Dominique

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...

o ato que se apresenta como “dizer que não” / como exceção


Então, nesse manejo entre o trabalho da transferência infinita, que passa de um
significante para outro para tentar se dizer /// é um trabalho a transferência / o
trabalho da associação livre / não é um depósito de falas, é um trabalho / é um
trabalho que parte a cada vez, a cada sessão desse enigma / daquilo que os ditos
precedentes não disseram
Então... é necessário o tempo. Lacan em Radiofonia vai dizer: il faut le temp. É isso que
a gente está tentando explorar, explicitar: qual tempo? Tempo de que?
É necessário o tempo para que a repetição do corte / de uma certa forma, a repetição
do trauma / a repetição, como Lacan escreve: “em torno do furo” / a repetição da não
resposta do outro / esteja ali no final. À medida que o trabalho de transferência se
configura, esteja lida como “menos 1” / que o corte do analista esteja lida como a
presentificação do menos 1 / como separação existencial e não como abandono. Numa
passagem de passe, na discussão foi falado da passagem da solidão à solitude. Esse
não é um termo muito comum mas trata-se da passagem de uma solidão insustentável
– e lida como um abandono – a uma solidão sustentável. Alguém, na discussão, fez
referência ao texto Winnicot “A capacidade de ser só”. O que é importante, tanto para
a organização estrutural de uma criança no começo como para o percurso que produz
uma análise.
Então é necessário esse tempo da repetição dos cortes para que eles sejam lidos pelo
analisante não como abandono do outro mas como uma presentificação da sua
separação existencial. E o tempo necessário é o tempo das passagens de um discurso
para o outro. Lembrando que é em Radiofonia que Lacan vai apresentar, ao final de
todas as perguntas, os 4 discursos que ele tinha construído no Seminário 17 – O Avesso
da Psicanálise.
Então é essa passagem de um discurso ao outro / pelos pequenos movimentos nos
enunciados, que vai produzir a separação. A separação nessas voltas e reviravoltas dos
enunciados. Lacan, em Radiofonia, diz “o tempo de separação dessa insurreição”.
“Insurreição” vem de “surgir” / há algo de “se levantar contra” / mas de se levantar.
É por isso que a escrita dos discursos pelo Lacan é muito importante. Lacan vai mostrar
como os pequenos movimentos, na própria estrutura do significante, pode por o
sujeito de ponta-cabeça. Pode por o sujeito pelo avesso.
Quando se fala “a transferência é uma relação essencialmente ligada ao tempo e seu
manejo”, temos que ouvir, nesse manejo, um manejo pelo ato, ou seja, pela intrusão
de uma descontinuidade na continuidade significante da cadeia. Intrusão de uma
descontinuidade que vai produzie, enfim, essa reviravolta, em que aquilo que era
produzido pelo discurso do Mestre e o Ics como resto, se transforma na causa 
passagem do Discurso do Mestre ao Discurso Analítico. O que é interessante na escrita
dos discursos é que ele mostra a temporalidade do deslocamento do significante
apontando para a topologia, ou seja, para a deformação possível a partir dos
elementos fixos da estrutura. E que esses pequenos deslocamentos, a função da fala
dentro do dispositivo analítico, ou seja recebida por um analista, é que vai produzir
esses pequanos deslocamentos que vão por a estrutura de cabeça para baixo. A
estrutura do sujeito. E aí, de novo, il faut le temp.
Quem leu Radiofonia? Essa passagem em que Lacan se refere ao tempo necessário
numa análise...
Passo de um texto para um outro. Passo de “Posição do ICs”, onde tinha essa frase (“a
transf é uma relação...”) para Radiofonia. Fazendo essa passagem, passo do Escritos ao
Outros esctitos. A um “outro Lacan”. Em um “outro Lacan”, que depois do “seminário
do ato” e “de um outro ao outro”, pode apresentar os discursos como matema do
manejo da transferência. É isso que é importante. Os discursos apresentam um
matema que apresenta a estrutura de um sujeito a partir do significante, a estrutura
significante do sujeito – um sgte representa um sujeito para outro significante e isso
produz um resto. Essa é a escrita da linguagem enquanto mestre / a linguagem
enquanto o que produz um resto inabalável e produz o Ics enquanto essa marca na
escrita da não-relação entre aquilo que é produzido como resto e a origem desse
discurso, que é o sujeito barrado/o sujeito castrado.

[fórmula do Disc. do Mestre]

Eu falo dp do “seminário do ato” e dp do seminário “de um outro ao outro” / Sem 15,


Sem 16, Sem 17, que constrói a escrita dos discursos. Sem do ato pq ele /
Discurso como matema do manejo da transferência, como matema do manejo da
estrutura. Quando a gente fala “manejo”, a gente implica uma mudança, implica uma
transformação. De uma certa forma, a escrita dos discursos responde à questão da
modificação da estrutura que se espera no “tempo para compreender”. No Sem do
Ato, Lacan anuncia a necessidade de formular o manejo da transferência de uma
maneira que interrompe, que faz objeção à lógica da fantasia que ele explorou no
seminário anterior. É um momento em que ele vai insistir no fato de que toda a função
do sujeito-saber, ou seja, esse apelo a um outro significante que vai tentar dizer
daquilo que falha em ser representado por um primeiro significante, e que implica
uma sequência infinita, como o manejo da transferência pelo analista não vai
contribuir para a infinitude mas vai produzir algo que irrompe, que vai fazer intrusão
nessa sequência infinita para que a análise possa ter um fim. Já que, junto com o Sem,
do Ato, o que Lacan propõe em sua escola é a proposição de um dispositivo que pode
verificar o fim da análise. Então Lacan está preocupado com a conclusão do “tempo
para compreender”.
Então, no Sem. do Ato, ele produz o ato como aquilo que vai fazer objeção â sequência
infinita do significante. É isso que ele vai escrever com o Disc. do Psicalista. Depois do
Sem. do Ato ele vai precisar escrever o Disc. do Analista como o matema do manejo
da transferência. Depois do Sem, do Ato, ele vai explorar as vias lógicas, ele vai
explorar como isso poderia ser demonstrado logicamente. Como que esse “fim” da
lógica do significante pode se produzir logicamente. A gente sabe que o Sem “de um
outro ao outro” – a meu ver tão extraordinário quanto o Seminário da Identificação do
qual a gente tem falado – é a demonstração da indecidibilidade do final de análise. É a
demonstração do fato de que o esgotamento lógico não vai fazer prescindir de um ato
que dê um fim à sequència infinita do significante. Então, toda a demonstração lógica
que o Lacan vai perseguir durante alguns anos, não vai fazer prescindir a questão do
ato 0 que é uma dimensão ética e não lógica – e a remetência à insondável decisão do
ser que vai topar, de repente, com o ato do analista e assumir esse ato para si.
Insisto: é o manejo da estrutura lógica do significante a partir do posicionamento ético
que vai permitir, depois, em sequência de toda a exploração dos efeitos do
significante, dos efeitos de significação, dos efeitos de sentido, dos efeitos de signo,
que vai permitir a exploração da estrutura do significante até poder deduzir o seu valor
de signo. É isso que nós vamos encontrar nesse texto, que eu chamei de “um outro
Lacan” no “Outros Escritos”. Então, a gente vai tentar, mais uma vez, fazer esse
exercício de leitura desse texto.
Primeiro: essa entrevista à rádio belga é interessante pq as perguntas são feitas ao
Lacan dos Escritos e, de uma certa forma, as respostas são dadas pelo Lacan de Outros
Escritos, por um “outro Lacan”. Quando o jornalista pergunta sobre a estrutura do
significante, Lacan vai responder em termos de lógica, logo em termos de signo e não
de significante. E quem tinha lido o Lacan dos Escritos ficou bastante impactado.
Então, a frase impactante: “não há ninguém que não tenha sua chance de insurreição
ao se referenciar pela estrutura já que, por direito, ela faz rastro da falta de um cálculo
por vir”. Por que é impactante? Porque o Lacan estruturalista, o Lacan da estrutura /
O pessoal da IPA se ofuscava com a estrutura, a linguagem/
e o Lacan estruturalista, é como se ele não tivesse possibilidade de mudança / tudo
que o Lacan vai provar no seu ensino a partir do “outro Lacan” é a capacidade de
modificação da própria estrutura, dentro da estrutura. Então, aqui ele não fala de
“modificação”, ele fala de “insurreição”. Não há ninguém que não tenha sua chance de
insurreição. A se referenciar pela estrutura. É uma frase, para quem pensava o
estruturalismo como um modelo imutável... aqui ele está falando de uma chance de
insurreição. Obviamente que essa chance de insurreição é para quem tem a chance de
se engajar numa análise. “insurreição” é uma palavra forte. Mas ela ressoa com
“separação”. Ela vai ressoar, logo, com a palavra “ex-sistência”. Essa frase (“não há
ninguém que não tenha sua chance de insurreição ao se referenciar pela estrutura já
que, por direito, ela faz rastro da falta de um cálculo por vir”) retoma a outra: “um
nada que se sustenta na sua insistência”. Só que ela é menos metafísica. Ela é lógica.
Porque a estrutura vai permitir que a falta produz um rastro e que, nesse rastro, se
antecipa um cálculo por vir. Ele fala a mesma coisa que na frase da posição do Ics (“o
nada que se sustenta...”). Só que aqui tem um cálculo no fim. É o “Lacan lógico” que
está se anunciando. A falta se inscreve desde a intrusão do significante no corpo. Que
produz uma ‘extrusão’. Fazendo caminho. Intrusão do significante provoca um furo.
Nesse furo se faz caminho. Faz rastro, faz leito de um cálculo por vir. Esse nada que se
sustenta pelo seu advento.
Outra frase desse trecho: “desde tempos imemoriais”, ou seja, “os tempos dos quais o
sujeito não tem memória”, não tem traço, “menos 1” designa “um lugar que é dito ‘do
grande Outro’ - aqui Lacan se auto-cita – “pelo ‘um a menos’ faz-se a cama para a
intrusão que avança a partir da extrusão e o próprio significante”.
A mesma coisa aí. Uma frase de Lacan que diz que a falta se inscreve desde a intrusão
do significante no corpo, em tempos imemoriais, que produz essa extrusão, esse furo,
fazendo caminho, leito, rastro de um cálculo por vir.
“Antecipação/retroação”: é a mesma questão tratada de uma outra forma. Mostra
como a estrutura da fala não é linear, mas espiral. “antecipação-retroação” desenha a
espiral que a gente vai reencontrar no desenho de um toro, que é a espiral dos ditos
em torno desse ‘menos 1’.
A “antecipação/retroação” mostra como a estrutura da fala não é linear mas ‘espiral
topológica’, já que as voltas dos ditos em torno desse ‘menos 1’ produz uma extensão
infinita, configurando um ‘toro’, uma série infinita de voltas. Esse ‘nada’ se sustenta
pelo seu advento, ‘menos 1’ vai ser a cama para a intrusão que avança a partir da
estrutura.

Fábio: Lacan dos Escritos: negatividade. Lacan dos Outros Escritos; positividade. O que
muda, na clínica, pensar em “subversão” do sujeito e pensar em “insurreição” do
sujeito? O que fica depois? Fica uma singularidade? Mas o que é isso?

Dominique: Sim. Estamos nesse caminho. Junto com Lacan. A palavra “subversão” do
sujeito, associo à “sub-posicão”. Associo essa palavra ‘subversão’ em relação ao
discurso do Mestre. O sujeito como dividido, como castrado. E a gente sabe que nessa
dimensão da análise como exploração da castração, ela é infinita. Porque é ... [em
torno?] ... do centro da castração: tá faltando, tá faltando, tá faltando... Usei hj a
expressão “outro Lacan”. É expressão de Jacques-Alain Miller. Ele estava espantando
todo mundo falando isso na década de 60. Na verdade, não gosto muito pq parece que
invalida o Lacan da estrutura, do significante etc. E eu não quero de jeito nenhum dizer
isso. Qdo eu falo “um outro Lacan”, falo nas fichas que caem sobretudo na sua
formalização. Tem tb, na formalização de Lacan, um pouco do que acontece no
percurso de uma análise: “não é isso”/”não é bem isso”. A precipitação do dispositivo
do passe, em 67, que marca o início do fim, que marca um início disso: a análise tem
um fim / não é infinita / e ele pode ser verificado, não é inefável / pode ser falado. E
ele vai prosseguindo pq, namaneira como ele fala do final de análise, no momento da
instituição do dispositivo do passe, em 67, ele ainda está nesse momento da
destituição subjetiva. Ou seja: da destituição desse sujeito que se procura num
significante e que se reduz ao resto que ele é. Mas “não é isso” (“c’est pas ça”). Esse
prosseguimento da formalização lacaniana vai em frente para tentar apreender ‘o real
da coisa’ do tratamento analítico.
Nesse caminho, eu queria chegar no ponto do L’etourdit: ”o que se diz permanece
esquecido atrás do que se diz no que se ouve”. Isso promete não uma positivação, mas
uma extração: não de uma falta, mas de um dizer. Talvez não esteja muito correto
falar de uma ‘positivação’ mas, sim, falar de uma extração não de uma falta-a-dizer
mas a extração da ex-sistência do dizer. E é aí que tem uma mudança tb, nesse
momento, na formalização do conceito de Real pelo Lacan. Pq, se o Real pode se
demonstrar como “o impossível de ser dito”, topar com esse impossível e demonstrar
a incompletude pode

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