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ORALIDADE E ENSINO: A PLAYLIST COMENTADA ENQUANTO

FERRAMENTA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

Maria Alice Almeida Sales do Nascimento1


Fernanda Alves Cavalcante 2
Francisco Mailson de Lima Cavalcante 3

RESUMO

O documento orientador da educação, Base Nacional Comum Curricular (2018), entende que um dos
objetivos das aulas de Língua Portuguesa é trabalhar com as diferentes práticas de linguagens.
Hodiernamente, os textos e gêneros que constituem essas práticas estão cada vez mais compostos por
vários modos, além de circundarem ambientes digitais. À vista disso, o eixo da oralidade deve ser
trabalhado na aula de língua materna e corresponde às práticas de linguagem que ocorrem em situações
orais. Uma das ferramentas que atua como estratégia para o desenvolvimento de habilidades e
competências orais é a playlist comentada. Este trabalho pretende apresentar uma prática pedagógica
em turmas do Ensino Médio em que utilizamos a playlist comentada como uma estratégia para o
desenvolvimento do eixo da oralidade, buscando, através dos usos sociais da escuta e da fala, valorizar
a cultura nordestina e denunciar problemas sociais típicos da comunidade. A intervenção foi realizada
numa escola estadual da zona rural de Caraúbas, em cinco turmas do Ensino Médio, sendo três turmas
da 1ª série e duas turmas da 2ª série. Os Resultados das experiências do Programa de Residência
Pedagógica demonstraram uma maior desinibição dos alunos nas práticas orais, conhecendo as
propriedades do texto falado, além de valorizar os ritmos das canções que permeiam sua cultura,
entendendo as denúncias relativas aos problemas sociais da seca presentes nos versos das músicas,
tornando o aluno um cidadão crítico e reflexivo que sabe agir através das práticas de linguagens,
incluindo a oralidade.
Palavras-chave: Ensino de oralidade, Língua Portuguesa, Playlist comentada, Intervenção Pedagógica.

INTRODUÇÃO

Percebemos que a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018) indica que o eixo
da oralidade deve ser trabalhado com o intuito de desenvolver nos alunos habilidades relativas
à fala e à escuta em contextos sociais e discursivos, sejam em situações formais ou informais,
nas palavras do documento:
O Eixo da Oralidade compreende as práticas de linguagem que ocorrem em
situação oral com ou sem contato face a face, como aula dialogada,
webconferência, mensagem gravada, spot de campanha, jingle, seminário,

1
Graduada pelo Curso de Letras–Português da Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA,
[email protected];
2
Graduada pelo Curso de Letras-Português da Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA,
[email protected];
3
Graduado pelo Curso de Letras-Português da Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA,
[email protected].
debate, programa de rádio, entrevista, declamação de poemas (com ou sem
efeitos sonoros), peça teatral, apresentação de cantigas e canções, playlist
comentada de músicas, vlog de game, contação de histórias, diferentes tipos
de podcasts e vídeos, dentre outras. (BRASIL, 2018, p. 78-79)

Nesse sentido, a playlist comentada é uma importante ferramenta para o


desenvolvimento das práticas de linguagem orais. Por permear a cultura digital, as tarefas
realizadas em sala de aula com a playlist comentada correspondem à pedagogia dos
multiletramentos que, de acordo com Rojo (2012), dizem respeito às multiplicidades presentes
em nossa sociedade, entre elas: “a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade
semiótica de constituição dos textos por meio dos quais ela informa e se comunica” (p. 13).
Práticas com a playlist comentada, assim como outras Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação (TDICs), apresentam vários modos semióticos em sua composição, bem como
valorizam a cultura dos educandos.
A playlist, em linha com Vergna (2020), corresponde a uma lista de reprodução de
música e pode ser construída conjuntamente. Dessa maneira, práticas em sala de aula que
possibilitam a criação de playlist relacionam-se com a ideia de coleção que, como proposto por
Rojo (2012), consiste em critérios particulares que formam nossas preferências. No caso da
música, cada educando tem um gosto musical próprio que emerge, muitas vezes, de sua cultura
e que pode ser agregado para a construção da playlist.
À vista disso, a playlist comentada apresenta, como o próprio nome diz, comentários
sobre cada música. Os apresentadores/comentaristas, por sua vez, justificam a escolha da
canção, fazendo interpretações e apresentando o contexto de produção, curiosidades sobre o
cantor, entre outros elementos, com o intuito de deixar a playlist harmônica e explicativa para
o ouvinte. Essa ferramenta possibilita o desenvolvimento do eixo da oralidade, um dos objetivos
do ensino de Língua Portuguesa.
A oralidade, segundo Marcuschi (2007, p. 33), “Compreende tanto a produção (a fala
como tal) quanto a audição (a compreensão da fala ouvida)”. Desse modo, a produção de
playlist está correlacionada diretamente com essa prática de linguagem. Porém, uma das
problemáticas na Educação Básica, doravante EB, é a não existência de práticas com gêneros
ou textos orais. Antunes (2008, p. 24) reflete que há “uma quase omissão da fala como objeto
de exploração no trabalho escolar''. Nós, como professores de língua, devemos trabalhar com a
oralidade, pois esta é requerida em várias situações de interações, sejam elas formais ou
informais.
Diante disso, o presente trabalho objetiva relatar uma prática pedagógica na qual foi
desenvolvida uma playlist comentada sobre a seca do Nordeste com o intuito de desenvolver
habilidades e competências relativas à oralidade, em turmas do Ensino Médio. Valorizando,
assim, a cultura, a arte, a história e a identidade dos educandos, que enquanto sujeitos sociais,
refletem sobre essa problemática tão recorrente em nossa região a partir das canções.
Para fundamentar a pesquisa, utilizamos estudos de Vergna (2020) e Ribeiro (2016)
sobre a utilização das Tecnologias digitais em sala de aula e sobre a playlist. Além disso, nos
apoiamos nos trabalhos de Rojo (2012), Gomes-Sousa e Lima-Neto (2020), Ferreira Junior e
Forte-Ferreira (2020), Antunes (2008) e Ferrarezi Júnior (2014) que refletem acerca da
oralidade e dos multiletramentos. Nas seções que seguem, mostraremos todo o percurso para a
realização da ação pedagógica e os resultados dessa intervenção usando a playlist comentada.

METODOLOGIA
Nossa pesquisa é de classificação aplicada, possuindo uma abordagem qualitativa
através de uma pesquisa-intervenção, que em linha com Rocha (2003, p. 67), diz respeito a
“uma certa concepção de sujeito e de grupo, de autonomia e práticas de liberdade e a de ação
transformadora”. É ancorada nos pressupostos de (MARCUSCHI, 2007; ANTUNES, 2008;
FERRAREZI JÚNIOR, 2014), uma vez que desenvolvemos nas aulas de Língua Portuguesa,
um estudo sobre o gênero playlist comentada, através de uma perspectiva multimodal e
multissemiótica.
Com o objetivo de apresentar uma prática pedagógica em turmas do Ensino Médio,
utilizando a playlist comentada como uma estratégia para o desenvolvimento da oralidade, a
intervenção ocorreu nas turmas da 1ª e 2ª série do Ensino Médio, da Escola Técnica Integral
Almiro de França Silva, localizada na zona rural de Caraúbas-RN. Percebendo a necessidade
de se trabalhar a oralidade como um produto constituído por diversos modos e semioses, a
atividade desenvolveu-se mediante as seguintes oficinas: I- apresentação do projeto; II- a
importância da música e exemplo de playlist; III- playlist comentada; IV- escolha de música
para a playlist; V- produção do roteiro escrito; VI- produção da playlist comentada; VII-
culminância do projeto de letramento.
Sendo assim, iniciamos o trabalho por meio da apresentação do projeto, em que
pudemos observar as preferências/identificação dos gêneros musicais dos alunos. Nosso
objetivo nessa etapa era conhecer os nossos alunos, observando as canções que fazem parte da
sua coleção, pois, é necessário que o professor saiba as peculiaridades de sua turma para que
seu trabalho seja desenvolvido em sala de aula. Após isso, discutimos sobre a importância,
considerando o contexto cultural, social e histórico do aluno: o sertão nordestino.
A partir de então, direcionamo-nos para o momento do trabalho com o gênero playlist
comentada, através de uma aula síncrona, enfatizando sempre que as playlists são produções
encontradas frequentemente em diversos ambientes digitais, possuindo contextos de produção,
estrutura composicionais e propósitos específicos, apresentando-a como um gênero
multimodal. No quarto momento foi feita uma roda de conversa virtual para selecionarmos as
canções que iriam compor a playlist. Em seguida, os alunos produziram o roteiro escrito para
guiar os comentários, com as orientações dos educadores. Na sexta oficina, os discentes
realizaram a produção da playlist comentada. E no último momento, ocorreu a culminância do
projeto de letramento, no qual foi apresentada a playlist comentada.
Sendo assim, desenvolvemos as atividades em um período de sete encontros/oficinas
(síncronas e assíncronos). Como exposto, em virtude da pandemia da COVID-19, as atividades
aconteceram com o auxílio das tecnologias digitais, como os aplicativos Google Meet e
WhatsApp.

REFERENCIAL TEÓRICO
O ensino de Língua Portuguesa possui como finalidade, em linha com Bezerra (2019,
p. 308), o “desenvolvimento de habilidades relativas à leitura e à escuta, à escrita e à fala,
mobilizando os gêneros como estratégias para alcançar esse fim”. Nesse sentido, o gênero
playlist comentada atua como estratégia para o desenvolvimento da fala e da escuta. Pensando
no ensino da oralidade, que diz respeito aos usos sociais da fala e da escuta, muitas vezes, nas
aulas de língua materna as práticas de leitura e escrita são privilegiadas, já a fala passa a ser
vista como informal, não planejada ou até como uma espécie de dom, ocupando pouco espaço
para o trabalho com os gêneros orais. O papel da escola é trabalhar com o letramento (leitura e
escrita) e com a oralidade (fala e escuta), não devendo haver predileção de uma em detrimento
da outra.
Ferreira Junior e Forte-Ferreira (2020) entendem que a unilateralidade no ensino é uma
problemática, pois, nas palavras dos autores “Pensar a língua neste sentido é desprezar a sua
complexidade e ignorar a sua função dentro dos mais variados processos interativos em diversas
situações de comunicação que podem ser formais ou informais” (p. 14).
Nas aulas de Língua Materna, o ensino da oralidade deve, segundo Ferreira Junior e
Forte-Ferreira (2020) “criar possibilidades de uso da língua em diversos contextos para que o
aluno compreenda quando e onde usar os diferentes níveis de linguagem necessários à sua
prática comunicativa”. Nesse sentido, percebemos que nossa intervenção pedagógica buscou
trabalhar com a oralidade através de ferramentas digitais que fazem parte da vivência de nossos
alunos, ou seja, através de uma atividade significativa, em que os educandos percebam a
importância do planejamento e monitoramento da fala em situações comunicativas.
O trabalho com a playlist comentada além do desenvolvimento da oralidade também
segue o viés dos multiletramentos, para Gomes-Sousa e Lima-Neto “ Temos nós, professores,
a responsabilidade de também multiletrar”. Desse modo, os multiletramentos devem estar
presentes em nossas práticas pedagógicas, pois:
Multiletrar é, portanto, buscar desenvolver cognitivamente nossos alunos,
uma vez que a nossa competência genérica se constrói e se atualiza através das
linguagens que permeiam nossas formas de produzir textos. Assim, as práticas
de multiletramentos devem ser entendidas como processos sociais que se
interpõem em nossas rotinas diárias (DIONÍSIO, 2014, p. 41 apud GOMES-
SOUSA E LIMA-NETO, 2020, p. 114).
Nesse contexto, os textos produzidos no nosso mundo contemporâneo cada vez mais
estão sendo mediados pelas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs),
Vergna (2010) expõe que:
As pessoas estão a todo instante estabelecendo comunicação, e os textos fazem
parte da vida delas, pois são frutos das demandas sociais. Atualmente, tem-se
visto que as práticas de linguagem estão sendo mediadas pela utilização das
tecnologias de informação e comunicação, envolvendo, com isso, práticas que
se utilizam de novos gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e
multimidiáticos. A BNCC considera que esses gêneros são próprios da cultura
digital e da cultura juvenil (p. 48).

A playlist comentada é um desses gêneros próprios da cultura digital, e por isso, ainda
é um desafio seu trabalho em sala de aula, em linha com Cordeiro (2016 apud RIBEIRO, 2016,
p. 95) temos a seguinte indagação: “por que os professores se tornaram socialmente usuários
das TDICs, mas não as empregam na escola, em suas aulas ou em seus programas de curso? ”
Nossa ação pedagógica também objetivou mostrar que os gêneros que circulam em ambientes
digitais contribuem em um ensino e aprendizagem significativos aos nossos alunos.
Esse trabalho com a playlist comentada possibilita uma valorização da cultura dos
alunos, principalmente, em sociedades tão globalizadas, em que a mistura de ritmos e músicas
cada vez mais se confundem. Como indica Rojo (2012, p. 14) “Vivemos, já pelo menos desde
o início do século XX (senão desde de sempre), em sociedades de híbridos impuros,
fronteiriços”. A escola, como instituição dos letramentos, deve proporcionar ao aluno vivências
como essas, com produções que despertam o protagonismo e valorizam a coleção de cada
educando. Rojo (2012), ainda, indica que:
No caso brasileiro, em nossas salas de aula, essa mistura de culturas, raças e
cores não constitui constatação tão nova, embora passe o tempo todo quase
totalmente despercebida ou propositadamente ignorada (p. 15).

A música também é uma forma de mostrar esse misto de ritmos que circundam em nossa
cultura e nos constituem como partes de uma comunidade, abrindo fronteiras para pertencermos
a outras sociedades. Antunes (2008) aponta que na aula de português, a oralidade deve ser
considerada de forma a englobar os diversos “gêneros de discursos orais” (p. 102). A playlist
comentada proporcionou o conhecimento de um gênero oral, mostrando também que a fala não
é homogênea, e que como a escrita, também se adapta ao contexto comunicativo e ao público-
alvo.
Desse modo, a criação da playlist comentada é vista como uma importante ferramenta
para o desenvolvimento de competências orais, além de proporcionar um trabalho com as
TDICs, viabilizando, assim, práticas da pedagogia dos multiletramentos. À vista disso, como
indica Ferrarezi Jr (2014, p. 69) devemos “integrar o ouvir como falar”, justamente a proposta
da experiência aqui retratada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Explanaremos, nesta seção, os resultados obtidos através da nossa intervenção, ou seja,
das oficinas, bem como a atuação dos alunos em relação a produção de um gênero oral,
desenvolvendo as habilidades de fala e escuta.
Oficina 1: apresentação do projeto e divisão dos grupos

Nesse encontro síncrono, apresentamos o projeto de letramento, bem como seus


objetivos, em seguida, alguns alunos manifestaram interesse, através do formulário google, de
participar do grupo da música. Posteriormente, apresentamos o cronograma com as atividades
de cada oficina.
Esta oficina possibilitou conhecermos mais sobre nossos alunos, gostos e preferências.
O formulário google foi uma ferramenta muito relevante para essa prática e pretendemos
utilizá-la em outras atividades, proporcionando um maior protagonismo juvenil. Para esse
encontro expositivo/dialogal produzimos um material com slides que foram disponibilizados
pelos alunos posteriormente também no WhatsApp, como apresentado na figura abaixo.
Figura 1: material com a apresentação do projeto e formulário google

Oficina 2: a importância da música e exemplo de playlist nordestina

Nesse dia, de forma síncrona, através do Google Meet, montamos uma roda de conversa
virtual sobre a música, os alunos puderam expor seus estilos musicais preferidos, além de
mostrar a importância e a subjetividade da música para cada um. Em seguida, disponibilizamos
um exemplo de playlist vinculada na plataforma Youtube com músicas nordestinas, os alunos
tiveram um tempo para ouvir e, em seguida, opinar sobre cada uma delas. Nesse momento,
perguntamos se eles conheciam o conceito de playlist e se as ouviam em ferramentas digitais,
todos os alunos mostraram conhecer e ouvi-las em seu dia a dia.
A partir dessa atividade, pudemos desenvolver a escuta, um dos elementos integrantes
da oralidade. Em Linha com Ferrarezi Jr. (2014) ouvir é “adotar uma postura social e conhecer
o tema que se ouve” ações necessárias para a construção e seleção das músicas da playlist.
Figura 2: Material sobre a importância da música e playlist com músicas nordestinas.

A figura apresentada anteriormente demonstra todo material utilizado na oficina, nesse


sentido, vemos que o apoio das TDICs foi fundamental para que os alunos pudessem ter contato
com o gênero, além de tornar a aula mais dinâmica.

Oficina 3: discussão sobre a ferramenta playlist comentada

Em um momento síncrono, foi feita a exposição da ferramenta playlist comentada.


Primeiramente, mostramos um exemplo de playlist comentada, vinculada no youtube com o
título “racismo não é vitimismo”, e pedimos que os alunos expusessem as suas principais
características. Todos eles perceberam que havia vários participantes que dialogavam e
interpretavam as músicas de forma oral, em seguida, mostramos detalhadamente as
especificidades da ferramenta. A seguir, vemos o exemplo de playlist comentada que guiou essa
etapa da oficina.

Figura 3: Exemplo de playlist comentada


No fim da aula, orientamos os alunos que escolhessem músicas nordestinas que
retratavam/denunciavam a seca, para que no próximo encontro fosse possível começar a pensar
na playlist que seria produzida por eles. Percebemos que os educandos se mostraram bastante
ativos e reflexivos na aula, expondo seus pontos de vista, além de estarem muito comprometidos
com a realização da atividade.
Essa prática permitiu que nós, professores em formação, pudéssemos nos identificar
com a cultura nordestina, que também fazemos parte. Através das músicas escolhidas pelos
alunos foi possível reafirmar nossa identidade cultural, histórica, política e social.

Oficina 4: escolha de música para a playlist


Em um encontro síncrono, os alunos mostraram a seleção de músicas que haviam
pensado. Nesse sentido, houve um diálogo e foi decidido que playlist comentada iria contar
com cinco músicas, sendo elas: Asa Branca (Luiz Gonzaga), A Seca (Alceu Valença), Romance
no Deserto (Fagner), Súplica Cearense (Fagner) e Chuva de Honestidade (Flávio Leandro). Em
seguida, dividimos as tarefas de cada integrante do grupo: havendo um apresentador, cinco
comentaristas e dois na edição do vídeo com a playlist. Em seguida, apresentamos um modelo
de roteiro escrito. Nessa oficina, percebemos que nossos alunos além de estarem bastante
envolvidos na atividade, atuavam como cidadãos críticos, ao escolherem músicas que
denunciavam a problemática social da seca. Além disso, nossos alunos viam a arte como aliada
para expor problemas sociais.

Oficina 5: produção do roteiro escrito

Essa oficina foi desenvolvida de forma assíncrona, os alunos produziram a 1º versão do


roteiro escrito que guiou a produção da playlist comentada sobre cada música, em seguida, o
roteiro foi compartilhado conosco, para que pudéssemos indicar possíveis alterações nos
comentários, na estrutura ou ordem. E assim, eles produziram uma 2º versão com todas as
alterações necessárias.
Mostramos para os alunos que o roteiro é uma parte muito importante, e assim, eles
puderam ver que a fala também pode ser planejada e que seu léxico deve ser pensado,
principalmente, em algumas situações de interação. Segundo Antunes (2008, p. 25) ainda há na
escola uma generalização do trabalho com a fala, e por isso, é necessário mostrar ao educando
que existem gêneros orais “que pedem registros mais formais, com escolhas lexicais mais
especializadas e padrões textuais mais rígidos”. A seguir, apresentamos o roteiro que orientou
a produção da playlist comentada.

Figura 4: roteiro escrito produzido pelos alunos

Oficina 06: produção da playlist comentada


Nesse encontro os alunos produziram a gravação da playlist comentada Os Sons da Seca
e editaram o vídeo, logo após, foi enviada para nós, educadores em processo formativo, e para
os professores do projeto para que pudéssemos avaliar a produção. Em seguida, os alunos
fizeram alguns ajustes e enviaram a versão final da playlist comentada, para que fosse exposta
no momento de culminância do projeto.

Encontro 07: culminância do projeto de letramento

Nesse dia, na sede da escola, seguindo os protocolos de segurança contra a COVID-19,


os alunos participaram do momento de culminância do projeto, com locais tematizados, cada
grupo pôde expor sua produção. Uma representante do grupo de música contou a experiência
de produzir a ferramenta, e em seguida, foi exibida a versão final da playlist comentada OS
SONS DA SECA para os demais alunos.

Figura 5: versão final e exposição da playlist comentada na atividade de culminância

Todas essas atividades aconteceram em diálogo, com o intuito de cumprir com os


objetivos do nosso relato, viabilizando um ensino de oralidade que siga uma perspectiva dos
multiletramentos e que valorize a utilização de gêneros vinculados às Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação (TDICs).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta pedagógica apresentada neste artigo, muito contribuiu em nossa formação
docente, sendo possível, ainda na graduação, termos a experiência de levarmos para a educação
básica um ensino crítico de língua, baseado na construção cidadã. A partir da playlist comentada
foi possível entender as tecnologias digitais como aliadas da educação, além de promover um
trabalho com a oralidade, modalidade que, ainda hoje, é pouco explorada nas aulas de Língua
Portuguesa.
O momento pandêmico em decorrência da COVID-19, afetou diretamente o ambiente
educacional, realizar um projeto de letramento nesse contexto, foi um desafio, mas com
atividades significativas que levam em conta as práticas discursivas da língua e com a medição
das Tecnologias Digitais da Informação e comunicação (TDIC), conseguimos cumprir com os
objetivos propostos no trabalho, tornando o ensino e a aprendizagem um momento de
construção do aluno em um ser político, social e histórico. Ademais, pudemos ir nos
construindo no processo contínuo de tornar-se professor, tendo em vista que, são essas
experiências que nos compõem para nos reconhecermos como educadores.
O programa de Residência Pedagógica, proporciona a construção da práxis educacional.
Essa aplicação e inserção dos saberes teóricos na prática em sala de aula, a partir de experiências
como a que foi relatada aqui, contribui para que tenhamos uma relação de diálogo entre
universidade e educação básica. Segundo Fontoura (2017, p. 125):

Por apostarmos na relação universidade-escola básica, desenvolvemos um trabalho


que acolhe docentes em formação como sujeitos de seus saberes e fazeres, plenos de
vivências anteriores ao ingresso na formação formal, e que podem refletir sobre
experiências e crenças com vistas a fortalecer sua docência, permanecendo nela por
convicção e prazer.
Nesse sentido, a experiência nos permitiu vivências muito significativas em sala de aula.
Pudemos, inclusive, com o trabalho da playlist comentada, conjuntamente com nossos alunos,
nos colocarmos como seres sociais e críticos de problemática social, além de conhecermos mais
sobre a cultura, história e identidade de nosso povo nordestino. A ação pedagógica, nos
possibilitou, ainda, experienciar a prática de uma pedagogia dialógico-crítica, que, segundo
Morais (1996, p. 116 apud BRAHIM, 2007, p. 13) “ é a pedagogia que traz a possibilidade para
as vozes serem ouvidas em uma consciência social”. O papel do professor nessa prática,
segundo Brahim (2007, p. 13) é “conduzir o aluno a uma dimensão crítica e criativa no processo
de ensino-aprendizagem, que deve estar ligado às suas próprias experiências e formação
cultural”. Sendo assim, as atividades relatadas neste trabalho, viabilizaram nossa construção
profissional ainda na graduação.

REFERÊNCIAS

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Editorial, 2008. 186 p.

BEZERRA, G. B. Algumas teses sobre gênero na relação com texto e discurso. Anais do
1º ERELIP. Arco Verde, 2019, p. 300-311.
BRAHIM, Adriana Cristina S. de Mattos. Pedagogia crítica, letramento crítico e leitura
crítica. Revista X, Paraná, v. 0, n. 1, p. 11-31, jan. 2007.

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http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 29 mar. 2021.

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