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ARTIGO ORIGINAL

Diagnóstico precoce da sífilis em gestantes: Prevalência de


sorologia positiva do teste VDRL e realização do teste rápido
imunocromatográfico em um hospital do Sul de Santa Catarina
Early diagnosis of syphilis in pregnant women: Prevalence of positive VDRL test serology and
rapid immunochromatographic testing in a hospital in southern Santa Catarina

Diego Zapelini do Nascimento1, Izadora Costa Miró2, Jackssiane Ávila de Souza Gonçalves3
Gabriela Moreno Marques4, Ana Luisa Oenning Martins5

RESUMO

Introdução: Quando a sífilis é diagnosticada ainda no pré-natal, torna-se possível estabelecer uma estratégia de prevenção para a
sífilis congênita. Em situações especiais, esta detecção é feita através do teste não treponêmico (VDRL), ou ainda por teste rápido
imunocromatográfico. O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de sorologia positiva do teste VDRL em gestantes, bem
como a realização do teste rápido imunocromatográfico, por meio da análise de registros da carteira de pré-natal e registros de testes
rápidos imunocromatográficos em um hospital de referência do Sul do Brasil, o Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), no
ano de 2015. Métodos: Estudo epidemiológico de delineamento transversal. A coleta de dados foi realizada no período compreen-
dido entre agosto a setembro de 2017. Nos procedimentos do estudo foram coletados os dados de VDRL nas carteiras de pré-natal
pelo sistema TASY® e registros de execução do teste rápido imunocromatográfico pelo livro disponibilizado no setor de obstetrícia
referente ao ano de 2015. Resultados: Das 2.367 gestantes analisadas no HNSC, 29 (1,2%) apresentaram resultado positivo para o
teste de triagem para a sífilis, o VDRL, durante a gestação. No ano de 2015 foram realizados 61 testes rápidos imunocromatográficos,
com quatro resultados positivos (6,5%) de gestantes encaminhadas ao hospital para parto sem dados e exames feitos no pré-natal.
Conclusões: A partir dos resultados deste estudo, sugere-se que sejam realizadas análises epidemiológicas constantes referentes à
sífilis congênita, principalmente a partir da introdução dos testes rápidos imunocromatográficos em hospitais.

PALAVRA-CHAVE: Sífilis, Sífilis congênita, Sorodiagnóstico da sífilis, Imunocromatografia, Infecções por treponema

ABSTRACT

Introduction: When syphilis is diagnosed prenatally, it becomes possible to establish a prevention strategy for congenital syphilis. In special situations, this
detection is done through the non-treponemal test (VDRL), or even through the rapid immunochromatographic test. The aim of this study was to verify the
prevalence of positive serology of the VDRL test in pregnant women, as well as rapid immunochromatographic testing, through the analysis of prenatal
care records and rapid immunochromatographic test records in Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), a reference hospital in Southern Brazil,
in 2015. Methods: Cross-sectional epidemiological study. Data collection was carried out in the period from August to September 2017. In the study
procedures, VDRL data were collected from prenatal care cards through the TASY® system and rapid immunochromatographic testing records from the
book available in the obstetrics sector for the year 2015. Results: Of the 2,367 pregnant women analyzed at HNSC, 29 (1.2%) had a positive result

1
Graduado em Farmácia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) - (Mestre em Ciências da Saúde e Doutorando em Ciências da Saúde
no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unisul).
2
Graduada em Farmácia pela Unisul (Farmacêutica)
3
Graduada em Farmácia pela Unisul (Farmacêutica)
4
Graduada em Psicologia pela Unisul (Mestranda em Ciências da Saúde no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unisul)
5
Mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unisul (Professora Titular do Curso de Farmácia da Unisul)

Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 65 (3): xxx-xxx, jul.-set. 2021 1


DIAGNÓSTICO PRECOCE DA SÍFILIS EM GESTANTES: PREVALÊNCIA DE SOROLOGIA POSITIVA DO TESTE VDRL E REALIZAÇÃO... Nascimento et al.

for VDRL, the screening test for syphilis, during pregnancy. In 2015, 61 rapid immunochromatographic tests were carried out, with four positive results
(6.5%) of pregnant women referred to the hospital for delivery without data and tests performed in the prenatal period. Conclusions: Based on the results
of this study, it is suggested that constant epidemiological analyses be carried out regarding congenital syphilis, especially after the introduction of rapid im-
munochromatographic tests in hospitals.

KEYWORDS: Syphilis, Congenital Syphilis, Syphilis serodiagnosis, Immunochromatography, Treponemal infection

INTRODUÇÃO A soropositividade deste teste sugere a necessidade de um


exame específico e confirmatório para o diagnóstico de sí-
As infecções sexualmente transmissíveis (IST) são con- filis, o Fluorescent Treponemal Antibody Absorption Test (FTA-
sideradas um problema de saúde pública mundial, atingin- -ABS). Por meio do diagnóstico, é possível estabelecer uma
do diferentes populações, com diferentes dados socioeco- estratégia de prevenção para a sífilis congênita. No entanto,
nômicos e sanitários, os quais são indiretamente afetados por ser o pré-natal uma prática voluntária, e não obrigató-
(1). A gestação é um período marcado por alterações hor- ria, existe uma parte de gestantes que não realiza os exames
monais, psicológicas e imunológicas, em que a gestante tor- de pré-natal durante o período gestacional (7).
na-se mais suscetível a qualquer tipo de infecção, tendo um A detecção de sífilis em situações especiais é feita exclu-
maior risco para aquisição e desenvolvimento de IST. Por sivamente com testes rápidos imunocromatográficos com
isso, faz-se necessária a investigação no período gestacio- registro vigente na Agência Nacional de Vigilância Sanitá-
nal a fim de começar o tratamento o mais rápido possível, ria (Anvisa). Os resultados dos testes rápidos imunocroma-
para que haja uma maior eficiência da proteção em relação tográficos treponêmicos devem ser expressos como “Rea-
à criança e à gestante (2,3). É preciso, sobretudo, ter um gente” ou “Não Reagente”. O laudo deve estar de acordo
foco na criança, pois a gestante pode transmitir a IST para com o disposto na Resolução RDC- 302/Anvisa, de 13 de
a mesma e, desta forma, o nascimento desta criança pode outubro de 2005 (8,9).
possuir consequências como perdas fetais, malformações Os testes rápidos imunocromatográficos são testes nos
congênitas e até mesmo a morte, quando não tratadas (3). quais a execução, a leitura e a interpretação do resultado
Sabe-se que nos últimos anos a sífilis se destaca entre as ocorrem em, no máximo, 30 minutos. Esses testes utilizam
IST devido ao recente aumento no número de casos, gerando antígenos do Treponema pallidum e um conjugado composto
impacto social e na saúde coletiva (1,3). A sífilis em gestantes por antígenos recombinantes de Treponema pallidum que são
entrou na lista de agravos de notificação compulsória com ligados a um agente revelador. No dispositivo de teste, exis-
o objetivo de controlar a transmissão vertical do Treponema te uma região denominada de T (teste), a qual corresponde
pallidum e acompanhar, adequadamente, o comportamento à área de teste onde estão fixados os antígenos do Trepo-
da infecção nas gestantes, para planejamento e avaliação das nema pallidum, e outra região denominada de C (controle),
medidas de tratamento, prevenção e controle (4). que é a região de controle da reação. Quando anticorpos
De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2016, anti-Treponema pallidum estão presentes na amostra, eles se
entre os anos de 2014 e 2015, a sífilis adquirida teve um ligarão ao conjugado e migrarão cromatograficamente até
aumento de 32,7%, a sífilis em gestantes de 20,9%, e a con- a região de “teste”, onde se ligarão (10).
gênita de 19%. Em 2015, o número total de casos notifica- Desse modo, considerando a implantação dos testes rá-
dos de sífilis adquirida no Brasil foi de 65.878. No mesmo pidos nos hospitais e a importância no diagnóstico precoce
período, a taxa de detecção foi de 42,7 casos por 100 mil da sífilis em gestantes, tendo em vista o aumento do núme-
habitantes, a maioria homens, 136.835 (60,1%). No perío- ro de casos nos dias atuais é a motivação deste estudo. Sen-
do de 2010 a junho de 2016, foi registrado um total de do assim, o objetivo deste estudo foi verificar a prevalência
227.663 casos de sífilis adquirida (5). de sorologia positiva do teste VDRL em gestantes, bem
Nas gestantes, quando a sífilis não é tratada ou o esquema como a realização do teste rápido imunocromatográfico,
de tratamento é realizado de forma inadequada, a IST pode ser por meio da análise de registros da carteira de pré-natal
transmitida por via transplacentária ao concepto, ocasionando e de registros de testes rápidos imunocromatográficos em
a sífilis congênita (6). A infecção do embrião pode ocorrer em um hospital de referência do Sul do Brasil, no ano de 2015.
qualquer fase gestacional ou estágio da IST e pode ser evitada
pela assistência prestada durante o pré-natal (1,5,6). MÉTODOS
A importância do pré-natal está relacionada à preven-
ção da sífilis congênita, por meio da realização do teste não Estudo epidemiológico de delineamento transversal rea-
treponêmico, o Venereal Disease Research Laboratory (VDRL), lizado no Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC),
o qual deve ser feito o mais precoce possível, e depois deve localizado no município de Tubarão. Esse município
ser repetido por volta da 28ª e da 38ª semanas de gestação. pertence ao estado de Santa Catarina, com estimativa de

2 Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 65 (3): xxx-xxx, jul.-set. 2021


DIAGNÓSTICO PRECOCE DA SÍFILIS EM GESTANTES: PREVALÊNCIA DE SOROLOGIA POSITIVA DO TESTE VDRL E REALIZAÇÃO... Nascimento et al.

103.674 habitantes (11). Segundo dados do Departamento Tabela 1. Idade das gestantes pesquisadas com sorologia positiva no
de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), VDRL (n=29)

em 2015 nasceram cerca de três mil crianças em Tubarão


Idade em anos n %
(12). O HNSC possui o centro obstétrico onde ocorre a
19-23 11 37,9
maioria dos partos por ano e o único com Unidade de Te- 24-29 10 34,7
rapia Intensiva Neonatal na cidade, sendo considerado um 30-35 4 13,7
hospital de referência em saúde para a região. Além disso, 36-44 4 13,7
o HNSC possui, desde 2001, o título de Hospital Amigo
da Criança e realiza o teste rápido imunocromatográfico
para o diagnóstico de sífilis em todas as gestantes que não dados referentes à titulação estão apresentados na Tabela
possuem registros de carteiras de pré-natal desde 2014.
2. No que diz respeito à idade gestacional das 29 gestantes,
O estudo foi feito em duas etapas: na primeira, foram ana-
a maior parte das gestantes (51,7%) teve parto ocorrido
lisados todos os prontuários eletrônicos do sistema TASY®
após as 35 semanas de gestação, de acordo com o que está
de todas as gestantes atendidas referentes ao ano de 2015.
apresentado na Tabela 3.
Nos procedimentos desta etapa, foram coletados os dados
do teste não treponêmico VDRL nas carteiras de pré-natal Das gestantes com sorologia positiva para o teste
pelo sistema TASY®, além das variáveis de interesse. A se- VDRL, 15 (51,7%) gestantes possuíam em seus prontuá-
gunda etapa consistiu na verificação da realização dos testes rios eletrônicos o registro da prescrição de penicilina G
rápidos imunocromatográficos, em que foram analisados os benzatina, o que sugere que estas estavam em um qua-
registros de execução do teste rápido imunocromatográfico dro de sífilis gestacional, mesmo sem apresentar em seus
pelo livro disponibilizado no setor de obstetrícia. A coleta prontuários informações do teste confirmatório para sífilis
de dados das duas etapas foi feita no período compreendido (FTA-ABS). Com relação às outras gestantes, não havia da-
entre agosto e setembro de 2017. dos relacionados ao tratamento no prontuário.
As variáveis analisadas foram: idade, idade gestacio- Do total de gestantes no ano de 2015, foram feitos
nal, teste não treponêmico no pré-natal, titulação do 61 testes rápidos, referentes às gestantes que não pos-
VDRL, teste treponêmico no pré-natal e tratamento suíam dados de exames realizados em suas carteiras de
prescrito à gestante. Os dados coletados foram digita- pré-natal, representando uma prevalência da realização
dos e analisados no programa Microsoft Office Excel do teste rápido imunocromatográfico de 2,6 %. Isso de-
2007 (Microsoft Corporation, Redmond, WA, USA). Foi monstra uma baixa utilização dos testes rápidos trepo-
utilizada a epidemiologia descritiva para apresentação nêmicos no ano de 2015. Destes, quatro (6,5%) foram
dos dados, sendo as variáveis qualitativas expressas em resultados positivos.
proporções e as variáveis quantitativas, em medidas de
tendência central e dispersão.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes- Tabela 2. Titulações do exame VDRL realizado durante o pré-natal
quisa da Universidade do Sul de Santa Catarina, sob o pa-
Titulações n %
recer nº 2.205.084, em 7 de agosto de 2017, respeitando-se
1:1 3 10,3
a ética pautada na Resolução 466/2012 do Conselho Na-
1:2 5 17,2
cional de Saúde. 1:4 8 27,5
1:6 1 3,4
RESULTADOS 1:8 6 20,6
1:32 2 6,8
No ano de 2015, houve 2.367 atendimentos às gestan- 1:64 3 10,3
tes no HNSC, sendo que 29 delas apresentaram sorologia Sem informação 1 3,4
positiva para o teste VDRL, representando uma preva-
lência de 1,2%. Foram relatados quatro óbitos fetais, e
realizadas duas curetagens em pacientes com VDRL po- Tabela 3. Idade gestacional no momento do parto das gestantes com
sitivo. A média de idade das gestantes atendidas durante sorologia positiva no VDRL (n=29)
o período de estudo foi de 27,5 anos. Quanto às 29 ges-
tantes com sorologia positiva para o teste VDRL, a maior Idade semanal n %
porcentagem destas correspondeu à faixa etária de 19 a < 20 2 6,8
23 anos, conforme ilustrado na Tabela 1, que apresenta 20-28 1 3,4
os dados referentes à idade das pacientes com sorologia 29-35 5 17,2
positiva para o teste VDRL.
> 35 15 51,7
Com relação às titulações do VDRL no momento do
Sem informação 6 20,6
diagnóstico, a maior parte das gestantes teve título 1:4. Os

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DIAGNÓSTICO PRECOCE DA SÍFILIS EM GESTANTES: PREVALÊNCIA DE SOROLOGIA POSITIVA DO TESTE VDRL E REALIZAÇÃO... Nascimento et al.

DISCUSSÃO tação de novas medidas de abordagem para o diagnóstico


rápido e eficaz de IST durante a assistência ao pré-natal e ao
Neste estudo, a sorologia positiva para o teste VDRL parto. Entretanto, esta implementação está em andamento,
teve uma prevalência de 1,2%, índice muito próximo aos e os principais motivos para a falha da implementação en-
resultados dos casos de sífilis na gestação encontrados em contram-se na falta de infraestrutura, na falta de recursos
um estudo de Domingues et al. feito com 23.894 mulheres humanos e na falta de definição do fluxo de trabalho no
no período de 2011 a 2014, em que a prevalência estimada seguimento dos pacientes com resultados reagentes (21).
de sífilis foi de 1,02% (13). No Brasil, a prevalência média A falta de penicilina G benzatina é uma das dificulda-
da sífilis varia entre 1,4% e 2,8%, com uma taxa de trans- des encontradas para o tratamento adequado de pacientes.
missão vertical de 25% (14). De acordo com um estudo Conforme os laboratórios produtores, desde o segundo tri-
publicado no ano de 2016, na Região Sul, no ano de 2011, mestre de 2014, a falta no abastecimento da matéria-prima
foram notificados 1.476 casos de sífilis em gestantes. E em atrasou a produção desse medicamento, persistindo até o
2013, de 2.795, e de 2008 até 2014 teve um total de 10.410 ano de 2015. De acordo com dados de 2015, 41% dos esta-
casos (15). No Estudo Sentinela-Parturiente, no qual foram dos brasileiros apresentavam-se sem estoque de penicilina
analisadas 16.158 parturientes, estimou-se prevalência de para a rede pública, enquanto 59% notificaram algum desa-
sífilis na gestação de 1,6% em 2004 e 1,1% em 2006 (16). bastecimento. O Ministério da Saúde vem acompanhando
As falhas de cumprimento do protocolo recomendado a produção da penicilina para normalizar a situação e o
têm impedido o controle da sífilis congênita, apesar de ter reabastecimento à rede pública (22-25)
um protocolo bem estabelecido e de baixo custo no Brasil No estudo publicado pela Revista Brasileira de Gineco-
(17). Como consequência, houve um aumento acentuado da logia e Obstetrícia, gestações complicadas por sífilis mater-
taxa de incidência dos casos de sífilis congênita nas regiões na e óbito fetal foram descritos em 48 casos de gestantes
Norte e Nordeste, menos expressivo nas regiões Sul e Cen- com sorologia positiva para sífilis nos testes de VDRL e
tro-Oeste, com certa estabilização na Região Sudeste (18). óbito fetal. Ainda, tendo sido atendidos no Hospital de
Uma explicação para o aumento significativo de casos Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, entre 2005 e 2008, es-
notificados pode ter relação com a melhoria da sensibilida- ses casos corresponderam a 11,7% dos óbitos fetais, que é
de de exames laboratoriais, diminuição do uso de preserva- uma porcentagem considerável (26). Neste estudo, a por-
tivos pela população, tratamento incorreto de gestantes e centagem de óbitos fetais foi 13,8%.
parceiros sexuais, além do melhor diagnóstico. Esse foi um A maioria das gestantes é identificada com sífilis du-
dos papéis efetuados por meio da Rede Cegonha, iniciada rante a gestação ou no momento do parto. Entretanto,
em 2011, que distribuiu testes rápidos imunocromatográ- observa-se que entre 38% e 48% delas ainda chegam às
ficos facilitando o acesso ao diagnóstico, impactando no maternidades sem resultados de sorologias importantes no
aumento do número de notificações (13). pré-natal, como, por exemplo, sífilis, necessitando assim
A partir dos dados coletados no presente estudo, ve- de testes rápidos no momento do parto, prevenindo, desse
rificou-se que apenas 2,6% das gestantes atendidas não modo, a transmissão vertical para o recém-nascido (27).
haviam feito pré-natal, sendo destas, quatro com sorolo- É importante considerar que a implementação dos tes-
gia positiva para sífilis detectada pela realização do teste tes rápidos foi estudada, pois, apesar de ser uma estratégia
rápido. Em um estudo feito em parturientes atendidas nas para aumentar a captação de gestantes infectadas a tempo
maternidades públicas de Vitória, Espírito Santo, identifi- de se desenvolver uma prevenção para qualquer uma IST.
cou-se que o teste rápido foi importante na abordagem das Existe um questionamento em relação ao início da triagem
parturientes que não haviam feito pré-natal (5,1%), e, por- com o teste rápido, visto que, ao realizar um teste treponê-
tanto, não tinham resultados de exames (19). mico, como o teste rápido, antes de testes não treponêmicos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) possui uma es- como VDRL, podem-se gerar resultados conflitantes. Isso
tratégia que estimula a pesquisa de novos testes rápidos que se deve à condição clínica, devido à detecção de anticorpos
tenham como requisitos o resultado rápido (menos de 15 mi- de memória de outras infecções. Desta forma, o ideal é a
nutos), sejam fáceis de usar por profissionais da área de saúde gestante fazer o teste rápido imunocromatográfico treponê-
básica, não necessitem de recursos laboratoriais tradicionais, mico e o teste não treponêmico, VDLR. Caso ocorra soro-
sejam estáveis à temperatura ambiente, possuam boa sensibili- logia positiva, a gestante deve ser orientada a realizar o teste
dade e especificidade e baixo custo. Com essas características, confirmatório, o FTA-ABS (28,29). Um estudo descreveu
os testes podem ser utilizados em larga escala nos serviços de a implementação de testes rápidos de sífilis e do Vírus da
assistência primária de saúde como a Estratégia de Saúde da Imunodeficiência Humana (HIV) na rotina do pré-natal em
Família (ESF) tanto nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), Fortaleza/CE, o qual relatou que, apesar de profissionais ca-
como também em maternidades hospitalares (20,21). pacitados, muitas UBS não dispunham de kits de testes rápi-
A partir do teste rápido, neste estudo foram detectados dos imunocromatográficos e, entre aquelas que dispunham,
quatro casos de sífilis, de 61 exames realizados. A utilização alguns estavam com data de validade vencida (30).
dos testes rápidos para o diagnóstico de sífilis na gestação A partir dos resultados deste estudo, sugere-se que se-
tem se mostrado uma estratégia importante na implemen- jam feitas análises epidemiológicas constantes referentes à

4 Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 65 (3): xxx-xxx, jul.-set. 2021


DIAGNÓSTICO PRECOCE DA SÍFILIS EM GESTANTES: PREVALÊNCIA DE SOROLOGIA POSITIVA DO TESTE VDRL E REALIZAÇÃO... Nascimento et al.

sífilis congênita, principalmente a partir da introdução do lência de sífilis na gestação e testagem pré-natal: Estudo Nascer no
teste rápido em hospitais. Além disso, é necessário qualifi- Brasil. Rev Saúde Pública. 2014; 48(5):766-774.
14. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Pro-
car ainda mais as ações voltadas à detecção, ao diagnóstico grama Nacional de DST e Aids. Diretrizes para o Controle da Sífilis
e ao tratamento da sífilis no pré-natal que envolva, além das Congênita. Brasília: Ministério da Saúde; 2005.  
gestantes, também suas parcerias sexuais. 15. Souza WN, Benito LAO. Perfil epidemiológico da sífilis congênita
no Brasil no período de 2008 a 2014. Universitas: Ciências da Saúde.
2016; p. 97-104.
CONCLUSÃO 16. Szwarcwald CL, Junior AB, Miranda AE, Paz LC. Resultados do
estudo sentinela-parturiente, 2006: desafios para o controle da sí-
filis congênita no Brasil. Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente
No presente estudo, a sorologia positiva para o teste Transmissíveis. 2007; p. 128-133.
VDRL teve uma prevalência de 1,2%, índice muito próxi- 17. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Pro-
mo aos dados nacionais dos casos de sífilis na gestação, que grama Nacional de DST e Aids. Diretrizes para o Controle da Sífilis
Congênita. Brasília (DF), 2005.
são de aproximadamente 1%. Esses dados demonstram que 18. Padovani C, Oliveira RR de, Pelloso SM. Syphilis in during pregnan-
a realização do teste VDRL realmente está relacionada com cy: association of maternal and perinatal characteristics in a region
o diagnóstico da sífilis, apesar de este não ser o teste confir- of southern Brazil. Rev Lat Am Enfermagem. 2018;26(1):1-10.
19. Miranda AE, Filho ER, Trindade CR, Gouvêa GM, Costa DM, Oli-
matório, e sim o FTA-ABS. Com relação à implementação veira TG, et al. Prevalência de sífilis e HIV utilizando testes rápidos
dos testes rápidos imunocromatográficos específicos para a em parturientes atendidas nas maternidades públicas de Vitória, Es-
sífilis, foram feitos apenas 61 testes, sendo que quatro foram tado do Espírito Santo. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
positivos (6,5%). Desse modo, percebe-se que essa implemen- Tropical. 2009; 42(4):386-391.
20. Peeling RW, Htun Ye. Diagnostic tools for preventing and mana-
tação dos testes rápidos para sífilis ainda está em andamento gement maternal and congenital syphilis: and overview. Bulletin of
e, por isso, exige um grande esforço de vários departamentos World Health Organization 82:439-446, 2004.
do Ministério da Saúde e do município. A erradicação da sífilis 21. Fernandes Nascimento DDS, Da Silva RC, Tártari DDO, Cardoso
ÉK. Relato da dificuldade na implementação de teste rápido para
congênita só será possível quando se priorizar o diagnóstico detecção de sífilis em gestantes na Atenção Básica do SUS em um
precoce e se assegurar o tratamento durante a gestação, sendo município do Sul do Brasil. Rev Bras Med Família e Comunidade.
que a utilização de testes rápidos imunocromatográficos tem 2018;13(40):1-8.
se demonstrado eficaz na abordagem de gestantes que não 22. Nurse-Findlay S, Taylor MM, Savage M, Mello MB, Saliyou S, La-
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