Peirce
Peirce
Peirce
Peirce
WANNER, MCA. Paisagens sígnicas: uma reflexão sobre as artes visuais contemporâneas [online].
Salvador: EDUFBA, 2010. 302 p. ISBN 978-85-232-0672-7. Available from SciELO Books
<http://books.scielo.org>.
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1 Collected Papers são manuscritos de estudos peircianos, ao todo somam 90 mil, que se encontram
sob os cuidados do Departamento de Filosofia da Universidade de Harvard. Esta universidade
publicou, em 1931-35 e 1958, os seguintes volumes: I – Princípios da Filosofia; II – Elementos de
Lógica; III – Lógica Exata; IV – A mais simples Matemática; V – Pragmatismo e Pragmaticismo; VI –
Ciência Metafísica; VII – Ciência e Filosofia; e VIII – Comentários, Correspondência e Bibliografia.
Disponível em: <http://www.hup.harvard.edu/catalog/PEICOA.html>. Acesso em: 2007.
2 Usaremos a referência CP para indicar Collected Papers de Charles Sanders Peirce, por exemplo –
CP 3.362, o primeiro número corresponde ao volume e os demais ao parágrafo.
FILOSOFIA
1. Fenomenologia
2. Ciências Normativas
2.1. Estética
2.2. Ética
2.3. Lógica ou Semiótica
2.3.1. Gramática Pura
2.3.2. Lógica Crítica
2.3.3. Metodêutica
3. Metafísica.
Fenomenologia
As faculdades que devemos nos esforçar por reunir para este tra-
balho são três. A primeira e a principal é aquela rara faculdade, a
faculdade de ver o que está diante dos nossos olhos, tal como se
apresenta sem qualquer interpretação.[...] Esta é a faculdade do
artista que vê, por exemplo, as cores aparentes da natureza como
elas se apresentam.
Estética
Como nos diz Santaella (2000a, p. 188-189), “[...] Peirce foi buscar no kalós
grego, algo que toda alma vagamente deseja e muito mais vagamente
percebe – um ideal admirável, tendo a única forma de excelência que uma
idéia desse tipo pode ter: a excelência estética”.
A noção de estética vem da Grécia, quando esse termo estava associa-
do à relação do homem com a natureza. Somente a partir de meados do
século XVIII, aproximadamente nos anos de 1750, a estética aparece como
ciência através de Alexander Gottlieb Baumgarten. Diante do exposto, não
deve causar nenhum estranhamento o significado atribuído por Peirce a
esse termo — admirabilidade —, ideal, como vamos verificar em Santaella
(2000a, p. 13):
Peirce não deixou nenhum tratado sobre estética. Mas, não obs-
tante tenha, quando jovem, estudado, com muito cuidado e paixão,
as cartas Sobre a Educação Estética da Humanidade de Johann
Ética
A ética determina a lógica através da análise dos fins aos quais esses meios
se dirigem; a estética determina a ética ao definir qual é a natureza de um
fim que seja em si mesmo admirável e desejável em quaisquer circuns-
tâncias, independentemente de qualquer outra espécie de consideração.
Em Peirce (2005), a ética e a lógica são subsidiárias da estética, visto que
a ética recebe seus princípios básicos da estética. Assim, a ação deve ser
baseada em atos admiráveis (e, portanto, controlados por esse princípio),
remetendo mais uma vez ao summum bonum.
Nas palavras de Peirce (CP 2.199), é possível ter uma noção mais
adequada dessa associação entre a ética, a estética e a lógica. Vejamos:
Lógica ou Semiótica
A semiótica concebida por Peirce, que tem sua origem durante o período
correspondente ao final do século XIX e início do século XX, é conside-
rada uma ciência dentro de uma obra filosófica arquitetônica, conforme
ilustrado através do quadro elaborado por esse filósofo, já apresentado.
Santaella (1983, p. 7) assinala que o termo “semiótica vem da raiz grega
semeion, que quer dizer signo”. Devido à sua constituição — e sendo por
definição a ciência que estuda todos os tipos de signo —, a semiótica pode
ser aplicada amplamente em estudos de várias áreas. Conforme a referida
autora, “semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as
linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de
constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e
de sentido”. (SANTAELLA, 1983, p. 13)
Vamos encontrar outras definições em Nöth (1995a, p. 19), que assegura
que “a semiótica é a ciência dos signos e dos processos significativos (semio-
se) na natureza e na cultura”, o que vem reforçar o nosso entendimento de
que dentro dessa ampla possibilidade de abrangência, encontram-se as artes
visuais, que, por serem uma linguagem não-verbal e também signo, podem
ser analisadas através dessa ciência e dos seus meios de representação.
Signo
Isto porque vivemos num mundo povoado cada vez mais por signos, a tal
ponto que, ainda segundo essa autora, se Peirce tivesse vivido neste século,
teria se surpreendido com os avanços semióticos, provocados pela própria
característica de nossa era, do milênio digital das máquinas inteligentes.
Objeto
Desse modo, podemos dizer que “o objeto é tudo que pode ser
expresso por um signo, todavia, é em virtude da diversidade irredutível
entre signo e objeto que Peirce introduz a noção de experiência colateral
com aquilo que o signo denota, ou representa, ou se aplica, isto é, seu
Uma progressão regular de um, dois, três pode ser observada nas
três ordens de signos, Ícone, Índice e Símbolo. O Ícone não tem
conexão dinâmica alguma com o objeto que representa; simples-
mente acontece que suas qualidades se assemelham às do objeto e
excitam sensações análogas na mente para a qual é uma semelhança.
Mas, na verdade, não mantém conexão com elas. O Índice está
fisicamente conectado com seu objeto; formam, ambos, um par
orgânico, porém a mente interpretante nada tem a ver com essa
conexão, exceto o fato de registrá-la, depois de ser estabelecida.
O Símbolo está conectado ao seu objeto por força da idéia da
mente-que-usa-o-símbolo, sem a qual essa conexão não existiria.
(PEIRCE, 2005, p. 73)
Metafísica
Pragmatismo e Semiose
De acordo com Ivo Ibri,3 a filosofia da natureza teve seu maior expoente
no filósofo alemão Friedrich Wilhelm Joseph Von Schelling, que reconstrói
uma filosofia na Alemanha de explosão do Romantismo, na passagem do
século XVIII ao século XIX. Schelling recorria à ideia de vida, de paixão, de
inspiração e de beleza, contrariando o conceito de uma visão de mundo
mecanicista; um mundo que desde o século XVI fora concebido como um
mundo mecânico. Nesse momento, Schelling vai presentear os seus amigos
poetas com a experiência maravilhosa de contemplar, atribuir vida onde
há vida, inspirado nos gregos que povoaram a natureza de deuses porque
eles a enxergaram como destino de vida, de inteligência e de aperfeiçoa-
mento. Geneticamente, para Schelling, a natureza é rica em diversidade,
em qualidade, em assimetria, diferentemente de um mundo estritamente
com leis mecânicas. Porém, em termos de qualidade, não há repetição,
visto que todos os dias o sol se põe, a cada dia o pôr do sol é diferente e
essa qualidade não se repete, a natureza é uma celebração. O sentido da
palavra natureza, no entanto, já mostra a particularidade do pensamento de
3 Anotações das aulas do professor Dr. Ivo Assad Ibri, na disciplina “Filosofia: um diálogo entre
Schelling e Peirce”, ministrada na PUC/São Paulo, no segundo semestre de 2007.
4 Anotações das aulas do professor Dr. Ivo Assad Ibri, na disciplina “Filosofia: um diálogo entre
Schelling e Peirce”, ministrada na PUC/São Paulo, no segundo semestre de 2007.