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Diego Zapelini do Nascimento1, Izadora Costa Miró2, Jackssiane Ávila de Souza Gonçalves3
Gabriela Moreno Marques4, Ana Luisa Oenning Martins5
RESUMO
Introdução: Quando a sífilis é diagnosticada ainda no pré-natal, torna-se possível estabelecer uma estratégia de prevenção para a
sífilis congênita. Em situações especiais, esta detecção é feita através do teste não treponêmico (VDRL), ou ainda por teste rápido
imunocromatográfico. O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de sorologia positiva do teste VDRL em gestantes, bem
como a realização do teste rápido imunocromatográfico, por meio da análise de registros da carteira de pré-natal e registros de testes
rápidos imunocromatográficos em um hospital de referência do Sul do Brasil, o Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), no
ano de 2015. Métodos: Estudo epidemiológico de delineamento transversal. A coleta de dados foi realizada no período compreen-
dido entre agosto a setembro de 2017. Nos procedimentos do estudo foram coletados os dados de VDRL nas carteiras de pré-natal
pelo sistema TASY® e registros de execução do teste rápido imunocromatográfico pelo livro disponibilizado no setor de obstetrícia
referente ao ano de 2015. Resultados: Das 2.367 gestantes analisadas no HNSC, 29 (1,2%) apresentaram resultado positivo para o
teste de triagem para a sífilis, o VDRL, durante a gestação. No ano de 2015 foram realizados 61 testes rápidos imunocromatográficos,
com quatro resultados positivos (6,5%) de gestantes encaminhadas ao hospital para parto sem dados e exames feitos no pré-natal.
Conclusões: A partir dos resultados deste estudo, sugere-se que sejam realizadas análises epidemiológicas constantes referentes à
sífilis congênita, principalmente a partir da introdução dos testes rápidos imunocromatográficos em hospitais.
PALAVRA-CHAVE: Sífilis, Sífilis congênita, Sorodiagnóstico da sífilis, Imunocromatografia, Infecções por treponema
ABSTRACT
Introduction: When syphilis is diagnosed prenatally, it becomes possible to establish a prevention strategy for congenital syphilis. In special situations, this
detection is done through the non-treponemal test (VDRL), or even through the rapid immunochromatographic test. The aim of this study was to verify the
prevalence of positive serology of the VDRL test in pregnant women, as well as rapid immunochromatographic testing, through the analysis of prenatal
care records and rapid immunochromatographic test records in Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), a reference hospital in Southern Brazil,
in 2015. Methods: Cross-sectional epidemiological study. Data collection was carried out in the period from August to September 2017. In the study
procedures, VDRL data were collected from prenatal care cards through the TASY® system and rapid immunochromatographic testing records from the
book available in the obstetrics sector for the year 2015. Results: Of the 2,367 pregnant women analyzed at HNSC, 29 (1.2%) had a positive result
1
Graduado em Farmácia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) - (Mestre em Ciências da Saúde e Doutorando em Ciências da Saúde
no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unisul).
2
Graduada em Farmácia pela Unisul (Farmacêutica)
3
Graduada em Farmácia pela Unisul (Farmacêutica)
4
Graduada em Psicologia pela Unisul (Mestranda em Ciências da Saúde no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unisul)
5
Mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unisul (Professora Titular do Curso de Farmácia da Unisul)
for VDRL, the screening test for syphilis, during pregnancy. In 2015, 61 rapid immunochromatographic tests were carried out, with four positive results
(6.5%) of pregnant women referred to the hospital for delivery without data and tests performed in the prenatal period. Conclusions: Based on the results
of this study, it is suggested that constant epidemiological analyses be carried out regarding congenital syphilis, especially after the introduction of rapid im-
munochromatographic tests in hospitals.
103.674 habitantes (11). Segundo dados do Departamento Tabela 1. Idade das gestantes pesquisadas com sorologia positiva no
de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), VDRL (n=29)
sífilis congênita, principalmente a partir da introdução do lência de sífilis na gestação e testagem pré-natal: Estudo Nascer no
teste rápido em hospitais. Além disso, é necessário qualifi- Brasil. Rev Saúde Pública. 2014; 48(5):766-774.
14. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Pro-
car ainda mais as ações voltadas à detecção, ao diagnóstico grama Nacional de DST e Aids. Diretrizes para o Controle da Sífilis
e ao tratamento da sífilis no pré-natal que envolva, além das Congênita. Brasília: Ministério da Saúde; 2005.
gestantes, também suas parcerias sexuais. 15. Souza WN, Benito LAO. Perfil epidemiológico da sífilis congênita
no Brasil no período de 2008 a 2014. Universitas: Ciências da Saúde.
2016; p. 97-104.
CONCLUSÃO 16. Szwarcwald CL, Junior AB, Miranda AE, Paz LC. Resultados do
estudo sentinela-parturiente, 2006: desafios para o controle da sí-
filis congênita no Brasil. Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente
No presente estudo, a sorologia positiva para o teste Transmissíveis. 2007; p. 128-133.
VDRL teve uma prevalência de 1,2%, índice muito próxi- 17. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Pro-
mo aos dados nacionais dos casos de sífilis na gestação, que grama Nacional de DST e Aids. Diretrizes para o Controle da Sífilis
Congênita. Brasília (DF), 2005.
são de aproximadamente 1%. Esses dados demonstram que 18. Padovani C, Oliveira RR de, Pelloso SM. Syphilis in during pregnan-
a realização do teste VDRL realmente está relacionada com cy: association of maternal and perinatal characteristics in a region
o diagnóstico da sífilis, apesar de este não ser o teste confir- of southern Brazil. Rev Lat Am Enfermagem. 2018;26(1):1-10.
19. Miranda AE, Filho ER, Trindade CR, Gouvêa GM, Costa DM, Oli-
matório, e sim o FTA-ABS. Com relação à implementação veira TG, et al. Prevalência de sífilis e HIV utilizando testes rápidos
dos testes rápidos imunocromatográficos específicos para a em parturientes atendidas nas maternidades públicas de Vitória, Es-
sífilis, foram feitos apenas 61 testes, sendo que quatro foram tado do Espírito Santo. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
positivos (6,5%). Desse modo, percebe-se que essa implemen- Tropical. 2009; 42(4):386-391.
20. Peeling RW, Htun Ye. Diagnostic tools for preventing and mana-
tação dos testes rápidos para sífilis ainda está em andamento gement maternal and congenital syphilis: and overview. Bulletin of
e, por isso, exige um grande esforço de vários departamentos World Health Organization 82:439-446, 2004.
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precoce e se assegurar o tratamento durante a gestação, sendo município do Sul do Brasil. Rev Bras Med Família e Comunidade.
que a utilização de testes rápidos imunocromatográficos tem 2018;13(40):1-8.
se demonstrado eficaz na abordagem de gestantes que não 22. Nurse-Findlay S, Taylor MM, Savage M, Mello MB, Saliyou S, La-
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retrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com infecções (48) 3621-3334
sexualmente transmissíveis. Brasília, 2015. diegozapnasc@gmail.com
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