
“salvar” sua noiva sequestrada, é quase morto, perde um braço, mas tem a glória.
Teve seu ganho secundário. Outra situação é a adrenalina do perigo. Correr riscos
tem seus ganhos psicológicos. Outro exemplo são casais que tornam a relação
um inferno e ambos são vitimas um do outros, infligem sofrimentos mútuos, são
vítimas eternas. Mesmo que se separem a chance de encontrarem alguém igual é
a mesma, uma vez que faz parte da estrutura psicológica viver em “pé de guerra”.

As vitimas eternas encontram, no que as prejudica, a motivação para seguir


em frente. O conflito faz parte de sua maneira de ser e constitui eficaz mecanis-
mo psicológico de defesa contra outros dramas do psiquismo que, sem eles, se
tornariam insuportáveis (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.191).

Entretanto, não podemos colocar todas as vitimas nessas situações emocio-


nais, algumas estão na “hora errada e no local errado”, é uma fatalidade.
Existem as vítimas crônicas, ou seja, aquelas com baixa autoestima não acre-
ditando que é capaz de modificar a situação que está vivenciando há anos. Um
exemplo disso é a vitimas de violência conjugal. Podendo ser violação física e
psíquica. A violência conjugal psicológica é de difícil diagnóstico porque se inicia
aos poucos, sem evento isolado; vai sendo apreendida aos poucos e alguns nem

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se dão conta do que está ocorrendo; há com o tempo um condicionamento entre


as partes, por exemplo, só um simples olhar causa uma reação e os filhos são a
munição para continuar esse tipo de violência.
Não podíamos deixar de expor a vítima de violência sexual. Muitas ainda são
culpabilizadas pela violação física. A mulher se sente indigna de viver socialmen-
te e de ter algum tipo de relacionamento amoroso. Algumas pessoas chegam ao
ponto de dizerem que a mulher merece porque provocou usando vestimentas
sensuais ou saindo tarde da noite.
As consequências para quem sofreu violência sexual são devastas. As psicoló-
gicas são as consequências predominantes. A pessoa pode desenvolver mudanças
comportamentais e transtornos mentais podendo ser leves e até graves.
Também pode desenvolver dificuldades para novos relacionamentos como
repulsa ao contato íntimo com pessoas do sexo oposto. Os mecanismos de defesa
são acionados e a pessoa pode apresentar comportamentos e transtornos que
nada tem a ver com o fato original já que o psiquismo deseja excluir do consciente
a dor insuportável de ter vivenciado tal experiência. Lembrando que a mulher
não é a única que sofre abuso sexual, infelizmente tal crime tem sido frequente
contra crianças.
As consequências do abuso podem ser diversas como (FIORELLI; MANGI-
NI, 2010, p.195):

•Dificuldades de adaptação afetiva: a pessoa apresenta dificuldades para


receber e expressar sentimentos e emoções;
•Dificuldades para estabelecimento de relacionamento interpessoal: redução
de diálogo, de estabelecer novos contatos principalmente com pessoas do sexo
oposto;
•Impedimento ao exercício saudável da sexualidade: o relacionamento se-
xual fica praticamente interrompido, entretanto, algumas pessoas podem super-
sexualizar as relações e até manter relações perversas.

Geralmente desenvolvem sentimentos de culpa e repulsa.


Assim, qualquer pessoa pode ser vítima de diversos crimes, incluindo os
sexuais. Há vários tipos de vítima como visto acima, mas independentemente
da situação vivenciada vítima é sempre vítima.

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UNIDADE 9

Saiba mais

Em relação ao tema abordado sobre as vítimas leia e reflita o capítulo “As


Desventuras do vitimismo” do livro Estudos Feministas. Vol. 1(1993) de Maria
F. Gregori.

Psicologia do testemunho

A Psicologia do Testemunho foi um dos primeiros estudos da Psicologia Jurí-


dica. Receber intimação para dar um testemunho já é motivo para muitas pessoas
entrarem em angustia e ansiedade. Seja da defesa ou de acusação a testemunha
sofre várias emoções durante a audiência. Principalmente se o caso tiver reper-
cussão nacional.
Distorcer as informações na hora de dar o testemunho é comum, principal-
mente se a testemunha presenciou algo muito trágico. O psiquismo humano
adota os mecanismos de defesa para evitar reviver o sofrimento. Entretanto, o
testemunho vai depender principalmente de como a pessoa percebeu os fatos
ocorridos e de sua memória.
Conforme os autores (2010) existem o relato espontâneo e o relato por in-
terrogatório.

Relato Espontâneo

Neste relato existem falhas e interrupções do relato que são expostos a crenças
e preconceitos do indivíduo, já que a liberdade permite o sujeito a manifestar-se
sem censura. É preocupante porque a testemunha fala o que quer e inclusive o
que não quer uma vez que o inconsciente se manifesta. Frases como: isso só podia
ter sido feito por pessoas desse tipo. Fala assim, mostra o preconceito.
As características pessoais da testemunha espontânea pode prejudicar o de-
poimento como (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.348):
Detalhes da personalidade: uma pessoa narcísica fará do testemunho seu
momento de gloria, tudo girará em torno dele;
Experiência em expor as próprias ideias: para algumas pessoas a exposição
de ideias pessoais pode ser uma tortura;

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Aspectos relacionados com a fonoaudiologia: sobre pressão tem pessoas que


gaguejam, demoram na articulação do pensamento, na troca de sílabas, etc.;

Dificuldades com a linguagem: o sujeito escolhe mal as palavras por não


conseguir como se expressar.

Relato por interrogatório

O testemunho da pessoa que está passando por um interrogatório é diferente


do espontâneo, justamente porque os questionamentos são para descobrir o que
o indivíduo sabe de uma parte e o que poderia dizer diante das questões.
A emoção faz o indivíduo implantar, inconscientemente, falas nas lacunas
do esquecimento ou naquilo que ele acredita saber.

Fatores sociais e psicológicos combinam-se para influenciar nas respostas. A


admissão de um erro ou omissão, sugerida por uma pergunta, pode ser percebida
como inadmissível e a testemunha, na busca de ocultá-lo, ratifica uma declara-
ção anterior incorreta, opta pela fuga declarando esquecimento ou escolhe uma
saída honrosa, mas incorreta (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.349).

As perguntas feitas durante o relato da testemunha é imprescindível para es-


timular a memória. Contudo, algumas perguntas devem ser melhores elaboradas
senão a memória pode ser induzida ao erro, por exemplo: a roupa escura que o
réu estava usando era de que cor?

A testemunha pode agir sobre forte carga emocional caso tenha uma tendên-
cia afetiva em relação ao réu podendo ser:

Identificação com a vítima

Quando a vítima apresenta alguma dificuldade ou fragilidade, como dificul-


dades econômicas, doenças, deficiência físicas, etc. Por outro lado, pode ocor-
rer identificação quando a vítima é rica, intelectual, ou tem a mesma formação,
crença religiosa, política, mesma cor, etc.

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UNIDADE 9

Antipatia com a outra parte

É quando a situação da outra parte causa preconceitos a ponto de querer


prejudicar o sujeito.

Valor moral

Defesa de ideias que a pessoa internalizou ao longo da vida que a situação da


vítima apresenta ter transgredido. Isto significa que muitas vezes a testemunha
quer defender o que é justo ou o oprimido, etc.

Falsas Crenças

A maneira de interpretar a realidade, os fatos e as notícias estão repletos de


falsas crenças, como exemplo: quem mora na favela é bandido, nunca se confia
em empregado, etc.

Os testemunhos de crianças e adolescentes são distintos dos adultos porque


ambos ainda estão em desenvolvimento. Os autores (2010, p.352) sugerem algu-
mas dicas de técnicas para o testemunho de crianças e adolescentes:

• Emitir uma linguagem que a criança entenda;


• Compreender a linguagem que ela utiliza (por exemplo, a forma como ela
nomeia os órgãos sexuais); e
• Preservar sua integridade psíquica, não submetendo-a a situação que possa
comprometê-la.

Tais técnicas são procedimentos que qualquer julgador deve utilizar durante
o depoimento de crianças e adolescentes. Contudo, não deve ser confundida
com a técnica do “depoimento sem dano”, uma vez que tal prática possui aspectos
distintos e cruciais como:

•Aquele que escuta deve promover a comunicação entre o depoente e todos


os representantes da justiça durante o depoimento. Deve-se preservar todo o
conteúdo e modelar a fala e a linguagem;

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•A escuta deve ser um ambiente de cooperação, com empatia e respeito. O


controle emocional é imprescindível para diminuir o sofrimento psíquico.

Assim, a psicologia do testemunho de crianças e adolescentes deve ser obser-


vada e preservada de maneira distinta da testemunha adulta.

Sugestão de vídeo

Sugerimos para reflexão e análise o filme Doze homens e uma sentença (1957)
de Sidney Lumet. O filme retrata o drama vivido por um júri que deve decidir se
um garoto acusado de assassinato é culpado ou inocente.

Considerações Finais

Neste capítulo você aprendeu alguns conceitos usuais da Psicologia Jurídica


e sua prática com o Direito. Abordamos os aspectos psicológicos dos julgadores,
das vítimas e a Psicologia do testemunho. Por meio desta aprendizagem você
adquiriu o conhecimento básico da importância da Psicologia Jurídica no âmbito
do Direito.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. A Psicologia Jurídica tem crescido muito nos últimos anos e alguns estudos tem fo-
cado as características psicológicas e o comportamento dos julgadores. Diante dos
estudos aborde o sintonia emocional.

2. Discorra sobre os cinco tipos de vítimas segundo os autores estudados.

3. Quais são as principais consequências para a vítima de abuso sexual?

4. Em relação à Psicologia do Testemunho explicite as diferenças entre testemunho


espontâneo e testemunho por interrogatório.

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Morfologia
do ser:
desenvolvimento
humano
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade serão abordados assuntos pertinentes à compreensão

do desenvolvimento humano. Você apreenderá que o homem se desen-

volve por meio das transformações histórico-cultural e que seus compor-

tamentos estão atrelados à vida objetiva.

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UNIDADE 10

Nesta unidade serão abordados assuntos pertinentes à compreensão do de-


senvolvimento humano. Você apreenderá que o homem se desenvolve por meio
das transformações histórico-cultural e que seus comportamentos estão atrelados
à vida objetiva.

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UNICESUMAR

Hominização

Várias correntes antropológicas e psicológicas estudaram e ainda estudam


as transformações e/ou evoluções do homem ao longo da história. Muitas dessas
correntes buscam respostas em conceitos biológicos, naturais e idealistas. O pro-
cesso de desenvolvimento humano, de hominização, discorrido nesta unidade
terá como suporte a teoria marxista de Alexis Leontiev e Engels, teóricos que
estudaram profundamente as transformações humanas.
Leontiev (1959) discorre em seu livro Desenvolvimento do Psiquismo todo
o desenvolvimento humano construído historicamente pelos próprios homens.
Para ele, os homens constroem ativamente sua própria história.
Todos nós nascemos “rascunhos”, isto é, não estamos dotados do conheci-
mento histórico e de tudo o que o homem criou, temos que nos apropriar dessas
culturas para nos desenvolvermos. Pensemos juntos: uma criança crescida sem
mediação de outra pessoa, sem acesso a linguagem, em cativeiro, vai desenvol-
ver-se psicologicamente e fisicamente de forma maturacional? Afirmamos que
não! Uma criança, simplesmente não sai andando somente porque chegou a hora,
mas porque apreendeu com outros humanos, por meio da imitação, a andar.
Vejamos outro exemplo: uma criança nos dias atuais somente sabe mexer no
celular porque ela nasceu em um período histórico no qual já haviam inventado
o aparelho e porque tal tecnologia foi disseminada entre a grande massa, ou seja,
ela não nasceu sabendo, ela se apropriou, já que alguém com quem ela convive
possui tal tecnologia. Uma criança indígena, criada em uma tribo distante, sem
contato com o mundo tecnológico, provavelmente ao encontrar um celular ela
além de não saber mexer não saberia nem sua função.
É com a apropriação da cultura elaborada por gerações anteriores que o ho-
mem vai desenvolvendo suas faculdades mentais e tornando tal cultura parte de
si mesmo, por isso parece que é natural.
Como dito anteriormente, várias teorias buscam respostas para o desenvolvi-
mento humano, principalmente a Filosofia e a Psicologia. Nesta última a maioria
das explicações advém das teorias subjetivistas e ambientalistas. A primeira, res-
ponde por meio dos estudos da psique, a segunda responde por meio de intera-
ções sócias. Engels (1982), ao contrário dessas teorias discorreu que o homem
foi se hominizando por meio da utilização de ferramentas e por meio da vida
em sociedade. Com o trabalho o homem deixou de se submeter ao biológico.

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UNIDADE 10

Segundo Leontiev (1959, p.280), as primeiras modificações anatômicas fo-


ram surgindo no homem devido à influência do trabalho e da utilização das
ferramentas. “[...] o seu desenvolvimento biológico tornava-se dependente do
desenvolvimento da produção”.
O homem em meio aos instrumentos foi transformando sua estrutura física
e sua estrutura psicológica. A mão sofre mudanças quando os homens começam
a utilizar ferramentas, isto é, começa a fazer movimentos motores que antes não
realizavam.
O homem transforma a natureza e consequentemente a si mesmo. Vai se
desenvolvendo biologicamente em relação ao social. Isto significa que o homem
antes de se tornar de fato hominizado ele vivia uma vida animal e Leontiev (1959)
embasado nos estudos de Engels (1982) discorre toda essa transformação. Expli-
citaremos resumidamente todas essas etapas de desenvolvimento.
Os australopitecos viviam totalmente animalizados e possuíam uma lingua-
gem primitiva. Este foi o primeiro estágio.
Já no segundo estágio, mesmo vivendo ainda de maneira primitiva, os pite-
cantropos já havia iniciado a fabricação de instrumentos primitivos e sua lingua-
gem já estava um pouco mais elaborada. Com o tempo a fabricação de instru-
mentos já era mais elaborada utilizavam se de uma linguagem elaborada e vivem
em sociedade primitiva. No inicio havia a caça e a pesca e os homens começaram
a comer mais carne e seu organismo e seu cérebro também receberam nutrientes
que outrora não recebiam e consequentemente o cérebro se desenvolveu. Como
estavam comendo carne o fogo se fez necessário e com tal descoberta os alimen-
tos eram mais facilmente digeridos fixando melhor o ferro e seus nutrientes. Com
o advindo da carne a domesticação dos animas se fez necessário e com isto eles
começaram a consumir leite e seus derivados.
Com o passar dos anos os homens tiveram que se locomover de um lugar
a outro desenvolvendo novas necessidades e novas operações mentais já que
experimentaram outros climas separando cada vez mais de sua dependência
biológica. Este desenvolvimento culminou no terceiro estágio, (Neanderthal)
isto é, no Homo Sapiens. Todo esse processo mostra o desenvolvimento até os
dias de hoje e a evolução do homem não depende mais de aspectos biológicos,
mas sim as leis sócio-históricas.
Deste modo, com as necessidades básicas que culminaram no trabalho os
homens desenvolveram os instrumentos e consequentemente seus corpos, seus

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UNICESUMAR

cérebros e sua linguagem. Todo esse desenvolvimento que levou milhões de anos


é transmitido historicamente de geração a geração

“(...)com as necessidades básicas que culminaram no


trabalho os homens desenvolveram os instrumentos e
consequentemente seus corpos, seus cérebros e sua lin-
guagem.”

Todo desenvolvimento dos bens matérias e da cultura foi se objetivando nos


produtos, transmitidos e apropriados por meio da cultura. É por meio do traba-
lho que o homem vai se desenvolvendo. De acordo com Martins (2007, p. 42), “a
práxis compreende a dimensão autocriativa do homem, manifestando-se tanto
em sua atividade objetiva, pela qual transforma a natureza, quanto na constru-
ção de sua própria subjetividade”. É a práxis que determina a existência humana
vinculada à capacidade criativa de transformar a natureza e a realidade.

Leitura complementar

O desenvolvimento humano sempre foi um “mito” para os estudiosos, alguns


partem da evolução biológica naturalmente, outros da construção sociocultural.
Engels faz uma análise e um estudo crítico sobre o desenvolvimento humano em
seu livro: O papel do trabalho na transformação do macaco em homem (1982).
O livro está disponível na internet.

Concepções biologistas

As concepções biológicas do desenvolvimento humano reforçam a ideia de


que o homem já vem com todas as características prontas. Ignoram que ao nascer
o homem já observa que tudo a sua volta está pronto, pois os objetos foram cria-
dos pelas gerações anteriores. Para estas teorias e para o senso comum o próprio
desenvolvimento psicológico já estaria pronto ao nascer.
Entretanto, todos os instrumentos e os signos criados pelos homens mediam
a interação do homem pelo homem e do homem pelo meio. Para Vigotski (1998),

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UNIDADE 10

toda essa interação não ocorre passivamente, porém de forma dialética.


Ao internalizar os signos o homem se transforma e seu comportamento tam-
bém. A linguagem é o principal sistema de signos, de acordo com Vigotski (1998).
A linguagem faz o papel de mediar às relações históricas do desenvolvimento do
homem e da vida particular de cada um fazendo com os mesmo se apropriem
do conhecimento produzido historicamente pelos homens.
Todos os objetos que cercam os homens são criações humanas e são os ho-
mens que atribuem significado a eles, como por exemplo, o conceito de cadeira.
Uma criança não nasce sabendo o que é uma cadeira é preciso internalizar esse
conceito. Assim, os homens por meio da mediação do outro, da linguagem e
dos instrumentos é que introjetam os produtos, tanto físicos como intelectuais.
Deste modo, você pode perceber que as características psicológicas e com-
portamentais não são naturais, contudo construídas na relação dialética por meio
da aquisição dos conhecimentos elaborados e transmitidos de geração a geração.
Você deve estar se perguntando como assim sua personalidade não nasce
pronta? Bom segure a ansiedade uma vez que essa resposta você vai obter na
Unidade XIV.

Sugestão de vídeo

Veja o filme A Guerra do Fogo de Jean-Jacques Annaud de 1981. O filme


narra a história de um grupo de homens primitivos durante a pré-história. Muito
interessante para observar as transformações e a fabricação de instrumentos.

Conceito histórico cultural

Diante do que foi discorrido acima sobre a visão biológica a qual o desenvol-
vimento humano é compreendido como natural e o comportamento seria pré-
-determinado a concepção Histórico-Cultural, com base marxista, desenvolvida
por Alexei Nikolaievich Leontiev, Alexander Romanovich Luria e Lev Semeno-
vich Vygotsky compreende o homem em constante movimento e contradição
explicitando o desenvolvimento histórico e a totalidade dos fenômenos.
Para esses autores, todo o conhecimento produzido deve ser pesquisado e

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UNICESUMAR

estudado em sua totalidade, pois a realidade nem sempre é clara por isso se
faz necessário uma análise das contradições dos fenômenos. Toda a natureza
humana está em constante mudança e toda mudança há uma negação, contudo,
ao mesmo tempo, uma preservação do que era antes, nesta relação ocorre uma
elevação ao nível superior, o que não significa positivo necessariamente.
Vygotsky (1998, p.26) e seus colaboradores não admitem uma explicação
idealista e nem biologicista para os fenômenos ele discorre que:

...a maturação per se é um fator secundário no desenvolvimento das formas


típicas e mais complexas do comportamento humano (...). A noção corrente de
maturação como um processo passivo não pode descrever, de forma adequada,
os fenômenos complexos.

Deste modo, não se admite explicações maturacionais, por exemplo, acreditar


que faz parte da idade ser irresponsável ou mal educado.
Compreender o desenvolvimento humano em sua totalidade, sem concep-
ções metafísicas ( explicações transcendentes) é fundamental para entender esse
homem de hoje com suas condutas e emoções. Assumir explicações metafísicas
ou biológicas para explicar o comportamento das pessoas é admitir um estado
natural sem possibilidade de mudança uma vez que é considerado como normal.

Saiba mais

Para compreender melhor a Teoria Histórico-Cultural e o desenvolvimento


do homem leia o artigo de Vanessa Dias Moretti et. al. O humano no homem: os
pressupostos teóricos-metodológicos da Teoria Histórico-Cultural. Disponível
no site www.scielo.br.

Objetivação

Leontiev (1959) apropria-se do conceito de objetivação e apropriação das


obras de Karl Marx para explicar como os homens se desenvolvem em todos
seus aspectos.

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UNIDADE 10

A objetivação é a realização material feita pelo homem de todas as faculdades


físicas e psicológicas. Por exemplo, a elaboração de um livro. O homem produz e
reproduz os objetos materiais e não materiais. Essa produção e reprodução vão
refletir diretamente na atividade do homem em seu meio. Devemos compreender
que o mundo não está acabado, isto é, que o homem, em constante movimento,
cria e recria os fenômenos e neste sentido, ele realiza objetivações diárias.
Assim, as objetivações dos fenômenos deveriam ser apropriadas pelos ho-
mens para que todos pudessem incorporar os conhecimentos elaborados ao
longo da história, contudo, como veremos a seguir, nem todos possuem essa
possibilidade de apropriação.

Apropriação

É por meio da apropriação que o homem vai incorporar os conhecimentos


e toda elaboração criativa feita ao longo dos anos. Para se apropriar dos conhe-
cimentos é imprescindível à escola, uma vez que seu papel é o de transmitir os
conhecimentos científicos elaborados ao longo da historia humana.
A apropriação complementa o processo de objetivação, isto é, os homens
criam objetos e se apropriam dos mesmos. Todo processo de apropriação ocorre
de forma ativa. O indivíduo incorpora as características da atividade acumulada
no objeto. O que possibilita a individualidade humana é a objetivação e a apro-
priação. Uma pessoa que se apropria dos conhecimentos científicos por meio
de um bom estudo é diferente daquela que não teve a possibilidade social dessa
incorporação dos conhecimentos.
Vamos refletir juntos: em uma audiência um juiz de direito e um promotor de
justiça se deparam com uma testemunha semianalfabeta com muita dificuldade
na linguagem, devido a falta de acesso aos conhecimentos científicos, e de classe
social abaixo da linha da pobreza. Por outro lado, a próxima testemunha possui
terceiro grau, é de classe alta e com boa oratória. Qual destas testemunhas vai se
sair melhor na hora de expor os fatos? Obviamente a que é letrada justamente
porque ela teve acesso ao conhecimento e a outra, devido a desigualdade social,
foi expropriada desse acesso, que deveria ser universal.
Sabendo das condições econômicas e social dessas pessoas pode compreen-
der seus comportamentos e apreender que não são inatos e que, por meio da

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UNICESUMAR

objetivação e da apropriação, suas personalidades foram se desenvolvendo. Mais


um exemplo: como gostar de música erudita, clássica, se a única musica que o
sujeito aprendeu desde criança é rock pesado? Ele pode vir a gostar de qualquer
outro estilo musical, mas para isso terá que se apropriar primeiro. Assim, a cons-
ciência do indivíduo dependerá daquilo que ele se apropriou ao longo de sua vida.
O homem possui a capacidade de analisar as situações e a si mesmo por
meio da consciência. Entretanto, nem sempre isso é possível já que os homens
são alienados, uma vez que estão distanciados de tudo aquilo que eles mesmos
produziram. O trabalho não pertence mais ao trabalhador é antes de tudo de
outra pessoa. É, portanto, um trabalho alienado. A alienação ocorreu devido
a divisão social do trabalho. Alguns homens detêm os meios de produção e os
outros são explorados nessa relação. É a apropriação privada da produção criada
pelos homens. Ao invés de se realizar no próprio trabalho o homem se aliena.
Leontiev( 1959) discorreu que toda a consciência sofreu uma transformação
devido a essa divisão do trabalho, uma vez que os homens ao se distanciarem do
próprio trabalho se distanciaram também em suas relações “Sendo o trabalho o
conteúdo mais essencial da vida, devem alienar o conteúdo de sua própria vida”
(Leontiev, 1959, p.129).
Sair dessa alienação é impossível nos dias atuais, uma vez que vivemos em
um sistema capitalismo no qual a desigualdade social e a divisão do trabalho são
inerentes a esse sistema. Para sairmos, segundo o autor baseado em Marx, desse
processo se faz necessário à superação da divisão das classes sociais. Contudo,
como superar essa divisão se ninguém mais se reconhece em sua própria classe?
A realidade toma vida própria e começa a controlar o próprio homem. Assim,
alienado de seu trabalho e d apropria vida o homem aliena-se de si mesmo. Há
um estranhamento do outro como ser humano e este é convertido em merca-
doria. As relações, portanto, são convertidas em mercadoria. Assim, as pessoas
se tornam mercadorias e as coisas, que elas criaram, passam a ter vida própria.
O desenvolvimento humano, portanto, não ocorreu de forma natural e evo-
lucionista, mas na relação do homem com a natureza. Ao mudar a natureza o
homem modificou a si mesmo. O desenvolvimento psicológico está intrinse-
camente relacionado à vida objetiva dos homens, não sendo, portanto, inatas.
Entretanto, a consciência individual é única em cada sujeito, pois cada pessoa, ao
se apropriar dos conhecimentos elaborados pelos homens ao longo da história,
faz-nos de sua forma, individualmente. Por isso que, quando duas pessoas passam

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UNIDADE 10

pela mesma situação sentem e vivenciam de formas diferentes.

Reflita

A teoria Histórico-Cultural discorre o desenvolvimento humano como cons-


trução social e não como apenas uma evolução natural. Embasado nesta teoria
autores como Vygotsky e Leontiev discorrem que a forma do indivíduo ser e de
se comportar não é natural. Pensando na teoria, podemos dizer que um ado-
lescente que nasceu com o “dom” de tocar piano, não pode ter de fato nascido
com essa vocação, uma vez que o piano é um instrumento criado pelo próprio
homem por volta de 1711 por Bartolomeu Cristofori (1655-1731). Portanto, fica
o questionamento para reflexão: antes do século 18, quando o piano foi inventa-
do, nascia alguém com dom de tocá-lo? Se sim, como isso seria possível se ainda
nem existia tal instrumento? A aptidão seria então desenvolvida por meio da
apropriação das produções humanas ou natural? Pense sobre!

Considerações finais

Prezado (a) acadêmico (a), nesta Unidade sobre a Ética e a Justiça, demos
particular atenção ao tema da Justiça como virtude em Aristóteles e como “jus-
tiça social”, retomando o pensamento de John Ralws (1921-2002) sobre a Justiça
como equidade.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Discorra como ocorreu o processo de hominização do ser humano.

2. Qual a diferença entre a Concepção Biologicista e a Concepção Histórico-Cultural?

3. Conceitue objetivação de acordo com o texto estudado.

4. Defina apropriação, conforme os autores, citando um exemplo.

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11 Psicologia do
desenvolvimento:
criança
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade serão abordados os principais tópicos sobre o desen-

volvimento infantil; você aprenderá como se dá esse processo justamen-

te para compreender a totalidade do desenvolvimento humano. Tal

apreensão é imprescindível já que em vários campos nos relacionamos

com questões vinculadas à infância.

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UNIDADE 11

Todos nós adultos um dia já fomos crianças e na pele sabemos o que significa
isso. Para alguns são boas às lembranças para outros, nem tanto. Independen-
temente da característica da lembrança infância é inesquecível, mas o que é ser
uma criança?
Muitas são as áreas que trabalham diretamente com crianças, vejamos alguns
exemplos: maternidade; pré-escola, creches, parques de diversão, etc. Muitos
também são aqueles que trabalham na defesa da criança, como os Conselhos
Tutelares, os Abrigos, os conselhos Municipais da Criança e do Adolescente,
Advogados, etc. Trabalhando diretamente ou indiretamente todos deveriam
saber como funciona o desenvolvimento infantil para compreender essa fase
considerada mágica nos dias atuais.
As questões que envolvem essa idade são muitas, como brigas judiciais pela
guarda, abandono de incapaz, maus-tratos e pedofilia. Infelizmente, as estatísticas
sobre violência contra os infantes têm aumentado a cada dia. Quando um pro-
fissional do direito trabalha diretamente com questões que envolvem a infância
saber os estágios que a criança se encontra pode ajudar muito.
Deste modo, discorreremos abaixo esse processo:

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UNICESUMAR

Periodização humana

A periodização corresponde a inúmeras fases que o ser humano passa no


decorrer de sua vida, vai desde a infância até a velhice. Nesta unidade você apren-
dera sobre a periodização na infância. Quando falamos em periodização esta-
mos distinguindo da teoria maturacional cujo conceito é de psicomotricidade e
desenvolvimento psicológico, mas ambos vistos sob o prisma da biologia. Nesta
teoria, o desenvolvimento ocorre naturalmente, dependendo da fase e da idade
que a criança se encontra, por exemplo, aprender a ler. Entretanto sabemos que
existem crianças que aprende a ler aos quatro anos enquanto outras aprendem
aos seis e isso não tem nada de maturacional.
Os autores mais utilizados pela psicologia para explicar o desenvolvimento
infantil são Gessel, Piaget, Spitz, Helen Bee e Rappaport. Entretanto, como dito
anteriormente, essas teorias discorrem essa fase da vida como sendo natural, ma-
turacional e passiva. Por outro lado, a psicologia Histórico-Cultural supera essa
visão biologicista focando o desenvolvimento como dinâmico e social. É nesta
linha de raciocínio que iremos abarcar toda a psicologia do desenvolvimento.

Maturação

A maturação, isto é, o desenvolvimento corporal, motor, cerebral e mental,


vai ocorrer naturalmente, contudo, depende de vários fatores para se desenvolver
normalmente, como o ambiente em que a criança se encontra, os alimentos que
ela consome, os líquidos que ingere e as relações emocionais familiares.

[...] a maturação per se é um fator secundário no desenvolvimento das for-


mas típicas e mais complexas do comportamento humano [...]. A noção corrente
de maturação como um processo passivo não pode descrever, de forma adequa-
da, os fenômenos complexos (Vigotski, 1998, p. 26).

Crianças que não consomem alimentos ricos em nutrientes crescem com


deficiência imunológica, por exemplo; outras podem ter leve deficiência mental,
seus ossos podem ser frágeis, sua estatura menor, corpo raquítico, entre outras
patologias. Com isso queremos demonstrar que o desenvolvimento infantil de-

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UNIDADE 11

pende sim de outras relações, inclusive econômicas. Uma família que não tem
condições econômicas para alimentar a criança adequadamente muitas vezes
nem se dá conta que a criança vai ter problemas em seu desenvolvimento físico
e mental por conta dessa situação e, pior vai naturalizar as condições do filho.
O desenvolvimento maturacional, portanto não ocorre independentemente
das condições históricas e sociais em que o indivíduo se encontra, pelo contrário,
é uma relação ativa. Vejamos outro exemplo: é comum a gente ouvir pessoas
dizendo que tal criança é muito inteligente porque já sabe mexer no moderno
celular touch screen, enquanto nem ela mesma, que é adulta, sabe. Porém, não
nos esqueçamos de que essa criança nasceu em um momento histórico em que a
maioria das pessoas possui celular e que, portanto, ela tem acesso a tal tecnologia.
Simplesmente ela não nasceu sabendo mexer no celular, mas teve acesso cedo
para tal. Ao contrário dos pais que só foram ter acesso quando adultos.
Colocar a maturação como fator determinante no desenvolvimento infantil
é negar as condições Históricas e concretas da realidade em que o indivíduo está
inserido.
Tais explicações, caro estudante é para que você possa compreender que não
podemos justificar comportamentos, mesmo infantil, como sendo naturais e até
normais.

Saiba mais

Caro estudante caso você tenha um interesse maior pelo desenvolvimento


infantil leia o livro de Vygotsky, L.S. & Luria, A.R. A história do comportamento:
O macaco, o primitivo e a criança (1996).

Atividade Dominante

Todos nós, em períodos diferentes da vida, temos uma atividade que deno-
minamos como dominante ou principal, isto é, a atividade que realizamos que
mais nos interessa. Essa atividade principal vai se modificar conforme a transição
de um estágio a outro, por exemplo, de criança para adolescente. A atividade
dominante não se modifica por questões maturacionais ou devido a idade do

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UNICESUMAR

indivíduo, mas devido as condições históricas e sociais e as oportunidades que


cada sujeito tem ao longo de sua vida.
De acordo com Leontiev (1998), devemos compreender a atividade domi-
nante para conseguir entender como as crianças se comportam. Cada etapa da
vida existe novas necessidades, isto é, novas qualidades psicológicas são exigidas.
Contudo, essas mudanças não ocorrem de forma natural e passiva, mas junta-
mente com uma crise evolutiva. Nestas crises a criança está superando os velhos
conteúdos para adentrar em uma nova atividade psíquica. Tais crises são nega-
tivas, porque aquilo que antes era importante para a criança não serve mais para
ela ao adentrar a adolescência. Por isso tanto sofrimento, pois ainda não sabe o
que colocar no lugar do brincar.
A criança quando nasce pertence a uma nova geração e estas possuem certas
condições concretas que produzem o conteúdo de sua atividade principal. Veja-
mos um exemplo: Os mais velhos costumam brigar com as crianças em relação a
suas brincadeiras, pois ficam muito na televisão, no videogame e no computador,
e dizem que no tempo deles que era bom brincar. Criança brincava de verdade,
dizem os mais velhos, de correr, pular, jogar bola, ir ao riozinho, pega-pega,
esconde-esconde, etc. Contudo, as condições históricas e culturais de sua época
era outras. As crianças brincam com esses brinquedos eletrônicos porque é isso
que é oferecido a ela nos dias atuais e, portanto, o conteúdo do seu brincar está
ligado com a alta tecnologia.
A atividade dominante da criança é o brincar, o lúdico, isto é, o jogo. Contudo,
esse brincar, como dito anteriormente, depende do memento em que ela esteja
vivendo, por isso as diferenças de brincadeiras em épocas distintas. Para Leontiev
(1998), a atividade principal tem algumas características como: 1- ela possibilita
o desenvolvimento de outras atividades; 2- todo processo mental é organizado
por meio da atividade dominante; 3- a atividade dominante contribui com a
formação da personalidade.
A criança ao brincar usa a imaginação e consegue, por exemplo, ser mãe da
boneca, mesmo antes de poder biologicamente e psicologicamente ser mãe, por
isso essa atividade dominante contribui a outras atividades, isto é, a brincadeira
faz com que a criança vivencie outros papeis que só poderia viver quando adulta.
A atividade dominante faz parte do dia a dia da criança por isso impedi-la de
brincar é um crime literal, uma vez que a está impedindo de realizar o que tem
de mais importante e interessante para ela: brincar.

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UNIDADE 11

Reflita

Nas salas de aulas podemos perceber, durante a primeira infância, como é


difícil para o professor e seu assistente manter as crianças quietas e sentadas
durante a aula. Poucas pessoas sabem a importância da atividade principal, isto
é, do brincar, do lúdico para o desenvolvimento de outras atividades, inclusive
para o estudo. Portanto, tirar as crianças deste momento de diversão por ho-
ras para que ela estude é realmente um martírio! Imaginem para as crianças!
Imagine você adulto, cuja atividade principal é o trabalho, ter que passar todos
os dias horas brincando de montar cubinhos, de casinha ou de carrinho! Você
aguentaria? Pense sobre!

A comunicação emocional do bebê

O bebê ao nascer se comunica com o adulto por meio do choro, do sorriso e


dos grunhidos, gritos, etc. Essas expressões emocionais são a principal atividade
dominante do bebe, denominada comunicação emocional do bebe por Elkonin
(1987).
Assim, quando o bebe chora, sorri ou faz pequenos gemidos ela está se comu-
nicando com os adultos que a rodeia, a mãe, o pai, a avó, entre outros. O choro
é a maior expressão dessa situação, quando chora está querendo dizer alguma
coisa do tipo, estou com fome ou estou com dor.

Atividade objetal manipulatória

A próxima atividade dominante do bebe é denominada de atividade objetal


manipulatória. Nesta atividade o bebe aprende por meio dos adultos que convi-
vem com ela a manipular os objetos. Por meio dessa atividade dominante o bebe
apreende o mundo externo e desenvolve processos mentais novos. A criança ao se
relacionar com o mundo que a rodeia, com os objetos e com as pessoas formam
em sua psique novas necessidades.
Nesta idade é que o bebe está manipulando objetos, está aprendendo a ca-
minhar de forma desequilibrada. Tentar andar é a forma principal que ela tem

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UNICESUMAR

de tentar manipular e conhecer o espaço. Nesta etapa a criança tem a primeira


crise devido a aquisição da linguagem.
A criança balbucia, porém ainda não fala. Não se faz entender. Mas este mo-
mento é muito importante porque é pela linguagem que surge a consciência e as
relações sociais se destacam.
Em outro momento, quando já se faz entender pela linguagem, os afetos e a
vontade da criança ficam em evidencia. Este período é totalmente negativo uma
vez que ela protesta contra os adultos e contra tudo aquilo que antes ela gostava.
Começa a demonstrar seus afetos e suas vontades. Vejamos alguns exemplos: a
mãe vai tirar a criança da brincadeira para tomar banho e ela protesta; quer que
ela coma tudo no almoço e ela resmunga e chora; o pai diz que tem que sair para
trabalhar e a criança o agarra nas pernas e pede para que ele não vá.
É o afeto e seu desejo sendo expresso em fala, gestos e comportamentos para
que todos a escutem e a compreendam. É seu maior interesse: a comunicação
direta com o adulto.

Sugestão de video

Reúna os amigos e assista o documentário Babies de Thomás Balmés. Nes-


te documentário o pesquisador acompanha o primeiro ano de vida de quatro
crianças de países diferentes sendo da Mongólia, do Japão, da Namibia e dos
Estados Unidos.

Jogo de papéis

Os jogos, ou as brincadeiras se tornam a atividade principal das crianças a


partir de três anos e vai até por volta dos sete anos. (LEONTIEV, 1959). Obvia-
mente que depois dos sete, antes da adolescência, ela ainda gosta de brincar, mas
após os sete o estudo começa a fazer parte da sua vida.
É por meio das brincadeiras que as crianças passam a ter contato com as
produções concretas da humanidade. Ela já não se comunica somente com os
pais, mas com outras pessoas e assim, começa a se apropriar dos conhecimentos
produzidos ao longo da história.

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UNIDADE 11

Ela simula a realidade enquanto brinca, por exemplo, dirige um carro, ser
torna polícia etc. Todas essas simulações contribuem para o desenvolvimento das
capacidades psíquicas da criança e com o desenvolvimento de sua personalidade.
Tudo o que a criança vivencia em seu meio familiar resulta na relação que
ela terá com as outras pessoas. Aqueles que fazem o papel de responsáveis pela
criança sejam os pais, os avós, tias, irmãos ou babás, mediam tudo o que a criança
está aprendendo para com o resto do mundo.

É no jogo, por exemplo, que a criança de idade pré-escolar se aproxima das


funções sociais e das normas de comportamento que correspondem a certas
pessoas [...] e isto constitui um elemento muito importante da formação de sua
personalidade (Leontiev, 1959, p. 311).

Quando a criança adentra a escola outro estágio surge em sua psique. A es-
cola tem outro sentido, tem um valor social. Aqui, segundo Leontiev (1959), a
criança adentra na chamada crise dos sete anos, porque sua atividade principal
passa a ser a escola e estudar. Brincar continua sendo importante, mas não mais
do que os estudos.
A crise ocorre porque a criança passa a ter outras obrigações sociais, fora de
seu circulo familiar. Por meio de outras relações a criança descobre os sentimen-
tos que dizem respeito direto com suas experiências. Por exemplo, se briga com
alguma amiga da escola a criança vai levar para casa tal situação e vai vivenciar
com sofrimento porque agora ela sabe o que é sofrimento, tristeza e alegria. Entra
em crise porque brincar já não é mais importante, mas era mais gostoso, já que
antes dos conhecimentos científicos que são difíceis, a criança tinha acesso aos
conhecimentos cotidianos, comuns. Na escola a criança tem nova regra muito
diferente de seu lar.
Deste modo, as mudanças qualitativas no pensamento infantil ocorrem na
mudança de uma atividade dominante para outra. O brincar tem é tudo na
vida de uma criança dos três aos sete anos e continua sendo importante, mas a
atividade escolar vai tomar lugar e garantir mais um passo no desenvolvimento
psíquico da criança e consequentemente na forma de ela ver e atuar no mundo
que a circunda.

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UNICESUMAR

Leitura complementar

Leia o livro Psicologia do Jogo de D. Elkonin (1998) da editora Martins Fon-


tes. O livro trata sobre a atividade dominante da criança.

Considerações finais

Nesta unidade abarcamos o desenvolvimento infantil na perspectiva da Teo-


ria Histórico-cultural. Você apreendeu o conceito de atividade dominante e sua
importância no desenvolvimento psíquico. Abordamos as principais etapas do
processo de desenvolvimento da criança, discorrendo a importância das brin-
cadeiras, do jogo e da escola em sua formação do pensamento. Com essa nova
perspectiva você poderá compreender melhor como se dá o pensamento e o
comportamento das crianças de modo geral.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Faça uma relação entre o desenvolvimento maturacional e atividade e as condições


histórico-sociais.

2. De acordo com o texto estudado conceitue Atividade Dominante.

3. Por que a Atividade dominante não é natural?

4. Qual a importância dos jogos de papeis para a criança?

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12 Psicologia do
desenvolvimento II:
Adolescente
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade serão abordados os principais processos de desen-

volvimento psicológico do adolescente. Cujo estudo permite ao

profissional de direito compreender o adolescente em sua totalidade.

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UNIDADE 12

A adolescência é compreendida como uma fase natural do desenvolvimento


humano. É comum às pessoas dizerem que os adolescentes são rebeldes, não
sabem o que querem, são contraditórios, e com impulsos fortemente sexuais
devido aos hormônios. Mas como será que se dá o desenvolvimento durante a
adolescência? Será que esses conceitos comuns estão corretos? É o que veremos
nesta unidade.

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UNICESUMAR

Conceituando adolescência

O que é adolescência? O que é ser adolescente? Nós adultos passamos pela


adolescência e para alguns essa fase foi difícil, sofrida. Já para outros foi a me-
lhor fase da vida. Assim, esse período, mesmo que parecido, não foi igual para
ninguém, já que cada pessoa se apropria das produções humanas de maneiras
distintas fazendo única sua subjetividade. Entretanto, a adolescência é conheci-
da como uma fase igual para todo mundo, isto é, uma fase negativa, turbulenta.
Nos dias atuais é comum ouvirmos os pais prevendo o comportamento de seus
“pré-adolescentes” dizendo: - Não quero nem ver quando chegar a adolescência,
já estou me preparando. É uma fase conhecida popularmente como um período
negativo.
Todo o desenvolvimento humano, como discorrido na unidade XI, sempre
foi visto como algo somente natural e biológico, mas ao contrario de ser somen-
te maturacional ele está relacionado com as condições concretas. Assim como
a criança, a adolescência também está diretamente relacionada com as formas
objetivas de viver.
O conceito de adolescência nem sempre foi o mesmo, uma vez que esse
conceito foi uma construção histórica. Durante a revolução industrial ocorre-
ram várias mudanças na sociedade e na vida das pessoas. Nesse período houve
grandes transformações tecnológicas e com elas uma exigência de capacitação
profissional maior (BOCK, 2004, p.14).

Com as revoluções industriais, o trabalho sofisticou-se, do ponto de vista


tecnológico, e passou a exigir um tempo prolongado de formação, adquirida
na escola, reunindo em um mesmo espaço os jovens e afastando-os do trabalho
por algum tempo.

Assim, os jovens ficaram mais tempo na escola e afastam-se de casa e dos


pais, uma vez que ficavam mais tempo nas escolas formando um novo grupo
de jovens e consequentemente uma nova etapa do desenvolvimento humano.
Com a ciência mais avançada os homens desenvolveram novas soluções para
problemas antes não encontrados, como na área da saúde, alimentar, etc.; pro-
longando a vida e levando mais pessoas ao mercado de trabalho. Esses processos
históricos, isto é, a capacitação profissional, o ingresso no mercado de trabalho e

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UNIDADE 12

o prolongamento do período escolar, geraram um grupo que hoje conhecemos


como adolescência.
Deste modo, a adolescência foi um conceito criado e não uma fase natural
do homem evoluída nas transformações biológicas maturacionais. Os compor-
tamentos dos adolescentes se espelham no comportamento dos homens con-
temporâneos e vai adquirindo os contornos da sociedade e da cultura em que o
indivíduo está inserido.

Leitura complementar

Para compreender a gênese da adolescência leia o artigo da Ana M. Bock: A


perspectiva sócio-histórica de Leontiev e a critica à naturalização da formação
do ser humano: a adolescência em questão.(2004) Cad. CEDES. Campinas, 24
(62). Disponível no site www.scielo.br.

A naturalização da adolescência

Muitos autores ainda reforçam a visão da adolescência como natural, ao con-


trário do que foi discorrido acima como um período no qual o jovem vai ter
conflitos psíquicos e comportamentais, independentemente de qualquer con-
dição histórica e cultural como: recusa dos pais, conflito de gerações, explosões
hormonais, tendência à agressividade, impulsividade, etc.
Uma das correntes que mais se apropriaram dessa visão naturalizante foi a
psicanálise. Os psicanalistas reforçam a ideia da “síndrome normal” da adoles-
cência, como autores Aberastury e Knobel, ainda muito utilizados ela academia
de psicologia. Os adolescentes estariam em conflito, por questões sexuais incons-
cientes, entre ser criança e ser adulto e pelo luto do corpo e da identidade infantil.
Muitos são as abordagens que discorrem longos capítulos para explicar o de-
senvolvimento corporal e maturacional do adolescente ignorando por completo
as relações sociais que o rodeia.
O adolescente, de fato apresenta mudanças corporais, que fazem parte da
puberdade, ou seja, começa a nascerem os pelos, os seios, a voz engrossa a mens-
truação chega etc.; isto é normal e natural, porém seus comportamentos são

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UNICESUMAR

aprendidos e reproduzidos historicamente.


Os comportamentos são expressões de uma sociedade e de uma época, por
exemplo, durante a Idade Média, as crianças eram consideradas como miniatura
de adultos e não recebiam o tratamento como recebem hoje. Com a vinda do ca-
pitalismo as relações de produção se modificaram e as relações humanas também.
Assim, a criança passou a ser percebida como incapaz de certas responsabilidades
e precisava de cuidados especiais.
A adolescência tem o mesmo perfil, ou seja, há 50 anos um adolescente não
expressava os comportamentos de hoje. É comum ouvirmos os avós dizerem
que na época deles o adolescente trabalhava e não desrespeitava seus pais. Quan-
do estes pediam algo eram imediatamente atendidos! Hoje alguns adolescentes
estão prontamente disponíveis a servir e ajudar os pais, por outro lado, muitos
não. Entretanto, ser “rebelde” não é natural, pelo contrário, é expressão de uma
exigência do capital: ser individual. Sem queremos adentrarmos nos comporta-
mentos denominados de “pós-moderno”, não podemos negar que a exacerbação
da individualidade e do consumismo, fazem parte das exigências de ser um bom
cidadão. Portanto, é compreensível o porquê de tantos comportamentos deno-
minados de egocêntricos.
Com a explicação acima não podemos naturalizar os comportamentos dos
adolescentes e acreditarmos que, só porque estão em uma fase considerada difícil,
devemos aceitar tudo como natural. Vejamos alguns exemplos: não é natural da
fase usar drogas, não é natural de esta fase ter relações promíscuas, não é natural
de a fase ser agressivo e “rebelde”. Portanto, devemos compreender como essa
fase se dá de fato já que, segundo Vigotski (1996), é nesta idade que existem as
maiores possibilidades de desenvolver as potencialidades.

Saiba mais

Para outro tipo de reflexão sobre a adolescência leia o livro A Adolescência


de Calligaris (2000).

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UNIDADE 12

A personalidade do adolescente

A personalidade não é algo que nasce com a gente. Nascemos com uma sub-
jetividade única, ninguém é igual a ninguém. Mas a personalidade é desenvolvida
desde criança por meio das relações e das mediações humanas.
A personalidade do adolescente não é diferente. Quando falamos: ele tem
uma personalidade forte, estamos querendo dizer que a pessoa tem atitude e é
determinada; mas será que ela nasceu assim?
O desenvolvimento do psiquismo ocorre por meio das objetivações e das
apropriações das produções materiais e não materiais da humanidade que são
transmitidos de geração a geração (LEONTIEV, 1959), como você estudou na
Unidade XI. Assim, o homem ao nascer está com todo seu aparelho cerebral
pronto (exceção de patologias) e vai desenvolver sua personalidade conforme as
relações sociais e culturais que ele vivenciar.
Um adolescente que desde criança é motivado a estudar, a ler e tem acesso
a culturas mais elevadas, como músicas clássicas e teatro, pode ter interesse em
aprender tocar piano e este instrumento vai contribuir no desenvolvimento de
sua personalidade. Assim como uma criança que convive diariamente com o
tráfico e a violência também pode vir a valorizar essas questões, uma vez que
naturaliza aquilo que ela aprendeu, conviveu e internalizou como certo. Então
a violência faz “parte” da sua personalidade. Mas isto não quer dizer que ela não
pode mudar, uma vez que o psiquismo humano é elástico e está em constante
desenvolvimento.

Sugestão de vídeo

A adolescência sempre foi considerada um período turbulento da vida, e o é,


mas não porque é natural ser rebelde, mas porque somos a expressão do momen-
to histórico que vivemos. Assim, para refletir sobre o comportamento durante a
adolescência assista o filme espanhol Bullying: provocações sem limites de Josetxo
San Mateo. O filme narra o drama de um jovem que sofre bullying calado na escola
em que estuda. Mostra os comportamentos típicos dos adolescentes dos dias atuais.
Deste modo, nos itens a seguir, ficará mais claro como se dá o desenvolvi-
mento psicológico do adolescente.

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UNICESUMAR

Atividade dominante

Como você estudou na Unidade sobre o desenvolvimento da criança, você


pôde apreender o que significa atividade dominante, ou seja, é a atividade princi-
pal que faz parte da fase no qual o indivíduo está passando. Por exemplo, a ativi-
dade dominante na infância é o jogo, o brincar. A atividade dominante estrutura
o pensamento e durante a transição de uma atividade para outra a estrutura psí-
quica se reestrutura, realiza um salto qualitativo, para formar novas necessidades.
Na adolescência a atividade dominante, de acordo com Vigotski (1996), são
os amigos e a atividade de estudo. Quando criança, até os sete anos, o brincar é
o mais importante, depois dos sete anos os estudos adentram a vida da criança
modificando o seu pensamento. Quando adentra a adolescência os estudos já
fazem parte do seu dia a dia, mas os amigos se tornam mais importantes, porque
agora mais crescido, o adolescente pode sair e frequentar outros lugares sociais,
como clubes, igrejas, shows e passeios somente com os amigos sem a presença
dos pais. Tudo isso reestrutura o pensamento do adolescente.
Estar na escola é algo muito importante para o adolescente, mesmo que ele
não tenha interesse nos conteúdos escolares, ele tem interesse nos amigos e nos
colegas de sala. Trabalhar para ele, não é tão importante quanto os estudos e os
amigos. Obviamente que estes interesses estão ligados diretamente às formas prá-
ticas da vida e ao momento histórico, já que em outras épocas, como a antiguida-
de e a Idade Média, este conceito de adolescência nem existia. E não precisamos
ir muito longe, como são os jovens de tribos indígenas que ainda mantém suas
tradições vivas? Como é o desenvolvimento psicológico dos jovens esquimós?
Será o mesmo do qual estamos falando? Obviamente que não. A não ser que eles
tenham se apropriado dos produtos matérias, intelectuais e da cultura capitalista,
ai podemos dizer que sim, são os mesmos.
Deste modo, a atividade dominante pode mudar conforme o período histó-
rico, não sendo, portanto imutáveis e nem naturais.
Bom, se a atividade dominante do adolescente, ainda nos dias atuais, tem se
apresentado como sendo a escola e os amigos, devemos investir nestes aspectos já
que estão ligados a seus interesses. Investir em qualidade de ensino, em atividades
em grupos, como artes, esportes, teatros, etc. para que os adolescentes desen-
volvam suas potencialidades juntamente com seus amigos, que lhes é tão caro.

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UNIDADE 12

Formação de conceitos

Vigotski (1996) ao estudar a adolescência, que ele denomina de idade de


transição, aprofunda suas pesquisas a compreender a formação dos conceitos
que ocorrem justamente neste período de vida.
Para a formação dos conceitos as palavras são imprescindíveis, pois são a
base de sua formação. Todas as dificuldades que o adolescente se depara em sua
vida contribuem para a formação dos conceitos e possibilita ampliar formas de
pensamento mais elevado.
O uso de novas palavras e novos signos formam novas formas de pensar e o
adolescente começa a utilizar novos conceitos para definir o mundo ao seu redor.
A formação dos conceitos vai ocorrendo desde criança, por meio da lingua-
gem, dos signos e símbolos, contudo, no inicio a criança não tem consciência
do verdadeiro conceito da palavra, é um pseudoconceito, só vai adquirir esse
conceito plenamente durante a adolescência. Por meio da abstração é que vai
formando os verdadeiros conceitos.
A escola é o lugar ideal para a formação dos conceitos já que é lá que são
transmitidos os conhecimentos científicos. É por meio desses conhecimentos,
das definições, que a formação conceitual vai se formando.
Com a formação em conceitos o adolescente se depara consigo mesmo, ou
seja, passa a ter mais consciência de si e do mundo ao redor. O adolescente passa
a ter uma consciência social objetiva, uma vez que reflete sobre esse mundo. É
comum ouvirmos adolescentes querendo “salvar” o mundo. Ele passa a incorpo-
rar éticas, valores e convicções, que passam a ser verdades para ele.
Desta forma, por meio do pensamento em conceitos o adolescente vai ter au-
toconsciência e ter consciência dos fenômenos a sua volta. Vai conseguir pensar
em soluções para as problemáticas que se deparar e vai adentrar no mundo social
de forma a compreender melhor o mundo que o circunda.
Neste sentido, quando o adolescente infringe uma lei, se mete em confusão,
desrespeita as pessoas, se mostra violento, ou ao contrário, é atencioso, bondoso
e gentil, não há nada de maturacional nestes comportamentos, e nem natural,
mas são aprendidos no seio das relações sociais no qual o mesmo está inserido.
Todo esse desenvolvimento não se dá de forma passiva, mas ativa. Os adoles-
centes não vão apresentar os mesmos comportamentos, até porque vai depender
também da apropriação que o mesmo teve. Por exemplo, nem todos os adoles-

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centes têm a oportunidade de estudar, portanto, sua consciência conceitual vai


ser diferente daquele que tem um estudo de qualidade.

Reflita

A adolescência corresponde ao período de 12 anos completo a 18 anos in-


completos. Para a Psicologia ter 13 anos mentalmente é diferente de ter 17 anos.
Portanto, para você estudante o adolescente é capaz de saber o que está fazendo?
A partir de qual idade é responsável pelos próprios atos? Levando em considera-
ção essas questões acima e o estudo do texto reflita sobre o projeto da Redução da
Maioridade Penal. Pense sobre!

Considerações finais

Nesta unidade você apreendeu como se dá o desenvolvimento do adolescen-


te. Abordamos teorias que relacionam esta idade como natural, maturacional e
universal e em contrapartida, a teoria Vygotskiana que compreende as etapas
da vida como sendo mutável e correlacionada à vida pratica dos homens. Você
também compreendeu que a atividade dominante nesta fase é a escola e os ami-
gos. Discorremos que é neste período que se dá a formação plena dos conceitos e
que, por meio desses conceitos, o adolescente começa a pensar e a se comportar
de formas distintas.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Conforme o texto estudado o que é adolescência?

2. Historicamente como ocorreu a formação dessa nova etapa do desenvolvimento


conhecida como adolescência?

3. Qual é a atividade dominante durante o período de transição?

4.

5. Qual a importância da formação dos conceitos durante o período da adolescência?

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13 Psicologia do
desenvolvimento
III: adulto e idoso
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade será abordado o desenvolvimento durante a vida

adulta do homem e do idoso. Abarcaremos o conceito de família e suas

características nos dias atuais. Com esta ultima unidade sobre desenvol-

vimento você vai compreender o homem em sua totalidade.

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UNIDADE 13

Podemos observar no dia a dia e até no mundo acadêmico que os estudos


sobre a vida adulta são poucos explorados. Já a denominada terceira idade tem
sido mais abordada nos últimos tempos, até porque os homens têm vivido um
pouco mais. A família sempre foi assunto popular e acadêmico. Seus conceitos,
sua estrutura fazem parte da vida humana e do desenvolvimento do homem.

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Adulto

O que é ser considerado adulto? É comum ouvirmos jovens dizerem: Já sou


adulto! O conceito de adulto vem carregado de responsabilidade. O adulto de
hoje não é o mesmo de outrora, assim como a criança, o adolescente, o idoso e a
família. A vida está em constante movimento e sua estrutura social, econômica
e cultural também estão em constante transformação. O homem é expressão de
sua época. Nas literaturas clássicas de Machado de Assis podemos observar um
adulto distinto dos homens contemporâneos.
O adulto atual também expressa em seus comportamentos e pensamentos as
exigências dos dias atuais. Muitos teóricos vêm considerando a contemporanei-
dade como pós-modernidade e os homens “pós-modernos” possuem algumas
características que são a grande marca do capital nos dias atuais como:

Os aspectos mais acentuados, que vêm dando tipicidade a esse indivíduo


são: a) a busca do prazer imediato, b) o descompromisso com o outro, c) a falta
de motivação para qualquer tipo de trabalho, d) a ausência de perspectiva para
si mesmo, ou a apatia diante de seu futuro, e) a banalização da morte, f) a in-
disponibilidade para qualquer reflexão (Nagel, 2005b, p.2) (Grifos da autora).

Tais características explicitam um individualismo exacerbado e que podemos


ver em qualquer indivíduo independentemente da idade em que se encontra.
Obviamente que nem todas as pessoas são individualistas ao extremo, mas
essa busca desenfreada pelo imediatismo e pelo prazer é visível na maioria das
pessoas hoje em dia. É o consumo gritando mais alto. O adulto, além de suas
obrigações, é o principal alvo do mercado, já que é ele o trabalhador.
Sendo o adulto o “trabalhador” ele necessita trabalhar, mas seus estudos,
muitas vezes, continuam como atividade já que para o jovem adulto sua futura
profissão é uma atividade social mais significativa que a sociedade cobra.

Saiba mais

Para refletir sobre a vida adulta assista o filme As Garotas do Calendário de


Nigel Cole que trata da história de mulheres que posam para um calendário cujas

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UNIDADE 13

fotos retratam suas atividades rotineiras, como cozinharem, passar roupa, etc.

Atividade dominante na vida adulta

Na unidade anterior você apreendeu como ocorre o desenvolvimento durante


a adolescência e tudo sobre sua atividade dominante. Após o período denomina-
do por Vigotski (1996) de período de transição o adolescente passa a ver o mundo
sob outro prisma, uma vez que se tornou adulto e passa a ter várias atividades
sociais e sua atividade dominante passa a ser o trabalho. “o jovem se diferencia
do adolescente que começa a atuar, realiza estes planos, confirma o modo de vida
escolhido e assimila determinada profissão” (Tolstij, 1989, p. 156).
O trabalho, portanto é sua atividade principal. Trabalhamos, nos dias atuais,
por vários motivos, mas é no trabalho que o jovem adulto vai se envolver nos
círculos sociais mais amplos e vai desenvolver suas responsabilidades sociais.
O adulto conversa muito sobre seu trabalho, uma vez que é nele que passa
a maior parte do tempo. Como atividade principal, um adulto desempregado
sofre psiquicamente, já que está sendo impedido de realizar sua atividade e mais,
impedido de se apropriar dos produtos elaborados pelos homens.
Quando discorremos sobre o trabalho estamos falando também de profissão.
É na vida adulta que a escolha de uma profissão se faz presente. Ter uma profissão
é imprescindível, uma vez que o adulto necessita dela para se manter e manter
quiçá sua família.

Perspectiva na vida adulta

Na vida adulta é que as relações amorosas ganham força. Principalmente nas


fases iniciais entre 20 a 25 anos. Neste período o organismo da mulher está apto
para gerar um filho. “Também se sabe que a juventude é, sem duvida, a idade de
maior atividade sexual do homem (apesar das variações individuais e as exceções
que só confirmam a regra)” (Tolstij, 1989, p. 162).
Dos trinta em diante o casamento é um ato fundamental. Os familiares e a
sociedade cobram tal postura. Após o casamento, depois de um tempo, a presença
de filhos também passa a ser cobrada.

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É a juventude, a fase inicial, da vida adulta que é invejada por muitos, uma
vez que é o período de maior beleza e de maiores condições de realizar atividades
que na maturidade e na velhice.

Em uma palavra, a juventude, pelo visto, possui grande atrativo para as


pessoas de todas as idades porque a essa idade a atividade do homem alcança
um significativo progresso na esfera social, produtiva e pessoal; [...] (Tolstij,
1989, p. 171).

A vida adulta também possui outra fase que é considerada a maturidade. Nes-
te período as pessoas também se casam, mantém relações amorosas e possuem
filhos. O trabalho ainda continua sendo sua atividade principal.
Na maturidade, teoricamente, o homem já deveria ter se estabelecido amo-
rosamente e profissionalmente, claro que nem todos conseguem se estabelecer
devido às questões econômicas e sociais dos dias atuais.
Neste período o homem o indivíduos possuí características próprias e a cons-
ciência de responsabilidade é a marca decisiva em sua personalidade (TOLSTIJ,
1989).
O homem adulto possui uma individualidade bem marcada, pois sua espon-
taneidade vai desaparecendo. O adulto na maturidade já não pode mais realizar
algumas atividades, mas em contrapartida já possui muita experiência de vida
para ser dividida com os mais novos. Muitos adultos nesta fase costumam negar
sua idade, principalmente as mulheres. Muitos indivíduos nessa idade desejam
retornar a vida passada para vivenciar aquilo que não viveu.
Nesta fase ocorre a crise da maturidade, uma vez que o indivíduo passa a ter
duvidas de si mesmo e inseguranças em relação ao futuro. Sente-se mais próximo
da velhice e isso o assusta. O corpo já não responde como antes e sua memória
já não é a mesma. Questões físicas e emocionais aparecem principalmente nos
dias de hoje que a exigência para ficar sempre jovem é constante. Na maturidade
o indivíduo, normalmente, já alcançou o auge de sua carreira.
Algumas profissões já nem existem mais, principalmente nesta sociedade de
revolução tecnológica e muitas pessoas perderam seus empregos, ou não podem
mais continuar já que possui uma profissão escassa. Toda essa situação pode
contribuir para a crise de identidade que o homem maturo pode sentir. A matu-
ridade é uma das idades principais para a sociedade humana. O homem maduro

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UNIDADE 13

ocupa hoje, como em outros períodos históricos, o lugar central na estrutura


social e evolutiva da sociedade, constitui a principal “correia de transmissão” do
mecanismo estatal, social e econômico (Tolstij, 1989, p. 191).
Assim, se o homem maturo é o centro do sistema, devido a sua capacidade
de produção e estabilidade, como ficam os que não possuem profissão definida
oi pior estão desempregados? Neste sentido muitos entram em crise e podem
desenvolver doenças mentias, como depressão ou fobia e outros podem inclusive
a drogadição. Toda essa crise não advêm da maturidade biológica, mas devido
as formas econômica em que o sujeito está inserido. Em um sistema capitalista
um homem improdutivo e avesso ao consumo não é nada, isto é, não tem lugar,
apenas o de excluído. Assim, a crise do adulto, na maturidade, não é a mesma em
todos os períodos históricos, pelo contrário, nos dias de hoje, está relacionada
ao trabalho e ao comportamento consumista. As crises são resolvidas quando
o indivíduo encontra outro lugar em uma nova atividade na sociedade. Ocorre
um salto qualitativo em sua psique e em sua forma de viver.

Idoso

Esta é a ultima idade do homem, a última etapa do desenvolvimento da vida.


Por isso mesmo, assunto, ao mesmo tempo discutido, mas ao mesmo tempo,
negado.

Na terceira idade o homem já definhou seu corpo e seus sonhos futuros.


Muitos se entregam a esperar os últimos dias, contudo, há outros que vivem como
se tivessem em plena juventude.

Como explicitado anteriormente, o que vai ditar o comportamento do idoso,


é o período histórico e econômico no qual ele está vivendo. Há cinquenta anos
o idoso não era considerado o mesmo de hoje. Esperava-se uma atitude sábia e
ponderada em relação aos fatos da vida. Era ouvido com atenção e suas palavras
eram consideradas sábias e dignas de serem ouvidas. Hoje é comum ouvirmos
denuncias de maus tratos contra idosos. Não que isto não ocorria no passado,
mas não com tanta frequência como nos dias atuais.
O idoso contemporâneo tem a seu favor o Estatuto do idoso (Lei n° 10741,

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UNICESUMAR

de 1 de outubro de 2003) que garante seus direitos fundamentais inerentes ao


ser humano. De acordo com o estatuto, é dever da família, da comunidade e do
Poder Público assegurar todas as formas de facilitar a segurança de sua saúde
física e mental, cultural, lazer e de trabalho. Tal prerrogativa é fundamental já
que demonstra que o idoso, longe de ser uma pessoa somente com debilidade,
pode ainda ser produtivo e criativo.
A pessoa é considerada idosa a partir do momento que completa 60 anos.
Em termos de desenvolvimento podemos dizer que condiz com o processo de
envelhecimento.

Leitura complementar

Para uma reflexão sobre o idoso leia o livro: Velhos institucionalizados e família:
entre abafos e desabafos de Adriana Alcântara (2004).

Atividades do idoso

Muitas pessoas acreditam que os idosos não possuem esperança e que já vi-
veram tudo o que precisava viver. Tolstij (1989) explicitou em seus estudos que
durante a velhice ocorre desenvolvimento psicológico como na infância. Não é
um período que “não tem mais jeito”, pelo contrário, há movimento, mudança e
flexibilidade no campo psicológico.
Infelizmente, ideologicamente, os próprios idosos acreditam que o tempo
deles já passou e que não cabe a um “bom velhinho(a)” fazer “maluquices”. Con-
tudo, tirando as questões físicas, que realmente começam a degenerar, psicologi-
camente muitos ainda podem continuar trabalhando e passeando normalmente.
Lógico que com menos frequência e menos condições que uma pessoa jovem.

Sugestão de vídeo

A velhice é um dos maiores temores da humanidade e vivenciar a degradação


física e mental é um dos sofrimentos mais contundentes para quem convive com

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UNIDADE 13

o idoso. Para refletir sobre o assunto veja o filme Amor (Amour) filme Frances de
Michael Haneke que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013.
O idoso é sempre comparado à criança como pessoas despreocupadas, ausência
de dentes, corpos frágeis, etc. Entretanto, tanto a criança como o idoso sabe qual é
o seu lugar na sociedade perante o adulto. Esta consciência é a única coisa de fato
que a infância e a velhice têm de iguais.
Com a mortalidade cada vez mais tarde na velhice, por volta dos 70 anos, os ido-
sos ocupam mais lugares na sociedade e participam mais da vida social, por exemplo,
bailes da terceira idade, passeios turísticos, esportes, inclusive radicais, participam
de academias, envolvem-se em novos relacionamentos, inclusive com pessoas mais
novas e muitos trabalham como voluntários em organizações filantrópicas.
A personalidade do idoso só pode ser compreendida a partir de sua própria
individualidade, isto é, se faz necessário conhecer como sua individualidade foi
desenvolvida ao longo de sua vida.
Claro, querido estudante, que a velhice possui características próprias. Quem
conviveu ou convive com um idoso sabe muito bem que os mesmos apresentam
alguns comportamentos típicos. Veremos então: existe um certo negativismo uma
vez que a pessoa idosa acredita que as coisas podem dar errado até porque doenças
aparecem frequentemente, são mais embotados afetivamente. Porém, existem os
idosos com as características de uma pessoa extrovertida que se comportam como
jovens, são alegres e vivem a vida intensamente como se tivessem mais sessenta
anos de vida.
Entretanto, são poucos os estudos sobre o desenvolvimento psicológico durante
a denominada “terceira idade”, muitos trabalhos ainda focam apenas a descrição
dos comportamentos e não aprofundam os processos psíquicos.

Reflita

Quando atingimos certa idade, por volta dos 60 anos, é comum as pessoas
acreditarem que a personalidade e o caráter do idoso mudam, isto é, que são
bons e honestos. Contudo, não é incomum ouvirmos notícias policiais de idosos
cometendo crimes. A aplicação de atenuante por se tratar de idoso acima de 60
anos do código penal traz para alguns questionamentos quanto à capacidade de
senilidade do idoso. Discuta e pense sobre!

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UNICESUMAR

Considerações finais

Nesta unidade você apreendeu como se dá o processo de desenvolvimento do


indivíduo adulto e do idoso. Compreendeu que a atividade dominante na vida
adulta é o trabalho e que esta fase é considerada como centro nas questões sociais
e econômicas da sociedade. Também apreendeu que na velhice ainda ocorre
desenvolvimento psicológico ao contrário do que discorrem teorias maturacio-
nais. Por fim, caro estudante, abordamos em todas as unidades sobre psicologia
do desenvolvimento, que o processo de formação do psiquismo individual está
vinculado diretamente a atividade humana, isto é, as condições concretas de vida.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Defina, conforme os autores, um homem adulto.

2. Quais são as principais características do homem adulto no mundo contemporâneo?

3. Qual é a atividade dominante na vida adulta?

4. A chamada “terceira idade” tem ocupado mais espaço na sociedade, cite um exemplo
de participação do idoso.

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14 Estudo da
personalidade
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade serão abordados os conceitos de personalidade para

a psicologia psicanalítica bem como os transtornos de personalidade.

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UNIDADE 14

Na unidade sobre o desenvolvimento humano você estudou o desenvolvi-


mento do psiquismo, de acordo a teoria Histórico-Cultural, cuja metodologia é
o materialismo histórico. Nesta unidade você vai aprender o desenvolvimento
da personalidade pelo prisma da psicanálise envolvendo a subjetividade humana
como um todo incluindo algumas patologias mentais.

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UNICESUMAR

Personalidade

Como você estudou anteriormente observou que a personalidade do indi-


víduo não nasce pronta. As questões econômicas e socioculturais influenciam
diretamente no desenvolvimento da personalidade do sujeito. A personalidade
não nasce com o indivíduo, mas é construída na relação com outras pessoas,
principalmente os pais ou responsáveis e pelas relações sociais. Entretanto, uti-
lizaremos a definição psicanalítica para expressar a personalidade no âmbito
subjetivo. A personalidade, de acordo com Kaplan e Sadock (1993, p.556) apud
Fiorelli; Mangini (2010, p.97) é “a totalidade relativamente estável e previsível
dos traços emocionais e comportamentais que caracterizam a pessoa na vida
cotidiana, sob condições normais”.
A personalidade apesar de ter traços estáveis não significa que seja estática, ou
seja, ela é mutável, pois depende também do meio em que o sujeito está inserido.
O autor discorre que a personalidade se manifesta em relação a outras pessoas,
isto é, quando o indivíduo está se relacionando com outra pessoa.
O comportamento varia conforme o ambiente social, cultural, econômico
e até político. As pessoas diversificam seus comportamentos dependendo da
situação a qual se encontra. Por exemplo, diante de um juiz um indivíduo pode
se apresentar doce e pacifico. Já em sua casa o sujeito se apresenta agressivo e
violento.
Durante muitos anos a psicologia e as ciências que estudam os comportamen-
tos tentaram relacionar a conduta a traços físicos, como gordo = alegre; esta ava-
liação é pobre de conteúdo, uma vez que a única coisa que consegue demonstrar
é um pré-conceito e um pré-julgamento do sujeito. Traços físicos não demonstra
a personalidade de ninguém.
A personalidade é expressa pelo comportamento do indivíduo, isto é, com-
portamentos estáveis e duradouros, mas não eternos já que podem ser modifi-
cados.
Nenhuma pessoa possui a personalidade igual a outra, entretanto, podem
ser parecidas, já que vivemos no mesmo contexto histórico cultural. É comum
ouvirmos as pessoas dizerem: “fulana tem o mesmo jeito da sicrana”. Consegui-
mos identificar traços da personalidade e com isso criar julgamentos muitas
vezes errôneos.

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UNIDADE 14

Leitura complementar

Caro estudante, caso deseje compreender melhor a personalidade considera-


da normal e a com transtornos leia o livro de Jean Bergeret, Personalidade normal
e patológica da editora Artes Médicas (1988).

Característica da persanalidade

A personalidade possui características próprias, segundo Fiorelli; Mangini


(2010, p.98):

Os comportamentos típicos, estáveis, persistentes que formam o padrão por


meio do qual o indivíduo se comporta em suas relações, nas mais diversas si-
tuações do convívio social, de trabalho e familiar, recebem a denominação de
características de personalidade.

Todo indivíduo possui um padrão de comportamentos que caracteriza sua


personalidade. Não podemos dizer que uma personalidade é melhor ou pior que
outra, ou que exista uma personalidade “normal”. Todas as pessoas apresentam
características positivas e negativas, não havendo personalidade totalmente boa
ou totalmente má.
Entretanto, os momentos de emoção que o indivíduo passa pode alterar al-
gumas das características da personalidade conduzindo a comportamentos im-
previsíveis e inesperados. Obviamente que estamos descartando neste caso trans-
tornos mentais e comportamentais. Estamos discorrendo sobre comportamentos
inesperados decorrentes da mudança de personalidade em um dado momento.
Por exemplo, um indivíduo se desestrutura emocionalmente quando descobre
que está sendo traído pela namorada. Ninguém imaginava que fosse capaz de
agredi-la. No entanto, nem ele mesmo sabia que era capaz de tamanha ousadia.
Entretanto, este exemplo acima, demonstra pessoas com instabilidade emo-
cional, isto é, possuem dificuldades para frustrações e se deixam levar pelas emo-
ções, não conseguindo resolver sozinhas seus problemas de forma adequada.
Por outro lado, pessoas emocionalmente estáveis, dificilmente alteram seus
comportamentos, uma vez que não deixam ser dominadas pelas emoções. As

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características da personalidade não possui um padrão para resolver as situações.


Às vezes uma solução em um conflito não é cabível em outro problema. Algumas
características da personalidade utilizadas no calor da emoção podem prejudicar
ainda mais o indivíduo. Os autores (2010, p.103) trazem alguns exemplos: “O
excesso de consciência social leva ao fanatismo; o fim se sobrepõe ao meio; um
cliente muito independente pode prejudicar a estratégia do advogado; age sem
consultá-lo e cria situações difíceis”.
Todas as pessoas carregam consigo mais ou menos as mesmas características,
entretanto, algumas com mais intensidade e outras com menos intensidade. As
características se alteram com o passar dos anos, devido a questões psicológicas,
sociais, culturais e orgânicas. Podemos perceber essas mudanças com o passar
da idade, quando jovem age de uma forma e tem comportamentos típicos, mais
velho outros valores assumem sua personalidade e outros comportamentos as-
sumem a vida do indivíduo.
A personalidade pode ser totalmente alterada quando exposta a eventos
traumáticos ou longo estresse. “esse fenômeno ganha crescente interesse porque
o aumento da violência e dos conflitos dissemina o estresse e o trauma na socie-
dade contemporânea, com efeitos físicos e psíquicos” (FIORELLI; MANGINI,
2010, p.104).
Vamos citar um exemplo para ilustrar a mudança de características da per-
sonalidade devido um trauma:
Um jovem sempre se apresentou feliz, estudiosa, festeira, disposta a ajudar,
com bom humor e com facilidade de relacionamentos sociais. Em um evento no-
turno a mesma é violentada sexualmente. Com o passar do tempo, após o trauma,
a jovem apresenta comportamentos diferentes de antes: agora é desconfiada, de
poucos amigos, não sai de casa, e quando tem que sair fica agressiva e paranoica.
Neste caso podemos afirmar que houve alteração dos traços de sua personalidade
devido um evento traumático. A psique da jovem tem que defendê-la e faz alte-
rações na personalidade para tentar neutralizar a situação estressante.
As modificações vão depender da intensidade com que o indivíduo vivenciou
o evento traumático ou estressante. Tais situações podem prejudicar muito o in-
divíduo, porém somente quando a funcionalidade do indivíduo fica prejudicada
é que se caracteriza como transtorno mental.

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UNIDADE 14

Transtornos da personalidade

Kaplan; Sadock (1993, p.196) apud Fiorelli; Mangini (2012, p.105) definem o
transtorno de personalidade como sendo: “padrões de comportamento profun-
damente arraigados e permanentes, manifestando-se como respostas inflexíveis
a uma ampla série de situações pessoais e sociais”.
Ocorre um comprometimento significativo social ou ocupacional na vida do
sujeito. Geralmente vem acompanhado de um profundo sofrimento psíquico.
O indivíduo com transtorno perde a capacidade de ser flexível nas situações
vivenciadas. Não consegue se adaptar no trabalho e em nenhuma situação social.
A classificação Internacional de Doenças (CID-10) classifica os transtornos
de personalidade como sendo (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.105-106):

•Paranoide: o indivíduo sempre interpreta de maneira errada ou distorce as


ações das outras pessoas, demonstrando desconfiança sistemática e excessiva. O
comportamento é generalizado. Guarda rancor, não perdoa injúrias ou ofensas
e, portanto, busca reparações; desconfia de todos, até do próprio advogado;
demonstra-o e toma medidas de segurança acintosas, inoportunas e ofensivas;
•Dependente: o indivíduo torna-se incapaz de tomar, sozinho, decisões de
alguma importância. Torna-se alvo fácil de pessoas inescrupulosas. é o apóstolo
preferencial do fanático; o liderado de eleição do antissocial. Nada faz sem a opi-
nião e a presença do advogado. Pode incorrer em sérios prejuízos simplesmente
porque não consegue decidir ou encontrar quem o faça;
•Esquizoide: a pessoa isola-se, busca atividades solitárias e introspectivas;
não retribui cumprimentos e mínimas manifestações de afeto. Terá dificuldade
para encontrar quem se disponha a testemunhar em seu favor e, também, não
terá disposição para fazê-lo. Seu comportamento apresentará tendência a um
contato mais frio mais frio e distante com os demais;
•De evitação: a pessoa também se isola, porém, sofre por desejar o rela-
cionamento afetivo, sem saber como conquistá-lo. O retraimento social marca
importante, vem acompanhado pelo medo de críticas, rejeição ou desaprovação.
•Emocionalmente instável: este indivíduo oscila entre o melhor e o pior do
mundo; cede a impulsos e prejudica-se; seus relacionamentos podem ser inten-
sos, porém instáveis. Acessos de violência, falta de controle dos impulsos podem
ser marcantes. Envolve-se em agressões.

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UNICESUMAR

•Histriônica: manifesta-se no uso da sedução, na busca de atenção exces-


siva, na expressão das emoções de modo exagerado e inadequado. Procura a
satisfação imediata, tem acessos de raiva e sente-se desconfortável quando não
é o centro das atenções; os relacionamentos interpessoais, embora exagerados,
não gratificam. É comum a presença de transtornos de ansiedade, depressão e
conduta suicida, habitualmente sem risco de vida, além de alcoolismo e abuso
de outras substâncias psicoativas.

Deste modo, os transtornos da personalidade podem ser encontrados em


qualquer indivíduo desajustado. O conhecimento de tais transtornos torna mais
fácil a convivência e a compreensão dos portadores. Tais indivíduos devem fazer
tratamento psicológico e psiquiátrico. O indivíduo acredita que seus problemas
são causados por outras pessoas e não se reconhecem na situação problema.
Existem muitos transtornos e distúrbios mentais que não nos cabe aqui dis-
correr, entretanto, sabê-lo é imprescindível para qualquer profissional que atue
diretamente com os indivíduos, principalmente na área do Direito.
No próximo item explicitaremos o transtorno da personalidade antissocial
ou psicopatia, uma vez que acreditamos ser fundamental tal conhecimento para
a prática jurídica.

Transtorno da personalidade antissocial

De acordo com a Classificação Internacional de doenças (CID-10), e com


o DSM IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) de 1995 a
personalidade antissocial se enquadra na classificação de personalidade dissocial
que inclui:

•Personalidade amoral
•Antissocial
•Associal
•Psicopática
•Sociopática

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UNIDADE 14

Estes transtornos possuem algumas características principais sendo: desprezo


das obrigações sociais; falta de empatia; desvio considerável do próprio com-
portamento com as normas sociais; punições não mudam o comportamento do
sujeito; baixa tolerância a frustração; racionalizações plausíveis, agressividade;
violência; os outros sempre são culpados.
A psicologia jurídica tem um interesse especial pelo transtorno de persona-
lidade antissocial, isto é, psicopatia ou sociopatia. Alguns autores descartaram o
conceito sociopatia, pois acreditam que o meio não influencia no comportamen-
to. O indivíduo nasceria psicopata. A ciência ainda não chegou à raiz do proble-
ma, isto é, não se sabe ao certo sua origem, seu desenvolvimento e o tratamento
adequado para o portador desse transtorno.
A palavra psicopatia foi utilizada primeiramente por Kraepelin (1856-1925)
no ano de 1904 e significava que o indivíduo com esse transtorno não conse-
guiam se adaptar á sociedade sendo diferentes.
Em 1995 o DSM IV diagnosticou o transtorno como:

Característica essencial: padrão invasivo de desrespeito e violação dos direi-


tos dos outros, que se inicia na infância ou começa da adolescência e continua na
idade adulta. Sinônimo: psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade
dissocial (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.107).

Lembrando que o psicopata não se enquadra como doente mental, uma vez
que sabe perfeitamente o que está fazendo e tem consciência de suas atitudes. O
profissional da saúde e o profissional do direito devem ter cautela em relação a
esse tipo de transtorno uma vez que o portador não é doente, não alucina e nem
delira, ele é totalmente racional e tudo o que realiza é com premeditação.
De acordo com os autores (2010) a psiquiatra brasileira Hilda Morana, ba-
seada nos estudos do americano Robert Hare, discorre que é possível prevenir a
reincidência criminal nestes casos. Contudo, para Hilda a psicopatia é um defeito
de caráter, devido à insensibilidade aos outros. Os psicopatas possuem crueldade
gratuita, não estão atrás de riquezas ou poder, mas seu comportamento é extre-
mamente perverso.
O americano Robert Hare apud Fiorelli; Mangini (2010, p.108) elencou, de
acordo com seus estudos, uma lista de características do indivíduo psicopata
sendo:

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•Loquacidade; charme superficial;


•Superestima;
•Estilo de vida parasitário; necessidade de estimulação; tendência ao tédio;
•Mentira patológica; vigarice; manipulação;
•Ausência de remorso ou culpa;
•Insensibilidade afetivo-emocional; indiferença; falta de empatia;
•Impulsividade; descontroles comportamentais;
•Ausência de metas realistas em longo prazo;
•Irresponsabilidade; incapacidade para aceitar responsabilidades pelos pró-
prios atos;
•Promiscuidade sexual;
•Muitas relações conjugais de curta duração;
•Transtorno de conduta na infância;
•Delinquência juvenil;
•Revogação de liberdade condicional;
•Versatilidade criminal.

Com tais critérios, sendo que pelo menos a metade dessas características o
sujeito deve apresentar, o diagnóstico é preciso.
Na formação da personalidade deste indivíduo não formou devidamente sua
estrutura egóica, isto é, seu superego (instância psíquica que regula o comporta-
mento moral, ético e social) não introjetou a possibilidade do sujeito sentir culpa,
remorso ou empatia por alguém.
Muitas pesquisas apontam que as causa da personalidade antissocial estão
relacionadas com aspectos biológicos, ambientais, sociais e familiares.
Entram nestas categorias, seriais killers, homicidas cruéis e torturados. Entre-
tanto, há níveis de psicopatia, pois não constitui um padrão, ou seja, nem todos
são seriais killers.
Estes indivíduos estão em todos os lugares no trabalho, na família, nas ruas,
nas igrejas, nos clubes, enfim em todas as instituições. No ambiente de trabalho,
por exemplo, o indivíduo comete furtos destruindo os bens alheios, vadiagem,
etc. Como não possui tolerância a frustração a violência surge espontaneamente.
Geralmente psicopatas se envolvem com crimes como tráfico de drogas,
crime organizado, máfia, política e religião. “Mentira, promiscuidade, direção
perigosa, homicídios e sequestros compõem seus repertórios, em que não há

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UNIDADE 14

sentimentos de culpa, pois os outros não passam de “otários” que merecem ser
ludibriados na disputa por sexo, dinheiro, poder, etc.” (FIORELLI;MANGINI,
2012, p.109).

“ “(...) a psicopatia é um defeito de caráter, devido à


insensibilidade aos outros.”

As crianças que apresentam características psicopáticas, são denominadas de


portadores de distúrbio de conduta. O conceito psicopata é utilizado somente
após a maioridade. Entretanto, a crueldade pode ser da mesma intensidade que
de um adulto.
O distúrbio de conduta se caracteriza por comportamentos padrões persis-
tentes dissocial. É muito mais do que brincadeira infantil ou rebeldia adoles-
cência. A conduta dura de seis meses a mais e se expressa por maldade extrema
podendo ser contra animais ou pessoas.

Reflita

Caro estudante, vamos supor que você é advogado de defesa de um homem


que alega não ter cometido os homicídios que o estão acusando. Ele é convin-
cente e para você ele é inocente até que provem o contrário. Entretanto, você
tem dúvidas uma vez que o comportamento do réu te amedronta, mas você não
vai desistir. O que você faria, caso conseguisse inocentá-lo, se você estudando os
sintomas de psicopatia descobrisse que teu cliente é psicopata?
Reflita sobre!

Saiba mais

Para compreender a psicopatia na adolescência leia o artigo de Ricardo Sch-


mit et. al. Personalidade psicopática em uma amostra de adolescentes infratores
brasileiros. (2006) disponível no www.scielo.br. No artigo os autores discorrem
sobre uma pesquisa realizada para fazer um levantamento da psicopatia entre

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UNICESUMAR

adolescentes infratores.
Características do transtorno na infância/adolescência:

•Agressividade e tirania;
•Crueldade em relação a pessoas ou animais;
•Destruição de patrimônio alheio;
•Comportamentos incendiários;
•Roubos;
•Mentiras exacerbadas;
•Cabulação de aulas;
•Fuga de casa;
•Birras e desobediência excessiva e constante;

Quando tais características citadas acima se apresentam nitidamente em uma


ou mais de uma o diagnostico pode ser feito por um profissional da saúde. Claro,
que os pais e as pessoas que convivem com crianças ou adolescentes devem ficar
atentas para condutas antissociais como: colocar o gato no forno microondas;
incendiar outra criança; maltratar constantemente outro sujeito não são atitudes
normais.
Deste modo, a personalidade humana, é única e possui características pró-
prias. Pode ser modificada ao longo da vida e é construída por meio das relações
sociais, econômicas, culturais e familiares. A personalidade pode ser desestrutu-
rada causando transtornos de personalidade. O transtorno mais complexo é o an-
tissocial. Este traz consequências gravíssimas para as pessoas e toda a sociedade.

Sugestão de vídeo

Assista ao filme, baseado em uma história real denominado Cyrus: a mente


de um serial killer que narra à história de um assassino cruel e perverso.

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UNIDADE 14

Considerações finais

Nesta unidade você aprendeu como se desenvolve a personalidade pela


perspectiva psicanalítica. Abordamos as características da personalidade e suas
patologias. Também abarcamos o transtorno de personalidade antissocial que
é imprescindível para a psicologia jurídica. Com tais conhecimentos você pode
compreender melhor como se dá o comportamento humano.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Conceitue personalidade conforme os autores estudados.

2. Quais são os transtornos de personalidade, segundo a Classificação Internacional


de Doenças (CID-10).

3. Defina psicopatia citando algumas características que o psicopata apresenta.

4. Quais as principais características do transtorno de conduta durante a infância?

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15 Saúde e
transtornos
mentais
Me. Gisele Cristina Mascagna

Nesta unidade vamos abordar as noções básicas de saúde mental

bem como a descrição de algumas psicopatologias. Nesta aula você vai

aprender a identificar alguns transtornos que é imprescindível para uma

boa atuação na área do Direito.

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UNIDADE 15

Uma pergunta recorrente entre os estudiosos de Psicologia é compreender o


que é considerado normal e o que não é. Bom, pergunta que ao mesmo tempo
é fácil de responder e difícil de explicar, isto é, a noção de normalidade também
vai depender da época histórica, da cultura e da sociedade como um todo.
No período medieval quem não acreditava no Deus Católico era considerado
louco ou herege. Naquele período o normal era aquele que não questionava. Ga-
lileu foi uma prova disso, quase foi para a fogueira porque disse que a Terra não
era o centro do universo. Nesse sentido, as formas de produzir a vida também
determinam o pensar e o comportamento dos indivíduos.
Na Psicologia não queremos descobrir quem é mais normal do que o outro,
mas amenizar o sofrimento que advém das adversidades da vida e também de
transtornos mentais. No Direito a questão do normal e do patológico se complica
um pouco mais, já que presumi responsabilidade ou não dos atos.

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UNICESUMAR

Contudo, não cabe a Psicologia definir culpado ou inocente, mas apenas


discorrer e demonstrar o conceito de saúde mental e as condutas que podem
advir de psicopatologias mentais.
O homem desenvolveu-se ao longo da história transformando seu meio e
consequentemente sua psique. O homem é a expressão do seu tempo. Relaciona-
-se dialeticamente em constante movimento com as outras pessoas que o cercam
e com o ambiente social que vive. Nesta relação o homem se apropria dos bens
produzidos elaborados, positivos e negativos.
Um ambiente saudável propicia ao indivíduo uma vida também mais saudá-
vel, porém um ambiente desajustado também contribui para o desenvolvimento
de transtornos mentais. Infelizmente algumas pessoas desenvolvem tais transtor-
nos colocando, muitas vezes, em risco sua própria vida e a vida de outras pessoas.

Saúde mental

Conforme Fiorelli; Mangini (2010, p.94-95), o indivíduo considerado men-


talmente saudável é aquele que apresenta algumas característica sendo:

1.A pessoa que consegue entender que ela não é perfeita;


2.O indivíduo que compreende que não pode ser tudo para todas as pessoas;
3.Que consegue vivenciar várias emoções;
4.O indivíduo que consegue enfrentar os desafios e as mudanças da vida
diária;
5.A pessoa que quando percebe que tem problemas procura ajuda para lidar
com as situações conflitantes. Isto significa que o indivíduo não é onipotente.

O indivíduo sadio consegue se perceber no problema, entende as consequên-


cias e é capaz de mudar seus ideais pessoais. Porém, nem sempre atuamos como
deseja a sociedade, e por isso, às vezes, somos condenados a “loucura”. Entre-
tanto, diagnosticar um portador de algum transtorno mental é mais do que um
caso isolado ou encontrar apenas uma variável. O comportamento inadequado
se repete e se torna padrão. É comum falarmos ou ouvirmos que determinada
pessoa é louca. Mas o que seria de fato essa tal de loucura? É o que veremos no
próximo item.

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UNIDADE 15

Psicopatologia

O conceito transtorno mental substituiu o termo doença mental. O trans-


torno mental requer um comprometimento do funcionamento do sujeito. Esse
comprometimento ocorre quando (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.95):

•Funções mentais superiores recebem interferência, dificultando ou afetando


a atuação (por exemplo, o indivíduo não consegue lembrar-se de compromissos);
•Atividades da vida diária, rotineiras, usualmente necessárias, sofrem com-
prometimento em algum grau.

O transtorno mental compromete o sujeito de agir dentro da normalidade,


isto é, dentro dos conceitos ditos como normais no ambiente que vive. A pessoa
apresenta comportamentos que as demais observam e percebem como desviante.
Obviamente que a primeira vista é difícil perceber a pessoa portadora de trans-
torno, mas tal transtorno modifica-se com o tempo, podendo acentuar ou até
reduzir.
Uma pessoa com transtorno mental, como o tempo, os indivíduos que convi-
vem com ele começam a perceber que algo está errado. Por exemplo, uma moça
que antes era festeira, alto astral, bom humor, passa a ficar mais tempo em casa,
não quer conversar, chora o tempo todo, tem pensamentos negativo e deseja mor-
rer. Está instalada a depressão. Outro exemplo é em relação à adolescência: o jo-
vem que muda seu comportamento repentinamente: torna-se agressivo, arredio,
perde a higiene, o sono, a fome, some com seus pertences e do lar, fica horas sem
retornar para a casa, etc. com certeza está usando alguma substância psicoativa.
Na unidade sobre personalidade você aprendeu como se desenvolve e como
reflete no comportamento a experiência de vida de cada sujeito. Também apren-
deu que cada indivíduo, apesar de estar no mesmo momento histórico-cultural,
introjeta de maneira diferente experiências iguais. Portanto, a subjetividade de
cada um contribui para desenvolver ou não certos transtornos, já que cada ser se
apropria individualmente dos objetos matéria e intelectuais que vivencia.

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UNICESUMAR

Saiba mais

No site www.psiqweb.med.br você encontra conceitos e descrições de vários


transtornos mentais.
Nos próximos itens abordaremos alguns transtornos mentais que acreditar-
mos ser fundamentais no âmbito do Direito.

Transtorno de estresse pós-traumático

Os tempos modernos trouxeram em sua companhia os traumas. Cada vez


mais pessoas vivenciam traumas e por isso paralisam muito de suas atividades.
São várias as consequências do trauma, mas nem sempre são associadas porque
o indivíduo esconde o evento. Contudo, as consequências vão surgir mesmo
que tardiamente. Os autores (2010, p.118-119) discorrem algumas dessas con-
sequências:

O indivíduo pode para subitamente suas atividades; um adolescente alguns


meses depois de ter sofrido bullying pode apresentar medo de ir sozinho a escola;
A pessoa modifica seu comportamento, por exemplo, deixa de sair de casa;
Também pode ter um comprometimento financeiro, isto é, por causa do
transtorno vai com mais frequência ao consultório de psicologia, comprome-
tendo suas finanças;
Problemas de sinais físicos permanentes: por exemplo, a pessoa que sofreu
um acidente de carro e ficou com cicatrizes no rosto pode reviver o acidente
toda vez que olha no espelho;
Um agravante é a dificuldade de reiniciar as tarefas rotineiras devido ao
grande sofrimento psíquico de retornar as atividades, por exemplo, o compor-
tamento de piedade dos colegas de trabalho;
O indivíduo pode ficar incapaz de realizar determinadas atividades;

Muitas são as consequências de um evento traumático como a anorexia, a


bulimia, o consumo de drogas, tendências suicidas, etc. Tais danos psíquicos são
mais violentos quando o evento traumático é a violência sexual. De acordo com
Fiorelli; Mangini (2010, p.119) o trauma ocasiona:

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UNIDADE 15

•Perda ou redução do sentimento de autoeficácia;


•Modificação da autopercepção (sentimentos de mutilação, de ódio do pró-
prio corpo, de contaminação);
•Transformação da percepção do mundo, com redução drástica das perspec-
tivas e necessidades básicas;
•Alterações profundas de características de personalidade, em geral redu-
zindo a interação social;
•Desenvolvimento de diversos transtornos mentais; como a ansiedade e a
depressão.

As consequências desse tipo de violência na vida de criança e adolescentes


é maior do que na vida adulta. A busca de ajuda profissional deve ser feita de
forma urgente, já que os traumas podem ser devastadores.

Drogadição

Uma pessoa dependente é aquela na qual a droga é mais importante do que


qualquer outra coisa na vida da pessoa. A droga controla a vida do indivíduo.
Sabemos que hoje a droga é de fácil acesso e está em todos os níveis sociais. A
classe baixa já não é mais o alvo principal. Pessoas da classe alta também é de-
pendente. Indivíduos de diversas profissões ou sem profissão, pessoas de ambos
os sexos e pior, de qualquer idade. Ouvimos diariamente nos noticiários crianças
e adolescentes sendo visto utilizando drogas, principalmente o crack.
As drogas mais utilizadas ainda é o álcool e o tabaco. O álcool está associa-
do com os acidentes de trânsito. O alcoolismo é um dos transtornos que mais
afeta a vida familiar, profissional e social, já que é uma droga aceita e legal. São
inúmeras as famílias destruídas por conta do uso de álcool. Pais que deveriam
acolher e proteger seus filhos os agridem por falta de controle emocional (FIO-
RELLI;MANGINI, 2010, P.125).
O álcool influencia na atenção imediata dos fatos inibindo a avaliação das
consequências. Um bom exemplo são os crimes nos trânsito devido ao motorista
dirigir embriagado e as brigas familiares.
A memória imediata fica prejudicada e a aprendizagem também fica com-

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UNICESUMAR

prometida. O indivíduo passa a ter dificuldades no ensino escolar, por exemplo.


A autopercepção do indivíduo fica prejudicada. O sujeito não consegue se
perceber na culpa, na responsabilidade ou no fracasso do seu ato.
A concentração do usuário fica comprometida ocorrendo distúrbios do pen-
samento ou distúrbios da percepção. O indivíduo pode ter delírios e sentimentos
persecutórios. Por exemplo, acreditar que sua esposa o está traindo.
O alcoolista sofre mais traumas, mas consequentemente realiza traumas nos
indivíduos que convivem com ele.

Os transtornos psiquiátricos consequentes ao alcoolismo incluem distúrbios


na conduta, depressão, transtornos ansiosos, alimentares, hábito patológico de
jogar, personalidade antissocial e outros transtornos da personalidade (DRO-
GADIÇÃO, 1998, p.4), aumentando ainda mais o comprometimento ocupacio-
nal e social (FIORELLI; MANGINI, 2010, p.125).

Abaixo discorreremos alguns sinais de alcoolismo:

•O indivíduo exala cheiro de álcool logo pela manhã ou após a refeição;


•O sujeito é capaz de beber qualquer coisa. Não tem seleção nas bebidas;
•O sujeito necessita beber diariamente;
•O indivíduo modifica sua conduta para continuar bebendo;
•A mentira é um meio para o sujeito sair para beber;
•Ocorre um aumento da resistência ao álcool. O indivíduo necessita de alta
dose para ficar embriagado, depois o efeito será o inverso.

Devemos esclarecer que nem todos os alcoolistas são violentos ou agressivos.


Aspectos da personalidade contribuem para o desenvolvimento de certas con-
dutas. Alguns sob o efeito do álcool se torna poético e musical.
Há outras substâncias psicoativas como os estimulantes, os hipnóticos, anal-
gésicos, alucinógenos, os inalantes. A maconha é uma droga alucinógena, assim,
como o cogumelo. Outro exemplo são os psicotrópicos, isto é, medicamentos
receitados por psiquiatra. Muitas pessoas são dependentes dessas substancias.
Independentemente do tipo de consumo de drogas psicoativas é importante
observamos alguns sinais clássicos do consumo:

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UNIDADE 15

•Ocorrem mudanças repentinas no comportamento do sujeito;


•O indivíduo troca de amigos;
•Cai o rendimento nos estudos ou no trabalho;
•Pode ter muita fome ou queda de apetite;
•Não há organização do sono;
•Alteração na higiene;
•Desorganização mental;
•Objetos estranhos nos pertences (por exemplo, seringa ou cachimbo);
•Folhas secas com forte odor de relva;
•Olhos vermelhos e lerdeza no pensar.

Deste modo, muitas são as drogas, mas as consequências são muito próximas.
O indivíduo muda sua conduta e na maioria das vezes sua vida e a da família
vira uma tragédia. Entretanto, são muitos os tratamentos, psiquiátricos, psico-
lógicos e clínicos, que podem contribuir para uma melhora e uma superação da
dependência.

Transtornos de preferência sexual (parafilas)

A perversão sexual também conhecida como parafilia são comportamentos


recorrentes, desejos sexuais que envolvem objetos ou situações inapropriadas.
Para obter o orgasmo muitas variações de desejos são possíveis, por isso nem
tudo é considerado perverso ou mórbido. De acordo com Fiorelli; Mangini (2010,
p.134-135), essas patologias geralmente são regressões aos estágios mais primi-
tivos do desenvolvimento.

Para se diagnosticar a frequência das ações são imprescindíveis para chegar a


uma maior precisão. Não abarcaremos aqui todas as parafilias, somente aquelas
que achamos necessário para a Psicologia Jurídica e para o Direito.

• Incesto

O incesto são relações sexuais entre parentescos sanguíneos. Entretanto, esse


conceito se amplia quando ocorrem relações sexuais entre padrasto (madrasta)

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e enteada (o) ou entre irmãos adotivos.


Para os autores (2010) muitas são as causa do incesto, mas todas elas giram em
torno da oportunidade. Ou seja, ocorreu uma oportunidade para acontecer. Um
caso clínico demonstra essa situação: A mãe teve que viajar e a filha adolescente
teve que ficar sozinha com o pai. A menina era adotada. De madrugada em pleno
temporal a filha ficou com medo e foi para o quarto do pai. A oportunidade, ela
o agarrou devido os raios e trovões, oportunizou a ocorrência do incesto.
Entretanto, a violência do incesto ultrapassa o ato sexual, muitos olhares,
gestos lascivos e abusos ocorrem sem com que a pessoa perceba o que está pas-
sando por ela. O incesto é uma patologia muito complexa e comum. Na nossa
sociedade é crime, contudo há tribos indígenas que é natural. Vai depender da
cultura e da sociedade. Para as religiões como um todo o incesto é considerado
um pecado, porém, além das questões morais e do tabu que envolve esse tema,
há os problemas biológicos que limitariam as pessoas a estarem sempre entre
familiares, isto é, não ocorreria a variabilidade genética, tornando uma população
com apenas uma etnia.
O incesto é uma violência já que, geralmente, envolve um adulto e um menor,
pois a relação de incesto vai se estabelecendo desde a infância ou adolescência.
A menina cujo corpo chama a atenção do padrasto, o rapaz cuja musculatura
e beleza atraem os olhares da irmã, etc. depois com o tempo pode vir a se con-
cretizar. No âmbito psíquico o incesto é uma perversão sexual, uma patologia.

• Pedofilia

A pedofilia, para a Psicologia, é uma perversão sexual. “É a preferência se-


xual por crianças, usualmente de idade pré-puberal ou no inicio da puberdade”
(CID-10, p.25) apud FIORELLI; MANGINI (2010, p.135). Portanto, a pedofilia
se caracteriza como tal quando um sujeito adulto tem prazer em crianças ou
pré-puberal, isto é, de 0 anos de idade a 12 anos. Esta é a idade cronológica da
pedofilia no âmbito psíquico, ao contrário da lei que vai até quatorze anos (se as
duas pessoas forem maiores que 14 anos de idade).

A maioria dos abusadores de crianças são familiares ou pessoas conhecidas


por elas. Podendo ser vizinhos, professores, amigos do irmão mais velhos, etc.
No lar ocorre o encobertamento dos fatos já que a maioria dos pedófilos são

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UNIDADE 15

parentes da vítima. Muitas vezes a mãe sabe, mas encoberta o marido e coloca a
culpa na criança/adolescente. É comum ouvirmos desculpas como: ela sempre
usou shorts curto. Provocava. A culpa é dela.

O abuso tem várias causas e a pedofilia se caracteriza de vários tipos:

A natureza do abuso não é necessariamente a penetração vaginal; pode


variar entre vários tipos de atos, tais como conversas ou telefonemas obscenos,
apresentação forçada de imagens pornográficas (a internet tem sido um grande
meio de propagação da pedofilia), exibição de órgãos sexuais do adulto para a
criança, contatos sexuais ou masturbação forçada, participação em cenas por-
nográficas, até relações sexuais impostas (vaginais, orais ou anais; a violência
ocorre, muitas vezes, de um adulto do sexo masculino para uma criança do
mesmo sexo) (FIORELLI; MANGINI, 2010, P.135-136).

O pedófilo pode ser de qualquer classe social. Pode ter boa aparência e ser um
profissional de boa conduta. Cidadão exemplar. O pedófilo busca estar no local
onde tem crianças, ou seja, em creches, escolas, parques, shows, igrejas e alguns
se envolvem com mulheres que tem crianças pequenas.
São várias a hipóteses em relação às causas da pedofilia. Uma delas diz res-
peito ao pedófilo ter sofrido abuso quando criança. O indivíduo teria sofrido um
trauma sexual e tal trauma mais adiante seria o impulsionador da própria pedo-
filia. Outra hipótese seria a impotência que certos adultos teriam em conseguir
se relacionar com uma mulher adulta.
Um grave erro que advêm do senso comum, é acreditar que o pedófilo é
homossexual. A orientação sexual saudável não apresenta perversão sexual, ou
seja, o homoafetivo não é um perverso e não tem transtorno mental.
Os pedófilos podem ser homoafetivos ou heterossexuais. A maioria dos casos
os pedófilos são bissexuais, uma vez que o desejo patológico requer uma criança,
masculina ou feminina.
Deste modo, a pedofilia é crime e perversão, já que inclui na relação amorosa
e sexual uma criança incapaz de ter julgamentos e responsabilidades e está em
pleno desenvolvimento.

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• Sadomasoquismo

Para finalizarmos as perversões citaremos o sadomasoquismo que é a ativi-


dade sexual que envolve dor, humilhação e servidão a outra pessoa que por sua
vez tem desejos sádicos de maltratar e estimular a dor por meio de objetos. A
violência é necessária para estimular o desejo e alcançar o orgasmo.
Muitas pessoas se envolvem com relações sadomasoquista e depois da vio-
lência deseja processar o outro que a feriu, contudo, foi consentido. Transtorno
mental que prejudica a si mesmo e a outras pessoas. Existem tratamentos, mas
são poucos os que se consideram “doentes”, acreditam ser apenas uma questão
de gosto.

Sugestão de vídeo

Para reflexão sobre pedofilia assista o filme O Lenhador de Nikole Kassel


com Kevin Bacon. O filme retrata um drama de um rapaz que passou 12 anos
na prisão por molestar meninas menores de idade.

Esquizofrenia e transtornos delirantes

A esquizofrenia é um transtorno mental muito grave, pois se trata de uma


psicose. Ocorre distorção da realidade, da percepção prejudicando o pensamento
e causando um embotamento afetivo.
Os portadores de esquizofrenia são doentes e não conseguem se responsabi-
lizar pelos seus atos e por si mesmo. Quando em surto psicótico perdem a noção
da realidade e podem ser agressivos e violentos. Os delírios e as alucinações são
frequentes. Nos delírios e nas alucinações o indivíduo se sente perseguido por
alguém e ou por forças maiores, como ETs, óvnis, deuses ou demônios.
O indivíduo pode agredir uma autoridade, uma vez que se sente ameaçado
pela pressão de estar perto de uma, que pode estar querendo fazer mal a ele.
Durante os surtos a pessoa não se recorda de nada, podendo inclusive se ferir
gravemente sem sentir.
A esquizofrenia delirante faz com que o sujeito escute vozes e pode inclu-

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UNIDADE 15

sive ser influenciado pelas vozes. A fala do esquizofrênico em incoerente. Por


exemplo, um jovem esquizofrênico acredita que sua noiva o está traindo porque
“disseram” a ele que a viram com outro. Neste exemplo, o surto pode ser tanto
que o indivíduo pode até cometer homicídio.

Transtornos delirantes

Os transtornos delirantes possuem como característica principal o delírio


contínuo e persistente. Geralmente estão relacionados com litígios e ciúmes. O
marido recém-divorciado persegue o “namorado” novo da mulher. Contudo,
não existe namorado algum.

Reflita

Quando uma pessoa, portadora de esquizofrenia, comete um crime abre


debate sobre a periculosidade social. Muitos são internados em Hospital Psiquiá-
trico Judicial. Entretanto, muitas pessoas são contra e acreditam que de louco o
sujeito não tem nada e deve ser enclausurado na penitenciária. E você o que acha
desse debate? Pense sobre!

Considerações finais

Nesta unidade você aprendeu o conceito de saúde mental e as características


principais de uma mente considerada saudável. Também abordamos os princi-
pais transtornos mentais para a Psicologia Jurídica e para o Direito. Com essa
nova aprendizagem o profissional de Direito poderá compreender melhor os
comportamentos considerados normais e os patológicos. Poderá distinguir uma
conduta vindo de um sentimento delirante, por exemplo.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Conceitue saúde mental e suas características segundo os textos estudados.

2. Quais são os sintomas mais comuns do indivíduo dependente de drogas?

3. A esquizofrenia é um transtorno mental muito grave. Como pode reagir o indivíduo


em surto psicótico?

4. Em relação às parafilias explicite sobre a pedofilia e suas consequências.

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16 Perícias e
instrumentos de
avaliação
Me. Gisele Cristina Mascagna

Conhecer ferramentas de perícias e avaliação psicológica. Você es-

tudante vai aprender as técnicas e instrumentos utilizados pela Psicologia

Jurídica que contribui significamente no âmbito do Direito.

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UNIDADE 16

O Conselho Federal de Psicologia por meio da Resolução n°007/2003 insti-


tuiu o Manual de Elaboração de Documentos que podem ser produzidos pelo
profissional de Psicologia. Assim, conforme Trindade (2009, p.106), existem 5
modalidades de documentos produzido pelo psicólogo:

• Atestado Psicológico
• Declaração Psicológica
• Relatório Psicológico
• Laudo Psicológico
• Parecer Psicológico

Na prática da Psicologia tais documentos são utilizados frequentemente, po-


rém também pode ser requisitado para fins judiciais.

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UNICESUMAR

O Atestado Psicológico e a Declaração Psicológica é um documento que o


psicólogo atesta que o indivíduo está em tratamento psicológico e também pode
incluir, caso o sujeito tenha algum transtorno, o Cid-10 do mesmo. Assim, pode
ser juntado tal atestado aos autos de um processo.
O Relatório Psicológico já é um documento mais completo. Na clínica é uti-
lizado para registrar as sessões terapêuticas ou analíticas do diagnóstico do pa-
ciente. Já para fins judiciais o Relatório tem por finalidade contribuir e instruir
a decisão do juiz, advogados, promotores ou administrador. Por exemplo, o juiz
pode requerer do psicólogo de uma casa lar para crianças e adolescentes um
Relatório completo do fulano contendo diagnóstico, situação atual da criança,
comportamentos, relações com familiares e sociais/escolar e fotografia atual da
criança.
Os documentos mais utilizados pela Psicologia Jurídica são o Laudo Psicoló-
gico e o Parecer Psicológico (TRINDADE, 2009). Assim, veremos nos próximos
itens tais conceitos.

Laudo psicológico ou pericial

O Laudo pericial é um dos instrumentos mais requeridos no âmbito da com-


preensão da subjetividade de um réu ou uma vítima. O laudo pode ser utilizado
em autos de processos penal, civil e administrativo. O objetivo do laudo é auxiliar
a tomada de decisão judicial. O laudo não tem por finalidade absorver ou con-
denar ninguém, contudo subsidia sentença.
Diante do citado acima a responsabilidade do profissional de Psicologia em
caráter ético é de suma importância. Segundo Trindade (2009, p.106-107):
A palavra laudo, do latim laud-is, significa valor, mérito. Esse documento
serve para ajudar o juiz na sua difícil tarefa de julgar e deve ser apresentado de
forma clara e simples, não deixando de conter elementos essenciais tais como:

I)Identificação do sujeito avaliado;


II)Descrição da demanda e do ponto controvertido;
III)Técnicas e métodos utilizados na avaliação;
IV)Conclusão, da qual faz parte o diagnóstico, o prognóstico e os esclareci-
mentos relacionados à demanda;

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UNIDADE 16

V)Resposta dos quesitos, caso formulados pelo Juízo, pelo Ministério Público
ou pelos interessados processualmente legitimados. Quando o quesito não puder
ser respondido tecnicamente, deve ser considerado “prejudicado”.

O laudo serve para levantar o diagnóstico da condição psicológica do indi-


víduo ou da situação vivenciada. O psicólogo deve preservar a individualidade
e os limites da demanda. A conclusão deve ter uma coerência e o técnico deve
se atear a cientificidade. O paciente deve sempre receber as devidas orientações
e ter, de modo geral, uma devolutiva da conclusão do laudo.
Quando um juiz requer um laudo pericial é porque ele necessita de mais
dados substanciais da subjetividade do examinando ou da situação conflitante
para auxiliar na sua tomada de decisão. Mesmo diante de um laudo psicológico,
caso o juiz julgar necessário pedir outro para outro profissional de Psicologia, ele
poderá a qualquer momento solicitar outro diagnóstico já que o primeiro não
foi suficiente ou ficou “prejudicado”.

Sugestão de vídeo

Para compreender a importância dos laudos e da aplicação de testes psico-


lógicos assista ao filme estadunidense As Duas Faces de um Crime (1996) com
Richard Gere, Laura Linney e Edward Norton. O filme narra à história de um
advogado que, em nome dos holofotes, defende um rapaz acusado de assassinar
o arcebispo. Contudo, a trama vai desenrolar em um trilher psicológico no qual
acreditamos que para defender esse prisioneiro, primeiro o advogado deveria ter
pedido um parecer psicológico.

Leitura complementar

Para saber mais sobre Perícia Psicológica leia o livro de ROVINSKI, Sonia
Liane Riechert. Fundamentos da Perícia Psicológica Forense. São Paulo: editora
Vetor, 2003

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Parecer psicológico

O Parecer Psicológico, também obedecendo às normas do Conselho Federal


de Psicologia de 2003, tem por objetivo (TRINDADE, 2009, P.107):

Uma opinião técnica fundamentada acerca do ponto psicológico contro-


vertido, sobre o qual se solicita uma manifestação para auxiliar na tomada de
decisão. Sua finalidade é de esclarecimento, e seu destino é dirimir uma dúvida
sobre uma questão ou problema psicológico, como se fosse uma resposta a uma
consulta juridicamente formulada.

O parecer psicológico também deve conter alguns itens em sua estrutura para
uma boa fundamentação: um bom cabeçalho introduzindo no assunto; os mo-
tivos do questionamento; a análise detalhada dos fatos e das técnicas utilizadas;
posicionamento do profissional concluindo os fatos.
Quando um documento desses é solicitado pela parte interessada o profis-
sional de psicologia é denominado assistente-técnico. Já quando é solicitado pelo
juiz o profissional fica na condição de perito.
O sigilo profissional é o requisito primordial neste tipo de documento, além
dos quesitos éticos. Tais documentos sempre podem ser contestados pela outra
parte podendo contrapô-lo com outro parecer ou laudo. Outro fator importante
de se esclarecer é que o julgador não está adstrito ao documento, sendo de livre
arbítrio sua decisão. Entretanto, como ciência, a Psicologia Jurídica, na represen-
tação dos documentos requeridos pelo Direito, contribui na realização da justiça,
objetivo primordial do direito.

Diagnóstico

O diagnóstico tem como objetivo clarear a complexidade da subjetividade


humana. Cabe ao psicólogo, orientados pelos princípios éticos, a expressar com
clareza seus informes (Trindade, 2009).
Contudo, o diagnóstico dado em um determinado laudo ou parecer pode
conflitar ou deixar mais confuso o esclarecimento dos fatos. Assim, a análise deve
sempre conter precisão no diagnóstico ou na avaliação geral, já que o diagnós-

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UNIDADE 16

tico também pode ser questionado. O autor discorre que o diagnóstico deveria
ser evitado, pois tem vulnerabilidades e pode abrir espaço para estigmação do
sujeito analisado.

Reflita

O senhor fulano, pai de família honesto, com conduta exemplar em toda a


sociedade que vive, está sofrendo um processo criminal, uma vez que a professora
da escola alega que a filha do fulano lhe contou em segredo que o pai abusa dela.
Porém, a criança ao ser ouvida não consegue discorrer nada do caso e se cala.
Como resolver tal situação? Você acredita que o juiz deva solicitar a avaliação
psicológica fundamentada em testes para averiguar os fatos? Pense, reflita sobre!

Teste psicométricos

Os testes são ferramentas importantíssimas utilizadas pela psicologia de for-


ma geral. O teste contribui na avaliação psicológica (TRINDADE, 2009, p.110).

A avaliação psicológica, num sentido amplo, pode ser definida como um pro-
cesso integrado de investigação sobre o fenômeno psicológico, em suas diferentes
formas de expressão, que se estrutura em suas dimensões conceptual, metodo-
lógica, ética e relacional, delimitando um campo de competência profissional e
auxiliando em processos de tomadas de decisões.

Os testes são instrumentos que auxiliam na avaliação psicológica. O teste é


uma técnica privativa ao psicólogo, não podendo mais nenhum outro profissional
utilizá-la (§1° do art. 13 da Lei n° 4.119/62 do Conselho Federal de Psicologia).
Os testes medem características da personalidade e do comportamento do
indivíduo. Contudo, cada teste tem suas especificidades e serve para um tipo de
diagnóstico. Por exemplo, testes para medir o QI (quociente de inteligência) é
diferente do teste para medir a aprendizagem ou a personalidade.
Os testes psicométrico, de acordo com o Pasquali (2001) apud Trindade
(2009, p.111) apresenta a abordagem psicométrica contendo:

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•Objetividade
•Teoria da medida
•Necessidade de estatística
•Medida de atributos
•Tarefas estruturadas
•Estímulos definidos
•Apuração sem ambiguidade
•Padronização
•Respostas restritas
•Interesse no produto e não no processo

Tais testes se assentam na universalidade. Contudo, devemos ficar atentos a


fidedignidade, a confiabilidade e a precisão do teste. Por isso o Conselho Federal
de Psicologia avalia cada teste e o libera ou não para uso instrumental.
O produto, isto é, a resposta dada pelo avaliado é expressa em números e
observada. Por exemplo, os testes psicotécnicos para a obtenção da carteira de
motorista. Outro exemplo são os testes para medir o nível de aprendizado de
uma criança.
O teste psicométrico tem um rigor científico, preocupa-se com a objetividade.

Testes projetivos

Já o teste projetivo se preocupa com a subjetividade e singularidade do indi-


víduo. Um dos testes mais utilizados é o Teste de Rorschach. Neste teste o sujeito
olha para dez pranchas, individualmente, é diz o que vê nelas. Essas pranchas
possuem manchas de tinta impressa, sendo cinco preta e cinza e as outras colo-
ridas. Outro teste bastante utilizado em avaliações é o TAT (Teste de Apercepção
Temática), ou seja, é um teste projetivo no qual as pessoas formulam histórias a
cerca dos desenhos que está nas pranchas.
O teste projetivo é bastante criticado uma vez que adentra no âmbito emocio-
nal e subjetivo das pessoas. Por meio do teste o indivíduo expressa seus conteúdos
inconscientes não percebendo que está deixando transparecer conteúdos que
ele reprime. Mesmo que o sujeito saiba que o teste vai demonstrar conteúdos
inconscientes, não adianta ele tentar boicotar, conhecendo o teste antes, uma

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UNIDADE 16

vez que os projetivos como o próprio nome já diz, faz com o sujeito projete seus
conflitos para fora.
Citaremos alguns exemplos de testes psicológicos (psicométricos e projeti-
vos) para você ter um conhecimento a mais dos mesmos:

•Bateria de Raciocínio Diferencial –BRD: raciocínios, numérico, abstrato,


espacial, verbal e mecânico;
•Bender- Teste Gestáltico Viso-motor de Bender: coordenação visomotora,
desenvolvimento percepto-motor, percepção visual, habilidade motora manual,
etc.;
•Bateria de Funções Mentais para Motoristas BFM – 1: atenção difusa,
concentrada e de discriminação;
•Bateria de Funções Mentais para Motoristas BFM – 2 : memória;
•Bateria de Funções Mentais para Motoristas BFM – 3 : Raciocínio Lógico;
•Bateria de Funções Mentais para Motoristas BFM – 4 : Atenção concen-
trada;
•Escala feminina de autocontrole e escola masculina de autocontrole – EFA-
C&EMAC: autocontrole;
•The House-Tree- Person- HTP: personalidade;
•Escala de vulnerabilidade de estresse ao trabalho – EAP: orientação voca-
cional;
•Teste verbal de Inteligência: inteligência verbal; etc.;

São muitos os testes que não cabe aqui expô-los, contudo é importante pelo
menos saber quais estão validado pelo Conselho Federal de Psicologia, já que
sua utilização invalida a avaliação psicológica.

Saiba mais

Todos os testes aprovados pelo conselho Federal de Psicologia estão disponí-


veis no site www.pol.org.br. Consulte a lista e veja quais estão validados.
Deste modo, o parecer/ laudo psicológico e os testes são fundamentais para
auxiliar na tomada de decisão judicial. O profissional de psicologia deve se em-
basar na ética e no sigilo profissional para elaborar o documento requerido. Lem-

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brando que o objetivo não é suscitar a dúvida ou deixar o caso mais conflitivo,
mas contribuir para o fim único do direito: a justiça.

Considerações finais

Nesta unidade você aprendeu os conceitos de Pareceres e Laudos Psicoló-


gicos. Compreendeu sua relevância e os fatores éticos relacionados ao mesmo.
Abordamos os testes psicométricos e os projetivos. Por meio dos textos estudados
você aprendeu a importância da Psicologia Jurídica para o Direito.

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Após a leitura da Unidade, responda as questões abaixo:

1. Diante dos textos estudados qual é a finalidade do laudo e do parecer psicológico?

2. Qual a problemática envolvida em dar um diagnóstico no laudo?

3. Qual a diferença entre os testes psicométricos e os testes projetivos?

4. Diante do exposto na unidade você acredita que o parecer pericial contribui para a
tomada de decisão do juiz? Caso afirmativo por quê?

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CONCLUSÃO GERAL
Caro aluno,

Neste momento estamos tecendo breves conclusões sobre a disciplina minis-


trada Homem e Processo Civilizatório. Apresentamos as conclusões conforme a
ordem de cada unidade estudada.
Durante todo estudo você aprendeu que a antropologia é o estudo do homem
em diferentes culturas. Com tal definição é evidente que todo o estudo girou em
torno das concepções antropológicas. Também deve ter ficado claro que a antro-
pologia tem como campo de pesquisa todas as sociedades humanas, incluindo as
culturas, os períodos históricos, territórios geográficos e a biodiversidade.
Em relação à antropologia jurídica você aprendeu como ocorreu a história
da antropologia jurídica e as regras nas sociedades simples. Compreendeu que
a antropologia jurídica estuda as leis (regras) de sociedades distintas e compara
umas as outras.
A antropologia jurídica atual, além das sociedades consideradas primitivas,
estuda todas as formas de leis, incluindo as sociedades que possui Estado. Con-
cluímos que a diversidade de culturas no Brasil expõe a necessidade de estudos
antropológicos, mas que as diferenças culturais não justificam a violência e com-
portamentos prejudiciais às pessoas.
A cultura é um conceito que as pessoas utilizam diariamente, porém, sua
essência muitas vezes passa despercebida. No decorrer de nosso estudo, conhece-
mos que a cultura inclui crenças, artes, leis, costumes, moral e todo conhecimento
adquirido no seio da sociedade.
Também abordamos que vivemos em grupos e não somos capazes de viver-
mos isolados e nem conseguimos. Existem várias características dos grupos entre
elas o interesse coletivo comum e as hierarquias.
Você aprendeu que o indivíduo está inserido nas relações grupais, nos pro-
cessos de linguagem e nos processos de pensamento.
Caro estudante você já deve ter percebido que na área do Direito razão e
emoção são indissociáveis. Aqui você compreendeu que a razão surge do ato
de pensamento. O pensamento está diretamente relacionado com a linguagem.
Em relação às emoções você compreendeu que é um complexo de sentimen-
tos contendo questões somáticas, psíquicas e comportamentais. O pensamento é a
base para o raciocínio e para as soluções dos problemas diários e que as emoções
fazem parte do pensamento.

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UNIDADE 16

Para um aprofundamento da disciplina você aprendeu os conceitos de em-


patia e preconceito. Abordamos que a empatia é a capacidade de se colocar no
lugar do outro e de sentir junto com a pessoa.
Em relação ao preconceito você compreendeu que as bases cognitivas do pre-
conceito são os estereótipos. Estes são características que atribuímos as pessoas
ou a determinados grupos.
Quando falamos em empatia e preconceito outro termo que decorre do ulti-
mo é a violência. A violência traz em si a marca da agressão física e psicológica.
É uma prática que transgride as questões legais.
Você também aprendeu que existe a violência física e a psicológica. Nesta é
mais difícil à percepção, porém é que a deixa maior marca e a que causa maiores
transtornos mentais.
Neste sentido a Psicologia entra para contribuir com o Direito. Discorremos
que a Psicologia como ciência pode contribuir muito no direito na busca da
verdade e da justiça em processos judiciais.
A Psicologia Jurídica estuda vários conceitos, mas focamos nossos estudos
nos julgadores, nas vítimas e na psicologia do testemunho.
Em relação aos julgadores você aprendeu que as pessoas julgam de acordo
com a perspectiva sociocultural que adquiriu ao longo da vida. Você aprendeu
que a vítimas podem ser de várias características sendo: completamente inocente,
menos culpada que o delinquente, tão culpada quanto o delinquente, mais culpa-
da que o delinquente e vítima unicamente culpada. A psicologia do testemunho
é um dos principais temas iniciado pela Psicologia Jurídica em seus primórdios.
Aprendeu que há dois tipos de testemunho: o espontâneo e o por interrogatório.
Também abordamos nesta disciplina que o ser humano está em constantes
transformações. Resumidamente você compreendeu toda a transformação do
macaco em homem, desde a fabricação dos instrumentos, a aquisição do fogo e
da linguagem. Ficou claro que o homem ao transformar a natureza transformou
a si mesmo e que, por meio das objetivações e das apropriações dos produtos
elaborados ao longo da historia, pelos próprios homens, constitui sua psique e
seus comportamentos.
Em relação a psicologia do desenvolvimento você aprendeu como ocorre o
desenvolvimento psicológico durante a infância. Compreendeu que os aspectos
maturacionais não são determinantes no desenvolvimento da criança, principal-
mente nos aspectos comportamentais e de personalidade.

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UNICESUMAR

Dando continuidade à psicologia do desenvolvimento você aprendeu que


ser adolescente não é uma fase natural, mas construída pelos homens durante a
revolução industrial e que os comportamentos tidos como típicos da adolescência
não é natural, uma vez que são condutas que expressam uma época histórica.
Você compreendeu que, assim como os adolescentes, os adultos expressam
um período histórico e social e com isto seus comportamentos não são naturais,
mas construídos ao longo da vida. Ficou claro que a atividade dominante na vida
adulta é o trabalho. Já em relação a denominada “terceira idade” você aprendeu
que apesar de ser a última idade do homem, ele ainda está em desenvolvimento
psicológico e que sua mente ainda pode desenvolver.
Enfocamos um pouco mais os estudos sobre desenvolvimento e discorremos
sobre o desenvolvimento da personalidade com base na teoria psicanalítica. Você
compreendeu que todas as pessoas possuem características próprias de suas per-
sonalidades e que estas características podem mudar conforme as emoções que
o sujeito experienciar. Também abordamos alguns transtornos da personalidade
como a antissocial. Entre esses transtornos demos destaque à psicopatia devido
sua presença constante nos crimes.
Certamente as definições sobre saúde mental e transtornos mentais o ajuda-
ram a compreender a dinâmica complexa do ser humano.
E para finalizar nossos estudos você aprendeu a importância da perícia e dos
instrumentos de avaliação psicológica. Abordamos que o psicólogo pode realizar
vários documentos auxiliando na decisão judicial como o relatório psicológico,
no qual é pedido uma totalidade dos aspectos psicológicos e social do sujeito.
Assim, chegamos ao final de nosso estudo sobre Homem e Processo Civili-
zatório. Abordamos a totalidade do desenvolvimento humano desde a pré-histó-
ria aos dias atuais. Você aprendeu os aspectos sociais, culturais, antropológicos,
jurídicos e psicológicos do desenvolvimento humano desde a infância a idade
mais avançada.
Com certeza, você continuará na busca pelo conhecimento a respeito dos
temas desta disciplina, buscando cada vez mais a excelência e o comprometi-
mento em ampliar seus estudos a cerca das diversas áreas que se correlacionam
com o Direito.

Professora Me. Gisele Cristina Mascagna

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